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EAD 2011 EAD 2011 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Licenciatura em História PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Salvador 2011 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A ELABORAÇÃO Ana Rita Silva Almeida DIAGRAMAÇÃO Nilton Rezende Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP). Catalogação na Fonte BIBLIOTECA DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA – UNEB ALMEIDA, Ana Rita Silva. A447 Psicologia da educação – licenciatura em educação a distância / Ana Rita Silva Almeida. Salvador: UNEB/ EAD, 2011. 2a Edição 46p. 1. Psicologia educacional 2. psicologia da aprendizagem I. Título II. Curso licenciatura em educação a distância III. Universidade aberta do Brasil IV. UNEB /NEAD CDD: 370.15 EAD 2011 EAD 2011 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A PRESIDENTE DA REPÚBLICA Dilma Roussef MINISTRO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL PRESIDENTE DA CAPES Jorge Guimarães DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA CAPES João Teatini GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA GOVERNADOR Jaques Wagner VICE-GOVERNADOR Otto Roberto Mendonça de Alencar SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO Osvaldo Barreto Filho UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB REITOR Lourisvaldo Valentim da Silva VICE-REITORA Adriana do Santos Marmori Lima PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO José Bites de Carvalho COORDENADOR UAB/UNEB Silvar Ferreira Ribeiro COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTO Daniel de Cerqueira Góes EAD 2011 EAD 2011 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A Prezado estudante, Estamos começando uma nova etapa de trabalho e para auxiliá-lo no desenvolvimento da sua aprendizagem estru- turamos este material didático que atenderá ao Curso de Licenciatura em Matemática na modalidade à distância. O componente curricular que agora lhe apresentamos foi preparado por profissionais habilitados, especialistas da área, pesquisadores, docentes que tiveram a preocupação em alinhar conhecimento teórico-prático de maneira contextualizada, fazendo uso de uma linguagem motivacional, capaz de aprofundar o conhecimento prévio dos envolvidos com a disciplina em questão. Cabe Salientar porém, que esse não deve ser o único material a ser uti- lizado na disciplina, além dele, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) , as Atividades propostas pelo Professor Formador e pelo Tutor, as Atividades Complementares, os horários destinados aos estudos individuais, tudo isso somado compõe os estudos relacionados a EAD. É importante também que vocês estejam sempre atentos a caixas de diálogos e ícones específicos. Eles aparecem durante todo o texto e têm como objetivo principal, dialogar com o leitor afim de que o mesmo se torne interlocutor ativo desse material. São objetivos dos ícones em destaque: VOCÊ SABIA – convida-o a conhecer outros aspectos daquele tema/conteúdo. São curiosidades ou infor- mações relevantes que podem ser associadas à discussão proposta. SAIBA MAIS – apresenta notas ou aprofundamento da argumentação em desenvolvimento no texto, tra- zendo conceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliem a compreender melhor o conteúdo abordado; INDICAÇÃO DE LEITURAS – neste campo, você encontrará sugestões de livros, sites, vídeos. A partir deles, você poderá aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas teóricas ou outros olhares e interpretações sobre aquele tema. SUGESTÕES DE ATIVIDADES – consistem em condições de atividades para você realizar autonomamente em seu processo de auto-estudo. Estas atividades podem (ou não) vir a ser aproveitadas pelo professor- formador como instrumentos de avaliação, mas o objetivo primeiro delas é provocá-lo, desafiá-lo em seu processo de auto-aprendizagem. Sua postura será essencial para o aproveitamento completo desta disciplina. Contamos com seu empenho e entu- siasmo para, juntos, desenvolvermos uma prática pedagógica significativa. Setor de Material Didático Coordenação UAB / UNEB ?? VOCÊ SABIA? ??? ??? SAIBA MAIS INDICAÇÃO DE LEITURA SUGESTÃO DE ATIVIDADE EAD 2011 EAD 2011 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A Caro aluno, Estamos contentes em poder participar de sua formação e gostaríamos de dar as Boas Vindas à disciplina Psicologia da Educação. Sabemos que você, provavelmente, já tem experiência com a dinâmica escolar e sabe lidar com os inúmeros desafios que o cotidiano da sala de aula impõe. Nosso objetivo com esta disciplina é dialogar com você sobre os conhecimentos de caráter científico e sistemático que a Psicologia da Educação fornece no âmbito do ensino, da aprendizagem, e do desenvolvimento de maneira a melhorar a qualidade de sua atuação profissional. Você deve estar se perguntando: que contribuição a Psicologia da Educação pode oferecer para um graduando em história? Bem, a Psicologia da Educação é uma disciplina de base e, portanto, obrigatória em todo curso de licenciatura. Um dos seus objetivos é assegurar uma formação profissional consciente e crítica das tarefas sócio- políticas e pedagógicas do ensino. Para isso, seus conteúdos estão direcionados para a análise das questões educacionais, tendo como fundamento as concepções de aprendizagem e desenvolvimento elaboradas no âmbito da Psicologia. Psicologia da Educação é um módulo dividido em seis capítulos. O primeiro apresenta um diálogo entre a Psico- logia e a Educação, apontando o campo de atuação, suas contribuições e os limites dessa relação. Estes aspectos teóricos servirão de base para você compreender os limites da área de atuação da Psicologia da Educação. No segundo, aborda-se as concepções de desenvolvimento e sujeito. Do terceiro ao quinto são apresentadas, respec- tivamente, as teorias do desenvolvimento de Jean Piaget, L. Vygotsky e Henri Wallon, dando-se particular destaque para os limites e as contribuições dessas teorias para a prática pedagógica. O último capítulo trata da relação entre ensino e aprendizagem, situando as principais teorias que discutem esta relação. Gostaríamos de convidá-lo a participar deste diálogo conosco, esperando que os conhecimentos aqui mediados sejam profícuos para o seu desenvolvimento profissional. Ana Rita Almeida EAD 2011 EAD 2011 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A SUMÁRIO Capítulo 1 13 1 Psicologia e Educação 13 1.1 A Psicologia e seu objeto de estudo 13 1.2 O nascimento de uma ciência 14 1.3 Psicologia da Educação enquanto área de conhecimento 14 Capítulo 2 16 2 Psicologia do desenvolvimento: controvérsias e aproximações entre concepções 16 2.1 O que é Psicologia do desenvolvimento? 16 2.2 Conceito de desenvolvimento humano 17 2.3 O sujeito enquanto unidade bio-psico-social 17 Capítulo 3 21 3 A teoria de desenvolvimento de Jean Piaget 21 3.1 Jean Piaget: dados biográficos 21 3.2 Conceito de estágio 22 3.3 Os fatores do desenvolvimento 22 3.4 Os estágios do desenvolvimento 23 3.5 Contribuições da teoria piagetiana 26 Capítulo 4 27 4 A teoria de Lev Semenovich Vygotsky 27 4.1 Quem é Vygotsky? 27 4.2 O pensamento de Vygotsky no contexto histórico e no embate teórico da psicologia do seu tempo 27 4.3 A linguagem e suas relações com o pensamento 28 4.4 Conceitos e relação entre zona proximal, desenvolvimento real e proximal 30 4.5 A importância da ZDP para o planejamento de situaçõesde aprendizagem escolar 30 1313UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Capítulo 5 32 5 A teoria de Henri Wallon 32 5.1 Dados biográficos sobre vida e obra de Henri Wallon 32 5.2 A psicogenética walloniana 32 5.3 Conceito de estágio e leis do desenvolvimento 33 5.4 A relação entre afetividade e inteligência 36 5.5 Significado das emoções e sua importância no desenvolvimento da criança 36 Capítulo 6 38 6 As contribuições da Psicologia da Aprendizagem para o ensino 38 6.1 O que é aprendizagem? 38 6.2 Relações entre aprendizagem e desenvolvimento: controvérsias entre correntes teóricas 39 6.2.1 A concepção associacionista 39 6.2.2 A concepção cognitivista: Bruner, Ausubel e Piaget 40 6.2.3 A concepção da teoria histórico Cultural de Vygotsky 42 6.3 A construção do conhecimento: o erro e a interação na sala de aula 42 Conclusão 44 Referências 45 LICENCIATURA EM MATEMÁTICA LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A 1313UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA CAPíTULO 1 1 - Psicologia e Educação No presente capítulo, você terá um panorama das relações entre a Psicologia e a Educação ao longo dos acontecimentos que marcaram a constituição da ciên- cia psicológica, bem como da definição do campo de atuação da Psicologia da Educação. 