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Bim3-O_que_é_cultura.

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O que é Cultura? AULA N° 1 
PARA INÍCIO DE CONVERSA... 
 
Você já deve ter ouvido inúmeras vezes, em seu cotidiano, a palavra 
cultura. No linguajar comum, esta palavra está muito associada àqueles 
indivíduos que possuem um alto grau de estudo, de modo que é recorrente 
escutarmos: “Fulano é muito culto, já terminou a faculdade”, ou ainda, “Sicrano 
sabe falar quatro idiomas. Ele tem muita cultura”. Mas será que a cultura se 
refere apenas ao conhecimento que uma pessoa consegue construir ao longo de 
sua vida? 
Veremos que para a Sociologia a cultura é bem mais ampla do que isso, 
englobando, em linhas gerais, o modo de vida dos indivíduos e grupos de 
indivíduos no interior de uma sociedade. Assim, no decorrer desta e das 
próximas aulas, buscaremos aprofundar a discussão sobre o conceito 
socioantropológico de cultura, com os objetivos de problematizar a nossa própria 
sociedade e as maneiras pelas quais nela nos comportamos, como também 
refletir os porquês da diversidade de comportamentos humanos em outros 
arranjos societários. 
CULTURA 
(Uma façanha exclusivamente humana) 
 
 O principal distintivo entre os seres humanos 
e os outros animais é que os primeiros são os 
únicos produtores de cultura. 
 
Ruth Benedict, em seu livro “O crisântemo e a espada”, afirmou que a 
cultura é uma lente através da qual lemos, classificamos e compreendemos o 
mundo. Isto quer dizer que, a depender do ambiente sociocultural em que nasce e 
cresce o ser humano, este lê, classifica e compreende sua realidade a partir dos 
padrões culturais que os indivíduos, em interação e a cada momento histórico, 
elegeram como necessários à vida coletiva. Desse modo, pessoas de sociedades 
diferentes têm visões de mundo igualmente diferentes, tendo em vista a história 
da vida cultural de cada organização social, bem como os modelos educativos por 
meio dos quais foram formados os indivíduos. 
Esses padrões culturais, elaborados historicamente pelas interações 
humanas, agem através de inúmeros processos educativos, os quais orientam as 
maneiras de pensar, de agir e de sentir dos indivíduos, moldando seus 
comportamentos e os informando, desde o nascimento, quais as normas, os 
valores e as regras sociais que devem seguir para que sejam reconhecidos e 
aceitos como membros de determinado contexto sociocultural, isto é, de uma 
sociedade e de uma cultura em particular. Podemos considerar, a partir desse 
raciocínio, que é a ação cultural, predominantemente, – e não a nossa herança 
genética – que nos forma e nos caracteriza como animais diferenciados dos outros, 
ou seja, como animais exclusivamente culturais. 
 
 
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Não queremos negar, com isso, o aspecto orgânico da espécie humana, mas demonstrar que, 
apesar de caracterizar-se como um ser biológico – a exemplo de todos os outros animais –, 
necessitando realizar certo número de funções vitais para manter-se vivo, o ser humano, ainda assim, 
é um ser eminentemente cultural, tendo em vista a enorme variedade com que tais funções são 
exercidas nas mais diversas sociedades. A esse respeito, as palavras do antropólogo brasileiro Roque 
de Barros Laraia são esclarecedoras. Diz ele: 
Não se pode ignorar que o homem, membro proeminente da ordem dos primatas, depende 
muito de seu equipamento biológico. Para se manter vivo, independente do sistema 
cultural ao qual pertença, ele tem que satisfazer um número determinado de funções vitais, 
como a alimentação, o sono, a respiração, a atividade sexual etc. Mas, embora estas 
funções sejam comuns a toda a humanidade, a maneira de satisfazê-las varia de uma 
cultura para outra. É esta grande variedade na operação de um número tão pequeno de 
funções que faz com o homem seja considerado um ser predominantemente cultural. Os 
seus comportamentos não são biologicamente determinados. A sua herança genética nada 
tem a ver com as suas ações e pensamentos, pois todos os seus atos dependem inteiramente 
de um processo de aprendizado. 
 
Roque de Barros Laraia 
 In: “Cultura: um conceito antropológico”, Zahar, 2007, p. 37-8. 
 
O antropólogo estadunidense Clifford Geertz, em seu livro 
“A interpretação das culturas”, escreveu que os arranjos culturais 
são redes de significados através das quais os indivíduos 
compreendem e atribuem sentido ao seu mundo, o que nos leva 
a concordar com Max Weber – um dos fundadores da Sociologia 
– que o ser humano é um animal simbólico, amarrado a teias de 
significados que ele próprio teceu. Seguindo essa lógica, Geertz 
ainda nos revela que a cultura manifesta-se por meio de um 
conjunto de mecanismos simbólicos, criados por cada sociedade, 
para o controle do comportamento de seus membros. 
É a cultura, portanto, que nos torna humanos “sob a direção dos padrões culturais, sistemas de 
significados criados historicamente em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo e direção às 
nossas vidas” (GEERTZ, 2011, p. 37). 
É exatamente essa rede de significados que distingue o ser humano dos outros animais, posto 
que nenhuma outra espécie é capaz de produzi-la. Podemos, assim, reconhecer o fato de que o ser 
humano é o único animal capaz de atribuir sentido à sua existência através de uma rede de 
significados compartilhados denominada de cultura. Daí porque seja esta uma exclusividade 
tipicamente humana. 
Partindo dessa perspectiva, podemos afirmar, por fim, que por trás de todas as relações e 
práticas sociais que os indivíduos estabelecem e realizam no âmbito da sociedade em que vivem 
(crenças religiosas; ideias políticas; sistemas filosóficos; teorias científicas; atividades econômicas; 
tradições e costumes; vestuário e culinária; papeis sociais e valores morais; etc.) há um significado 
atribuído e compartilhado pela grande maioria das pessoas, de modo a garantir identidade e coesão 
ao tecido social em linhas gerais. 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
 
BENEDICT, Ruth. O crisântemo e a espada. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 
2011. 
 
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2011. 
 
LARAIRA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de 
Janeiro: Zahar, 2007. 
Anotações 
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