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Resumo de Direito Civil – 1ª A.P. Rafael Barros – 13.09.11 Direito Objetivo versus Direito Subjetivo O fenômeno jurídico pode ser analisado sob dois ângulos diferentes: objetivo ou subjetivo. Entre eles, não há uma antítese ou oposição, pois são duas faces de um mesmo objeto, de uma mesma realidade. É a partir do conhecimento do Direito objetivo que deduzimos os direitos subjetivos de cada parte dentro de uma relação jurídica. O direito subjetivo nada mais é que a incidência do direito objetivo sobre o sujeito, dando-lhe poder para exigi-lo. Direito Objetivo (law) Direito Subjetivo (rigth) Normas de organização social, impostas pelo Estado (jus norma agendi) Poder de agir ou exigir determinado comportamento (jus facultas agendi) Caráter abstrato Expressão da vontade geral Nasce no caso concreto Expressão da vontade individual Natureza do Direito Subjetivo Duguit Negativistas Kelsen Teorias Teoria da vontade (Windscheid) Afirmativas Teoria do interesse (Ihering) (predominantes) Teoria mista (Jellinek) As teorias negativistas não admitem a existência do direito subjetivo. Para Duguit o ordenamento não se fundamenta na proteção dos direitos individuais, mas na necessidade de manter a estrutura social, assim, não cabe aos indivíduos direitos subjetivos, mas somente cumprir suas funções sociais. Para Kelsen, a obrigação jurídica não é senão a própria norma jurídica, não se distinguindo, assim, direito objetivo de subjetivo. A imposição de dever ou concessão de uma faculdade não passa de consequências jurídicas do direito objetivo. As teorias afirmativas, que predominam em nosso Direito, reconhecem a existência do direito subjetivo. Segundo a teoria da vontade, o direito subjetivo constitui um poder da vontade reconhecido pela ordem jurídica, assim, o titular do direito seria o único apto a decidir pela conveniência de seu uso, mas a existência do direito subjetivo nem sempre depende da vontade de seu titular. Para a teoria do interesse, o direito subjetivo é o interesse juridicamente protegido, no entanto, essa concepção pode acabar confundindo o direito subjetivo com o seu conteúdo, sua finalidade. A teoria mista (ou eclética) conjuga os elementos vontade e interesse. Segundo ela, direito subjetivo seria o interesse protegido que a vontade tem o poder de realizar. * Importante ressaltar que o direito subjetivo apresenta-se sempre em uma relação jurídica, se opondo, na realidade, não ao direito objetivo, mas ao dever jurídico (“a todo direito corresponde um dever”). O direito subjetivo é passível de violação, mediante o não cumprimento do dever jurídico pelo sujeito passivo da relação. Nesse caso, o titular pode exigir a prestação jurisdicional do Estado, ou seja, o uso da coerção estatal para fazer valer sua pretensão. Assim, a noção de faculdade jurídica, advinda do Direito Romano, não mais corresponde a direito subjetivo, pois as práticas que decorrem do princípio da autonomia da vontade (faculdades de agir decorrentes da permissibilidade legal) não constituem direitos subjetivos, já que não se opõem a nenhum dever jurídico. Aplicação do Direito Alguns conceitos importantes Expectativa de direito É uma situação jurídica que ocorre quando o direito subjetivo da pessoa necessita da realização de um ato ou fato futuro e previsível. Exemplos: o herdeiro de alguém ainda não falecido tem expectativa de direito quanto ao seu quinhão na herança; os direitos do nascituro, segundo a teoria natalista, são expectativas de direitos, pois dependem do nascimento com vida; no caso do direito ao benefício de aposentadoria, somente quem possuir simultaneamente todos os requisitos necessários, terá direito a aposentar-se, faltando um destes requisitos, o titular gozará apenas de mera expectativa. Direito Consumado Art. 6º, §1º, LINDB. Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Se o direito subjetivo é exercido, e foi devidamente prestado, nos termos da lei, tornou-se situação jurídica consumada (extinguiu-se a relação jurídica que o fundamentava). Exemplos: quem tinha o direito de se casar de acordo com as regras de uma lei, e casou-se, seu direito foi exercido, consumou-se. A lei nova não tem o poder de desfazer a situação jurídica consumada, ou seja, não pode descasar o casado apenas porque tenha estabelecido regras diferentes para o casamento. Da mesma forma, se a lei aumentar a maioridade civil para vinte e dois anos, será respeitada a maioridade dos que já haviam completado dezoito anos na data da sua entrada em vigor, pois que o ato já fora consumado. No entanto, os que ainda não haviam atingido a idade limítrofe, deverão esperar até os vinte e dois anos, pois tinham apenas expectativa de direito. Direito Adquirido Art. 6º, §2º, LINDB. Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré- fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. O direito adquirido é aquele que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e à personalidade de seu titular, não podendo lei nem fato posterior alterar tal situação jurídica. Se um sujeito tem direito subjetivo, mas este não foi exercido, vindo a lei nova, ele transforma-se em direito adquirido, porque era direito exercitável e exigível à vontade de seu titular. Incorporou-se ao seu patrimônio, para ser exercido quando lhe convier. O direito subjetivo vira direito adquirido quando lei nova vem alterar as bases normativas sob as quais foi constituído, mas, se o direito não configurava direito subjetivo antes da lei nova, mas sim mera expectativa de direito, não se transforma em direito adquirido sob o regime da lei nova, pois esta não se aplica a situação objetiva constituída sob a vigência da lei anterior (não retroage). Exemplo: se a lei de aposentadoria mudou e, antes da mudança, o funcionário tinha todos os requisitos para se aposentar (condições pré-estabelecidas), mas havia decidido não exercer esse direito ainda e continuou trabalhando, a lei nova que alterou os requisitos para concessão de aposentadoria não o atingirá, e, mesmo que não possua mais os requisitos para se aposentar, ainda poderá fazê-lo. Diferentemente, o trabalhador que ainda não havia completado os requisitos só tinha mera expectativa de direito, tendo que se adequar às novas condições de aposentadoria. Coisa Julgada Art. 6º, §3º, LINDB. Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. Dá-se coisa julgada quando a decisão judicial é irrecorrível, não admitindo qualquer modificação. Uma lei nova não pode atingir as decisões transitadas em julgado se estas foram proferidas enquanto era vigente a lei antiga, pois a presunção de verdade que a coisa julgada estabelece constitui princípio de segurança jurídica. Direito Potestativo É aquele que atribui ao titular o poder de produzir efeitos jurídicos mediante ato próprio de vontade unilateral, impondo a outrem a sujeição ao seu exercício. O direito potestativo atua na esfera jurídica de outrem, sem que este tenha algum dever a cumprir, portanto, não se confunde com o direito subjetivo, porque a este se contrapõe um dever, o que não ocorre com aquele, ao qual não corresponde um dever, mas uma sujeição. Exemplos: a possibilidade de revogar mandatos, demitir, aceitar ou renunciar herança; a possibilidade de retirar-se de sociedade constituída; o direito do dono de prédio encravado (aquele que não tem saída para uma via pública) de exigir que o dono do prédio dominante lhe permita a passagem. Direito Intertemporal– Conflito de leis no tempo Art. 2º, LINDB. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. Art. 5º, XXXVI, CF/88. A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Quando um fato jurídico se realiza e produz todos os seus efeitos sob a vigência de uma determinada lei, não ocorre conflito de leis no tempo. O problema surge quando um fato jurídico, ocorrido na vigência de uma lei, estende os seus efeitos até a vigência de outra. Para solucionar esse problema, as legislações supervenientes costumam trazer disposições transitórias que visam a evitar esses conflitos. Não sendo solucionado dessa forma, vigora no Direito brasileiro o princípio da irretroatividade. Por este princípio uma lei nova não alcança os fatos produzidos antes de sua vigência. O fundamento da irretroatividade é a preservação da segurança jurídica do indivíduo e da estabilidade do ordenamento jurídico positivo. Entretanto, excepcionalmente, em razão do interesse social, a lei pode retroagir, mas somente se o legislador expressamente mandar aplicá-la aos casos pretéritos e ela não ofender o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Art. 6º, caput, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Por último, a lei nova tem aplicabilidade imediata a relações que, embora nascidas sob a vigência da lei antiga, ainda não se aperfeiçoaram, não se consumaram, ou seja, atinge os direitos não consumados em geral, incluindo as expectativas de direito. Possibilidade de solução dos problemas sem normas específicas Art. 126, CPC. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito. O legislador não consegue prever todas as situações para o presente e para o futuro, pois o Direito é dinâmico, assim, ocasionalmente ocorrerão situações não previstas que reclamam solução por parte do juiz, que não pode eximir-se de proferir sua decisão sob o pretexto de que a lei é omissa (onde há juiz, não há lacuna). A lei pode ser lacunosa, mas o Direito, concebido como um sistema, não será, pois ele próprio prevê mecanismos para suprirem-se os espaços vazios e promover-se a integração das lacunas. A lacuna se caracteriza não só quando a lei é completamente omissa em relação ao caso, mas igualmente quando o legislador deixa o assunto a critério do julgador. Para solucionar o problema, o juiz recorrerá, em ordem hierárquica, à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito. Ubi eadem ratio ibi idem ius – onde há a mesma razão, deve se empregar a mesma lei (brocardo latino). A analogia consiste em se aplicar, a uma hipótese não prevista pelo legislador, a solução por ele apresentada para outro caso fundamentalmente semelhante à situação não prevista. Ela deve ser usada em primeiro lugar porque o direito brasileiro consagra a supremacia da lei escrita. O costume é o uso ou a prática reiterada de um comportamento, com a convicção de sua obrigatoriedade. Para o costume se tornar jurídico, deve ser consagrado pela prática judiciária, sendo reconhecido em juízo. O costume pode ser secundum legem (se acha expressamente referido na lei), praeter legem (diz respeito à casos omissos em lei, suprindo suas lacunas) ou contra legem (contraria a lei e, portanto, não é aceito, pois somente nova lei pode revogar ou modificar lei vigente). Os princípios gerais de direito serão utilizados em último caso e se consistem em regras que se encontram na consciência dos povos e são universalmente aceitas, mesmo que não escritas. Para que possam ser aplicados como norma de direito supletivo, devem ser reconhecidos como direito aplicável, dotados assim de juridicidade. Art. 6º, LINDB. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Art. 126, CPC/73. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. A equidade não constitui meio supletivo de lacuna, por depender dos critérios pessoais de justiça do juiz, mas é recurso auxiliar na aplicação da lei quando a ela expressamente permite seu uso. Isso ocorre geralmente quando a lei usa conceitos vagos ou formula várias alternativas e deixa a escolha a critério do juiz. O Código Civil de 2002 Socialidade Princípios básicos Eticidade Operabilidade O princípio da socialidade objetiva afastar a visão individualista e egoística do código anterior, refletindo a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais. Não há perda, porém, do valor fundamental da pessoa humana, contemplado pelo princípio da eticidade, que coloca o valor da pessoa humana como fonte de todos os demais valores. A valorização do ser humano se dá na medida em que a confiança e a lealdade passam a ser imperativos das relações privadas, bem como pelo fato de o julgador ter maior poder na busca da solução mais justa e eqüitativa para os casos concretos que lhe são submetidos. Por fim, o princípio da operabilidade leva em consideração que o direito é feito para ser efetivado, assim objetivou a facilitação da aplicação do novo código. Um dos frutos do princípio da operabilidade é o sistema de cláusulas gerais, de caráter significativamente genérico e abstrato, que são janelas deixadas pelo legislador para que a doutrina e a jurisprudência definam seu alcance, formulando o julgador a própria regra concreta do caso, conferindo, assim, maior mobilidade ao sistema legal. Exemplos: boa-fé objetiva, função social do contrato, função social da propriedade. Cabe ressaltar que, ao disciplinares diversos institutos civilistas, como a família e a propriedade, o legislador constitucional conferiu nova dimensão ao Código Civil, importando a interpretação do código segundo a Constituição, para que as categorias civilistas se adéquem a fundamentos constitucionais como a dignidade da pessoa humana, a solidariedade social e a igualdade substancial. Das Pessoas Naturais Art. 1º, CC/02. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. O conceito de personalidade está ligado ao de pessoa, sendo, portanto, atributo ou qualidade do ser humano. A personalidade é a aptidão genérica para adquirir direitos ou contrair deveres na ordem civil. Constitui, portanto, pressuposto para atuação na ordem jurídica Afirmar que o homem tem personalidade é o mesmo que dizer que ele tem capacidade para ser titular de direitos. Assim, pode-se dizer que a capacidade é a medida da personalidade, pois a personalidade é a potencialidade de adquirir direitos, e a capacidade, o limite dessa potencialidade. A capacidade que a pessoa adquire junto com a personalidade é a capacidade de direito, reconhecida a todo ser humano, sem distinção. No entanto, nem todas as pessoas têm capacidade de fato, por faltarem a elas certos requisitos materiais como a maioridade, saúde ou desenvolvimento mental, o que exige sempre que outra pessoa as represente ou as assista. Começo da Personalidade Concepção 1ª respiração 18 anos Nascituro Nascimento com vida Maioridade civil A lei põe a salvo seus direitos Adquire personalidade jurídica Adquire capacidade de fato Sujeito a curador Adquire capacidade de direito Art. 1º, CC/02. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. O sistema brasileiro adota o nascimento com vida como o marco inicial da personalidade. Para se dizer que nasceu com vida,considera-se necessário que haja respirado. Não há a necessidade, em nosso direito, da forma humana ou da viabilidade, ou seja, qualquer criatura que provenha de mulher e venha a nascer com vida será uma pessoa, sejam quais forem as anomalias e deformidades que apresente. Art. 53, LRP. No caso de ter a criança nascido morta ou no de ter morrido na ocasião do parto, será, não obstante, feito o assento [...] do óbito. [...] §2º. No caso de a criança morrer na ocasião do parto, tendo, entretanto, respirado, serão feitos os dois assentos, o de nascimento e o de óbito [...]. Muitas vezes, principalmente para efeitos sucessórios, é importante saber se o feto chegou a respirar ou se nasceu morto, não adquirindo, assim, personalidade jurídica, pois a personalidade é pressuposto para que o feto possa adquirir direitos, fazendo jus, portanto, à herança. Direitos do Nascituro Natalista Teorias Personalidade Condicional Concepcionista Segundo a teoria natalista, o nascituro teria mera expectativa de direitos, pois a personalidade somente é adquirida a partir do nascimento com vida. A teoria da personalidade condicional, por sua vez, sustenta que o nascituro teria direitos que estariam subordinados a uma condição suspensiva consistente no nascimento com vida. Já para a teoria concepcionista, o nascituro é sujeito de direitos e obrigações desde o momento da concepção (ressalvados os direitos patrimoniais), adquirindo, portanto, personalidade antes do nascimento. A questão não é pacífica no direito brasileiro, girando o debate em torno das teorias natalista e concepcionista. Esta se sustenta alegando, entre outras coisas, que alguns direitos foram conferidos ao nascituro pela legislação (a exemplo do direito a uma adequada assistência pré-natal – ECA, art. 8º), e, para ser titular de direitos, é preciso ter personalidade, enquanto aquela invoca o dispositivo do Código Civil que põe o termo inicial da personalidade no nascimento com vida. Acatar a teoria da personalidade condicional também gera efeitos na ordem jurídica, pois, dessa maneira, o nascituro seria titular de direito eventual com condição suspensiva, dando-lhe a possibilidade de, representado por sua mãe, requerer suspensão de inventário ou propor medidas cautelares em face de dilapidação de bens deixados a ele em testamento. Art. 130, CC/02. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo. Uma considerável parte da jurisprudência tem reconhecido a legitimidade do nascituro ir à juízo, representado pela mãe, para pedir alimentos. Longe de atestar sua legitimidade ou não, a Lei n. 11.804/08, que regula os alimentos gravídicos, veio dar legitimidade à própria gestante para pedir alimentos, evitando, assim, que o nascituro seja prejudicado. * Vale destacar, ainda, que existe a figura do concepturo, ou seja, aquele que ainda não foi concebido, mas que existe esperança que venha a ser. Art. 1.799, I, CC/02. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: [...] os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão. Art. 1.800, §4º, CC/02. Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos. Fim da personalidade Real pode ser simultânea (comoriência) Morte Perigo de vida sem decretação de ausência Presumida Prisioneiro de guerra com decretação de ausência casos de sucessão definitiva Efeitos da morte 1. Transferência dos bens 2. Extinção do poder familiar 3. Extinção dos contratos firmados pelo morto (contratos pessoais) 4. Extinção do casamento ou união etc. (ausente por mais de 2 anos) Art. 6º, CC/02. A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. A morte real é responsável pelo término da existência da pessoa natural, extinguindo sua capacidade, não sendo mais o morto sujeito de direitos e obrigações. Sua prova se faz por meio do atestado de óbito e se dá pelo diagnóstico de paralisação da atividade encefálica. Art. 8º, CC/02. Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. A comoriência é a simultaneidade, de fato ou presumida, da morte de duas ou mais pessoas. Esse instituto adquire importância na hora de definir os herdeiros e sucessores dos mortos, que gozam então, diante da incerteza invencível de quem faleceu primeiro, de presunção de simultaneidade da morte. Assim, não tendo havido tempo ou oportunidade para transferência de bens entre os comorientes, um não herda do outro. Art. 7º, CC/02. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. A ação declaratória de morte presumida, sem decretação de ausência, pode se dar por probabilidade de morte de quem estava em perigo de vida, ou, em casos de guerra, se o desaparecido não for encontrado em até dois anos após o fim da guerra, esgotadas as buscas e averiguações em ambos os casos. Também pode se declarar morte presumida quando houver certeza da presença da pessoa no local de alguma catástrofe e não se puder encontrar o cadáver para exame (art. 88, LRP). A morte presumida, com decretação de ausência, ocorrerá nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva: 10 anos após abertura da sucessão provisória Morte presumida (com decretação de ausência) Se o ausente conta 80 anos de idade, e há 5 não se tem notícias Das incapacidades Menores de 16 anos Sem discernimento (enfermidade ou deficiência mental) Não podem exprimir sua vontade Maiores de 16 e menores de 18 anos Discernimento reduzido (ébrios habituais, viciados em tóxicos, deficientes mentais) Excepcionais (desenvolvimento mental incompleto) Pródigos (pessoas que gastam dinheiro compulsivamente) Índios Modos de suprimento da incapacidade Representação – A incapacidade absoluta acarreta a proibição total do exercício do direito. Qualquer ato ou negócio jurídico deverá ser praticado ou celebrado pelo representante legal, sob pena de nulidade (é nulo de pleno direito). Assistência – A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido por seu representante legal, sob pena de anulabilidade (pode ser confirmado). Certos atos podem ser praticados sem assistência, mas, quando esta é necessária, ambos devem participar do ato. Tutela e Curatela A tutela é o instituto jurídico de assistência e representação dos menores de idade que sofrem a ausência do poder familiar, devido ao falecimento, ausência dos pais ou dado à destituição do poder familiar destes. A curatela é o instituto de representação para maiores de 18 anos que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil ou que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade. Absoluta Relativa Legislação especial EmancipaçãoA emancipação é a antecipação da aquisição da capacidade de fato, tornando apto o sujeito para exercer