1.1 A Psicologia e seu objeto de estudo O termo Psicologia vem do grego psyche, que significa alma, e logos, razão, estudo, e é nesta raiz etimológica que reside a origem dessa ciência. A Psicologia, portanto, nasceu tendo a alma como seu objeto de estudo. Embora seja uma ciência nova, os estudos psicológicos remontam à Grécia antiga, período anterior à era cristã. Segundo Bock (2002), já nos filósofos pré-so- cráticos, que estudavam a relação do homem com o mundo; nas idéias de Sócrates, que concebe a razão como essência humana; na busca de Platão para definir o lugar da razão no corpo humano; e no salto qualitativo dos estudos filosóficos de Aristóteles sobre a relação inseparável entre o corpo e a alma, que surge a primeira tentativa de sistematizar uma Psicologia. Ademais, o escrito Acerca da Alma de Aristóteles é considerado o primeiro manual de Psicologia. Com a queda do império grego e a consequente ascensão do império romano, a Psicologia de origem filosófica continua vinculada aos estudos da alma. Mas, nesse período, os estudos psicológicos se mis- turam ao conhecimento religioso, pois o Cristianismo, com toda a sua força religiosa e política, monopoliza os conhecimentos acerca da alma, do psiquismo. Entre seus representantes destaca-se Santo Agostinho que, embora também defenda uma divisão entre corpo e alma, diverge de Platão por considerar a alma não “somente a sede da razão, mas a prova de uma manifestação divina”, de natureza imortal e cujo objetivo é ligar o homem a Deus (BOCK, 2002, p. 35). Também São Tomás de Aquino, filósofo que viveu no período de ascensão do protestantismo e na transição para o capitalismo, à luz das ideias aristo- télicas sobre a distinção entre essência e existência, considerava que o homem, na sua essência, buscava a perfeição através de sua existência. Diferentemente de Aristóteles, concebe o encontro entre existência e essência uma obra divina, posto que “somente Deus seria capaz de reunir a essência e a existência, em termos de igualdade. Portanto, a busca de perfeição pelo homem seria a busca de Deus” (idem). Com o Renascimento operam-se grandes transfor- mações em todos os campos da atividade humana, nas artes, nas ciências, na economia, etc. Na filosofia, surgem as idéias de René Descartes que revoluciona- ram o campo científico. Para Descartes, o corpo e a alma são duas substâncias distintas e heterogêneas, ou seja, a mente - a coisa pensante - está separada do corpo - não pensante - o qual tem extensão e partes mecânicas. Essa visão dicotômica permitiu avanços em diversas áreas notadamente na Anatomia e Fisio- logia, com o surgimento da possibilidade de estudos em cadáveres, e consequentemente na Psicologia. Segundo Damásio (1994), o erro de Descartes foi separar a mente do corpo, colocando de um lado as operações mais refinadas da mente, e do outro, a es- trutura e o funcionamento do organismo biológico. Ou seja, para ele, o raciocínio, o juízo moral e o sofrimen- to, originados da dor física ou agitação emocional, poderiam existir independente do corpo. No entanto, não podemos negar que Descartes é símbolo “de um conjunto de ideias acerca do corpo, do cérebro e da mente que, de uma maneira ou de outra, continuam a influenciar as ciências e as humanidades no mundo ocidental” (1994, p. 278). 14 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A ?? VOCÊ SABIA? Cartesius (tradução latina do nome Descartes) nasceu em 1596, em La Haie, na França, filho de um conselheiro municipal de Rennes. Estudou em um colégio jesuíta, La Fleches, onde se distinguiu por uma natural vocação para a Filosofia e as Ciências Exatas. Em 1617, solicitado por seu pai, ingressa na vida militar, servindo sob o comando do Duque de Nassau. Logo que abandonou o exército, dedicou-se ao estudo da Filosofia. Em 1631, em Leida, publica a primeira edição do Discurso sobre o método, em 1641 Meditações e em 1644 Princípios de Filosofia. Sua doutrina serviu de fundamento para a Filosofia francesa do século XVIII e seus princípios consistiam na tese idealista de que bastaria a concepção que se tem de um Deus para demonstrar a sua existência. Morre em Estocolmo em 11 de fevereiro de 1650. 1.2 O nascimento de uma ciência Por séculos os estudiosos da Psicologia lutaram pelo reconhecimento da cientificidade de seus conhe- cimentos, mas isso só se tornou possível no final do século XIX quando as ideias psicológicas se desligaram “de ideias abstratas e espiritualistas, que defendiam a existência de uma alma nos homens, a qual seria a sede da vida psíquica” (BOCK, 2002, p. 26). Esse status de ciência, continua Bock (2002), exigiu da nova Psicologia um objeto próprio, uma linguagem rigorosa, a definição de métodos e objetividade, critérios sem os quais um dado corpo de conhecimento não pode ser considerado científico. O marco histórico da entrada da Psicologia no campo das ciências foi 1875, ano de criação do primeiro Laboratório de Experimentos em Psicofisiologia por Wilhelm Wundt em Leipzig na Alemanha. A Psicologia científica se distingue da Psicologia filosófica tanto pelo objeto quanto pelo método, pois segundo Reuchelin (1996, p.9), tornou-se capaz de “estudar por meio da observação e da experimentação as reações de um ou mais organismo na totalidade das suas diversas condições ambientais”. Mas, qual é o objeto de estudo da Psicologia? O objeto de estudo da nova ciência é a totalidade humana que, nas palavras de Bock (2002), compreende o homem-corpo, homem-pensamento, homem-afeto, homem-ação, e pode ser sintetizada em um único vocábulo: subjetividade. Esta subjetividade representa aquilo que há de mais singular, de único no ser humano. Não é inata, mas construída nas relações sociais que estabelece com o mundo à sua volta. A subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, son- har, amar e fazer de cada um. É o que constitui o nosso modo de ser; sou filho de japoneses e militante de um grupo ecológico, detesto Matemática, adoro samba e Black music, pratico ioga, tenho vontade mas não consigo ter uma namo- rada. Meu melhor amigo é filho de descendentes italianos, primeiro aluno da classe em Matemática, trabalha e estuda, é corintiano fanático, adora comer sushi e navegar pela internet. Ou seja, cada qual é o que é: sua singularidade. (BOCK, 2002, p. 23) Por fim, vale dizer que a Psicologia é um ramo dasCiências Humanas e como tal para dar conta de seu objeto de estudo – a subjetividade em toda sua com- plexidade - busca subsídios em outras ciências “tais como a Medicina, a Biologia, a Filosofia, a Genética, a Antropologia, a Sociologia, além da Pedagogia. Estes ramos do conhecimento estão imbricados, de tal forma que, muitas vezes, é difícil saber em que domínio se está atuando” (DAVIS &OLIVEIRA, 1994, p.17). 1.3 Psicologia da Educação enquanto área de conhecimento A delimitação do campo de atuação e do objeto de estudo da Psicologia da Educação é uma discussão antiga que perdura até hoje, pois na literatura espe- cializada (LUNA, 1999; WITTER, 1980; MALUF, 1991; MARTINS,1999; GATTI, 1999) encontramos diferentes opiniões a esse respeito. Uns apontam que não há uma delimitação clara e é inútil a discussão das fronteiras, pois o problema é de ordem epistemológica; outros a definem como um campo em si mesmo com objeto próprio; e outros ainda a classificam como um ramo de aplicação da Psicologia. Em uma retrospectiva histórica do processo de con- strução da Psicologia da Educação enquanto área de conhecimento, opção assumida neste trabalho, obser- va-se uma preocupação constante dessa disciplina em contribuir para a elucidação dos problemas educacio- nais. Segundo Maluf (1999), a Psicologia da Educação desde o seu nascimento em 1903, com a publicação do livro Educational Psycholoy de E. L. Thorndike e a edição do Journal of Educational psychology, tem sido “porta- dora de sedutoras promessas de solução para os prob- lemas pedagógicos enfrentados sobretudo nas escolas. Essa Psicologia Educacional nascente apoiava-se nas teorias da aprendizagem e nas medidas das diferenças individuais que estavam sendo geradas nas primeiras décadas do nosso século” (p.33). EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A 15UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Essa sua preocupação revela-se por uma complexa produção com diferentes abordagens teóricas, recheada de distintos problemas e questões educacionais, cuja discussão oscila entre dois pólos: o psicológico e o edu- cacional. Esse olhar dicotômico para as questões edu- cacionais impossibilita a Psicologia da Educação de ter uma visão transdisciplinar dos problemas educacionais no bojo do ambiente em que os contextualiza. O rompi- mento com essa dicotomia somente se torna possível, sugere Gatti (1999), se o olhar se concentrar : sobre a transformação ou a transmutação que se processa nas pessoas – crianças, jovens, adultos, idosos -, pelas in- terações de caráter educativo – com intencionalidade espe- cífica - como, também, pelos processos auto-organizativos. A ótica a privilegiar é a multidimensional, transformativa, uma ótica de alternativas, de flutuações: ou seja, ao lado dos processos construtivos e auto-organizativos há de se considerar a mudança e a incerteza (p.11). Nos tempos atuais, parece-nos, que novos ventos têm encaminhado a Psicologia da Educação para a construção de perspectivas que vinculam o estudo dos processos educacionais a uma nova ordem em que a imprevisibilidade e a descontinuidade fazem parte “de uma mesma totalidade movente”. O vislumbre dessa nova possibilidade, torna-se possível na medida em que lança-se um “novo olhar para busca da compre- ensão das situações escolares, quer sob o ângulo social, quer sob o ângulo psicológico, muito mais sobre a integração desses ângulos numa perspectiva psicoeducacional”(GATTI, 1999, p. 12). Por fim, resta saber, do que se ocupa a Psicologia da Educação? Esta área do conhecimento busca em outras disciplinas científicas (Psicologia do ensino, da aprendizagem, do desenvolvimento, etc.) informações que lhe permita compreender como as pessoas se de- senvolvem como consciências, identidades, complexo de aprendizagens, aspectos construídos na interação com outros indivíduos da sua cultura e que são elementos fundamentais para sua sobrevivência (GATTI, 1999). Portanto, a Psicologia da Educação oferece dados indispensáveis à atuação do psicólogo, do pedagogo, do professor, na medida em que fornece através de suas pesquisas, ainda com todos os seus limites, os elementos essenciais para a atuação constante e ade- quada nos espaços que se ocupam de Educação, seja ela formal ou não formal. INDICAÇÃO DE LEITURA Recomendamos a leitura de dois autores (JAPIASSU, 1983; FIGUEIREDO, 1989) que discutem os fundamentos epistemológicos sobre os quais a Psicologia se fundamentou para atingir o status de ciência independente. Já o texto da Andery(1988) é um convite a conhecer mais sobre a ciência e os pensadores que marcaram época com suas idéias e exercem influência sobre o pensamento do século XXI. ANDERY, M. A. et al. Para compreender a ciência. São Paulo: EDUC, 1988. FIGUEIREDO,L. C. Matrizes do pensamento psicológico. Petrópolis: Vozes, 1989. JAPIASSU, H. A psicologia dos psicólogos. Rio de Janeiro: Imago, 1983. 