Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVESIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE RAFAELA VALESCA PEREIRA CORTEZ DANO MORAL E RELAÇÕES DE CONSUMO: UM ESTUDO ACERCA DAS AÇÕES PROPOSTAS NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA ZONA SUL DE NATAL Natal-RN 2009 RAFAELA VALESCA PEREIRA CORTEZ DANO MORAL E RELAÇÕES DE CONSUMO: UM ESTUDO ACERCA DAS AÇÕES PROPOSTAS NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA ZONA SUL DE NATAL Monografia apresentada como requisito parcial para a obtensão do grau de Bacharel em Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Prof. Esp. Déborah Leite da Silva. Natal-RN 2009 RAFAELA VALESCA PEREIRA CORTEZ DANO MORAL DECORRENTE DAS RELAÇÕES DE CONSUMO: UM ESTUDO ACERCA DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS PROPOSTAS NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA ZONA SUL DE NATAL/RN BANCA EXAMINADORA: _______________________________________ PROF. ESP. DÉBORAH LEITE DA SILVA UNIVESIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE _______________________________________ PROF. ESP. FLAVIANNE FAGUNDES DA COSTA PONTES UNIVESIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE _______________________________________ PROF. ESP. PATRÍCIA MOREIRA DE MENEZES UNIVESIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE DATA DA APROVAÇÃO: ____/____/____ Aos meus pais, por todo carinho e atenção de uma vida; À minha orientadora, por acreditar na realização deste trabalho. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelo milagre da vida, pelas bênçãos diárias, por ter me dado força, tranqüilidade e persistência necessárias para chegar ao fim dessa caminhada. Aos meus amados pais, Eder Batista Cortez e Sileide Maria Pereira, que abdicaram dos seus sonhos para que o meu se tornasse realidade, sempre acreditando nos meus objetivos, investindo nas minhas pretensões e confiando nos resultados. Por todo amor e carinho, minha gratidão. A todos os familiares e amigos que estiveram presentes nas fases mais importantes da minha vida, participando da minha formação, pelas palavras de apoio e incentivo nos momentos mais difíceis, por entenderem a razão das minhas ausências. Agradeço, igualmente, às amizades construídas durante os cinco anos de curso, em particular ao meu grupo de trabalho (Carlos Henrique, Eloísa, Luiz e Maria), que estiveram ao meu lado compartilhando as angústias e felicidades de cada dia, alunos, funcionários do Campus e da Prática Jurídica que formam a acolhedora família UERN. Um especial agradecimento à Maria Antônia e Maria do Carmo, com quem compartilhei não apenas minha jornada acadêmica, mas meu crescimento pessoal, pela amizade incondicional, pelo carinho e atenção dedicados. Agradeço ainda aos professores de ontem e de hoje, pelos conhecimentos prestados, atenção e paciência dispensada à formação de futuros profissionais do Direito. Finalmente, agradeço à Professora Déborah Leite da Silva, que acolheu o meu tema e me conduziu ao rumo do conhecimento, sempre dedicada, paciente e prestativa, amiga por meio das cobranças e, acima de tudo, pelo profissionalismo que demonstrou durante toda a orientação, afim de que este trabalho tivesse a melhor conclusão. A todos meu eterno reconhecimento. No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer coisa equivalente; mas quando uma coisa está acima de qualquer preço, e portanto não permite equivalente, então ela tem dignidade. Immanuel Kant RESUMO O presente estudo acadêmico é uma reflexão acerca da acentuada elevação do número de ações de danos morais decorrentes de relações de consumo observadas no ordenamento jurídico brasileiro nas duas últimas décadas e as conseqüências oriundas de tal fenômeno. Para a fundamentação teórica, foi utilizada a pesquisa bibliográfica, a análise documental dos julgados mais recentes sobre a temática abordada. Ademais, com o intuito de propiciar um embasamento prático à pesquisa foi desenvolvida uma pesquisa de campo, mediante aplicação de questionário avaliativo de dados dos processos do Juizado Especial Cível da Zona Sul de Natal/RN. Assim, o desenvolvimento do trabalho se dá mediante a análise dos fatores que originam a responsabilidade civil, bem como avalia a conformidade da demanda com o direito material juridicamente resguardado e com os requisitos mínimos processuais exigidos. Outrossim, partiu-se da premissa de que a apreciação dos elementos caracterizadores do dano moral é indissociável da problemática da fixação do quantum indenizatório, de forma que, ante a inexistência de um tabelamento positivado para a solução dessas lides, aplica-se o princípio da inafastabilidade e do livre arbítrio do juiz, inobstante se constate que critérios e parâmetros reafirmados pela doutrina e jurisprudência vêm sendo utilizados na diminuição das discrepâncias em decisões sobre matérias análogas. A investigação de campo confirmou a elevação do número de ações indenizatórias relativas a relações de consumo; constatou que a faculdade de assistência técnica quando as ações não ultrapassem 20 (vinte) salários mínimos está sendo amplamente utilizada e que, nesses casos, não houve qualquer prejuízo para a parte em estar desacompanhada de causídico; aferiu que significativa parcela das demandas propostas são solucionadas por meio de acordos, e que expressiva quantidade de ações apreciadas pelo magistrado foi declarada extinta sem resolução de mérito ou teve o seu pedido julgado improcedente; por fim, verificou-se que o juiz fundamenta a fixação das indenizações com base nos critérios ou parâmetros apresentados pela melhor doutrina, não existindo um prévio tabelamento das decisões. Palavras-chave: dano moral, indenização, relação de consumo. RÉSUMÉ Cette étude académicien est une réflexion concernant l'accentuée hausse du nombre d'actions de dommages moraux liés à des relations de consommation observées dans l'ordre juridique brésilien dans les deux dernières décennies et les conséquences originaires de tel phénomène. Pour le fondement théorique, est utilisée la recherche bibliographique, l'analyse documentaire des décisions le plus récent sur l'thématique abordée. De plus, a été développé une recherche de champ, avec application de questionnaire des procédures à le Juizado Especial Cível da Zona Sul de Natal/RN. Ainsi, le développement du travail analyse des facteurs qui donnent lieu à la responsabilité civile, ainsi qu'évalue la conformité de l'exigence avec le droit matériel et avec les conditions minimales processives exigées. De plus, il s'est parti de la prémisse delaquelle l'appréciation des éléments des dommages moraux est indissociable de la problématique de la fixation de la quantum indemnisable, de la forme que, avant l'inexistence d'une fixation des prix pour la solution de celui-là tu traites, s'applique le fondement du non éloigné et de il ait exempté de la volonté du juge, malgré constater que des critères et paramètres réaffirmés par la doctrine et jurisprudence viennent en étant utilisés dans la diminution des divergences dans des décisions sur des matières analogues. La recherche de champ a confirmé la hausse du nombre d'actionsindemnisable relatives à des relations de consommation ; il a constaté que la faculté d'assistance technique quand les actions ne dépassent pas 20 (vingt) salaires minimes est suffisantement utilisée et que, dans ces cas, n'a pas y eu tout préjudice pour la partie à être abandonné d'avocat ; il a examiné que significative parcelle des propositions sont résolues au moyen d'accords, et qu'expressive quantité d'actions appréciées par le magistrat a été déclarée éteinte sans résolution de mérite ou a eu sa demande jugée mal fondée ; finalement, il s'est vérifié que le juge se base la fixation des indemnisations sur base des critères ou les paramètres présentés par la meilleure doctrine, en n'existant pas n'existant pas une préalable fixation des prix des décisions. Mots clés: dommages moraux, indemnisation, relation de consommation. LISTAS LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01: Linha evolutiva................................................................................ 61 GRÁFICO 02: Assistência advocatícia - causas inferiores a vinte salários mínimos ................................................................................................................. 65 GRÁFICO 03: Desfecho processual com assistência advocatícia ........................ 66 GRÁFICO 04: Desfecho processual sem assistência advocatícia ........................ 66 GRÁFICO 05: Extinções sem resolução de mérito ............................................... 68 GRÁFICO 06: Ações apreciadas em seu mérito pelo magstrado – do dano moral ..................................................................................................................... 69 LISTA DE TABELAS TABELA 01 ............................................................................................................ 63 SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................. 11 1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................... 