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UNIVESIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 
RAFAELA VALESCA PEREIRA CORTEZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DANO MORAL E RELAÇÕES DE CONSUMO: UM ESTUDO ACERCA 
DAS AÇÕES PROPOSTAS NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA ZONA 
SUL DE NATAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal-RN 
2009 
 
RAFAELA VALESCA PEREIRA CORTEZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DANO MORAL E RELAÇÕES DE CONSUMO: UM ESTUDO ACERCA 
DAS AÇÕES PROPOSTAS NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA ZONA 
SUL DE NATAL 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como 
requisito parcial para a obtensão do 
grau de Bacharel em Direito da 
Universidade do Estado do Rio 
Grande do Norte, sob a orientação da 
Prof. Esp. Déborah Leite da Silva. 
 
 
 
 
 
 
 
Natal-RN 
2009 
RAFAELA VALESCA PEREIRA CORTEZ 
 
 
 
DANO MORAL DECORRENTE DAS RELAÇÕES DE CONSUMO: UM 
ESTUDO ACERCA DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS PROPOSTAS NO 
JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA ZONA SUL DE NATAL/RN 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
 
_______________________________________ 
PROF. ESP. DÉBORAH LEITE DA SILVA 
UNIVESIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 
 
 
 
_______________________________________ 
PROF. ESP. FLAVIANNE FAGUNDES DA COSTA PONTES 
UNIVESIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 
 
 
 
_______________________________________ 
PROF. ESP. PATRÍCIA MOREIRA DE MENEZES 
UNIVESIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 
 
 
 
DATA DA APROVAÇÃO: ____/____/____ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, por todo carinho e atenção 
de uma vida; 
 
À minha orientadora, por acreditar na 
realização deste trabalho. 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço a Deus pelo milagre da vida, pelas bênçãos diárias, por ter me dado 
força, tranqüilidade e persistência necessárias para chegar ao fim dessa caminhada. 
Aos meus amados pais, Eder Batista Cortez e Sileide Maria Pereira, que 
abdicaram dos seus sonhos para que o meu se tornasse realidade, sempre 
acreditando nos meus objetivos, investindo nas minhas pretensões e confiando nos 
resultados. Por todo amor e carinho, minha gratidão. 
A todos os familiares e amigos que estiveram presentes nas fases mais 
importantes da minha vida, participando da minha formação, pelas palavras de apoio 
e incentivo nos momentos mais difíceis, por entenderem a razão das minhas 
ausências. 
Agradeço, igualmente, às amizades construídas durante os cinco anos de 
curso, em particular ao meu grupo de trabalho (Carlos Henrique, Eloísa, Luiz e 
Maria), que estiveram ao meu lado compartilhando as angústias e felicidades de 
cada dia, alunos, funcionários do Campus e da Prática Jurídica que formam a 
acolhedora família UERN. 
Um especial agradecimento à Maria Antônia e Maria do Carmo, com quem 
compartilhei não apenas minha jornada acadêmica, mas meu crescimento pessoal, 
pela amizade incondicional, pelo carinho e atenção dedicados. 
 Agradeço ainda aos professores de ontem e de hoje, pelos conhecimentos 
prestados, atenção e paciência dispensada à formação de futuros profissionais do 
Direito. 
Finalmente, agradeço à Professora Déborah Leite da Silva, que acolheu o 
meu tema e me conduziu ao rumo do conhecimento, sempre dedicada, paciente e 
prestativa, amiga por meio das cobranças e, acima de tudo, pelo profissionalismo 
que demonstrou durante toda a orientação, afim de que este trabalho tivesse a 
melhor conclusão. 
A todos meu eterno reconhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No reino dos fins tudo tem ou um preço ou 
uma dignidade. Quando uma coisa tem 
um preço, pode-se pôr em vez dela 
qualquer coisa equivalente; mas quando 
uma coisa está acima de qualquer preço, 
e portanto não permite equivalente, então 
ela tem dignidade. 
 
Immanuel Kant 
 
RESUMO 
 
 
O presente estudo acadêmico é uma reflexão acerca da acentuada elevação do 
número de ações de danos morais decorrentes de relações de consumo observadas 
no ordenamento jurídico brasileiro nas duas últimas décadas e as conseqüências 
oriundas de tal fenômeno. Para a fundamentação teórica, foi utilizada a pesquisa 
bibliográfica, a análise documental dos julgados mais recentes sobre a temática 
abordada. Ademais, com o intuito de propiciar um embasamento prático à pesquisa 
foi desenvolvida uma pesquisa de campo, mediante aplicação de questionário 
avaliativo de dados dos processos do Juizado Especial Cível da Zona Sul de 
Natal/RN. Assim, o desenvolvimento do trabalho se dá mediante a análise dos 
fatores que originam a responsabilidade civil, bem como avalia a conformidade da 
demanda com o direito material juridicamente resguardado e com os requisitos 
mínimos processuais exigidos. Outrossim, partiu-se da premissa de que a 
apreciação dos elementos caracterizadores do dano moral é indissociável da 
problemática da fixação do quantum indenizatório, de forma que, ante a inexistência 
de um tabelamento positivado para a solução dessas lides, aplica-se o princípio da 
inafastabilidade e do livre arbítrio do juiz, inobstante se constate que critérios e 
parâmetros reafirmados pela doutrina e jurisprudência vêm sendo utilizados na 
diminuição das discrepâncias em decisões sobre matérias análogas. A investigação 
de campo confirmou a elevação do número de ações indenizatórias relativas a 
relações de consumo; constatou que a faculdade de assistência técnica quando as 
ações não ultrapassem 20 (vinte) salários mínimos está sendo amplamente utilizada 
e que, nesses casos, não houve qualquer prejuízo para a parte em estar 
desacompanhada de causídico; aferiu que significativa parcela das demandas 
propostas são solucionadas por meio de acordos, e que expressiva quantidade de 
ações apreciadas pelo magistrado foi declarada extinta sem resolução de mérito ou 
teve o seu pedido julgado improcedente; por fim, verificou-se que o juiz fundamenta 
a fixação das indenizações com base nos critérios ou parâmetros apresentados pela 
melhor doutrina, não existindo um prévio tabelamento das decisões. 
 
Palavras-chave: dano moral, indenização, relação de consumo. 
RÉSUMÉ 
 
 
Cette étude académicien est une réflexion concernant l'accentuée hausse du nombre 
d'actions de dommages moraux liés à des relations de consommation observées 
dans l'ordre juridique brésilien dans les deux dernières décennies et les 
conséquences originaires de tel phénomène. Pour le fondement théorique, est 
utilisée la recherche bibliographique, l'analyse documentaire des décisions le plus 
récent sur l'thématique abordée. De plus, a été développé une recherche de champ, 
avec application de questionnaire des procédures à le Juizado Especial Cível da 
Zona Sul de Natal/RN. Ainsi, le développement du travail analyse des facteurs qui 
donnent lieu à la responsabilité civile, ainsi qu'évalue la conformité de l'exigence 
avec le droit matériel et avec les conditions minimales processives exigées. De plus, 
il s'est parti de la prémisse delaquelle l'appréciation des éléments des dommages 
moraux est indissociable de la problématique de la fixation de la quantum 
indemnisable, de la forme que, avant l'inexistence d'une fixation des prix pour la 
solution de celui-là tu traites, s'applique le fondement du non éloigné et de il ait 
exempté de la volonté du juge, malgré constater que des critères et paramètres 
réaffirmés par la doctrine et jurisprudence viennent en étant utilisés dans la 
diminution des divergences dans des décisions sur des matières analogues. La 
recherche de champ a confirmé la hausse du nombre d'actionsindemnisable 
relatives à des relations de consommation ; il a constaté que la faculté d'assistance 
technique quand les actions ne dépassent pas 20 (vingt) salaires minimes est 
suffisantement utilisée et que, dans ces cas, n'a pas y eu tout préjudice pour la partie 
à être abandonné d'avocat ; il a examiné que significative parcelle des propositions 
sont résolues au moyen d'accords, et qu'expressive quantité d'actions appréciées 
par le magistrat a été déclarée éteinte sans résolution de mérite ou a eu sa demande 
jugée mal fondée ; finalement, il s'est vérifié que le juge se base la fixation des 
indemnisations sur base des critères ou les paramètres présentés par la meilleure 
doctrine, en n'existant pas n'existant pas une préalable fixation des prix des 
décisions. 
 
Mots clés: dommages moraux, indemnisation, relation de consommation. 
 
LISTAS 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
GRÁFICO 01: Linha evolutiva................................................................................ 61 
GRÁFICO 02: Assistência advocatícia - causas inferiores a vinte salários 
mínimos ................................................................................................................. 
 
65 
GRÁFICO 03: Desfecho processual com assistência advocatícia ........................ 66 
GRÁFICO 04: Desfecho processual sem assistência advocatícia ........................ 66 
GRÁFICO 05: Extinções sem resolução de mérito ............................................... 68 
GRÁFICO 06: Ações apreciadas em seu mérito pelo magstrado – do dano 
moral ..................................................................................................................... 
 
