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Material de Aula Patrimônio Histórico

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Patrimônio
AULA 01 – 17/08/2013 – O que é Patrimonio histórico brasileiro
Introdução
Nesta aula, identificaremos as alterações na concepção de patrimônio histórico, acompanhando a trajetória deste conceito não só no Brasil, como também no contexto mundial. Bons estudos!
OBJETIVOS DA AULA
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Definir os elementos que compõem o patrimônio histórico;
2- Distinguir entre os diversos tipos de patrimônio;
3- Reconhecer a importância do patrimônio histórico na cultura nacional.
Atualmente, é comum vermos, em jornais, revistas e programas de TV, inúmeras referências ao patrimônio histórico – desde e sua necessidade de preservação até a demanda para que algumas manifestações culturais sejam consideradas patrimônios.
Embora esteja na pauta do dia, as questões concernentes ao patrimônio histórico e cultural de uma nação ainda são nebulosas.
• Qual sua definição?
• Por que razão um determinado bem pode ser tombado e outro, não?
 
• Por que existem cidades consideradas patrimônios da humanidade? 
• Estas são algumas questões que abordaremos nesta aula.
Definição de patrimônio histórico
Primeiro, vamos começar nos detendo sobre as definições de patrimônio histórico. Tradicionalmente, quando falamos em patrimônio, automaticamente pensamos em bens físicos: imóveis, museus, monumentos.
Hoje, porém, a definição de patrimônio é muito mais abrangente do que há cinquenta anos. Ela é fruto de um conjunto de saberes e não só da sua importância histórica.
A palavra patrimônio vem do latim patrimonium, e quer dizer, em sua essência, “herança paterna”.
De modo geral, o termo remete a legado, e desta maneira, podemos entender patrimônio, grosso modo, como bens – materiais, imateriais e ambientais – legados a uma civilização e que fazem parte da formação de uma identidade nacional.
Ainda que a preservação da memória tenha sido uma característica que remonta a civilizações da antiguidade, as práticas públicas para a preservação do patrimônio são relativamente recentes e ganham destaque na idade contemporânea, logo após a Revolução Francesa.
Vamos marcar bem esta diferença: memória e patrimônio. É claro que um conceito está ligado a outro, mas são definições diferentes.
Sociedades antigas, como a grega e a romana, preservaram parte de sua memória, especialmente através de documentos escritos e monumentos.
Como exemplo de documentos, podemos citar os poemas Ilíada e Odisseia, de Homero, que recuperam fatos históricos e mitológicos da Grécia antiga e a Guerra do Peloponeso, de Tucídides, também sobre a Grécia clássica.
A descrição dessa guerra, suas táticas e avanços são, até hoje, estudadas por especialistas em estratégia militar e por pesquisadores do campo das relações internacionais.
Entretanto, embora a noção de memória seja antiga e considerada importante para o desenvolvimento de um povo, o mesmo não acontece com a noção de patrimônio.
Patrimônio histórico e cultural
Hoje, entendemos patrimônio como fundamental para o entendimento e a preservação da cultura de uma civilização. Daí as iniciativas para compreendê-lo, defini-lo e preservá-lo.
O entendimento tradicional de patrimônio teve como característica sua setorização: patrimônio arqueológico, patrimônio antropológico, histórico, ambiental e assim por diante. 
Estudos recentes, no entanto, tendem a mudar esta concepção, entendendo patrimônio como um conceito amplo e não setorizado. Por isso a noção global de patrimônio histórico e cultural, que engloba diversas áreas e setores de conhecimento.
Elementos do patrimônio cultural
Um dos mais importantes teóricos de nosso tempo, da área de museologia, Hugues de Varine Boham propõe que patrimônio cultural englobe três tipos de diferentes elementos, que irão compor sua definição:
ELEMENTOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL
Elementos naturais
São aqueles referentes à natureza, clima e meio ambiente. Um rio, a vegetação, a fauna e a flora locais, todos estes fatores constituem elementos que compõem o patrimônio cultural.
Se hoje, no século XXI, há uma preocupação cada vez maior com a causa ecológica, nem sempre essa consciência existiu. Tantas expressões como energia renovável, sustentabilidade, reciclagem, entre outros, que fazem parte de nosso vocabulário corrente, são de fato práticas muito recentes.
Somente na década de 1980 podemos verificar a existência de uma preocupação real com o meio ambiente e com sua preservação e, portanto, com a compreensão de que o ambiente também é um fator determinante para a formação dos patrimônios culturais.
A Historiografia recuperou os fatores naturais como importantes para a compreensão de uma sociedade um pouco antes da Museologia. O historiador Fernand Braudel, em sua tese sobre o Mediterrâneo, já apontava a importância da Geografia e do meio ambiente na formação.
Vejamos alguns exemplos: o tipo de clima influencia no vestuário, nos hábitos alimentares e nos costumes sociais dos indivíduos.
O acesso a outras cidades, a proximidade de mares e rios, a existência de serras, planaltos, planícies, o isolamento das cidades que se formam em vales, todos estes fatores constituem elementos naturais e, por influenciarem diretamente a sociedade, fazem parte de seu patrimônio cultural.
Elementos técnicos
São aqueles ligados ao conhecimento. Dos três pontos propostos por Varine Boham, este talvez seja o que requeira maior atenção e cuja extinção é verificada em muitos aspectos.
Podemos citar como exemplo as práticas e o conhecimento das sociedades indígenas: medicina, artesanato, vestuário.
Muitas destas técnicas – na manipulação de ervas para fazer medicamentos, na maneira de misturar barro, argila e outros materiais para esculpir uma escultura, na elaboração de um tipo específico de tinta para pintar um painel ou um tecido – desapareceram com essas sociedades.
Daí a importância de preservar, hoje, técnicas que, devido à massificação e à produção em série de diversos artigos fundamentais, tendem a desaparecer.
Vamos marcar bem a diferença: o elemento técnico, que constitui parte importante do patrimônio cultural é a maneira de fazer a cerâmica – técnica, manipulação dos materiais, decoração – o resultado desta técnica, ou seja, a cerâmica em si – o vaso, a escultura – caracteriza-se como a última parte que compõe o patrimônio cultural, o artefato.
Artefato
Segundo o arquiteto Calos A. C. Lemos:
O terceiro grupo de elementos é o mais importante de todos porque reúne os chamados bens culturais, que englobam toda sorte de coisas, objetos, artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer.
Aliás, a palavra artefato talvez devesse ser a única a ser empregada no caso, tanto designando um machado de pedra polida como um foguete interplanetário ou uma igreja ou a própria cidade em volta dessa igreja.
(LEMOS, 2010, p. 10)
Ressalta-se: O resultado do elemento técnico, ou seja, o vaso, a escultura p. ex., é o que compõe o artefato.
Patrimônio imaterial
É importante frisar que falamos até agora do patrimônio material, físico, que pode ser entendido e definido a partir das categorias que vimos. Mas há também o patrimônio imaterial, que veremos adiante.
O patrimônio imaterial é composto por elementos intangíveis, ou seja, que não são objetos. Pode ser desde uma técnica de produção artesanal – neste caso, o conhecimento – até festas ou manifestações culturais que dizem respeito à memória de um grupo ou de uma sociedade.
Atenção: o patrimônio imaterial é a técnica da produção do acarajé, e não o prato em si.
No Brasil, temos vários patrimônios imateriais, como as cavalhadas; a Festa do Divino, característica do estado de Goiás; e a copeira, que mescla dança e artes marciais, herança da cultura africana.
Também a culinária se destaca como patrimônio imaterial. As comidas típicas do estado da Bahia entram nesta classificação, como as técnicas para fazer o acarajé, um bolo frito e recheado, cujo principalingrediente é o feijão fradinho.
Troca cultural: parte do patrimônio cultural brasileiro
As ciências humanas ocupam um papel privilegiado na definição de patrimônio. Dessa forma, cada patrimônio nacional é singular e único, fruto da experiência histórica de cada país ou nação.
Na América, as heranças coloniais permitiram o surgimento de novos modelos de sociedade que fazem parte do patrimônio cultural americano.
Ao chegarem às terras brasileiras, os portugueses encontraram diversas tribos indígenas, cada uma com um funcionamento próprio.
No Brasil, a partir do século XV, temos a presença portuguesa naquela que seria a maior colônia lusa, e por isso também chamada de América portuguesa.
É interessante comentar que os portugueses começaram a  escravizar os grupos indígenas de forma sistemática, entretanto tiveram muitos empecilhos; a oposição dos jesuítas, que os queriam catequizar e a dispersão dos índios pelo território bem conhecido, mas além disso, e principalmente, por não possuírem imunidade às doenças levadas pelos europeus, aos poucos os índios começavam a ficar doentes, incapacitados e morriam. Há relatos de que, por volta de 1562, duas epidemias dizimaram quase 60 mil índios. Assim, os portugueses sentiram a necessidade de  buscar outra mão de obra barata a sua colonização, começaram a traficar negros de diversas regiões para o Brasil.   
Há hoje um esforço para recuperar este patrimônio, seja na valorização da história do Brasil, seja buscando a reconstituição dos hábitos e modo de vida dos colonos, negros, índios, holandeses, franceses e todos que compuseram nossa rica miscigenação.
Podemos perceber mais apuradamente como funcionava a sociedade à época do Brasil-Colônia através das pinturas de Jean Baptiste Debret, produzidas durante a ‘Missão Artística Francesa’ (1816), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou pintura.
A voltar à França, em 1831, publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839), documentando aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira no início do século XIX.
Uma de suas obras serviu como base para definir as cores e formas geométricas da atual bandeira republicana, adotada em 19 de novembro de 1889.
http://www.youtube.com/watch?v=RQ7BK_4vdAc&list=PLB2F757F0BC01F59A
Novos patrimônios
Mas isto não quer dizer que bens ou artefatos históricos são apenas aqueles ligados a uma história secular, como é o caso do Brasil colônia.
Com a industrialização brasileira sendo retomada de forma sistemática pelo estado, a partir da Revolução de 1930, surgiram novos patrimônios. Trata-se dos patrimônios urbanos e arquitetônicos, como o Palácio Capanema, no Rio de Janeiro, e a cidade de Brasília.
Podemos concluir, então, que patrimônio histórico e cultural são bens, manifestações e técnicas que representam um povo ou que constituem um elemento essencial na formação da identidade nacional.
Conceito de  cultura
Em um mundo globalizado, estas noções têm caído em desuso e passam a ser desconsideradas como teoria válida para o entendimento cultural.
Porém, o caminho foi longo e ainda está sendo percorrido. De tempos e tempos, vemos nos jornais e revistas exemplos de preconceitos, sejam de origem, sejam de classe social ou etnia.
Embora as culturas das civilizações humanas sejam diferentes entre si, não existe uma hierarquia de culturas. Ou seja, umas culturas não são melhores ou piores que as outras. A valorização das técnicas de produção artesanal e seu entendimento como parte do patrimônio histórico e cultural são um exemplo disso.
Podemos juntar a elas as histórias contadas ao longo dos séculos, como os contos de fada, cuja origem é camponesa, mas que faz parte da tradição oral europeia e são conhecidos no mundo todo.
O que percebemos é que há uma sofisticação na definição de patrimônio, que passa do particular para o geral, deixa de ser regionalizado para se apresentar como nacional.
Por mais que a cerâmica marajoara esteja ligada a uma região brasileira específica, ela faz parte da cultura nacional, como nossa comida, danças folclóricas e músicas de todo o país.
Por muito tempo, apenas a cultura das classes dominantes foi valorizada. É por isso que é mais provável hoje encontrarmos resquícios da cultura portuguesa no Brasil, do colonizador europeu, do que das culturas indígena e africana, consideradas culturas subalternas ou primitivas.
