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PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

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PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL
DIREITO AMBIENTAL
Prof. Marize
ASPECTOS GERAIS
Na doutrina brasileira não há ainda uma sistematização sobre os princípios ambientais. Observa-se que no Direito Ambiental temos princípios explícitos e os implícitos em nosso ordenamento legal; bem como princípios oriundos de tratados internacionais sobre direito ambiental.
Passaremos a tratar dos princípios admitidos pelos principais doutrinadores, ou seja, princípio do desenvolvimento sustentável; princípio do poluidor-pagador; princípio da prevenção, princípio da precaução; princípio da participação e princípio da ubiquidade.
PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O desenvolvimento sustentável, de acordo com o conceito clássico do Relatório Brundtlan é “... Aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades.”.
Este princípio está previsto em diversos princípios da Declaração do Rio, que diz que o ser humano constitui o centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável (Princípio 01) e que para alcançá-lo, a proteção ambiental deve ser considerada parte integrante do desenvolvimento e não pode ser dissociada dele (Princípio 02). Também reconhece que 
Desenvolvimento deve considerar o uso equitativo dos recursos naturais, em atenção às necessidades da presente e das futuras gerações (Princípio 03).
Nossa Carta Magna, no art. 170, prevê que a ordem econômica é fundada na valorização do trabalho e na livre iniciativa e visa assegurar a existência digna conforme os ditames da justiça social, com a observância, entre outros, dos princípios da função social da propriedade e da defesa do meio ambiente.
Função social da propriedade – no exercício do direito de propriedade deve ser exercido com a observância e respeito às normas ambientais. Também a defesa do meio ambiente nas atividades econômicas ocorre com tratamento diferenciado de acordo com o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.
A interpretação do princípio do desenvolvimento sustentável deve ser efetivada com a conjugação do art. 170 com o art. 225 da Constituição Federal (as atividades econômicas não devem ser exercidas sem harmonia com os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente).
PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR
Este princípio tem natureza econômica, cautelar e preventiva, que engloba a internalização dos custos ambientais, que devem ser suportador pelo empresário-empreendedor, afastando-os da coletividade.
Segundo o art. 4º, VII da Lei 69381981 um dos objetivos que a Política Nacional do Meio Ambiente deve procurar é “... a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e ou indenizar os danos causados (...)”.
Segundo Celso Antonio Pacheco Fiorillo, este princípio tem duas feições:
Uma de caráter preventivo, ao buscar evitar a ocorrência de danos ambientais;
Outra de natureza repressiva, já que, com a ocorrência do dano, necessário se faz a sua reparação.
Ressalte-se que deve ser entendido como “internalização” o processo produtivo e por “externalidades negativas” tudo que não for do processo produto, que está fora dele (exs: gases emitidos na atmosfera, os resíduos sólidos, etc.; não possuem valor econômico e estão fora do processo produtivo, sendo chamados por estas).
Razões de “externalidades negativas”.
Como cita o Fabiano Melo Gonçalves de Oliveira, para evitar que as externalidades negativas sejam suportadas pela comunidade (como um rio que abastece uma cidade e é poluído por uma empresa), o empreendedor deve adotar as medidas preventivas necessárias para evitar que se criem danos ambientais, como por exemplo, pela utilização de filtros de limpeza de gases, estações de tratamento de efluentes, destinação dos resíduos sólidos, etc.
Se mesmo com a adoção de medidas preventivas, o dano ambiental vier a ocorrer, o empreendedor não se libera de reparar os prejuízos causados, de acordo com o art. 225, parágrafo 3º da CF e art. 14 da Lei 6938 de 1981.
É oportuno recordamos os seguintes conceitos:
Poluição = é a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:
Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem- estar da população;
Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
Afetem desfavoravelmente a biota; 
Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
“Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.”