69 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
TABELA 01 ............................................................................................................ 63 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 INTRODUÇÃO................................................................................................. 11 
1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................... 14 
1.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ....................................................................... 14 
1.2 BREVE ESCORÇO HISTÓRICO.................................................................. 15 
1.3 CONCEITO.................................................................................................... 20 
1.4 ELEMENTOS ................................................................................................ 22 
1.4.1 Da Conduta do Agente............................................................................... 22 
1.4.2 Do Dano...................................................................................................... 23 
1.4.3 Nexo Causal............................................................................................... 24 
 
2 DO DANO MORAL........................................................................................... 26 
2.1 CONCEITO.................................................................................................... 26 
2.2 ELEMENTOS CARACTERIZADORES......................................................... 30 
2.3 DA FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO.......................................... 32 
 
3. DA REPARABILIDADE DO DANO MORAL ORIUNDO DAS RELAÇÃO 
DE CONSUMO ................................................................................................... 
 
38 
3.1. RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO ........................................................ 38 
3.1.1 Consumidor ............................................................................................... 40 
3.1.1.1 Consumidor por equiparação ................................................................. 42 
3.1.3 Fornecedor ................................................................................................ 43 
3.1.4 Produto ...................................................................................................... 44 
3.1.5 Serviço ....................................................................................................... 44 
3.2 DA RESPONSABILIDADE NO CÓDIGO DE DEFESA DO 
CONSUMIDOR.................................................................................................... 
 
45 
3.2.1 Do Dano Moral no Código de Defesa do Consumidor .............................. 48 
3.3 A PROPOSITURA DE AÇÕES INDENIZATÓRIAS DE DANOS MORAIS 
ORIUNDOS DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ................................................. 
 
49 
3.3.1 Considerações Introdutórias ...................................................................... 49 
3.3.2 Utilização do Procedimento Sumaríssimo ................................................. 51 
3.3.3 A Indústria do Dano Moral ......................................................................... 55 
4 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS POR MEIO DA REALIZAÇÃO DAS 
PESQUISAS DE CAMPO................................................................................... 
 
60 
4.1 DADOS COLETADOS PELO SISTEMA DE AUTOMAÇÃO DO 
JUDICIÁRIO ....................................................................................................... 
 
61 
4.2. DADOS COLETADOS PELO PROCESSO JUDICIAL DIGITAL ................. 62 
4.2.1. Da assistência advocatícia e desfechos processuais ............................... 64 
4.2.1. Da fixação do quantum indenizatório........................................................ 70 
 
 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 72 
 REFERÊNCIAS................................................................................................ 76 
 ANEXOS........................................................................................................... 81 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 Este trabalho de conclusão de curso apresenta como foco de pesquisa a 
elevação no número de ações de danos morais decorrentes das relações de 
consumo, tema de relevante valor social e vastamente discutido entre pesquisadores 
e profissionais do Direito. 
É comumente atribuída à criação do Código de Defesa do Consumidor, 
instituído pela Lei n° 8.078/90, somada à facilitação do acesso à Justiça após a 
regulamentação dos Juizados Especiais Cíveis através da Lei n° 9.099/95, o 
crescimento no número de ações indenizatórias por danos morais. 
 A Constituição Federal, em seu art. 5°, XXXII, estabeleceu que o Estado 
promoverá a defesa do consumidor, na forma da lei, e o art. 170, V, apontou a 
defesa do consumidor como um dos princípios norteadores da ordem econômica. 
Nesse contexto, foi promulgado o Código de Defesa do Consumidor, a fim de se 
resguardar os direitos da parte reconhecidamente mais vulnerável nas relações de 
consumo: o consumidor. 
 A proteção ao hipossuficiente ante aos detentores do poder econômico se faz 
várias vezes presente no Código de Defesa do Consumidor, a exemplo da instituição 
dos direitos básicos do consumidor (art. 6º, VII), a possibilidade de inversão do ônus 
da prova (art. 6º, VIII), a desconsideração da personalidade jurídica (art. 28) e da 
regra de interpretação dos contratos (Art. 47), todos institutos facilitadores do acesso 
à prestação jurisdicional. 
 A criação dos Juizados Especiais Cíveis através da Lei n° 9.099/95 contribuiu 
igualmente para essa realidade, ao objetivar a revitalização do Judiciário, 
estabelecendo que esses teriam como critérios orientadores a oralidade, 
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade. Destinados às 
causas de menor complexidade, uma das suas principais inovações foi trazer em 
seu art. 9° a faculdade da assistência de advogado nas causas propostas nos 
Juizados Especiais que não ultrapassem 20 (vinte) salários mínimos. 
 Não obstante os avanços observados, o acentuado aumentono número de 
ações de danos morais resultantes de relações de consumo propostas nos Juizados 
Especiais Cíveis nas duas últimas décadas tem sido objeto de longas discussões no 
meio científico e acadêmico, acarretando diversas publicações sobre a temática a 
partir de diferentes pontos de vista, dentre eles, o avanço do Judiciário por fazer 
valer os direitos do consumidor, a banalização da via judicial e abarrotamento da 
justiça e a possibilidade de enriquecimento ilícito ante o não “tabelamento” dos 
danos morais. 
 Neste ínterim, questiona-se o devido preenchimento das condições da ação, 
pressupostos processuais e requisitos específicos, uma vez que ao se analisar tais 
aspectos no contexto das ações indenizatórias por danos morais provenientes das 
relações consumeristas, percebe-se que as mesmas têm sido movidas em larga 
escala, mas nem sempre desembocam em uma sentença de mérito. O alto índice de 
extinção do processo sem resolução do mérito pode refletir uma utilização 
indiscriminada da via judicial, o que afastaria sua finalidade precípua de resolução 
da lide, dissolução do conflito de interesses observado quando uma parte demonstra 
resistência em relação à pretensão de outra. 
 Com o intuito de solucionar os questionamentos acima suscitados, a presente 
pesquisa se desenvolverá. Para tanto, serão utilizados conceitos doutrinários, 
posicionamentos jurisprudenciais dos Tribunais e, a nível de pesquisa prática 
amostral, dados coletados no Juizado Especial Cível da Zona Sul, referentes à 
citada via processual no período de 01/07/2005 a 31/12/2008, os quais 
demonstrarão em esfera local uma realidade observada nacionalmente. 
 A abordagem será iniciada sob a perspectiva geral da responsabilidade civil, 
fazendo-se um breve escorço histórico e demonstrando-se seus pressupostos: 
conduta do agente, dano e nexo causal. 
 Seguir-se-á, então, com o aprofundamento na caracterização do dano moral, 
evidenciando-se, por conseguinte, um aspecto de extrema relevância: a fixação do 
quantum indenizatório. Em face disso, serão apontados os caminhos a serem 
utilizados pelo magistrado para que possa estimar a dimensão do dano moral 
sofrido, do constrangimento experimentado pela vítima, não deixando de aferir a 
possibilidade econômica da parte ré em prestar a indenização. 
 Através das informações obtidas na investigação prática, se buscará 
demonstrar o aumento das ações indenizatórias por danos morais decorrentes das 
relações de consumo e a porcentagem que essas ações representam na totalidade 
de ações ingressadas no Juizado Especial Cível da Zona Sul, analisar o teor das 
sentenças proferidas, no objetivo de verificar se de fato há uma utilização 
indiscriminada de tal via processual, bem como examinar os critérios aplicados para 
a fixação do “quantum” indenizatório, tendo em vista que o magistrado o arbitra de 
acordo com o seu livre convencimento e experiência, o que pode ocasionar a 
oscilação de valores ante a inexistência de uma padronização. 
 A presente pesquisa se propõe, portanto, a abordar a discussão teórica do 
assunto, ao mesmo tempo em que, por meio da coleta de dados oriundos da 
atividade do Judiciário, retratar a realidade vivenciada, os fatores que contribuem 
para o aumento dessas ações, bem como a aplicação dos mecanismos que 
garantam a segurança jurídica na aferição desse dano. 
 Reunidos os aspectos teóricos e práticos, esse estudo justifica-se enfim, na 
contribuição para a formação do saber acadêmico, trazendo à baila um tema de 
relevante valor social, vez que contribuirá para aferição, em última análise, da efetiva 
realização do direito do consumidor natalense quando provoca o Juizado Especial 
Cível da Zona Sul. 
 
1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
1.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
 
 A vida em sociedade é essencialmente dinâmica e exige, para a sua 
harmônica existência, a adoção de regras morais e jurídicas que limitem as vontades 
individuais, na busca do bem coletivo maior, assegurando, assim, o equilíbrio de 
interesses nas inúmeras relações observadas na complexidade da vida 
contemporânea. 
 
Aqueles que vivem em sociedade e aceitaram as regras sociais, as 
obrigações anímicas impostas pela moral e pela ética, enquanto 
compromissos supralegais, e pelo regramento institucional imposto pelo 
tegumento social, expresso no Direito Positivo, assumem o dever de não 
ofender, nem de lesar, causar dano ou prejuízo sem que tenham justificativa 
ou eximente, expressamente prevista na legislação de regência.1 
 
 Nesse ínterim, vislumbra-se a responsabilidade enquanto dever geral de não 
prejudicar o próximo: honestae vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere2. 
Ou seja, a conduta humana deve estar eticamente pautada na não ofensa ao bem 
jurídico alheio, sendo-lhe atribuída a resposta pelas conseqüências oriundas das 
ações e omissões danosas. 
 