os atos da vida civil por si só antes de atingida a maioridade. A emancipação é sempre irrevogável, entretanto, pode ser anulada se contiver vício. Ela pode ocorrer de três formas: Ocorre por concessão de ambos os pais (ou de um deles na falta do outro) Feita mediante instrumento público (elaborado por agente público competente, goza de boa fé) Não necessita homologação do juiz (ato unilateral) Os pais continuam responsáveis pelos atos ilícitos do menor Concedida por sentença, pelo juiz Menor tutelado com 16 anos completos O tutor deve ser ouvido Deve levar em conta o interesse do incapaz Casamento (válido) (separação ou viuvez não trazem de volta a incapacidade) Exercício de emprego público efetivo (Previsão inócua, a idade mínima do serviço público é de 18 anos) Colação de grau em curso superior Economia própria (decorrente de estabelecimento comercial ou relação de emprego) * Se o casamento for nulo, mas houver boa-fé, produzirá todos os efeitos de um casamento válido, inclusive a emancipação (casamento putativo). 2. Judicial 1. Voluntária 3. Legal 2. Judicial Ausência Art. 22, CC/02. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. Art. 23, CC/02. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes Ausente é a pessoa que desaparece sem deixar representante ou, deixando representante, este não possa ou não queira representá-la. O ausente tem proteção de seu patrimônio garantida pelo código, impedindo que seus bens deteriorem ou pereçam. Prolongando-se a ausência e aumentando-se as chances de falecimento, a proteção passa a ser dos interesses dos herdeiros. Curadoria dos bens do ausente Fases Sucessão provisória Sucessão definitiva 1ª Fase: curadoria dos bens do ausente Art. 24, CC/02. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores. Art. 25, CC/02. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador. §1º Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo. §2º Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. §3º Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador. Declarada a ausência a requerimento de qualquer interessado, ou do Ministério público, o juiz nomeará um curador, fixando-lhe os poderes e obrigações, respeitada a ordem estabelecida no código: cônjuge pais descendentes escolha do juiz. A curadoria dos bens é uma medida de cautela face ao seu desaparecimento e possível retorno. não separado judicialmente Cônjuge não separado de fato por mais de dois anos Curadores Pais Descendentes Escolha do juiz 2ª Fase: sucessão provisória Ausência não deixou representante 1 ano deixou representante 3 anos Art. 26, CC/02. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. Art. 28, §2º, CC/02. Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente. Art. 27, CC/02. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados: I - o cônjuge não separado judicialmente; II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas. Arrecadação de bens Cessa a curadoria (art. 1.162, CPC) Comparecimento do ausente (recebe todos os bens de volta) ou Certeza de morte ou Abertura de sucessão provisória Interessados ou Ministério Público Sucessão provisória Com a sucessão provisória a herança do ausente passará para os seus herdeiros, que deverão zelar e salvaguardar o patrimônio, para que possam devolvê-lo por ocasião da volta do desaparecido. Os herdeiros devem prestar garantias da restituição dos bens, porque a sucessão é em caráter provisório e condicional, visto que, a ausência do inventariando não é incontestável, mas, sim, presumida. A abertura da sucessão provisória só terá efeito seis meses (180 dias) após a publicação na imprensa (para que o ausente tenha oportunidade de retornar), mas, desde o trânsito em julgado se abre o testamento e se faz o inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido. * Os imóveis do ausente só poderão ser alienados (não sendo por desapropriação) ou hipotecados (quando o juiz ordene) para evitar-lhes a ruína. Da mesma forma, o juiz pode ordenar a conversão dos bens móveis em imóveis ou em títulos da união para evitar a deterioração ou extravio. Herdeiros Bens presta garantias (penhores – bens móveis ou hipotecas – bens imóveis) não presta garantias excluído da sucessão Ascendentes, descendentes