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11 UNIDADE II –CORRIDAS DE VELOCIDADE Marcus Vinicius da Silva A corrida é considerada um movimento natural do ser humano, em que objetivo é se locomover mais veloz do que o andar. Ao longo dos séculos os objetivos das corridas foram diversos, na pré-história, por exemplo, o objetivo era simplesmente se locomover de uma forma mais rápida, seja para fugir ou para ir atrás da caça, que serviria como alimento. Segundo Homero a primeira corrida de velocidade como prova atlética surgiu em 1496 a. C, organizada por Hércules (SILVA,1978). As corridas de velocidade tiveram sua primeira aparição nos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, com a corrida chamada stadium com uma distância de 192,27 metros (ZISSIMOU, 2000. CALZADA, 1999), até as atuais provas de 100, 200 e 400 metros rasos, que fazem parte do programa Olímpico. As corridas de velocidades compreendem em todas as provas com distância igual ou inferior a 400 m. Segundo Rolim (2012) as corridas de velocidade possuem quatro fases distintas: Reação: tomada de decisão do atleta após a percepção do tiro de partida. Os jovens possuem grande desenvolvimento dessa capacidade entre 7 a 11 anos e o pico de performance entre 18 e 20 anos de idade. No atletismo escolar diversas são as formas de se trabalhar essa fase. Primeiramente podemos adotar as saídas em pé (consolidar) e, logo em seguida, a partida de uma posição inicial baixa. Aceleração: definida como quociente entre os incrementos de velocidade e tempo. A aceleração é a fase mais importante a ser trabalhada com um corredor de velocidade. A postura do aluno deverá ser inclinada para frente durante os primeiros 5 a 8 passos (olhar dirigido para o solo) e, à medida que se vai evoluindo na corrida, a posição vertical vai sendo gradualmente adquirida. Fase de máxima velocidade. Fase em que o corredor consegue manter os parâmetros de movimentos da corrida conforme suas capacidades motoras. Essa fase determina o resultado final da prova, quanto maior a manutenção da velocidade máxima maior o êxito. O maior ou menor rendimento desta fase depende da capacidade técnica de corrida. Qualquer postura corporal deficiente ou qualquer contração muscular desnecessária para o movimento reflete fundamentalmente nesta fase. Resistência a velocidade. Dos 100 aos 400 m quanto maior a distância mais importante essa fase se torna. Se na corrida de 100 metros, ao mais elevado nível, esta fase é 12 medianamente importante, já na corrida de 400 metros ela é determinante. O objetivo é perder o mínimo de objetivo é perder o mínimo de velocidade após atingir a velocidade máxima PROVA FASE 60 m 100 m 200 m 400m Reação 20 % 5-10 % 1-5 % - Aceleração 40 % 40 % 25-30 % 15-20 % Máxima Velocidade 40 % 40 % 30-40 % 30-40 % Resistência a velocidade - 10-15 % 30-40 % 50-60 % QUADRO 1. Importância percentual de cada fase nas corridas de velocidade. (MANSO, 1998) PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM As saídas nas corridas de velocidade As partidas podem ser ensinadas para qualquer aluno independentemente da idade ou ano que se encontram. Existem duas técnicas distintas de saída: as saídas em pé e a saída baixa no bloco (5 apoios). Numa prova de velocidade, a partida é um momento importante e a utilização de blocos permite que o corpo fique favoravelmente posicionado durante a fase de aceleração, tornando-a muito eficaz. Segundo Harland e Steele (1997) existem três distâncias para se posicionar os pedais dos blocos de partida: curta (menor que 30 cm entre os pedais), média (entre 30-50 cm), longa (maior que 50 cm). A sua escolha deve levar em consideração as características antropométricas do aluno, como o comprimento das pernas. Figura 2. Tipos de saída 13 Quanto a sua colocação na pista de atletismo ele pode ser fixado perpendicularmente à linha de saída, quando saída em linha reta. Quando a saída é realizada em curva (200 e 400 m rasos) ele deve ser fixado obliquamente à linha de partida, apontando numa tangente à linha curva que delimita internamente a respectiva raia. Figura 3. Colocação perpendicular e oblíqua dos blocos de partida A maioria dos blocos podem ser fixados com aproximadamente um pé de distância da linha de chegada. O pedal da frente (perna de impulsão) com uma distância aproximada de dois pés da linha de saída. Já o pedal da perna de trás deve ter uma distância aproximada de 3 pés a 3 pés e meio da linha de saída. Após o ajuste dos blocos o aluno deve se posicionar atrás do mesmo, e ao 1º comando do árbitro de partida: “as suas marcas”, o aluno deverá entrar no bloco com os pés devidamente apoiados nos pedais, com o joelho da perna de trás e ambas as mãos tocando o solo atrás da linha de saída (posição 5 apoios). Após o 2º comando “prontos”, o aluno deverá levantar o quadril (posição 4 apoios), e no sinal de saída iniciar a corrida. 