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Teoria dos Valores Jurídicos Introdução A obra intitulada „Teoria dos Valores Jurídicos‟ versa sobre o caos presente no mundo ocidental, cuja desordem reflete não apenas nas relações interpessoais, mas também no conforto, prazer e bem estar psicológicos individuais, o que pode ser evidenciado por meio, por exemplo, do número crescente de pessoas afetadas pela depressão, já considerada como sendo o mal do século XXI. Tal doença, segundo as mais recentes estimativas, afeta cerca de 30% da população mundial. Além disso, outro elemento que pode ser considerado caracterizador desse caos vigente é a inundação de imagens, sob o fascínio ilimitado do „eu‟, haja vista que o individualismo predomina nesse cenário, sendo estimulado, até mesmo, pelos próprios meios midiáticos, que, inclusive, têm como cerne impulsionar o consumismo em detrimento da fomentação de valores éticos no meio social. Podemos, inclusive, diante de tamanho individualismo, fazer uma analogia a Thomas Hobbes, que proferiu a célebre frase “O homem é lobo do homem”. Aliado a essa supremacia individualista, verifica-se a descrença do homem moderno em ideais absolutos, fazendo com que o cinismo impere na vida social. Isso é notório, sobretudo, diante da banalização de palavras como honradez, compromisso e cavalheirismo, sendo esse o motivo, portanto, da intensificação da proteção de princípios como a boa fé objetiva nos ordenamentos jurídicos atuais. Nesse caos, a própria família deixa de ser o centro de formação moral e ética dos indivíduos, cuja base ideológica, em muitos casos, passa a ser norteada por entidades religiosas, que, em geral, têm sua proposta desvirtuada a fim de atrair maior número de fiéis, passando a, em casos mais extremos, ir de encontro às suas próprias ideologias. Nesse cenário, o próprio país tem a sua condição de pátria obliterada, passando de nação para ser apenas Estado, ou seja: praticamente deixa de ter como cerne de suas próprias políticas o bem-estar social, passando a preocupar-se mais com sua posição a nível mundial, tentando sempre estar em condições políticas e econômicas satisfatórias nesse contexto de globalização e neoliberalismo. Diante disso, tem-se o objetivo principal dessa obra: rever os valores humanos que estão no ostracismo, valores tais que fazem parte da essência dos seres humanos e são fundamentais para a defesa da sua dignidade. O ostracismo de tais valores é inerente à supervalorização do racionalismo em detrimento da via emocional, a qual aduz as limitações da razão. Esse racionalismo puro e objetivo foi objeto de estudo e de defesa por Immanuel Kant, cuja máxima baseia-se na ideia de que o agir deve ser baseado apenas no dever, ou seja: deve-se agir eticamente ou cumprir uma obrigação apenas pelo dever se realizar tal ação, desprezando sentimentos como motivação para a execução do agir ético e moral. Tal racionalismo objetivo livre de valores será bastante criticado ao longo da obra; haja vista que os sentimentos são norteadores de nossas ações assim como a própria razão, a qual é bastante influenciada por inclinações e desejos. Além disso, são os sentimentos que fazem do homem um ser realmente humano, coadunando-se com um ética emocional intrínseca ao homem. Quanto ao Direito, este mostra-se ineficaz quanto apenas positivado, sem estar submetido à valoração, haja vista que sem a interferência da realidade social, a ideia da plenitude da lei mostrou-se ineficiente para a solução de conflitos. Dessa forma, a solução para antinomias, após a insuficiência de critérios de prevalência, recai sobre a valoração para nortear a solução do caso por meio de uma apologia ao Direito Natural, baseada no princípio da razão suficiente e na teoria dos modelos. Tal valoração é o que impede o dogmatismo e o autoritarismo positivista. As premissas A análise da crise de valores do mundo contemporâneo coaduna-se com as bases teóricas filosóficas propostas por Max Scheler e Johannes Hessen. Ambos criticam um individualismo extremo, indiferente a outras realidades, que não sejam as do seu círculo de interesses. A perda de substancialidade do real, cada vez mais reduzido à imagem e à sua difusão tantas vezes contraditória e quase sempre instrumentalizada, reforçam o individualismo, intensificam a indiferença, dissolvem os vínculos e neutralizam a capacidade de resposta à dor e sofrimento do outro. Como consequência dessa crise pós- modernidade, surgem o agnosticismo ético, a relativização e a subjetivação dos valores. Diante disso, conforme já explicitado na introdução, o Direito, para não se resumir a um dogmatismo positivista, torna-se, aliado à moral, uma ciência ética, não podendo, portanto, separar-se de valores que dignificam a existência humana, acompanhando a dinâmica dos fatos sociais. Em se tratando do Direito, a obra supracitada o abordará por um prisma filosófico-jurídico e filosófico-religioso, sendo possível acrescentar o humanismo de transcendência como referencial. No início do século XX, a metafísica passou a perder o seu prestígio, uma vez que imperava o cientificismo, cujo cerne era o empirismo. Dessa forma, a metafísica passou a ser considerada sem sentido, sendo, no máximo, vista como uma propedêutica da ciência. Assim, a metafísica, anteriormente vista como o estudo de realidades que transcendem a experiência sensível, buscando explicar esse mundo por meio de um transmundo, como diria Nietzsche; praticamente caiu em descrédito, sendo impulsionada em um momento pós-guerra (1ª Guerra Mundial), no qual a precípua pauta era uma investigação quanto ao sentido da vida e consequentemente, a dignidade da pessoa humana, o que envolvia a problemática da existência e do ser, para a qual o empirismo mostrava-se ineficaz. Parte I: Preliminares sociológicos e antropológicos: Capítulo 1 – A crise no mundo ocidental Introdução O século XX foi marcado por 2 grandes guerras mundiais e também por ideologias, como o fascismo, cuja notória expressão foi o nazismo, um dos regimes mais nefastos e mais abomináveis que já existiram no mundo. Tal regime