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Ponto 5 (Processo nos Tribunais)

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL III 
 
Prof. Marco Aurélio Peixoto 
 
Ponto 5 
PROCESSO NOS TRIBUNAIS 
Incidente de Assunção de Competência. Incidente de Arguição de 
Inconstitucionalidade. Reclamação. Incidente de Resolução de 
Demandas Repetitivas. 
 
1. Incidente de Assunção de Competência 
 
 O incidente de assunção de competência, previsto no art. 947 do 
CPC, é uma reformulação do incidente de uniformização de jurisprudência, previsto 
no CPC/73. É aplicável quando ocorrer relevante questão de direito a respeito da 
qual seja conveniente a prevenção ou a composição da divergência entre câmaras 
ou turmas do tribunal, sendo admissível quando o julgamento do recurso, remessa 
necessária ou ação originária envolve relevante questão de direito com grande 
repercussão social, sem repetição em múltiplos processos. 
 
 O IAC pode ser instaurado em qualquer tribunal, inclusive nos 
tribunais superiores, enquanto não julgada a causa ou recurso. 
 
 O julgamento produz um precedente obrigatório, a ser seguido pelo 
tribunal e pelos juízos a ele vinculados. 
 
 O grande objetivo do IAC é assegurar a segurança jurídica. Ele 
provoca o julgamento de um caso relevante por órgão colegiado de maior 
composição. Previne ou compõe a divergência interna no tribunal, além de formar, 
como dito, precedente obrigatório. 
 
 O relator deve solicitar ou admitir a manifestação do amicus curiae, 
bem como é obrigatória a intervenção do Ministério Público. 
 
 A decisão que julga o IAC é um acórdão, de modo que é, portanto, 
recorrível, sendo possível os embargos de declaração e, sendo o caso, recurso 
especial e/ou recurso extraordinário, presumindo-se a repercussão geral, mas sem 
efeito suspensivo. 
 
2. Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade 
 
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 De acordo com o art. 97 da Constituição Federal, somente pelo voto 
da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do órgão especial poderão 
os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder 
Público. Trata-se da cláusula de reserva de plenário (ou regra do full bench). 
 
 O incidente de arguição de inconstitucionalidade é o meio processual 
previsto para regulamentar dito dispositivo constitucional. 
 
 Atende assim ao chamado controle difuso de constitucionalidade, 
aplicando-se em todos os tribunais brasileiros, podendo ainda ser suscitado em 
qualquer causa que tramite em tribunal (originária, remessa necessária ou 
recurso). 
 
 Não se cuida de recurso e nem de ação, sendo apenas uma etapa no 
processo de criação da decisão. 
 
 A legitimidade pertence a qualquer das partes, ao Ministério Público 
ou a qualquer julgador. Pode-se suscitar o incidente até o final do julgamento, 
mesmo em sustentação oral, antes de o presidente proclamar o resultado. 
 
 Só é cabível para que se proclame a inconstitucionalidade. Afastada a 
alegação ou declarada a constitucionalidade, não se faz necessária a instauração 
do incidente. 
 
 A função do incidente é a de transferir a outro órgão do mesmo 
tribunal a competência funcional para a análise de questão de direito incidental, 
relevante para o julgamento. Assim, admitido o incidente, um órgão julgador fica 
com a competência para julgar a questão principal e outro fica com a competência 
para julgar a inconstitucionalidade. Suspende-se o andamento no órgão originário, 
até que o órgão responsável pelo julgamento do incidente o julgue. 
 
 O órgão originário fica vinculado à solução dada à arguição de 
inconstitucionalidade. 
 
 A resolução dessa questão não fica sujeita à coisa julgada erga 
omnes, visto que, apesar de se cuidar de prejudicial incidental, o tribunal não tem 
competência para resolvê-la como questão principal. A decisão do incidente, por si, 
é irrecorrível. 
 
3. Reclamação 
 
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 Prevista no art. 988 do CPC, a reclamação possui natureza 
jurisdicional, de acordo como o Supremo Tribunal Federal, representando o 
exercício do direito de petição. 
 