Há, neste sentido, um forte etnocentrismo nesta concepção. Os europeus viam nos indígenas e nos africanos uma cultura selvagem e primitiva, que deveria ser erradicada ou “civilizada” de acordo com os padrões europeus.
Preservação do patrimônio histórico
Agora, que já definimos e entendemos os elementos que compõem o patrimônio histórico, surge uma nova questão: como fazer para preservá-lo?
A industrialização crescente expandiu sobremaneira as cidades. Muitos prédios, tanto coloniais quanto imperiais, foram englobados e absorvidos por estas cidades.
Alguns foram recuperados e foram adequados a novos usos. É o caso das residências imperiais no Rio de Janeiro, o palácio da Quinta da Boa Vista e de Petrópolis, que hoje abrigam museus.
Outros simplesmente desapareceram, fruto do abandono e da especulação imobiliária, como diversos casarios do centro desta mesma cidade.
Agora, que já definimos e entendemos os elementos que compõem o patrimônio histórico, surge uma nova questão: como fazer para preservá-lo?
Precisamos atentar que a expansão urbana e a construção de novas habitações são necessárias, não sendo males em si. Mas a falta de políticas públicas efetivas é o maior responsável pelo desaparecimento de inúmeros bens culturais do país.
O Brasil não é um caso isolado.  Os problemas na conservação dos patrimônios históricos atingem todas as nações.
Alguns eventos tornam estes problemas mais evidentes, como foi o caso da I Guerra Mundial. Ao fim deste conflito, foi formada a Liga das Nações uma união de países que tinha, entre outros objetivos, evitar que uma nova guerra eclodisse na Europa.
Importância da Liga das Nações
A função primordial da Liga fracassou, já que em 1939 começou a II Guerra Mundial. Mas esta instituição deixou um legado fundamental para o nascimento de uma das mais importantes instituições de nosso tempo: a Organização das Nações Unidas – a ONU –, que viria a substituir a Liga das Nações.
Apesar de sua curta existência, a Liga das nações teceu uma série de inciativas, não só políticas, mas também intelectuais, e foi fundamental para a concepção de preservação do patrimônio histórico.
Em 1921, é criada a Organização Internacional de Cooperação Intelectual (OICI). Sobre ela, Letícia Pumar Alves de Souza estabelece que:
Segundo os documentos oficiais, essa organização procurava “...desenvolver a colaboração dos povos nos domínios da inteligência, a fim de assegurar o bom  entendimento internacional para a salvaguarda da paz”, e era composta de uma  Comissão Internacional de Cooperação Intelectual (CICI), um Instituto Internacional de Cooperação Intelectual (IICI) e 45 Comissões Nacionais.
A CICI foi criada em 1921 e a primeira reunião foi realizada em outubro de 1922, em Genebra. Seus membros eram escolhidos pelo Conselho da Liga das Nações e eram responsáveis por dirigir os trabalhos e controlar todas as atividades referentes ao projeto de cooperação intelectual.
(SOUZA, Leticia Pumar Alves de, 2011)
SÍNTESE DA AULA
Nesta aula, você:
Listou os diversos tipos de patrimônio existentes;
Estabeleceu a importância das leis para a preservação patrimonial;
Avaliou a contribuição das ciências humanas e da educação para a definição e preservação do patrimônio histórico e cultural.
RELEMBRANDO
1 – Uma das mais importantes teorias contemporâneas para a distinção dos elementos que compõem o patrimônio foi elaborada por Hugues de Varine Boham.
2 – São exemplos de bens naturais o rio Amazonas, clima tropical,floresta equatorial e a mata Atlântica.
3 – Podemos citar como exemplos de patrimônio imaterial a técnica de confecção da cerâmica marajoara no Pará, capoeira, Festa do Divino, de Goiás e as técnicas de produção do queijo artesanal de Minas Gerais.
4 – A crença na desvalorização de uma cultura e a superioridade de outra é chamada de etnocentrismo
5 – Um dos mais importantes órgãos internacionais que legislam sobre o patrimônio é a UNESCO.
AULA 02 – Patrimônio Latino-americano
Introdução
Nesta aula, veremos o contexto histórico da América Latina para entendermos a relação entre a realidade socioeconômica latino-americana com as práticas de identificação e preservação do patrimônio histórico do continente.
OBJETIVOS DA AULA
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Diferenciar os diversos tipos de patrimônios latinos;
2- Relacionar argumentos para compreender a mudança na concepção patrimonial do continente;
3- Avaliar a importância da trajetória histórica latino-americana para a questão patrimonial.
Ampliando o sentido de patrimônio
Na aula anterior, vimos à definição de patrimônio e entendemos que o principal órgão internacional para identificação e preservação patrimonial é a UNESCO.
Além dos patrimônios nacionais, que são importantes especificamente para a compreensão e preservação da memória de um povo ou civilização específica, existem os patrimônios mundiais.
No caso de patrimônios mundiais, o sentido de patrimônio transcende a geografia porque este bem não é importante somente para a sociedade que o abriga, mas para a história da sociedade humana como um todo.
Com relação aos patrimônios naturais, bens traçam a evolução das sociedades e civilizações, cuja preservação é de interesse comum. São exemplos os pré-históricos, como cavernas e pinturas rupestres ou grande monumento como os “moais” da ilha da Páscoa, no Chile.
O objetivo principal da UNESCO, que existe desde a década de 1940, sempre foi à preservação patrimonial. Entretanto, a ideia de patrimônio da humanidade surgiu depois dos anos 40, e teve um fato concreto que motivou sua criação.
Em 1959, o governo do Egito tinha como projeto a construção da represa de Assuã, no rio Nilo. Construir esta represa significava inundar uma enorme parte do vale sagrado, que continha tesouros arqueológicos inestimáveis.
Criou-se um impasse, pois a construção da represa era importante para a economia egípcia, mas a preservação destes bens era importante para a memória da humanidade.  
Em maio de 1960 ocorreu um grande terremoto no Chile, (9.5 na escala Richter), que provocou um enorme tsunami, danificando os moais que estavam caídos pela ilha da Páscoa. O governador da ilha então anunciou num programa de tv japonês, que precisava de um guindaste para restaurar os moais. 
Uma empresa japonesa, então, não só doou um guindaste como disponibilizou todo apoio técnico à realização do projeto tendo ainda, o governo japonês, arcado com o custo do referido projeto, despendendo o equivalente a US$ 2 milhões de dólares.
Entre o interesse econômico, particular do país, em construir a represa e o interesse  coletivo, mundial, de preservação da história da humanidade temos que ter em mente, que uma questão não pode superar a outra.
A função da preservação patrimonial não é impedir o desenvolvimento nacional. Este desenvolvimento deve ser realizado considerando o dano que será causado aos patrimônios arquitetônicos e naturais.
Isso quer dizer que o prejuízo patrimonial deve ser um fator determinante para a elaboração de um projeto urbano ou arquitetônico, como a abertura de um metrô, a construção de pontes, a derrubada de prédios etc.
O caso da represa de Assua é emblemático. O governo egípcio entendia a importância histórica do vale, mas não poderia abrir mão da construção da represa. Para termos ideia, uma das obras arquitetônicas que ficaria sob as aguas é o templo de Abu Simbel. 
Considerado pelos arqueólogos um dos mais belos templos da antiguidade, a perda de Abu Simbel para a inundação da represa seria desastrosa.
No século XVIII a. c. o faraó Ramsés II, um dos mais famosos da História do Egito, mandou construir um enorme templo dedicado a sua esposa, Nefertari. Durante vinte anos, arquitetos e operários construíram dois templos, esculpidos na rocha, dedicados aos deuses egípcios e ao faraó e sua esposa.
Você deve estar se perguntando qual foi à solução tomada para permitir que a construção da represa acontecesse e conciliasse com a preservação do templo de Abu simbel...
Com o apoio e o financiamento de 50 países, o templo inteiro foi desmontado e reconstruído, pedra por pedra, em um lugar mais alto, para que não fosse atingido pelas águas de Assuan. 
Essa iniciativa conjunta, que arrecadou milhares de dólares, demonstrou a importância da preservação patrimonial e a consolidação da ideia de patrimônio da humanidade. 
Ainda hoje, a UNESCO busca recuperar outros tesouros, como esculturas, que não puderam ser salvos na década de 1960 e acabaram sendo inundados pela represa. 
Devido à importância dessas iniciativas, o governo do Egito se envolveu diretamente na ação preservacionista. 
Exemplo brasileiro
No Brasil, na década de 1970, a construção de um açude na Bahia inundou a região que havia sido ocupada por Canudos, cuja guerra, ocorrida na República Velha, é parte importante da história e tema de uma das principais obras de nossa literatura: o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha.
“Grande era a Canudos de meu tempo; quem tinha roça tratava da roça, na beira do rio; quem tinha gado, tratava do gado; quem tinha mulher e filhos, tratava da mulher e dos filhos; quem gostava de rezar ia rezar; de tudo se tratava porque a ninguém pertencia e era de todos, pequenos e grandes, na regra ensinada pelo peregrino”. Euclides da Cunha.
Assista vídeo sobre a guerra de Canudos http://www.youtube.com/watch?v=awKR-jn4R3A
A inundação de Canudos ocorreu sem que o poder público se dispusesse a pensar alternativas como a que fora utilizada no Egito e, dessa forma, parte de nossa historia se perdeu. 
Somente na década de 1990, com a seca de parte do açude, algumas ruínas que pertenciam ao arraial de Canudos despontaram e puderam ser estudadas.
Neste caso, podemos ver uma enorme diferença em relação ao pensamento de preservação patrimonial. Vamos refletir sobre isso. As ruínas da antiga igreja de Canudos ressurgem após o recuo das águas do açude Cocorobó.
O que é exatamente preservação patrimonial?
Em um primeiro momento, quando pensamos em patrimônio, nossa ideia inicial nos remete a algo de importância histórica evidente. 
Mas, como estudamos, não são só os patrimônios históricos que são relevantes, mas também os patrimônios naturais e imateriais. 
Não há nenhuma discordância quanto à importância da preservação de bens culturais em locais que abrigaram as grandes civilizações da antiguidade, como Egito, Iraque, Irã, Roma e Grécia, não é mesmo? Mas e quanto a lugares cujas civilizações foram vistas durante séculos como bárbaras ou selvagens?
Esse problema atinge diversos países, especialmente os que foram colônias em algum momento, como os países africanos e latinos.
Patrimônio versus colonização
Por muito tempo, o paradigma de civilização era europeu, em uma perspectiva etnocêntrica. 
Quando os europeus chegaram ao continente americano, obviamente, não viram que estas civilizações “encontradas” por eles eram donas de sua própria rica e única cultura, viram-nas como bárbaras, que deveriam ser civilizadas e cristianizadas.
Devemos compreender que esta era a dinâmica da colonização. Mas essa dinâmica criou um paradoxo.
Por um lado eliminou grande parte da cultura indígena local e por outra criou uma nova cultura, latina, com a mistura de diversos elementos, indígenas, europeus e africanos.
Pois, quando os negros africanos foram trazidos para as colônias para servir como mão de obra trouxeram consigo uma parte de sua cultura, fazendoda mestiçagem e da cultura latinas uma das mais diversas do planeta.
Questão identitária
A intensa miscigenação, cerne da identidade cultural do continente, gerou os mais diferentes modelos de identidades nacionais. 
Apesar disso, não podemos atribuir somente ao passado colonial a dificuldade em estabelecer uma identidade nacional nestes países. As treze colônias britânicas que deram origem aos Estados Unidos possuem uma forte identidade nacional, mesmo tendo sido colônias.
Tampouco podemos dizer que a origem do colonizador é a grande diferença, pois os Estados Unidos foram colonizados pela Inglaterra, mas a Guiana e Belize também. Entretanto, suas identidades nacionais são profundamente diferentes. 
A França colonizou o Canadá e o Haiti, e não poderiam existir, atualmente, dois países mais distintos em todos os aspectos. 
 