baseou-se em várias correntes filosóficas, sobretudo nas ideias de Nietzsche, um filósofo bastante influente, sobretudo quanto às suas ideias sobre Deus, moral, poder. Porém, é bastante controverso avaliar se o próprio Nietzsche era ou não defensor do nazismo, uma vez que tal posicionamento não é claramente definido em seus textos filosóficos, contudo citações tais como: “Os fracos e os fracassados devem desaparecer: primeira frase de nosso amor à humanidade” são interpretadas como sendo evidências do suposto pensamento nazista de Nietzsche. Tal filósofo é sobretudo conhecido por explicitar a morte de Deus, a partir da qual o próprio homem se faria Deus, passando a nortear seus valores, ideias, enfim, sua vida; o que correspondia, exatamente, ao período em que a Europa vivia, no qual a noção de Deus não proporcionava mais um sentimento de unidade, não caracterizava e nem definia mais o continente europeu em detrimento de um passado em que esse era o pilar fundamental de coesão popular. Essa é exatamente a visão de Jung, segundo o qual Nietzsche apregoava o surgimento de um homem “senhor” de si mesmo, independente de uma autoridade metafísica para nortear sua vida. Já segundo Heidegger, a morte de Deus, apregoada por Nietzsche, significava a morte do próprio homem; o fim do humanismo; haja vista que o homem havia perdido sua referência para a própria verdade. Heidegger tornou-se um nazista extremamente radical, considerando o nazismo como sendo totalmenteadequado a pós-modernidade e sendo, ainda, responsável pela superação da modernidade, haja vista que era o totalitarismo era o cerne da organização e do progresso exigidos pelo período vigente. Tal período foi criticamente analisado por pensadores como Fulton J. Sheen, que naquele momento de confronto entre a democracia e o fascismo, aduziu que todos sabiam a que se opunham, mas não sabiam exatamente o que propor, a que aderir ou que filosofia seguir. Era um período de instabilidade, mas não apenas econômica, social e política, mas também psicológica e ideológica, uma vez que o homem passava por uma crise de valores, uma ausência de uma perspectiva de solidariedade e humanidade para com o próximo, tendo como cerne a disputa de influências no cenário econômico e político vigente. No entanto, o conflito não poderia ser definido como sendo econômico ou político, haja vista que suas finalidades foram corrompidas. A certeza que se tem é a crise de valores, o caos inaugurado pelo século XX, repleto de diversas correntes ideológicas, mas sem um consenso ou coesão acerca delas ao contrário do que ocorria em séculos anteriores, como os séculos XVIII e XIX. O ceticismo Enquanto o dogmatismo considera o pensador e o pesquisador de exagerada confiança, o ceticismo mantém desperto o sentimento do problema. Esse ceticismo supracitado tem suas origens na Grécia Antiga com Heráclito e, posteriormente, com seu discípulo Crátilo. Ambos acreditavam que nenhuma verdade permanente poderia ser encontrada. Já no início do século XX, a teoria da relatividade, proposta por Albert Einstein, propôs uma mudança de paradigmas, inclusive quanto à relativização dos valores. Tal ceticismo também pode ser encontrado em Pierre Bourdieu, um dos maiores sociólogos da contemporaneidade, segundo o qual, deve-se desconfiar de tudo o que é apresentado como universal, haja vista que valores universais consistem em valores particulares universalizados. Monalisa Rocha Alencar Matrícula: 344164 A rejeição do princípio lógico da não-contradição Outra característica da civilização cética contemporânea é a rejeição da validade do princípio da não-contradição ao se negar a possibilidade de um conhecimento objetivo das coisas. Esse princípio estabelece que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, o que ela é e o que a contradita. A validade desse princípio, entretanto, pode ser percebida na própria tentativa de rejeitá-lo, pois, para isso, faz-se necessário apelar para ele mesmo, a fim de provar que ele é incompatível com as premissas que defende. Tudo ficaria sem sentido caso houvesse a rejeição desse princípio. Essa perca de sentido, por sua vez, ocasionaria o crescimento das taxas de depressão e perturbações psicológicas. A globalização e a informatização, que levam ao pluralismo de ideias, não devem levar ao ceticismo ou ao desmerecimento da faculdade humana de discernir o certo e o errado. A nova definição da verdade Segundo Heidegger, a verdade varia de acordo com a percepção subjetiva de cada um. Os marxistas, por sua vez, defendem que a classe burguesa dominante sempre imporá as suas verdades, não havendo verdade objetiva. Pierce e Apel tentaram escapar do ceticismo, mas acabaram, entretanto, voltando à definição de verdade como correspondência com a realidade. O melhor caminho seria afirmar a existência de dois tipos de objetividade no conhecimento: o da objetividade pura e o da objetividade científica (regulada pela capacidade de traduzir e se orientar pela objetividade pura). Tem destaque, nesse sentido, a solução habermesiana. Segundo Habermas, o consenso verdadeiro tem fundamento no mútuo entendimento, na reciprocidade e no intercâmbio de papéis. Por fim, a comunidade de argumentação ganha grande importância, sendo necessária a fim de se consolidar a verdade. Esta sendo entendida como a correspondência do pensamento com a realidade. O problema do discurso ético A maioria dos pensadores limita a ética à opinião sentimental e irracional de cada um, acreditando não ser possível um discurso racional sobre o mundo do dever ser. Enquanto um enunciado normativo pode ser criticado, refutado ou fundamentado, as argumentações morais colocam em jogo o que deve ser feito ou sobre o que é correto fazer, e não a descrição de como as coisas são. A crítica moral serve para modificar os modos de agir ou os juízos sobre eles. A relativização dos valores O caos moral do nosso tempo tem sido provocado em grande parte pela falta de reconhecimento de Deus como o Bem supremo e Pessoa infinita. Deus é a verdade absoluta, sendo universal, eterna e transcendente como Ele. De acordo com o