16 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A CAPíTULO 2 2 Psicologia do desenvolvimento: controvér- sias e aproximações entre concepções Este capítulo procura abordar o conceito e o campo de atuação da Psicologia do Desenvolvimento. Primeiro destacaremos a concepção de desenvolvimento e, de- pois, a ideia de sujeito, elementos fundamentais para a definição de uma determinada teoria. 2.1 O que é Psicologia do Desenvolvimento? A Psicologia do Desenvolvimento é a área da Psico- logia voltada a estudar as continuidades e mudanças sofridas pelo indivíduo ao longo do tempo (SHAFFER, 2005). Portanto, o seu campo de estudo compreende a identificação e explicação das mudanças que ocorrem no indivíduo em um ou mais aspecto do comportamento ou atividade psicológica, por exemplo, o pensamento, a linguagem, o comportamento social e a percepção, englobando fases desde o nascimento até o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade. Ao estudar como nascem e como se modificam as funções psicológicas que distinguem o homem de outras espécies, a Psicologia do desenvolvimento constatou que as manifestações complexas das ati- vidades psíquicas no adulto são frutos de uma longa caminhada. Essas descobertas trouxeram grandes consequências para as ciências e, particularmente, contribuiu para a Pedagogia, subsidiando-a na orga- nização das condições para a aprendizagem infantil, de modo que se possam ativar, na criança, processos internos de desenvolvimento, os quais, por sua vez, serão transformados em aquisições individuais. ?? VOCÊ SABIA? Influências culturais: a invenção da adolescência Apesar de o conceito de infância como o conhecemos datar dos anos de 1700, o reconhecimento formal da adolescência como uma fase diferente somente ocorreu mais tarde, nos primeiros anos do século XX (Hall, 19040. De maneira irônica, o crescimento industrial nas sociedades ocidentais é provavelmente o evento de maior responsabilidade na “invenção da adolescência”. Com a chegada de imigrantes nas nações industrializadas, eles passaram a realizar as tarefas antes desempenhadas “por crianças e adolescentes, que deixaram de ser ativos e passaram a ser dependentes economicamente,ou como alguém disse uma vez “economicamente sem valor, mas emocionalmente sem preço”(Zelizer, citado em Remley, 1988). Ainda mais com o aumento da complexidade tecnológica nas operações industriais, a educação passou a ter novo valor para a formação da força de trabalho. Ao final do século XIX, leis foram criadas para restringir o trabalho infantil e tornar a escolaridade obrigatória (Kett, 1977). Adolescentes de repente se viram passando muito mais tempo com seus pares e separados dos adultos.À medida que forma marginalizados com seus companheirose desenvolveram sua própria cultura, os adolescentes passaram a ser vistos como uma classe diferente de indivíduos que claramente haviam deixado para trás a inocência da infância, mas que ainda não eram capazes de assumir as responsabilidades da vida adulta (Hall, 1904). Após a Segunda Guerra Mundial, a experiência da adolescência foi ampliada à medida que aumentou o número de jovens que adiavam o casamento e o trabalho em busca de se dedicar a uma educação universitária. Hoje não é de todo incomum que o jovem adie sua entrada no mercado de trabalho até meados dos 2º ano (Hartung e Sweenney, 1991; Vobejda, 1991). E vale acrescentar que a sociedade estimula essa adolescência estendida ao exigir cada vez mais treinamento especializado para a obtenção da carreira desejada.(Elder, ET AL., 1984). O interessante é que muitas culturas não possuem qualquer conceito de adolescência como uma fase diferente da vida. Os esquimós de St. Laurence, por exemplo, distinguem meninos de homens, (ou meninas de mulheres), seguindo a tradição de muitas sociedades pré-letradas, que acreditam ser o início da puberdade a passagem para a vida adulta (Keith,E DO ESTADO DA BAHIA 1985). E ainda há culturas em que a descrição da passagem do tempo na vida é bem mais complexa que a nossa. Por exemplo, os arash, do leste da África, têm pelo menos seis importantes fases para os homens: jovens, jovens guerreiros, guerreiros seniores, jovens anciãos, seniores anciãos e anciãos aposentados. O fato de que a idade não possui o mesmo significado em todas as eras ou culturas reflete uma verdade básica (...) O curso do desenvolvimento humano em um contexto cultural ou histórico pode diferir, e difere substancialmente, daqueles observados em outras eras e culturas. (Fry,1996). Excetuando nosso vínculo biológico com a raça humana, somos amplamente produtos da época e dos lugares em que vivemos! (Trecho extraído: SHAFFER, D.R. 2005, p.8). Ao longo dos anos em que se constituiu uma área de estudo, a Psicologia do Desenvolvimento passou a contar com diversas teorias que procuraram explicar as mudanças que ocorrem no curso da vida humana. EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A 17UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA A tentativa de explicá-las, segundo Miller (1994), conduziram essas teorias a assumiram três compro- missos, são eles: 1. Uma teoria do desenvolvimento descreve as mu- danças que ocorrem no tempo em uma ou mais área do comportamento ou atividade psicológica, tais como pensamento, linguagem, comportamento social ou percepção. 2. Um segundo compromisso para uma teoria do desenvolvimento é aquele de descrever mudanças no tempo, pondo em relação compor tamentos ou atividade psicológica entre uma certa área do desenvolvimento e idealmente entre diversas áreas dele. 3. (...) Explicar as transições de um ponto ao outro do desenvolvimento. (Idem, pp.14-16) Se, por um lado, as teorias do desenvolvimento têm em comum o objetivo de dar conta dos três compromissos citados acima, por outro, ao cumpri- los se defrontam, com os quatro principais “nós” da Psicologia do Desenvolvimento. Segundo Miller (1994) são eles: 1. Qual é a natureza básica do homem? 2. O desenvolvimento é do tipo qualitativo ou quanti- tativo? 3. Em que modo os fatores genéticos e ambientais contribuem para o desenvolvimento? 4. O que se desenvolve? As quatro questões cruciais, acima mencionadas, são motivos de desacordo entre as principais teorias, pois cada uma na tentativa de explicar as mudanças ocorridas no desenvolvimento, adota sua própria perspectiva de homem; define a maneira de analisá- lo; defende as causas que acredita ser motivo do desenvolvimento; escolhe a essência ou unidade a ser analisada e que considera apropriada ao seu estudo. 2.2 Conceito de desenvolvimento humano O desenvolvimento é uma conjuntura de relações interdependentes e complementares entre sujeito e objeto. Envolve mecanismos bastante complexos e intrincados que englobam o entrelaçamento de alguns fatores. Para entender as mudanças ocorridas no desenvolvimento é necessário considerar o nível de maturação; as aprendizagens adquiridas ao longo da vida e as circunstâncias culturais, históricas e sociais nas quais a existência transcorre. ??? ??? SAIBA MAIS 1 - Maturação está relacionada ao desenvolvimento biológico do indivíduo consequente da herança genética. 