14 1.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ....................................................................... 14 1.2 BREVE ESCORÇO HISTÓRICO.................................................................. 15 1.3 CONCEITO.................................................................................................... 20 1.4 ELEMENTOS ................................................................................................ 22 1.4.1 Da Conduta do Agente............................................................................... 22 1.4.2 Do Dano...................................................................................................... 23 1.4.3 Nexo Causal............................................................................................... 24 2 DO DANO MORAL........................................................................................... 26 2.1 CONCEITO.................................................................................................... 26 2.2 ELEMENTOS CARACTERIZADORES......................................................... 30 2.3 DA FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO.......................................... 32 3. DA REPARABILIDADE DO DANO MORAL ORIUNDO DAS RELAÇÃO DE CONSUMO ................................................................................................... 38 3.1. RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO ........................................................ 38 3.1.1 Consumidor ............................................................................................... 40 3.1.1.1 Consumidor por equiparação ................................................................. 42 3.1.3 Fornecedor ................................................................................................ 43 3.1.4 Produto ...................................................................................................... 44 3.1.5 Serviço ....................................................................................................... 44 3.2 DA RESPONSABILIDADE NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.................................................................................................... 45 3.2.1 Do Dano Moral no Código de Defesa do Consumidor .............................. 48 3.3 A PROPOSITURA DE AÇÕES INDENIZATÓRIAS DE DANOS MORAIS ORIUNDOS DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ................................................. 49 3.3.1 Considerações Introdutórias ...................................................................... 49 3.3.2 Utilização do Procedimento Sumaríssimo ................................................. 51 3.3.3 A Indústria do Dano Moral ......................................................................... 55 4 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS POR MEIO DA REALIZAÇÃO DAS PESQUISAS DE CAMPO................................................................................... 60 4.1 DADOS COLETADOS PELO SISTEMA DE AUTOMAÇÃO DO JUDICIÁRIO ....................................................................................................... 61 4.2. DADOS COLETADOS PELO PROCESSO JUDICIAL DIGITAL ................. 62 4.2.1. Da assistência advocatícia e desfechos processuais ............................... 64 4.2.1. Da fixação do quantum indenizatório........................................................ 70 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 72 REFERÊNCIAS................................................................................................ 76 ANEXOS........................................................................................................... 81 INTRODUÇÃO Este trabalho de conclusão de curso apresenta como foco de pesquisa a elevação no número de ações de danos morais decorrentes das relações de consumo, tema de relevante valor social e vastamente discutido entre pesquisadores e profissionais do Direito. É comumente atribuída à criação do Código de Defesa do Consumidor, instituído pela Lei n° 8.078/90, somada à facilitação do acesso à Justiça após a regulamentação dos Juizados Especiais Cíveis através da Lei n° 9.099/95, o crescimento no número de ações indenizatórias por danos morais. A Constituição Federal, em seu art. 5°, XXXII, estabeleceu que o Estado promoverá a defesa do consumidor, na forma da lei, e o art. 170, V, apontou a defesa do consumidor como um dos princípios norteadores da ordem econômica. Nesse contexto, foi promulgado o Código de Defesa do Consumidor, a fim de se resguardar os direitos da parte reconhecidamente mais vulnerável nas relações de consumo: o consumidor. A proteção ao hipossuficiente ante aos detentores do poder econômico se faz várias vezes presente no Código de Defesa do Consumidor, a exemplo da instituição dos direitos básicos do consumidor (art. 6º, VII), a possibilidade de inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII), a desconsideração da personalidade jurídica (art. 28) e da regra de interpretação dos contratos (Art. 47), todos institutos facilitadores do acesso à prestação jurisdicional. A criação dos Juizados Especiais Cíveis através da Lei n° 9.099/95 contribuiu igualmente para essa realidade, ao objetivar a revitalização do Judiciário, estabelecendo que esses teriam como critérios orientadores a oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade. Destinados às causas de menor complexidade, uma das suas principais inovações foi trazer em seu art. 9° a faculdade da assistência de advogado nas causas propostas nos Juizados Especiais que não ultrapassem 20 (vinte) salários mínimos. Não obstante os avanços observados, o acentuado aumentono número de ações de danos morais resultantes de relações de consumo propostas nos Juizados Especiais Cíveis nas duas últimas décadas tem sido objeto de longas discussões no meio científico e acadêmico, acarretando diversas publicações sobre a temática a partir de diferentes pontos de vista, dentre eles, o avanço do Judiciário por fazer valer os direitos do consumidor, a banalização da via judicial e abarrotamento da justiça e a possibilidade de enriquecimento ilícito ante o não “tabelamento” dos danos morais. Neste ínterim, questiona-se o devido preenchimento das condições da ação, pressupostos processuais e requisitos específicos, uma vez que ao se analisar tais aspectos no contexto das ações indenizatórias por danos morais provenientes das relações consumeristas, percebe-se que as mesmas têm sido movidas em larga escala, mas nem sempre desembocam em uma sentença de mérito. O alto índice de extinção do processo sem resolução do mérito pode refletir uma utilização indiscriminada da via judicial, o que afastaria sua finalidade precípua de resolução da lide, dissolução do conflito de interesses observado quando uma parte demonstra resistência em relação à pretensão de outra. Com o intuito de solucionar os questionamentos acima suscitados, a presente pesquisa se desenvolverá. Para tanto, serão utilizados conceitos doutrinários, posicionamentos jurisprudenciais dos Tribunais e, a nível de pesquisa prática amostral, dados coletados no Juizado Especial Cível da Zona Sul, referentes à citada via processual no período de 01/07/2005 a 31/12/2008, os quais demonstrarão em esfera local uma realidade observada nacionalmente. A abordagem será iniciada sob a perspectiva geral da responsabilidade civil, fazendo-se um breve escorço histórico e demonstrando-se seus pressupostos: conduta do agente, dano e nexo causal. Seguir-se-á, então, com o aprofundamento na caracterização do dano moral, evidenciando-se, por conseguinte, um aspecto de extrema relevância: a fixação do quantum indenizatório. Em face disso, serão apontados os caminhos a serem utilizados pelo magistrado para que possa estimar a dimensão do dano moral sofrido, do constrangimento experimentado pela vítima, não deixando de aferir a possibilidade econômica da parte ré em prestar a indenização. Através das informações obtidas na investigação prática, se buscará demonstrar o aumento das ações indenizatórias por danos morais decorrentes das relações de consumo e a porcentagem que essas ações representam na totalidade de ações ingressadas no Juizado Especial Cível da Zona Sul, analisar o teor das sentenças proferidas, no objetivo de verificar se de fato há uma utilização indiscriminada de tal via processual, bem como examinar os critérios aplicados para a fixação do “quantum” indenizatório, tendo em vista que o magistrado o arbitra de acordo com o seu livre convencimento e experiência, o que pode ocasionar a oscilação de valores ante a inexistência de uma padronização. A presente pesquisa se propõe, portanto, a abordar a discussão teórica do assunto, ao mesmo tempo em que, por meio da coleta de dados oriundos da atividade do Judiciário, retratar a realidade vivenciada, os fatores que contribuem para o aumento dessas ações, bem como a aplicação dos mecanismos que garantam a segurança jurídica na aferição desse dano. Reunidos os aspectos teóricos e práticos, esse estudo justifica-se enfim, na contribuição para a formação do saber acadêmico, trazendo à baila um tema de relevante valor social, vez que contribuirá para aferição, em última análise, da efetiva realização do direito do consumidor natalense quando provoca o Juizado Especial Cível da Zona Sul. 1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL 1.