Assim, podemos concluir que a colonização é um aspecto dentre vários, que fazem parte da construção de uma identidade e, por conseguinte, de uma memória nacional.
Talvez o maior problema para a preservação dos patrimônios africanos e indígenas na América esteja ligado à maneira como as elites brancas, que se consolidaram no poder a partir da independência destas colônias, no século XIX, encaravam suas representações culturais e identitárias. Pois, foi à cultura branca e europeia que passou a ser valorizada e as heranças dos demais povos, assim, foram suprimidas ou apagadas. 
Teorias do racismo científico
Em muito contribuiu para esta forma de pensar as teorias do racismo científico, aplicadas, especialmente, na criminologia e no direito.
No século XIX, o médico italiano Cesare Lombroso se dedicou a estudar a delinquência, baseada em critérios raciais. Segundo suas teorias, fundamentadas em estudos biológicos, os negros e pardos, por sua constituição biológica, eram mais propensos à violência e ao crime. Tese que explicaria a miséria e a criminalidade — problemas constantes na América Latina.
Porém, a teoria de superioridade racial defendida por Lombroso não era uma novidade. A escravidão africana foi defendida durante séculos partindo do pressuposto da inferioridade da etnia negra.
No século XIX, o imperialismo europeu dominou os continentes africanos e asiáticos se valendo dos princípios da superioridade branca.
As guerras étnicas são ainda um mal que aflige todo o mundo, como os conflitos em países africanos ou no Leste Europeu.
Estas teorias raciais do século XIX ― embora, hoje, à luz da Ciência nos pareçam absurdas — serviram para conformar todo o pensamento de uma época e nos ajudam a compreender o descaso com que o patrimônio latino foi tratado pelas elites dominantes. 
Porém, como vimos nos exemplos anteriores, este não é um problema que atinge somente a América Latina.
A recuperação do patrimônio entra em jogo
Em meados do século XX em diante, há um esforço para que este patrimônio seja recuperado. A partir daí, não só as culturas indígenas e africanas tem sido revalorizadas, mas também a contribuição dos diversos povos que migraram para a América após o século XIX. 
Pela estrutura econômica montada durante a colonização pelos ibéricos, as colônias latinas, submetidas ao pacto colonial, desempenhavam o papel de economia complementar à economia metropolitana. 
Isso quer dizer que a economia que se desenvolvia nestas regiões deveria servir aos interesses das metrópoles, aos quais estavam indissociavelmente ligadas. Assim, a agricultura foi, durante séculos, o esteio econômico da colônia.
A plantation, baseada no latifúndio e na monocultura, ligada à agroexportação, se manteve como característica da América latina, mesmo depois da independência. Esta estrutura gerou questões importantes com relação à posse de terra, que se mantem até os dias atuais.
A propriedade era privilégio de poucos indivíduos, próximos às cortes e, portanto, figuras importantes que constituíam uma elite. Dessa forma, o indivíduo ao qual era concedida a terra passava a pertencer a essa elite.
Na América portuguesa a terra era distribuída a fidalgos, nobres ou homens próximos da corte. Na América Espanhola, havia a possibilidade desta terra ser concedida aos primeiros colonizadores que se tornavam governadores da região que desbravavam. 
A pequena propriedade era praticamente inexistente, pois era necessário produzir grandes quantidades de gêneros agrícolas para exportação. Assim, os latifúndios se dedicavam a um único gênero, como o café ou o açúcar.  
Quando acontece a independência, essa estrutura não muda. Por quê? Porque os criollos, descendentes de espanhóis que fizeram a independência, eram justamente os donos destas terras e não tinham nenhum interesse em alterar esta estrutura.
Reformas urbanas
Entre os anos 1930 e 1950, com as crises do mercado exterior, o continente passou a sofrer uma industrialização sistemática. Quando isso ocorreu, o foco imediato foi às reformas urbanas, que ocorreram em diversos centros e em especial, nas capitais.  
Especialmente a crise de 1929, que arrasou as economias latinas, já que diminuiu drasticamente o número de compradores estrangeiros.
Estas reformas desconsideraram o patrimônio local e demoliram inúmeras obras arquitetônicas, como casarios , importantes para a preservação da memória nacional. 
Isso também se deu porque não havia um entendimento de que estes casarios, imóveis e bens constituíam de fato um patrimônio.
A ideia de patrimônio atualmente
A própria ideia de patrimônio mudou muito nos últimos cem anos. 
Eles deixaram de ser somente históricos e, portanto, restritos a monumentos ou palácios, para se tornarem culturais, ou seja, foram generalizados. O que contribuiu e muito para a adoção de novas leis e práticas preservacionistas.
Cartas patrimoniais
A principal contribuição para a identificação e preservação dos bens latino-americanos foram às cartas patrimoniais, produzidas em diversos lugares do mundo e que compõem as legislações adotadas pela UNESCO.
Nas normas de Quito, é reconhecido o problema criado com as reformas urbanas e o prejuízo que estas causaram aos bens patrimoniais dos diversos estados em que ocorreram. 
Neste documento, é estimulada a participação e atribuída uma enorme parcela de responsabilidade ao Estado, que deve zelar pelo patrimônio nacional. 
“Grande número de cidades ibero-americanas que entesouravam, num passado ainda próximo, um rico patrimônio monumental, evidência de sua grandeza passada ― templos, praças, fontes e vielas, que em conjunto, acentuavam sua personalidade e atração — tem sofrido tais mutilações e degradações no seu perfil arquitetônico que se tornam irreconhecíveis Tudo isso em nome de um mal entendido e pior administrado progresso urbano. 
Não é exagerado afirmar que o potencial de riqueza destruída com esses atos irresponsáveis de vandalismo urbanístico em numerosas cidades do continente excede em muito os benefícios advindos para a economia nacional através das instalações e melhorias de infraestrutura com que se pretende justificar.”
Em Amsterdã, percebemos, na prática, a ampliação do que é considerado patrimônio. A partir deste documento passou a abranger bairros ou cidades inteiras.
“A reabilitação dos bairros antigos deve ser concebida e realizada, tanto quanto possível, sem modificações importantes da composição social dos habitantes e de uma maneira tal que todas as camadas da sociedade se beneficiem de uma operação financiada por fundos públicos”.
Visite o portal IPHAN e leia as normas.
http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=246
O turismo
Estas disposições e outras contidas nas diversas cartas patrimoniais auxiliaram na compreensão e no tombamento dos patrimônios nacionais latinos. 
 
