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Livro Clínica de Bovinos George Stilwell

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CLÍNICA 
DE BOVINOS 
1. 
CLÍNICA 
DE BOVINOS 
George T. Stilwell 
Médico-veterinário, PhD, Diplom ECBHM 
Professor Auxiliar 
Departamento de Clínica 
Faculdade de Medicina Veterinária 
Universidade Técnica de Lisboa 
COLABORAÇÃO: 
Miguel L. Saraiva Lima 
Professor Associado, 
Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa 
EDIÇÃO: PUBLICAÇÕES CltNCIA & VIDA 
EDIÇÃO ESPECIAL PARA A BAYER 
Copyright© 2013 Publicações Ciência e Vida, Lda. 
Praça de Alvalade, N.0 9 - 4.7 
1700-037 Lisboa 
Reservados todos os direitos. 
É proibida a reprodução de parte ou do todo desta publicação, assim como a transmissão através de qualquer meio, seja mecânico, 
eletrónico, fotocópia, gravação' ou outro qualquer, sem o prévio consentimento escrito do autor e da editora. 
Design e paginação: Nuno Veiga 
Impressão: Publicações Ciência e Vida, Lda. 
Tiragem: 900 exemplares 
ISBN: 978-972-590-092-5 
Depósito Legal: 353507 /13 
Impresso em Portugal. 
AGRADECIMENTOS 
Ao Miguel Saraiva Lima e Fernando Bernardo pela participação nalgumas secções mais 
especializadas do texto e na revisão de partes do texto. 
A Rita Campos de Carvalho, Fernando Boinas, Ricardo Bexiga e Catarina Stilwell pela revisão 
e conselhos preciosos. 
Ao Manuel Dargent Figueiredo pela confiança incondicional e à Bayer Portugal pelo patrocínio. 
A Maria Stilwell pelo desenho da capa. 
Aos seguintes Colegas pela imediata disponibilidade em ajudar e pela cedência das 
fotografias que muito valorizam este livro: 
Ana Luísa Brás, Ana Margarida Costa, António Giesteira, Armando Serrão, Carlos Pinto, Cátia 
Pereira, Deolinda Silva, Helder Cortes, João Cota, João Fagundes da Silva, José A. Ferreira 
das Neves, José Mira, Luís Lopes da Costa, Luís Pinho, Maria Braz, Mário Silveira, Miguel 
Matos, Miguel Saraiva Lima, Nuno Prates, Phil Scott, Ricardo Romão, Rui Silva, Sandra Branco, 
Sara Salgado, Teresa Duarte, Virgílio Almeida e ainda à UNICOL (Açores). 
DEDICATÓRIA 
Dedico este livro a todos os meus estagiários, passados e futuros (dos quais agora não me 
lembro dos nomes). Esta é uma retribuição pois com eles partilhei a espantosa experiência 
de ser clínico de campo e com eles muito aprendi. 
Aqui ficam os nomes - eles sabem quem são: 
Zé, Isaura, Modibo, Raquel, Rosa, Sandra·, Filipe, Gustavo, Pedro R.*, Paulo M.C., Carla M., Rui L., 
Pedro C., Luís G., Elsa, Daniel, Odete, Anabela, Inês M.', Salvador·, Paulo P., Hermano, Luís M., 
Inês C., Rita A., Patrícia, Sofia, Maria B, Maria C., Tânia, Cátia, Marta, Carla R., Inês A., Tiago, 
Rui, Uriel. 
* Estagiários emprestados pela Dr.ª Rita Campos de Carvalho. 
ÍNDICE 
PREFACIO ........... .................... _ ............ _ ........ ... ........... .. ................. ................. .................................................................................. ..................................... ............. . 9 
CAPITULO 1 
EXAME CLÍNICO DE BOVINOS .. ....... .... ................ .. ... .. .. .. ........ ... .... ... .... ................ .. .. ....... ... ...... .. .................. ........................................................................... 11 
CAPfTUL02 
EXAMES COMPLEMENTARES ......................................................................................................................... .. ........... .... .... ........... ........ ... .... ...... ... ........ .. ........ 3 3 
CAP(TUL03 
AS DOENÇAS MAIS IMPORTANTES DOS BOVINOS ................... .. .. ... ......... .... .. .................................... .. ................. .. .... .. .... .. .. .... .. .... ........ .............. 49 
• Diarre ia • Disente ria • Mele na ...... ... ...... ..... .... .... ........ ... ...... ... ............... .. ................. ....................................................................................... ...... .......... 51 
• Abdómen Agudo • Alteração do Perfil Abdominal ................................................................................ .. ...................................... ... .. ...... .. ... .. 77 
• Lesões • Tumefacções Orais..................................... ........................................................................... ........ .. ............... .. .. ................. ....................... ........ 99 
• Dispne ia • Rinorre ia · Tosse ... .. ................................................ ...................... .......... .. ... .. ........... .... ..... .. ..... .. .. .... .... .... ......... ......... ... .. ................. .......... .... . 109 
• Depressão • Ataxia • Paresia • Convulsões..... ..................... ............................. ................. ............ .............. ............... .. .. ........ .. ...... .... ....... .. .... .. .. .. .. 133 
• Lesões da Pele ......................... ....... .. .......... .. ...... ... ...... .... .................... ..... ... .. .... .. ........ ... ....... ........... .. ....... ......... ...... .... .. .... ... .............. .. ........ .. ......................... 153 
• Lesões Ocula res · Cegueira • Fotofobia ....... .. ................. .. .. ... ... .......... ................... .... ...... ... ........... ..... .... ...... .... ...... ..... ... .. ... ..... ...... .... ..... ..... ............ 179 
• Alteração dos Sons Cardíacos• Pulso Jugular............ .................... ... .................... .. ........ .. ...................................................................... ............. 187 
• Anemia • Icterícia .... ..... ...... .... ..... .... ............. ...... ...... ............. ...... ..... .. ........ ..... ..... .... ..... ..... ...... ........... .. ........ .. ........ .. ........ .. ............... ..... .... ..... .... ... .. .. .... ....... 195 
