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1 Sensopercepção Adriano C. T. Rodrigues 2 Sensopercepção • Fornecedora do substrato para a constituição do psiquismo e nossa vida de relação. Através da sensopercepção o indivíduo é posto em contato com os elementos do mundo. • Dois elementos de difícil dissociação: a) sensação; b) percepção. 3 Sensação : fase não ativa 1o. Elemento - estimulação das vias sensoriais exteroceptivas, interoceptivas, proprioceptivas e a condução de tais estímulos ao SNC. 2o. Elemento – O efeito mais imediato de tais estímulos sobre o SNC. O fato mental mais imediato e mais básico, não inspecionado ou modelado. 4 • Percepção : fase ativa - Concretiza-se com a tomada de consciência de que a experiência vivida é a experiência de algo. Se dá através da ação do psiquismo, que analisa a sensação e assim constrói o mundo. - A percepção é sempre percepção de algo (ou está a serviço da revelação de algo). • Apercepção : - a experiência significativa do objeto. 5 Imagem perceptiva Representação Imaginação Tipos de Imagens Mentais 6 Imagem perceptiva (ou imag. perceptiva real): ● imagem formada a partir de objetos reais. Representação (ou imagem representativa): • cópia interna de objeto outrora alvo da sensopercepção. Imaginação: • imagens novas, originais, criadas a partir do acervo existente e da atividade cognitiva. 7 Imagem perceptiva real • Nitidez e corporeidade – contornos precisos, materialidade, cores, brilho. • Estabilidade – não se modifica a todo momento. • Extrojeção – é percebida pelo indivíduo como exterior a sua mente. • Ininfuenciabilidade – o indivíduo não pode, por vontade própria, transformá-la. Representação e imaginação • tipicamente destituídas das características da imagem perceptiva real. 8 Alterações da sensopercepção • Alterações quantitativas: - hiperestesias – Intensificação das impressões sensoperceptivas. Cores, sons, odores e sensações táteis tornam-se mais intensos e nítidos. Ex.: enxaquecas, epilepsias, intoxicações, mania, hipertiroidismo; - hipoestesias – O inverso. O mundo é sem cor, cinzento, envolvido numa bruma. Os sons parecem pouco claros e distantes. O paciente pode queixar-se de não sentir a si mesmo. 9 Alterações da sensopercepção • Alterações qualitativas: - ilusões percepção deformada de objeto existente e presente. Enquanto persiste o paciente pode acreditar na realidade das mesmas. - Originam-se, de modo geral, da desatenção ou de estados afetivos intensos. 10 Alterações da sensopercepção • Alterações qualitativas: - alucinações experiências de ‘percepção’ sem objeto. Têm as mesmas características sensoriais de uma imagem perceptiva real (à exceção da nitidez e corporeidade, algumas vezes). O indivíduo é envolvido pela alucinação e crê em sua realidade. Presentes na psicoses primárias, orgânicas e tóxicas, mas também nos transtornos do humor e dissociativos. 11 • Teorias sobre a gênese das alucinações: - projeção sensorial e alienação de material intolerável; - alucinação como um inner speech (não passa de uma descrição, já que por definição as alucinações verdadeiras incluem uma falha na capacidade de perceber como suas certas produções...uma falha na ‘consciência do eu’); - deaferentação (modelo da síndrome de Charles Bonnet); - Hiperarousal pela incapacidade cortical de fazer feedback negativo sobre o ‘portão’ talâmico está entre as teorias mais modernas. 12 Alterações da sensopercepção • Alterações qualitativas (cont.): - Alucinose percepção sem objeto, com as características de frescor sensorial típicas da imagem perceptiva real, mas sem que o indivíduo creia em sua realidade. Chamadas alucinações neurológicas (não há falha na ‘consciência do eu’). - Pseudo-alucinação Conceito distinto segundo diferentes autores. Também são percepções sem objeto, mas sem as características sensoriais de uma imagem perceptiva real (sobretudo a corporeidade e localização no espaço externo). O paciente ‘ouve’ e ‘vê’ a alucinação no espaço interno (subjetivo). Valor semiológico semelhante ao das alucinações. 13 • Semiotécnica: - O senhor tem presenciado ou ouvido coisas estranhas nos últimos dias? - Acontece de o senhor, sozinho, ouvir vozes que não poderiam vir de ninguém por perto? - Pedir que o paciente descreva. - Questionar se o fenômeno está no espaço externo e se o paciente crê na mesma (diferenciar alucinação da pseudo-alucinação e alucinose). - Observar a atitude do paciente, se ele desvia o olhar subitamente como se estimulado por alguma alucinação, se mussita ou se mostra alguma reação injustificada diante do momento presente. Memória 15 Memória • No contexto da psicologia e da psicopatologia, o termo memória se refere à função (na verdade um conjunto de processos) pela qual informações são registradas, conservadas e evocadas. 16 1 - registro ou fixação: a impressão em redes neurais; 2 - conservação, consolidação ou retenção: a manutenção ou estabilização das redes; 3 - evocação ou recuperação: o reencontro do arquivo. Obs: estes processos gerais são comumente chamados de ‘fases’, mas isso é discutível, já que estes processos são ora coincidentes, ora se repetem alternadamente. Processos envolvidos 17 Classificação segundo as instâncias cronológicas de armazenamento 1 – Memória sensorial, imediata, ultra-rápida ou de curtíssimo prazo: - é debatível se trata-se realmente de uma instância mnêmica ou fenômeno relacionado à durabilidade da experiência consciente; - caracteriza-se pela permanência de uma nova informação na consciência como em um buffer, não havendo, de fato, um ‘registro’; - basicamente envolve a consciência e a atenção (SRAA – córtex). 