e cônjuge não precisam prestar garantias recebem a posse dos bens recebe a posse dos bens Posse dos bens Ascendentes, descendentes e cônjuge Frutos e rendimentos Outros sucessores ficam com a metade e capitalizam metade recebem todos os frutos e rendimentos Cessa a sucessão provisória por Comparecimento do ausente (restitui-se seus bens) Ausência voluntária e injustificada, (o ausente perde sua parte dos frutos e rendimentos) Converte-se em sucessão definitiva (art. 1.167, CPC) Certeza de morte ou Dez anos após trânsito em julgado da abertura de sucessão provisória ou Quando o ausente conta 80 anos e há 5 não se tem notícias 3ª Fase: sucessão definitiva Devido à prolongada ausência, passa-se a proteger os interesses dos sucessores. Art. 39, CC/02. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo. Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quando situados em território federal. Sub-rogação: se os bens foram alienados e o dinheiro conseguido usado para adquirir outros, esses últimos passam para o patrimônio do ausente que retorna. Alienação: ato de transferência da posse ou do direito de propriedade de alguma coisa para outrem, seja por doação seja por venda. Se não for promovida sucessão definitivaem dez anos: Os bens passam para o domínio do Estado. * A dissolução do casamento válido pode ocorrer pela morte presumida, configurando esta nos casos em que for aberta a sucessão definitiva. Antes disso, o cônjuge só poderá dissolver o matrimônio por meio do divórcio direto, com base na separação de fato por mais de dois anos. Retorno do ausente Levantamento das cauções (garantias) Passaram-se 10 anos após a sucessão definitiva recebe seus bens no estado em que estiverem Sucessão definitiva Em menos de 10 anos após a sucessão definitiva não tem mais direito a seus bens Ausência Abertura da S.P Abertura da S.D. Passados 10 anos Curadoria dos bens Sucessão provisória Sucessão definitiva Ausente perde Nomeação do curador Abre-se o testamento ou inventário Levantam-se as garantias direito aos bens e estabelecimento de seus poderes Herdeiros recebem os bens mediante garantia Presume-se a morte Dos Bens Os bens são os objetos das relações jurídicas que se formam entre os sujeitos de direito, consistindo em tudo o que se puder submeter ao poder destes, como instrumento de realização de suas finalidades jurídicas. Os objetos das relações jurídicas podem ser coisas (nas relações reais), ações humanas ou prestações (nas relações obrigacionais) ou atributos da personalidade, como o direito à imagem, a cessão de crédito, o poder familiar etc. Bens versus Coisas Geralmente podem ser empregados como sinônimos, mas há quem defenda que coisa é uma espécie de bem, pois neste incluem-se a liberdade, a vida, saúde, ou seja, coisas que não podem ser quantificadas economicamente. Portanto, nem seria tudo que é útil às pessoas, sendo suscetível de apropriação e coisa seria todo o bem suscetível de avaliação econômica e apropriação pela pessoa. Acredita-se que nosso código sustenta que coisa seria tudo o que existe objetivamente, com exclusão do homem (que não pode ser objeto da relação jurídica), sendo gênero, e bens seriam coisas que, por serem raras ou úteis, contém valor econômico. Bens, portanto, são coisas materiais, concretas, úteis aos homens e de expressão econômica e coisas de existência imaterial economicamente apreciáveis. O patrimônio da pessoa é composto pelo seu complexo de relações jurídicas que tenham valor econômico, incluindo os direitos de ordem privada economicamente apreciáveis e as dívidas. O patrimônio é a proteção econômica da personalidade, e só inclui bens avaliáveis em dinheiro. Os bens são classificados sob diversos critérios, levando em conta suas características particulares. A inclusão de determinada categoria implica a aplicação automática de regras próprias e específicas. 