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POLÍTICA, TÉCNICA, VEIO AMBIENTE E CULTURA

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POLÍTICA, TÉCNICA, VEIO AMBIENTE E CULTURA: A REESTRUTURAÇÃO DO MUNDO MODERNO
Três parâmetros essenciais da organização geográfica do mundo moderno, ao lado dos paradigmas, esgotam suas formas históricas e entram em fase de redefinição a reestruturação a partir dos anos 1970: a política, a técnica (e seu correlato, o meio ambiente) e a cultura. 
 A indústria generaliza este tipo de Estado por todos os países, crescendo e se consolidando em cada um deles junto com essa generalização, beneficiada pela implementação da infraestutura socioespacial que o Estado institui como norma de ação.
 A reforma neoliberal Uma metáfora nos ajuda a aclarar essa lógica. Imaginemos um escultor com um cinzel na mão diante de um bloco informe de pedra sabão. Aos poucos, o escultor vai dando à pedra contornos definidos de um corpo: aqui aparecem os dedos das mãos, acolá as pernas e os pés, mais adiante os traços de um rosto, até que por fim aparece o corpo inteiro. 
E a segunda, complementar da primeira, é a despatrimonialização, a política de transferir em leilões pela bolsa de valores a empresa pública ao sistema privado. A terceira é a desregulamentação, que faz a economia, agora no essencial privatizada, retornar ao sistema da regulação mercantil. 
A tecnologia característica é a máquina de fiar, o tear mecânico, o descaroçador do algodão. O ramo básico é o têxtil de algodão. O paradigma tem por referência as indústrias de Manchester, o centro têxtil por excelência do período na Inglaterra, que irá manter-se como pólo industrial de importância mesmo depois de este país entrar no período da segunda Revolução Industrial, quando as manchas industriais se multiplicam e muda o centro de gravidade da sua distribuição territorial. 
 O principal elemento dessa passagem é a criação do sistema do maquinismo e da divisão técnica do trabalho dentro da manufatura, que altera inteiramente a estrutura técnica e produtiva do artesanato e cria as bases para o surgimento da fábrica. 
A técnica da segunda revolução industrial caracteriza-se pela alta escala de concentração orgânica e territorial, acentuando os contrastes da distribuição de população e capitais entre cidade e campo inaugurados pelo período anterior. A energia elétrica libera a indústria dos anteriores constrangimentos de localização e dá abertura para uma expansão territorial sem limite, levando o mundo a industrializar-se como um todo. 
 A arquitetura da fábrica da segunda revolução industrial, alicerçada no fluxo da energia elétrica, favorece a implantação das regras do taylorismo: os prédios ganham um desenho externo e interno mais correspondente à nova função técnica da indústria, e os cabos elétricos substituem as polias, liberando área para melhor arranjo distributivo das máquinas e tornando a fábrica um ambiente mais arejado, iluminado e espaçoso.
Ao longo da esteira rolante, o automóvel é montado de uma ponta à outra, numa seqüência em que na ponta final o automóvel sai inteiramente montado. 
 E o seu veículo é a integração balcão-fábrica, uma relação introduzida pelo uso generalizado do computador nos serviços, com dado chave no kanban e no just-in-time. O kanban é um sistema de controle de informação, semelhante ao sistema de sinalização do trânsito, que orienta a reposição de mercadorias nas lojas, e, então, a relação entre a loja e a fábrica. Adotado primeiramente nos supermercados, e depois levado para a fábrica, modifica por inteiro a programação da produção.
A relação espacial que assim se estabelece entre o balcão e a fábrica altera como um todo a economia fordista. Os velhos problemas de custo e produtividade, equilíbrio entre produção e consumo, crise de superprodução e de subconsumo, que são conseqüência da produção padronizada, em série e massa (o sistema fordista aplicado como uma estratégia de domínio do mercado) são superados.
 O problema dos estoques, com sua repercussão nas taxas de custo, produtividade, lucro e vendas, praticamente desaparece. Mas essa reorganização que supera é igualmente a que recria os problemas: o nível alto dos investimentos se acentua e a economia centraliza-se em um número ainda menor de empresas, com um aumento do monopolismo. 
Vimos que nosso mundo realmente tem o seu quê de repetitivo. Ao dia sucede a noite, ao verão o inverno, ao velho o novo. Cada vez que se solta um objeto no ar, ele volta ao solo sempre no mesmo movimento de queda. Já na Antigüidade os gregos haviam notado a repetição nos ciclos. Mas ao lado da repetição os gregos também percebiam a diversidade. Tanto assim que a filosofia nasceu em face da pergunta suscitada pela constatação do uno e do múltiplo como realidade contraditória do mundo. Indagavam-se como pode o mundo ser ao mesmo tempo repetição e diversidade, identidade e diferença.
Vimos, nos capítulos anteriores, como se deu a dissolução da diversidade da natureza no filtro mecânico da repetição, mediante seu enquadramento no molde mecanicista da engrenagem da fábrica, e como isto resultou no conceito atual de natureza e homem, em beneficio do espaço e do tempo vistos como espaço-tempo do mercado. 
A repetição mecânica e a ordem social A finalidade é, porém, a constituição da ordem social moderna. Se a repetição é a incansável rotina do ciclo, é preciso haver algo cuja força seja.
O filósofo Jean-François Lyotard faz crítica da modernidade em sua obra O pós-moderno E Jules Deleuze e Félix Guatarri, um filósofo e um psiquiatra, localizam na desterritorialização do campesinato a origem da esquizofrenia e do capitalismo como um sistema social esquizofrênico em O Anti-Édipo. Todos mostram a percepção da transformação dos paradigmas que já neste momento avança em suas evidências empíricas. 
O mundo foge rapidamente da fisica para a biologia. Ou, mais precisamente, caminha de forma acelerada para o encontro da biologia casada com a nova fisica, a biologia molecular, e o encontro imediato desta com a bioengenharia. Há, entretanto, uma determinação do tempo. 
O capital necessita desfazer-se dessa forma material para voltar à forma liquida do capital-dinheiro e assim materializar-se nos tipos de artefato que venham a expressar a tecnologia da biorrevolução. E isto demanda tempo.