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2. AGRAVO DE INSTRUMENTO (ARTS. 1.015 A 1.020) 1652 2.1 Noções gerais Na sistemática do CPC/1973, o agravo era o recurso cabível contra qualquer decisão interlocutória (art. 522 do CPC/1973). O que caracterizava a decisão interlocutória é haver ela resolvido, no curso do processo, uma questão incidente. Exemplos: ato que indeferisse requerimento de prova; que excluísse um litisconsorte do processo por ilegitimidade ativa; que indeferisse pedido de assistência judiciária formulado no bojo dos autos e que não recebesse apelação. Antes da reformulação do sistema recursal pelo legislador do novo CPC, cogitavase no anteprojeto a aprovação de texto que impedisse a recorribilidade das decisões interlocutórias, tal como se passa nos procedimentos na Justiça do Trabalho. Verificouse, contudo, que, em face da diversidade e complexidade das questões submetidas ao juízo cível, não era possível simplesmente escorraçar a recorribilidade de tais decisões. Em certos casos, como na liquidação, no cumprimento de sentença e na execução, as questões ditas incidentais é que ordinariamente impelem a fase procedimental. É o caso, por exemplo, das decisões sobre a penhora. Por tal razão, na aprovação da redação final, o legislador optou por reunir as principais situações nas quais a decisão interlocutória é capaz de gerar prejuízo para uma das partes. Nesses casos e em outros expressamente previstos em lei,17 pode a parte interpor agravo de instrumento. Tratandose de liquidação e cumprimento de sentença, de processo de execução e procedimento de inventário, todas as interlocutórias podem ser impugnadas por essa espécie recursal. No regime do CPC/1973, com relação ao agravo de instrumento, a taxatividade estava prevista apenas para os casos de inadmissão da apelação e para os relativos aos efeitos em que a apelação era recebida. Fora disso, para cabimento da forma instrumental do agravo, era preciso demonstrar que a decisão recorrida era suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação. Não admitida a forma instrumental para impugnar a decisão, deverseia manejar o agravo retido. No novo CPC essa diferenciação não mais existe. A modalidade retida, que era a principal forma de interposição desse recurso no sistema do sistema do CPC/1973, simplesmente desapareceu. Agora, de duas uma: ou a decisão interlocutória é recorrível ou não é. Somente será recorrível se a hipótese estiver expressamente prevista no rol do art. 1.015 ou em outros casos expressamente previstos no Código ou em legislação especial (princípio da taxatividade). Se recorrível, o recurso 1653 2.2 adequado é o agravo de instrumento, salvo a hipótese de agravo interno contra decisão de relator. A decisão interlocutória que não comporta agravo de instrumento – porque não consta da relação do art. 1.015 – não fica coberta pela preclusão e pode ser suscitada em preliminar de apelação, ou nas contrarrazões (art. 1.009, § 1º), conforme já ressaltado no item neste Capítulo. Sendo a decisão suscetível de causar à parte lesão grave antes do julgamento da apelação, podese manejar mandado de segurança, consoante interpretação, a contrario sensu, da Súmula nº 267 do STF: “Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição”. Hipóteses de cabimento O art. 1.015 lista onze espécies de decisões interlocutórias que podem ser impugnadas por agravo de instrumento, além de, no inciso XIII, prever uma abertura para “outros casos expressamente referidos em lei”. O inciso XII foi vetado. Quando a matéria objeto da decisão interlocutória não estiver descrita nesses tipos ou hipóteses agraváveis e não houver qualquer outro recurso ou meio de impugnação apropriado, para evitar lesão ou ameaça de lesão ao seu direito, poderá a parte prejudicada impetrar mandado de segurança. Afinal, tratase (a decisão) de ato de autoridade, suscetível de causar gravame à parte. Por exemplo, para a decisão que indefere prova pericial não há previsão de agravo de instrumento. Assim, se não for o caso de produção antecipada de prova – pleito cautelar, inserido no âmbito da tutela provisória, para a qual há previsão de agravo de instrumento –, pode a parte prejudicada, em tese, impetrar mandado de segurança. Caso não o faça, somente como preliminar, nas razões ou nas contrarrazões de apelação, poderá a parte impugnar a questão. Vejamos, então, o rol taxativo das decisões que admitem a interposição de agravo de instrumento: Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I – tutelas provisórias; II – mérito do processo; III – rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV – incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V – rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; 1654 VI – exibição ou posse de documento ou coisa; VII – exclusão de litisconsorte; VIII – rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX – admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X – concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; XI – redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º; XII – (VETADO); XIII – outros casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. O agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias relacionadas à tutela provisória (inciso I) justificase em razão da possibilidade de dano que a decisão pode acarretar a uma das partes. O autor de uma ação de cobrança percebe que o réu está dilapidando seu patrimônio, razão pela qual pleiteia a concessão de tutela de urgência (cautelar, nesse caso) para garantir o recebimento de seu suposto crédito. Se o juiz indefere o pedido e não há possibilidade de recurso para o autor, poderá o réu dispor de todos os seus bens, deixando o autor “a ver navios”. A hipótese inversa também se sujeita ao agravo. Se o réu, nesse exemplo, dispõe de patrimônio suficiente para pagar o autor, pode recorrer de eventual decisão que defira a tutela cautelar, sob o argumento de inexistir qualquer perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo. No âmbito da tutela de evidência, a necessidade de previsão do agravo de instrumento também se mostra necessária. É que, por mais que a legislação a trate como tutela provisória, nas hipóteses do art. 311 há uma verdadeira antecipação do julgamento em prol da satisfação de determinados interesses que normalmente só são reconhecidos em cognição exauriente. Quanto ao inciso II, abrese a possibilidade de interposição de agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias de mérito. Nos termos do art. 356, em caso de cumulação de pedidos, o juiz poderá conhecer e julgar um ou mais deles antecipadamente, via decisão interlocutória, se existir pedido incontroverso ou a causa estiver madura para julgamento (art. 356, I e II), ainda que os demais pedidos cumulados no mesmo processo não estejam preparados para julgamento. Dessa decisão o recurso cabível será o agravo de instrumento (art. 1.015, II; art. 356, § 5º), eis que, apesar de decidir o mérito de parte do processo, não põe fim à fase cognitiva, pelo que não pode ser equiparada a sentença e, por conseguinte, 1655 impugnadavia apelação. O novo CPC permite expressamente a fungibilidade recursal em determinados casos (exemplo: o relator pode “transformar” embargos de declaração em agravo interno, desde que o recorrente seja intimado previamente para regularizar sua peça). Creio que, em tese, no caso do inciso II do art. 1.015, dependendo da natureza da dúvida suscitada, podese reconhecer a fungibilidade, ou seja, admitir que a apelação seja recebida como agravo de instrumento ou viceversa. A decisão que julga procedente o pedido de prestação de contas tem natureza interlocutória e, por ser de mérito, também é recorrível por agravo de instrumento (art. 550, § 5º). Lembrese que a ação de exigir contas pode ser subdivida em duas fases. Na primeira fase julgase o dever de prestar ou não contas e, na segunda, são julgadas as contas em si. Pode ser que a fase cognitiva se encerra com a primeira decisão – quando o juiz julga que o réu não tem o dever de prestar contas – e então cabível será a apelação. Contudo, se, na decisão, o juiz condena o réu a prestar contas, a fase cognitiva não é encerrada, e então cabível é o agravo de instrumento. Contra a decisão que rejeita a alegação de convenção de arbitragem também cabe agravo de instrumento (inciso III). Nos termos do art. 337, X, incumbe ao réu alegar, em preliminar da contestação, a existência de convenção de arbitragem (compromisso arbitral ou cláusula compromissória). Caso o juiz rejeite essa alegação, o processo continuará tramitando na jurisdição estatal. Desse modo, torna se imprescindível viabilizar o manejo do agravo de instrumento para que a eventual remessa das partes ao juízo de arbitragem só venha a ocorrer no julgamento da apelação. Ressaltese que, no caso de acolhimento da alegação de convenção de arbitragem, não há falar em agravo. Nesse caso, o juiz proferirá sentença, extinguindo o processo sem resolução do mérito (art. 485, VII). Contra essa decisão somente será cabível recurso de apelação (art. 203, § 1º, c/c o art. 1.009). Conforme já visto na Parte I desta obra, o procedimento para a desconsideração da personalidade jurídica está expressamente positivado no novo CPC (arts. 133 a 137) como mais uma modalidade de intervenção de terceiros. Nos termos do art. 136, estando preenchidos os requisitos legais (art. 50 do CC; art. 28, § 5º, do CDC; art. 4º da Lei nº 9.605/1998) e considerando o juiz suficientes as provas trazidas aos autos, julgará o pedido de desconsideração por decisão interlocutória. Contra a decisão que acolher (ou não) o pedido de desconsideração, caberá agravo de instrumento (art. 136, parte final; art. 