180 dias: produz efeito I – Dos bens considerados em si mesmos Bens móveis ≠ imóveis Imóveis Móveis Por natureza: o solo Por natureza: bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social Por acessão física ou intelectual: Tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. Por força de lei: I - as energias que tenham valor econômico; II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. Por força de lei: I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; II - o direito à sucessão aberta. Bens fungíveis ≠ infungíveis Podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Exemplos: bens fungíveis saco de arroz, código civil, moeda bens infungíveis chapéu do Charlie Chaplin, código civil com anotações obrigação fungível pintar as paredes de uma sala (qualquer pessoa pode fazer) obrigação infungível pintar um quadro Bens consumíveis ≠ inconsumíveis Seu uso importa destruição imediata da própria substância, ou se desgasta com o decorrer do tempo. Exemplos: bens consumíveis comida, perfume, tinta da caneta, gasolina (destruição imediata) bens inconsumíveis calça jeans (vai usar várias vezes) Todo bem posto à venda (alienável) é considerado consumível (ex.: calça jeans posta à venda). Bens divisíveis ≠ indivisíveis Podem se fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. Exemplos: Divisíveis terreno, saca de arroz Indivisíveis por natureza carro, cadeira, animal, quadro, livro Indivisíveis por vontade das partes grande porção de terra (o herdeiro não quer que divida) Indivisíveis por determinação legal porção de terra (módulo rural) servidões prediais, hipoteca Bem simples ≠ composto Simples: as partes do bem são reunidas naturalmente (uma árvore). Composto: as partes do bem são reunidas artificialmente, pelo ser humano (um carro). Bens singulares ≠ coletivos Embora reunidos, se consideram por si mesmos, independentemente dos demais. Exemplos: Singulares árvore, livro Coletivos floresta, biblioteca (universalidade de fato) massa falida, herança jacente (universalidade de direito) Os bens integrantes da universalidade de fato podem ter relações jurídicas próprias, por exemplo: alugar um livro na biblioteca, cortar uma árvore. II – Dos bens reciprocamente considerados Bem principal ≠ acessório Regra geral: quem é dono do principal, é dono do acessório. Principal Não depende de outro (ex.: carro) Acessório Depende do principal (ex.: som do carro) Tipos de bens acessórios: Produtos são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a quantidade (ex.: pedras e metais que se extraem das pedreiras ou das minas, petróleo). Frutos são as utilidades que uma coisa periodicamente produz (ex.: as frutas, os vegetais). Art. 95, CC/02. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico. Pertenças são bens móveis que, apesar de não constituírem partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento do bem principal Art. 94, CC/02. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso. As benfeitorias correspondem a todas as obras que o ser humano faz na coisa, e podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias: As voluptuárias se destinam a mero deleite ou recreio, não aumentando o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor (ex.: piscina, jardim). As úteis são as que aumentam ou facilitam o uso do bem (ex.: construção de uma garagem). São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore (ex.: reforma de rachadura na parede). Art. 97, CC/02. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor. III – Dos bens quanto ao titular do domínio Bem público Pertencem a pessoas jurídicas de Direito Público Interno Não sofrem usucapião Bem privado Pertencem a qualquer outro tipo de pessoa física ou jurídica Podem sofrer usucapião * Usucapião: aquisição de propriedade móvel ou imóvel por posse prolongada e sem interrupção. Bens públicos De uso comum do povo: rios, mares, estradas, ruas e praças. De uso especial: prédio onde funcione serviço público (ex.: prédioda UFC). Art. 100, CC/02. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Inalienáveis. Consequências: imprescritibilidade, impenhorabilidade e impossibilidade de oneração (deixar como garantia para credor). Prédio afetado: está exercendo um determinado serviço público (inalienável). Desafetação: alteração da destinação do bem, incluindo-o na categoria de bem dominical (alienável). Dominicais: constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público (ex.: computador e carros do Estado). Podem ser alienados, se não estiverem afetados a finalidade pública específica.
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