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS A vida em sociedade é essencialmente dinâmica e exige, para a sua harmônica existência, a adoção de regras morais e jurídicas que limitem as vontades individuais, na busca do bem coletivo maior, assegurando, assim, o equilíbrio de interesses nas inúmeras relações observadas na complexidade da vida contemporânea. Aqueles que vivem em sociedade e aceitaram as regras sociais, as obrigações anímicas impostas pela moral e pela ética, enquanto compromissos supralegais, e pelo regramento institucional imposto pelo tegumento social, expresso no Direito Positivo, assumem o dever de não ofender, nem de lesar, causar dano ou prejuízo sem que tenham justificativa ou eximente, expressamente prevista na legislação de regência.1 Nesse ínterim, vislumbra-se a responsabilidade enquanto dever geral de não prejudicar o próximo: honestae vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere2. Ou seja, a conduta humana deve estar eticamente pautada na não ofensa ao bem jurídico alheio, sendo-lhe atribuída a resposta pelas conseqüências oriundas das ações e omissões danosas. O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as conseqüências de um ato, fato ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar. Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de princípios e normas que regem a obrigação de indenizar.3 No ordenamento jurídico brasileiro, a responsabilidade pode ser observada em sede de direito privado civil ou de direito público penal. Sob a ótica das relações privadas, a responsabilidade é fundamentalmente patrimonial e objetiva a restituição do equilíbrio entre as partes envolvidas. Sob o ponto de vista do direito penal, o ato danoso não atinge apenas a pessoa em sua individualidade, mas toda a harmonia e paz social. Como bem ensina Stoco, 1 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. P. 117. 2 Viver honestamente, não lesar a outrem e dar a cada um o que é seu. 3 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. P. 1. No âmbito penal a sanção atende a um anseio da sociedade e busca resguardá-la. No âmbito civil o dever de reparar assegura que o lesado tenha seu patrimônio - material ou moral – reconstituído ao statu quo ante mediante a restitutiu in integrum.4 Atendendo aos princípios basilares, a responsabilidade penal será sempre direta, ou seja, daquele que deu causa à ofensa ou ao prejuízo, mediante culpa ou dolo, bem como atenderá ao principio da nulla poena sine lege, uma vez que apresenta conseqüências mais gravosas e medidas repressoras severas. Na responsabilidade civil, porém, o dever de indenizar pode ocorrer na pessoa do ofensor ou de maneira indireta, quando juridicamente os atos de terceiro estão sob sua responsabilidade. Para o presente estudo, cumpre análise mais aprofundada desta última. 1.2 BREVE ESCORÇO HISTÓRICO A responsabilidade civil surge já nos primeiros agrupamentos humanos como uma natural necessidade de ter assegurado aquilo que se considera importante. Assim, ela acompanha os processos de evolução histórica, assumindo novas nuances, à medida que as coletividades se transformam, a fim de garantir a preservação e defesa dos bens ou dos entes queridos. No decorrer do tempo, diferentes formas de reparação de danos foram adotadas em conformidade com o pensamento da época, o qual esteve sempre em constante mutação para acompanhar o dinamismo social e saciar sua ânsia de justiça. Conhecer essa evolução ajuda a compreender a contemporânea conceituação de responsabilidade civil no ordenamento jurídico pátrio. Nas sociedades primitivas, imperava a vingança coletiva. Essa era caracterizada pela reação conjunta do grupo contra o agressor, aplicando-lhe a severa punição de exclusãodo grupo ou mesmo a morte daquele que causasse dano à coletividade da qual fazia parte. Eram ainda pequenos agrupamentos onde regras e limites não eram conhecidos e se faziam secundários diante da necessidade de sobrevivência em condições muitas vezes desumanas. 4 STOCO, op. cit., p. 114. Em seguida, observou-se o instituto da vingança privada. Ainda imediatista e brutal como a forma anterior, aqui a agressão era retribuída com igual agressão, ou seja, combatia-se o mal com o mal. Era uma forma instintiva de reparação que pode ser classificada como objetiva, uma vez que não era necessária a comprovação da culpa, mas tão somente o nexo de causalidade entre a ação e o dano experimentado. Nos primórdios da humanidade, entretanto, não se cogitava do fator culpa. O dano provocava a reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Não havia regras nem limitações. Não imperava ainda o direito. Dominava então a vingança privada, “forma primitiva, selvagem talvez, mas humana, da reação espontânea e natural do mal sofrido; solução comum a todos os povos na sua origem, para a reparação do mal pelo mal”5. 6 Historicamente conhecida, a Lei de Talião estabeleceu o “olho por olho, dente por dente”7. Neste caso, o poder público intervinha apenas para estabelecer como e quando a vítima poderia ter o direito de retaliação, ensejando ao ofensor dano idêntico ao que foi produzido. Seguindo essa regra, cada um poderia fazer justiça com as próprias mãos, o que, ao invés de ressarcir um eventual dano, acabava por provocar mais um prejuízo à sociedade. Nesse contexto, surge a composição voluntária como uma alternativa à retaliação. O instinto de vingança, do castigo físico é substituído pela compensação econômica do ofendido, prevalecendo o entendimento de que seria mais racional a reparação do dano por meio da prestação da poena e outros bens. Nessa fase ainda não há a necessária aferição da culpa, sendo, portanto, a responsabilidade objetiva. A constante utilização da composição e a evolução nas estruturas políticas fizeram com que se alcançasse um novo estágio: a composição obrigatória. Agora, o Estado é responsável pela reparação dos danos, não sendo mais permitido ao particular fazer sua própria justiça. Os danos são tarifados, e para cada tipo de lesão é estabelecido um valor a ser pago. Trata-se de uma tentativa de uniformização dos delitos e suas respectivas reparações. Nessa época foi observada a passagem da norma consuetudinária para a lei escrita com a elaboração dos Códigos de Hamurabi, Ur Manu, e a Lei das XII Tábuas. 5 LIMA, apud GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 4. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2009. V. 4. P. 4. 6 GONÇALVES, op. cit., p. 4. 7 THEODORO JÚNIOR. Dano moral. 5. ed. atual. e ampl. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2007b. P. 3. Em Roma, com a Lei das XII Tábuas observou-se que muitas vezes a ordem pública também era perturbada. Passou-se então a distinguir os delitos públicos dos delitos privados. Como bem ensina Frederico de Ávila Miguel, Com os romanos começou a ser delineado um esboço de diferenciação entre pena e reparação, através da distinção entre delitos públicos e delitos privados. Enquanto nestes a autoridade intervinha apenas para fixar a composição, naqueles, por serem as ofensas consideradas mais graves e perturbadoras da ordem, o réu deveria recolher a pena a favor dos cofres públicos. Ainda aqui a reparação era objetiva, isto é, independente da análise da culpa.8 Seguindo a evolução histórica, tem-se a Lex Aquilia de Damno ou Lei Aquilia, que trouxe a primeira idéia de culpa para a responsabilidade civil. Nessa fase, portanto, começa-se a considerar o subjetivismo na hora de estabelecer a reparação. A Lex Aquilia é o divisor de águas da responsabilidade civil. Esse diploma, de uso restrito a princípio, atinge dimensão ampla na época de Justiniano, como remédio jurídico de caráter geral; como considera o ato ilícito uma figura autônoma, surge, desse modo, a moderna concepção da responsabilidade extracontratual. O sistema romano de responsabilidade extrai da interpretação da Lex Aquilia o princípio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, independentemente de relação contratual existente. Funda-se aí a origem da responsabilidade extracontratual fundada na culpa. Por essa razão, denomina-se também responsabilidade aquiliana essa modalidade, embora exista hoje um abismo considerável entre a compreensão dessa lei e a responsabilidade civil atual.9 O direito francês aperfeiçoou os conceitos romanos até chegar a um princípio geral em que a culpa, ainda que levíssima, acarreta o dever da reparação. Os juristas franceses Domat e Pothier foram os principais teóricos do Princípio da Responsabilidade Civil fundamentado na culpa10. Nesse período são reafirmadas as diferenças entre a responsabilidade civil, caracterizada pelas ofensas mais leves, e a responsabilidade penal, que consistia nas ofensas mais graves, de caráter perturbador da ordem, cuja reparação se dava 8 MIGUEL, Frederico de Ávila. Responsabilidade civil: evolução e apanhado histórico: a problemática da efetiva reparação do dano suportado pela vítima em razão da culpa como pressuposto. Vlex Internacional, [S.l.], n. 3, jan. 2008. Disponível em: <http://vlex.com/vid/responsabilidade-apanhado- efetiva-dano-456105>. Acesso em: 10 maio 2009. p. 5. 