1- “As suas marcas” 2- “Prontos” 3- Tiro de partida Figura 4 . Comando para a saída baixa (CARR, 1991) 14 Seguindo uma sequência pedagógica podemos trabalhar a saída em pé, não à mesma das corridas de fundo. A primeira fase corresponde à voz “aos seus lugares”, o aluno deverá manter dois membros inferiores, numa atitude descontraída, com um pé ligeiramente à frente do outro e o tronco numa posição vertical. À segunda voz, “pronto”, há uma flexão de todo o corpo, o peso se apóia fundamentalmente no membro inferior adiantado, com uma inclinação do tronco/cabeça para frente. A posição dos membros superiores deve ser em contraposição com os membros inferiores. Ao sinal de partida o aluno deve realizar uma ação dinâmica dos membros inferiores (no solo) e dos membros superiores e um sincronismo entre todos estes segmentos corporais, devendo-se manter uma forte inclinação do tronco para frente, durante os primeiros passos (ROLIM, 2009). Realizando o mesmo exercício anterior, mas agora, ao comando “pronto” o aluno deve colocar no solo a mão contrária ao pé que está colocado à frente, ficando o peso corporal distribuído pelos 3 apoios. O mesmo exercício anterior, mas agora, à voz de “pronto” o aluno deve colocar nos aparelhos ou no solo, ambas as mãos, ficando o peso corporal distribuído pelos 4 apoios (dois pés e duas mãos), Dessa forma, inicialmente a partida é executada de posições menos flexionadas (mais altas) e mais verticais, passando por situações intermédias, até chegarmos progressivamente à partida baixa, posição mais flexionada e mais inclinada para frente (ROLIM e GARCIA, 2012). Propostas de atividades de tempo de reação e saídas Dividir a turma em dois grupos, distribuídos em duas fileiras em que um aluno fique de frente para o outro a no mínimo 3 metros de distância (duplas). Os alunos devem ficar assentados, no sinal do professor, que pode ser feito de diversas formas, como por exemplo, um cálculo matemático, ser o resultado for impar os alunos de uma fileira é a pegadora, se o resultado for par ela deve ser pega até a distância pré-estabelecida. Essa atividade pode ter diversas variações, como os alunos saindo das posições deitada, agachadas, sentados de costa um para outro, e os estímulos diversos, como cores que façam menção a cada grupo, sinais sonoros entre outros. Esse exercício se realizado em distâncias de 20-30 m também trabalhará a fase de aceleração. 15 O desenvolvimento técnico das corridas de velocidade Na grande maioria das vezes o termo técnica de corrida nos faz menção a um conjunto de movimentos estereotipados mecanicamente realizados pelos alunos. Os professores não atribuem importância a essa temática, e quando abordamessa questão nas aulas de educação física utilizam estratégias demasiadamente analíticas e descentradas das questões essenciais (ROLIM e GARCIA, 2012). Quando a atividade se torna demasiadamente analítica assume um papel contrário do que se pretende, tornado as atividades monótonas e desprazerosas para o aluno, contribuindo pouco para ampliação de seu repertório motor. O mais importante é que os alunos dominem os elementos estruturais da corrida, nomeadamente, a técnica e ação propulsora dos apoios, a dinâmica das ações circulares anteriores dos membros inferiores, a ampla ação dos membros superiores, a postura e correta colocação dos segmentos corporais (quadril– tronco – cabeça), a capacidade de relaxamento – fluidez de movimentos. Para atingir esses objetivos, o recurso visual, imagens e vídeos de corredores de alto rendimento podem ajudar nesse processo ensino aprendizagem. Utilizar recursos visuais de corredores de alto rendimento não garante o aprendizado do aluno, temos que levar em consideração o padrão motor de cada um e que não necessariamente ele chegará ao ápice do gesto motor. É de fundamental importância para o nível de rendimento da capacidade de velocidade, tendo em vista que as velocidades máximas de movimento só serão possíveis com a disponibilidade de características inatas e desenvolvimento superior. Deste modo, consideramos relevante apresentar as características gerais e específicas resumidas por Grosser (1992) para maior explicitação da relação entre o talento e velocidade: Características gerais proporções corporais favoráveis, sobretudo uma relação equilibrada entre tronco e pernas; capacidade de superar situações de estresse e a estabilidade psíquica; motivação para o rendimento; capacidade para o ritmo do movimento. 