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Regulação Governamental Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marcelo Bernardino Araújo Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin Objetivos e formas da regulação 5 • Objetivos da regulação • Formas da regulação · Estudar os objetivos e as formas de regulação, por meio das políticas fiscal, monetária e regulatória Nesta Unidade, os temas trabalhados serão os objetivos e as formas de regulação. O texto está dividido em: 1. Objetivos da Regulação; 2. Formas de Regulação; 1.1 Política Fiscal; 1.2 Política Monetária; 1.3 Política Regulatória; 1.4 Ações Regulatórias. Esse conteúdo é essencial para sua formação e atuação como futuro gestor público. Bons estudos! Objetivos e formas da regulação 6 Unidade: Objetivos e formas da regulação Contextualização Desde antes de nascermos, ainda fetos, já temos alguns direitos. Direitos que derivam de normas, de leis. E, em cada etapa da vida civil, existe uma série de atividades que são normatizadas, como, por exemplo, para providenciar documentos como o Registro Geral (RG), Cadastro de Pessoa Física (CPF), Título de Eleitor, Carteira de Trabalho de Previdência Social (CTPS), entre outros. Tanto as Pessoas Físicas quanto as Pessoas Jurídicas, sejam de Direito Público (sem fins lucrativos), sejam de Direito Privado (com ou sem fins lucrativos), devem obedecer às leis. Em outras palavras, tudo é regulamentado. Mas regulamentação e regulação são expressões com significados diferentes, embora geralmente utilizadas como sinônimas. Então, o que significa cada uma? Di Pietro (2003) apresenta dois conceitos de regulação, a econômica e a outra sob o aspecto jurídico. Regulação Econômica é o conjunto de regras de conduta e de controle da atividade privada do Estado, com a finalidade de estabelecer o funcionamento equilibrado do mercado. Já a Regulação do âmbito jurídico é o conjunto de regras de conduta e de controle da atividade econômica pública e privada e das atividades sociais não exclusivas do Estado, com a finalidade de proteger o interesse público. A Regulamentação ocorre por atos, que não podem ser delegados, dos Poderes Executivo e Legislativo, como, por exemplo, a criação de Decretos e as Leis, respectivamente. Você entendeu a diferença? Enquanto a Regulação é atribuída por um Órgão regulador para certas atividades econômicas, a Regulamentação é atribuída por meio de Decretos e Leis. Referências DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Limites da função reguladora das agências diante do princípio da legalidade. Direito regulatório: temas polêmicos, v. 2, p. 19-50, 2003. 7 Objetivos da regulação O Estado Regulador é um meio termo entre o Estado Liberal, que é caracterizado pela abstenção de intervenção na Economia, na qual prevalece o livre mercado; e o Estado Intervencionista, que é caracterizado pela intervenção total na Economia, no qual tudo deve ser provido pelo Estado. Então, como funciona a Regulação? Iniciamos este capítulo citando o Art. 174 da Constituição Federal, para você compreender alguns pontos essenciais da regulação: Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. § 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento. § 2º A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo. § 3º O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros. § 4º As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo com o art. 21, XXV, na forma da lei. Percebe-se que a Constituição reforça duas funções do Estado brasileiro, que são a normatização (Poder Legislativo) e a regulação (Poder Executivo) da atividade econômica. Mas por que é necessário regular a Economia? Com a crise americana, em 1929, o liberalismo foi colocado em xeque. A autorregularão da Economia sem a intervenção do Estado é a melhor forma de uma nação prosperar? Ou uma intervenção total da Economia seria a melhor maneira? A História mostra também, por exemplo, a Revolução Russa em 1917: o proletariado não aguentou o liberalismo extremo das desigualdades sociais entre as classes com o poder econômico e os menos favorecidos, que derrubaram a autocracia e levaram ao poder o partido Bolchevique, criando a União Soviética (1922 a 1991). O sistema que durou aproximadamente seis décadas – sistema socialista russo – deu lugar ao sistema capitalista. Mas o que ocorreu para essa alteração? Novamente foi o povo e sempre será o povo que manterá um sistema ou um governante no poder. A Constituição brasileira diz, no parágrafo único do artigo 1º: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. 