O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma 
pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as conseqüências de um ato, 
fato ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, 
pode acarretar o dever de indenizar. Desse modo, o estudo da 
responsabilidade civil abrange todo o conjunto de princípios e normas que 
regem a obrigação de indenizar.3 
 
 No ordenamento jurídico brasileiro, a responsabilidade pode ser observada 
em sede de direito privado civil ou de direito público penal. Sob a ótica das relações 
privadas, a responsabilidade é fundamentalmente patrimonial e objetiva a restituição 
do equilíbrio entre as partes envolvidas. Sob o ponto de vista do direito penal, o ato 
danoso não atinge apenas a pessoa em sua individualidade, mas toda a harmonia e 
paz social. Como bem ensina Stoco, 
 
1
 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7. ed. rev., atual. e 
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. P. 117. 
2
 Viver honestamente, não lesar a outrem e dar a cada um o que é seu. 
3
 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. P. 1. 
 
No âmbito penal a sanção atende a um anseio da sociedade e busca 
resguardá-la. No âmbito civil o dever de reparar assegura que o lesado 
tenha seu patrimônio - material ou moral – reconstituído ao statu quo ante 
mediante a restitutiu in integrum.4 
 
 Atendendo aos princípios basilares, a responsabilidade penal será sempre 
direta, ou seja, daquele que deu causa à ofensa ou ao prejuízo, mediante culpa ou 
dolo, bem como atenderá ao principio da nulla poena sine lege, uma vez que 
apresenta conseqüências mais gravosas e medidas repressoras severas. Na 
responsabilidade civil, porém, o dever de indenizar pode ocorrer na pessoa do 
ofensor ou de maneira indireta, quando juridicamente os atos de terceiro estão sob 
sua responsabilidade. Para o presente estudo, cumpre análise mais aprofundada 
desta última. 
 
 
1.2 BREVE ESCORÇO HISTÓRICO 
 
 A responsabilidade civil surge já nos primeiros agrupamentos humanos como 
uma natural necessidade de ter assegurado aquilo que se considera importante. 
Assim, ela acompanha os processos de evolução histórica, assumindo novas 
nuances, à medida que as coletividades se transformam, a fim de garantir a 
preservação e defesa dos bens ou dos entes queridos. 
 No decorrer do tempo, diferentes formas de reparação de danos foram 
adotadas em conformidade com o pensamento da época, o qual esteve sempre em 
constante mutação para acompanhar o dinamismo social e saciar sua ânsia de 
justiça. Conhecer essa evolução ajuda a compreender a contemporânea 
conceituação de responsabilidade civil no ordenamento jurídico pátrio. 
 Nas sociedades primitivas, imperava a vingança coletiva. Essa era 
caracterizada pela reação conjunta do grupo contra o agressor, aplicando-lhe a 
severa punição de exclusãodo grupo ou mesmo a morte daquele que causasse 
dano à coletividade da qual fazia parte. Eram ainda pequenos agrupamentos onde 
regras e limites não eram conhecidos e se faziam secundários diante da 
necessidade de sobrevivência em condições muitas vezes desumanas. 
 
4
 STOCO, op. cit., p. 114. 
 Em seguida, observou-se o instituto da vingança privada. Ainda imediatista e 
brutal como a forma anterior, aqui a agressão era retribuída com igual agressão, ou 
seja, combatia-se o mal com o mal. Era uma forma instintiva de reparação que pode 
ser classificada como objetiva, uma vez que não era necessária a comprovação da 
culpa, mas tão somente o nexo de causalidade entre a ação e o dano 
experimentado. 
 
Nos primórdios da humanidade, entretanto, não se cogitava do fator culpa. 
O dano provocava a reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Não 
havia regras nem limitações. Não imperava ainda o direito. Dominava então 
a vingança privada, “forma primitiva, selvagem talvez, mas humana, da 
reação espontânea e natural do mal sofrido; solução comum a todos os 
povos na sua origem, para a reparação do mal pelo mal”5. 6 
 
 Historicamente conhecida, a Lei de Talião estabeleceu o “olho por olho, dente 
por dente”7. Neste caso, o poder público intervinha apenas para estabelecer como e 
quando a vítima poderia ter o direito de retaliação, ensejando ao ofensor dano 
idêntico ao que foi produzido. Seguindo essa regra, cada um poderia fazer justiça 
com as próprias mãos, o que, ao invés de ressarcir um eventual dano, acabava por 
provocar mais um prejuízo à sociedade. 
 Nesse contexto, surge a composição voluntária como uma alternativa à 
retaliação. O instinto de vingança, do castigo físico é substituído pela compensação 
econômica do ofendido, prevalecendo o entendimento de que seria mais racional a 
reparação do dano por meio da prestação da poena e outros bens. Nessa fase ainda 
não há a necessária aferição da culpa, sendo, portanto, a responsabilidade objetiva. 
 A constante utilização da composição e a evolução nas estruturas políticas 
fizeram com que se alcançasse um novo estágio: a composição obrigatória. Agora, o 
Estado é responsável pela reparação dos danos, não sendo mais permitido ao 
particular fazer sua própria justiça. Os danos são tarifados, e para cada tipo de lesão 
é estabelecido um valor a ser pago. Trata-se de uma tentativa de uniformização dos 
delitos e suas respectivas reparações. Nessa época foi observada a passagem da 
norma consuetudinária para a lei escrita com a elaboração dos Códigos de 
Hamurabi, Ur Manu, e a Lei das XII Tábuas. 
 
5
 LIMA, apud GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 4. ed. rev. 
São Paulo: Saraiva, 2009. V. 4. P. 4. 
6
 GONÇALVES, op. cit., p. 4. 
7
 THEODORO JÚNIOR. Dano moral. 5. ed. atual. e ampl. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2007b. P. 3. 
 
 Em Roma, com a Lei das XII Tábuas observou-se que muitas vezes a ordem 
pública também era perturbada. Passou-se então a distinguir os delitos públicos dos 
delitos privados. Como bem ensina Frederico de Ávila Miguel, 
 
Com os romanos começou a ser delineado um esboço de diferenciação 
entre pena e reparação, através da distinção entre delitos públicos e delitos 
privados. Enquanto nestes a autoridade intervinha apenas para fixar a 
composição, naqueles, por serem as ofensas consideradas mais graves e 
perturbadoras da ordem, o réu deveria recolher a pena a favor dos cofres 
públicos. Ainda aqui a reparação era objetiva, isto é, independente da 
análise da culpa.8 
 
 Seguindo a evolução histórica, tem-se a Lex Aquilia de Damno ou Lei Aquilia, 
que trouxe a primeira idéia de culpa para a responsabilidade civil. Nessa fase, 
portanto, começa-se a considerar o subjetivismo na hora de estabelecer a 
reparação. 
 
A Lex Aquilia é o divisor de águas da responsabilidade civil. Esse diploma, 
de uso restrito a princípio, atinge dimensão ampla na época de Justiniano, 
como remédio jurídico de caráter geral; como considera o ato ilícito uma 
figura autônoma, surge, desse modo, a moderna concepção da 
responsabilidade extracontratual. O sistema romano de responsabilidade 
extrai da interpretação da Lex Aquilia o princípio pelo qual se pune a culpa 
por danos injustamente provocados, independentemente de relação 
contratual existente. Funda-se aí a origem da responsabilidade 
extracontratual fundada na culpa. Por essa razão, denomina-se também 
responsabilidade aquiliana essa modalidade, embora exista hoje um abismo 
considerável entre a compreensão dessa lei e a responsabilidade civil 
atual.9 
 
 O direito francês aperfeiçoou os conceitos romanos até chegar a um princípio 
geral em que a culpa, ainda que levíssima, acarreta o dever da reparação. Os 
juristas franceses Domat e Pothier foram os principais teóricos do Princípio da 
Responsabilidade Civil fundamentado na culpa10. 
 Nesse período são reafirmadas as diferenças entre a responsabilidade civil, 
caracterizada pelas ofensas mais leves, e a responsabilidade penal, que consistia 
nas ofensas mais graves, de caráter perturbador da ordem, cuja reparação se dava 
 
8
 MIGUEL, Frederico de Ávila. Responsabilidade civil: evolução e apanhado histórico: a problemática 
da efetiva reparação do dano suportado pela vítima em razão da culpa como pressuposto. Vlex 
Internacional, [S.l.], n. 3, jan. 2008. Disponível em: <http://vlex.com/vid/responsabilidade-apanhado-
efetiva-dano-456105>. Acesso em: 10 maio 2009. p. 5. 
9
 VENOSA, op. cit., p. 17. 
10
 GANDINI, João Agnaldo Donizeti; SALOMÃO, Diana Paola da Silva. A responsabilidade civil do 
Estado por conduta omissiva. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 106, 17 out. 2003. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4365>. Acesso em: 12 maio 2009. p. 1. 
perante o Estado. Também é consolidada a diferenciação entre a culpa contratual, 
originada das pessoas que descumprem as obrigações, e a culpa extracontratual, 
proveniente da negligência, imprudência ou imperícia fora das relações 
obrigacionais. Surge, então, após a Revolução Francesa, o Código de Napoleão, 
que influenciou vários povos e, conseqüentemente, a legislação de vários países, 
dentre eles o Brasil11. Esse Código trazia em seu art. 1.382 o elemento subjetivo da 
culpa ao estabelecer que “[…] qualquer fato oriundo daquele que provoca um dano a 
outrem obriga aquele que foi a causa do que ocorreu para reparar este dano”12. 
 Modernamente, seguindo os pensamentos franceses, o Código Civil brasileiro 
de 191613 estabeleceu em seu art. 159: “Aquele que, por ação ou omissão 
voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, 
fica obrigado a reparar o dano”. Destaca-se, portanto, que já era indiferente ser a 
conduta dolosa ou culposa — imprudente, negligente ou imperita —, sendo qualquer 
dessas espécies de culpa suficiente para caracterizar a responsabilidade civil 
independentemente da gravidade do dano experimentado pela vítima. 
 A mesma idéia continuou presente no atual Código Civil de 200214, o que 
pode ser evidenciado na interpretação conjugada dos arts. 927, caput e 186, do 
citado diploma legal: 
 
Art. 186: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
Art. 927: Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a 
repará-lo. 
 