• Perda de Peso • Quebra de Produção Leiteira ...... .................... ......................................... ......................................................... .... ..................... 209 
• Aborto... ..... ..... .. ......... .......... .... ............................. ..................................................... .... ........ .. ....... ........ .... ....... ..... .... .... .... ...... ........ ..... ....... .... ....... ....... .... ......... . 219 
• Morte Súbita ..................................... .... ....... ......... ... ........ .. ...... ... ...... ..... ..... ........ .. ......... .......... ...... ......... .. ... ................ .............. ... .. .. ... ......... ................ .. .......... 233 
• Claudicação........... ... ....... .... .................... ..... .... ....... .... ............... .... .................... ... ....... .... ....... ..... .. .. .... ....... ..... .... .. .. .. ...... .... ... .. ..... ................ .. .......... .. ............. 243 
CAPfTUL04 
DOENÇAS E CONDIÇÕES LIGADAS AO PARTO........................................................................................................................................................... 277 
CAPfTULOS 
ABORDAGEM CLÍNICA À INTOXICAÇÃO POR PLANTAS, FUNGOS E MINERAIS ............................................................................... 297 
ANEXO - QUADRO DE DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS........................................................................................................................................ 311 
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................................................................................................................................... 316 
f NDICE REMISSIVO..................................................................................................................... ....... .. ............................................................................................ 318 
Cláudia
Realce
Cláudia
Realce1 
PREFÁCIO 
A clínica de bovinos encerra características únicas dentro da medicina veterinária. Se por um lado estamos a lidar com 
animais de produção, o que limita os recursos colocados ao serviço da obtenção de um diagnóstico ou na resolução do 
caso, por outro é-nos pedida a assistência a animais com um valor considerável. Assim, se bem que cada vez mais se de-
fenda uma abordagem do tipo "medicina da produção" ou "saúde da manada" (herd health), ainda não é descabida a acção 
clínica do médico-veterinário. Este tanto deve estar preparado a actuar a nível da exploração como do indivíduo que 
padece de determinada doença - as duas vertentes complementam-se e não se excluem. Esta dupla função, que desa-
pareceu da actividade com outras espécies, torna o trabalho do veterinário de bovinos num apaixonante misto de médi-
co, epidemiologista e gestor. 
Este livro destina-se a apoiar o clínico, e principalmente aqueles com menos experiência, na primeira abordagem às do-
enças que afectam o indivíduo mas que geralmente reflectem problemas que influenciam o rendimento do grupo e, 
portanto, do produtor. Do correcto diagnóstico e do conhecimento adequado das particularidades de cada doença, re-
sultará uma melhor acção preventiva, uma mais profícua gestão dos recursos e uma maior salvaguarda do bem-estar do 
animal. Mesmo que isso corresponda à eutanásia. 
Porque consideramos que um bom clínico de campo é aquele que consegue aliar o conhecimento científica à elevada 
capacidade de colher e interpretar sinais clínicos, começamos o livro com uma revisão bastante extensa do Exame Clínico 
de Bovinos. Como referimos nesse capítulo, e citando o Prof. Radostits, "erra-se mais por não se ver do que por não se 
saber". 
Só depois de um completo exame físico será possível tirar bom partido de uma série de exames complementares, que 
podemos efectuar ao lado do animal ou enviando material para o laboratório. A escolha judiciosa dos testes é essencial 
em termos de custo-benefício, e é a pensar nisso que apresentamos os Exames Complementares mais úteis em clínica de 
bovinos. 
Nos restantes capítulos segue-se a descrição das doenças e situações clínicas mais frequentes em buiatria. A arrumação 
seleccionada para as doenças não é provavelmente a mais científica e não é de certeza a mais ortodoxa. Isto porque o seu 
fim não é o de descrever processos patológicos ou servir de referência, mas sim de servir de texto de apoio para consultas 
rápidas ... entre uma vacinação e um parto. 
De referir ainda que a descrição das diversas doenças se baseia muito na nossa experiência de muitos anos e que por isso 
pode variar na relevância dada a uns sinais em detrimento de outros, provavelmente considerados mais marcantes por 
outros clínicos. Esse é um dos riscos de se estar a escrever um texto iminentemente prático e pessoal. A leitura deve ser 
feita sempre com isso em mente. 
É óbvio que as descrições estarão sempre incompletas e por isso a sua leitura deve ser sempre complementada pela 
consulta de livros de clínica generalistas ou artigos específicos. Daí a necessidade que sentimos em associar uma lista 
bibliográfica que colocámos na parte final do livro. 
George Stilwell 
'. ' 
AV Atrioventricular HVB He1peMrus bovino 
AGID lmunodifusão em Jgar gel IA l11set111nélçiio artiAcial 
CREA Creatinina IBR mnmr"queite Infecciosa Bovina 
ADN Acido Desoxirribonucleico ID Intestino dr lgiKfo 
AGV Acidas Gordos Voláteis IDH L- lditol DehidrLJgeha;C! 
AINE Anti-inílamatório não esteróide IG Intestino 910sso 
ALB Albumina IL l11terleuqt11na 
ALKP Fosfatase alcalina IPB Bolanopostite infecciosa bovina 
ALT Alanina Aminotransferase IPV Vulvov~qlnlte pl 1stular infecciosa 
AMYL Amilase IV lndlgest~o vagai 
AST AspJ113l<) Transaminase JH Jejunite hernnrr,lgira. 
