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Direito Processual Penal Prof. Flávio Cardoso Matéria: Teoria Geral da Prova – Ônus da Prova, Poder Instrutório do Juiz, Sistemas de Apreciação das Provas, Liberdade Probatória/ Espécies de Prova. 30/05/2011 Prova: Todo elemento, através do qual se busca demonstrar a existência, com a veracidade de um fato. Teoria Geral da Prova: Ônus da Prova: É a responsabilidade de provar. O ônus da prova cabe sempre à quem alega. Portanto, o ônus significa encargo, razão pela qual o Código utiliza-se do termo “incumbirá”. Art. 156. “A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício.” A doutrina tradicional constuma separar “apriori” o que cabe provar cada parte. Ônus da acusação: - Existência do fato; - Provar que o fato é considerado um crime; - Autoria delitiva; Ônus da defesa: - Provar os fatos impeditivos, extintivos ou modificativos do direito de punir do Estado. Ex.: Excludente de ilicitude – cabe a defesa realizar o ônus desta prova. A doutrina garantista, afirma que, o ônus da prova é inteiramente realizado pela acusação. Esta posição doutrinária, não é dominante, tendo em vista inclusive a análise da postura adotada pelo examinador da OAB. Poder Instrutório do Juiz: O juiz deve determinar a produção de provas, tal fenômeno é denominado de poder instrutório. Obs.: O poder instrutório do juiz, não se confunde com ônus da prova – realizado pelas partes. Este poder está ligado a verificação de qualquer ponto duvidoso no processo, conforme o princípio da verdade real. Em 2008, o legislador inovou o processo penal – quando designa que o juiz além de deter o poder instrutório, poderá de ofício determinar a produção de provas antes da ação penal (na fase investigatória). Portanto, poderão ser realizadas neste momento as provas chamadas de urgentes e relevantes ao processo, sob pena de perecimento. Diante desta ocasião o juiz deverá observar a: - Necessidade; - Adequação; - E a proporcionalidade da medida. Sistemas de Apreciação das Provas: Os sistemas de apreciação das provas dão as regras ao julgador de como avaliar determinada prova. Existem 3 sistemas: 1. Sistema – Prova Legal/Tarifado: O ordenamento que adota este sistema – trabalha com a prova com valor pré-estipulado, consequentemente o juiz não está livre para avaliar as provas, ou seja, estando preso a uma tabela de valores. Exceção: Em regra não adotamos este sistema, salvo exceção das circunstâncias previstas no Art. 158, do CPP (corpo de delito). Art. 158 – “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.” 2. Sistema – Íntima Convicção do Julgador: O juiz é totalmente livre para analisar a prova, razão pela qual não precisa fundamentar a sua motivação. Exceção: Em regra não adotamos este sistema, salvo exceção com relação ao Tribunal do Júri (apenas com relação as decisões dos Jurados/Conselho de Sentença, uma vez que todos os atos do juiz, inclusive no Júri são fundamentados). 3. Sistema – Livre Convencimento Motivado/ Persuação Racional: Este sistema é adotado como rega no nosso ordenamento (o juiz é livre para formar a sua convicção ao analisar as provas, bem como devendo apresentar os motivos e fundamentação com que criou seu convencimento). - Livre convencimento: exclui o sistema de prova legal/tarifado. - Motivado: exclui o sistema da íntima convicção do julgador. O Código apresenta qual prova que o juiz deve levar em consideração para fundamentar a sua decisão: A prova que serve para criar o livre convencimento é aquela produzida em juízo (na fase processual), sob o crivo do contraditório. Portanto, o juiz não deve fundamentar sua decisão única e exclusivamente com base nos elementos colhidos no inquérito policial, salvo exceção com relação as provas: - Cautelares; - Não repetíveis; - Antecipadas. Ex.: Exame Necroscópico é um tipo de prova, realizado após a morte – durante o inquérito policial (serve para criar o livre convencimento). Ex.: Prova testemunhal, colhida em caráter de urgência no inquérito policial (serve para criar o livre convencimento). Princípio/ Sistema da Liberdade Probatória: Vigora a liberdade probatória, ou seja, inexiste limites em princípio para realizar as provas, salvo duas exceções: 1º Prova do estado civil de uma pessoa: O processo penal para provar o estado civil – está restrito a lei processual civil. 