Além disso, o estudo destes patrimônios e sua preservação trouxeram uma nova fonte de renda para estes países: o turismo.
Com a globalização e o acesso à informação pelos mais diversos meios, como a internet, o turismo tende, também, a se globalizar. 
 
Embora algunsdestinos permaneçam como os mais visitados do mundo há décadas, como as cidades europeias de Paris e Roma, o investimento no patrimônio histórico é uma importante porta de entrada de divisas através do turismo.
O que vivenciamos é uma diversidade de interesses. Com a competitividade de setores importantes na área turística ― como o setor de passagens aéreas — os patrimônios latinos constituem fonte de investimento dos estados.
Convenção do Patrimônio Mundial
Em 2006, foi realizada a Convenção do Patrimônio Mundial, no qual 183 países assinaram o documento. 
 
Estes países podem solicitar a UNESCO o tombamento de determinado patrimônio que será então avaliado e dado inicio ao processo de tombamento.
Tombamentos da década de 1980 - Parque Nacional Los Glaciares
Na esteira da ampliação do entendimento de patrimônio podemos citar o tombamento, em 1981, do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina.
Com mais de 7000 km², o parque foi criado na década de 1930, mas só na década de 1980 foi considerado patrimônio da humanidade. 
Isso inclui não só a paisagem, mas também a flora e a fauna local, um exemplo que foge do lugar comum ao associarmos o patrimônio a algum monumento histórico.
Tombamentos da década de 1980 - Marques de Pombal
Embora a mão de obra indígena tenha sido largamente utilizada, em especial nas colônias espanholas, a ordem Jesuíta criou as Missões, que obrigavam índios a serem “civilizados” pela fé. 
No Brasil, estas missões existiram até a expulsão da Ordem pelo Marques de Pombal, no século XVIII.
Na fronteira com o Brasil e a Argentina, encontram-se as Missões, também tombadas nos anos 1980, que são um exemplo da vida e da relação entre indígenas e jesuítas no período colonial.  
As Missões Jesuítas se tornaram um caso de interesse particular da UNESCO e dos países nos quais elas existiram. 
Quando os ibéricos chegaram ao continente, a presença da Igreja Católica era intensa e determinou, dentre outras coisas, as relações de trabalho que se estabeleceriam no continente.  
Independente da posição que assumimos sobre o papel desempenhado pela Igreja Católica nas missões, elas são, de fato, um patrimônio histórico valioso, que nos permitem recuperar a história de uma relação conflituosa não só entre a Igreja e os indígenas, mas entre os colonos e a metrópole.
Tombamentos da década de 1980 - Potosí
Também na Bolívia, na década de 1980, foi tombada uma cidade inteira: Potosí. 
Esta cidade, um dos principais centros mineradores de prata no período colonial, possui um conjunto arquitetônico da época que se constituiu em um dos maiores do mundo. 
O fluxo de prata que saia de Potosí rumo à Espanha parecia inesgotável e deu origem a uma cidade marcada por casarões e igrejas. 
O dado importante é que muitos indígenas, instruídos pelos padres católicos, se tornaram artesãos e escultores. 
Diversas esculturas e pinturas de santos católicos possuem feições indígenas, o que causou certo escândalo para a época. As imagens que sobreviveram demonstram a concepção do catolicismo por parte dos nativos.
De modo geral, durante muito tempo, a história foi escrita pelos vencedores. No caso da América latina, a quantidade de fontes hispânicas ― cartas, documentos, leis, relatos de viagem — é muito maior do que as fontes indígenas, das quais os monumentos arquitetônicos são alguns dos mais importantes. 
 
Por essa razão, esculturas feitas pelos indígenas após a colonização, e que adornam os diversos templos de Potosí, são um documento privilegiado para tentarmos entender a história indígena daquela região. 
 
Tombamentos de cidades como Potosí não são muito comuns. O que pesa nesta decisão é o conjunto arquitetônico, que preserva não só o período colonial, mas as intervenções indígenas que podem ser recuperadas nestas cidades.
Tombamentos da década de 1980 - Palenque de São Basílio
Outro exemplo de uma cidade tombada, mas por motivo diverso, é Palenque de São Basílio, na Colômbia, considerada patrimônio intangível, ou seja, patrimônio imaterial de acordo com a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Intangível, adotada pela UNESCO, em 2003. 
Aliás, foi essa convenção que permitiu o tombamento de Palenque no ano seguinte.  
Fundada por escravos, no século XV, esta povoação se manteve relativamente isolada. Isso permitiu que os africanos que ali se estabeleceram mantivessem boa parte de sua cultura original, representando um caso raro na América Latina.
Observe que o patrimônio de Palenque não é físico, mas cultural. Composto pela música, culinária, lendas e tradições locais que os descentes destes escravos mantiveram vivas por séculos.
Tombamentos da década de 1980 - Machu Picchu
Um dos mais famosos patrimônios latinos, Machu Picchu, no Peru, é um exemplo de cultura pré-colombiana tombada e que não recebeu a influência dos colonizadores espanhóis. 
Quando os espanhóis chegaram ao Peru, esta cidade, um santuário sagrado, era isolada e os conquistadores jamais a conheceram. Somente em 1911 a cidade foi “descoberta”. 
Estima-se que, após a colonização espanhola e a desagregação do Estado Inca, Machu Picchu tenha sofrido uma crise de abastecimento e sua população tenha morrido de fome. 
A maior preocupação atualmente é com o turismo predatório. Cidades como esta, com centenas de anos, possuem monumentos frágeis, que devem ser conservados constantemente, o que demanda um investimento maciço. 
O fechamento da cidade para visitação já foi cogitado pelo Estado, mas desconsiderado, em vista do enorme prejuízo que esta medida traria ao turismo local.  
 É um exemplo raro de patrimônio indígena sem interferência hispânica, o que explica sua importância e o enorme número de turistas que a visitam anualmente.  
Tombamentos da década de 1980 - Chan Chan
Não é somente a ação humana que contribui para colocar os patrimônios em perigo. Em alguns casos, a própria natureza se torna um problema, como ocorre com o sítio arqueológico de Chan Chan, ao Norte do Peru. 
 
Chan Chan foi uma das principais cidades da cultura chimu, anterior aos incas, mas a erosão do solo e as questões climáticas contribuíam para a deterioração das ruínas, que demandam um enorme esforço preservacional.
Tombamentos da década de 1980 - outras regiões tombadas
Além das cidades, diversos centros históricos foram tombados, como é o caso da Cidade do México, do centro antigo de Havana, em Cuba, e de Lima, no Peru. 
Os centros históricos guardam contribuições das mais diversas etnias, de diferentes tempos históricos, como é o caso da praça das três Culturas, no México, que possui elementos pré-colombianos, coloniais e contemporâneos.
Sítios arqueológicos
O caso dos sítios arqueológicos é mais delicado. Na América latina, existem diversos sítios tombados. 
 
Recentemente, no Brasil, durante as obras de remodelação do porto do Rio de Janeiro, na Praça Mauá, foram encontrados inúmeros artefatos que pertenciam aos africanos trazidos como escravos que desembarcavam neste porto para serem vendidos nos mercados. 
 
Uma intensa obra de recuperação destes artefatos foi empreendida pelo Estado. Embora o sítio arqueológico da Praça Mauá ainda não esteja tombado, foi reconhecida de imediato sua importância. Por isso, os trabalhos de recuperação foram iniciados com uma rapidez surpreendente, representando um bom exemplo da mudança da mentalidade governamental sobre a preservação do patrimônio histórico local.
A Educação patrimonial e do turista
Não podemos esquecer que a educação patrimonial e do turista é fundamental para a preservação do patrimônio histórico e cultural. 
 
O Estado precisa fazer a parte que lhe cabe, mas sem a conscientização da importância da preservação deste patrimônio cidades e sítios arqueológicos correm o risco de desaparecer.
  