 
 Inovou, entretanto, ao trazer nesse dispositivo a possibilidade de 
responsabilização por dano ainda que exclusivamente moral. Objeto de longos 
 
11
 STOCO, Rui. Responsabilidade civil no Código Civil francês eno Código Civil brasileiro. In: 
SEMINÁRIO EM COMEMORAÇÃO AO BICENTENÁRIO DO CÓDIGO CIVIL FRANCÊS, 2004, 
Brasília, DF. Estudos em homenagem ao bicentenário do Código Civil francês. Disponível em: 
<http://aplicaext.cjf.jus.br/phpdoc/pages/sen/portaldaeducacao/textos_fotos/bicentenario/textos/rui_sto
co.doc>. Acesso em: 10 maio 2009. p. 7. 
12
 Idem, p. 10. 
13
 BRASIL, Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da] 
República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 1 jan. 1916. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3071.htm>. Acesso em: 7 maio 2009. 
14
 BRASIL, Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da] 
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 jan. 2002. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art2045>. Acesso em: 6 maio 2009. 
debates doutrinários, a matéria já tinha sido constitucionalmente resguardada, 
admitindo-se hoje, inclusive, sua cumulação com o dano material, conforme 
entendimento pacificado na Súmula nº 37 do Superior Tribunal de Justiça, verbis: 
“São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundo do mesmo 
fato”15. 
 O direito pátrio assume, pois, como regra, a responsabilidade subjetiva, 
impondo à vítima o ônus da prova da culpa do agente. Entretanto, adaptado às 
necessidades da sociedade contemporânea, seu desenvolvimento industrial e 
tecnológico, fez-se necessária a adoção de novas teorias, a fim de se resguardar 
amplamente os direitos do ofendido e amenizar a injustiça imposta pelo sistema 
econômico. Genericamente, a responsabilidade objetiva, ou seja, aquela que não 
necessita do elemento culpa para sua aferição, invertendo-se o ônus da prova para 
o agente do dano, está vislumbrada no parágrafo único do art. 927 do Código Civil16: 
 
Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos 
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem. 
 
É a denominada teoria do risco, na qual se avalia a possibilidade de causar 
dano baseado exclusivamente na natureza da atividade ou dos meios utilizados na 
conduta, as quais resultam por si só na exposição a perigo. De acordo com essa 
teoria, aquele que tira os proveitos da atividade deve arcar com os eventuais danos 
advindos do exercício desta, independentemente da verificação da culpa. Se o 
agente sabia previamente dos riscos e optou por praticá-la, visando colher os frutos 
positivos, terá de arcar com as conseqüências da atividade. 
 A esse respeito, são esclarecedoras as palavras do doutrinador Carlos 
Roberto Gonçalves: 
 
Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na idéia da 
culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do 
 
15
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n.º 37. Disponível em: 
<http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=37&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=1>. Acesso 
em: 6 maio 2009a. 
16
 BRASIL, 2002. 
dano indenizável. Dentro desta concepção, a responsabilidade do causador 
do dano somente se configura se agiu com dolo ou cualpa.17 
 
 Continuando seu raciocínio, relembra os ensinamentos de Agostinho Alvim: 
 
A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, em determinadas situações, a 
reparação de um dano cometido sem culpa. Quando isso acontece, diz-se 
que a responsabilidade é legal ou “objetiva”, porque prescinde de culpa e se 
satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade. Esta teoria, dita 
objetiva, ou do risco, tem como postulado que todo dano é indenizável, e 
deve ser reparado por quem a lei se liga por um nexo de causalidade, 
independentemente de culpa.18 
 
 Em breve síntese do histórico evolutivo da responsabilidade civil aqui exposto, 
tem-se que, inicialmente, reparava-se apenas o dano material, usando-se a 
responsabilidade objetiva, na qual se fazia prescindível a verificação da culpa, 
bastando apenas a aparência do nexo de causalidade entre a ação e o dano. 
Depois, a partir da Lei Aquilia, buscou-se a reparação baseada na culpa do agente; 
nos tempos atuais, procura-se conciliar a responsabilidade subjetiva com a 
responsabilidade objetiva, bem como com a teoria do risco, no intuito de garantir a 
mais ampla e completa reparação, seja esse dano material ou moral. 
 
1.3 CONCEITO 
 
Princípio geral de direito, informador de toda teoria da responsabilidade, 
encontradiço no ordenamento jurídico de todos os povos civilizados e sem o 
qual a vida social é quase inconcebível, é aquele que impõe a quem causa 
dano a outrem o dever de reparar.19 
 
 A palavra responsabilidade origina-se do latim respondere, que encerra a 
idéia de segurança ou garantia da restituição ou compensação do bem sacrificado. 
Teria assim o significado de recomposição, de obrigação de restituir ou ressarcir20. 
Tal termo contém, portanto, a raiz latina spondeo, fórmula pela qual se vinculava, no 
direito romano, o devedor nos contratos verbais21. 
 
17
 GONÇALVES, op. cit., p. 4. 
18
 ALVIM apud GONÇALVES, op. cit., p. 15. 
19
 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 
2007. V. 4. P. 13. 
20
 GONÇALVES, op. cit., p. 15. 
21
 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2004. V. 7. P. 39. 
 A responsabilidade civil, conforme anteriormente apontado, é um instituto 
jurídico que tem por finalidade assegurar direitos, restaurar o equilíbrio patrimonial 
ou moral ofendido. Não se trata, portanto, de uma obrigação originária, mas de uma 
conseqüência de uma ação ou omissão contrária à lei, capaz de solucionar conflitos 
e evitar a inquietação social. Nesse sentido, 
 
[…] o traço mais característico da responsabilidade civil talvez seja o fato de 
se construir especialmente em um instrumento de compensação […] seus 
objetivos são os de compensar as perdas sofridas pela vítima e desestimular 
a repetição de condutas semelhantes em um momento posterior.22 
 
 Grandes são as dificuldades que a doutrina tem enfrentado para conceituar a 
responsabilidade civil23. Nos dias atuais, a fim de estender a garantia de efetividade 
do direito de reparação civil às mais diversas situações da vida contemporânea, ou 
simplesmente facilitar seu entendimento, são adotadas diferentes classificações 
para a responsabilidade, conforme a perspectiva analisada. 
Assim, quanto à sua natureza, a responsabilidade poderá ser civil, penal ou 
administrativa; quanto ao seu fundamento, observa-se a já referida diferenciação 
entre responsabilidade objetiva e a responsabilidade subjetiva; quanto ao seu fato 
gerador, responsabilidade civil contratual ou negocial (decorrente de obrigação 
preexistente, contratos e atos unilaterais de vontade), em contraposição à 
responsabilidade civil extracontratual (também tradicionalmente denominada 
aquiliana, que abrange todo o sistema normativo); por último, quanto ao seu agente, 
poderá ser direta (proveniente de ato do próprio responsável) ou indireta 
(proveniente de ato de terceiro, vinculado ao agente ou de fato de animal ou coisa 
inanimada sob sua guarda. 
 Feitas essas considerações, responsabilidade pode então ser definida como a 
aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou 
patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por 
pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou ainda pela 
simples imposição legal24. No mesmo sentido, esse instituto é conceituado por René 
Savatier como “[…] a obrigação que pode incubir uma pessoa a reparar o prejuízo22
 NORIS, apud STOCO, 2007, p.112 
23
 HENRI; LEON, MAZEAUD; TUNC, apud DINIZ, op. cit., p. 39. 
24
 DINIZ, op. cit., p. 40. 
causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela 
dependam”25. 
 
1.4 ELEMENTOS 
 
 Doutrinariamente, vislumbra-se certa divergência entre os elementos ou 
pressupostos caracterizadores da responsabilidade civil. Aqui, optou-se pela 
tradicional e didática disposição em: conduta do agente (ação ou omissão), dano e 
nexo causal. 
 Segue a análise de cada um. 
 
1.4.1 Da conduta do agente 
 
 Os fatos humanos, também conhecidos como atos jurídicos, são definidos 
como sendo todo comportamento apto a gerar efeitos jurídicos, possibilitando a 
conservação, modificação ou extinção de direitos. Dessa maneira, para visualizar a 
produção do ato jurídico, o agente deve assumir a atitude de desenvolver 
determinada conduta ou, de forma oposta, abster-se de praticá-la. Haverá, portanto, 
o ato jurídico decorrente de uma obrigação originalmente lícita, a exemplo das 
relações contratuais, bem como aqueles originados de atos ilícitos. 
 