8 Unidade: Objetivos e formas da regulação Figura 1 – Rede de Poder. Mecanismos de governança Estrutura de oportunidades Interesses Recursos de poder Atores Políticas Públicas Realização de Políticas Públicas Interação estratégica Modo de Regulação Formação da instituição política Resultados Formas de inclusão/ exclusão (normas de adequação) Ambiente institucional Fonte: Adaptado de Paulillo (2001). Vê-se que na figura acima há um ciclo na rede de poder que vai desde os mecanismos de governança, passando pelas políticas públicas e pelo modo de regulação, gerando resultados. Mas o que é uma rede de poder? É um sistema integrado pelos numerosos “centros de poder” e suas relações, típicos de uma sociedade humana complexa. Conforme a extensão e a força dos movimentos sociais, que atenuam a dominação, uma determinada rede de poder pode ser classificada em três tipos fundamentais: 1. Arbitrária: quando a concentração da rede de poder torna os movimentos sociais praticamente inexistentes; 2. Tradicional: quando os movimentos sociais se exercem, generalizadamente, por meio de instituições tolerantes, consagradas pela tradição ou pelas leis, mas que mantêm sensíveis discriminações econômicas e/ou culturais, graças à violência, legítima ou não; 3. Conciliatória: quando os movimentos sociais são tão fortes e difusos que resultam em instituições que substituem o medo e a violência do círculo vicioso dos conflitos pelo poder consensual. Importante! Intervenção é a ação que o Estado empreende no e sobre um campo reservado à liberdade de iniciativa do setor privado – enfatizando que tal reserva não é peculiar do regime liberal, mas da essência do sistema capitalista (GRAU, 1981). No intervencionismo, o Estado passa a intervir com o objetivo de promoção de um bem maior para a sociedade, ou seja, de promover o bem comum. Essa intervenção se dá, entre outras formas, por intermédio da regulação. Mas como a atividade regulatória ocorre no Brasil? A função reguladora está expressamente prevista na Constituição como prerrogativa do Estado destinada a corrigir as chamadas “falhas do mercado” ou, ainda, “imperfeições de mercado”. Entretanto, Marques Neto (2005) diz que a função reguladora não deve ser vista apenas para corrigir as falhas de mercado, mas, em sentido amplo, buscando introduzir objetivos de ordem geral, devendo o Estado atuar na manutenção do funcionamento do Mercado, pois isso 9 não seria alcançado exclusivamentepela iniciativa privada. Destacam-se como as principais causas das falhas de mercado e tornam-se, portanto, justificativas para a atuação regulatória do Estado: 1. Poder de mercado: derivado do monopólio (quando uma única empresa concentra toda a fatia de mercado) ou do oligopólio (quando poucas empresas concentram toda a fatia de mercado); 2. Informação assimétrica: derivada de uma informação privilegiada por uma das partes em uma relação comercial (privilegia uma das partes e, consequentemente, prejudica a outra); 3. Externalidades: derivam do consumo e/ou da produção de um determinado bem e comprometem os consumidores e/ou os produtores de outros mercados. Esses impactos não são considerados no preço de mercado; 4. Bens públicos: são insuficientes para toda a população. Suas características são: não disputáveis, quando o custo marginal de oferecer o bem para um usuário a mais for zero em qualquer nível de atendimento e, não exclusivos, quando os indivíduos não podem ser excluídos do atendimento. Para Viscusi, Vernon & Harrington (1998, p.307), “A regulação tem sido definida como uma limitação imposta pelo Estado sobre a discrição que pode ser exercida pelos indivíduos ou organizações, as quais são sustentadas pela ameaça de sansão”. A regulação é o uso do poder coercitivo que tem como objetivo limitar as decisões dos agentes econômicos. A regulamentação econômica refere-se às limitações impostas pelo governo sobre as decisões das firmas com relação a quantidades, preços, entradas e saídas do setor. O