9 VENOSA, op. cit., p. 17. 10 GANDINI, João Agnaldo Donizeti; SALOMÃO, Diana Paola da Silva. A responsabilidade civil do Estado por conduta omissiva. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 106, 17 out. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4365>. Acesso em: 12 maio 2009. p. 1. perante o Estado. Também é consolidada a diferenciação entre a culpa contratual, originada das pessoas que descumprem as obrigações, e a culpa extracontratual, proveniente da negligência, imprudência ou imperícia fora das relações obrigacionais. Surge, então, após a Revolução Francesa, o Código de Napoleão, que influenciou vários povos e, conseqüentemente, a legislação de vários países, dentre eles o Brasil11. Esse Código trazia em seu art. 1.382 o elemento subjetivo da culpa ao estabelecer que “[…] qualquer fato oriundo daquele que provoca um dano a outrem obriga aquele que foi a causa do que ocorreu para reparar este dano”12. Modernamente, seguindo os pensamentos franceses, o Código Civil brasileiro de 191613 estabeleceu em seu art. 159: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. Destaca-se, portanto, que já era indiferente ser a conduta dolosa ou culposa — imprudente, negligente ou imperita —, sendo qualquer dessas espécies de culpa suficiente para caracterizar a responsabilidade civil independentemente da gravidade do dano experimentado pela vítima. A mesma idéia continuou presente no atual Código Civil de 200214, o que pode ser evidenciado na interpretação conjugada dos arts. 927, caput e 186, do citado diploma legal: Art. 186: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 927: Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Inovou, entretanto, ao trazer nesse dispositivo a possibilidade de responsabilização por dano ainda que exclusivamente moral. Objeto de longos 11 STOCO, Rui. Responsabilidade civil no Código Civil francês eno Código Civil brasileiro. In: SEMINÁRIO EM COMEMORAÇÃO AO BICENTENÁRIO DO CÓDIGO CIVIL FRANCÊS, 2004, Brasília, DF. Estudos em homenagem ao bicentenário do Código Civil francês. Disponível em: <http://aplicaext.cjf.jus.br/phpdoc/pages/sen/portaldaeducacao/textos_fotos/bicentenario/textos/rui_sto co.doc>. Acesso em: 10 maio 2009. p. 7. 12 Idem, p. 10. 13 BRASIL, Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 1 jan. 1916. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3071.htm>. Acesso em: 7 maio 2009. 14 BRASIL, Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art2045>. Acesso em: 6 maio 2009. debates doutrinários, a matéria já tinha sido constitucionalmente resguardada, admitindo-se hoje, inclusive, sua cumulação com o dano material, conforme entendimento pacificado na Súmula nº 37 do Superior Tribunal de Justiça, verbis: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundo do mesmo fato”15. O direito pátrio assume, pois, como regra, a responsabilidade subjetiva, impondo à vítima o ônus da prova da culpa do agente. Entretanto, adaptado às necessidades da sociedade contemporânea, seu desenvolvimento industrial e tecnológico, fez-se necessária a adoção de novas teorias, a fim de se resguardar amplamente os direitos do ofendido e amenizar a injustiça imposta pelo sistema econômico. Genericamente, a responsabilidade objetiva, ou seja, aquela que não necessita do elemento culpa para sua aferição, invertendo-se o ônus da prova para o agente do dano, está vislumbrada no parágrafo único do art. 927 do Código Civil16: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. É a denominada teoria do risco, na qual se avalia a possibilidade de causar dano baseado exclusivamente na natureza da atividade ou dos meios utilizados na conduta, as quais resultam por si só na exposição a perigo. De acordo com essa teoria, aquele que tira os proveitos da atividade deve arcar com os eventuais danos advindos do exercício desta, independentemente da verificação da culpa. Se o agente sabia previamente dos riscos e optou por praticá-la, visando colher os frutos positivos, terá de arcar com as conseqüências da atividade. A esse respeito, são esclarecedoras as palavras do doutrinador Carlos Roberto Gonçalves: Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na idéia da culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do 15 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n.º 37. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=37&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=1>. Acesso em: 6 maio 2009a. 16 BRASIL, 2002. dano indenizável. Dentro desta concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou cualpa.17 Continuando seu raciocínio, relembra os ensinamentos de Agostinho Alvim: A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, em determinadas situações, a reparação de um dano cometido sem culpa. Quando isso acontece, diz-se que a responsabilidade é legal ou “objetiva”, porque prescinde de culpa e se satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade. Esta teoria, dita objetiva, ou do risco, tem como postulado que todo dano é indenizável, e deve ser reparado por quem a lei se liga por um nexo de causalidade, independentemente de culpa.18 Em breve síntese do histórico evolutivo da responsabilidade civil aqui exposto, tem-se que, inicialmente, reparava-se apenas o dano material, usando-se a responsabilidade objetiva, na qual se fazia prescindível a verificação da culpa, bastando apenas a aparência do nexo de causalidade entre a ação e o dano. Depois, a partir da Lei Aquilia, buscou-se a reparação baseada na culpa do agente; nos tempos atuais, procura-se conciliar a responsabilidade subjetiva com a responsabilidade objetiva, bem como com a teoria do risco, no intuito de garantir a mais ampla e completa reparação, seja esse dano material ou moral. 1.3 CONCEITO Princípio geral de direito, informador de toda teoria da responsabilidade, encontradiço no ordenamento jurídico de todos os povos civilizados e sem o qual a vida social é quase inconcebível, é aquele que impõe a quem causa dano a outrem o dever de reparar.19 A palavra responsabilidade origina-se do latim respondere, que encerra a idéia de segurança ou garantia da restituição ou compensação do bem sacrificado. Teria assim o significado de recomposição, de obrigação de restituir ou ressarcir20. Tal termo contém, portanto, a raiz latina spondeo, fórmula pela qual se vinculava, no direito romano, o devedor nos contratos verbais21. 17 GONÇALVES, op. cit., p. 4. 18 ALVIM apud GONÇALVES, op. cit., p. 15. 19 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. V. 4. P. 13. 20 GONÇALVES, op. cit., p. 15. 21 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. V. 7. P. 39. A responsabilidade civil, conforme anteriormente apontado, é um instituto jurídico que tem por finalidade assegurar direitos, restaurar o equilíbrio patrimonial ou moral ofendido. Não se trata, portanto, de uma obrigação originária, mas de uma conseqüência de uma ação ou omissão contrária à lei, capaz de solucionar conflitos e evitar a inquietação social. Nesse sentido, […] o traço mais característico da responsabilidade civil talvez seja o fato de se construir especialmente em um instrumento de compensação […] seus objetivos são os de compensar as perdas sofridas pela vítima e desestimular a repetição de condutas semelhantes em um momento posterior.22 Grandes são as dificuldades que a doutrina tem enfrentado para conceituar a responsabilidade civil23. Nos dias atuais, a fim de estender a garantia de efetividade do direito de reparação civil às mais diversas situações da vida contemporânea, ou simplesmente facilitar seu entendimento, são adotadas diferentes classificações para a responsabilidade, conforme a perspectiva analisada. Assim, quanto à sua natureza, a responsabilidade poderá ser civil, penal ou administrativa; quanto ao seu fundamento, observa-se a já referida diferenciação entre responsabilidade objetiva e a responsabilidade subjetiva; quanto ao seu fato gerador, responsabilidade civil contratual ou negocial (decorrente de obrigação preexistente, contratos e atos unilaterais de vontade), em contraposição à responsabilidade civil extracontratual (também tradicionalmente denominada aquiliana, que abrange todo o sistema normativo); por último, quanto ao seu agente, poderá ser direta (proveniente de ato do próprio responsável) ou indireta (proveniente de ato de terceiro, vinculado ao agente ou de fato de animal ou coisa inanimada sob sua guarda. Feitas essas considerações, responsabilidade pode então ser definida como a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou ainda pela simples imposição legal24. No mesmo sentido, esse instituto é conceituado por René Savatier como “[…] a obrigação que pode incubir uma pessoa a reparar o prejuízo22 NORIS, apud STOCO, 2007, p.112 23 HENRI; LEON, MAZEAUD; TUNC, apud DINIZ, op. cit., p. 39. 