panorama ético, a última instância de avaliação da verdade é Deus, sendo a consciência a instância imediata. No mundo emergente, no entanto, nota-se que os conceitos de certo e errado estão ficando vazios de conteúdo. A sociedade atual tem se agarrado ao individualismo e ao consumismo, ao desejo pelo imediato. Surge, assim, um neo-paganismo. Para Max Scheler, é mediante a consciência, por intuição emocional, que os valores são descobertos. Tomás de Aquino colocava os princípios produzidos pela razão como sendo a apreensão conceitual dos valores. O materialismo O materialismo é visto como o maior adversário teórico da concepção dos valores apregoada. Ele foi, juntamente com o ateísmo, fortemente impulsionado pela Teoria da Evolução de Darwin e a Teoria do Big Bang no século XX. É importante ressaltar, entretanto, que essas teorias não foram capazes de provar a inexistência de Deus e da realidade espiritual. A ausência de modelos Outra característica da sociedade ocidental é a perda de seus modelos. Os heróis produzidos pela cultura moral não são mais prestigiados, mas sim as celebridades produzidas pela cultura comercial. A neurose do ego, local onde se forma a identidade, é apontada como o grande problema atual. Os desequilíbrios do homem se devem à ausência de modelos pessoais e de convicções propulsoras. Os problemas de identidade atingem com maior intensidade os adolescentes, já que estão numa fase de ajuste e de singularizarão emocional. Os modelos, nessa etapa, são fundamentais. A falta de profundidade metafísica A superficialidade é outra marca essencial do mundo moderno. O que se nota é a falta de profundidade no pensamento filosófico e que as questões acerca da existência humana estão sendo deixadas de lado. Muitos chegam a evitar certas indagações por acreditarem que elas ficaram para trás, que não são próprias da atualidade. A crise das ciências é uma crise de sentido. O pensamento do mundo ocidental tem se afastado de seu berço, situado na antiguidade grega, que se caracteriza pela busca do sentido da vida humana. A predominância da quantificação, da formalização e da tecnificação tem implicado na perda da dimensão ética e na decadência do humanismo. Conclusão A prevalência do ceticismo, do relativismo, do subjetivismo e do materialismo tem feito com que os conceitos de verdade, bondade e justiça percam seu sentido substancial. Capítulo 2 - A postura gnosiológica a ser tomada diante do mundo dos valores - O paradigma da criança Introdução O pecado original pode ser visto com a cisão entre o que o homem é e o que ele deveria ser. O homem passou a nunca fazer todo o bem exigido e a sua imagem divina foi corrompida.A criança possui uma consciência com sensibilidade muito mais aguçada que o adulto, e isso permanecerá mais tempo se a sua educação for correta do ponto de vista moral. A educação da criança não deve se basear em uma visão materialista. Os valores devem ser descobertos através da consciência e do respeito à liberdade. A criança e a metafísica As crianças são curiosas: perguntam sobre as caudas de tudo, sobre a mesma coisa várias vezes, procuram relações universais e permanentes nos fenômenos, buscam tanto a imanência quanto a transcendência. Tudo chama a atenção das crianças. Elas, ao questionarem acerca das causas eficientes, se comportam como os cientistas e, ao questionarem as causas finais, agem como os filósofos. As crianças e o mundo objetivo dos valores A busca pelo novo é marcante na modernidade. Os filósofos pós- modernos não indagam as caudas finais e objetivas como as crianças fazem, querem apenas dizer algo que os demais não disseram. Em virtude de tudo isso, as coisas ganham um caráter passageiro, dissolve-se a própria noção de verdade. Os pensadores da pós-modernidade rejeitam a visão dos antigos filósofos, taxando-os de antiquados e ultrapassados. Há, assim, um distanciamento da verdade e o surgimento da razão cínica, aquela por meio da qual não se admitem verdades absolutas. As crianças, entretanto, querem saber o que as coisas são. Para elas, há um mundo ideal (mundo dos valores, esfera do dever ser), onde o mal sempre perde para o bem, e um mundo visível e empírico (mundo dos fatos, esfera do ser). A relativização dos valores no mundo pós-moderno é inaceitável. Eles não podem ser reduzidos aos fatos, nem tão pouco deve desaparecer o fundamento racional do Direito em nome da tolerância. A identificação sistemática entre o real e o ideal impossibilitaria o progresso. Conclusão O estado receptivo ao mundo dos valores, presente nas crianças, está sendo deixado de lado em face da busca pela satisfação de necessidades imediatas, posição social, bem-estar econômico, prestígio e influência por parte do homem. Ocorre, por isso, uma verdadeira alienação existencial. O paradigma da criança deve ser seguido a fim de se alcançar um filosofar verdadeiro e de que haja uma busca fiel da verdade. Flávia Fernanda França de Lima Matrícula: 344206 Capítulo 3 – O homem como agente ético, livre e responsável Introdução e a liberdade humana e os valores „„A liberdade pela liberdade é vazia de sentido. Ser livre é ser livre de algo, ser livre para alguma coisa.‟‟ O homem se diz livre, porém sempre se vincula com outras criaturas. Somente Deus é livre, uma vez que sempre estamos limitados pelo tempo e não possuímos uma liberdade eternamente disponível. Não possuímos a liberdade de decidir, uma vez que já estamos decidindo. Na síntese de eternidade e tempo está a liberdade humana. Há a participação dos dois mundos (ser e dever ser), uma vez que a escolha consumada pode ir de encontro ao preceito. A consciência individual, mesmo que o indivíduo viva em sociedade, é necessária para a apreensão de valores. Segundo Carl Jung, quanto maior for o agregado de indivíduos, maior será a obliteração de fatores individuais. Ele acredita que todo indivíduo é inconscientemente pior em sociedade do que quando atua por si só. C. S. Lewis conclui que nunca houve e nunca haverá um juízo de valor radicalmente novo na história da humanidade, uma vez que assim como não possuímos mais a capacidade de