BEN 8.alMiço [neigétlc'O Negativo LBA Lavagem bronco-alveolar 
BHB B-hidroxibutirato LCR Líquido celaro, raqu1dld110 
BLAD Sovine lcl1kocy1e adhesion deficiency LDH Lactato dehid,ogenél;e 
BRSV Vírus Resp1ra16rlo Sincicial Bovino LIPA Lipase 
BSE ~n(cfalopa1Ja esponglíor 111e bovina LPS Upu1x1llssac~1lclm 
BUN Nll10t1étllo Ureico Sa1,gurneo ME Meteorismo espumoso 
BVD Diarreia Virai Bovina NCP Não cilu1.>állc.o 
BVD-MD Diarreia Virai Bovina - Doença das Mucosas NEFA Ácidos Gordos Não Esterificados (tb. Ácidos Gordos Livres) 
CE Corpo estranho NMI Neurónio Motor Inferior 
CH Carbúnculo Hemático NMS Neurónio Motor SurJerlQt 
CHOL Colesterol PCR Reac.r,ão de Polhnerl1,1çJo em Cadeia 
CID Coagulaç~o intravascular disseminada PEM Poliencefalomalácia 
co, Dióxido de Carbono PGF2a Pr1)1mgl,mdln,) F2a 
CPK Cre0tinofosfoquinase (tb. CK) PI Persistentemente lnfectado (BVD) 
cs Carbúnculo Sintomático PT Proteínas Totais 
DAD Deslocamento de Abomaso à Direita QIB Qu~r.11ocor1Ju11LIVite Infecciosa Bovina 
DAE Deslocamento de Abomaso à Esq11errla ARN Acido Ribonucleico 
DD Diagnó,11co diferencial RP Retenção placentária 
DI Disenteria de Inverno SAA Seroamiloide A 
DMB 1 )oença Músculo Branco SARA Acidose Ruminai Subaguda 
DRB Doença Respiratória Bovina SDH Sorbitol Dehidrogena,e 
EDTA Acido etileno-diamino-tetra-acético SNA Sistema Nervoso Autónomo 
EEPAB Edema e Enfi sema Pulmonar Agudo Bovino SNC Sistema Nervoso Central 
EHEC E.coli emero hernorr.1gl(O SNP Sistema Nervoso Periférico 
ELISA Enzym~Llnke<J lmmunosorbent Assay SRV Síndrome do Rúmen Vazio 
EM Edema Maligno svc Síndrome da Vaca Caída 
EPEC E.coli entc1o·µatogé,1lco SVCP Síndrome da Veia Cava Posterior 
ETEC E coli enwromx111ogflllco TBIL Bilirrubina Total 
e.g. exempli groticr (po1 exempl()J TCM Teste Californiano de Mastites 
FC írequénci.i cardíaca TGI Tracto Gastrointe,tinal 
FCM Febre Catarral Mallgn,1 TMR Total Mixed Ration (Dieta Completa) 
FEC Fluido extracelular TNF Factor de Necrose Tumoral 
FG Rgll,10 Gordo TSA Teste de Sensibilidade aos Antimicrobianos 
GGT y Glutamil Transferase UE União [uropcla 
GI Gastrointestinal URIC Ácido úrico 
GLU Glucose uv Ultravioletas 
GMD Ganho Médio Diário VA Volvo abomasal 
HD Ho~pedeho Definitivo VCM Volume,Cn, puscula, Médio 
HEB Hematúria Enzoótica Bovina VLDL l 1pop101cí11a~ de muito baixa densidade 
HI Ho,ped~lro Intermediário v. ver doença neste livro 
CAPÍTULO 1 
EXAME CLÍNICO DE BOVINOS 
\_ l t )1 , /( '-: /1 ', l 'i 11 J j ~1t_'I '.) 1 I r , ~ , l 
1. INTRODUÇÃO 
O exame físico continua a ser a base mais sólida da medici-
na clínica. Isto acontece apesar de toda a tecnologia (exa-
mes complementares e apoio laboratorial) de que os vete-
rinários dispõem actualmente e do facto da orientação da 
medicina veterinária de espécies pecuárias ser cada vez 
mais no sentido da resolução de problemas de grupo e da 
produção. Aliás, a escolha de provas laboratoriais ou exa-
mes complementares de diagnóstico só será racional e útil 
se se seguir a um bom exame físico. 
Um exame clínico deve ser sistemático, não podendo ha-
ver zonas do organismo que não são examinadas apenas 
porque um problema salta logo à vista e devendo-se evitar 
o diagnóstico preconcebido. Radostits afirma que "mais er-
ros são cometidos por não ver do que por não saber''. 
O exame clínico é constituído por quatro fases: 
História; Exame do meio ambiente; Exame físico do animal; 
Exames complementares 
2. A HISTÓRIA CLÍNICA 
O interrogatório ao proprietário ou tratador deve ser siste-
mático e abordar, de forma rápida mas exaustiva, as várias 
vertentes da história do animal, do grupo e da exploração. 
Seguem-se alguns exemplos: 
• Maneio e instalações (Fig. 1) - tipo de exploração (inten-
siva vs extensiva)? Tipo de estabulação? Composição dos 
parques (e.g. idade, produção, origem)? Entrada de novos 
animais? Regras de bio-segurança (e.g. quarentena)? 
• Nutrição e alimentação - tipo de alimentação? O acesso ao 
alimento e água é fácil? Origem da água (canalizada, poços, 
ribeiro, furos)? Estado das pastagens? Presença de plantastóxicas nas pastagens? Aspecto da silagem e outras matérias 
(e.g. feno húmido, presença de bolor, palha muito grosseira)? 
• Sanidade - qual o estado de vacinação e desparasitação 
do efectivo? Quais as doenças mais frequentes na explo-
ração (e.g. diarreias, mastites, pneumonias)? Existem re-
gistos - número de animais doentes, tratamentos, resul-
tados? Existem antibiogramas de casos anteriores? Nível 
de contagens de células somáticas no tanque do leite? 
• Historial do animal doente - qual a idade? Já esteve do-
ente antes? Quando ocorreu o último parto? O parto cor-
reu bem (e.g. distócia, retenção placentária, metrite)? 