24 DINIZ, op. cit., p. 40. causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam”25. 1.4 ELEMENTOS Doutrinariamente, vislumbra-se certa divergência entre os elementos ou pressupostos caracterizadores da responsabilidade civil. Aqui, optou-se pela tradicional e didática disposição em: conduta do agente (ação ou omissão), dano e nexo causal. Segue a análise de cada um. 1.4.1 Da conduta do agente Os fatos humanos, também conhecidos como atos jurídicos, são definidos como sendo todo comportamento apto a gerar efeitos jurídicos, possibilitando a conservação, modificação ou extinção de direitos. Dessa maneira, para visualizar a produção do ato jurídico, o agente deve assumir a atitude de desenvolver determinada conduta ou, de forma oposta, abster-se de praticá-la. Haverá, portanto, o ato jurídico decorrente de uma obrigação originalmente lícita, a exemplo das relações contratuais, bem como aqueles originados de atos ilícitos. A indenização pode derivar de uma ação ou omissão individual do agente, sempre que, agindo ou se omitindo, infringe um dever contratual, legal ou social. A responsbilidade resulta de fato próprio, comissivo, ou de uma abstensão do agente, que deixa de tomar uma atitude que devia tomar.26 A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado.27 Desse modo, a aferição da responsabilidade civil está condicionada à existência de um dano originado de uma conduta humana voluntária e contrária à ordem jurídica. Esse resultado danoso pode então surgir de uma ação (facere) ou de uma omissão (non facere), conforme preceitua o art. 186 do Código Civil. 25 SAVATIER, apud RODRIGUES, op. cit., p. 6. 26 RODRIGUES, op. cit., p. 19. 27 DINIZ, op. cit., p. 43-44. A voluntariedade não reside na intenção direta de causar um resultado lesivo, mas tão somente na conduta livre e discernida, a qual caminha paralelamente com o conceito de imputabilidade, visto que são consideradas as condições pessoais de maturidade e sanidade do agente28. Escolhida pelo ordenamento jurídico como regra geral, a responsabilidade subjetiva tem como ponto central de exame o ato ilícito, ou seja, naquele ato praticado culposamente, em confronto com a ordem jurídica e capaz de violar direito subjetivo individual, originando o dever de reparar tal lesão29. Cumpre ressaltar que, nesse caso, trata-se de um juízo de reprovação fundado na culpa lato sensu, englobando o dolo enquanto vontade direcionada a um resultado, e as variedades da culpa em sentido estrito, imprudência, negligência ou imperícia. Não se pode esquecer também a responsabilidade fundada no risco. Nessa hipótese, não se verifica a ocorrência de culpa por alguém, mas exclusivamente se constata quem causou o dano e o nexo de causalidade entre o dano e o autor. A atividade é lícita, apenas pagando o autor pelo dano causado por sua atividade naturalmente perigosa. Por outro lado, se a ação ou omissão que enseje o evento danoso não for voluntária, ou ainda, se ele decorre de caso fortuito, força maior ou de outra causa de exclusão de responsabilidade previstas no ordenamento jurídico, afastada estará sua responsabilidade. 1.4.2 Do dano Não há responsabilidade sem um resultado danoso, sem um prejuízo a ser reparado. Sem a ocorrência de um dano, é inadmissível qualquer cogitação de responsabilidade, seja ela subjetiva ou objetiva. O dano é pressuposto da obrigação de indenizar e é pela sua extensão que se avalia a indenização cabível. Ele pode ser de ordem material ou de ordem moral, sendo pacificada a sua cumulação. No primeiro caso, como a própria nomenclatura demonstra, trata-se de prejuízos de natureza econômica, o patrimônio da vítima é afetado de forma visível e 28 “Pressupõe o art. 159 do Código Civil o elemento da imputabilidade, ou seja, a existência, no agente, da livre determinação de vontade. Para que alguém pratique um ato ilícito e seja obrigado a reparar o dano causado, é necessário que tenha capacidade de discernimento. Em outras palavras, aquele que não pode querer e entender, não incorre em culpa e, ipso facto, não pratica ato ilícito.” (GONÇALVES, op. cit., p. 10). 29 DINIZ, op. cit., p.45. mensurável. É avaliado o que de fato se perdeu com a deterioração ou destruição do bem e o que razoavelmente se deixou de ganhar30. Dito de outra forma, o dano material engloba tanto o dano emergente (diminuição do patrimônio do titular do bem atingido) como o lucro cessante. Quando não for possível a restituição natural da coisa, a reparação se dará em dinheiro. O conceituado dano moral é a lesão a interesses não patrimoniais da vítima por meio de ofensas direcionadas aos direitos da personalidade. Nesse caso, bens e valores subjetivos são afetados. Pode-se citar algumas definições doutrinárias: “Dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral ou intelectual da vítima”31; “Apresenta-se como aquele mal ou dano que atinge valores eminentemente espirituais ou morais, como a honra, a paz, a liberdade física, a tranqüilidade de espírito, a reputação, a beleza, etc.”32 Já que o dano moral atua na esfera da mais íntima subjetividade, difícil se torna sua valoração. O fundamento da reparabilidade pelo dano moral está em que, a par do patrimônio em sentido técnico, o indivíduo é igualmente titular de direitos integrantes de sua personalidade, não podendo conformar-se à ordem jurídica em que não sejam resguardados33. O fato é que não é qualquer dor ou sofrimento que é indenizável pelo direito, mas apenas aqueles que apresentem os pressupostos da ilicitude e nexo causal. Afasta-se a prova do dano, pois os abalos são fenômenos de ordem psíquica, não podendo ser concretamente demonstrados. Da mesma forma, quando se tratar de mero aborrecimento da vida ou de incômodo irrelevante, igualmente será afastada a reparação. Em última análise, cabe ao magistrado usar da experiência de vida, da razoabilidade e da sensibilidade do homem médio para decidir quanto à existência e ao alcance do dano moral ocorrido. 1.4.3 Nexo causal Feitas as considerações pertinentes aos elementos conduta do agente e o dano, cumpre agora analisar o nexo de causalidade entre eles. 30 Art. 402, CC: “Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.” 31 VENOSA, op. cit., p. 41. 32 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: lei nº 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. P. 19. 33 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 1998. P. 54. Para que surja a obrigação de indenizar, mister se faz a prova de existencia de uma relação de causalidade entre a ação ou omissão culposa do agente e do dano experimentado pela vítima. Se a vítima experimentar um dano, mas não se evidenciar que este resultou do comportamento ou da atitude do réu, o pedido de indenização formulado por aquela deverá ser julgado improcedente.34 O nexo de causalidade consiste na relação de causa e efeito entre a conduta praticada pelo agente e o dano suportado pela vítima, ou seja, não obstante estejam configurados a culpa e o dano, não haverá a obrigação de indenizar se não for constatadoum nexo que ligue os dois elementos. Em outras palavras, o fato de não se apresentar uma relação de causa não gera o dever de reparar o efeito35. “Nexo causal é o liame que une a conduta do agente ao dano.”36 O ordenamento jurídico brasileiro disciplina situações excepcionais em que a relação causal entre a ação e o dano estará prejudicada, não havendo, portanto, o dever de reparação. São casos exemplificativos dessa situação a culpa exclusiva da vítima, na qual o agente é apenas um instrumento do acidente; a exclusiva culpa de terceiro; o caso fortuito ou a força maior, em que deve ser constatada a inevitabilidade do evento (objetivo) e a total ausência de culpa na ocorrência do acontecimento (subjetivo); a cláusula de não indenizar, as excludentes de ilicitude, o estado de necessidade e a legítima defesa. São todas denominadas excludentes de causalidade. 34 RODRIGUES, op. cit., p. 18. 35 Para que se caracterize a responsabilide é indispensável que se estabeleça uma interligação entre a ofensa à norma e o prejuízo sofrido, de tal modo que se possa afirmar ter havido o dano “porque” o agente procedeu contra direito. (RODIÈRE, apud PEREIRA, op. cit., p. 75). 36 VENOSA, op. cit., p. 47 2 DO DANO MORAL 2.1 CONCEITO Após uma breve introdução ao instituto da responsabilidade civil e seus elementos caracterizadores, cumpre agora adentrar um pouco mais na problemática proposta por este trabalho acadêmico, traçando algumas considerações específicas acerca do dano moral, verdadeiro avanço jurídico na defesa dos interesses extrapatrimoniais dos cidadãos. A reparabilidade do dano moral já ensejou longas discussões no direito pátrio. Não apenas os tribunais mas igualmente doutrinadores consagrados por longo tempo relutaram em reconhecer a sua possibilidade, argumentando que a dor e o sofrimento da vítima não têm preço passível de estimação37. Com o passar dos anos, porém, a complexidade das relações interpessoais começou despertar a necessidade da reparação. A doutrina majoritária defende que o legislador brasileiro reconheceu pela primeira vez o dano moral em face da edição do art. 159, do Código Civil de 191638, ao estabelecer que “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”39. Todavia, a jurisprudência, em sua atividade prática, hesitava em reconhecer a reparabilidade genérica do dano moral, negando as hipóteses que não estivessem positivadas explicitamente no ordenamento40. A título exemplificativo, podem-se citar algumas leis esparsas que previam e regulamentavam a possibilidade de indenização por danos morais, tais como a revogada Lei de Falências (Decreto-Lei 37 THEODORO JÚNIOR, 2007b, p. 5. 