2 - Aprendizagem são mudanças relacionadas com as experiências práticas do indivíduo. Os debates acerca dessas questões (maturidade, aprendizagem, mundo social) produziram diferentes perspectivas sobre as crianças e o desenvolvimento delas. Alguns teóricos, como Kofka, acreditava que o desenvolvimento é resultado da interação entre maturação e aprendizagem, transferidos ao nível geral. Enquanto Thorndike defendia que o desenvolvimento é a soma das aprendizagens específicas. ?? VOCÊ SABIA? Quem foi Thornike e Kofka? Edward Lee Thorndike (1874-1949) psicólogo americano associacionista iniciou suas investigações no âmbito da aprendizagem animal, dedicando-se mais tarde aos estudos da aprendizagem humana. “Se ocupou também de problemas pedagógicos, de métodos de avaliação e de teoria e técnica dos testes mentais para medir a inteligência, considerada por ele como um fenômeno biológico não condicionado socialmente” (GALLIMBERTI, 2001, p. 1035, trad. nossa). Kurt Kofka (1886-1941) psicólogo alemão naturalizado americano é um dos principais representantes da Gestalt ( psicologia da forma). Em seu livro “Os fundamentos do desenvolvimento mental: uma introdução à psicologia infantil” de 1921 apresenta seus estudos sobre os processos de aprendizagem e a análise dos problemas educativos, ambos á luz da Gestalt. Outras duas grandes vertentes da Psicologia do De- senvolvimento se destacaram no estudo da infância pela divergência de opiniões acerca do processo de desen- volvimento. L. S. Vygotsky construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da lin- guagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento. Para ele, o cérebro é a base biológica e suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano. Mas é pela interação do sujeito com o meio 18 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A que esses limites são superados. Assim, destaca Oli- veira (1993) o desenvolvimento não deve ser entendido no sentido restrito, isto é, do nascimento à morte, mas como um meio de compreender os diferentes aspectos deste processo. Desse modo, a abordagem genética vygotskyana se dá em diferentes planos: filogenético, sociogenético, ontogenético e microgenético. ??? ??? SAIBA MAIS Filogênese descreve a linha evolutiva de uma espécie (do grego phylon, que significa raça, espécie, grupo sistemático de planta, ou de animal). Ontogênese descreve o desenvolvimento ou evolução funcional (em larga escala) de um indivíduo em particular durante toda a sua vida (Oliveira, 1993). Sociogenêse analisa a história cultural, ou seja, as mudanças que ocorrem nos valores, culturas e normas, do meio no qual o indivíduo está inserido. Microgenêse estuda o aspecto mais micro (ocorridos em segundos, minutos ou dias), mais singular, do indivíduo, já que cada fenômeno psicológico tem sua própria história. Já para Piaget, o desenvolvimento é um processo contínuo entre organismo vivo e o meio ambiente. A aquisição do conhecimento é uma conquista do indiví- duo, portanto não está pronto ao nascer nem é adquirido passivamente graças às pressões do ambiente. Assim, o desenvolvimento deve atingir uma determinada eta- pa, com a consequente maturação de determinadasfunções, antes de a escola fazer a criança adquirir determinados conhecimentos e hábitos. Para Piaget o desenvolvimento é descontínuo, portanto marcado por etapas distintas em que cada uma é caracterizada por um conjunto particular de habilidades e comportamento que formam um padrão coerente (SHAFFER, 2005). 2.3 O sujeito enquanto unidade bio-psico- social A concepção do sujeito enquanto uma unidade de estudo que congrega dimensões biológicas, psicológi- cas e sociais tem ganhado muito destaque na Psicologia atual. A visão fragmentária de sujeito, muitas vezes dissolvidas em concepções dualista do tipo corpo e alma ou mente e corpo, são superadas pela proposta de conceber o ser humano como um ser completo cuja análise acerca do seu desenvolvimento requer como parâmetro essas três dimensões. É sabido que o patrimônio genético do indivíduo são elementos integrantes da natureza filogenética sem os quais muitas conquistas humanas não seriam possíveis. Todavia, sabe-se também que é na convivência em um meio social, fortalecido pelas trocas com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conheci- mentos, papéis e funções sociais, o que permite a for- mação de conhecimentos e da própria consciência. Para examinar como ocorrem as mudanças no desenvolvimento – por exemplo, nos sentimentos, pen- samentos, comportamentos – os estudiosos utilizam três modelos de pesquisa: transversal, longitudinal e sequencial. Na tabela abaixo, SHAFFER (2005, p. 27) apresenta os conceitos, limitações e vantagens das formas de pesquisar as mudanças no decorrer do tempo. EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A 19UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Método de pesquisa Procedimentos Vantagens Limitações Transversal Observa pessoas de diferentes idades ou coortes em algum momento específico. Demonstra diferenças estarias; aponta tendências de desenvolvimento; é relativamente barato e despende pouco tempo. Tendências de idade podem refletir diferenças estranhas entre cortes em lugar de verdadeiras mudanças desenvolvimentais; não fornece qualquer informação do desenvolvimento individual já que cada participante é observado por apenas determinado período. Longitudinal Observa pessoas de uma coorte repetidamente ao longo do tempo. Fornece dados do desenvolvimento individual; pode revelar pistas entre experiências anteriores e suas conseqüências; indica como os indivíduos se assemelham e diferenciam no modo como mudam no correr do tempo. Normalmente longo e caro; desgaste seletivo pode provocar uma mostra não representativa que limitará a generalização das conclusões; mudanças intergeracionais podem limitar as conclusões a coorte estudada. Seqüencial Combina os modelos transversal e longitudinal ao observar diferentes coortes repetidamente ao longo do tempo. Discriminam tendências verdadeiras no desenvolvimento de efeito coorte; indica se as mudanças desenvolvimentais vividas por um coorte são as similares àquelas vividas por outros coortes; é geralmente mais barato e menos longo que os estudos longitudinais. Mais caro e longo que os estudos transversais; apesar de ser modelo mais forte, pode deixar ainda dúvidas se a mudança desenvolvimental é generalizável além das coortes estudadas. Vantagens e limitações dos três modelos de pesquisa no desenvolvimento.(Fonte: SHAFFER, D. R. , 2005, p. 41) 20 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A INDICAÇÃO DE LEITURA Conforme o interesse de cada um, sugiro a leitura de dois textos que têm uma proposta atual e abrangente sobre o desenvolvimento humano. O texto de SHAFFER faz uma revisão de teorias métodos e descobertas sobre o desenvolvimento. Já DAVIS e OLIVEIRA, num enfoque interacionista, aborda os principais temas da Psicologia do Desenvolvimento relacionando-os aos problemas oriundos da prática escolar. SHAFFER, D. R. Psicologia do desenvolvimento. Infância e adolescência. Capítulo 1. São Paulo: Pioneira Thomsom Learning, 2005. DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. de. M. R. Psicologia na Educação. Unidade II. São Paulo: Cortez, 1994. SUGESTÃO DE ATIVIDADE Agora que você já aprendeu alguns conceitos, pode realizar uma pequena pesquisa que lhe ajudará a fazer conexões entre a teoria e a prática. Projeto 12 Visões de desenvolvimento 1. Selecione uma ou duas senhoras que tenham filhos pequenos. Diga-lhes que está preparando um trabalho para a escola e peça-lhe ajuda para tal. 2. Entreviste cada uma delas em local tranquilo, onde vocês são sejam perturbados. Pergunte-lhes sobre aquilo que se lembram a respeito de de- senvolvimento dos seus filhos. Registre, cuida- dosamente, as respostas obtidas. 3. A partir das respostas obtidas, verifique quais foram os aspectos mais destacados. Foi o motor (sentar sem apoio, engatinhar, andar, etc.)? Foi o afetivo (o primeiro sorriso, a reação a estranhos, a dor/cóli- cas, o reconhecimento de figuras próximas, etc.)? Foi o intelectual (interesse por objetos, capacidade de manipulá-los, solução de problemas etc.)? Foi o social (capacidade para interagir, brincar com outras crianças, complementar papéis, liderança ou conformismo, etc.)? 4. Analise seus resultados, procurando entender se houve ou não parcialidade neles e as razões para tal. Procure, numa visão interacionista, propor for- mas de se adquirir uma visão mais ampla e integra- da de desenvolvimento. (Fonte: Extraído de DAVIS, C., OLIVEIRA, Z. M., 1994, p.116.) EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A 21UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA CAPíTULO 3 3 A teoria de desenvolvimento de Jean Piaget Até o momento, vimos o nascimento e a delimita- ção da ciência psicológica, bem como a constituição de duas áreas de estudo - a Psicologia da Educação e Psicologia do Desenvolvimento – e seu campo de atuação. Neste capítulo, nos deteremos a analisar os pressupostos, a abrangência e as implicações da teoria de Jean Piaget para a Educação. 