Produção leiteira antes de adoecer? Quebra de produção 
abrupta ou gradual? Se for vitelo, quando é que foi des-
mamado? Administração do colostro foi a adequada? Foi 
sujeito a factores de stress (e.g. transporte)? 
• Historial da doença/problema - O que é que o dono pen-
sa que está errado com o animal? Ou qual a razão porque 
nos chamou? Quando se iniciou o processo? Qual a sua 
evolução? Houve mudanças de alimentação ou no ma-
neio? Há mais animais afectados7 Já foi feita alguma me-
dicação ou tratamento? Clima nos dias anteriores? 
A EDO 10 M IENT 
Antes de abordar o animal ou animais doentes, a inspecção 
do ambiente onde este se encontra ou tem vivido nos tem-
pos recentes pode ser crucial à obtenção do diagnóst ico. 
Esta observação pode ser feita ao mesmo tempo que se fa-
zem as perguntas ao dono/tratador e por isso não precisa 
de demorar muito, mas também não deve se r feita de for-
ma distraída pois há pormenores que podem ter um sign i-
ficado muito importante (e.g. uma vaca muito agressiva 
num parque ou vitelos isolados do resto do grupo). 
Entre outras coisas, o veterinário deve verificar se há alimento 
suficiente na manjedoura e se é de qualidade; se a pastagem 
parece ter matéria vegetal suficiente e qual o seu grau de de-
senvolvimento (erva muito jovem pode esta r relacionada 
com carências minerais); se a água é de qualidade e facilmen-
te disponível para todos os animais; se a venti lação é adequa-
da e se o ar é limpo e fresco; se se ouvem muitas tosses nos 
parques; se os níveis de higiene da exploração são adequados; 
se o bem-estar animal está assegurado; se há condições físicas 
ou tóxicas que possam justificar o aparecimento de determi-
nadas afecções; o aspecto das fezes no parque; o tamanho e 
diferença de tamanhos dos animais nos parques (Fig. 2); se 
existem animais demasiado agressivos ou demasiado medro-
sos; o grau de formação e interesse dos trabalhadores; qual a 
atitude dos animais do grupo perante a presença humana 
(e.g. através da observação do espaço de fuga); presença de 
outras espécies animais (e.g. galinhas, pombos, cães. roedores) 
que poderão funcionar como vectores de doenças (Fig, 3). 
4. )( ME i ICO 
Exame físi co é definido como o processo de examinar um 
animal por meio da visão, olfacto, palpação, percussão e 
auscultação. 
4.1. Exame à distância 
Deve-se iniciar o exame físico pela observação do animal 
em repou so e relaxado, se possível ainda no seu ambiente 
normal e guardando alguma distância. A observação à dis-
tância deve incluir os seguintes aspectos: 
• Atitude e comportamento - alerta, apático, deprimido, ex-
citado, assustado. Para avaliar estes aspectos é essencial co-
nhecer o comportamento natural dos bovinos e, mais espe-
cificamente, da idade, raça e sexo daqueles que estamos a 
observar. Há sinais cuja alteração ou ausência devem ser le-
vadas em conta como, por exemplo: seguir com o olhar os 
humanos, apontar os pavilhões auriculares para um huma-
no, outros an imais ou sons estranhos ao ambiente; posição 
e movimentos simétricos dos pavilhões auriculares; manter-
-se junto ao resto do grupo; ruminar; decúbito esternal nor-
mal; lamber o focinho frequentemente; respiração sincopa-
da e quase imperceptível. Alguns comportamentos podem 
estar associados a dor e por vezes só são perceptíveis à dis-
tância - vocalizar; ranger os dentes; pontapear o abdómen; 
cifose; respirar de boca aberta; alteração de aprumes; coto-
velos afastados do tórax; decúbito costal; dificuldade em 
ocupar as instalações (Fig. 4.). 
• Postura - não natural, que pode ser consequência de presen-
ça de dor local ou doença neurológica - por exemplo, cifose 
pode indicar dor abdominal ou laminite. Deitar-se de lado 
(atenção: é um comportamento natural em vitelos) pode ser 
sinal de desconforto, dor abdominal ou podal muito grave 
(Fig. 4). Sentar-se"à cão"demonstra dor nos membros poste-
riores ou então má adaptação aos cubículos (Fig. 5). 
• Aprumes - relacionados com claudicações - e.g. a posi-
ção com que o animal coloca a pata quando se apoia 
pode revelar imediatamente qual a unha afectada. Esten-
dida apoiada nas pinças - dor nos talões; membros poste-
riores em abdução - dor nas úngulas laterais (Fig 6); mem-
bros anteriores cruzados - dor nas úngulas mediais. 
• Condição corporal - avaliação através de várias medidas 
como visualização das vértebras, costelas, apófises de diver-
sos ossos etc. .. Normalmente é usada uma escala de 1 = 
magra a 5= obesa para vacas leiteiras, devendo-se ter a no-
ção do momento do ciclo produtivo em que se encontra. 
• Conformação ou perfil abdominal - a observação deve ser 
feita primeiro por trás. O lado esquerdo abaulado (perfil de 
maça) geralmente associa-se a timpanismo gasoso ou es-
pumoso do rúmen. Pelo contrário, o lado esquerdo dema-
siado linear corresponde a anorexia prolongada com esva-
ziamento do saco dorsal do rúmen. O lado direito ventral 
muito evidente pode surgir em casos de gestação avança-
da (principalmente gémeos) ou situações patológicas 
como hidroalantoide ou hidroamnios. O perfil papple (de 
apple!maça, do lado esquerdo e pear/pêra do lado direito 
ocorre geralmente em casos de indigestão vagai em que o 
saco dorsal do rúmen acumula gás e o saco ventral acu-
mula grandes quantidades de líquido (Fig. 7). 
• Pele - escoriações, peladas, parasitas, cor, brilho e com-
primento do pêlo ... A zona afectada pode indicar o 
tipo de ácaro presente ou sugerir um processo de foto-
sensibilidade (i.e. apenas as zonas despigmentadas são 
atingidas). 