A indenização pode derivar de uma ação ou omissão individual do agente, 
sempre que, agindo ou se omitindo, infringe um dever contratual, legal ou 
social. A responsbilidade resulta de fato próprio, comissivo, ou de uma 
abstensão do agente, que deixa de tomar uma atitude que devia tomar.26 
 
A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, 
comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, 
do próprio agente ou de terceiro, que cause dano a outrem, gerando o dever 
de satisfazer os direitos do lesado.27 
 
 Desse modo, a aferição da responsabilidade civil está condicionada à 
existência de um dano originado de uma conduta humana voluntária e contrária à 
ordem jurídica. Esse resultado danoso pode então surgir de uma ação (facere) ou de 
uma omissão (non facere), conforme preceitua o art. 186 do Código Civil. 
 
25
 SAVATIER, apud RODRIGUES, op. cit., p. 6. 
26
 RODRIGUES, op. cit., p. 19. 
27
 DINIZ, op. cit., p. 43-44. 
 A voluntariedade não reside na intenção direta de causar um resultado lesivo, 
mas tão somente na conduta livre e discernida, a qual caminha paralelamente com o 
conceito de imputabilidade, visto que são consideradas as condições pessoais de 
maturidade e sanidade do agente28. 
 Escolhida pelo ordenamento jurídico como regra geral, a responsabilidade 
subjetiva tem como ponto central de exame o ato ilícito, ou seja, naquele ato 
praticado culposamente, em confronto com a ordem jurídica e capaz de violar direito 
subjetivo individual, originando o dever de reparar tal lesão29. Cumpre ressaltar que, 
nesse caso, trata-se de um juízo de reprovação fundado na culpa lato sensu, 
englobando o dolo enquanto vontade direcionada a um resultado, e as variedades 
da culpa em sentido estrito, imprudência, negligência ou imperícia. 
 Não se pode esquecer também a responsabilidade fundada no risco. Nessa 
hipótese, não se verifica a ocorrência de culpa por alguém, mas exclusivamente se 
constata quem causou o dano e o nexo de causalidade entre o dano e o autor. A 
atividade é lícita, apenas pagando o autor pelo dano causado por sua atividade 
naturalmente perigosa. 
 Por outro lado, se a ação ou omissão que enseje o evento danoso não for 
voluntária, ou ainda, se ele decorre de caso fortuito, força maior ou de outra causa 
de exclusão de responsabilidade previstas no ordenamento jurídico, afastada estará 
sua responsabilidade. 
 
1.4.2 Do dano 
 
 Não há responsabilidade sem um resultado danoso, sem um prejuízo a ser 
reparado. Sem a ocorrência de um dano, é inadmissível qualquer cogitação de 
responsabilidade, seja ela subjetiva ou objetiva. O dano é pressuposto da obrigação 
de indenizar e é pela sua extensão que se avalia a indenização cabível. Ele pode ser 
de ordem material ou de ordem moral, sendo pacificada a sua cumulação. 
 No primeiro caso, como a própria nomenclatura demonstra, trata-se de 
prejuízos de natureza econômica, o patrimônio da vítima é afetado de forma visível e 
 
28
 “Pressupõe o art. 159 do Código Civil o elemento da imputabilidade, ou seja, a existência, no 
agente, da livre determinação de vontade. Para que alguém pratique um ato ilícito e seja obrigado a 
reparar o dano causado, é necessário que tenha capacidade de discernimento. Em outras palavras, 
aquele que não pode querer e entender, não incorre em culpa e, ipso facto, não pratica ato ilícito.” 
(GONÇALVES, op. cit., p. 10). 
29
 DINIZ, op. cit., p.45. 
mensurável. É avaliado o que de fato se perdeu com a deterioração ou destruição do 
bem e o que razoavelmente se deixou de ganhar30. Dito de outra forma, o dano 
material engloba tanto o dano emergente (diminuição do patrimônio do titular do bem 
atingido) como o lucro cessante. Quando não for possível a restituição natural da 
coisa, a reparação se dará em dinheiro. 
 O conceituado dano moral é a lesão a interesses não patrimoniais da vítima 
por meio de ofensas direcionadas aos direitos da personalidade. Nesse caso, bens e 
valores subjetivos são afetados. Pode-se citar algumas definições doutrinárias: 
“Dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral ou intelectual da 
vítima”31; “Apresenta-se como aquele mal ou dano que atinge valores 
eminentemente espirituais ou morais, como a honra, a paz, a liberdade física, a 
tranqüilidade de espírito, a reputação, a beleza, etc.”32 
 Já que o dano moral atua na esfera da mais íntima subjetividade, difícil se 
torna sua valoração. O fundamento da reparabilidade pelo dano moral está em que, 
a par do patrimônio em sentido técnico, o indivíduo é igualmente titular de direitos 
integrantes de sua personalidade, não podendo conformar-se à ordem jurídica em 
que não sejam resguardados33. 
 O fato é que não é qualquer dor ou sofrimento que é indenizável pelo direito, 
mas apenas aqueles que apresentem os pressupostos da ilicitude e nexo causal. 
Afasta-se a prova do dano, pois os abalos são fenômenos de ordem psíquica, não 
podendo ser concretamente demonstrados. Da mesma forma, quando se tratar de 
mero aborrecimento da vida ou de incômodo irrelevante, igualmente será afastada a 
reparação. Em última análise, cabe ao magistrado usar da experiência de vida, da 
razoabilidade e da sensibilidade do homem médio para decidir quanto à existência e 
ao alcance do dano moral ocorrido. 
 
1.4.3 Nexo causal 
 Feitas as considerações pertinentes aos elementos conduta do agente e o 
dano, cumpre agora analisar o nexo de causalidade entre eles. 
 
30
 Art. 402, CC: “Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao 
credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.” 
31
 VENOSA, op. cit., p. 41. 
32
 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: lei nº 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2007. P. 19. 
33
 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 
P. 54. 
 
Para que surja a obrigação de indenizar, mister se faz a prova de existencia 
de uma relação de causalidade entre a ação ou omissão culposa do agente e 
do dano experimentado pela vítima. Se a vítima experimentar um dano, mas 
não se evidenciar que este resultou do comportamento ou da atitude do réu, 
o pedido de indenização formulado por aquela deverá ser julgado 
improcedente.34 
 
 O nexo de causalidade consiste na relação de causa e efeito entre a conduta 
praticada pelo agente e o dano suportado pela vítima, ou seja, não obstante estejam 
configurados a culpa e o dano, não haverá a obrigação de indenizar se não for 
constatadoum nexo que ligue os dois elementos. Em outras palavras, o fato de não 
se apresentar uma relação de causa não gera o dever de reparar o efeito35. “Nexo 
causal é o liame que une a conduta do agente ao dano.”36 
 O ordenamento jurídico brasileiro disciplina situações excepcionais em que a 
relação causal entre a ação e o dano estará prejudicada, não havendo, portanto, o 
dever de reparação. São casos exemplificativos dessa situação a culpa exclusiva da 
vítima, na qual o agente é apenas um instrumento do acidente; a exclusiva culpa de 
terceiro; o caso fortuito ou a força maior, em que deve ser constatada a 
inevitabilidade do evento (objetivo) e a total ausência de culpa na ocorrência do 
acontecimento (subjetivo); a cláusula de não indenizar, as excludentes de ilicitude, o 
estado de necessidade e a legítima defesa. São todas denominadas excludentes de 
causalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
34
 RODRIGUES, op. cit., p. 18. 
35
 Para que se caracterize a responsabilide é indispensável que se estabeleça uma interligação entre 
a ofensa à norma e o prejuízo sofrido, de tal modo que se possa afirmar ter havido o dano “porque” o 
agente procedeu contra direito. (RODIÈRE, apud PEREIRA, op. cit., p. 75). 
36
 VENOSA, op. cit., p. 47 
2 DO DANO MORAL 
 
2.1 CONCEITO 
 
 Após uma breve introdução ao instituto da responsabilidade civil e seus 
elementos caracterizadores, cumpre agora adentrar um pouco mais na problemática 
proposta por este trabalho acadêmico, traçando algumas considerações específicas 
acerca do dano moral, verdadeiro avanço jurídico na defesa dos interesses 
extrapatrimoniais dos cidadãos. 
 A reparabilidade do dano moral já ensejou longas discussões no direito pátrio. 
Não apenas os tribunais mas igualmente doutrinadores consagrados por longo 
tempo relutaram em reconhecer a sua possibilidade, argumentando que a dor e o 
sofrimento da vítima não têm preço passível de estimação37. Com o passar dos 
anos, porém, a complexidade das relações interpessoais começou despertar a 
necessidade da reparação. 
 A doutrina majoritária defende que o legislador brasileiro reconheceu pela 
primeira vez o dano moral em face da edição do art. 159, do Código Civil de 191638, 
ao estabelecer que “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou 
imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o 
dano”39. Todavia, a jurisprudência, em sua atividade prática, hesitava em reconhecer 
a reparabilidade genérica do dano moral, negando as hipóteses que não estivessem 
positivadas explicitamente no ordenamento40. A título exemplificativo, podem-se citar 
algumas leis esparsas que previam e regulamentavam a possibilidade de 
indenização por danos morais, tais como a revogada Lei de Falências (Decreto-Lei 
 