3.1 Jean Piaget: dados biográficos Jean Piaget nasceu em 1896 na cidade de Neu- châtel e veio a falecer em Genebra, também na Suíça, no ano de 1980. Foi um menino prodígio, pois aos 10 anos publicou seu primeiro artigo científico sobre um pardal albino. Interessado em Filosofia, Religião e Ciência, formou-se em Biologia, mas foi à Psicologia que dedicou sua vida, estudando o desenvolvimento humano. Aos vinte e três anos, em Zurique, começou a estudar o raciocínio da criança sob a ótica da Psicologia Experimental. Colaborou em dois grandes laboratórios de estudos da criança. Em 1919, começou a trabalhar no laborató- rio de testes psicométricos de Alfred Binet e Simon, em Paris, e observou nas respostas erradas das crianças uma lógica própria. Essa observação o levou a tentar aperfeiçoar os testes de quoficiente de inteligência (QI), mas em seguida abandonou a Psicometria, pois a Piaget não interessava saber o quanto as crianças são inteligentes, mas como elas se tornam inteligentes. Propôs-se a investigar como, e através de quais meca- nismos, a lógica infantil se transforma em lógica adulta. Também colaborou no instituto J.J. Rousseau que E. Claparède, também estudioso da inteligência, fundou em Genebra como objetivo de promover a pesquisa científica no campo do desenvolvimento infantil (FONZI, 2004, trad. nossa). Foi, portanto, estudando as respostas provisórias infantis que suas pesquisas o levaram a identificar as fases do amadurecimentoda inteligência na criança. Uma das grandes fontes de investigação de Piaget foi a infância dos seus três filhos. Os resultados obtidos da observação da conduta de seus filhos, que compreende o período do nascimento até os dois anos de idade, foram publicados em dois volumes: O nascimento da inteligência da criança de 1936 e A construção do real na criança em 1937. Piaget com sua esposa e seus três filhos: Jacqueline, Lucienne e Laurent. (Fonte: FONZI, A. Manuale di psicologia dello sviluppo. Firenze, Giunti, 2004) Sua contribuição para a Psicologia do Desenvolvimento resultou da dedicação desempenhada em seus estudos para saber como as crianças constroem o conhecimento. Em suas pesquisas submeteu à observação científica o proces- so de aquisição de conhecimento pelo ser humano. Piaget tem uma vasta publicação, mas foi em 1924 que publicou A linguagem e o pensamento na criança, o primeiro de mais de 50 livros. Em 1950, publicou a primeira síntese de sua teoria do conhecimento: Intro- dução à Epistemologia Genética, mas é de 1967 sua principal obra: Biologia e Conhecimento. Além de estudioso, Piaget teve uma vida pública, participando da diretoria do Instituto Jean-Jacques Rousseau ao lado do seu mestre Édouard Claparède. Em 1946, participou da criação da UNESCO, colabo- rando na elaboração de seu regimento e tornando-se membro do seu conselho executivo. Nomeado em 1952, foi professor na Sorbone até 1963 e em 1956 criou, na Faculdade de Ciências de Genebra, o Centro Internacional de Epistemologia Genética, onde passou a investigar sistematicamente o desenvolvimento do pensamento da criança nos modos de pensar moral, abstrato, lógico e concreto. 22 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A ?? VOCÊ SABIA? A palavra epistemologia é formada pelo vocábulo grego episteme, que quer dizer ciência, conhecimento, e logia que significa estudo, podendo, portanto, ser definida em sua etimologia como “o estudo da ciência”. Para Piaget, o estudo do pensamento infantil requer uma análise que tem por base a epistemologia genética que pare ele representa: Uma pesquisa essencialmente interdisciplinar que se propõe a estudar o significado do conhecimento, das estruturas operatórias intelectuais ou das noções, recorrendo, de um lado, a sua própria história e funcionamento atual em uma ciência determinada, de outro, a seu próprio aspecto lógico e, enfim, a sua formação psicogenética ou as suas relações com as estruturas mentais (Piaget, 1965,p.89). A epistemologia de Piaget, fundamentada no tripé interdisciplinar da história, da psicologia e da Lógica, analisou comparativamente como as formas genéticas do pensamento (criança) se transforma nas formas atuais do pensamento (adulto). Para esse autor, a compreensão do pensamento humano só é possível se o analisarmos em sua gênese, porque estas são a base e a origem dos sucessivos desenvolvimentos que as expressões mentais progressivamente se organizam. Com base nessa premissa, estudou concepções de tempo, espaço, causalidade física, movimento e velocidade na criança. ??? ??? SAIBA MAIS Genético - vem de gênese, cujo significado aqui é origem. 3.2 Conceito de estágio Piaget concebe o desenvolvimento como um proces- so contínuo de trocas entre o organismo vivo e o meio ambiente e defende que o pensamento infantil passa por quatro estágios evolutivos. São eles: • 1º estágio: Sensório-motor (0 a 2 anos) • 2º estágio: Pré-operatório (2 a 7 anos) • 3º estágio: Operações-concretas (7 a 12 anos) • 4º estágio: Operações-formais (12 anos em diante) Em seus estudos sobre o desenvolvimento humano, Piaget observou e entrevistou crianças, o que o fez de- finir um conjunto de atividades mentais típicas de cada estágio. Esses estágios são caracterizados, segundo Bock (1999), por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor no decorrer das diversas faixas etárias ao longo do processo de desenvolvimento. Evidentemente que “esse fazer melhor” varia de um indivíduo para o outro, portanto há formas diferentes de organização mental que, por sua vez, proporcionam diferentes formas de relacionar-se com a realidade circundante. Para Piaget, os estágios são universais e o que difere de um indivíduo para o outro é a duração e isso está relacionado com as características biológicas e as experiências proporcionadas pelo meio, no qual cada um está inserido. As idades cronológicas são, na verdade, uma referência e não uma norma rígida. 3.3 Os fatores do desenvolvimento Enquanto interacionista, Piaget acredita que existe uma relação de interdependência entre o sujeito co- nhecedor e o objeto a conhecer e o processo de inte- ração entre o organismo e meio acarretam mudanças sobre o indivíduo. Desse modo, o processo evolutivo da filogenia humana tem uma origem biológica que é ativada pela ação e interação do organismo com o meio ambiente - físico e social - que o rodeia (Coll, 1992; La Taille, 1992; Freitas, 2000). Com base nessa premissa, busca desvendar os mecanismos processuais do pensamento humano do início da vida até a idade adulta, a partir da compreensão dos mecanismos de constituição do conhecimento, ou seja, os mecanismos envolvidos na formação do pensamento lógico-matemático. Há dois elementos básicos que impulsionam o desen- volvimento humano: os fatores variantes e os invariantes. Os fatores invariantes são uma série d e estruturas bio- lógicas - sensoriais e neurológicas - que permanecem constantes ao longo da vida. Ou seja, o indivíduo carrega consigo duas marcas inatas que são a tendência natural à organização e à adaptação, significando entender, portanto, que, em última instância, o ‘motor’ do com- portamento do homem é inerente ao ser. Já os fatores variantes, são representados pelo conceito de esquema que constitui a unidade básica de pensamento e ação estrutural do modelo piagetiano, sendo um elemento que se transforma no processo de interação com o meio, visando à adaptação do indivíduo. EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A 23UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA ?? VOCÊ SABIA? Os esquemas não podem ser observados, mas inferidos, portanto, são o que na psicologia chamamos de constructos hipotéticos. Piaget utiliza a palavra esquema para definir as es- truturas mentais pelas quais os indivíduos se adaptam e se organizam. Wadsworth, fazendo uma analogia entre os esquemas e um arquivo, afirma que cada ficha representa um esquema, portanto quanto mais o indivíduo se desenvolve maior será o número de fichas no seu arquivo. “A criança, quando nasce, apresenta poucos esquemas (fichas no arquivo). À medida que se desenvolve, seus esquemas tornam-se mais gene- ralizados, mais diferenciados e progressivamente mais ‘adultos’” (WADSWORTH, 2003, p. 16). O processo de transformação dos esquemas do nascimento a idade adulta ocorre na medida em que o indivíduo, agindo sobre o meio, assimila e acomoda os diferentes estímulos ambientais. A riqueza dessas interações depende de quatro fatores, são eles: • A maturação orgânica; • Experiência ativa; • As interações sociais; • Equilibração. ??? ??? SAIBA MAIS Assimilação e acomodação são dois termos tomados emprestados da biologia. Enquanto a assimilação “é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra um novo dado perceptual, motor ou conceitual nos esquemas ou padrões de comportamentos já existentes. A acomodação é a criação de novos esquemas ou a modificação de velhos esquemas”. (WADSWORTH, 2003, p.19-20) A maturação são as sucessivas modificações que se processam em determinado sistema ou função, até que sua forma final seja alcançada. É um fatorherdado que progride do nascimento à idade adulta, portanto é um processo que impõe limites ao desenvolvimento cognitivo os quais só podem ser superados na medida em que a criança age sobre o meio. A dinâmica dos diferentes estágios de maturação do sistema biológico é semelhante em cada jovem, mas há variações individuais quanto à época com que um nível maturacional mais avançado é atingido. Assim, há jovens com maior ou menor grau de maturação que os outros numa mesma idade cronológica. Já a experiência ativa está relacionada ao exercício e a ação - física ou mental - sobre objetos e eventos. Todo conhecimento, seja ele lógico-matemático, físico e social, resulta de uma determinada atividade sobre objetos ou pessoas. Por exemplo, para um bebê saber a diferença entre o bico do seio e uma mamadeira pode bastar o movimento (ação instrumental) de pegar e tocar. Do mesmo modo, para uma criança de nove anos somar uma coluna de números é necessário re- fletir, pensar (ação instrumental interna). Em ambos os casos, afirma Wadsworth (2003, p. 23), ocorre uma atividade, elemento necessário, “mas não suficiente para desenvolvimento cognitivo”. O convívio nos diferentes meios possibilita a criança in- teragir com diversas pessoas, sejam elas da mesma idade ou não. A escola e a família destacam-se como importan- tes centros de interações e transmissões sociais que são importantes para o desenvolvimento intelectual. Neles a criança tem a oportunidade de conflitar seus pensamentos com os alheios, construir e validar conceitos. Por fim, a equilibração é quem regula ou coordena todos os demais fatores. É uma espécie de controle geral interno “que permite que novas experiências sejam incorporadas, com sucesso, aos esquemas” (WADSWORTH, 2003, p. 36). É necessário lembrar que todos esses fatores têm um importante papel sobre o desenvolvimento, mas é “a interação entre eles que oferece a condição suficiente para o desenvolvimento cognitivo” (Idem). 