É importante concluirmos, no caso da preservação do patrimônio latino, que estes bens podem e devem ser revertidos em fonte de lucro através do turismo.
SÍNTESE DA AULANesta aula, você:
Reconheceu os problemas enfrentados pela América Latina para o tombamento dos bens históricos e culturais;
Aplicou o conceito de patrimônio imaterial;
Listou alguns importantes patrimônios latino-americanos.
RELEMBRANDO
1 – A construção da represa de Assua constituiu um marco para a fundação da ideia de patrimônio da humanidade. Esta construção fica no Egito.
2 – A construção de um açude, na Bahia, inundou a região onde se encontrava em Canudos.
 
3 – Um dos defensores das teorias biológicas racistas foi o médico italiano Cesare Lombroso.
4 – Na Argentina, um dos mais importantes patrimônios da humanidade, tombado pela UNESCO é o Parque Nacional Los Glaciares
5 – O Haiti não possui missões religiosas tombadas.
AULA 03 – 01/09/2013 – Preservação patrimonial dos dias atuais: Historia e experiência.
Introdução
Nesta aula, veremos os esforços feitos pelo Estado e pela sociedade na preservação de seu patrimônio histórico. Analisaremos também qual o alcance das medidas realizadas em prol da preservação.
OBJETIVOS DA AULA
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Avaliar as politicas públicas acerca da preservação em aplicação no Brasil;
2- Identificar o início do programa de preservação brasileira;
3- Reconhecer a importância da atuação do estado para a manutenção do patrimônio nacional.
Qual a primeira coisa em que você pensa quando a palavra “patrimônio” é mencionada?
Quando falamos sobre patrimônio, imediatamente pensamos em casas, monumentos, marcos que estão intrinsecamente ligados a uma herança histórica. 
Essa noção de patrimônio não é recente, mas as políticas de preservação patrimonial no Brasil são.
Patrimônio acabou virando sinônimo de antiguidade, resquício histórico. 
Dessa forma, é mais fácil compreender porque monumentos da antiguidade clássica, como os encontrados na Grécia, Atenas e Egito sempre foram fonte de preocupações, enquanto o riquíssimo acervo patrimonial da América ficou relegado a um segundo plano.
Os próprios estados latinos demoraram a adquirir a noção de preservação, em parte porque tampouco os consideravam dignos de serem preservados.
Em grande parte, isso ocorre porque, historicamente, as nações latinas são jovens e suas trajetórias como países independentes possuem pouco mais de dois séculos, algo muito recente se compararmos com as construções europeias que datam do período do Império Romano, como a Muralha de Adriano, na Inglaterra, ou a Muralha da China, construída antes de Cristo.
Os próprios estados latinos demoraram a adquirir a noção de preservação, em parte porque tampouco os consideravam dignos de serem preservados.
A nossa tradição histórica é eurocêntrica, ou seja, tendemos a olhar estas culturas a partir dos olhos dos colonizadores europeus. Por muito tempo, estas civilizações foram consideradas bárbaras e seus legados, destruídos.
Um pouco mais sobre esse olhar eurocêntrico
Quando os países latinos se tornaram estados nacionais, buscaram formar uma identidade própria, mas o modelo adotado ainda era o Europeu. 
A França, sobretudo, era considerada o berço da civilização ocidental moderna e muitos de seus princípios, tanto filosóficos quanto arquitetônicos foram adotados nestes novos países.
Recife e Olinda guardam dessa época, seus casarões, palácios e igrejas. Hoje, há uma tentativa constante de preservação. As obras dos holandeses eram tão impressionantes que mesmo durante a colônia elas provocavam um interesse preservacionista.
O Palácio das Duas Torres
O príncipe holandês Mauricio de Nassau, que governou a região durante os anos em que a Holanda esteve no Nordeste, urbanizou estas cidades e fez diversas melhorias e obras públicas. Dentre velas está a construção de sua residência e sede do governo, conhecido como palácio das Duas Torres. 
Vejamos sua descrição:
“Era conhecido pelo povo como Palácio das Torres, devido a sua arquitetura. Possuía duas torres altas, quadrangulares, com 5 pavimentos, ligadas por um passadiço coberto, dando-lhe o aspecto de igreja. As torres, além de embelezarem o palácio, serviam como marco para os navegantes, que podiam avistá-las a uma distância superior a 7 milhas. Uma delas era utilizada como farol e a outra como observatório astronômico, o primeiro fundado na América.”
Fonte: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=638&Itemid=1
O palácio possuía salões luxuosos. Nassau era um admirador das artes e nas paredes havia quadros de diversos pintores, como Albert Eckout e Frans Post, além de tapeçarias e mobiliários, feitos de madeiras nobres do Brasil. Este palácio em nada deixava a dever as residências dos reis europeus e em seus jardins havia diversos exemplares da fauna e da flora nativas.
Um pouco mais sobre os holandeses no Brasil
Os holandeses foram expulsos em 1654, mas as obras que aqui fizeram, permaneceu. No século XVIII, D. André de Melo e Castro, conde de Galveias e vice-rei do Brasil escreveu uma carta a D. Luís Pereira Freire de Andrade, governador da capitania de Pernambuco. O vice-rei demonstrava sua preocupação na utilização do palácio como quartel. A carta de D. André, escrita em 1742, é considerada um dos primeiros documentos brasileiros que expressa uma preocupação com a preservação patrimonial. Será mais útil fabricar-se quartéis novos, do que bulir no Palácio das duas Torres, porque tenho por certo que, por mais que se trabalhe em atalhar as despesas, em bulir a obra, sempre ficará coberta de remendos.
Trecho da Carta do Conde das Galveias ao Governador de Pernambuco, 1742.
Fonte: http://repositorio.unesc.net/bitstream/handle/1/422/Jurandir%20Bittencourt.pdf?sequence=1
Ruy Barbosa e os documentos da escravidão
O fim da colonização e o estabelecimento do império não trouxeram melhor sorte à preservação do patrimônio brasileiro. Tampouco o fez os primeiros anos da república no Brasil. 
 
Um dos casos mais emblemáticos, ocorridos na República Velha, foi a ordem dada pelo então Ministro da Fazenda, Ruy Barbosa, para que centenas de documentos referentes a escravidão fossem queimados em praça pública.
Essa enorme fogueira foi acesa em 13 de maio de 1891. Ruy Barbosa dizia querer apagar do Brasil a mancha da escravidão, mas a grande queima tinha motivos mais específicos.
Após a abolição, os senhores de escravos exigiram do Estado uma indenização por aquilo que julgavam a perda de suas propriedades. A queima dos documentos impediu que estes senhores provassem a posse destes escravos e, portanto, não pudessem ser indenizados.
Embora importante para o momento, a perda desta documentação inestimável provocou um enorme prejuízo para a recuperação de uma história da escravidão.
O Bota Abaixo & a Capoeira
Podemos concluir que não havia a noção de preservação patrimonial, ou antes, que esta estava submetida às mudanças consideradas necessárias para a ordem urbana. 
A reforma de Pereira Passos, ainda que tenha trazido benefícios para a cidade, era também uma medida de ordenação social, que expulsava do coração da cidade as classes populares. No Brasil, a cultura popular não era reconhecida ou valorizada, sendo entendida como algo feito por vadios e que, em casos como a capoeira, deveria ser coibida pela lei.
O Morro do Castelo
A reforma de Pereira Passos não foi a única a alterar a cidade e privá-la de parte de seu patrimônio arquitetônico. Na década de 1920, ocorreu o desmonte do Morro do Castelo, no governo do prefeito César Sampaio. 
O Morro do Castelo abrigou algumas das primeiras estruturas administrativas do século XVI, além da primeira igreja da Sé da cidade do Rio de janeiro, que continha o marco da fundação da cidade e os restos mortais de seu fundador, Estácio de Sá. Sua importância histórica não impediu sua completa destruição, levando junto às habitações pobres da população que nelas viviam.
A Era Vargas
As reformas no Rio de Janeiro, então capital da República, evidenciam a imagem que o Estadorepublicano desejava construir, de progresso e civilização. 
 
Somente com o fim da República Velha e o início da Era Vargas, entre 1930 e 1945, que o estado brasileiro começou, de fato, a pensar uma legislação que contemplasse as práticas de preservação patrimonial.
“O texto da primeira constituição da Era Vargas de 1934, dispõe que...”.
Art. 10. Trata da competência concorrente à União e aos Estados:
(...);
III – proteger as belezas naturais e os monumentos de valor histórico ou artístico, podendo impedir a evasão de obras de arte.
(...)
Art. 148. Estabelece que cabe à União, aos Estados e municípios favorecer e animar o desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da cultura em geral, proteger os objetos de interesse histórico e patrimônio artístico do país, bem como prestar assistência ao trabalho intelectual (Constituição de 1934).
Dentre as diversas transformações trazidas pela Era Vargas, com a ruptura econômica com o modelo estritamente agroexportador e o investimento na indústria de base, a legislação trabalhista e as mudanças operadas na política e nas relações sociais entre cidadão e Estado, a preservação patrimonial se tornava, pela primeira vez, parte da politica nacional. 
 