37
 THEODORO JÚNIOR, 2007b, p. 5. 
38
 BRASIL, 1916. 
39
 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 5. 
40
 Nesse contexto, o doutrinador Yussef Said Cahali destacou em sua obra antigo acórdão do 
Supremo Tribunal Federal, quando ainda não era reconhecido o valor afetivo exclusivo: “[…] nem 
sempre o dano moral é ressarcível, não somente por não poder dar-lhe valor econômico por se não 
apreciá-lo em dinheiro, como ainda porque essa nossa insuficiência dos nossos recursos abre a porta 
a especulações desonestas pelo manto nobilíssimo de sentimentos afetivos; no entanto, no caso de 
ferimentos que provoquem aleijões, no caso de valor afetivo, coexistir com o moral, nos casos de 
ofensa à honra, à dignidade e à liberdade, se indeniza o valor moral pela forma estabelecida no 
Código Civil [1916]. No caso de morte de filho menor não se indeniza o dano moral se ele não 
contribuía em nada para o sustento da casa”. 2ª Turma, 06.08.1948, maioria, RT 244/629 apud 
CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 3. ed. rev., ampl. e atual. conforme o Código Civil de 2002. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. P. 50. 
nº 7.661/45), o Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº 4.117/62), o Código 
Eleitoral (Lei nº 4.737/65) e a Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67). 
 De igual forma, predominava nessa época o entendimento pela não 
cumulatividade do dano material com o dano moral, sob o argumento de que, uma 
vez restabelecido o equilíbrio econômico (patrimonial), a vítima não teria mais do 
que ser reparada41. 
 O impasse foi efetivamente afastado com a promulgação da Carta 
Constitucional de 198842, quando restou inquestionável a reparação de todo e 
qualquer mal injusto, garantido o direito de resposta, proporcional ao agravo, sem 
prejuízo da indenização pelo dano material, moral ou à imagem, como também 
assegurada a inviolabilidade ao direito à intimidade, à vida privada, à honra e à 
imagem da pessoa, todos direitos essenciais da pessoa humana. 
 Nos ensinamentos do professor Paulo Luiz Netto Lôbo, a inclusão 
constitucional dos direitos da personalidade e dos danos morais reflete a evolução 
pela quais ambos os institutos jurídicos têm passado. Os direitos da personalidade, 
direitos inatos e essenciais à realização da pessoa e de sua dignidade, por serem 
valores não patrimoniais, encontram excelente aplicação nos danos morais, os quais 
apresentam a mesma natureza imaterial. Ambos têm por objeto bens integrantes da 
interioridade da pessoa, ou seja, aquilo que é inato à pessoa e deve ser 
resguardado pelo direito43. 
 Analisado o dano moral sob a ótica dos princípios fundamentadores da 
Constituição Cidadã, constata-se a amplitude que o mesmo passou a alcançar 
enquanto ferramenta de proteção aos direitos da personalidade, pois, elevado à 
categoria de fundamento do Estado Democrático de Direito, o princípio da dignidade 
da pessoa humana é subjetivo a cada indivíduo e deve nortear suas relações em 
sociedade. Assim, em última análise, o conceito de dano moral está relacionado à 
 
41
 THEODORO JÚNIOR, op. cit. p. 6. 
42
 BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: 
Senado Federal, 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3% 
A7ao.htm>. Acesso: em 18 maio 2009. 
43
 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Danos morais e direito da personalidade. Disponível em: 
<http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/7843/7410>. Acesso em: 
18 jun. 2009. 
ofensa ao direito constitucional à dignidade, “[…] base de todos os valores morais, a 
essência de todos os direitos personalíssimos”44. 
 O Código Civil de 200245, seguindo as orientações da Lei Maior, previu 
expressamente a reparação do dano moral em seu art. 18646, bem como estendeu 
às pessoas jurídicas a proteção aos direitos da personalidade47, mais uma vez 
evidenciando a plenitude da reparação civil, independentemente da natureza da 
ofensa. 
 O Superior Tribunal de Justiça por sua vez, conforme já exposto 
anteriormente, também contribuiu para o avançar deste entendimento, ao editar a 
Súmula de nº 3748, a qual veio a solidificar a cumulatividade de danos morais e 
materiais oriundos do mesmo fato49, e a Súmula de nº 22750, que reconheceu que 
pessoa jurídica pode sofrer danos morais51. 
 Ilustra-se o entendimento com algumas decisões: 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO DE DIAGNÓSTICO. EXAMES 
RADIOLÓGICOS. DANOS MORAIS E MATERIAIS. I - O diagnóstico inexato 
fornecido por laboratório radiológico levando a paciente a sofrimento que 
poderia ter sido evitado dá direito à indenização. A obrigação da ré é de 
resultado, de natureza objetiva (art. 14 c/c o 3º do CDC). II - Danos 
materiais devidos, tendo em vista que as despesas efetuadas com os 
exames posteriores ocorreram em razão do erro cometido no primeiro 
exame radiológico. III - Valor dos danos morais fixados em 200 salários-
mínimos, por seadequar melhor à hipótese dos autos. IV - Recurso especial 
conhecido e parcialmente provido.52 
 
DIREITO EMPRESARIAL. DANO MORAL. DIVULGAÇÃO AO MERCADO, 
POR PESSOA JURÍDICA, DE INFORMAÇÕES DESABONADORAS A 
 
44
 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. P. 
80. 
45
 BRASIL, 2002. 
46
 Art. 186: Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e 
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
47Art. 52: Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. 
48BRASIL, 2009a. 
49
 “Os bens que integram a personalidade constituem valores distintos dos bens patrimoniais, cuja 
agressão resulta no que se convencionou chamar dano moral. Essa constatação, por si só, evidencia 
que o dano moral não se confunde com o dano material; tem existência própria e autônoma, de modo 
a exigir tutela jurídica independente.” CAVALIERI FILHO, op cit., p. 80. 
50
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n.º 227. Disponível em: 
<http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=227&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=1>. Acesso 
em: 15 maio 2009b. 
51
 “A pessoa jurídica, como proclama a Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça, pode sofrer dano 
moral e, portanto, está legitimada a pleitear a sua reparação. Malgrado não tenha direito á reparação 
do dano moral subjetivo, por não possuir capacidade afetiva, poderá sofrer dano moral objetivo, por 
ter atributos sujeitos à valoração extrapatrimonial da sociedade, como o conceito e o bom nome, o 
crédito, a probidade comercial, a boa reputação etc.” (GONÇALVES, op. cit., p. 368). 
52
 STJ, REsp 594962 / RJ, 3º T., Rel. Min. Antônio De Pádua Ribeiro, DJ 17/12/2004 p. 534 
RESPEITO DE SUA CONCORRENTE. COMPROVADOS DANOS DE 
IMAGEM CAUSADOS À EMPRESA LESADA. DANO MORAL 
CONFIGURADO. FIXAÇÃO EM PATAMAR ADEQUADO PELO TRIBUNAL 
A QUO. MANUTENÇÃO. - Para estabelecer a indenização por dano moral, 
deve o julgador atender a certos critérios, tais como nível cultural do 
causador do dano; condição sócio-econômica do ofensor e do ofendido; 
intensidade do dolo ou grau da culpa do autor da ofensa; efeitos do dano, 
inclusive no que diz respeito às repercussões do fato. - Na hipótese em que 
se divulga ao mercado informação desabonadora a respeito de empresa-
concorrente, gerando-se desconfiança geral da clientela, agrava-se a culpa 
do causador do dano, que resta beneficiado pela lesão que ele próprio 
provocou. Isso justifica o aumento da indenização fixada, de modo a 
incrementar o seu caráter pedagógico, prevenindo-se a repetição da 
conduta. - O montante fixado pelo Tribunal 'a quo', em R$ 400.000,00, 
mostra-se adequado e não merece revisão. Recurso especial não 
conhecido.53 
 
 Outra inovação que merece ser destacada é a possibilidade do dano moral 
coletivo. Essa ação visa à proteção dos valores idealmente considerados na esfera 
moral de uma comunidade, proporcionando ao mesmo tempo economia e celeridade 
processual. Ela substitui o ajuizamento individual de cada membro da coletividade 
ofendida, por uma única ação coletiva que será apreciada, julgada e, em sendo 
procedente, cada interessado entrará com a execução do comando sentencial; 
sendo improcedente, não mais se discutirá o mérito individualmente. São exemplos 
de danos morais à coletividade aqueles referentes à raça (negro, indígena), sexo 
(homossexuais, feministas), religião (católica, muçulmana)54. 
 Evidente se mostra, portanto, o alargamento observado na conceituação e 
aplicabilidade do dano moral após a promulgação da Constituição Federal de 1988. 
 Nesse ínterim, ao conceituar o dano moral, a doutrina faz referência às lesões 
que atingem injustificadamente os bens imateriais que compõem a personalidade 
moral da pessoa física, pessoa jurídica ou da coletividade55. Seria, portanto, a 
ofensa aos valores íntimos que integram a personalidade (a vida, a honra, a 
liberdade, a intimidade), causando sofrimento, angústia ou humilhação à vítima. 
 