filme O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese, mostra a necessidade de regulação do mercado de capitais. Ele conta a história real do corretor de ações americano Jordan Belfort, que construiu fortuna no mercado financeiro, mas acabou condenado a 22 meses de prisão por fraude e lavagem de dinheiro. Segundo Alves (2008), há duas análises sobre regulação: a normativa e a positiva. A primeira diz que o mercado apresenta falhas que devem ser corrigidas pelo governo por meio de atividades regulatórias. As principais falhas são imperfeições na concorrência. Já a análise positiva, também denominada Teoria Econômica da Regulação, avalia as limitações da aplicabilidade das soluções normativas (leis, por exemplo) e, ainda, estuda e propõe que as falhas de governo é que dificultam a implementação de políticas que deveriam ser estabelecidas. 10 Unidade: Objetivos e formas da regulação Figura 2 – Papel do Ente Regulador. Garantir o Interesse Público Papel do Regulador Implementar as Políticas de Estado Completar o Processo de Regulamentação Buscar um ambiente competitivo Atrair investimentos para o Setor Incentivar a e�ciência e a inovação Evitar abuso de poder de mercado em monopólios naturais Estimular e organizar a entrada de novos agentes no mercado Fonte: Adaptado da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. A regulação dos serviços públicos não aparece exclusivamente de critérios técnicos que têm como objetivo criar o sistema ideal de incentivos. Na realidade, os mecanismos e as entidades regulatórias são resultado de negociações políticas complexas, já que são relacionadas às características dos setores regulados e pelas entidades políticas correspondentes. Em cada nação, essas entidades são moldadas pela história, por valores e outros fatores particulares de cada uma. Todos esses fatores criam certos limites dentro dos quais os atores desses processos podem atuar (BID, 2007). Sintetizamos os objetivos da Regulação conforme os motivos que os levam a ser regulados: Quadro 1 – Relação Motivo x Objetivos x Exemplos da Regulação. Motivo Objetivos Exemplo Bens públicos Compartilhar custos nos quais os benefícios da atividade são compartilhados Defesa nacional e serviços de segurança; Saúde Pública Comportamento não competitivo e preços predatórios Prevenir o comportamento não competitivo Preço do serviço abaixo do custo variável Continuidade e disponibilidade do serviço Garantir um nível socialmente desejado de serviço essencial Serviços de transporte para regiões remotas Desigual poder de barganha Proteger interesses vulneráveis onde o mercado falha nessa função Saúde e segurança no trabalho Escassez e racionalidade Alocação de bens escassos de acordo com o Interesse público Crise de oferta do petróleo Externalidades Compelir produtores ou consumidores a internalizarem os custos produtivos totais ao invés de repassá-los a terceiros ou à própria sociedade Poluição de rios por fábricas Informação assimétrica Informar os consumidores para permitir a correta operação do mercado e não haver alguém com informação privilegiada Remédios, alimentos e bebidas 11 Justiça distributiva e política social Distribuição em acordo com o interesse público, ou ainda, prevenir comportamentos ou resultados indesejáveis Proteção dos pobres Lucros excepcionais Transferir estes benefícios das � rmas para os consumidores ou contribuintes Firmas que descobrem extraordinariamente fontes de insumos mais baratas Planejamento Proteger o interesse de futuras gerações Meio ambiente Poder de mercado Conter a tendência de elevação de preços e diminuição da produção ou, ainda, controlar os benefícios trazidos pelas economias de escala, ou identi� car áreas genuinamente monopolistas Concessões de serviços públicos Racionalização e coordenação Assegurar uma produção e� ciente na qual os custos transacionais previnem o mercado de obter ganhos de rede ou economias de escala Produção agrícola sem padronização Fonte: Adaptado de Balbinotto Neto (2006) Formas da regulação Do ponto de vista estritamente econômico, conforme Musgrave (1959), o Estado tem três funções básicas: a função alocativa, a função distributiva e a função estabilizadora. Função alocativa ou alocação de recursos: é o processo pelo qual a totalidade