 Cabe reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para: 
a) preservar a competência do tribunal (ex.: admissibilidade da apelação); b) 
garantir a autoridade das decisões do tribunal; c) garantir a observância de 
enunciado de súmula vinculante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em 
controle concentrado de constitucionalidade; d) garantir a observância de acórdão 
proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou de 
incidente de assunção de competência. 
 
 Pode ser proposta perante qualquer tribunal; julgamento compete ao 
órgão jurisdicional cuja competência se busca preservar ou cuja autoridade se 
pretenda garantir. 
 
A reclamação deverá ser instruída com prova documental e dirigida 
ao presidente do tribunal. Assim que recebida, a reclamação será autuada e 
distribuída ao relator do processo principal, sempre que possível. 
 
É inadmissível a reclamação: a) proposta após o trânsito em julgado 
da decisão reclamada; b) proposta para garantir a observância de acórdão de 
recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido 
em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, quando não 
esgotadas as instâncias ordinárias. 
 
A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto contra a 
decisão proferida pelo órgão reclamado não prejudica a reclamação. 
 
Ao despachar a reclamação, o relator: a) requisitará informações da 
autoridade a quem for imputada a prática do ato impugnado, que as prestará no 
prazo de 10 (dez) dias; b) se necessário, ordenará a suspensão do processo ou do 
ato impugnado para evitar dano irreparável; c) determinará a citação do 
beneficiário da decisão impugnada, que terá prazo de 15 (quinze) dias para 
apresentar a sua contestação. 
 
Qualquer interessado poderá impugnar o pedido do reclamante. 
 
Na reclamação que não houver formulado, o Ministério Público terá 
vista do processo por 5 (cinco) dias, após o decurso do prazo para informações e 
para o oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato impugnado. 
 
 4 
Julgando procedente a reclamação, o tribunal cassará a decisão 
exorbitante de seu julgado ou determinará medida adequada à solução da 
controvérsia. 
 
O presidente do tribunal determinará o imediato cumprimento da 
decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente. 
 
4. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas 
 
 O incidente de resolução de demandas repetitivas representa um 
incidente instaurado num processo de competência originária ou em recurso 
(inclusive em remessa necessária). 
 
Para o seu cabimento, faz-se necessária a efetiva repetição de 
processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de 
direito (coexistência de múltiplas demandas e potencial multiplicação). Deve haver 
ofensa à isonomia e também à segurança jurídica (decisões que podem causar 
quebra da confiança ou insegurança ou instabilidade). 
 
Como se cuida de um incidente, é necessário que haja um caso 
tramitando no tribunal, de modo que o incidente será instaurado no caso que 
esteja em curso no tribunal. Neste sentido, o Enunciado 344 do Fórum Permanente 
de Processualistas Civis definiu que “a instauração do incidente pressupõe a 
existência de processo pendente no respectivo tribunal”. É a adoção da tese da 
causa-piloto. Se não houver caso em trâmite no tribunal, não se terá incidente, 
mas processo originário. Alguns, na doutrina, defendem que seria possível 
compatibilizar com o sistema de causa-modelo, para viabilizar o cabimento do 
IRDR em sede de juizados especiais. 
 
Não cabe se já houver recursoem Tribunal Superior para definição 
de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva. 
 
A legitimidade é conferida ao juiz ou ao relator, por ofício; às partes, 
por petição; ao Ministério Público ou à Defensoria Pública, por petição. 
 
Não há prazo, podendo ser proposto até o trânsito em julgado. 
 
A competência é definida no Regimento Interno do Tribunal, cabendo 
ao órgão responsável pela uniformização de jurisprudência (geralmente o pleno ou 
a corte especial), que julgará igualmente o recurso, a remessa necessária ou o 
processo de competência originária de onde se originou o incidente. 
 
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A admissibilidade do IRDR não se dá por decisão monocrática, mas 
sim por decisão colegiada. A decisão que admite ou que rejeita o IRDR é 
irrecorrível, salvo os embargos de declaração. 
 
O IRDR não se submete ao recolhimento de custas. 
 