Qualificam-se como morais os danos em razão da esfera da subjetividade, 
ou do plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato 
violador, havendo-se como tais aqueles que atingem os aspectos mais 
 
53
 STJ, REsp 883630 / RS, 3º T., Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe 18/02/2009 
54
 MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral nas relações de consumo: doutrina e 
jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2008. P.75. 
55
 “Com o advento do novo Código Civil, e cotejando os avanços doutrinários e jurisprudenciais, 
ousamos afirmar que o dano moral é toda agressão injusta àqueles bens imateriais, tanto da pessoa 
física como da pessoa jurídica ou da coletividade, insusceptível de quantificação pecuniária, porém 
indenizável com tríplice finalidade: satisfativa para a vítima, dissuasória para o ofensor e de 
exemplaridade para o ofensor”. (MELO, op. cit., p. 59). 
íntimos da personalidade humana (o da intimidade e da consideração 
pessoal), ou da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o 
da reputação ou da consideração social).56 
 
 O professor Sérgio Cavalieri Filho, utilizando a comparação ao direito 
português, defende a substituição da nomenclatura dano moral pela denominação 
dano imaterial ou não patrimonial. Esse posicionamento é justificado sob a ótica da 
natureza personalíssima desses bens e de seu caráter não econômico. Assim, 
torna-se inapreciável uma correta avaliação pecuniária da indenização, uma vez que 
esta não apresenta como objetivo o restabelecimento do status quo ante por meio 
de indenização, mas sim uma satisfação, uma compensação pelo abalo sofrido57. 
 
2.2 ELEMENTOS CARACTERIZADORES 
 
 A caracterização do dano moral é pressuposto necessário para o surgimento 
da obrigação indenizatória. A esse respeito muito se discute doutrinariamente 
quanto à necessidade e possibilidade de provar o dano moral no caso em concreto. 
 Fato inafastável desta análise é que, a despeito dos casos em que o dano é 
objetivamente aferido, no qual o elemento dor é irrelevante para sua configuração, 
pois atinge a dimensão moral da pessoa na sua esfera social (agressão à honra, 
cerceamento da liberdade, violação da privacidade)58, a área de atuação de boa 
parte dos danos morais se dá no mais íntimo sentimento da pessoa, esfera da 
intimidade psíquica, tornando-se muitas vezes impossível a sua comprovação 
técnica por documentos, testemunhas ou perícias59. 
 Não obstante a dificuldade na identificação do dano, esse fato não é o 
bastante para deixá-lo sem reparação, pois, desde que se possa constatar nesta 
matéria a existência de um próprio e verdadeiro dano à pessoa, a recusa à tutela da 
vida, da saúde, da integridade física e moral, da liberdade, da honra, por meios de 
reparação civil, revela-se injusta60. 
 Por essa razão, boa parte dos pensadores defende que a prova não deve ser 
perseguida na existência ou não do dano, mas sim na aferição do evento que 
ensejou o sofrimento injustificado. Ademais, visto que os danos morais transitaram 
 
56
 BITAR, apud CAHALI, op. cit., p. 22. 
57
 CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 81 
58
 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 126-127. 
59
 Idem, p. 121. 
60
 CAHALI, op. cit., p. 28. 
pela órbita dos direitos personalíssimos, é de discernimento comum que qualquer 
agressão ilícita a esses valores esteja apta a motivar sua indenização. 
 
Neste ponto a razão se coloca ao lado daqueles que entendem que o dano 
moral está ínsito na própria ofensa, decorre da gravidade do ilícito em si. Se 
a ofensa é grave e de repercussão, por si só justifica a concessão de uma 
satisfação de ordem pecuniária ao lesado. Em outras palavras, o danomoral 
existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo 
que, provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral a guisa de 
uma presunção natural, uma presunção hominis ou fact, que decorre de 
experiência comum.61 
 
 Dessa maneira, entende-se que a lesão ou dor extrapatrimonial é fenômeno 
que se passa no psiquismo da pessoa e, como tal, não pode ser concretamente 
examinada. Daí porque não se exigir do autor da pretensão indenizatória que prove 
o dano moral. Cabe-lhe apenas demonstrar a ocorrência do fato lesivo, de cujo 
contexto o juiz extrairá a idoneidade para gerar dano grave relevante, segundo a 
sensibilidade do homem médio e a experiência da vida62. 
 Não se pode deixar de ressaltar que no atual estágio de desenvolvimento 
socioeconômico e complexidade das relações interpessoais, transtornos normais do 
cotidiano são admissíveis, sem que isso venha a configurar dano moral. É 
necessário avaliar o caso em concreto com prudência e bom senso, afastando os 
meros dissabores da vida, que, embora sejam desagradáveis, não apresentam 
relevância suficiente, não permitem a efetiva identificação da ocorrência deste dano, 
evitando o abarrotamento da atividade judiciária. “Na vida moderna há o pressuposto 
da necessidade de coexistência do ser humano com os dissabores que fazem parte 
do dia-a-dia” 63. 
 Neste mesmo sentido, tem-se orientado a jurisprudência do STJ, conforme 
pode ser observado nos seguintes julgados: 
 
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. 
ALARME SOADO EM ESTABELECIMENTO COMERCIAL. MERO 
DISSABOR. SITUAÇÃO INSUSCETÍVEL DE INDENIZAÇÃO. AGRAVO 
REGIMENTAL IMPROVIDO.64 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. FALHA. VEÍCULO. 
ACIONAMENTO DE AIR BAGS. DANO MORAL INEXISTENTE. VERBA 
INDENIZATÓRIA AFASTADA. O mero dissabor não pode ser alçado ao 
 
61
 CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 86. 
62
 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 9. 
63
 MELO, op. cit., p. 60. 
64
 STJ, AgRg no Ag 1099283 / PB, 4º T., Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJe 01/06/2009 
patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a 
naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no 
espírito de quem ela se dirige. Recurso especial conhecido e provido, para 
restabelecer a r. sentença.65 
 
 
 “Se o incômodo é pequeno (irrelevância) e se, mesmo sendo grave, não 
corresponde a um comportamento indevido, obviamente não se manifestará o dever 
de indenizar”66. Assim, meros atritos de interesses não podem alçar ao patamar de 
dano moral, devendo este ser entendido como um sofrimento, dor ou vexame, ou 
humilhação que, fora do padrão razoável de normalidade, interfira veementemente 
no comportamento psicológico da vítima, causando-lhe angústia e desequilíbrio em 
seu bem-estar, em sua integridade psíquica, originando assim um dano a ser 
reparado67. 
 
2.3 DA FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO 
 
 Um dos maiores problemas observados na temática dos danos morais reside 
na sua quantificação. Diferentemente do que é observado quando se trata de danos 
materiais, os direitos personalíssimos não apresentam dimensão econômica ou 
patrimonial da qual possa ser aferida a exata medida da indenização. Estabelecer 
critérios verdadeiramente objetivos acerca da compensação dos danos morais 
violados, que possam ser seguidos como parâmetros para liquidação das demandas 
propostas, torna-se, então, uma tarefa árdua68. 
 Na realidade, não é possível uma avaliação pecuniária da dor experimentada 
ou a recomposição do estado anterior. O que se objetiva com a indenização é a 
tutela de um bem jurídico violado, proporcionando conforto suficiente à vítima, de 
forma a afastar a injustiça sofrida. A esse respeito, são valiosas as palavras do 
professor e magistrado José Luiz Gavião de Almeida: 
 
65
 STJ, REsp 898005 / RN, 4º T., Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 06/08/2007 p. 528 
66
 “Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou 
humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do 
indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, 
aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exarcebada fazem parte do nosso dia-a-dia, no 
trabalho, no trânsito, entre amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e 
duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, 
acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos 
mais triviais aborrecimentos.” (THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 7-8). 
67
 CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 83-84. 
68
 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 36. 
 
A reparação dos danos morais não busca reconduzir as partes à situação 
anterior ao dano, meta impossível. A sentença visa deixar claro que a 
honra, o bom nome e a reputação da vítima restaram lesionados pela 
atitude inconseqüente do causador do dano. Busca resgatar o bom conceito 
de que se valia o ofendido no seio da sociedade. O que interessa, de fato, é 
que a sentença venha a declarar a idoneidade do lesado; proporcionando 
um reconforto à vítima, e, ainda, punir aquele que agiu, negligentemente, 
expondo o lesado a toda sorte de dissabores.69 
 