1.015, IV). Se a decisão for proferida pelo 1656 relator, o recurso cabível será o agravo interno (art. 136, parágrafo único; art. 1.021). Da decisão do órgão colegiado, nos Tribunais de Justiça ou nos TRFs, caberá recurso especial. Para efeito de recurso, não importa em que peça a desconsideração foi pleiteada, se na petição inicial ou incidentalmente. O que importa é onde foi decidida. Ainda que a desconsideração tenha sido postulada na petição inicial – hipótese em que será desnecessária a instauração do incidente (art. 134, § 2º) –, pode o juiz decidir a questão antes da sentença, hipótese que ensejará a interposição de agravo de instrumento. Ao revés, se a desconsideração for apreciada na sentença, a impugnação da questão deve ser feita na apelação. Contra a decisão de indeferimento do pedido ou de revogação do benefício da gratuidade judiciária, o Código também prevê o cabimento de agravo de instrumento (inciso V). Se a decisão for de deferimento, a medida cabível é a impugnação (art. 100). Contudo, se a questão for resolvida na sentença, cabível será o recurso de apelação (art. 1.009), conforme previsto na parte final do art. 101. Nas duas hipóteses fica o recorrente dispensado do recolhimento de custas até a decisão do relator, porquanto é inaplicável a pena de deserção ao recurso interposto contra julgado que indeferiu o pedido de justiça gratuita.18 Contra a decisão que verse sobre a exibição ou posse de documento ou coisa (inciso VI), por se tratar de um incidente do processo, cabe a interposição de recurso de agravo de instrumento. O fato de a exibição dever ser feita por terceiro não altera o regime recursal, uma vez que a questão, também nesse caso, é suscitada e decidida incidentalmente no processo. O fato de o Código determinar a citação do terceiro não retira a natureza incidental do procedimento, tampouco conduz à conclusão de que deva ser decidido por sentença, como ocorria no regime do CPC/1973. Um dos objetivos visados pelo novo CPC foi a redução de processos autônomos, daí por que o art. 402, ao contrário do art. 361 do CPC/1973, utiliza a palavra decisão, e não sentença. Bem, da decisão que determina a exibição de documento ou coisa, pela própria parte ou por terceiro, cabe agravo de instrumento. A exclusão de litisconsorte do processo (inciso VII) e a limitação do litisconsórcio (inciso VIII) também são matérias impugnáveis via agravo de instrumento. A decisão que determina a exclusão de litisconsorte não põe termo ao processo, mas somente à ação em relação a um dos litigantes, pelo que se encaixa no conceito do art. 203, § 2º. Já a decisão que rejeita o pedido de limitação de litisconsórcio, apesar de não excluir nenhum dos litigantes do processo, é capaz de acarretar atraso da marcha processual e, consequentemente, prejuízos para os 1657 • • • próprios litigantes, razão pela qual o legislador permitiu que ela fosse impugnada antes do término do processo. De acordo com o inciso IX, a medida adequada para impugnar decisão interlocutória que verse sobre admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros também é o agravo de instrumento. Nos termos do art. 919, § 2º, o juiz poderá modificar ou revogar, a qualquer tempo, a decisão que estabeleceu o efeito suspensivo aos embargos à execução. Tratase, na hipótese, de decisão interlocutória, porquanto proferida no curso da execução, sem acarretar extinção dos atos executórios. Por conseguinte, o recurso cabível será o agravo de instrumento (inciso X). Consoante o disposto no Capítulo I, Parte II, desta obra, a decisão sobre a inversão do ônus probatório deve ocorrer, preferencialmente, na fase de saneamento do processo. Se posteriormente, deve ser assegurado à parte a quem não incumbia inicialmente o encargo a reabertura de oportunidade para manifestarse nos autos. Em qualquer caso, a decisão do juiz será uma decisão interlocutória, contra a qual caberá agravo de instrumento (inciso XI). O inciso XIII do art. 1.015 prevê o cabimento do agravo em “outros casos expressamente referidos em lei”. Vejamos outros casos previstos no próprio CPC, mas fora do rol do art. 1.015: Art. 354, parágrafo único. Se as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 487, II e III, forem apenas parciais, será cabível agravo de instrumento. Exemplos: (i) o juiz verifica a decadência do direito do autor em relação a um dos pedidos; (ii) o juiz homologa acordo em relação à indenização por dano material, mas o processo segue para fixação do dano moral, que não foi objeto de transação; (iii) o juiz indefere parcialmente a petição inicial ou a reconvenção (a parte é manifestamente ilegítima para um dos pedidos, por exemplo).Se a decisão tiver relação com o mérito, pode perfeitamente se enquadrar na hipótese do art. 1.015, II; Art. 356, § 5º. Se o juiz decidir parcialmente o mérito em relação um dos pedidos formulados ou