3.4 Os estágios do desenvolvimento No estágio sensório-motor, a criança dispõe de uma inteligência de caráter prático e descobre o mundo a sua volta explorando e experimentando os objetos do mundo ao seu redor. Por tentativa e erro, constrói as primeiras impressões do mundo, desenvolvendo a percepção de si mesmo e do mundo a sua volta. No pré-operatório aparece a linguagem e o universo infantil se amplia com a possibilidade de representar as coisas. É egocêntrica e tem dificuldade de se colocar no lugar do outro. No operatório-concreto, já é capaz de separar os objetos por semelhanças e diferenças, domina conceitos de 24 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A tempo e número e surge a noção de reversibilidade. Mas é no operatório-formal que o pensamento se aproxima da lógica adulta. O pensamento é lógico e dedutivo, sendo capaz de resolver problemas, que relacionam conceitos abstratos e situações hipotéticas. A seguir, apresentamos os estágios piagetianos com as suas principais características: Fases do desenvolvimento de Jean Piaget Idade Período Características 0 – 2 anos Sensório- motor Desenvolvimento da consciência do próprio corpo, diferenciado do restante do mundo físico. Desenvolvimento da inteligência em três estágios: reflexos de fundo hereditário, organização das percepções e hábitos e inteligência prática. 2- 7anos Pré-operatório Desenvolvimento da linguagem, com três conseqüências para a vida mental: a) socialização da ação, com trocas entres os indivíduos; b) desenvolvimento do pensamento; c) finalismo (porquês) e c) desenvolvimento da intuição. 7 a 12 anos Operatório- concreto Desenvolvimento do pensamento lógico sobre coisas concretas; compreensão das relações entre coisas e capacidade para classificar objetos; superação do egocentrismo da linguagem; aparecimento das noções de conservação de substância, peso e volume. 12 anos em diante Operatório- formal Desenvolvimento da capacidade para construir sistemas e teorias abstratos, para formar e entender conceitos de amor, justiça democracia, etc., do pensamento concreto, sobre coisas, para o pensamento abstrato, hipotético-dedutivo, isto é, o indivíduo se torna capaz de chegar a conclusões a partir de hipóteses. Quadro 1: Estágios de desenvolvimento de Jean Piaget. (Fonte: http://linux.alfamaweb.com.br/sgw/downloads/38_093044_ psic_desenv_enade.ppt Observe no quadro acima que, na perspectiva de Piaget, a inteligência inicial da criança tem por base as sensações e percepções, desenvolvidas no estágio sensório-motor, e somente mais tarde, no estágio se- guinte, a inteligência começa a operar com os signos culturais. Há de se observar que a conquista da lin- guagem muda as formas de interação com o mundo, possibilitando o pensamento a representar as coisas e, portanto, viver para além da experiência presente, isto é, do aqui e agora. Mas é no nível operatório, que o pensamento vislumbra a lógica e a criança apresenta uma organização mental integrada que a permite ver a totalidade de diferentes ângulos. A flexibilidade de seu pensamento, por outro lado, permite um sem número de aprendizagens e o adolescente desenvolve processos de pensamento hipotético-dedutivos, tornando-se capaz de inferir as consequências de ações que acredita ou considera pura hipótese. ?? VOCÊ SABIA? A lógica é “um sistema de operações, isto é, de ações que se tornaram reversíveis e passíveis de serem compostas entre si” A adolescência é o estágio no qual ocorrem transformações físicas, psíquicas e sociais, sendo que essas duas últimas são interpretadas de acordo a época e a cultura na qual o indivíduo está inserido. Nas mais diversas culturas a adolescência representa a entrada no mundo adulto. Todavia, do ponto de vista legal, cada uma tem sua própria legislação que define a idade formal de maioridade, na qual os adolescentes passam a ser tratados como adultos. A passagem para a vida adulta em cada cultura é marcada com um rito específico, por exemplo, enquanto no cristianismo o sacramento da crisma representa a entrada do jovem na vida cristã, no mundo judaico, a passagem é cha- mada de Bar Mitzvah1. 1 Na tradição judaica a Bar Mitzvah é uma cerimônia, que ocorre aos treze anos de idade para os meninos, na qual se celebra a entrada do jovem judeu como membro maduro em todas as atividades da comunidade. De acordo com a lei judaica, é a partir dessa idade que o jovem passa a responder por seus atos. EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A 25UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA ??? ??? SAIBA MAIS Na nossa sociedade, há um número crescente de adolescentes com distúrbio alimentares como a bulimia e a anorexia. Ambos são transtornos alimentares que apresentam risco de morte. Enquanto a bulimia caracteriza-se por orgias alimentares recorrentes seguidas de atividades purgativas como vômito ou pesado uso de laxativos. A anorexia nervosa é caracterizada pela autoprivação de alimentos e um medo compulsivo de engordar. Para maiores esclarecimentos Cf: SHAFFER, D. R. Psicologia do desenvolvimento. Infância e adolescência Cap. 5. São Paulo: Pioneira Thomsom Learning, 2005. Para a Psicologia moderna, o conceito mais aceito é o de que não existe adolescência e sim adolescências em função do político, do social, do momento e do con- texto em que está inserido o adolescente. Mas, afinal, o que os adolescentes têm em comum e em que são diferentes? As transformações pubertárias (aspectos físicos) acometem todos os adolescentes independente da etnia ou sexo, no entanto, os aspectos sociais e psi- cológicos, que dependem de experiências individuais, são singulares.A música a seguir ilustra muito bem as inquietações que acometem o estar adolescente na busca de sua identidade. ANTUNES, Arnaldo; Não vou me adaptar. Intérprete: Titãs. In: Titãs. Televisão. Brasil. Continental, 1987. 1 CD. Faixa 7. Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia, Eu não encho mais a casa de alegria. Os anos se passaram enquanto eu dormia, E quem eu queria bem me esquecia. Será que eu falei o que ninguém ouvia? Será que eu escutei o que ninguém dizia? Eu não vou me adaptar. Eu não tenho mais a cara que eu tinha, No espelho essa cara náo é minha. Mas é que quando eu me toquei, achei tão estranho, A minha barba estava desse tamanho. Será que eu falei o que ninguém ouvia? Será que eu escutei o que ninguém dizia? Eu não vou me adaptar. ?? VOCÊ SABIA? 1 - A entrada na puberdade varia entre nove e treze nas meninas e dez e catorze nos meninos. Nesse período ocorrem transformações biológicas como broto mamário, aumento do testículo e/ou desenvolvimento de pelos pubianos. Essas mudanças trazem novas necessidades que fazem, pouco a pouco, o adolescente estar consciente da própria sexualidade. Mas não podemos negar que a cultura e o contexto social, no qual o adolescente está inserido, influenciam sobre o modo como ele lida com a sexualidade e expressa seus sentimentos sexuais. 2 - Controvérsias atuais: Orientação sexual e as origens da homossexualidade (...) Como os adolescentes tornam-se homossexuais ou heterossexuais? Ao se referir a esse assunto, John Money (1988) enfatiza que a orientação sexual não é uma decisão que tomamos, mas algo que simplesmente acontece. Em outras palavras, não preferimos ser “gays” ou “hetero” simplesmente acabamos desse jeito Ainda assim, nem todos concordam com esse ponto de vista. Como Diana Baumirind (1995) notou, muitos indivíduos bissexuais podem ativamente optar por uma identidade heterossexual mesmo que já tenham se sentido atraídos sexualmente por membros de ambos os sexos. De modo similar, Célia Kitzinger e Sue Wikinson (1995) descobriram que muitas mulheres com mais de dez anos de experiência heterossexual, e que sempre se viram como heterossexuais, realizavam uma transição para o lesbianismo mais tarde na fase adulta (veja também Diamond, 2000), e atualmente parece que alguns homens tornam-se gays mais tarde após terem se considerado (e haver vivido como) heterossexuais (Savin-Williams, 1998). Sem dúvida, essas descobertas implicam que ao menos alguns indivíduos homossexuais não estavam predestinados à homossexualidade e tiveram o que pensar sobre o assunto. Como então os indivíduos potencialmente homossexuais tornam-se homossexuais? Parte da resposta encontra-se no código genético, ao que parece. Michael Bailey e cols.(Bailey e Pillard, 1991; Bailey ET AL., 1993, 2000) descobriram que gêmeos idênticos são mais parecidos na orientação sexual que gêmeos fraternos.(...) Isso significa que o ambiente contribui pelo menos tanto quanto os genes para o desenvolvimento da orientação sexual. (...) Que fatores ambientais podem ajudar a determinar se uma pessoa geneticamente predisposta para a homossexualidade venha a se sentir atraída por pessoas do mesmo sexo? Ainda não sabemos. Entretanto, o é fato que ninguém sabe exatamente quais fatores no ambiente pré ou pós-natal, em conjunto como os genes, contribuem para uma orientação homossexual (Berenbaum e Snyder, 1995; Paul, 1993. (Trecho extraído: SHAFFER, 2005, p. 167). 