inventar uma nova cor primária, não possuímos mais a capacidade de surgir com novos valores. A ideia de liberdade não se opõe à de destino, mas à de necessidade. O conhecimento que possuímos liberdade nos livra do desespero e nos incentiva a utilizá-la dentro das circunstâncias em que fomos postos. Liberdade e espírito Movimentos físicos e operações cerebrais podem ser explicados pelas leis naturais, porém na faculdade da escolha é revelada a autonomia humana, elevando o corpo à supra-natureza. O espírito é a dimensão imaterial do homem, porém, os materialistas filosóficos reduzem todos os fenômenos à classe dos fenômenos físicos que são explicados por concepções mecânicas. A liberdade é inconciliável com o materialismo, já que o corpo é também espírito. Até aqueles que afirmam que os pensamentos não passam de ações físicas que provêm de causas físicas incontroláveis, se valem de pensamentos para defender sua posição. Diferentemente da posição dos organicistas que, segundo Paulo Bonavides, os indivíduos passam, mas a sociedade fica, o elemento essencial do ser humano, segundo Martyn Lloyd-Jones, é maior que o corpo, maior que a tradição, do que a história e tudo o mais. A liberdade e o ser A liberdade goza de plenitude, por isso o indivíduo pode inclinar-se para fazer o bem ou o mal. Entretanto, aquele que continuadamente se dedica à prática do mal, vai perdendo a capacidade de realizar o bem. O mal corrói o bem, assim como a ferrugem corrói uma barra de ferro. A liberdade é benigna, mas o seu uso continuado para o mal resulta no seu desfazimento (corrosão total da barra de ferro). O personagem Gollum, do mito de Tolkien intitulado o Senhor dos Anéis, é utilizado como exemplo. O anel criou nele uma obsessão e tornou impossível que Gollum se livrasse dele, afetando assim a sua liberdade. A liberdade como pergunta existencial O homem em si mesmo é uma pergunta, interrogação sobre o seu próprio sentido. Sartre, com seu existencialismo ateu, alega que o próprio homem inventaria o sentido de sua existência, ao induzir a confusão da pergunta com sua resposta. A razão de se perguntar é quando se acha possível que exista uma resposta possível. Para o pensamento teísta, Deus é a razão da própria indagação, uma vez que é a resposta que antecede a pergunta. O ser humano quando interroga sobre sua identidade, diferencia-se de si mesmo, pois há a experiência de si próprio com quem não é idêntico com a si mesmo. A consciência Nas civilizações mais remotas e na Idade Média, a consciência era vista como o resultado da participação da razão humana na razão divina. A partir do século XVIII, a consciência começou a ser tida como autonomia absoluta da vontade individual. Assim, a liberdade de consciência passou a ser confundida com liberdade de opinião. Isso é refletido hoje, uma vez que as pessoas aprendem sobre seus direitos, mas são sobre seus deveres. Porém, a consciência tem direitos porque tem deveres. Isso gera uma crise de valores e relativização dos padrões éticos. A consciência é também concebida como a subjetividade humana. Ela possui pouca influência para a ciência, mas profunda contribuição para a literatura. - A consciência e suas sanções internas: A consciência possui forte poder sancionador, provocando o sentimento de culpa e dor íntima quando a contrariamos. As pessoas que sentem o peso da consciência quando transgridem as normas, já a possuem cauterizada e sob ilusões e enganos. As primeiras transgressões provocam medo e tensão que vão se dissipando quando o ato é repetido. A pessoa começa a procurar uma justificativa para seus atos a fim de desculpar-se perante a própria consciência. O exemplo de Gollum é retomado quando ele tenta se justificar por matar seu amigo para ficar com o anel diabólico. Uma pessoa que deixa de sentir o peso da consciência fica mergulhada em um mar de imoralidade e recebe a pior das sanções, pois não está absolvida em puniçãoíntima. As piores doenças são as indolores a princípio, as que não percebemos até nos encontrarmos em um estado terminal. O consciente da criança se forma progressivamente, por isso ela fica dependendo do eu consciente dos pais. Por isso, uma educação pervertida pode perturbar a frágil consciência do infante, podendo gerar futuramente uma decadência moral. - A consciência e o Direito A consciência é fonte imanente e mediata do Direito. As origens do Direito encontram-se na inspiração da consciência. A boa-fé que é protegida no Direito Civil e a distinção entre crime culposo e doloso no Direito Penal são exemplos da forte atuação da consciência na área jurídica e da não mais distinção que o Direito se ocupa apenas da conduta externa e a moral da conduta interna. A norma não deve obrigar por motivos empíricos, uma vez que o preceito jurídico é um dever ser e não um ter que ser. Segundo Martin Lutero, o direito existe por cauda da consciência e não a consciência por causa do direito. A responsabilidade ética - Responsabilidade e culpabilidade A vida regida pela consciência é considerada para alguns como limitadora da liberdade. Porém, um músico que está confinado às regras da música toca com mais harmonia e mais livremente. O homem é livre e isso o torna responsável pelos seus atos. Por isso, a violação de seus deveres o torna sujeito a sanções. A teoria alogênica inspirada em Freud defende que os problemas de desvios morais das pessoas são culpa dos outros. Muitos psicólogos reduziram a culpa objetiva a um sentimento de frustração a ser superado pela negação e não pela admissão do erro. Na teoria de O. Hobart Mowrer o homem não é vítima de sua consciência; é seu violador. Ele precisa aceitar a responsabilidade por seus atos e parar de acusar os outros. Para C. S. Lewis, duas coisas estão envolvidas no ato moral: a escolha e a matéria prima psicológica. A escolha do que fazer com essa matéria prima é a própria moralidade que deve ser orientada pela psicanálise. - Responsabilidade e dignidade humana Ao admitir-se a responsabilidade do homem pelos seus atos, nele é reconhecida sua espiritualidade, liberdade e transcendência. Através de um comportamento