parcela deles, será cabível agravo de instrumento. Como se trata se hipótese de decisão que envolve o mérito, também é possível enquadrála no art. 1.015, II; Art. 1.037, § 13, I. No julgamento de recursos especial e extraordinário repetitivos, demonstrada a distinção entre a questão a ser decidida no processo e aquela a ser julgada no recurso especial ou extraordinário afetado, 1658 2.3 2.3.1 a parte poderá requerer o prosseguimento do seu processo (art. 1.037, § 9º). Da decisão que resolver esse requerimento caberá agravo de instrumento caso o processo ainda esteja em primeiro grau. Apesar de claramente tratarse de rol taxativo, é possível admitir a ampliação do rol do art. 1.015 pela via interpretativa. Exemplo: se eventual decisão postergar a análise de pedido liminar de tutela de urgência (art. 300, § 2º), é possível que ela seja equiparada à decisão que nega a tutela provisória (art. 1.015, I). Essa hipótese ocorrerá nos casos em que o juiz, ao receber a petição inicial com o pedido de tutela de urgência (antecipada ou cautelar) em caráter liminar, deixe para apreciálo somente após a manifestação do réu. Há um dogma segundo o qual contra a “não decisão” não cabe recurso. Não esqueçamos de que a omissão da autoridade pode ser tão ou mais danosa do que o ato comissivo. Não é por outra razão que também o ato omissivo – na verdade, o “não ato” – enseja a interposição de mandado de segurança. Ora, se podemos definir a questão – por exemplo, se posterga a análise do pedido de tutela provisória ou não – em mandado de segurança, por que não resolvêla via recurso (de agravo de instrumento) na mesma relação processual? Procedimento Prazo e formação do instrumento O agravo de instrumento constitui exceção ao sistema recursal. Isso porque os demais recursos são interpostos perante o juízo que proferiu a decisão recorrida. O agravo de instrumento, entretanto, é dirigido diretamente ao tribunal competente, no prazo de quinze dias, por meio de petição com os seguintes requisitos (art. 1.016): (i) o nome das partes (não há necessidade de qualificação, exceto se interposto por terceiro); (ii) a exposição do fato e do direito; (iii) as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e do próprio pedido; (iv) o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo. O instrumento, além da petição, deve ser formado pelas peças indicadas no art. 1.017. O novo CPC, em relação ao CPC/1973, ampliou o rol das peças consideradas obrigatórias, mas, por outro lado, seguindo a evolução jurisprudencial, apresentou alternativas aos documentos necessários para conhecimento de agravo de instrumento. Vamos à comparação entre as duas legislações: CPC/2015, art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída: 1659 I – obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; II – com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal; III – facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis. CPC/1973, art. 525. A petição de agravo de instrumento será instruída: I – obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; II – facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis. Da comparação entre as redações do CPC/1973 e do CPC/2015, percebese que este incluiu como peças obrigatórias as cópias da petição inicial, da contestação e da petição que ensejou a decisão agravada. Também a cópia da decisão agravada é indispensável na formação do instrumento, porquanto é por intermédio dela que o tribunal vai verificar o acerto ou desacerto do juiz prolator da decisão impugnada. A certidão da respectiva intimação também é indispensável, visto que, permanecendo os autos no juízo de primeiro grau (a menos que se trate de autos virtuais), é por meio dela que se verifica a tempestividade do recurso. A cópia das procurações destinase a comprovar o pressuposto processual relativo à representação do advogado, bem como permitir, quando for o caso, a intimação por carta, com aviso de recebimento, dirigida ao patrono do recorrente ou do recorrido (art. 1.019, II). Apesar da ampliação do rol, o novo Código seguiu a evolução jurisprudencial ao permitir que a certidão de intimação seja substituída por outro documento que comprove o ato e a tempestividade do recurso.19 Além disso, caso não existam quaisquer dos documentos previstos no inciso I do art. 1.017 – rol de documentos obrigatórios –, o CPC/2015 dispõe que o próprio advogado poderá declarar tal circunstância nos autos, sob pena de responsabilidade. Tratase de inovação que prestigia a atuação do advogado e facilita a interposição dessa espécie recursal. Sobre o tema, frisese que a jurisprudência já admitia a declaração de inexistência dos documentos, mas desde que atestada pelo órgão competente.20 Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensase a juntada das peças obrigatórias a que alude o inciso I do art. 1.017, bem como a declaração de inexistência de qualquer documento obrigatório. O fato de se tratar de autos eletrônicos não retira do agravante a faculdade de anexar outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia (§ 5º do art. 1.017). 