 Resta atualmente afastado o entendimento pretérito de que seria imoral 
quantificar a angústia experimentada, atribuindo-lhe uma indenização. Como bem 
nos ensina Cahali, “[…] quando a vítima reclama a reparação pecuniária do dano 
moral, não pede um preço para sua dor, mas, apenas, que se lhe outorgue um meio 
de atenuar em parte as conseqüências da lesão jurídica”70. Assim, o dinheiro não 
seria apenas capaz de garantir o conforto material, mas igualmente proporcionar à 
vítima da lesão moral certa satisfação espiritual, de modo a atenuar a dor sofrida. 
Conclui enfaticamente o doutrinador: “Por outro lado, mais imoral seria proclamar-se 
a total indenidade do causador do dano”71. 
 Quanto à aferição do quantum reparatório originado dos danos morais, a 
doutrina se divide em dois sistemas, quais sejam: o sistema tarifário e o sistema 
aberto. No primeiro caso, o valor da indenização se encontra predeterminado, com 
valor máximo e mínimo, cabendo ao magistrado aplicá-lo ao caso concreto, 
atentando para os limites fixados para cada situação. Já no sistema aberto, adotado 
pelo ordenamento jurídico pátrio, ao juiz é atribuída a competência para estabelecer 
o valor indenizatório, de forma subjetiva e correspondente à razoável satisfação da 
lesão sofrida pela parte72. 
 Não obstante a legislação brasileira não tenha regulamentado a fixação do 
quantum indenizatório, nem permitido a tarifação de indenizações quando se trata 
de danos morais, deixando ao arbítrio do juiz a estipulação do valor indenizatório, 
este, em decorrência do princípio da inafastabilidade73, não poderá abster-se de 
apreciar e assumir um posicionamento ante o caso concreto que lhe seja 
 
69
.ALMEIDA apud MELO, op. cit., p. 63. 
70
 CAHALI, op. cit., p. 28. 
71
 CAHALI, loc. cit. 
72
 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Dano moral e Justiça do Trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, 
n. 51, out. 2001. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2080>. Acesso em: 10 
jun. 2009. 
73
 BARROSO, Marcelo Lopes. A lei dos Juizados Especiais e o princípio da inafastabilidade do 
controle jurisdicional. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 49, fev. 2001. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=824>. Acesso em: 12 jun. 2009. 
apresentado. Para isso, deverá valer-se do disposto artigo 4º da Lei de Introdução 
ao Código Civil (LICC)74: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá ocaso de acordo 
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. 
 De igual forma, estão à disposição dos magistrados os ensinamentos 
doutrinários, que propõem os mais variados critérios para fixação do quantum 
indenizatório e a sólida jurisprudência formada ao longo do tempo. O importante é 
que o juiz, utilizando sua experiência, ao decidir o valor da indenização por danos 
morais, o faça de forma livre e consciente, aplicando o bom senso e a eqüidade ao 
caso concreto: 
 
Cabe, assim, ao prudente arbítrio dos juízes e à força criativa da doutrina e 
jurisprudência, a instituição de critérios e parâmetros que haverão de presidir 
as indenizações por dano moral, a fim de evitar que o ressarcimento, na 
espécie, não se torne expressão de puro arbítrio, já que tal se transformaria 
numa quebra total de princípios básicos do Estado Democrático de Direito, 
tais como, por exemplo, o princípio da legalidade e o princípio da isonomia.75 
 
 É preciso ter em mente que, muito embora o juiz esteja livre para arbitrar a 
indenização, sua atuação não poderá ser arbitrária. O artigo 944 do Código Civil 
dispõe que “[…] a indenização mede-se pela extensão do dano”76, cujo parágrafo 
único do referido diploma, diz que “[…] se houver excessiva desproporção entre a 
gravidade da culpa e o dano, o juiz poderá reduzir, equitativamente, a 
indenização”77. Assim, é inquestionável o dever do magistrado em resguardar os 
valores íntimos que integram a personalidade, todavia, ao fazê-lo, deve decidir em 
conformidade com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 
 
Em razão de sua visceral interdependência com os direitos da personalidade, 
os danos morais nunca se apresentam como reparação, pois a lesão ao 
direito da personalidade não pode ser mensurada economicamente, como se 
dá com os demais direitos subjetivos. Por isso, a indenização tem função 
compensatória, que não pode ser simbólica, para que a compensação seja 
efetiva e produza impacto negativo no lesante, nem demasiada, para não 
conduzir ao enriquecimento sem causa do lesado. No inciso V do artigo 5º, a 
Constituição determina que o dano moral seja “proporcional ao agravo”. Há 
quem veja nesse preceito o fundamento da função não apenas 
compensatória, mas punitiva. Deve o juiz valer-se do princípio da 
 
74
 BRASIL, Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução ao Código Civil 
Brasileiro. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 4 de setembro de 
1942. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del4657.htm>. Acesso em: 28 
jun. 2009. 
75
 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 37. 
76
 BRASIL, 2002. 
77
 Idem. 
proporcionalidade, tendo em vista serem os direitos atingidos muito mais 
valiosos que os bens e interesses econômicos, cuja lesão leva à restituição.78 
 
 Humberto Theodoro Júnior, embasado nos ensinamentos de Carlos Alberto 
Bittar, leciona que o critério a ser observado no arbitramento judicial do dano moral 
está pautado em um juízo de prudência e eqüidade, levando em consideração o 
binômio possibilidade do lesante/condições do lesado e as particularidades 
circunstanciais do fato danoso79. 
 
Impõe-se a rigorosa observância dos padrões adotados pela doutrina e 
jurisprudência, inclusive dentro da experiência registrada no direito 
comparado para evitar-se que as ações de reparação de dano moral se 
transformem em expedientes de extorsão ou de espertezas maliciosas e 
injustificáveis. As duas posições, sociais e econômicas, da vítima e do 
ofensor, obrigatoriamente, estarão sob análise, de maneira que o juiz não 
se limitará a fundar a condenação isoladamente na fortuna eventual de um 
ou na possível pobreza do outro.80 
 
 O ilustre doutrinador Nhemias Domingos de Melo, ao finalizar sua obra Dano 
moral nas relações de consumo: doutrina e jurisprudência, dedicou capítulo 
exclusivo à exposição de sua nova teoria para a apuração do quantum indenizatório 
nas ações de indenização por danos extrapatrimoniais. De acordo com esse 
pensamento, devem ser avaliados três parâmetros quando da fixação da verba 
indenizatória, quais sejam: o caráter compensatório para a vítima, o caráter punitivo 
para o causador do dano e o caráter exemplar para a sociedade81. 
 Explicando melhor o tripé fundamentador, o primeiro dos elementos consiste 
em afastar a lesão sofrida por meio de uma compensação pecuniária, não 
reparatória, mas capaz de propiciar alguma satisfação à vítima; o caráter punitivo se 
refere à reprovação do ordenamento jurídico ante a conduta ilícita praticada, 
apresentando a função de desestímulo à reincidência do agressor; o caráter 
exemplar, por seu turno, destina-se à educação da sociedade, evidenciando que as 
ofensas aos direitos personalíssimos são reprimidas judicialmente. 
 O autor orienta sua teoria na premissa de que “[…] quanto maior for a pena, 
menor será o índice de reincidência, associada ao fato de a sociedade tomar ciência 
 
78
 LÔBO, op. cit. 
79
 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 49. 
80
 THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 45. 
81
 MELO, op. cit., p.285-289. 
de que determinadas condutas são reprimidas com vigor pelo Poder Judiciário”82. 
Dessa maneira, a conseqüência econômica diretamente sofrida pelo agressor, 
repercutiria socialmente uma menor incidência de agressões à dignidade.
 Ademais, sugere o autor a efetividade da condenação do dano moral além do 
binômio punição/compensação, por meio da criação de um plus indenizatório, o qual 
serviria como um desestímulo social ao comportamento lesivo. A esse respeito, 
observam-se posicionamentos doutrinários divergentes acerca da viabilidade na sua 
estipulação, sob o argumento de que no ordenamento jurídico brasileiro, 
diferentemente do que se observa no direito norte-americano, impera o preceito 
constitucional da legalidade, pelo qual ninguém será obrigado a fazer ou deixar de 
fazer alguma coisa senão em virtude de lei83. 
 No intuito de afastar-se do modelo americano que beneficia a vítima, 
prossegue o estudioso em sua teoria, cogitando a criação de um “fundo judiciário” 
para o depósito do plus indenizatório e posterior conversão em campanhas 
educativas de respeito aos direitos do homem ou em melhoria do Poder Judiciário. O 
valor não seria destinado à vítima, pois esta já estaria resguardada pela decisão, 
não fazendo jus a um enriquecimento sem causa. 
 Com fundamentada propriedade, Maria Helena Diniz também presta sua 
contribuição na formação do entendimento doutrinário acerca da matéria, indicando 
algumas regras a serem seguidas pelo órgão judicante na avaliação pecuniária do 
dano moral: 
 
a) evitar indenização simbólica e enriquecimento sem justa causa, ilícito ou 
injusto da vítima. A indenização não poderá ter valor superior ao dano, nem 
deverá subordinar-se à situação de penúria do lesado; nem poderá conceder 
a uma vítima rica uma indenização inferior ao prejuízo sofrido, alegando que 
sua fortuna permitiria suportar o excedente do menoscabo; 
b) não aceitar a tarifação, porque esta requer despersonalização e 
desumanização, e evitar porcentagem do dano patrimonial; 
c) diferenciar o montante indenizatório segundo a gravidade, a extensão e a 
natureza da lesão; 
d) verificar a repercussão pública provocada pelo fato lesivo e as 
circunstâncias fáticas; 
 
82
 MELO, op. cit., p.286. 
83
 “Não se justifica, pois, como pretendem alguns autores, que o julgador, depois de arbitrar de 
arbitrar o montante suficiente para compensar o dano moral sofrido pela vítima (e que, indireta e 
automaticamente, atuará como fator de desestímulo ao ofensor), adicione-lhe um plus a título de 
pena civil, inspirando-se nas punitive domages do direito norte-americano.

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