Degradação Ambiental = é a alteração adversa das características do meio ambiente e normalmente ocorre a partir de uma atividade humana, especialmente se estas atividades gera poluição; porém pode ocorrer também por fatores naturais, tais como evolução de um ecossistema, um abalo sísmico, etc. Desta forma pode-se dizer que a degradação ambiental decorre de uma ação antrópica ou por um evento natural; cf. art. 3º, II, da Lei 6938 de 1981.
Responsabilidade civil objetiva – art. 14,§1º da Lei 6938/81 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA e art. 225,§3º da CF – o responsável legal pelo dano ambiental tem responsabilidade civil objetiva. Ressalte-se que há solidariedade dos agentes pelo dano ambiental - art. 3º, I da Lei 6938/81.
PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR
É um princípio complementar ao do poluidor-pagador, alguns doutrinadores estudam-nos como um único princípio.
Em termos legais, sua previsão está contida no art. 4º, VII da Lei 6938/91, como um dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente “... Ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais.” Também o art. 29 da Lei 9433/97 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, dispõe sobre a cobrança o uso de recursos hídricos, ao reconhecer a água como “um bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor.”.
O princípio do usuário-pagador decorre da necessidade de valoração econômica dos recursos naturais, evitando-se o que se denomina de “custo zero” (não cobrança pela sua utilização, que leva a hiper-exploração de um bem ambiental, o que pode levar a sua escassez). Como exemplo de bem ambiental que possui valor econômico, citamos o solo que é tributado por meio do IPTU – Imposto Territorial Urbano ou pelo Imposto Territorial Rural (ITR).
Para que seja possível tal cobrança sobre os bens ambientais, é necessário que esta seja prevista em lei, como determina o princípio da legalidade.
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
Se o direito ambiental apenas se preocupar com a reparação dos danos causados, seria um direito inócuo tendo em vista que, em geral, os danos ambientais são praticamente irreversíveis. A atuação antecipada é a única forma de evitar que danos ambientais ocorram. Por esta razão o direito ambiental é, em primeiro lugar, preventivo.
O princípio da prevenção aplica-se ao risco conhecido, assim compreendido aquele identificado por meio de pesquisas, dados e informações ambientais ou conhecido porque já ocorreu anteriormente. Assim sendo, a partir do risco ou perigo conhecido que se procura adotar medidas de minimização dos danos ambientais.
Citamos como exemplo de efetivação do princípio da prevenção, o EPIA-RIMA (Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental), que é o estudo que identifica previamente os possíveis impactos e danos ao meio ambiente e sugere medidas de mitigação e compensatórias. Outros exemplos são o licenciamento ambiental de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras e o poder de polícia ambiental.
PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
Alguns doutrinadores não fazem diferença entre o princípio da prevenção e o princípio da precaução. Como tais princípios possuem características peculiares, é importante estudá-los separadamente.
O princípio da precaução tem previsão no Princípio 15 da Declaração do Rio, que prevê ““... Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis paraprevenir a degradação ambiental.
O princípio da prevenção aplica-se no caso de haver perigo concreto, conhecido, já o princípio da precaução aplica-se ao perigo, incerto, que ainda não se conhecem os resultados e consequências.
A primeira remissão ao princípio da precaução, como nos alerta Fabio Gonçalves Melo de Oliveira, ocorreu na Lei 9605 de 1998, no art. 54, parágrafo 3º, ao fazer referência ao crime de poluição.
Resumidamente, o princípio da precaução é a prudência ou a cautela para intervenção, liberação ou plantio de substâncias de que ainda não se conheçam as consequências para o meio ambiente e saúde humana.
O princípio da precaução foi adotado expressamente em nossa Carta Magna, ao determinar no caput do art. 225, o dever do Poder Público e o da coletividade de proteger e preservar o meio ambiente para os presentes e futuras gerações, como preleciona Celso Antonio Pacheco Fiorilo.
Por este princípio, deve-se agir com cautela quando existam dúvidas ou incertezas quanto ao dano que determinada atividade pode gerar. Não há certeza científica sobre o dano ambiental; suas consequências danificadoras são desconhecidas. Protege-se porque se desconhece o risco determinada atividade humana ou mesmo se existe o risco de determinada atividade ou empreendimento, pois não há estudos científicos conclusivos sobre isto, como apontam Fernanda L.F. de Medeiros e Marcelo H. da Rocha.