1660 2.3.2 A petição, com todas as peças que compõem o instrumento, será protocolada no tribunal, na própria comarca, seção ou subseção judiciárias, postada no correio sob registro com aviso de recebimento, ou, ainda, interposta por meio de facsímile ou por outra forma prevista na lei, como por meio de protocolo integrado (art. 1.017, § 2º). Idêntico procedimento será observado pelo agravado por ocasião de sua resposta. No ato da interposição do agravo (protocolo), o agravante comprovará o pagamento das respectivas custas e do porte de retorno (art. 1.017, § 1º). De acordo com os §§ 2º e 4º do art. 1.007, a insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, implicará deserção se o recorrente, depois de intimado, não vier a suprilo no prazo de 5 dias. Se o recorrente não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, ainda que incompleto, será intimado para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção. Ausente algum requisito da petição, ou alguma das peças obrigatórias, incluindo o comprovante de pagamento das custas e porte de retorno, ou seja, ausente pelo menos um dos requisitos de admissibilidade, o relator deverá conceder prazo de cinco dias ao recorrente para que este sane eventual vício ou complemente a documentação exigida (art. 1.017, § 3º).21 Se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados tipo facsímile ou similar, as peças devem ser juntadas no momento de protocolo da petição original. Comunicação ao juízo de primeiro grau O art. 1.018 estabelece que “o agravante poderá requerer a juntada,aos autos do processo, de cópia da decisão da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o recurso”. Não obstante a utilização do verbete “poderá” (caput do art. 1.018), permanece o caráter obrigatório22 da petição de juntada do agravo de instrumento interposto em segunda instância aos autos originais do processo, para fins de retratação do juízo singular e ciência do agravado sobre o ajuizamento do recurso e de seu conteúdo.23 A não informação ao juízo singular, no prazo de 3 dias a contar da interposição, implica inadmissibilidade do recurso, nos termos dos §§ 2º e 3º do art. 1.018. No caso de autos eletrônicos, por óbvio, dispensase a comunicação. Por certo nos sistemas informatizados haverá um aviso alertando o juiz sobre a interposição do agravo de instrumento, a fim de oportunizar ao magistrado o juízo de retratação. Nos termos do § 1º do art. 1.018, se o juiz comunicar que reformou 1661 2.3.3 • • • inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo de instrumento. Registrese que a requisição de informações pelo relator do recurso é facultativa. Assim, nem sempre o juiz toma conhecimento da interposição do agravo por essa via, uma razão a mais a justificar a providência prevista no art. 1.018. Procedimento no tribunal O art. 1.019 estabelece o procedimento do agravo de instrumento no tribunal. Vejamos a sua redação: Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias: I – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; II – ordenará a intimação do agravado pessoalmente, por carta com aviso de recebimento, quando não tiver procurador constituído, ou pelo Diário da Justiça ou por carta com aviso de recebimento dirigida ao seu advogado, para que responda no prazo de 15 (quinze) dias, facultandolhe juntar a documentação que entender necessária ao julgamento do recurso; III – determinará a intimação do Ministério Público, preferencialmente por meio eletrônico, quando for o caso de sua intervenção, para que se manifeste no prazo de 15 (quinze) dias. Da leitura desse dispositivo exsurgem os poderes do relator do agravo de instrumento, que são, em síntese, os seguintes: Julgamento monocrático. O permissivo apresentado no inciso I garante ao relator a possibilidade de julgar monocraticamente o agravo de instrumento em prol da celeridade e em respeito aos precedentes judiciais. Sobre o tema, conferir o item 2.2, Capítulo II, desta Parte. Contra a decisão do relator caberá agravo interno (art. 1.021); Atribuição de efeito suspensivo ou antecipação da tutela recursal. O agravo, ao contrário da apelação, normalmente não tem efeito suspensivo. Entretanto, poderá o relator, a requerimento do agravante, atribuir efeito suspensivo ao recurso. Poderá também conceder o denominado efeito ativo ao recurso, ou seja, conceder, antes do julgamento pelo órgão colegiado, a pretensão recursal almejada pelo recorrente (tutela antecipatória recursal). Requisição de informações. Apesar de o novo CPC não reproduzir a redação 1662 • • 2.3.4 do inciso IV do art. 527 (“Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: IV – poderá requisitar informações ao juiz da causa, que as prestará no prazo de 10 (dez) dias”), ainda é possível a prestação de informações pelo juízo de origem. Tal pedido se insere de maneira geral no capítulo referente à cooperação jurisdicional (art. 69, III). Em geral, as informações são requisitadas, mas não se trata de providência obrigatória. A necessidade das informações irá depender do grau de convencimento formado pelo relator a partir das peças que instruíram o agravo; Intimação do agravado. A intimação para responder ao recurso pode ser feita pessoalmente ao agravado, por carta com aviso de recebimento, quando este não tiver procurador constituído. Se já existir advogado habilitado, a intimação será dirigida ao patrono do agravado, por carta com aviso de recebimento ou por meio do Diário da Justiça. O agravado tem prazo de 15 (quinze) dias para responder ao recurso, podendo trazer aos autos a documentação que entender conveniente, não estando limitado às peças constantes no processo. Se forem juntados documentos inéditos, o juiz deverá oportunizar o contraditório (arts. 9º e 10). Ressaltese que a intimação da parte agravada para responder ao recurso deve ser dispensada quando o relator julgar monocraticamente o agravo, na forma do art. 932, III e IV, pois essa decisão beneficiará o agravado; Intimação do Ministério Público. Ultimadas as providências anteriores, o órgão do Ministério Público que oficia perante o tribunal será ouvido para se manifestar sobre o recurso no prazo de quinze dias, desde que o caso enseje a atuação ministerial (art. 178). A intimação do membro do Ministério Público será feita, preferencialmente, por meio eletrônico. Julgamento do agravo de instrumento e possibilidade de retratação De acordo com o art. 1.020, em prazo não superior a 1 (um) mês da intimação do agravado, o relator pedirá dia para julgamento, o que significa que, transcorrido o prazo, com ou sem a apresentação das contrarrazões, o agravo será incluído na pauta de julgamento. Todavia, tratase de mais um prazo impróprio, de norma programática, desprovida de qualquer sanção processual para o julgador. Finalmente, trata o art. 1.018, § 1º, do juízo de retratação no agravo. No agravo 1663 de instrumento, não existe momento determinado para que o juiz se retrate, daí por que se admite a reforma da decisão durante todo o curso procedimental. Destarte, tomando conhecimento da interposição do agravo, seja pela juntada aos autos de cópia da petição, seja pela requisição de informações, pode o juiz reformar a decisão e, assim agindo e comunicando ao tribunal, o relator considerará prejudicado o recurso. Entretanto, julgado o agravo, não mais pode o juiz retratarse, visto que a decisão do tribunal o vincula. E se o tribunal não for informado em tempo hábil acerca do juízo de retratação positivo praticado pelo juiz de primeiro grau? Segundo o STJ, nesse caso, a decisão proferida pelo tribunal ad quem substituirá a decisão do magistrado de primeiro grau, objeto do recurso. Isso porque “a reforma da decisão, cuja comunicação ao tribunal é obrigação do juiz, torna imediatamente prejudicado o agravo de instrumento, não importando que já tenha esse sido julgado em sentido contrário. Se não fosse assim, inteiramente ineficaz seria a retratação. O objeto do agravo de instrumento é a decisão original, portanto, o seu julgamento só pode produzir efeitos sobre essa” (REsp 160.997/MG, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, julgado em 27.03.2000). Reformada a decisão, só resta à parte prejudicada pela retratação interpor outro recurso. A sistemática do agravo não mais admite o chamado recurso invertido, por meio do qual o recorrente aproveitava o recurso que estava no tribunal para mudar a nova decisão do juiz de primeiro grau: “Se houver reforma, ainda que parcial, da decisão, o agravado poderá interpor o recurso que couber dessa nova situação. Poderá não ser o de agravo (por exemplo: se o juiz, apreciando o agravo, reformar decisão que rejeitara a alegação de prescrição,e a acolher, cabível será a apelação)”.24 JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA “Não cabe recurso especial contra acórdão que indefere a atribuição de efeito suspensivo a agravo de instrumento. A decisão colegiada que entende pela ausência dos requisitos necessários à atribuição do efeito suspensivo a agravo de instrumento não resulta em decisão de única ou última instância, como previsto art. 105, III, da CF. Há necessidade de que o Tribunal julgue, definitivamente, o agravo de instrumento em seu mérito para que a parte vencida possa ter acesso à instância especial” (STJ, REsp 1.289.317/DF, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto Martins, j. 27.05.2014). “Agravo de instrumento – Reforma da decisão pelo exercício do juízo de retratação – Falta de comunicação ao Tribunal – Julgamento do recurso. A decisão proferida pelo 1664 tribunal ad quem, em sede de agravo de instrumento, substitui a decisão do magistrado de primeiro grau, objeto do recurso. Não, entretanto, a nova decisão, resultante do exercício do juízo de retratação” (STJ, REsp 160.997/MG, 3ª Turma, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 27/03/2000). Súmula nº 425 do STF: “O agravo despachado no prazo legal não fica prejudicado pela demora da juntada, por culpa do cartório; nem o agravo entregue em cartório no prazo legal, embora despachado tardiamente”. Súmula nº 86 do STJ: “Cabe recurso especial contra acórdão proferido no julgamento de agravo de instrumento”. Súmula nº 118 do STJ: “O agravo de instrumento é o recurso cabível da decisão que homologa a atualização do cálculo da liquidação”.25 Súmula nº 223 do STJ: “A certidão de intimação do acórdão recorrido constitui peça obrigatória do instrumento de agravo”.26 Quadro esquemático 108 1665 1666 3. AGRAVO INTERNO (ART. 1.021) Dentro do sistema recursal apresentado pelo CPC/1973, o agravo interno possuía tratamento esparso, vinculado a hipóteses específicas e ligadas à possibilidade do julgamento do recurso por delegação do colegiado ao próprio relator. O novo CPC mantém a competência dos órgãos julgadores no que tange ao processamento, mas unifica as hipóteses de cabimento dessa espécie recursal, esboçando seus contornos essenciais para uma adequação constitucional. Pois bem. O art. 1.021 prevê o cabimento do agravo interno contra decisão proferida pelo relator, ao passo que o art. 1.030, § 2º, prevê o cabimento desse recurso contra decisão do presidente ou vicepresidente do tribunal. Tratase de previsão que tem como objetivo permitir à parte prejudicada impugnar decisão interna do juízo de um Tribunal. No caso de o relator pertencente a um órgão colegiado proferir uma decisão monocrática, e sendo esta impugnada mediante agravo interno, a sua decisão monocrática será revisada pelo próprio órgão colegiado ao qual pertence. Nos Tribunais Superiores esse recurso é conhecido como agravo regimental (art. 39 da Lei nº 8.038/1990). O direito de recorrer da decisão do relator deve ser exercido no prazo de 15 dias. Na petição do agravo interno, cabe ao recorrente impugnar especificamente os fundamentos da decisão agravada (art. 1.021, § 1º). Ou seja, se o julgamento monocrático foi de não provimento do recurso (art. 932, IV), com a fundamentação de que a decisão recorrida está de acordo com súmula do STJ (art. 932, IV, “a”), o agravante deve demonstrar que o entendimento do STJ não se aplica ao caso. Deve, portanto, realizar o dinstinguishing. Ao final do prazo para contrarrazões, abremse as seguintes possibilidades: a) o relator poderá reconsiderar a sua decisão (art. 1.021, § 2º) ou b) levar o recurso para julgamento pelo órgão colegiado, caso decida manter a decisão monocrática. Ressaltese que o § 3º do art. 1.021 impede o julgamento de improcedência do agravo interno, pelo relator, com base na reprodução dos fundamentos da decisão agravada. Se o objetivo do recurso é garantir o acesso ao julgamento colegiado, sob pena de violação do princípio do juízo natural, é essencial que o órgão composto possa rediscutir os argumentos apresentados pelas partes. A disposição se ajusta a outros dispositivos da nova legislação que tratam do contraditório na sua dimensão material, tais como o art. 10 e o art. 489, § 1º, IV. A decisão monocrática pode ser reformada na sessão de julgamento ou o órgão 1667 colegiado pode declarar o recurso manifestamente inadmissível (pressuposto de admissibilidade) ou improcedente (caso de negativa de provimento). Nesse último caso, se a votação for unânime, impõese ao recorrente o pagamento de multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa (art. 1.021, § 4º). Em síntese, para aplicação da multa exigese: (a) manifesta inadmissibilidade ou improcedência; (b) votação unânime pela inadmissibilidade ou improcedência. É de se esclarecer que o simples fato de negar provimento não significa que seja manifestamente inadmissível; é preciso que haja manifestação expressa sobre a “manifesta inadmissibilidade”. A interposição de qualquer outro recurso fica condicionada ao pagamento da multa.27 A execução da penalidade fica suspensa, todavia, caso a parte seja beneficiária da assistência judiciária ou se trate da Fazenda Pública (art. 1.021, § 5º). Nessas hipóteses o pagamento somente será exigível ao final, ou seja, após o trânsito em julgado da decisão recorrida. No caso da Fazenda Pública, o disposto no § 5º do art. 1.021 do novo CPC vai de encontro ao entendimento do STJ firmado na sistemática do CPC/1973. Para a Corte, o prévio depósito da multa referente a agravo interno manifestamente inadmissível ou infundado, aplicada pelo abuso do direito de recorrer, também é devido pela Fazenda Pública.28 O novo