adequado o homem revela a sua dignidade. O comportamento reprovável degrada o homem, mas ao ser cumprida a pena revela seu valor, uma vez que ela é uma retomada da administração de seus impulsos. Por ser uma retomada, não devem ser aplicadas penas extremas ou desproporcionais que possam causar ruína ao infrator e sua família. A pena de morte, assim como a prisão perpétua são inadmissíveis, uma vez que, para serem aplicadas, o juiz equipara-se a um deus que reconhece o homem como recuperável ou não. Há também a condenação do ex-carcerário à pena perpétua de ser estereotipado pela sociedade. Cada cidadão deve ter participação na redenção do criminoso e na sua posterior aceitação sem preconceitos. - O problema do aborto O aborto é reprovável, uma vez que a vítima é tanto inocente como indefesa. A discussão é sobre as suas excepcionalidades. O Código Penal de 1940 autoriza o aborto em dois casos: quando a mãe corre risco de morte ou quando a gravidez resulta de estupro. No primeiro caso, se configura um estado de necessidade. Assim, nem a mãe nem o médico deveriam ser punidos. Norberto Bobbio, ao explicar o pensamento de Kant sobre o estado de necessidade utiliza a seguinte afirmação: ninguém de fato poderia ser induzido a abster-se de um mal certo através da ameaça de um mal incerto. A principal questão é: quem é capaz de escolher se a vida mais importante seria a da mãe ou a da criança? No segundo caso, os valores envolvidos são a vida do filho e a honra externa da mãe. No art. 5º está mencionado a inviolabilidade da vida humana. Então o aborto no caso de estupro seria inconstitucional. Através de uma ponderação axiológica e, de acordo com o princípio da proporcionalidade em sentido estrito, percebemos que a opção de matar uma criança por tal motivo não é o mais suave nem o menos drástico, ademais o aborto não diminui as consequências psicológicas do estupro. A outra questão é o Código Penal de 1940. Ele foi recepcionado durante a vigência da Constituição anterior, que tratava apenas dos direitos concernentes à vida e não ao direito à vida em si. Ives Gandra conclui, portanto, que o aborto é inadmissível diante da clareza da nova Constituição. Conclusão A liberdade moral pressupõe que a consciência testifica a conduta e inclui responsabilidade do homem pelos seus atos. Essa liberdade confere ao homem dignidade. A pena do delito não deve ser excessiva, uma vez que atenta contra a dignidade da pessoa humana. Desse modo, a pena de morte, a prisão perpétua e o aborto de criança concebida durante um estupro são inadmissíveis. Lia Carolina Vasconcelos Camurça Matrícula: 344177 Parte II: Fundamentos para uma axiologia idealista e transcendente Capítulo 1 – Elementos para uma axiologia jurídica Introdução A natureza é aquilo que é dado e a cultura é aquilo que é construído. Assim, o homem transforma a natureza, inclusive ele próprio. Sob esse ponto de vista há um mundo cosmológico (natureza) e um mundo antropológico (social, cultural). Tendo em vista que o homem cria a partir da natureza, e isso é cultura, pode-se concluir que a cultura deu impulso ao processo civilizatório. O Direito como objeto cultural, logo como criação do homem, visa atingir um fim de valor metafísico, que muitas vezes diverge do que é empiricamente desejável. E em algum momento o homem se deparou com a ideia de indignação, que foi reveladora de certos valores de convivência, gerando a ideia de justiça, surgindo a partir daí o Direito Positivo para dar realização prática à justiça. Apesar disso não se pode dizer que a parte imutável do Direito é apenas a sua forma de manifestação deixando seu conteúdo suscetível às variações no tempo e espaço. Concluindo, o conhecimento do Direito deve ser um pensamento orientado de valores e não apenas limitado a conhecimentos técnicos. O jurista não deve esquecer, portanto, dos fundamentos ético-filosóficos que devem norteá-lo. A ontologia dos valores - A objetividade e a imutabilidade dos valores: Os valores, embora imutáveis, se realizam em fatos específicos subordinados ao tempo e ao espaço, e a aplicabilidade deles torna-se complexa devido ao nosso relativo conhecimento dos fatos e, muitas vezes, pela nossa dificuldade de atribuir valor ao empírico (fatos). Assim, a justiça como valor imutável que é só pode realizar-se por uma compreensão histórica correta dos fatos. Desse modo, nos países orientais, onde a mulher é tratada em sua essência como inferior ao homem, a justiça, como tratamento igualitário dos iguais, é também reconhecida, embora haja um equívoco da compreensão dos fatos. A mulher embora fisicamente mais frágil iguala-se ao homem em capacidade racional, e é esse o erro de certos países, embora essa ignorância seja vencível se proporcionado à mulher aprofundar seus estudos e desenvolver suas potencialidades. Pode-se falar também em injustiças praticadas por ignorância, que são invencíveis e amenizam a culpa (como uma tribo que oferece sacrifícios humanos aos deuses, acreditando que eles lhes deram a vida e, portanto, podem requerê-la de volta), mas nunca em uma justiça que seja relativa, ou seja, aplicada para uns e não para outros. Também o sentido moral ou ético pode sercorrompido pelo engano, que sucede, muitas vezes, de uma propensão do homem para as perversões de todo o tipo. - Os desdobramentos dos valores No que concerne ao processo de inserção de um valor em um contexto específico, ele se desenrola em um dever ser ideal, que se adapta à realidade de um dever ser normativo. No Direito, então, a justiça se desdobra em um Direito Natural, dever ser ideal, o qual dará origem ao Direito Positivo, dever ser normativo. Assim, Johannes Hessen, explicando o pensamento de Scheler, concluiu que enquanto apenas contemplados em si mesmo os valores não contém ainda uma relação com uma possível realidade, e essa relação precisa existir para se dá a origem do dever ser normativo. Poderíamos concluir que esse esquema de Scheler (valor - dever ser ideal - dever ser normativo) se encontra de modo semelhante na Constituição e na ordem jurídica positiva. No que diz respeito ao surgimento