3.5 Contribuições da teoria piagetiana A teoria piagetiana representa uma tentativa de integrar as posições dicotômicas derivadas de duas grandes vertentes da Filosofia (o idealismo e o materia- 26 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A lismo mecanicista) que, por sua vez, são herdadas do dualismo radical de Descartes que propôs a separação estanque entre corpo e alma. Seu caráter inovador está na concepção de que a mente e o corpo são interde- pendentes e as leis que regulam as atividades mentais são as mesmas que governam a atividade biológica. O objetivo comum dessas duas atividades é organizar-se e adaptar-se ao meio. (WADSWORTH, 2003) O modelo piagetiano prima pelo rigor científico de sua produção ampla e consistente ao longo de 70 anos, que trouxe contribuições práticas importantes, principalmente, ao campo da Educação – muito em- bora, a intenção de Piaget não tenha propriamente incluído a ideia de formular uma teoria específica de aprendizagem. Ao dedicar-se ao estudo do raciocínio lógico-mate- mático trouxe grandes contribuições para o ensino, pois suas descobertas trouxeram implicações pedagógicas fundamentais sobre a transmissão do conhecimento. Para Piaget, a criança aprende aquilo que sua estrutura mental permite e o conhecimento é uma construção que decorre das descobertas que a criança faz sobre o mundo. Portanto, se aprende o que se tem condições de absorver e o que desperta o interesse cognitivo, ou seja, a criança é o sujeito de sua própria aprendizagem. INDICAÇÃO DE LEITURA Antes de passar para o próximo capítulo, aprofunde seus conhecimentos sobre a teoria piagetiana apresentada de maneira clara na seguinte referência: WADSWORTH,Barry J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget. 5ª Ed. São Paulo, Pioneira Thompson Learning, 2003. SUGESTÃO DE ATIVIDADE 1- Agora você que você tomou contato com os pres- supostos básicos da teoria piagetiana elabore um resumo das principais ideias do autor. Em seguida, assista ao seguinte documentário JEAN PIAGET. Coleção Grandes Educadores. Produção CEDIC. Apresentação Yves de La Taille. Belo Horizonte, 2006, DVD (57 min.) e reflita sobre a questão: Para Piaget, a construção do conhecimento é resultado da interação entre estruturas internas e contextos externos. De acordo com as suas obser- vações em sala de aula (ou experiências pessoais), que influência exerce o aspecto social sobre o desen- volvimento cognitivo da criança? EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A 27UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA CAPíTULO 4 4 A teoria de Vygotsky A seguir apresentamos a abordagem histórico cul- tural, destacando a sua posição frente aos processos de desenvolvimento e aprendizagem e as contribuições dos estudos de Vygotsky a atuação do professor e a situação de sala de aula. 4.1 Quem é Lev Semenovich Vygotsky? Vygotsky como é assim conhecido no ocidente, nasceu em 17 de novembro em Osha e viveu em Gomel onde iniciou sua vida profissional. Foi o segundo filho de oito irmãos. Cresceu em um ambiente de grande estimulação intelectual e, desde cedo, interessou- se pelo estudo e pela reflexão sobre várias áreas do conhecimento. Em 1917 formou-se em Direito na Universidade de Moscou e também estudou Medicina, Filosofia, Literatura, História e Psicologia, o que foi de grande valia em sua vida profissional; Vygotsky com sua mulher Rosa e sua filha Gita após ter concluído um experiência. (Fonte: FONZI, A. Manuale di psicologia dello sviluppo. Firenze, Giunti, 2004) Em 1918 iniciou a vida profissional. Foi professor e pesquisador nas áreas de Psicologia, Pedagogia, Filo- sofia, Literatura, Deficiência física e mental. Em 1924 casou-se com Rosa Semekhova. Teve uma filha Gita, que dedicou-se a Pedagogia. Em 1920 descobriu que estava com tuberculose, sendo hospitalizado em 1926 por um longo período, que dedicou ao estudo. Veio a falecer em 11 de junho de 1934 aos trinta e sete anos de idade. 4.2 O pensamento de Vygotsky no contexto histórico e no embate teórico da psicologia do seu tempo Vygotsky desenvolveu seus estudos no período histórico da Rússia pós-revolucionária exatamente quando a Psicologia Soviética se dividia entreo idea- lismo (Chelpanov) e o experimentalismo (Pavlov). Seu objetivo era a construção de uma Psicologia dialética para explicar a gênese social da consciência, o que o fez colaborar com diversos colegas, entre eles: Leontiev e Luria. A matriz do pensamento vygotskiano está na con- cepção dialética de homem e cultura. Para Vygotsky a dialética não é um dogma, mas um modo de pensar e de encarar os fatos e o marxismo não é resultado de revoluções, mas uma atitude intelectual profunda. Os fatores biológicos preponderam sobre o social somente no início da vida, pois o sujeito de Vygotsky, desde o início da vida, interage com o ambiente histórico e social. Para esse autor, há uma contínua interação entre as mutáveis condições sociais e a base biológica do ser humano. A partir das estruturas or- gânicas elementares, determinadas basicamente pela maturação, se constitui novas e complexas funções mentais que dependem da natureza das experiências sociais a que o sujeito está submetido. Na história da espécie, o homem criou instrumentos (faca, enxada) e sistemas de signos (valores, lingua- gem) para conhecer, transformar o mundo e comuni- car suas experiências. Portanto, a cultura é parte da natureza humana, pois é dela que apreendemos os instrumentos e signos que vão mediar nossa relação com o mundo. Já o conhecimento é construído na interação com o meio, pois entre sujeito e objeto (S - O) há uma interação contínua entre a base biológica e as mutáveis condições sociais. 28 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A ??? ??? SAIBA MAIS Na Índia, onde os casos de meninos-lobos foram relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920, duas crianças, Amala e kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano, e o seu comportamento era exatamente semelhante àquele dos seus irmãos lobos. Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os longos e rápidos. Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; em ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choravam ou riam. Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de 50 palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras com as quais conviveu. A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples. (Trecho extraído: B. Leymond. Le dévelopment social de l’enfant et de l’adolescent, Bruxelas, Dessart, 1965, pp. 12-14; apud DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. de. M. R. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, 1994. Segundo Miller (1994), a psicologia de Vygotsky está baseada em três pontos fundamentais da dialética de Marx e Engels, são eles: Em primeiro lugar, (...) a tese de que o homem transforma a si mesmo, além da natureza, através do trabalho e do uso de instrumentos. (...) são as interações com outras pessoas nos vários contextos sociais e os instrumentos psicológicos, como a linguagem, usadas nestas interações que modelam o pen- samento da criança. Em segundo lugar, Vygotsky sustentava que o princípio econômico da divisão dos bens é paralelo à di- visão social da cognição. A cooperação dos adultos é respon- sável pela divisão dos seus conhecimentos com as crianças e os outros membros menos avançados da sociedade, por fazê-los avançar no seu desenvolvimento cognitivo. Em ter- ceiro lugar, Vygotsky sustentava o princípio marxista (derivado da Hegel) da natureza dialética das mudanças - que todos os fenômenos são constantemente submetidos a mudanças e se movem em direção a uma síntese dos elementos conflituais e contraditórios. Para Vygotsky, é este processo que constitui o desenvolvimento (MILLER, 1994, PP. 378-379, trad. nossa). Para Davis & Oliveira (1994), contrário a Piaget, Vygotsky não defende a seqüência universal de estágios cognitivos, pois reconhece a imensa diversidade das condições histórico-sociais em que as crianças vivem. Para ele, o pensamento é construído paulatinamente num ambiente que é histórico e, em essência, social. As oportunidades que se abrem após o nascimento são amplas, variadas e diferentes para cada criança, portanto são as condições particulares de cada um que vão definir o nível de influência, seja ele qualitativo ou quantitativo, sobre o pensamento e o raciocínio. O homem vive no meio social e sua interação com ele é mediada por instrumentos e signos. A mediação representa toda a intervenção de um terceiro elemento que possibilita a interação entre os termos de uma re- lação, por exemplo, a linguagem. (OLIVEIRA, 1993) ??? ??? SAIBA MAIS Signos são compreendidos como elementos que representam objetos, eventos ou situações. Por exemplo, a palavra cadeira é um signo que representa o objeto cadeira. (OLIVEIRA,1993). Já os instrumentos são elementos interpostos “entre o trabalhador e o objeto do seu trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza”. (idem, p. 29). São exemplos: o machado, a faca, a enxada. 