CPC não dispensa a Fazenda Pública do pagamento da multa, mas não exige que ela seja paga previamente ao recurso que se pretende interpor. Ressaltese que, quanto à parte beneficiária da gratuidade de justiça, já entendeu o STJ que a circunstância não impede a imposição da multa; devese apenas suspender o seu pagamento.29 Por fim, vale ressalvar que o STJ tem entendimento no sentido de que o § 2º do art. 557 do CPC/1973 – correspondente ao § 4º do art. 1.021 – não tem aplicação quando as razões do recurso a ser interposto forem distintas, ou seja, quando o recorrente pretender impugnar matéria diferente daquela tratada no agravo interno que deu origem à multa. Exemplo: uma das partes interpõe apelação e essa é decidida monocraticamente com base no art. 932, III (art. 1.011, I). Não há, portanto, análise quanto ao mérito do recurso. O recorrente interpõe agravo interno dessa decisão e este é declarado pelo órgão colegiado como manifestamente inadmissível, com fundamento na inexistência de pressuposto recursal (art. 1.021, § 4º). Ou seja, o órgão colegiado confirma a decisão do relator. O agravante interpõe recurso especial por acreditar que a sentença fere norma infraconstitucional. Nesse exemplo, o recorrente já havia suscitado a questão em sede de apelação, mas, diante 1668 da inadmissibilidade do recurso, a tese de afronta à lei infraconstitucional não foi apreciada. Veja, nesse sentido, a decisão do STJ: “Direito processual civil. Alcance da restrição contida no § 2º do art. 557 do CPC. Ainda que o recorrente tenha sido condenado ao pagamento da multa a que se refere o § 2º do art. 557 do CPC, não se pode condicionar ao seu recolhimento a interposição, em outra fase processual, de recurso que objetivea impugnação de matéria diversa daquela tratada no recurso que deu origem à referida sanção. Isso porque, sob pena de obstaculizar demasiadamente o exercício do direito de defesa, apenas a interposição do recurso que objetive impugnar a mesma matéria já decidida e em razão da qual tenha sido imposta a referida sanção está condicionada ao depósito do valor da multa” (STJ, REsp 1.354.977/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 02.05.2013). JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA Decisão monocrática sujeita a recurso não viola o princípio da colegialidade “Poderes processuais do Ministro Relator e princípio da colegialidade. Assiste, ao MinistroRelator, competência plena para exercer, monocraticamente, com fundamento nos poderes processuais de que dispõe, o controle de admissibilidade das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal. Pode, em consequência, negar trânsito, em decisão monocrática, a ações, pedidos ou recursos, quando incabíveis, intempestivos, sem objeto ou, ainda, quando veicularem pretensão incompatível com a jurisprudência predominante na Suprema Corte. Precedentes. O reconhecimento dessa competência monocrática, deferida ao Relator da causa, não transgride o postulado da colegialidade, pois sempre caberá, para os órgãos colegiados do Supremo Tribunal Federal (Plenário e Turmas), recurso contra as decisões singulares que venham a ser proferidas por seus Juízes” (STF, MS 28.097 AgR/DF, Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, j. 11.05.2011). Súmula nº 253 do STJ: “O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame necessário”.30 Quadro esquemático 109 1669 4. 4.1 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (ARTS. 1.022 A 1.026) Conceito e cabimento Em sede doutrinária, ainda persiste a controvérsia acerca da natureza dos embargos de declaração. Para alguns doutrinadores, tais embargos não constituem recurso, mas sim meio de correção e integração da sentença. Tanto para o CPC/1973 quanto para o CPC/2015, no entanto, não há dúvida quanto à natureza recursal dos embargos de declaração, tanto que nas duas legislações eles foram colocados nos títulos relativos aos recursos (arts. 535 a 538 do CPC/1973; arts. 1.022 a 1.026 do CPC/2015). Os embargos de declaração podem ser conceituados como o recurso que visa ao esclarecimento ou à integração de uma decisão judicial. No CPC/1973 o art. 535 dispunha que os embargos seriam cabíveis contra sentença ou acórdão. No novo CPC a redação do caput do art. 1.022 deixa claro que os embargos podem ser opostos contra qualquer decisão judicial e não apenas contra sentença ou acórdão. Esse entendimento já possuía respaldo em nossos tribunais.31 Em suma, não importa a natureza da decisão. Seja interlocutória, sentença ou acórdão, se a decisão for obscura, omissa, contraditória ou contiver erro material, pode vir a ser sanada por meio dos embargos de declaração. Nada impede que os embargos também sejam opostos contra despachos. É que, apesar de estes pronunciamentos serem desprovidos de conteúdo decisório, é 1670
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