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PESSOA COM DEFICIÊNCIA: GÊNERO, DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS JULIANA DE SOUSA GOMES LAGE Professora Assistente da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/FND) DESMISTIFICANDO OS PRECONCEITOS SOBRE SEXUALIDADE E REPRODUÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Rian Hiney Maria Gabriela Andrade Demate Cíntia Carvalho Bento O QUE É SEXUALIDADE? "a sexualidade humana forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso. É energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e integrações, portanto, a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deve ser considerada como direito humano básico. A saúde sexual é a integração dos aspectos sociais, somáticos, intelectuais e emocionais de maneira tal que influenciem positivamente a personalidade, a capacidade de comunicação com outras pessoas e o amor". Organização Mundial de Saúde DIREITOS SEXUAIS Direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem violência, discriminações e imposições e com respeito pleno pelo corpo do (a) parceiro (a) Direito de escolher o (a) parceiro (a) sexual Direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e falsas crenças Direito de viver a sexualidade independentemente de estado civil, idade ou condição física Direito de escolher se quer ou não quer ter relação sexual (continua) DIREITOS SEXUAIS Direito de expressar livremente sua orientação sexual: heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade, entre outras Direito de ter relação sexual independente da reprodução Direito ao sexo seguro para prevenção da gravidez indesejada e de DST/HIV/Aids Direito a serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e sem discriminação Direito à informação e à educação sexual e reprodutiva Fonte: Direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais, Ministério da Saúde, Brasília/DF, 2006, p.4. SAÚDE REPRODUTIVA A saúde reprodutiva é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, em todos os aspectos relacionados com o sistema reprodutivo e as suas funções e processos, e não de mera ausência de doença ou enfermidade. A saúde reprodutiva implica, por conseguinte, que a pessoa possa ter uma vida sexual segura e satisfatória, tendo autonomia para se reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes deve fazê-lo. Implícito nessa última condição está o direito de homens e mulheres de serem informados e de terem acesso a métodos eficientes, seguros, permissíveis e aceitáveis de planejamento familiar de sua escolha, assim como outros métodos de regulação da fecundidade, de sua escolha, que não sejam contrários à lei, e o direito de acesso a serviços apropriados de saúde que deem à mulher condições de atravessar, com segurança, a gestação e o parto e proporcionem aos casais a melhor chance de ter um filho sadio. (NACIONES UNIDAS, 1995, anexo, cap. VII, par. 7.2) DIREITOS REPRODUTIVOS Direito das pessoas decidirem, de forma livre e responsável, se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas Direito a informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não ter filhos Direito de exercer a sexualidade e a reprodução livre de discriminação, imposição e violência. Fonte: Direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais, Ministério da Saúde, Brasília/DF, 2006, p.4. LEI 13.146 /2015 - ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Art. 8o É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico. LEI 13.146 /2015 - ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Art. 18. É assegurada atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os níveis de complexidade, por intermédio do SUS, garantido acesso universal e igualitário. § 4o As ações e os serviços de saúde pública destinados à pessoa com deficiência devem assegurar: VI - respeito à especificidade, à identidade de gênero e à orientação sexual da pessoa com deficiência; VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à fertilização assistida; LEI 13.146 /2015 - ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. § 1o A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. LEI 13.146 /2015 - ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Art. 6o A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; ESTERILIZAÇÃO CIRÚRGICA Lei 9263/96 – art. 10 § 6º A esterilização cirúrgica em pessoas absolutamente incapazes somente poderá ocorrer mediante autorização judicial, regulamentada na forma da Lei. CONCLUSÕES A regra é reconhecer e garantir que a autonomia privada ou autodeterminação dos direitos sexuais e direitos reprodutivos sejam exercidos, sem intervenção, por todas as pessoas com deficiência. E que, excepcionalmente, talvez possa ser aceito ainda algum tipo de discussão, que deverá ser judicializada, para os casos de graves deficiências, principalmente de natureza intelectual ou mental, quando alguma intervenção eventual for necessária. Nesse caso, a necessidade de intervenção deverá ser pautada precípua e exclusivamente no interesse e saúde da pessoa com deficiência e fundamentada pelo Princípio da Dignidade da pessoa Humana e pelo Princípio do Melhor Interesse da Pessoa com Deficiência. Muito obrigada!
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