4.3 A linguagem e suas relações com o pen- samento. Os seres humanos criam instrumentos e signos cuja utilização lhes permite conhecer, transformar o mundo, comunicar suas experiências e desenvolver funções psicológicas. A grande mediação cultural de sistemas simbólicos é a linguagem, que intervém sobre o desen- volvimento logo que aparece. A fala, por sua vez, desem- penha um importante papel na formação e organização do pensamento complexo e abstrato, pois tem o poder de enriquecer a comunicação entre as crianças e os adultos, na medida em que possibilita ultrapassar as limitações da situação presente, permitindo à criança atuar e inte- ragir para além do aqui e agora: no passado e no futuro. Assim, é através da fala que o ambiente físico e social EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A 29UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA pode ser melhor apreendido, aquilatado e equacionado, modificando assim a qualidade do conhecimento e do pensamento do mundo ao seu redor. A fala tem a função de formar e organizar o pensa- mento complexo e abstrato ao nível individual. Através da fala, a criança apreende, aquilata e equaciona o ambiente externo, transformando o seu pensamento e a ideia que tem do mundo. Para Vygotsky (1989), pensamento e linguagem são processos interdependentes desde o início da vida. Inicialmente separados, depois se unem e tornam-se inseparáveis. A linguagem sistematiza a experiência da criança, modifica a funções superiores, dá forma ao pensamento e possibilita o aparecimento da imaginação. Através dela é possível a comunicação com o mundo e mais ainda ela tem o poder de simplificá-lo quando categoriza o mundo real. Segundo Oliveira (1993), a expressão de uma palavra nos permite categorizar o mundo a nossa volta. Por exemplo, ao exprimirmos a palavra copo, dividimos o mundo material em duas categorias: tudo o que se enquadra nas características do que denominamos copo e tudo o que difere desta. A linguagem origina-se em primeiro lugar como meiode comunicação entre a criança e as pessoas que a rodeiam. Só depois, convertido em linguagem interna, se transforma em função mental interna que fornece os meios fundamentais ao pensamento da criança. Vejamos o esquema que representa as funções da linguagem segundo Vygotsky: ?? VOCÊ SABIA? A questão da fala egocêntrica é o ponto mais explícito de divergência entre Vygotsky e Piaget. Para Piaget a função da fala egocêntrica é exatamente oposta àquela proposta por Vygotsky: ela seria uma transição entre estados mentais individuais não verbais, de um lado, e o discurso socializado e o pensamento lógico, de outro. Piaget postula uma trajetória “de dentro para fora” enquanto Vygotsky considera que o percurso é “de fora para dentro” do indivíduo. O discurso egocêntrico é, portanto, tomado como transição entre processos diferentes para cada um desses teóricos. (Trecho extraído de OLIVEIRA, 1993, p.53) Por serem interdependentes, os progressos da lingua- gem são paulatinamente conquistados também no plano do pensamento e vice-versa. Mas existe então pensa- mento antes da linguagem? Inicialmente, há uma fase pré-intelectual da linguagem, na qual pensamento e lin- guagem estão separados. Em seguida, antes mesmo da linguagem se manifestar enquanto sistema semiótico, ou seja, na fase pré-linguísitica do pensamento, a inteligência é de natureza prática. Durante esse período a criança é capaz de resolver problemas sem a mediação da lingua- gem. Somente quando o pensamento se encontra com a linguagem, por volta dos dois anos, é que o pensamento torna-se verbal, isto é, passa a ser mediado por significa- dos dados pela linguagem (OLIVEIRA, 1993). Tanto os homens quantos os animais dispõem de mecanismos elementares que lhes garante a sobrevi- vência como ações reflexas e reações automatizadas ou associação simples entre eventos. Todavia somente o homem, na interação com sua cultura, supera esse patamar, atingindo o que Vygotsky denomina função superior, ou seja, funções mais sofisticadas, mais tipicamente humana, intencional que requer planeja- mento e possibilita libertar-se do momento e o espaço presente. O desenvolvimento das funções superiores é uma conquista realizada através da mediação, “um processo essencial para tornar possível atividades psicológicas voluntárias, intencionais, controladas pelo próprio indivíduo” (Oliveira,1993, p. 33). Toda função psicointelectual aparece duas vezes no decurso do desenvolvimento infantil, a primeira vez, nas atividades coletivas, nas atividades sociais, como fun- ção interpsíquica, a segunda nas atividades individuais, como propriedades internas do pensamento, ou seja, como função intrapsíquica. 30 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A Esse processo de transformação de uma atividade externa em uma atividade interna é denominado por Vygotsky de internalização, que tem por base a ope- ração com signos, ou seja, as mediações semióticas e particularmente a linguagem. Somente através da internalização das funções psicológicas superiores, o indivíduo é capaz de autoregular-se. 4.4 Conceito e relação entre zona proximal, desenvolvimento real e proximal. Para Vygotsky (1991), aprendizagem e desenvol- vimento estão relacionados desde o nascimento, pois assim que começa a interagir com o mundo, o indivíduo está desenvolvendo e aprendendo. São, todavia, con- ceitos diferentes, o processo de desenvolvimento não coincide com o da aprendizagem, mas o segue e cria a zona de desenvolvimento proximal. Os processos de aprendizagem resultam no desenvolvimento, pois o ser humano se desenvolve na medida em que ocorrem eventos de aprendizagem. O desenvolvimento e a aprendizagem, ainda que dire- tamente ligados, nunca se produzem de modo simétrico e paralelo. Por exemplo, as diferenças entre as crianças devem-se, em parte, as diferenças qualitativas do seu ambiente social. Tais disparidades, segundo Vygotsky, promovem aprendizagens diversas que passam a ati- var processos de desenvolvimento também diversos. Assim, a aprendizagem precede o desenvolvimento intelectual. Na concepção vygotskiana, para se determinar o desenvolvimento mental da criança, é necessário referir- se a dois níveis: o real e o potencial. O real é o nível de desenvolvimento das funções psicoanalíticas que se consegue com o resultado de um específico processo de desenvolvimento, já realizado. Ou seja, aquilo que a criança consegue fazer sozinha. Já o proximal define funções que ainda estão em processo de maturação, ou melhor, diz respeito à capacidade da criança em resolver um problema auxiliado por um membro mais maduro que pode ser um colega ou adulto. Entre o nível de desenvolvimento real e proximal há uma distância, “um caminho que o indivíduo vai percorrer para que as funções em amadurecimento se tornem consolidadas, estabelecidas no nível real” (OLIVEIRA, 1993, p, 60). Esse domínio psicológico em constante transformação Vygotsky identificou como zona de desenvolvimento proximal. 4.5 A importância da zona de desenvolvi- mento proximal para o planejamento de si- tuações de aprendizagem Para Vygotsky, a aprendizagem da criança começa muito antes da escola e a sua ligação com o desenvolvi- mento existe desde os primeiros anos de vida da crian- ça. Portanto, o ensino deve ser orientado baseando-se no desenvolvimento daquilo que a criança ainda não superou, pois segundo este autor “o bom aprendizado é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento” (VYGOTSKY, 1991, p.101) As trocas que se dão no plano verbal entre professor e aluno influenciam decisivamente na forma como a criança torna mais complexo o seu pensamento e pro- cessa novas informações. Mas é somente conhecendo o que as crianças sabem fazer com e sem a ajuda ex- terna que é possível organizar as atividades escolares e avaliar os progressos individuais. A participação do outro nos processos que estão em forma de broto, como diria Vygotsky, é fundamental para o alargamento do desenvolvimento. Essa participação pode ocorre de diversas formas. Vejamos como Miller (1994) destaca a ação cooperativa sobre a zona de desenvolvimento proximal: Uma pessoa mais competente colabora com a criança para ajudá-la a mover-se de onde está para onde pode chegar com a ajuda dos outros. Esta pessoa opera sobre tal escopo através de sugestões, informações, fazendo-se de modelo, com explicações e perguntas que conduzem a criança sobre a estrada certa, com a discussão, a participação colabora- tiva, o encorajamento, o controle da atenção da criança, etc (p. 385, trad. nossa). Acrescenta Davis (1989), as interações sociais que contribuem para a construção do conhecimento infantil e que, por esta razão, são consideradas educativas referem-se a situações bem particulares, aquelas que exigem coordenação de conhecimentos, articulação de ação e superação de contradições. Portanto, é preciso que certezas sejam questionadas, o implícito explicita- do, lacunas de informações preenchidas conhecimen- tos expandidos, negociações entabuladas, decisões tomadas. Tal interação, no entanto, ocorrerá apenas na medida em que houver conexões entre os objetivos do professor (conhecimentos a serem construídos) e o contexto social dos alunos. Para organizar o processo de ensino e aprendiza- gem, que tem por proposta pedagógica a atuação na EAD 2011 EAD 2011 LI CE NC IA TU RA E M M AT EM ÁT IC A 31UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA zona de desenvolvimento proximal, é necessário que o professor saiba compreender “as exigências cognitivas da criança, as suas dificuldades, mas antes de tudo, os seus “estados de graça”, os seus momentos de fatiga, as suas necessidades de pausa. Somente
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