• Respiração - a frequência e tipo devem ser avaliadas à 
distância porque podem estar alteradas em casos de 
stress ou cansaço do animal decorrentes da contenção 
(muito particularmente animais em pastagem e pouco 
habituados à presença humana). A respiração normal de 
um bovino adulto em descanso deverá ser imperceptí-
vel. A respiração acelerada, sobressaltante e abdominal 
pode ser sinal de dor, doença respiratória ou toxemia 
• Movimentos - os bovinos têm normalmente um andar 
lento e compassado. Alterações como passadas demasia-
do curtas, agitar a cabeça no andar, chocar ou apoiar-se 
nas paredes ou obstáculos (Fig. 8), andar em círculos, não 
flectir ou estender completamente alguma articulação, 
andar de dorso curvado, apoiar um dos membros dema-
siado para dentro ou fora do eixo, ou não apoiar uma das 
patas pode fazer suspeitar de dor ou doença neurológica. 
• Comportamento - devemos conhecer bem os compor-
tamentos e vícios frequentes de cada espécie e de cada 
idade para detectar alterações. Algumas das alterações 
mais frequentes são infecciosas e ligadas a lesões do SNC 
(e.g. BSE, poliencefalomalacia, meningites neonatais, IBR, 
listeriose e intoxicações). Podem ainda surgir em casos 
de doenças metabólicas - hipomagnesiemia, hipocalcé-
mia, cetose nervosa. Outras causas de alterações de com-
portamento podem ser stress, medo e frustração. Para 
mais pormenores em relação a esta questão ver secção 
sobre exame neurológico. 
4.2. Exame próximo 
Uma boa contenção é essencial, mesmo em animais apa-
rentemente mansos, para garantir a segurança do examina-
dor, do animal e de outros. A aproximação ao animal nunca 
deve serfeita pela sua zona cega (área com cerca de 30° 
atrás do animal). Animais presos pela cabeça poderão ter 
um campo de visão diminuído e por isso reagir de forma 
violenta a aproximações demasiado bruscas. Evitar igual-
mente aproximar-se pelo lado cego de animais com doen-
ça/lesão de um olho. Assobiar ou falar suavemente pode ter 
um efeito calmante sobre animais nervosos. 
O contacto manual com o animal deve ser feito de maneira 
cautelosa e com movimentos lentos. Nesta altura o tempe-
ramento do animal deve ser avaliado de forma a ser mais 
fácil prever o seu comportamento durante o resto do exa-
me e, se necessário, tomar as providências que garantam a 
segurança. Com paciência e perseverança a maioria dos bo-
vinos comporta-se de modo muito passivo durante o exa-
me físico. 
Sugerimos que o exame físico seja feito por regiões e não 
por sistemas pois esta opção obriga a circundar várias vezes 
o animal. Na nossa opinião o exame físico deve ser iniciado 
pela região posterior porque a maior parte dos bovinos está 
habituada a ser abordada por trás (e.g. inseminação, palpa-
ções rectais, ordenha). 
Algumas das intervenções que a seguir sugerimos não são 
necessárias ou possíveis em todos os animais. Para facilida-
de de exposição tomaremos por regra o exame físico de 
uma vaca leiteira, sendo indicado sempre que existam dife-
renças significativas para diferentes raças ou idades. 
4.2.1. Exame da zona caudal 
Aconselhamos que se comece o exame pela colheita de 
urina. Uma vaca que esteja relaxada urina facilmente após 
estimulação mecânica da zona do períneo logo abaixo da 
vulva (Fig. 9). 
Nunca se deve tentar colher a urina a uma vaca segurando 
a cauda ao mesmo tempo, pois isso faz com que a vaca não 
esteja relaxada. Há vários parâmetros da urina de uma vaca 
cuja análise é possível no campo com a ajuda de uma fita 
indicadora: 
• Densidade - normalmente entre 1,015-1,035. Aumento 
no caso de desidratação e redução em casos de insuficiên-
cia renal. 
• pH - A urina de uma vaca saudável é geralmente alcalina 
(nos vitelos a consumir leite é ácida). Urinas ácidas em 
bovinos adultos podem ter como causa uma acidose ru-
minai, deslocamento do abomaso (acidúria paradoxal}, 
cetose ou quando as vacas leiteiras estão a consumir die-
tas an iónicas. 
• Proteína - Situações de proteinúria estão geralmente as-
sociadas a doenças renais como glomerulonefrite ou 
amiloidose renal, que são relativamente raras em bovi-
nos. Urinas muito alcalinas podem dar uma positividade 
ligeira sem corresponder à presença de proteína (falso 
positivo). 
• Glucose - Na maior parte das vezes a glicosúria em bovi-
nos é de origem iatrogénica (e.g. administrações de solu-
ções de glucose hipertónicas, de corticosteróides ou de 
xilazina). Também pode ocorrer em situações que provo-
cam um grande desconforto tais como torções intesti-
nais ou do abomaso, úlceras do abomaso e peritonites. 
Surge ainda em casos de diabetes e insuficiência renal. 
• Sangue ou hemoglobina - hematúria [e.g. cistites, lesões 
vesicais, neoplasias (hematuria enzoótica por ingestão do 
feto Pteridium), pielonefrite], ou hemoglobinúria (e.g. Babe-
sia, Clostridium haemolyticum, Leptospira sp., hipofosfatémia 
pós-parto) revela-se por uma urina mais escura, cor de fer-
rugem ou mesmo avermelhada. A distinção entre hematú-
ria e hemoglobinúria pode-se fazer no campo recolhendo 
urina num frasco e certificando-se se há coagulação ou 
não. As fitas de análise também podem ajudar a distinguir 
as duas situações, tendo em atenção que em vacas recém-
-paridas surgem muitos falsos positivos por contaminação 
da urina. Urinas escuras podem também ser devidas à pre-
sença de mioglobina que ocorre, por exemplo, após decú-
bito prolongado (Síndrome da Vaca Caída) (Fig. 1 O). 