O governo Vargas ocupou-se do estabelecimento de uma nova identidade nacional, que pode ser vista nas obras deste governo, além do fomento a determinadas manifestações culturais e na criação de órgãos responsável pela imprensa e pela propaganda varguista.
Neste contexto, o patrimônio histórico nacional torna-se peça fundamental para estabelecer parte dos fundamentos dessa nova identidade nacional.
O Estado Novo
Em 1937, ocorre o golpe do Estado Novo, que inaugura uma nova fase da Era Vargas. O documento de 1934 é substituído por uma nova Constituição, deste mesmo ano, que reafirma o que havia sido disposto em 1934.
Na prática, os artigos constitucionais permitem ao Estado interferir na propriedade privada, a fim de preservá-la se for constatado seu interesse como patrimônio.
Criação do IPHAN
Na prática, os artigos constitucionais permitem ao Estado interferir na propriedade privada, a fim de preservá-la se for constatado seu interesse como patrimônio. Essas medidas permitiram ao recém-criado SPHAN – Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que passaria a se chamar IPHAN - Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dar início ao processo de tombamento, como hoje conhecemos. 
O Iphan foi criado durante a gestão do Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, que havia encomendado seu projeto a Mário de Andrade. Dessa forma, muitas das concepções dos modernistas do que era considerado patrimônio histórico estão presentes no momento de criação deste órgão. Inseridas em um projeto mais amplo, devotado à prática social integradora do governo Vargas, as primeiras ações em defesa do patrimônio nacional incluíram a seleção de edifícios do período colonial – em estilo barroco – e palácios governamentais, em sua maioria prédios neoclássicos e ecléticos. 
Essas escolhas foram feitas devido a seus vínculos com a história oficial da nação. Enquanto a arquitetura foi elevada a condição de marca nacional capaz de promover a imagem de solidez do Estado brasileiro, os bens culturais não pertencentes à elite acabaram relegados ao esquecimento. Tal premissa foi alterada mais de 60 anos após a criação do Iphan, mediante a implantação do decreto n. 3551/2000, que instituiu o registro geral de bens culturais de natureza imaterial.
O maior desafio acabou por se tornar não só como preservar, mas o que deveria ser escolhido para ser preservado. Como vimos, a cultura material só passou a ter o status de patrimônio a partir do ano 2000. Nos anos iniciais, os primeiros tombamentos mostraram uma forte valorização dos grandes vultos históricos brasileiros. Além disso, esta mentalidade levou à destruição de patrimônios que não se enquadravam nesta categoria, como é o caso do Palácio Monroe, no Rio de Janeiro.
PELEGRINI, S. E FUNAI, P. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. p. 46
Por que tanta destruição?
Em finais do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, era comum que diversos países do mundo fizessem grandes eventos comemorativos, reunindo os representantes das mais diversas nações. 
 
Nestes eventos, os pavilhões que representariam os países não eram feitos como vemos hoje, nas feiras e exposições, pequenas divisórias de madeira ou material plástico. Eram erguidos grandes prédios.
Um exemplo disso é o prédio da Academia Brasileira de Letras, que foi originalmente construído para abrigar o “Pavilhão da França”, na Exposição Internacional comemorativo do Centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1922.
Ao fim da exposição, os prédios eram geralmente, demolidos. Este sobreviveu, pois, o governo francês o doou à academia para que servisse como sua sede. 
A Torre Eiffel, hoje símbolo nacional da França, foi construída em 1889, para a Exposição Universal ocorrida em Paris. Os parisienses, por sua vez, acharam aquele monumento, que servia como porta de entrada para a exposição uma monstruosidade.
Seguindo a linha dos grandes eventos internacionais, a Exposição Universal de 1904 ocorreria em Saint Louis, Estados Unidos. Para representar o pavilhão do Brasil, foi encomendado ao Coronel Francisco Marcelino de Sousa Aguiar a construção de um prédio, com uma condição: este prédio deveria depois de terminada a exposição, ser desmontado pedra por pedra e ser reconstruído no Brasil. Surgiu assim o Palácio Saint Louis, que depois passou a ser chamado de Palácio Monroe, em homenagem ao presidente norte-americano, James Monroe.
Quando terminou a exposição, o prédio, um palacete impressionante, foi remontado no centro do Rio de Janeiro e teve varias funções: Câmara dos Deputados, Senado Federal, Tribunal Superior Eleitoral e Sede das Forças Armadas. Apesar de ser um patrimônio estadual, o governo militar, no período da ditadura, não o considerava um patrimônio nacional e não efetivou seu tombamento. Sob a alegação de que o palácio prejudicava o fluxo do trânsito no centro carioca, ele foi demolido em 1976.
Museu do Índio
Ainda que hoje a mentalidade patrimonial tenha mudado, permanecem as discussões sobre tombamento x uso prático do espaço. A mais recente discussão ocorreu, em 2013, com o planejamento da demolição do casarão do século XIX, também no Rio de Janeiro, que abrigou o Museu do Índio. 
O prédio, que fica ao lado do estádio do Maracanã, seria demolido para dar lugar à ampliação do estádio, em uma adequação para a Copa do Mundo que o Brasil sediará em 2014. Vários órgãos deram parecer contrário ao desaparecimento da estrutura como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro (Inepac), o Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Município do Rio e o IPHAN, que recomenda seu tombamento pelo governo Federal. 
A Unesco também fez uma intervenção em prol da preservação da arquitetura mas foi sobretudo a enorme e inesperada manifestação pública contra a demolição que fez com que o governo do estado retrocedesse em sua decisão. 
Este é um exemplo de como a educação patrimonial é fundamental para a população, que, ao se conscientizar da importância de monumentos como este, reivindica sua manutenção. 
Sobre as escolhas a cerca da preservação, citamos a obra Patrimônio histórico: como e por que preservar, que salienta: 
Deve-se ter o cuidado de preservar bens de todas as camadas sociais definidoras da história local. É importante o tombamento de edifícios públicos relevantes, assim como de qualquer edifício que possua características arquitetônicas e históricas de fortes significados cultural e afetivo. Por exemplo: deve-se lutar para se preservar o casarão do antigo coronel, mas também a vila operária, o palacete e a pequena casa de porta e janela, a sede da câmaramunicipal, o velho armazém, a casa grande da fazenda, mas, em conjunto, outras edificações que expressem a vida, o trabalho e os hábitos da comunidade que os criou. 
O sentido da preservação é exatamente recuperar e manter não só a historia das elites, mas, sobretudo, da sociedade como um todo. Por isso o estabelecimento da noção de patrimônio imaterial foi tão importante: muitos destes ritos e ofícios pertencem às camadas mais pobres da população, cujas histórias estão, progressivamente se perdendo e com elas, parte de nossa cultura. 
A isto a Unesco denomina patrimônio em perigo. São bens, tombados ou não, que correm o risco de desparecer ou se descaracterizar. No Brasil, o Parque Nacional de Foz do Iguaçu, patrimônio da Unesco, foi colocado na lista de patrimônio em perigo quando, em 1999, foi aberta uma estrada clandestina que comprometia a paisagem local. Mais recentemente, o ritual "Yaokwa", dos índios enauenês-nauês, do Mato Grosso, considerado patrimônio imaterial corre o risco de desaparecimento já que a região habitada por estes índios está ameaçada pela construção de hidrelétricas. 
A preservação patrimonial constituiu não na manutenção do prédio, estrutura ou monumento, mas em seu reuso. Se for realmente reformado, o antigo Museu do Índio devera abrigar um órgão ou instituição que sirva à população, como um novo museu ou centro cultural. Se as demandas urbanas ainda entram em choque com a necessidade preservacionista, o Iphan tem trabalhado no sentido de minimizar estas perdas e a legislação sobre patrimônio imaterial praticada no Brasil e considerada pela Unesco como uma das melhores do mundo. 
GHIRADELLO, Nilson e SPISSO Beatriz (coords). Patrimônio histórico: como e por que preservar. Bauru: Canal 6, 2008. Disponível em: 
http://www.brasiliapatrimoniodahumanidade.df.gov.br/acervo/pdf/patrimonio_historico_mp_sao_paulo.pdf
SÍNTESE DA AULA
Nesta aula, você:
Reconheceu a atuação da legislação brasileira no sentido da preservação de bens históricos;
Analisou a trajetória da preservação patrimonial no Brasil;
Identificou alguns dos patrimônios nacionais em perigo.
RELEMBRANDO
1 – Uma das primeiras iniciativas de preservação ocorrida, no Brasil, aconteceu ainda na colônia, quando o Conde de Gouveas tentou manter intacto O palácio das Duas Torres
2 – Uma das atitudes politicas de Ruy Barbosa que prejudicou a historiografia sobre escravidão foi a queima de documentos relativos à escravidão. 
3 – A primeira menção constitucional a respeito da preservação do patrimônio nacional aparece em qual constituição de 1934.
4 – Vários intelectuais brasileiros participaram da criação do Iphan, dentre eles destacou-se Mario de Andrade. 
5 – Dentre os patrimônios brasileiros em perigo está o Parque Nacional de Foz do Iguaçu.
AULA 04 – 01/09/2013 – Conquista e colonização da América Portuguesa
Introdução
Nesta aula, veremos o contexto histórico que permite a expansão marítima e a colonização da América pelos europeus, destacando o papel da colonização portuguesa, sua mentalidade e sua cultura como parte do legado da cultura brasileira.
OBJETIVOS DA AULA
Ao final desta aula, você será capaz de:
1 – Estabelecer o contexto europeu que deu início à expansão marítima;
2 – Analisar as primeiras tentativas de administração do território brasileiro;
3 – Identificar o processo de formação do Brasil Colonial.
Patrimônio cultural brasileiro
Uma das questões mais interessantes a cerca do patrimônio é que ele resgata uma parte de nossa história. São manifestações, construções e monumentos significativos para a compreensão da identidade nacional. 
No caso do Brasil, uma das principais características de nossa identidade é a diversificação cultural. Portanto, o nosso patrimônio é fruto da contribuição de diversas culturas e etnias que fazem parte da história do Brasil.
Por essa razão, é fundamental entendermos os processos históricos pelos quais passamos e, dessa forma, compreendermos algumas escolhas de preservação patrimonial.
Sendo assim, não poderíamos deixar de lado o nosso passado colonial e os mecanismos utilizados por Portugal para colonizar o Brasil.
 