18 Instâncias cronológicas de armazenamento 2- memória recente ou de curto prazo (memória primária): - informações suficientemente duradouras ou importantes na instância anterior, posteriormente, são ‘de fato registradas’ nas estruturas mesiais temporais (no hipocampo, com auxílio de amigdala, córtex perirrinal e entorrinal, além do giro para-hipocampal); - inevitavelmente transitória (minutos a horas); - tem espaço limitado; - as estruturas neurais envolvidas têm suas conexõesquimicamente remodeladas com novas informações a todo momento. 19 Instâncias de cronológicas armazenamento 3 - Memória de longo-prazo (memória secundária): - Informações suficientemente importantes registradas na memória primária, sobretudo se re-evocadas, serão remetidas e impressas em áreas corticais associativas; - lá podem ou não permanecer por tempo prolongado; - espaço indeterminado. Obs: também é usado o termo ‘memória remota’, embora ele enganosamente remeta à idéia de que se trata de uma memória para fatos antigos. 20 - Conceito estreitamente correlacionado às memórias de curtíssimo prazo e de curto prazo. Trata-se um conjunto de processos voluntários que mantêm informações on-line, para uso imediato. Córtex pré-frontal tem papel preponderante. - A alça fonológica (envolvendo áreas de Broca e Wernick) é importante quando a informação é verbal. Córtex pré-frontal direito é importante quando se usa um ‘esboço visuo-espacial’. - A Working memory não é definida em termos temporais, mas pelo tipo de propósito (sua natureza operacional) e sistemas neurais envolvidos. Working memory ou memória operacional: 21 Classificação segundo a consciência do registro • A memória de longo prazo pode ser dividida em: • Memória explícita: há consciência do processo de registro, e aquilo que é consciente durante o registro é o próprio elemento registrado (memória declarativa). • Memória implícita: o registro se dá independente da consciência e, embora se possa recordar de quando certo conhecimento foi arquivado, esta recordação não se confunde o próprio elemento registrado. Ela permite ‘saber fazer, sem que saibamos como sabemos’ (memória não declarativa). 22 Classificação segundo a consciência do registro Tipos e exemplos de memória declarativa: • Memória semântica – ligada ao conhecimento dos fatos atemporais e coisas no mundo (córtices temporal e parietal). - Ex: nomes das coisas, significado de um sinal matemático, saber os nomes das cores, que Londres se localiza na Europa ou que gatos e cães não se entendem • Memória episódica – ligada a eventos (córtices temporal e frontal). - Ex: recordação da situação em que conhecemos os colegas, do dia em que se decorou um poema, recordação da aula em que aprendi certos conteúdos. 23 Classificação segundo a consciência do registro • Memória implícita ou não declarativa: - aprendizado de habilidades motoras e de procedimentos em geral como caligrafia, desenho, dança, andar de bicicleta, jogar vídeo games, falar um idioma com desenvoltura e usar a gramática correta com espontaneidade (memória procedural); - Condicionamento clássico e condicionamento operante. 24 Fatores intervenientes sobre o armazenamento e evocação das informações - nível de consciência e integridade sensoperceptiva - grau de atenção - estado afetivo e interesse - tempo de exposição ou número de re-evocações - complexidade da informação (compreensibilidade) - número de canais sensoriais envolvidos - conhecimentos prévios - número de associações envolvidas Obs: todos este fatores relacionam-se basicamente extensão e firmeza da rede neural envolvida. 25 As alterações da memória 1. Alterações quantitativas: - hipermnésias (em muitos casos, provavelmente, é apenas uma apresentação acelerada de conteúdos à consciência). - Mania e uso de psicoestimulantes. 26 1. Alterações quantitativas: - Hipomnésias: a rigor, o inverso da hipermnésia. Termo pouco utlizado. - Ocorrem nas depressões, ansiedade crônica, no uso de depressores do SNC e condições cursando com dano organo-cerebral. - Amnésias: podem se tanto por problemas com a fixação, como com a conservação e a evocação. 27 Amnésias: Anterógradas: do insulto pra frente. Retrógradas: do insulto para trás. Obs.: como regra, toda condição ‘orgânica’ capaz de causar amnésia retrógrada também vai causar amnésia anterógrada. Orgânicas: quase como regra, podem ser tipo específicas, mas ‘não são conteúdo-seletivas’. Psicogênicas: sem padrão definido, podendo simular uma amnésia orgânica, mas amnésias seletivas sempre são psicogênicas. 28 As alterações da memória 2. Alterações qualitativas: • Ilusões mnêmicas (deformação de uma recordação real); • Alucinações mnêmicas (recordação de algo que não ocorreu); • Confabulação (preenchimento de lacunas mnêmica); • Criptomnésia (toma-se o recordado por fato novo). 29 Semiotécnica da memória Memória imediata: • pedir para repetir uma seqüência de números (digit span) ou palavras imediatamente (enunciar poucos números e rapidamente). Memória de curto prazo: • contar uma história, uma seqüência de palavras ou números, e pedir ao paciente que repita após alguns minutos. Working memory: • tarefas em seqüência; digit spam (mais números e mais lento). 30 Semiotécnica da memória Memória semântica: • apresentar alguns objetos ao paciente e pedir que nomeie; • testar conhecimentos gerais (Ex.: qual o animal que dá o leite?); • teste de geração de palavras; • descrever um objeto a partir do nome (e vice versa). Memória episódica: • perguntar o que comeu no almoço no dia anterior; • pedir que descreva o que fez no último fim de semana; • Pedir que narre os últimos eventos da novela. • Pode ser necessária a confirmação a partir dos convivas do paciente. • Não testar apenas fatos muito remotos (podem exigir ↑ ou ↓ dano).
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