• Corpos cetónicos - a análise da urina através de fitas, por 
ser um teste rápido e de fácil execução, é bastante útil na 
detecção de cetoses clínicas em vacas apesar da sua sen-
sibilidade não ser muito elevada (o acetoacetato que é 
detectado pelos testes de urina, não é o mais abundante 
em vacas com cetose). 
• Nitritos e leucócitos - sinal de i11fecção urinária Atenção 
à contam inação com conteúdo do útero (e.g metrite). 
Enquanto esperamos que a vaca urine, podemos observar 
o perí11eo procurando: 
- descargas vaginais/uterinas - lóquias (Fig. 12), corrimen-
to casta 11ho e malchei1oso, pus, saricJue em casos de la-
cerações do tracto ge11ital. Presença de vestígios de pla-
centa (Fig. 11 ). 
- aspecto das fezes - quantidade, consistê1icia (e.9. visco-
sas, diarreicas, secas), presença de sangue, muco. falsas 
membranas ou alimento por digerir como fibra ou grãos 
de cereais. 
- sinais de actividade reprodutiva - muco (Fig. 13), pêlo eri-
çado na zona dorsal da cauda, escoriações na base da 
cauda e sobre as tuberosidades isquiáticas que surgem 
quando a vaca foi "saltada" por outra, corrimento purulen-
to (endometrite) (Fig . 1 Li), sangue vivo (si11al de ovu lação 
recente) . .. 
- alterações no úbere e tetos - edema (Fig 15), assime-
trias entre quartos, vesículas (Fig. 16), presença de aftas, 
pústulas (Fig . 17), feridas, dei matite e hiperqueratose da 
ponta do teto (Fig. 18). 
- aspecto da mucosa vu lvar: cor (sinal de anemia ou icterí-
cia (Fig. 19); petéquias (septicemias e toxémias); p(1stulas 
(vulvovaginite - \13R-IPV) Avaliação do escroto (orquite) 
(Fig. 20). Medir tempo de reflecção ciipilar. 
- em caso de suspeita de infecção da glândula mamaria 
podemos palpar os linfonodos retromamários. Uma mão 
leva nta o úbere enquanto a outra palpa a zona dorsal do 
úbere entre este e a face interna do membro pélvico. 
De seguida deve medir-se a temperatura rectal da vaca 
- introdução de termómetro de dimensão adequada no 
recto, após lubrificação, e encosto da extremidade do ins-
trumento à parede lateral ou dorsal do recto. Numa vaca a 
temperatura rectal deverá estar entre os 38 e 39 °(, num 
vite lo desmamado estará entre os 39 a 39,5 °C e num vitelo 
lactante pode chegar aos 40 °C em certas condições am-
bientais. As variações de temperatura recta l são muito am-
plas havendo muitos factores a influenciá- la (temperatura 
ambiental, humidade relativa, exercício, desid ra tação, cho-
que, stress e excitação do animal), para além das causas in-
fecciosas. 
4.2.2. Exa me do lado esquerdo 
Em seguida, sugerimos o exame físico do lado esquerdo do 
animal começando de trás para a frente: 
4.2.2. 7. Região abdominal 
Começar por palpar os gânglios retrocrurais - a hipertrofia 
pode ser indicação de infecção da parede abdominal ou do 
membro pélvico do mesmo lado. Deve-se examinar visual-
mente e palpar a veia mamária procurando presença de 
flebites, trombos bacterianos ou hematomas. 
De segu ida proceder ao exame do rúm en que inclui várias 
fases: 
Estado de repleção do rúm en - classificação do cavado 
do flanco "'? 1 - muito concavo = vazio até 5 - convexo 
= muito cheio (Fig. 21) 
Frequência de contracções (2 por minuto ou 3 em 2 mi-
nutos) É possível distinguir contracções primárias (de 
mistura do conteúdo, iniciando-se no retícu lo e conti -
nuando pelo saco dorsal e depois saco ventral do rú-
men), de contracções secundárias (destinadas a conduzir 
o gás pa ra o cardia, começando no saco dorsal do rú-
rnen e geralmente culminando no som de eruc taçâo) . 
Força das contracções (o deslocamento da mão coloca-
da no cavado do flanco deve ser de 2 cm embora a força 
dependa do tipo de alimento consumido), 
Quantidade, consistência (gasoso, sólido, líquido) e estra-
tificação do conteúdo (em cima 7 gás; a meio ""?forragem 
grosseira; em baixo 7 conteúdo mais líquido). 
• Pesquisa de sons com percussão; percussão + ausculta-
ção; sucussão +auscultação.Os sons audíveis num rúmen 
saudável tem uma relação próxima com a dieta, mas ge-
ralmente são tlmpànicosnuma pequena área mais dorsal, 
maciço na parte lnrermédla e ~ub-madço na zona mais 
ventral. QL1ando há sobrecarga alimentar ou tlmpantsmo 
ouve-se um som maciço ou som Limpânico em toda a 
ârea de auscultação, rr:spectivamente, No caso de deslo-
camenlo de abomaso à esquerda e na Síndrome do Hú-
men Vazio (SBV) a percussão com auscultação dá a ouvir 
um som metálico (ping) por baixo das últimas costelas 
(Fig. 22). Â sucussão normalmente revela um som de 
splashlng, semelhante ao de latas vazias a chocalh,1rem. 
!Il A audição dos batimentos cardíacos a nível da fossa para-
lombar esquerda acontece normalmente quando o con-
teúdo do rúmen está muito seco. 