2º Prova proibida: Algumas provas não serão aceitas no processo penal, em razão da sua natureza: a) Prova Ilegítima (fere as normas processuais, p.ex: Art. 479, do CPP). Ex.: Não pode ser trazido um documento novo no Plenário do Júri, se a parte contrária não tiver tido acesso, sob pena de anulação do plenário. Art. 479. “Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte.” b) Prova Ilícita (aquela obtida com violação das normas de direito material, p.ex: prova mediante tortura; grampo ilegal sem autorização judicial; confissão forçada etc). Obs.: Caso conste nos autos – prova ilícita, deverá ser desentranhada. Posição Majoritária (exceção): Caso seja o único meio do réu realizar a sua defesa, ou seja, a prova da sua inocência – poderá utilizar-se da prova ilícita. Prova Ilícita por Derivação: São aquelas provas obtidas de forma lícita, porém o meio que se chegou a ela foi por intermédio da informação extraída de uma prova ilicitamente colhida. A prova lícita por derivação fica maculada pela prova ilícita da qual ela derivou. Este entendimento é o da teoria dos frutos da árvore envenenada, criada pela Suprema Corte Americana, segundo a qual o vício da planta se transmite a todos os seus frutos. Ex.: Grampo telefônico ilegal (sem autorização judicial) – levou a informações de um carregamento de drogas, consequentemente acarretando em uma confissão. Esta confissão é ilícita, pois advém de uma prova ilícita. A prova ilícita por derivação (em regra não será aceita), salvo exceção: - Nexo (Quando a prova ilícita não for absolutamente determinante para a descoberta da prova derivada); - Ou se esta derivar de fonte própria (pode ser obtida por fonte independente), não fica contaminada e pode ser produzida em juízo. Art. 157 § 1º “São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. § 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.” Meio de Prova/ Espécie: 1. Perícia: Trata-se de uma prova técnica relevante, realizada por exame profissional. Este profissional é dotado de um conhecimento técnico a respeito de um assunto, tendo por finalidade auxiliar o convencimento do julgador. O documento extraído deste exame é denominado de laudo pericial. Atualmente, o laudo pericial deve ser realizado e assinado por 1 perito oficial, porém nada impede que diante de uma perícia complexa, este laudo seja feito por dois ou mais peritos. Ex.: Caso Nardonni. Ausente um perito oficial – o exame será realizado por duas pessoa idôneas nomeadas pelo juiz, dotadas de diploma com nível superior, preferencialmente na área que será analisada. Obs.: Alguns doutrinadores denominam estas pessoas de perito “louvado”. O laudo deve ser confeccionado em 10 dias – podendo ser prorrogado, mediante justificação do perito. A períciapode ser realizada tanto de dia quanto a noite. As partes podem oferecer quesitos (perguntas) aos peritos, bem como indicar seus assistentes técnicos. A indicação de assistentes ocorre após o laudo oficial, logo os assistentes não poderam acompanhar a perícia oficial. Portanto, o assistente emite parecer a respeito do laudo já juntado nos autos. As partes podem requerer que os peritos prestem esclarecimentos sobre fatos trazidos em audiência – que serão respondidos em audiência ou através de um laudo complementar. 2. Exame de Corpo de Delito: É o conjunto de vestígios deixados pelo crime. Art. 158 – “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.” O exame indireto é realizado por meios periféricos. Ex.: A vítima sofreu lesão corporal, foi atendida no hospital, porém já recebeu alta (curado), consequentemente desaparecendo os vestígios deixados pelo crime. Logo, o perito realiza o exame, com base na ficha clínica da vítima. O Art. 158, comporta exceção conforme o Art. 167, do CPP – quando desaparecer os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir a falta do exame. Art. 167 – “Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.” Obs.: Caso o exame não seja realizado por conta da negligência do Estado – não poderá ser suprido com a confissão testemunhal.
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