dos recursos disponíveis é dividida para utilização no setor público e no setor privado, e pelo qual se estabelece a composição do conjunto dos bens públicos. Para Musgrave, os bens públicos podem ser produzidos por empresas e vendidos ao Governo ou, ainda, podem ser produzidos sob controle direto do setor público, como é o caso de serviços prestados por funcionários ou servidores públicos ou empresas estatais; Função distributiva: corresponde a ajustes na distribuição de renda e riqueza para assegurar uma adequação àquilo que a sociedade julga como um estado imparcial ou adequado de distribuição; Função estabilizadora: refere-se a atingir determinadas metas como a manutenção de um elevado nível de emprego, um razoável grau de estabilidade do nível de preços, uma taxa adequada de crescimento econômico e o alcance de estabilidade na balança de pagamentos, por exemplo. A função estabilizadora consiste na promoção do crescimento econômico sustentado, com baixo desemprego e estabilidade de preços. A função redistributiva visa a assegurar a distribuição equitativa da renda. Por fim, a alocação de recursos consiste no fornecimento eficiente de bens e serviços públicos, compensando as falhas de mercado. 12 Unidade: Objetivos e formas da regulação O Estado pode intervir na economia por meio de três formas políticas: fiscal, monetária e regulatória (MUSGRAVE, 1959). 1. Política Fiscal: envolve a gestão e a geração de receitas públicas, bem como o cumprimento de objetivos e metas governamentais no orçamento público, utilizado para a alocação, a distribuição de recursos e a estabilização da Economia. A partir de uma política fiscal, é possível aumentar a renda e o PIB e aquecer a Economia, com melhor distribuição de renda; 2. Política Monetária: diz respeito ao controle da oferta de moeda, da taxa de jurose da oferta de crédito, para efeito de estabilização da Economia, assim como a influência na decisão de fabricantes e consumidores. Por exemplo, a partir da política monetária, pode-se controlar a inflação e os preços e restringir a demanda, entre outros. 3. Política Regulatória: envolve o uso de meios legais como Leis, Decretos, Portarias e outros normativos, que são emitidos como alternativa para alocar, distribuir os recursos e estabilizar a Economia. Com o uso das normas, diversas condutas podem ser abolidas, como por exemplo: cartéis, monopólios, práticas abusivas e poluição entre outros. As políticas fiscal, monetária e regulatória agem direta e/ou indiretamente na Economia. Portanto, devem ser analisadas no contexto macro, pois uma política interfere na outra. Perceba que você deve buscar conhecimentos interdisciplinares para compreender melhor o todo. Política fiscal Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, Órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, a Política fiscal reflete o conjunto de medidas pelas quais o Governo arrecada receitas e realiza despesas públicas de modo a cumprir três funções: 1. a estabilização macroeconômica; 2. a redistribuição da renda; 3. a alocação de recursos. Os resultados da política fiscal podem ser avaliados sob diferentes ângulos, que podem focar na mensuração da qualidade do gasto público, bem como identificar os impactos da política fiscal no bem estar dos cidadãos. Para tanto podem ser utilizados diversos indicadores para análise fiscal, em particular os de fluxos (resultados primário e nominal) e estoques (dívidas líquida e bruta). A saber, estes indicadores se relacionam entre si, pois os estoques são formados por meio dos fluxos. Assim, por exemplo, o resultado nominal apurado em certo período afeta o estoque de dívida bruta (STN). Mas o que é resultado primário e o que é resultado nominal? Primeiramente, esclarecemos que “Resultado” em termos contábeis nada mais é do que o confronto entre receitas e despesas de um período, também conhecido como regime de competência ou princípio contábil da competência. 