dos valores Márcio Bolda da Silva afirma que “O „assombro‟ é o momento inicial da via de acesso que o homem percorre para chegar ao sentido mais profundo do ser.” Esse „assombro‟ causa efeito diverso, desde espanto a admiração, e essa sensação, como afirma C.S. Lewis, tem origem mais do sobrenatural do que do perigo. Até mesmo Émile Durkheim, que divinizou a comunidade, entendeu a ligação entre o sagrado e a moral. E essa ligação precisa mais do que nunca ser despertada, segundo o entendimento do autor, na sociedade ocidental, sendo só a religião e a espiritualidade capaz de descobrir os valores. - Os valores e a sociedade Os valores possuem imposições únicas (imutáveis) deduzidas pela mente através de uma percepção emocional, nascendo na razão sob a forma de princípios. As normas de conduta partem desses princípios aludidos a um contexto sociocultural definido. Elas devem ser variáveis, não no que abrange seus valores, mas no que diz respeito à forma de organização social de uma determinada comunidade. Logo, devem resultar tanto do conhecimento de valor (filosofia) como do conhecimento da sociedade (sociologia). Ao contrário do que imaginou Durkheim, a sociedade não produz os valores, mas é o meio onde eles surgem. A partir desse aspecto, o sociólogo Raymond Aron concluiu que isso não prova que a finalidade moral coincide com um determinado estado da sociedade. Assim, a sociedade, enquanto realidade empírica, não determina o conteúdo da moral, a sociedade é que é modelada em função de um ideal moral. A sociedade dita por Durkhein se concreta, logo imperfeita, teria seus indivíduos comparados aos pagãos primitivos que adoravam a animais. Se ideal, perfeita, então teria a ideia do sagrado, prevista pelo espírito humano, que alteraria a sociedade. A gnosiologia dos valores De acordo com o já exposto anteriormente, os valores existem fora de nós, apesar de nos serem conhecidos interiormente. Os métodos de conhecimentos podem ser discursivos ou não discursivos. Os discursivos seguem fases, por exemplo a indução (que parte da observação do particular e aplica-se ao geral) e a dedução (que parte do universal para o particular). Os não discursivos não seguem fases, são mais intuitivos, e por sua vez podem ter uma intuição racional ou „ideatória‟, emocional ou axiológica, volitiva ou existencial. A que mais nos interessa é a intuição emocional que descobre o mundo dos valores. Platão, em seu livro VI da República, considera a existência de dois mundos: o visível, que admite que considera duas formas de conhecimento – o das imagens, como sombras, e o dos objetos sensíveis, como plantas e animais; e o mundo cognoscível, que admite como forma de conhecimento o racional-discursivo e o dialético. Essas duas últimas formas partem da hipótese para se chegar até o princípio universal através apenas do pensamento. É a partir daí que se vai perceber o Sumo Bem, o “sol dos valores”. - A dimensão emocional e imaterial do ser humano As emoções são necessárias ao ato de valorar e a relação entre mente (alma) e cérebro (corpo) consiste em que o cérebro é a forma de expressão da alma. Logo, se aquele possui algum problema isso influi na representação desta. Há uma diferença, desse modo, entre a informação e o meio físico, que tem reconhecimento inclusive na Física Quântica e na Biologia. Damásio, neurologista da Faculdade de Medicina em Iowa, fala em “mania” da natureza de “fazer economia” ao se referir a varias emoções que são exprimidas pelo corpo do mesmo modo. Mas o que se observa na realidade é que a alma, mais diversificada, não pode se expressar por si só e usa o corpo, mais limitado, e que usa uma mesma “palavra” para expressar coisas diferentes. - Requisitos para a intuição axiológica adequada Para Max Scheler, o homem compõe-se de corpo, mente e espírito. Através deste último que ele se torna pessoa e, assim, intui valores. Vale ressaltar que nossa personalidade também possui valor e por isso nós falamos em “dignidade da pessoa humana”. Através do corpo o homem percebe o mundo, através da alma percebe a si, e através do espírito tem consciência de Deus. O nosso espírito aponta os valores e a nossa alma pensa em como colocá-los em prática diante do momento histórico-cultural. Diante disso, concluímos que nossa intuição axiológica é possível possuímos espírito (temos conhecimento da existência de Deus). Contudo a intuição adequada dependerá de certos requisitos: 1) humildade, do contrário os outros serão vistos apenas como instrumentos de realização própria; 2) não sermos subjugados pelas paixões animais - dos sentidos e prazeres -, mas sim pela espiritualidade que nos aproxima dos valores; 3) amor ao Sumo Bem. Resumindo, só podemos conhecer de modo correto os valores por meio do conhecimento afetivo, saindo de si para o Sumo Bem. Capítulo 2 – O juízo jurídico de valor e sua aplicação Introdução A norma jurídica é um instrumento de adaptação do imutável, valor (ideal), ao mutável, fato (temporal). Exige-se do aplicador do Direito certo distanciamento do filosófico do mundo experimentado para intuir os valores e uma aproximação sociológica dos fatos, para valorá-los. Assim será possível fazer com que a justiça se cumpra corretamente. As normas positivas, diferente dos princípios de Direito Natural que são imutáveis. Elas se tratam de adaptações desses princípios às necessidades diversas das sociedades historicamente consideradas. A lógica jurídica é razoável, ou seja, é uma adequação das formas teóricas para os fins práticos. Diante disso, é importante destacar a justiça abstrata da norma da justiça do caso concreto (equidade). Os fatos concretos não se configuram tão simples como os teóricos, no sentido de que pode haver peculiaridades, situações específicas de certo fato. Por isso, apesar de uma norma ser correta a um fato abstrato ela pode tornar-se injusta, devido a uma dada situação. Por tal motivo também não podemos aceitar falar que tudo o que não está ordenado é permitido. O juiz e a aplicação dos juízos jurídicos de valor Preleciona, assim, Georges Ripert: a lei com seu caráter abstrato, geral