4.2.2.2. Região torácica 
Fazer a auscultação do pulmão, depois de bem delimitar a 
área (Fig. 23). Nem sempre é fácil ouvir os sons pulmonares 
em vacas saudáveis e algumas doenças pulmonares po-
dem coexistir com sons aparentemente normais Pode-se 
tentar aumentar a sua intensidade tapando as narina s, fa-
zendo o animal respirar para dentro de um saco de plástico 
ou obrigando-a a correr um pouco. 
A frequência respiratória num bovino adulto é 12 a 36, en-
quanto que num vitelo é entre 30 a 60. 
Verificar o carácter da respiração: 
- Costa-abdominal - fisiológica. Os sons inspiratórios são 
geralmente mais audíveis do que os expiratórios. 
- Toráxica - peritonite, distensão abdominal ou dor/pres-
são sobre o diafragma. 
- Abdominal - pleurisia, enfisema, edema pulmonar e ou-
tra s causas de obstrução pulmonar. 
Devido ao facto das lesões de pneumonia ocorrerem sobre-
tudo nos lobos ventrais e craniais, estas devem ser as zonas 
que merecem uma auscultação mais cuidada. Os sons ad-
ventícios mais frequentes são apresentados na Tabela 1. 
Procurar ainda por palpação a presença de enfisema subcu-
tâneo (Fig. 24) que se revela por crepitação e aumento do 
espaço entre pele e musculatura e que pode surgir em casos 
de pneumonias por vírus sincicial (BHSV) ou M. haemolytica. 
Ter em atenção factores extra-respiratórios que podem aiu-
sar dispneia. Por exemplo: febre; exercício e stress; calor e 
humidade elevadas: doenças metabólicas corno cetose ner-
vosa e hlpocalcémla; acidose metabólica; anemia associada 
a exerdcio-ffsico; doença do músculo branco (caréncla Vit [ 
e Selénio), entre outros. 
Segue-se o exame cardíaco. O apex do coração dos bovinos 
encontra-se caudal ao cotovelo (articulação humero-radio-
Aumento sons brônquicos 
Estridor 
Crepitação 
Sibilos 
Silêncio 
Roncos 
Atrito pleural 
Extra-respiratórios 
1 
·~ 
Pneumonia severa com hepatização 
IBR, necrobacilose (vitelos) 
Pneumonia intersticial (com ou sem fluido) 
Estenose ou exsudado espesso nos bronquíolos. 
Pneumotórax, massa ou efusão pleural (e em casos de vacas obesas ou enfisema subcutâneo) 
Fluidos nas vias de grande calibre 
Pasteurelose avançada 
Sopro cardíaco, rúmen, eructação, fricção pele ou contracção do panícula subcutâneo, gemido de dor . . 
-cubital) a nível do 6.0 espaço inter-costal. A base do coração 
está cranial ao cotovelo. Os pontos de auscultação das dife-
rentes válvulas cardíacas estão esquematizados na Fig. 25. 
A frequência cardíaca pod vr1ria r por lníluência de @e tores 
indicados abaixo, endo que os valores de referência se en-
contram geralmente dentro dos seguintes 1nl'erva los: adul-
to: 40 - 80 batimentos por mi!H.J lo; vitelo: 100 - 140 bpm. 
S1tu11ções de Laciuicardia ocorrem em animais com hipocal-
cé1111a, infecções com toxernla (e.g. rnamiles, perlmnites), 
anemia ou stress. Algumas situações clínicas em bovinos 
em que há bradlçardía são: Jejum, Indigestão vagai, botulis-
mo e hipercalémia. 
A auscultação do coração pode revelar um ruído abafado ou ru-
ído de marulho que ocorre numa das patologias cardíacas mais 
frequentes em bovinos adultos que é a pericardite traumática. 
Um ruído abafado pode também ocorrer em vacas muito gor-
das e em situações de efusões pleura is, abcessos ou neoplasias. 
Em vitelos com diarreia podem ocorrer arritmias devido a hi-
percalémia. Estas arritmias podem surgir também em animais 
adultos devido a desequilíbrios hidro-electrolíticos graves 
(e.g. fibrilhação atrial em deslocamento ou volvo abomasal). 
Os sopros podem ser auscultados quer do lado esquerdo 
quer do lado direito e na sua origem podem estar estenoses 
ou insuficiências valvulares (mais frequentemente devido a 
endocardites). Cerca de 75% das lesões cardíacas em bovi-
nos (endocardites) afectam a válvula tricúspide. No caso de 
endocardites é de esperar hipertermia (> 40<>C). Sopros tam-
bém podem ser audíveis em casos de defeitos congénitos 
ou quando a velocidade ou volume de sangue são elevados 
ou a viscosidade do mesmo é baixa. Se durante a ausculta-
ção forem detectados sopros deve ser feita uma tentativa 
de os localizar, relacionando-os com as válvulas cardíacas. 
Na maioria dos casos, os sopros sistólicos estão relacionados 
com insuficiência das válvulas AV ou estenoses das válvulas 
da aórtica ou pulmonar, enquanto que sopros diastólicos 
são mais frequentes em caso de insuficiência da válvula aór-
tica ou pulmonar. Sopros relacionados com insuficiências 
da tricúspide são mais audíveis no lado direito. 
4.2.2.3. Pesquisa de Dor abdominal 
A dor abdominal anterior pode ser causada por retículo-
-peritonite traumática (à esquerda da linha branca), úlcera do 
abomaso (à direita da linha branca) ou peritonite por outras 
causas. Sinais de dor podem ser incitados pressionando a co-
luna dorsal, pressionando o abdómen ventral com o joelho, 
o punho ou um pau - o animal pode evidenciar dor através 
de um gemido ou levantando o membro posterior do mes-
mo lado (coice). Devemos ter em atenção que sendo os bo-
vinos animais estóicos muitas vacas podem não reagir a 
quaisquer destes estímulos. O limiar de tolerância à dor num 
bovino é bastante mais elevado do que noutros animais (e.g. 
equinos) e manifestam sinais de dor de maneira bastante di-
ferente - ranger os dentes, orelhas caídas, prostração, gemi-
dos, pontapear o abdómen, olhar o flanco ou deitar-se em 
decúbito lateral com os membros estendidos ... 