38 BRASIL, 1916. 39 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 5. 40 Nesse contexto, o doutrinador Yussef Said Cahali destacou em sua obra antigo acórdão do Supremo Tribunal Federal, quando ainda não era reconhecido o valor afetivo exclusivo: “[…] nem sempre o dano moral é ressarcível, não somente por não poder dar-lhe valor econômico por se não apreciá-lo em dinheiro, como ainda porque essa nossa insuficiência dos nossos recursos abre a porta a especulações desonestas pelo manto nobilíssimo de sentimentos afetivos; no entanto, no caso de ferimentos que provoquem aleijões, no caso de valor afetivo, coexistir com o moral, nos casos de ofensa à honra, à dignidade e à liberdade, se indeniza o valor moral pela forma estabelecida no Código Civil [1916]. No caso de morte de filho menor não se indeniza o dano moral se ele não contribuía em nada para o sustento da casa”. 2ª Turma, 06.08.1948, maioria, RT 244/629 apud CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 3. ed. rev., ampl. e atual. conforme o Código Civil de 2002. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. P. 50. nº 7.661/45), o Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº 4.117/62), o Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65) e a Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67). De igual forma, predominava nessa época o entendimento pela não cumulatividade do dano material com o dano moral, sob o argumento de que, uma vez restabelecido o equilíbrio econômico (patrimonial), a vítima não teria mais do que ser reparada41. O impasse foi efetivamente afastado com a promulgação da Carta Constitucional de 198842, quando restou inquestionável a reparação de todo e qualquer mal injusto, garantido o direito de resposta, proporcional ao agravo, sem prejuízo da indenização pelo dano material, moral ou à imagem, como também assegurada a inviolabilidade ao direito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem da pessoa, todos direitos essenciais da pessoa humana. Nos ensinamentos do professor Paulo Luiz Netto Lôbo, a inclusão constitucional dos direitos da personalidade e dos danos morais reflete a evolução pela quais ambos os institutos jurídicos têm passado. Os direitos da personalidade, direitos inatos e essenciais à realização da pessoa e de sua dignidade, por serem valores não patrimoniais, encontram excelente aplicação nos danos morais, os quais apresentam a mesma natureza imaterial. Ambos têm por objeto bens integrantes da interioridade da pessoa, ou seja, aquilo que é inato à pessoa e deve ser resguardado pelo direito43. Analisado o dano moral sob a ótica dos princípios fundamentadores da Constituição Cidadã, constata-se a amplitude que o mesmo passou a alcançar enquanto ferramenta de proteção aos direitos da personalidade, pois, elevado à categoria de fundamento do Estado Democrático de Direito, o princípio da dignidade da pessoa humana é subjetivo a cada indivíduo e deve nortear suas relações em sociedade. Assim, em última análise, o conceito de dano moral está relacionado à 41 THEODORO JÚNIOR, op. cit. p. 6. 42 BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3% A7ao.htm>. Acesso: em 18 maio 2009. 43 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Danos morais e direito da personalidade. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/7843/7410>. Acesso em: 18 jun. 2009. ofensa ao direito constitucional à dignidade, “[…] base de todos os valores morais, a essência de todos os direitos personalíssimos”44. O Código Civil de 200245, seguindo as orientações da Lei Maior, previu expressamente a reparação do dano moral em seu art. 18646, bem como estendeu às pessoas jurídicas a proteção aos direitos da personalidade47, mais uma vez evidenciando a plenitude da reparação civil, independentemente da natureza da ofensa. O Superior Tribunal de Justiça por sua vez, conforme já exposto anteriormente, também contribuiu para o avançar deste entendimento, ao editar a Súmula de nº 3748, a qual veio a solidificar a cumulatividade de danos morais e materiais oriundos do mesmo fato49, e a Súmula de nº 22750, que reconheceu que pessoa jurídica pode sofrer danos morais51. Ilustra-se o entendimento com algumas decisões: RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO DE DIAGNÓSTICO. EXAMES RADIOLÓGICOS. DANOS MORAIS E MATERIAIS. I - O diagnóstico inexato fornecido por laboratório radiológico levando a paciente a sofrimento que poderia ter sido evitado dá direito à indenização. A obrigação da ré é de resultado, de natureza objetiva (art. 14 c/c o 3º do CDC). II - Danos materiais devidos, tendo em vista que as despesas efetuadas com os exames posteriores ocorreram em razão do erro cometido no primeiro exame radiológico. III - Valor dos danos morais fixados em 200 salários- mínimos, por seadequar melhor à hipótese dos autos. IV - Recurso especial conhecido e parcialmente provido.52 DIREITO EMPRESARIAL. DANO MORAL. DIVULGAÇÃO AO MERCADO, POR PESSOA JURÍDICA, DE INFORMAÇÕES DESABONADORAS A 44 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. P. 80. 45 BRASIL, 2002. 46 Art. 186: Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 47Art. 52: Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. 48BRASIL, 2009a. 49 “Os bens que integram a personalidade constituem valores distintos dos bens patrimoniais, cuja agressão resulta no que se convencionou chamar dano moral. Essa constatação, por si só, evidencia que o dano moral não se confunde com o dano material; tem existência própria e autônoma, de modo a exigir tutela jurídica independente.” CAVALIERI FILHO, op cit., p. 80. 50 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n.º 227. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=227&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=1>. Acesso em: 15 maio 2009b. 51 “A pessoa jurídica, como proclama a Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça, pode sofrer dano moral e, portanto, está legitimada a pleitear a sua reparação. Malgrado não tenha direito á reparação do dano moral subjetivo, por não possuir capacidade afetiva, poderá sofrer dano moral objetivo, por ter atributos sujeitos à valoração extrapatrimonial da sociedade, como o conceito e o bom nome, o crédito, a probidade comercial, a boa reputação etc.” (GONÇALVES, op. cit., p. 368). 52 STJ, REsp 594962 / RJ, 3º T., Rel. Min. Antônio De Pádua Ribeiro, DJ 17/12/2004 p. 534 RESPEITO DE SUA CONCORRENTE. COMPROVADOS DANOS DE IMAGEM CAUSADOS À EMPRESA LESADA. DANO MORAL CONFIGURADO. FIXAÇÃO EM PATAMAR ADEQUADO PELO TRIBUNAL A QUO. MANUTENÇÃO. - Para estabelecer a indenização por dano moral, deve o julgador atender a certos critérios, tais como nível cultural do causador do dano; condição sócio-econômica do ofensor e do ofendido; intensidade do dolo ou grau da culpa do autor da ofensa; efeitos do dano, inclusive no que diz respeito às repercussões do fato. - Na hipótese em que se divulga ao mercado informação desabonadora a respeito de empresa- concorrente, gerando-se desconfiança geral da clientela, agrava-se a culpa do causador do dano, que resta beneficiado pela lesão que ele próprio provocou. Isso justifica o aumento da indenização fixada, de modo a incrementar o seu caráter pedagógico, prevenindo-se a repetição da conduta. - O montante fixado pelo Tribunal 'a quo', em R$ 400.000,00, mostra-se adequado e não merece revisão. Recurso especial não conhecido.53 Outra inovação que merece ser destacada é a possibilidade do dano moral coletivo. Essa ação visa à proteção dos valores idealmente considerados na esfera moral de uma comunidade, proporcionando ao mesmo tempo economia e celeridade processual. Ela substitui o ajuizamento individual de cada membro da coletividade ofendida, por uma única ação coletiva que será apreciada, julgada e, em sendo procedente, cada interessado entrará com a execução do comando sentencial; sendo improcedente, não mais se discutirá o mérito individualmente. São exemplos de danos morais à coletividade aqueles referentes à raça (negro, indígena), sexo (homossexuais, feministas), religião (católica, muçulmana)54. Evidente se mostra, portanto, o alargamento observado na conceituação e aplicabilidade do dano moral após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Nesse ínterim, ao conceituar o dano moral, a doutrina faz referência às lesões que atingem injustificadamente os bens imateriais que compõem a personalidade moral da pessoa física, pessoa jurídica ou da coletividade55. Seria, portanto, a ofensa aos valores íntimos que integram a personalidade (a vida, a honra, a liberdade, a intimidade), causando sofrimento, angústia ou humilhação à vítima. Qualificam-se como morais os danos em razão da esfera da subjetividade, ou do plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se como tais aqueles que atingem os aspectos mais 53 STJ, REsp 883630 / RS, 3º T., Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe 18/02/2009 54 MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral nas relações de consumo: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2008. P.75. 