e permanente dificilmente permite ao legislador levar em consideração a infinidade de deveres morais. Concluindo que: ao juiz, pelo contrário, espera-se especificamente que ele respeite as regras da moral tradicional, aplicando-as em suas decisões. O julgador não deve se deixar influenciar pela opinião pública, muitas vezes mal informada ou viciada. Ao passo que o s tribunais não são “servidores das paixões humanas” e sim seus censores. Epor fim, também não cabe ao jupiz ser mero instrumento do poder dominante Juízo de fato: o drama do juiz .Os juízos de valor são mais evidentes que os juízos de fato (mais valorizados no positivismo lógico), porque eles permaneceram praticamente os mesmos ao longo da história. O problema é que o fato pode ser mal compreendido e é justamente sobre ele que recai o juízo de valor. Falsos juízos de fato são exemplificados como aquele em que dizia o negro não possuía alma, ou em que a mulher era inferior intelectualmente ao homem. O grande drama do juiz é ter que examinar aquilo que não presenciou, concluir o que realmente aconteceu, a partir apenas do apresentado nos autos, só podendo aceitar as juridicamente permitidas, e tendo que formular seu juízo em um ponto definido na lei. Espera-se ainda que ele decifre as intenções das partes (arrependimento, dolo etc) para tentar decidir o caso com mais justiça. Por isso o juiz deve ter uma intuição aguçada, e além dos conhecimentos de Direito ter noções de antropologia, sociologia e psicologia. O juiz deve depois, portanto, depois de conhecer os fatos e identificado o juízo normativo adequado, adaptar, através da equidade, as exigências da norma às especificidades do caso, procurando concretizar a justiça. Roberta Falcão Souza Matrícula: 344186 Capítulo 3 – A Axiologia Jurídica sob a categoria do Direito Natural O problema do ser O segmento da filosofia responsável pelo estudo do ser é a ontologia, associando-o aos problemas da essência e da existência. O ser constitui tudo que existe no mundo. Abrange muito mais do que a própria essência. É infinito e ao mesmo tempo compõe a todos, ou seja, é a potência universal. Em decorrência de sua imensidão, o ser não pode ser definido. Os graus de perfeição são os diferentes níveis de participação no ser. Dessa forma, o ser é a medida da perfeição. Deus, por ser perfeito e absoluto, é o próprio ser. Ele está contido em tudo e ao mesmo tempo contém tudo. Deus é, portanto, o Ser autoexistente. O ser de cada coisa ou pessoa não poderia ser definido por suas próprias características, pois assim, cada ente seria a causa de si mesmo e, por conseguinte, ocorreria um ciclo infinito: o ente ocasionaria sua própria existência que por sua vez foi causada pelo mesmo ente. Nas palavras de Tomás de Aquino: “[...]ir-se-ia ao infinito nas causas, pois toda coisa, que não é apenas ser, tem causa do seu ser, como foi dito.” A Essência e a Existência Toda espécie possui algo que se repete ou que não se altera com as variações de seus indivíduos: a essência. Por ser imutável, a essência é aquilo que particulariza a espécie. Já a existência é, além dos fatos imutáveis, influenciada por elementos variáveis. Ela separa um indivíduo dos outros da mesma espécie. Considerando que a racionalidade do Ser Humano pertence à sua essência, a existência está relacionada com as qualidades mutáveis, tanto em relação à toda a espécie como de acordo consigo mesmo. Ou seja, todos os Homens possuem a mesma essência, mas não são existencialmente iguais. O Problema do Conceito Conceito é a representação mental da essência de algo, formulado por meio de termos, palavras. O juízo é a associação, também mental, de duas ideias, de dois conceitos. A dificuldade da conceituação do Direito é a necessidade de encontrar a sua essência, de determinar aquilo que é comum ao Direito Natural e ao Positivo. O conceito de Direito - A redução eidética A redução eidética é um método elaborado pelo filósofo alemão Edmund Husserl cujo objetivo é descobrir a essência de algum ente. O método consiste em submeter o objeto a inúmeras variações mentalmente. Aquilo que permanecer imutável é a essência. A visão egológica do Direito O Direito é “conduta em interferência intersubjetiva” porque depende das ações de terceiros. Conduta é o comportamento consciente, próprio do ser humano. A Ética é a conduta valorada e, dessa forma, pode-se dizer que a Ética é gênero enquanto o Direito e a Moral são espécies. A Moral diz respeito às ações unilaterais, não provoca prejuízos a terceiros. O Direito depende das relações interpessoais, uma conduta só é ilícita caso provocar malefícios para outros indivíduos, ao ultrapassar a esfera do agente. O Direito, logo, é conduta de interferência intersubjetiva. A Relação entre o Direito Positivo e o Direito Natural No Direito Natural não se considera o homem como indivíduo, mas o que há de comum a todos os homens. Ele é relativo à essência das pessoas e visa à proteção daquilo que a compõe. O Direito Natural é regulado por princípios, determinando o justo e o injusto. O Direito Positivo é relativo à lei escrita, regulado por normas e caracteriza o lícito e o ilícito. É possível, por isso, existir o Direito Positivo injusto e ainda permanecer como parte do Direito. Capítulo V – Direito Natural Introdução O ser humano possui a liberdade de fazer escolhas, decidir como agir e, assim, resolver se seguirá para o ser ou para o nada. O Mal não “existe” por si mesmo, ele é uma deturpação do Bem. Tudo aquilo que procura levar as ações à perfeição, para mais próximo do ser, é valor. Os princípios do Direito Natural são expressão de valores e, deste modo, procuram encaminhar a sociedade ao deve ser. Eles independem do mundo visível e das mudanças históricas. O Homem é baluarte dos valores morais. Somente a conduta pode ser valorada, o comportamento animal não pode ser considerado bom ou mal. Os direitos fundamentais presentes na Constituição dos Estados Democráticos representariam, simultaneamente, qualidades do ser humano e valores objetivos. Segundo Max Scheler, o ser humano é um microcosmo, composto por elementos organizados