Admitido o incidente, processos individuais e coletivos ficam 
suspensos por um ano. Não basta a instauração do IRDR, faz-se necessária a 
admissão. Cabe ao relator comunicar aos juízos onde tramitam os processos que 
estão todos suspensos. É fundamental que haja a intimação das partes acerca da 
suspensão, até para que possam participar, caso desejem, da discussão travada ou 
que exerçam o direito de distinção. 
 
A suspensão pode ser parcial, prosseguindo-se o processo quanto ao 
pedido que não tem relação com a questão de direito repetitiva a ser decidida no 
IRDR. Ocorre também a suspensão da prescrição, até o trânsito em julgado do 
IRDR. 
 
Qualquer legitimado (exceto juiz ou relator) poderá requerer, ao STF 
ou STJ, a suspensão de todos os processos individuais ou coletivos em curso no 
território nacional que versem sobre a questão objeto do incidente já instaurado. 
Independentemente dos limites da competência territorial, a parte no processo em 
curso no qual se discuta a mesma questão objeto do incidente é legitimada para 
requerer a providência, antes ou durante a interposição do RESP ou RE. Cessa a 
suspensão se não interposto o recurso especial ou extraordinário. 
 
Admitido o IRDR e suspensos os processos pendentes, o relator pode 
requisitar informações, não apenas ao juiz ou relator do processo ou recurso 
originário, mas também ao juiz ou relator de qualquer das causas em que se 
discuta a questão de direito. 
 
O relator do IRDR deve intimar: as partes do processo pendente; os 
demais interessados; os amicus curiae; o Ministério Público. Todos podem requerer 
a juntada de documentos e a realização de diligências necessárias à elucidação da 
questão jurídica a ser apreciada pelo tribunal. 
 
No julgamento do IRDR, a sustentação oral observará o disposto no 
art. 984 do CPC. 
 
O conteúdo do acórdão abrangerá a análise de todos os fundamentos 
suscitados concernentes à tese jurídica discutida, sejam favoráveis ou contrários. 
 
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A revisão da tese jurídica firmada no incidente far-se-á pelo mesmo 
tribunal, de ofício ou mediante requerimento do MP ou da DP. 
 
Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada a todos os processos 
individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão e que tramitem na área 
de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos juizados 
especiais. Aplica-se também aos casos futuros que versem idêntica questão de 
direito e que venham a tramitar no território de competência do tribunal, salvo 
revisão. 
 
Se o incidente tiver por objeto questão relativa a prestação de serviço 
concedido, permitido ou autorizado, o resultado do julgamento será comunicado 
ao órgão, ao ente ou à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva 
aplicação, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada. 
 
Do acórdão que julga o IRDR, cabem embargos de declaração, 
recurso especial e recurso extraordinário, que podem ser interpostos por qualquer 
das partes, pelo Ministério Público, por uma das partes que teve o seu processo 
suspenso ou pelo amicus curiae. 
 
Os recursos especial e extraordinário têm, excepcionalmente neste 
caso, efeito suspensivo automático. O recurso extraordinário tem repercussão 
geral presumida. 
 
Quando apreciado o mérito do recurso, a tese jurídica adotada pelo 
STF ou pelo STJ será aplicada em todo o território nacional aos processos 
individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito. 
 
Há algumas consequências práticas, ao longo do CPC, decorrentes do 
IRDR. Primeiramente, há hipótese de cabimento de reclamação (arts. 985, §1º, e 
988). 
 
Ademais, havendo tese fixada em IRDR, cabe a improcedência 
liminar do pedido (art. 332, III). 
 
Diante de uma tese fixada em IRDR, possibilita-se a concessão de 
tutela da evidência (art. 311, II). 
 
Há ainda, situação de dispensa de remessa necessária, quando o 
julgado contra a Fazenda houver se dado em respeito à tese do IRDR (art. 496, 
§4º, III). 
 
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Dispensa-se caução na execução provisória se a decisão se deu em 
cumprimento à tese firmada no IRDR (art. 521, IV). 
 
Finalmente, dentre os poderes do relator, estão o de negar ou dar 
provimento a recurso, para manter ou adequar o julgado à tese do IRDR (art. 932, 
IV, c e 932, V, c).

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