Vamos entender primeiro, o contexto, no qual a Europa estava durante o século XV, que levou ao processo de expansão marítima.
Contexto europeu
Sabemos que, durante a Idade Média, não existia um estado nacional centralizado na Europa. O poder estava fragmentado entre os diversos feudos que então existia. Com a crise do feudalismo, essa realidade política vai, pouco a pouco, se alterando. 
 
A Península Ibérica estava dividida em reinos como Portugal, Aragão, Castela, Navarra e Granada. Destes reinos, apenas Granada estava sob domínio muçulmano, sendo todos os demais, católicos.
Como vemos também a Península Ibérica estava dividida, mas pelas razões que estudaremos agora, Portugal e Espanha foram os primeiros reinos europeus a se unificar e a formar um estado nacional, o que lhes garantiu o pioneirismo na expansão marítima. 
 
A Espanha se unifica em torno de um casamento entre duas coroas: os reinos de Aragão e Castela. A partir desta união, entre Fernando de Aragão e Isabel de Castela, os demais reinos foram unificados sendo que Granada foi o último deles, pois foi necessária a expulsão dos muçulmanos do território em um processo chamado de Guerra de Reconquista.
Por que era importante expulsar os muçulmanos dos territórios ibéricos para que eles se unificassem?
Porque não havia identidade nacional e era a religião católica que desempenhava este papel. Dessa maneira, o catolicismo funcionou como uma ferramenta fundamental para a unificação. 
Os árabes vinham se expandindo pelo território europeu desde o século VII. Para se unificar Portugal também empreendeu uma longa guerra contra estes muçulmanos, também chamados de mouros. Essas lutas de reconquista do território ajudaram a construir a nação portuguesa, que entre os séculos XII ao XIV foi governada pela dinastia de Borgonha. 
Com a morte do último rei da dinastia Borgonha, D. Fernando, o trono ficou vago, pois o rei não possuía um descendente homem para tomar seu lugar. Mas D. Fernando teve uma filha, D. Beatriz que por sua vez, era casada com o rei de Castela. 
Se D. Beatriz reivindicasse o trono, Portugal deixaria de ser um reino independente, pois seria anexado à Espanha. Essa questão sucessória levou à Revolução de Avis, que culminou com a vitória de D. João I, mestre de Avis e irmão bastardo de D. Fernando. 
D. João dá início à dinastia de Avis, que governou Portugal até o século XVI. Sob esta dinastia, Portugal empreendeu diversas conquistas importantes, incluindo a expansão marítima e a captação de territórios além-mar, como é o caso do Brasil. Ao subir ao trono, D. João teve apoio dos grupos mercantis portugueses e, dessa maneira, investiu no desenvolvimento comercial, um dos principais motores da expansão.
Cabe lembrar que, embora a unificação tanto de Portugal quanto da Espanha tenha se dado após a expulsão dos mouros destes territórios, há uma intensa contribuição da cultura árabe para a cultura portuguesa e espanhola.
Podemos citar, as técnicas de azulejaria, que faziam parte de uma das mais tradicionais e importantes manifestações culturais portuguesas, os azulejos ricamente decorados que adornavam prédios públicos e palácios e que também foram amplamente utilizados na arquitetura brasileira, desde o período colonial.
Ponto de vista econômico
A Europa se concentrava no lucrativo comércio de especiarias, trazidas do Oriente.
O eixo da economia era o Mar Mediterrâneo, mas boa parte das rotas comerciais orientais era dominada pelos muçulmanos e os produtos que chegavam à Europa tinham, como porte de entrada, sobretudo as cidades italianas, como Veneza, o que provocava um monopólio comercial tendo como resultado o preço exorbitante que estas mercadorias alcançavam.
Era necessário, portanto, estabelecer uma nova rota comercial que burlasse o monopólio destas valiosas mercadorias.Assim o estado investiu em novas técnicas de navegação, através da Escola de Sagres, que não era uma escola stricto sensu, mas um conjunto de conhecimentos e tecnologias desenvolvido por diversos cientistas e intelectuais da época.
O eixo comercial deixaria de ser o Mediterrâneo, e passaria a ser o Atlântico, o que implicava em enormes mudanças tanto econômicas quanto sociais já que a navegação por este oceano era algo novo, desconhecido, e que provocava medo e alimentava diversas superstições sobre os perigos do chamado “Mar Oceano”.
No caso português, há dois interesses principais em jogo: da burguesia mercantil, que buscava lucros; e da nobreza e do Estado, que buscava terras. Aliado a estes interesses há a questão ideológica, centrada na necessidade de expansão da fé católica e no combate às religiões pagãs como o islamismo.
As conquistas portuguesas
Durante o século XV, Portugal lançou-se às conquistas na costa da África, com a incorporação de territórios como as ilhas da Madeira e dos Açores. Em 1498, Vasco da Gama chegou à Calicute, uma das mais importantes cidades comerciais do Oriente, abrindo espaço para conquistas mais audaciosas, rumo à América.
 
O continente americano já havia sido atingido por Cristóvão Colombo, em 1492, que tomou posse das terras em nome da Espanha.
É importante considerarmos que, para os europeus da época, os povos indígenas que viviam no continente não foram considerados como donos da terra e eram vistos como bárbaros e selvagens.
O entendimento da importância e riqueza das culturas existentes na América, antes da chegada de Colombo – e por isso chamadas de pré-colombianas – fez com que, progressivamente, o termo “descoberta da América” ou “descobrimento do Brasil” caísse em desuso, já que considerar que a chegada dos europeus implicava e um descobrimento seria desconsiderar as civilizações americanas que já existiam antes da expansão marítima.  
A viagem de Colombo levou à assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494, firmado entre os reinos de Portugal e Espanha e intermediado pela Igreja Católica. O tratado dividia as terras do continente entre estes dois reinos, o que foi motivo de grande desacordo entre os demais reinos, que mais tarde, também se lançariam na expansão marítima.
Segundo o historiador Fernando Novais: 
“A História do Brasil, nos três primeiros séculos, está intimamente ligada à da expansão comercial e colonial europeia na época moderna. Parte integrante do império ultramarino português, o Brasil-colônia refletiu, em todo o largo período da sua formação colonial, os problemas e os mecanismos de conjunto que agitaram a política imperial lusitana. Por outro lado, a história da expansão ultramarina e da exploração colonial portuguesa se desenrola no amplo quadro da competição entre as várias potências, em busca do equilíbrio europeu; desta forma, é na história do sistema geral de colonização europeia moderna que devemos procurar o esquema de determinações dentro do qual se processou a organização da vida econômica e social do Brasil na primeira fase de sua história, e se encaminharam os problemas políticos de que esta região foi o teatro.” 
Fonte: NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do Antigo Sistema Colonial. In: Brasil em Perspectiva. São Paulo: DIFEL, 1969. p. 47
Neste contexto, devemos entender a colonização do Brasil como inserida no âmbito das grandes navegações e das práticas mercantilistas, empreendidas tanto por Portugal quanto pelos demais estados nacionais modernos.
A formação do Brasil Colônia
A expansão marítima permitiu a formação do antigo sistema colonial, baseado no mercantilismo, que vigorou entre os séculos XVI e XVIII. Ainda que cada metrópole tenha desenvolvido dinâmicas específicas no sentido de colonizar seus territórios ultramarinos, se entendermos esse processo colonial como parte de um quadro maior, que envolve o contexto europeu da época, teremos varias características em comum entre os diversos processos coloniais.
Em primeiro lugar, as colônias ocupam a posição de economia complementar metropolitana.
O que isso quer dizer? 
Em resumo, que as colônias existem para desenvolver e fortalecer a economia de suas metrópoles. 
Dessa forma, elas não possuem autonomia absoluta e estão submetidas ao pacto colonial, garantindo o exclusivismo comercial, ou seja, o monopólio da metrópole sobre todo o comércio da colônia.
Nesse sentido, as colônias atuam como consumidor dos produtos metropolitanos, já que estão, devido ao pacto, impedidas de tecer relações comerciais com outros países. Fornecem os gêneros de que a Europa necessita, como matérias-primas e metais preciosos, e absorvem o excedente populacional europeu, cuja imigração era estimulada pelas promessas de ganhos nas terras americanas.
Mesmo em casos como a colonização inglesa nas treze colônias que deram origem aos Estados Unidos, devemos ressaltar que, embora gozassem de uma autonomia relativa, traduzida na politica de “negligência salutar” estas colônias também estavam sujeitas ao pacto colonial e como nos demais processo coloniais, tinham como objetivo o fortalecimento da economia metropolitana.
Mercantilismo
A busca por metais preciosos é particularmente importante no quadro do mercantilismo, já que uma de suas premissas é o acumulo de metais e o desenvolvimento do comércio provocou uma necessidade de cunhagem de moedas feitas destes metais. 
O lucro proporcionado pelo mercantilismo concentra-se também na circulação de mercadorias e, nesse caso, a posse de colônias era fundamental para garantir essa circulação.
Ela permitiu a manutenção de uma balança comercial favorável, onde os reinos exportam mais do que importam e motivou o protecionismo alfandegário, no qual os produtos estrangeiros eram severamente taxados, o que estimulava a produção interna.
Se, na Idade Média, o sentido de riqueza era a posse de terras, na Idade Moderna este parâmetro muda se concentrando na quantidade de metal precioso acumulado pelas coroas.
Invasões estrangeiras no Brasil
A partir de 1504, as terras brasileiras passaram a ser alvo de interesses estrangeiros, notadamente dos piratas franceses, que estabeleceram relações amigáveis com os indígenas, também em busca do pau-brasil. 
O contrabando intensificou-se e o descaso português permitiu a invasão francesa e a fundação de colônias, como a França Antártica, no Rio de Janeiro, e a França Equinocial, no Maranhão. 
 