55 “Com o advento do novo Código Civil, e cotejando os avanços doutrinários e jurisprudenciais, ousamos afirmar que o dano moral é toda agressão injusta àqueles bens imateriais, tanto da pessoa física como da pessoa jurídica ou da coletividade, insusceptível de quantificação pecuniária, porém indenizável com tríplice finalidade: satisfativa para a vítima, dissuasória para o ofensor e de exemplaridade para o ofensor”. (MELO, op. cit., p. 59). íntimos da personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal), ou da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou da consideração social).56 O professor Sérgio Cavalieri Filho, utilizando a comparação ao direito português, defende a substituição da nomenclatura dano moral pela denominação dano imaterial ou não patrimonial. Esse posicionamento é justificado sob a ótica da natureza personalíssima desses bens e de seu caráter não econômico. Assim, torna-se inapreciável uma correta avaliação pecuniária da indenização, uma vez que esta não apresenta como objetivo o restabelecimento do status quo ante por meio de indenização, mas sim uma satisfação, uma compensação pelo abalo sofrido57. 2.2 ELEMENTOS CARACTERIZADORES A caracterização do dano moral é pressuposto necessário para o surgimento da obrigação indenizatória. A esse respeito muito se discute doutrinariamente quanto à necessidade e possibilidade de provar o dano moral no caso em concreto. Fato inafastável desta análise é que, a despeito dos casos em que o dano é objetivamente aferido, no qual o elemento dor é irrelevante para sua configuração, pois atinge a dimensão moral da pessoa na sua esfera social (agressão à honra, cerceamento da liberdade, violação da privacidade)58, a área de atuação de boa parte dos danos morais se dá no mais íntimo sentimento da pessoa, esfera da intimidade psíquica, tornando-se muitas vezes impossível a sua comprovação técnica por documentos, testemunhas ou perícias59. Não obstante a dificuldade na identificação do dano, esse fato não é o bastante para deixá-lo sem reparação, pois, desde que se possa constatar nesta matéria a existência de um próprio e verdadeiro dano à pessoa, a recusa à tutela da vida, da saúde, da integridade física e moral, da liberdade, da honra, por meios de reparação civil, revela-se injusta60. Por essa razão, boa parte dos pensadores defende que a prova não deve ser perseguida na existência ou não do dano, mas sim na aferição do evento que ensejou o sofrimento injustificado. Ademais, visto que os danos morais transitaram 56 BITAR, apud CAHALI, op. cit., p. 22. 57 CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 81 58 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 126-127. 59 Idem, p. 121. 60 CAHALI, op. cit., p. 28. pela órbita dos direitos personalíssimos, é de discernimento comum que qualquer agressão ilícita a esses valores esteja apta a motivar sua indenização. Neste ponto a razão se coloca ao lado daqueles que entendem que o dano moral está ínsito na própria ofensa, decorre da gravidade do ilícito em si. Se a ofensa é grave e de repercussão, por si só justifica a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado. Em outras palavras, o danomoral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral a guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou fact, que decorre de experiência comum.61 Dessa maneira, entende-se que a lesão ou dor extrapatrimonial é fenômeno que se passa no psiquismo da pessoa e, como tal, não pode ser concretamente examinada. Daí porque não se exigir do autor da pretensão indenizatória que prove o dano moral. Cabe-lhe apenas demonstrar a ocorrência do fato lesivo, de cujo contexto o juiz extrairá a idoneidade para gerar dano grave relevante, segundo a sensibilidade do homem médio e a experiência da vida62. Não se pode deixar de ressaltar que no atual estágio de desenvolvimento socioeconômico e complexidade das relações interpessoais, transtornos normais do cotidiano são admissíveis, sem que isso venha a configurar dano moral. É necessário avaliar o caso em concreto com prudência e bom senso, afastando os meros dissabores da vida, que, embora sejam desagradáveis, não apresentam relevância suficiente, não permitem a efetiva identificação da ocorrência deste dano, evitando o abarrotamento da atividade judiciária. “Na vida moderna há o pressuposto da necessidade de coexistência do ser humano com os dissabores que fazem parte do dia-a-dia” 63. Neste mesmo sentido, tem-se orientado a jurisprudência do STJ, conforme pode ser observado nos seguintes julgados: PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ALARME SOADO EM ESTABELECIMENTO COMERCIAL. MERO DISSABOR. SITUAÇÃO INSUSCETÍVEL DE INDENIZAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.64 RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. FALHA. VEÍCULO. ACIONAMENTO DE AIR BAGS. DANO MORAL INEXISTENTE. VERBA INDENIZATÓRIA AFASTADA. O mero dissabor não pode ser alçado ao 61 CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 86. 62 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 9. 63 MELO, op. cit., p. 60. 64 STJ, AgRg no Ag 1099283 / PB, 4º T., Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJe 01/06/2009 patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem ela se dirige. Recurso especial conhecido e provido, para restabelecer a r. sentença.65 “Se o incômodo é pequeno (irrelevância) e se, mesmo sendo grave, não corresponde a um comportamento indevido, obviamente não se manifestará o dever de indenizar”66. Assim, meros atritos de interesses não podem alçar ao patamar de dano moral, devendo este ser entendido como um sofrimento, dor ou vexame, ou humilhação que, fora do padrão razoável de normalidade, interfira veementemente no comportamento psicológico da vítima, causando-lhe angústia e desequilíbrio em seu bem-estar, em sua integridade psíquica, originando assim um dano a ser reparado67. 2.3 DA FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO Um dos maiores problemas observados na temática dos danos morais reside na sua quantificação. Diferentemente do que é observado quando se trata de danos materiais, os direitos personalíssimos não apresentam dimensão econômica ou patrimonial da qual possa ser aferida a exata medida da indenização. Estabelecer critérios verdadeiramente objetivos acerca da compensação dos danos morais violados, que possam ser seguidos como parâmetros para liquidação das demandas propostas, torna-se, então, uma tarefa árdua68. Na realidade, não é possível uma avaliação pecuniária da dor experimentada ou a recomposição do estado anterior. O que se objetiva com a indenização é a tutela de um bem jurídico violado, proporcionando conforto suficiente à vítima, de forma a afastar a injustiça sofrida. A esse respeito, são valiosas as palavras do professor e magistrado José Luiz Gavião de Almeida: 65 STJ, REsp 898005 / RN, 4º T., Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 06/08/2007 p. 528 66 “Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exarcebada fazem parte do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos.” (THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 7-8). 67 CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 83-84. 68 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 36. A reparação dos danos morais não busca reconduzir as partes à situação anterior ao dano, meta impossível. A sentença visa deixar claro que a honra, o bom nome e a reputação da vítima restaram lesionados pela atitude inconseqüente do causador do dano. Busca resgatar o bom conceito de que se valia o ofendido no seio da sociedade. O que interessa, de fato, é que a sentença venha a declarar a idoneidade do lesado; proporcionando um reconforto à vítima, e, ainda, punir aquele que agiu, negligentemente, expondo o lesado a toda sorte de dissabores.69 Resta atualmente afastado o entendimento pretérito de que seria imoral quantificar a angústia experimentada, atribuindo-lhe uma indenização. Como bem nos ensina Cahali, “[…] quando a vítima reclama a reparação pecuniária do dano moral, não pede um preço para sua dor, mas, apenas, que se lhe outorgue um meio de atenuar em parte as conseqüências da lesão jurídica”70. Assim, o dinheiro não seria apenas capaz de garantir o conforto material, mas igualmente proporcionar à vítima da lesão moral certa satisfação espiritual, de modo a atenuar a dor sofrida. Conclui enfaticamente o doutrinador: “Por outro lado, mais imoral seria proclamar-se a total indenidade do causador do dano”71. Quanto à aferição do quantum reparatório originado dos danos morais, a doutrina se divide em dois sistemas, quais sejam: o sistema tarifário e o sistema aberto. No primeiro caso, o valor da indenização se encontra predeterminado, com valor máximo e mínimo, cabendo ao magistrado aplicá-lo ao caso concreto, atentando para os limites fixados para cada situação. Já no sistema aberto, adotado pelo ordenamento jurídico pátrio, ao juiz é atribuída a competência para estabelecer o valor indenizatório, de forma subjetiva e correspondente à razoável satisfação da lesão sofrida pela parte72. Não obstante a legislação brasileira não tenha regulamentado a fixação do quantum indenizatório, nem permitido a tarifação de indenizações quando se trata de danos morais, deixando ao arbítrio do juiz a estipulação do valor indenizatório, este, em decorrência do princípio da inafastabilidade73, não poderá abster-se de apreciar e assumir um posicionamento ante o caso concreto que lhe seja 69 .ALMEIDA apud MELO, op. cit., p. 63. 