16 Capacidades específicas percentual muito superior das fibras musculares de coordenação rápida. Os chamados velocistas “natos” possuem supostamente até 80% de fibras de contração rápida em sua musculatura funcional (frente a 20% de fibras de contração lenta); boa capacidade de reação, sobretudo a capacidade de repetir continuamente reações rápidas; a capacidade de por-se em movimento de forma voluntária, altamente concentrada e, em parte, repetida (se trata, no fundo da capacidade de ativação neuronal voluntária). Finalmente, com base no levantamento dos principais aspectos determinantes, pode-se concluir que a velocidade trata-se de uma capacidade complexa dependente de fatores diversos e cuja treinabilidade está condicionada fortemente pelas características genéticas do indivíduo. Além disso, vale ressaltar que o nível de influência dos diversos fatores abordados anteriormente depende do tipo de manifestação da velocidade. Sendo assim, para um determinado tipo de manifestação de velocidade, um fator pode ter uma influência não tão significativa, com um nível de importância destacado ou sendo um condicionante primordial para o seu rendimento. A primeira questão a ser observada no trabalho técnico das corridas de velocidade é a colocação dos pés no solo. Ela deve ser realizada tendo em atenção à ação do apoio no solo em griffé (em francês) e, necessariamente, a promoção da dorso-flexão do pé, imediatamente antes e após realizar cada impulsão, atacando o solo, em cada novo apoio, pelo metatarso ou ante pé (figura 5) e com grande dinamismo, num movimento de cima para baixo e da frente para trás como agarrar o solo com o ante pé e puxá-lo para trás. Figura 5. Pé em GRIFFÉ (Ramiro e Rolim) Algumas atividades podem potencializar essa ação como (ROLIM e GARCIA, 2012) subir ou descer escadas (uma a uma, duas a duas, etc.); 17 Figura 6. Subir escadas de forma coordenada (CARR, 1991) correr na caixa de areia e observar a deformação provocada pelos apoios (correr na areia, se possível, sem deixar marcas); folhas de papel no corredor de exercitação tentando, na corrida e em cada apoio, deslocar as folhas para trás, acentuando a ação do apoio em griffé. limitar espaços horizontais, por meio de ripas, riscos, cordas, tubos de esponja, etc., para desenvolver a frequência e a amplitude da passada; O segundo aspecto a ser abordado é a ação dos membros superiores. Os braços possuem a função de compensar os desequilíbrios produzidos pelas ações dos membros inferiores. Os braços se movimentam para frente e para trás por uma trajetória ligeiramente convergente para medial do tronco, flexionados a um ângulo de aproximadamente 90 graus. Os movimentos são inversos as ações das pernas (RIUS SANT, 1993). Diversas são as formas de desenvolver corretamente esse gesto técnico, segue algumas atividades abaixo: O movimento dos MS deverá ser amplo. A utilização dos elásticos tem por objetivo impedir que a articulação do cotovelo estenda demasiadamente. Realizar o movimento de balanceio, se estender muito o braço, as mãos irão tocar o solo A posição do tronco e da cabeça devem ser cuidadosamente observadas, a cabeça deve se manter no prolongamento do tronco dirigida para um ponto no horizonte, nunca com o olhar voltado para cima ou para o solo. O tronco deve estar ligeiramente inclinado para frente, uma inclinação exagerada poderá limitar a elevação dos joelhos (RIUS SANT, 1993) Uma alta frequência de movimentos só pode ser alcançada com a alternância mais rápida entre estimulação e inibição, e respectivas regulações do sistema neuromuscular, aliados a um emprego ótimo de força. (HARRE, 1976) Somente uma coordenação de movimentos intra e intermuscular permite melhorar o desempenho conjunto de agonistas e antagonistas, assim como aumentar o número de unidades motoras simultaneamente ativadas, para assim aumentar a força de velocidade da musculatura em