Ainda que os franceses tenham sido expulsos, sua presença no Brasil resultou em um enorme legado. Foi devido à necessidade de acabar com a França Antártica que a cidade do Rio de Janeiro foi fundada e a capital do estado do Maranhão, São Luís, estabelecida por franceses.
As invasões ocorrem dentre outros fatores, pela discordância entre os demais estados europeus da legitimidade da posse deste território pelos reinos ibéricos. À medida que as demais monarquias europeias também se centralizam como é o caso da França, elas também se lançam à expansão marítima e questionam a primazia concedida a Portugal e Espanha pela posse da América.
Novas expedições comerciais
Além das invasões estrangeiras, outros fatores devem ser destacados para compreendermos as origens do sistema colonial. A Espanha havia descoberto enormes jazidas de metais preciosos em suas colônias, aumentando a expectativa de que elas também existissem no Brasil. 
 
O comércio com o Oriente foi entrando em decadência forçando Portugal a buscar novas fontes de renda e novos incentivos mercantis.
A coroa já havia enviado, ao litoral brasileiro, algumas expedições, com o objetivo de reconhecimento e proteção das terras. Mas foi a expedição de Martim Afonso de Sousa a considerada definitiva para o início do estabelecimento da povoação e colonização do Brasil. Segundo Sérgio Buarque de Holanda... 
"A armada de Martim Afonso de Sousa, que deveria deixar Lisboa a 3 de dezembro de 1531, vinha com poderes extensíssimos, se comparados aos das expedições anteriores, mas tinha comofinalidade principal desenvolver a exploração e a limpeza da costa, infestada, ainda e cada vez mais, pela atividade dos comerciantes intrusos." 
Fonte: HOLANDA, Sérgio Buarque de. As Primeiras Expedições. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. (org) História Geral da Civilização Brasileira. t. I, v. 1. São Paulo: DIFEL, 1960. p. 93.
As Capitanias Hereditárias
A partir desta expedição, foi estabelecido o sistema de capitanias hereditárias. Seguindo a linha traçada pelo Tratado de Tordesilhas, o território foi dividido em 15 faixas de terra, que foram concedidas a 12 donatários. A administração do território era concedida através de dois documentos fundamentais: a carta de doação e o foral.
Os donatários detinham os diversos poderes administrativos, como a execução da justiça, a nomeação de funcionários administrativos a cobrança de taxas e a distribuição de terras a arrendatários. Em troca, custeavam todas as despesas decorrentes do processo de colonização, como gastos com transporte. Também tinham como obrigação garantir a segurança de seus lotes, impedindo a invasão de estrangeiros e a realização do contrabando das riquezas.
O sistema de capitanias não prosperou conforme a expectativa da Coroa. Os custos que pesavam sobre os donatários eram enormes, provocando o desinteresse da maioria deles pelas terras. 
A coroa desejava lucro e intencionava obtê-lo gastando o mínimo possível. Por isso o estabelecimento das capitanias hereditárias, cujos gastos recaiam, em sua maioria, aos donatários, que teriam, portanto, que investir seu próprio capital.
Os indígenas se mostraram hostis à ocupação de suas terras, dificultando a montagem dos povoados. Excetuam-se as capitanias de Pernambuco, pertencente a Duarte Coelho, e São Vicente, doada a Martim Afonso de Sousa que obtiveram relativo sucesso ao investirem na montagem de uma empresa açucareira.
Ainda assim, as capitanias lançaram as fundações do povoamento colonial. São Vicente, no atual estado de São Paulo, foi à primeira cidade do Brasil, e uma de suas principais fontes de renda atualmente é o turismo, estimulado por seu papel como primeira cidade brasileira. A empresa açucareira de Pernambucano incentivou a expansão e a montagem da economia açucareira, um dos primeiros e mais importantes ciclos econômicos brasileiros.
O Governo Geral
Na prática, o Governo Geral deu origem a um sistema administrativo mais centralizado, que permitiu o efetivo desenvolvimento da colônia. 
O sistema administrativo das capitanias deu lugar ao Governo Geral, estabelecido entre 1548 e 1549. O governador, indicado pela Coroa, tinha plenos poderes administrativos e sua gestão era auxiliada pela nomeação de três novos cargos: Provedor-Mor (finanças), Ouvidor-Mor (justiça) e o Capitão-Mor (defesa).
A influência jesuíta
O catolicismo esteve sempre presente no processo colonial, mesmo em seus primeiros momentos. Na carta de Pero Vaz de Caminha, integrante da expedição de Pedro Alvares Cabral, consta que...
“Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o capitão de ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu. Mandou a todos os capitães que se aprestassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou naquele ilhéu armar um esperável, e dentro dele um altar mui bem corregido. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual foi dita pelo padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes, que todos eram ali. A qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. Ali era com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saiu de Belém, a qual esteve sempre levantada, da parte do Evangelho”.
Fonte: http://veja.abril.com.br/historia/descobrimento/pero-vaz-de-caminha.shtml
Deste trecho da carta foi pintado, no século XIX, o quadro de Victor Meireles, A primeira Missa no Brasil, uma das imagens mais marcantes sobre o início da colonização. À ordem Jesuíta coube o papel de expandir a fé católica, iniciando a empreendendo a catequização dos indígenas. 
Os jesuítas instituíram as bases da educação, construíram escolas e igrejas hoje tombadas pelo patrimônio histórico e coube a Manoel da Nóbrega junto com José de Anchieta a fundação da cidade de São Paulo, em 1554, a partir do estabelecimento de um colégio jesuíta com o objetivo de catequizar os indígenas da região.
O Pateo do Collegio
O Pateo do Collegio, marco zero da cidade de São Paulo, é um patrimônio histórico tombado e sua localização marca o contraste entre o colonial e o moderno, já que as estruturas sobrevivem cercadas por inúmeros arranha céus hoje característicos da cidade de São Paulo. Em seu interior, encontra-se o túmulo de José de Anchieta, um dos mais importantes jesuítas da história colonial.   
Os governos gerais permaneceram submetidos à Coroa Portuguesa até 1580, quando tem início a União Ibérica, que marca a incorporação de Portugal ao reino da Espanha. 
Os resquícios destes primeiros anos de colonização são raros e constituem um patrimônio incalculável. O Pateo do Collegio, preservado e tombado, constitui uma exceção no qual ainda permanecem as memórias do início de nosso passado colonial.
SÍNTESE DA AULA
Nesta aula, você:
Reconheceu o processo de formação de Portugal;
Relacionou o processo de colonização a aplicação das práticas mercantilistas dos estados modernos;
Identificou os primeiros modelos administrativos do território brasileiro.
RELEMBRANDO
1 – Os reinos que constituíam a península Ibérica no século XV são Portugal, Aragão, Castela e Navarra.
2 – Sob a dinastia de Borgonha, Portugal se tornou um reino unificado, ainda no século XIII.
3 – A partir da chegada de Colombo a América, tem fim a dinastia de Borgonha e é inaugurado um novo período, na História Portuguesa, voltado para as grandes navegações.
4 – A colonização do Brasil está inserida no quadro maior, que é o contexto politico e econômico da Europa. A prática econômica dos estados modernos é denominada de Mercantilismo.
5 – Dentre os principais documentos que regulamentavam os direitos e deveres dos donatários no tocante às capitanias hereditárias está o foral.
AULA 05 – 08/09/2013 – A Organização administrativa colonial
Introdução
Nesta aula, veremos de que forma o projeto colonial ibérico deu origem a uma cultura única, profundamente miscigenada e agregando elementos de diversas influências, como as culturas africana e indígena.
OBJETIVOS DA AULA
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Descrever as origens da sociedade colonial;
2- Relacionar argumentos para compreender a utilização da mão de obra indígena e africana na colônia;
3- Reconhecer as contribuições das diversas culturas na formação do patrimônio histórico nacional.
Governo Geral
A instalação do Governo Geral no Brasil constituiu uma nova etapa do desenvolvimento administrativo colonial, mas sua implantação também passou por dificuldades.
Quando Tomé de Souza instalou-se em seu cargo e centralizou as funções administrativas, capitanias que prosperaram como Pernambuco, viram sua autonomia diminuída, o que provocou insatisfação, justamente entre aqueles que haviam conseguido atingir os objetivos propostos pela Coroa quando estabeleceu o sistema de capitanias, gerar lucro. 
Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, recorreu diretamente ao rei para manter sua autonomia. Essa interferência evidencia a disputa pelo poder nos primeiros momentos do Brasil Colonial.
Se Tomé de Souza enfrentou problemas, com o segundo governador geral, Duarte da Costa, não foi diferente. Um dos episódios mais singulares acabou por opor o governo geral aos jesuítas.
Quando Tomé de Souza veio para o Brasil, trouxe consigo o bispo Dom Pero Fernandes Sardinha, responsável pela fundação do primeiro bispado nas terras brasileiras em 1551.
Canibalismo
Em 1556, Dom Pero foi chamado de volta a Portugal e, em sua viagem de retorno, seu navio naufragou, ainda no litoral brasileiro. Dom Pero e quase toda sua tripulação,

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