em forma hierárquica: o biológico, o psíquico e o espiritual. O espiritual é responsável pela transcendência do homem, é o que o torna uma pessoa. A emoção humana está relacionada com o elemento espiritual, diferente das sensações do biopsíquico. A emoção é a sensibilidade cujo objeto são os valores. No âmbito espiritual, a razão possui dois setores de objetos, o a priori do ser, que seria o da lógica e o a priori axiológico, alcançado pela emoção pura. A Ideia do Direito Natural Segundo Platão, o homem detém a alma racional que pode transcender e retornar ao mundo das ideias, de onde veio sua origem. Para o judaísmo e o cristianismo, o corpo humano veio da terra e possui o espírito vindo de Deus, por isso pressupõe a existência do absoluto e é dotado de consciência para distinguir o Bem e o Mal. Essa capacidade de diferenciação é a base do Direito, de julgar o certo do errado, o lícito do ilícito, o justo do injusto. Por ser imagem e semelhança de Deus, a humanidade está subjugada à Lei Eterna. A consciência moral, o sofrimento que se sente após cometer uma transgressão, demonstra a participação do homem na Lei Eterna. A consciência moral permite a associação dos princípios gerais aos acontecimentos do mundo real, a aptidão para raciocinar antes de realizar ou ao analisar uma conduta. O livre-arbítrio, entretanto, é a capacidade para decidir agir de acordo ou não com a consciência. O Direito Natural na História Após a Revolução Francesa, surgiu o conceito de que o Direito Natural era perfeito e considerava-se o Código Napoleônico um exemplo da atemporalidade do Direito Natural. Por mais que houvesse mudançasna sociedade, muitos não acreditavam na modificação do Código. Cada vez mais o jusnaturalismo era esquecido e substituído pelo positivismo. Essa forma de pensar, que via a lei escrita como perfeita e justa, abonou as atrocidades realizadas durante a 2º Guerra. Durante o Terceiro Reich, o juiz tinha o dever de cumprir a lei, por mais que ela fosse injusta. No Julgamento de Nuremberg, a defesa utilizou o argumento de que os magistrados eram inocentes, pois estavam apenas cumprindo a lei. Depois desse período, percebeu-se a necessidade da retomada do jusnaturalismo e da aplicação de seus princípios na elaboração das leis. O Direito Natural e Sociedade Apesar dos princípios jusnaturalistas serem universais, as conclusões são realizadas de acordo com a realidade de cada sociedade. Nos países desenvolvidos, por exemplo, as desigualdades são menos alarmantes e por isso as negociações coletivas são suficientes para manter o avanço rumo às igualdades econômicas. Enquanto isso, os países subdesenvolvidos necessitam elaborar leis específicas para regular o trabalho, para garantir os direitos sociais. São diferentes maneiras de se aplicar o Direito Natural e é por isso que ele é universal, podendo ajustar-se a cada caso. O Direito Positivo deve, destarte, estar sempre condicionado ao Direito Natural. Quando isso ocorre, temos a convergência de ambos na busca pela Justiça. Ao acontecer o contrário, a divergência entre os dois, injustiças serão cometidas com base na lei. O julgador tem como obrigação analisar cuidadosamente cada caso e determinar suas conclusões sempre, inicialmente, norteadas pelos princípios, ajustando a norma ao caso. Isso proporciona a equidade. Capítulo V – Direito Natural e Direito Constitucional Após o Julgamento de Nuremberg, ocorreu um processo de constitucionalização dos direitos fundamentais, ou direitos humanos. Desenvolveu-se então a corrente pós-positivista, a qual afirma que o Direito Natural já está positivado e não precisa ser utilizado como medida para o Direito Positivo. A norma constitucional já seria suficiente para exigir-se a humanização do Direito. Com exclusão da fundamentação filosófica, os direitos humanos passarão a serem meras normas vazias, sem os valores éticos que compunham os princípios no Direito Natural. Seria o retorno ao positivismo, os princípios serão considerados corretos e essenciais apenas por si mesmos, sem nenhum aprofundamento na causa da existência. O Brasil foi influenciado pelo pensamento de Carl Schmitt, para o qual os direitos fundamentais são aqueles presentes na Constituição, cuja modificação é impossibilitada ou dificultada, entretanto, o conteúdo da Carta Magna seria variável de acordo com a ideologia ou modalidade do Estado. O voluntarismo filosófico também fundamentou a própria funcionalidade do Terceiro Reich, que foi extremamente combatido pelo teólogo Dietrich Bonhoeffer. Conclusão Dietrich Bonhoeffer, que lutou contra os horrores do nazismo, percebeu que aqueles contrários às ações de Hitler, mesmo os sem uma religião, identificaram-se com a Igreja Confessante. Isso comprova a necessidade do ser humano por algo absoluto, que os proteja de visões e perspectivas extremistas. Enquanto as universidades sucumbiram aos comandos do Terceiro Reich, os membros da Igreja Confessante continuaram a luta pela humanização da Alemanha. A liberdade é inerente à condição de existência do ser humano, é própria de sua essência e por isso o determinismo é contrário ao próprio indivíduo. O Direito Natural permite ao homem protestar contra a arbitrariedade e os abusos do Estado mesmo se estiverem sob a proteção da lei. É por causa da intuição axiológica, emocional e afetiva, que a espécie humana é capaz de sentir a empatia, de se indignar com as injustiças. Quando essa dor é capaz de mudar o indivíduo para melhor, ela adquire valor ético. A secularização proporcionou a relativização das opiniões. A humanidade está perdendo o conceito de ética, dos seus valores, pois qualquer atitude, mesmo que errada, pode ser considerada correta, dependendo do ponto de vista. O Ceticismo e a tolerância aos conceitos gera a indecisão, interpretações tornam-se hipóteses. A história das concepções-de-vida deve aprender com os erros passados e inspirar-se nos sucessos do passado, ao contrário da história das ciências, que a cada descobrimento progride em relação ao passado. Katherine Novais Rodrigues 344180
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