trabalho. (WEINECK, 1991) 18 Diversas são as formas de se trabalhar as fases da corrida como o impulso, suspensão, apoio, os exercícios coordenativos são uma ferramenta importantíssima no desenvolvimento técnico dos alunos, o que garante uma enorme ampliação do repertório motor. ALGUNS EXERCÍCIOS COORDENATIVOS Elevação dos calcanhares Elevação dos joelhos Elevação seguida de extensão dos joelhos Skipping com extensão do joelho Elevação dos joelhos com aceleração Balanceio dos braços em alta velocidade Figura 4. Exercícios coordenativos (CARR, 1991) PROPOSTA DE ATIVIDADES NO CONTEXTO ESCOLAR – SLIDES EM PDF NA PLATAFORMA 19 REGRAS BÁSICAS DAS CORRIDAS DE VELOCIDADES (CBAt, 2012-2013) As raias devem ser numeradas da esquerda para a direita, com a raia interior sendo numerada como a raia 1. Qualquer atleta que empurrar ou obstruir outro atleta, de modo a impedir sua progressão, estará passível de desqualificação nessa prova. Em todas as corridas de velocidade, cada atleta deverá manter-se em sua raia designada do início ao fim. Isso se aplica a qualquer parte de uma prova corrida em raias marcadas. Um atleta não será desqualificado se ele: (a) É empurrado ou forçado por outra pessoa a correr fora de sua raia ou sobre ou na parte interna da borda ou linha marcando a borda aplicável, ou (b) pisar ou correr fora de sua raia, na reta ou fora da linha externa de sua raia na curva, sem que nenhuma vantagem material tenha sido ganha por isso e nenhum outro atleta tenha sido empurrado ou obstruído de modo que venha impedir o seu progresso. Os períodos para os quais a velocidade do vento será medida a partir da chama do tiro de partida são os seguintes: PROVA SEGUNDOS 100 m rasos 10 200 m rasos 10 * *começando quando o primeiro corredor entrar nareta Se nesse período o anemômetro registrar uma velocidade média do vento superior a 2 m/s (no sentido da corrida, ou seja = + 2 m/s), caso haja quebra de recorde, o tempo não será validado para esse fim. Os comandos da partida são: as suas marcas – prontos – sinal de saída (tiro) Saída Falsa Qualquer atleta que cometer uma saída falsa estará desqualificado. Se houver uma saída falsa em que não foram os atletas que a induziram, será erguido pelo assistente do árbitro de partida um cartão verde, indicando que nenhum atleta foi desqualificado. Nas Provas Combinadas na primeira saída falsa deverá ser apresentado um cartão amarelo para o(s) atleta(s) responsável (is) pela saída, logo após para todos os outros atletas. O próximo atleta que cometer uma saída será desqualificado. Os atletas devem ser classificados na ordem em que o tronco atinja o plano vertical que passa pela borda anterior da linha de chegada. 20 Os tempos mensurados por cronometragem manual deverão ser arredondados para o décimo superior, por exemplo: 10.66 = 10.7. Quando três cronômetros registrarem o tempo de um mesmo atleta, o tempo oficial será o intermediário (a mediana). Quando utilizados três cronômetros e que dois registrem o mesmo tempo esse será o oficial e quando utilizado dois cronômetros o maior será considerado o oficial. REFERÊNCIAS CARR, G. A. Fundamentals of track and field. Human Kinecticks Publishers (UK). 1991. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO. Regras Oficiais de Competição 2012-2013. Editora Phorte, 2012. GROSSER, M. Entrenamiento de la velocidad: fundamentos, métodos y programas. Barcelona: Ediciones Martinez Roca, S.A., 1992. HARLAND, M., & STEELE, J. Biomechanics of the sprint start. Sports Medicine, 23 (1), 11-2, 1997. HARRE, D. Teoria del entrenamiento deportivo. Buenos Aires: Editorial Stadium, 1976. MANSO, G. La velocidad. Madrid. Editorial Gymnos, 1998. ROLIM R., Colorir atletismo – Desafios. O Atletismo em idade pré púberes. Publicação interna de apoio à disciplina de atletismo, FADEUP. Manuscrito não publicado, Porto: 2011. RIUS SANT, J. Metodología del atletismo. Editorial Paidotribo. 5º edição, 1993. ROLIM R., GARCIA, R. P. Atletismo – Arquipélago de técnicas, cores e sabores. O Atletismo em idade púberes e pós-púberes. Sebenta de apoio à disciplina de atletismo no Mestrado, Faculdade de Desportos-Universidade do Porto, Porto: 2012. SILVA, J. F. Atletismo: Corridas. Tecnoprint, 1978. WEINECK, J. Manual de Treinamento Esportivo. 2.ed. São Paulo: Editora Manole Ltda., 1991. ZISSIMOU, T. Los Juegos Olímpicos en La Antigüedad. Grécia 2000.
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