13 Se estivéssemos analisando ou estudando uma empresa privada, este confronto entre receitas e despesas gera um lucro se as receitas forem maiores que as despesas ou gera um prejuízo se as despesas forem maiores que as receitas. Mas como estamos analisando instituições públicas, esse resultado, resultante do confronto entre receitas e despesas gera um superávit se as receitas forem maiores que as despesas ou gera um déficit se as despesas forem maiores que as receitas. Segundo a STN, o resultado primário é a diferença entre as receitas primárias e as despesas primárias durante um determinado período. Já o resultado fiscal nominal, por sua vez, é o resultado primário acrescido do pagamento líquido de juros. Assim, fala-se que o Governo obtém superávit fiscal quando as receitas excedem as despesas em dado período; por outro lado, há déficit quando as receitas são menores do que as despesas. No Brasil, a política fiscal ultimamente tem sido posta em xeque em termos de responsabilidade fiscal. O uso dos recursos públicos deveria visar à redução gradual da dívida líquida em relação ao Produto Interno Bruto, de forma a contribuir com a estabilidade, o crescimento e o desenvolvimento econômico do país. A política fiscal deve buscar a criação de empregos, o aumento dos investimentos públicos e a ampliação da rede de Seguridade Social, com ênfase na redução da pobreza e das desigualdades. Política monetária Segundo Barbosa (1996), a política monetária depende do regime cambial adotado pelo país. Existem dois tipos de regimes na política monetária: a de câmbio fixo e a de regime de câmbio flutuante. No primeiro caso, o regime de câmbio fixo, o Banco Central fixa a taxa de câmbio, comprando e vendendo a moeda estrangeira a um preço previamente estipulado. Ele esclarece que no regime de câmbio fixo, o Banco Central do Brasil expande (contrai) a base monetária por meio da compra ou venda das reservas internacionais. Neste tipo de regime, a política monetária é passiva, pois o Banco Central não pode apostar, de forma sistemática, conduzir operações de mercado aberto, para fixar a taxa de juros. Com efeito, admita-se, por exemplo, que o Banco Central comercialize títulos públicos, contraindo a base monetária e aumentando a taxa de juros. Já no segundo, o regime de câmbio flutuante, o Banco Central do Brasil deixa que o mercado de câmbio estabeleça o preço da moeda estrangeira. Os instrumentos de política monetária, de modo geral, são as variáveis que o Banco Central do Brasil administra diretamente. Os três instrumentos tradicionais de política monetária são: 1. a taxa de juros no mercado de reservas bancárias; 2. a taxa de redesconto; 3. as alíquotas das reservas compulsórias sobre os depósitos do sistema bancário. 14 Unidade: Objetivos e formas da regulação O Banco Central do Brasil exerce o monopólio sobre a moeda obrigando o sistema bancário a manter parte de seus depósitos sob a forma de reservas bancárias depositadas no Banco Central. Esta obrigatoriedade de reservas bancárias é compulsória e depende de uma alíquota fixada pelo Banco Central do Brasil. Política regulatória Conforme Martins (2011), o conceito de políticas públicas não deve ser confundido com o de políticas regulatórias. As políticas regulatórias são uma expressão das políticas públicas setoriais, a serem desempenhadas pelas agências reguladoras. É de competência do ente regulador inserir no setor regulado as pautas de interesse geral contidas nas políticas públicas, atuando no sentido de que a área regulada incorpore essas pautas, retomando o seu equilíbrio interno. Nesse sentido, a política regulatória dará ensejo a certo grau de discricionariedade da Agência Reguladora para ponderar os interesses regulados e equilibrar os instrumentos disponíveis no sentido de intervir no sistema sem inviabilizar suas conjecturas. Contudo, as políticas públicas nos setores sujeitos à regulação normalmente são implementadas pelo intermédio das políticas regulatórias. Trata-se de uma solução conveniente em razão da possibilidade de se atingir metas sem grandes gastos por parte do poder público. A conveniência de se implementar políticas públicas por meio de políticas regulatórias está exatamente na possibilidade de o poder público transferir atos executivos e o ônus da implantação da política aos entes regulados. Portanto, diminui a responsabilidade pela execução, bem como os seus gastos, os quais podem ser transferidos à coletividade ou subsidiados pelo Estado. Trata-se de um instrumento capaz de alcançar metas, na maioria das vezes com caráter social, com pouca onerosidade para o poder público (MARTINS, 2011). Ações regulatórias Já para Almeida (1999), existem quatro tipos de ações regulatórias do Estado na Economia, que são detalhadas a seguir. 