70 CAHALI, op. cit., p. 28. 71 CAHALI, loc. cit. 72 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Dano moral e Justiça do Trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 51, out. 2001. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2080>. Acesso em: 10 jun. 2009. 73 BARROSO, Marcelo Lopes. A lei dos Juizados Especiais e o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 49, fev. 2001. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=824>. Acesso em: 12 jun. 2009. apresentado. Para isso, deverá valer-se do disposto artigo 4º da Lei de Introdução ao Código Civil (LICC)74: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá ocaso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. De igual forma, estão à disposição dos magistrados os ensinamentos doutrinários, que propõem os mais variados critérios para fixação do quantum indenizatório e a sólida jurisprudência formada ao longo do tempo. O importante é que o juiz, utilizando sua experiência, ao decidir o valor da indenização por danos morais, o faça de forma livre e consciente, aplicando o bom senso e a eqüidade ao caso concreto: Cabe, assim, ao prudente arbítrio dos juízes e à força criativa da doutrina e jurisprudência, a instituição de critérios e parâmetros que haverão de presidir as indenizações por dano moral, a fim de evitar que o ressarcimento, na espécie, não se torne expressão de puro arbítrio, já que tal se transformaria numa quebra total de princípios básicos do Estado Democrático de Direito, tais como, por exemplo, o princípio da legalidade e o princípio da isonomia.75 É preciso ter em mente que, muito embora o juiz esteja livre para arbitrar a indenização, sua atuação não poderá ser arbitrária. O artigo 944 do Código Civil dispõe que “[…] a indenização mede-se pela extensão do dano”76, cujo parágrafo único do referido diploma, diz que “[…] se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, o juiz poderá reduzir, equitativamente, a indenização”77. Assim, é inquestionável o dever do magistrado em resguardar os valores íntimos que integram a personalidade, todavia, ao fazê-lo, deve decidir em conformidade com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Em razão de sua visceral interdependência com os direitos da personalidade, os danos morais nunca se apresentam como reparação, pois a lesão ao direito da personalidade não pode ser mensurada economicamente, como se dá com os demais direitos subjetivos. Por isso, a indenização tem função compensatória, que não pode ser simbólica, para que a compensação seja efetiva e produza impacto negativo no lesante, nem demasiada, para não conduzir ao enriquecimento sem causa do lesado. No inciso V do artigo 5º, a Constituição determina que o dano moral seja “proporcional ao agravo”. Há quem veja nesse preceito o fundamento da função não apenas compensatória, mas punitiva. Deve o juiz valer-se do princípio da 74 BRASIL, Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 4 de setembro de 1942. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del4657.htm>. Acesso em: 28 jun. 2009. 75 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 37. 76 BRASIL, 2002. 77 Idem. proporcionalidade, tendo em vista serem os direitos atingidos muito mais valiosos que os bens e interesses econômicos, cuja lesão leva à restituição.78 Humberto Theodoro Júnior, embasado nos ensinamentos de Carlos Alberto Bittar, leciona que o critério a ser observado no arbitramento judicial do dano moral está pautado em um juízo de prudência e eqüidade, levando em consideração o binômio possibilidade do lesante/condições do lesado e as particularidades circunstanciais do fato danoso79. Impõe-se a rigorosa observância dos padrões adotados pela doutrina e jurisprudência, inclusive dentro da experiência registrada no direito comparado para evitar-se que as ações de reparação de dano moral se transformem em expedientes de extorsão ou de espertezas maliciosas e injustificáveis. As duas posições, sociais e econômicas, da vítima e do ofensor, obrigatoriamente, estarão sob análise, de maneira que o juiz não se limitará a fundar a condenação isoladamente na fortuna eventual de um ou na possível pobreza do outro.80 O ilustre doutrinador Nhemias Domingos de Melo, ao finalizar sua obra Dano moral nas relações de consumo: doutrina e jurisprudência, dedicou capítulo exclusivo à exposição de sua nova teoria para a apuração do quantum indenizatório nas ações de indenização por danos extrapatrimoniais. De acordo com esse pensamento, devem ser avaliados três parâmetros quando da fixação da verba indenizatória, quais sejam: o caráter compensatório para a vítima, o caráter punitivo para o causador do dano e o caráter exemplar para a sociedade81. Explicando melhor o tripé fundamentador, o primeiro dos elementos consiste em afastar a lesão sofrida por meio de uma compensação pecuniária, não reparatória, mas capaz de propiciar alguma satisfação à vítima; o caráter punitivo se refere à reprovação do ordenamento jurídico ante a conduta ilícita praticada, apresentando a função de desestímulo à reincidência do agressor; o caráter exemplar, por seu turno, destina-se à educação da sociedade, evidenciando que as ofensas aos direitos personalíssimos são reprimidas judicialmente. O autor orienta sua teoria na premissa de que “[…] quanto maior for a pena, menor será o índice de reincidência, associada ao fato de a sociedade tomar ciência 78 LÔBO, op. cit. 79 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 49. 80 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 45. 81 MELO, op. cit., p.285-289. de que determinadas condutas são reprimidas com vigor pelo Poder Judiciário”82. Dessa maneira, a conseqüência econômica diretamente sofrida pelo agressor, repercutiria socialmente uma menor incidência de agressões à dignidade. Ademais, sugere o autor a efetividade da condenação do dano moral além do binômio punição/compensação, por meio da criação de um plus indenizatório, o qual serviria como um desestímulo social ao comportamento lesivo. A esse respeito, observam-se posicionamentos doutrinários divergentes acerca da viabilidade na sua estipulação, sob o argumento de que no ordenamento jurídico brasileiro, diferentemente do que se observa no direito norte-americano, impera o preceito constitucional da legalidade, pelo qual ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei83. No intuito de afastar-se do modelo americano que beneficia a vítima, prossegue o estudioso em sua teoria, cogitando a criação de um “fundo judiciário” para o depósito do plus indenizatório e posterior conversão em campanhas educativas de respeito aos direitos do homem ou em melhoria do Poder Judiciário. O valor não seria destinado à vítima, pois esta já estaria resguardada pela decisão, não fazendo jus a um enriquecimento sem causa. Com fundamentada propriedade, Maria Helena Diniz também presta sua contribuição na formação do entendimento doutrinário acerca da matéria, indicando algumas regras a serem seguidas pelo órgão judicante na avaliação pecuniária do dano moral: a) evitar indenização simbólica e enriquecimento sem justa causa, ilícito ou injusto da vítima. A indenização não poderá ter valor superior ao dano, nem deverá subordinar-se à situação de penúria do lesado; nem poderá conceder a uma vítima rica uma indenização inferior ao prejuízo sofrido, alegando que sua fortuna permitiria suportar o excedente do menoscabo; b) não aceitar a tarifação, porque esta requer despersonalização e desumanização, e evitar porcentagem do dano patrimonial; c) diferenciar o montante indenizatório segundo a gravidade, a extensão e a natureza da lesão; d) verificar a repercussão pública provocada pelo fato lesivo e as circunstâncias fáticas; 82 MELO, op. cit., p.286. 83 “Não se justifica, pois, como pretendem alguns autores, que o julgador, depois de arbitrar de arbitrar o montante suficiente para compensar o dano moral sofrido pela vítima (e que, indireta e automaticamente, atuará como fator de desestímulo ao ofensor), adicione-lhe um plus a título de pena civil, inspirando-se nas punitive domages do direito norte-americano.
Compartilhar