Em termos de Administração Pública, temos a aplicabilidade desse princípio por intermédio de licenças, sanções administrativas, fiscalização e das autorizações, entre outros atos do Poder Público, determinantes da sua função ambiental de tutela do meio ambiente, segundo Fiorilo.
PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO
Segundo Fabiano M.G. de Oliveira, com o acesso às informações ambientais, a participação comunitária na formulação das políticas ambientais é imperativa. Tal participação constitui-se em um dever jurídico, de acordo com o caput do art. 225, CF ao impor ao Poder Público e a coletividade o dever de proteger o meio ambiente para os presentes e futuras gerações; com tal participação isto se concretiza.
O princípio da participação, como preleciona Fiorilo, constitui-se ainda em um dos elementos do Estado Social de Direito, visto que todos os direitos sociais são a estrutura essencial de uma saudável qualidade de vida, ponto fundamental da tutela ambiental.
Pode-se desdobrar a participação comunitária em três aspectos, como explica Fabiano M.G. de Oliveira:
Na esfera administrativa – por meio de audiências e consultas públicas, participação nos órgãos colegiados (conselhos de meio ambiente) e o direito de petição aos órgãos públicos ambientais;
Na esfera legislativa – por meio de plebiscitos, referendos e a iniciativa popular de projetos, etc. (art. 14, CF);
Na esfera judicial – por meio de ações constitucionais, do mandado de segurança individual ou coletivo, da ação popular e da ação civil pública.
Ressalte-se que constituem-se em dois elementos fundamentais para a efetivação da tutela ambiental, a ação em conjunto da informação e da educação ambiental , como mecanismos de atuação.
Informação ambiental – arts. 6º,§3º e 10º. Da Política Nacional do Meio Ambiente e arts. 225,§1º, VI e 220 e 221, CF.
Educação Ambiental – art. 225,§1º, CF e art. 42 da Lei 4771/65 (Código Florestal).
PRINCÍPIO DA UBIQUIDADE
Tal princípio, também chamado de princípio da variável ambiental no processo decisório das políticas de desenvolvimento, tem por escopo demonstrar qual é o objeto de proteção do meio ambiente, ou seja, que a proteção ao meio ambiente encontra-se no centro dos direitos humanos; devendo ser levado em consideração em qualquer política, atuação, legislação sobre qualquer tema, atividade, etc. que for criada ou desenvolvida.
Isto ocorre porque a preservação da vida e especialmente da sua qualidade é essencial para a efetivação de todos os demais direitos.
Neste sentido, o princípio 17 da Declaração do Rio deve ser lembrado: “A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional, será efetuada para as atividades planejadas, que possam vir a ter um impacto adverso significativo sobre o meio ambiente e estejam sujeitas a decisão de uma autoridade nacional competente.”. 
Em termos da legislação ambiental pátria, a avaliação de impactos ambientais é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente e o EPIA/RIMA é uma de suas principais espécies.
PRINCÍPIO DO LIMITE
Este princípio, também denominado de princípio do controle do poluidor pelo poder público, segundo Édis Milaré “resulta das intervenções necessárias à manutenção, preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente”.
O princípio em tela é de grande valia para o direito ambiental e consiste na atuação do poder público, por meio de seu poder de polícia administrativa, limitando a atuação individual de devastação do meio ambiente, visando assegurar o bem estar da sociedade.
O princípio em questão está previsto na Constituição Federal de 1988, no art. 225, V, parágrafo 1º:
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incube ao poder público:
V- controlar a poluição, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.
De acordo com esse princípio, a administração deve fixar padrões de qualidade ambiental, como por exemplo, limite aceitável de emissão de gases pelos automóveis, limites de desmatamento em propriedades rurais a fim de assegurar o bem estar de toda a coletividade.
PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO

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