1. A propriedade pública de firmas ou setores inteiros da Economia, como ocorreu na maior parte dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) no pós-guerra, ou no Brasil, do pós-guerra a meados da década de 80; 2. O exercício de atividades regulatórias diretamente por departamentos ou órgãos da burocracia executiva, em um contexto em que o regime de propriedade é privado. Nesse caso, os órgãos reguladores estavam sob o comando direto dos governos; 3. As várias formas de autorregularão por meio de arranjos corporativistas; 4. A regulação pública com regime de propriedade privada, tipicamente americana, baseada em uma forma institucional peculiar: a agência regulatória dotada de graus não triviais de autonomia. 15 http://www.oecd.org/ A missão da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) é promover políticas que melhorem o bem estareconômico e social de pessoas em todo o mundo. Esta entidade atua com governos dos diversos países para cooperação em questões econômicas, sociais e ambientais. Quadro 2 – Relação de Agências Reguladoras federais por tipo de Regulação. Agência Tipo de Regulação Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Econômica Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Econômica Agência Nacional do Petróleo (ANP) Econômica Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Social Agência Nacional de Águas (ANA) Social (ambiental) Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) Econômica e social Agência Nacional de Transportes Aquáticos (Antaq) Econômica Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) Econômica Agência Nacional do Cinema (Ancine) Social Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Econômica A função das agências reguladoras é, segundo a ANP: 1. Proteger adequadamente os direitos dos consumidores; 2. Promover a concorrência no mercado dos serviços públicos, visando a coibir práticas anti- competitivas e monopolistas e estimular investimentos para assegurar o fornecimento em longo prazo; 3. Propiciar uma melhor operação, confiabilidade, igualdade, livre acesso e uso generalizado dos serviços; 4. Regular as atividades de transporte e distribuição dos serviços públicos que apresentem características de monopólio natural, garantindo o estabelecimento de tarifas justas; 5. Incentivar a eficiência, o uso racional dos serviços, a proteção do meio ambiente e a inovação, além de estimular a repartição dos ganhos de produtividade registrados na indústria com os consumidores; 6. Estabelecer as bases para os cálculos das tarifas e aprovar as estruturas de tarifas aplicadas em cada segmento consumidor; 7. Garantir que seja cobrado, pelos serviços, preço equivalente aos que vigoram internacionalmente nos países com dotação similar de recursos e condições; 8. Zelar pela implementação de um modo de organização industrial moderno; 9. Defender e interpretar as regras, arbitrando os eventuais conflitos entre os agentes. 16 Unidade: Objetivos e formas da regulação Encerramos este módulo com algumas considerações acerca da regulação. As políticas regulatórias, para serem implementadas, necessitam de “poucos” recursos financeiros, pois muitas medidas são impostas aos setores regulados, que implantarão essas medidas para não serem penalizadas. Mas como regular um setor? Esses são os desafios dos gestores públicos em verificar os possíveis conflitos de interesses entre participantes do mercado. Mas lembre-se: o que deve prevalecer é o interesse público, o bem comum. 17 Material Complementar Leituras: Para aprofundar seus conhecimentos, consulte: ARANHA, Márcio Iório. Liberalismo e Intervencionismo Neoliberalismo, ou Liberalismo Construtor e Intervencionismo Social: a precisão de seus conceitos mediante a análise da gradação do controle estatal e de sua política de prioridades. 1997. Disponível em: http://repositorio.unb.br/handle/10482/9631 18 Unidade: Objetivos e formas da regulação Referências ALMEIDA, M. H. T. Negociando a reforma: a privatização de empresas públicas no Brasil. Dados, v. 42, n. 3, p. 421-51, 1999. 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