4.2.3. Exame da zona cervical 
No pescoço devemos observar a veia jugular. O grau de en-
gorgitamento (Fig. 26) ou a presença de pulso jugular deve 
ser observado com a cabeça em posição normal e nunca 
para baixo. Devemos saber distinguir pulso jugular falso de 
pulso jugular verdadeiro - fazer garrote à entrada do peito 
e a meio do pescoço; soltar garrote mais baixo; se jugular se 
mantiver engorgitada teremos um caso de pulso verdadei-
ro. O grau de hidratação pode ser avaliado pela prega de 
pele a nível da tábua do pescoço (mais eficaz em vitelos e 
pouco fiável em vacas velhas ou bovinos de carne). A prega 
de pele deve desaparecer em menos de 2 segundos. O ede-
ma da barbela surge em casos de hipoproteinemia ou pa-
tologia cardíaca, mas pode ter origem iatrogénica quando 
foram administradas soluções irritantes nesta zona (e.g. bo-
rogluconato de cálcio). 
A compressão ligeira da faringe ou traqueia desencadeia 
tosse em animais com inflamação do tracto respiratório su-
perior. 
Na zona do dorso, ao palpar a coluna vertebral pode-se de-
tectar a presença de gás (enfisema sub-cutâneo, provoca-
do, por exemplo, por pneumotorax, após cirurgia abdomi-
nal, edema maligno, pneumonia por vírus sincicial ou M. 
haemolytica). Em animais de campo poderá ainda observar-
-se nódulos de Hypoderma ao longo do dorso e lombo. 
O linfonodo pré-escapular pode ser palpado imediatamen-
te cranial à articulação escapulo-humeral. 
4.2.4. Exame do lado direito 
4.2.4.1. Região abdominal 
A auscultação do abdómen direito dos bovinos normal-
mente não revela sons particulares com excepção de al-
guns raros borborigmos com origem no intestino. Deve 
pesquisar-se a presença de sons metálicos (ping) através da 
auscultaçãocom percussão ou sucussão do intestino gros-
so (cego e colon) e do abomaso de forma a diagnosticar 
deslocamento ou torção do abomaso (ping debaixo das 
últimas costelas), dilatação e torção do cego (ping no cava-
do do flanco), pneumoperitoneu ou colón com bastante 
gás (ping por baixo das apófises transversas lombares). 
4.2.4.2. Região toráxica 
Tórax - A área de auscultação do pulmão direito é idêntica 
à do lado esquerdo não havendo diferenças importantes. 
A auscultação do coração faz-se no 4.°-5.0 espaço intercos-
tal, junto à axila, para ouvir a válvula tricúspide (Fig. 25). 
O exame das restantes regiões não apresenta diferenças de 
metodologia dignas de registo. 
4.2.5. Exame do úbere (Fig. 27) 
Um exame mais detalhado da glândula mamária pode ser 
feito nesta altura. Deve-se ter atenção aos seguintes aspec-
tos no exame físico do úbere e tetos: assimetria e diferença 
de temperatura entre quartos, dor à palpação, consistência 
do tecido mamário, presença de teilites eventualmente 
acompanhadas de fibrose do canal do teto, obstruções por 
corpos estranhos, soluções de continuidade, inversão do 
esfíncter etc. .. Se este exame fizer suspeitar de infecção in-
tra mamária pode-se realizar um Teste Californiano de Mas-
tites (TCM) dos diversos quartos, lembrando-se sempre que 
a colheita de leite implica a remoção do desinfectante (teat-
-dip) que sela o canal do teto. Por esta razão só deverá ser 
efectuada a ordenha se houver necessidade de uma análise 
mais cuidada da secreção. Deve-se observar o aspecto ma-
croscópico do leite sobre uma superfície escura, que inclui 
presença de grumos, sangue, leite aquoso etc ... 
4.2.6. Outros exames 
Nos vitelos jovens (<2 meses) é essencial fazer um exame 
minucioso do umbigo. Neste exame procura-se tumefac-
ção, dor à palpação, aumento da temperatura, presença de 
pus ou outro corrimento, fibroses, possibilidade de redução 
da massa umbilical e presença de anel herniário. Estes sinais 
permitem o diagnóstico diferencial entre onfalite, hérnia 
umbilical, fibrose ou abcesso. 
4.2.7. Exame por via trans-rectal 
Nas vacas de leite este exame é relativamente seguro e de 
fácil execução, mas poderá ser perigoso em vacas de carne 
e em novilhas. Deve-se proceder a uma boa lubrificação das 
luvas com gel ou mesmo com as fezes do animal. Este exa-
me é deixado para depois da auscultação do abdómen por-
que a entrada de ar para o recto e cólon pode alterar os sons 
à percussão e auscultação do flanco direito. 
Para um exame trans-rectal completo deverão ser examina-
das as seguintes estruturas; 
• Em condições normais - rumen, rim esquerdo, aorta ab-
dominal, artérias ilíacas, intestino delgado e tracto repro-
dutivo (cérvix, cornos uterinos e ovários). Artéria uterina 
com frémito (a partir dos - 120 dias de gestação). 
• Em casos de doença poderá ser encontrado: 
- Ceco distendido - quadrante direito. 
- Ansas intestinais (delgado e grosso) dilatadas e tensas 
- Encarcerações. 
- Neoplasias - metástases no mesentério; lipomas (ne-
crose da gordura) 
- Rim, ureteres e bexiga aumentados de tamanho. A pal-
pação pode provocar sinais de dor. 
- Aderências e/ou enfisema no abdómen caudal. 
- Gânglios linfáticos mesentéricos aumentados. 
- Alterações do tracto reprodutivo - quistos, aderências, 
paredes uterinas espessadas, assimetrias entre cornos 
uterinos, piometra ... 
- Muito raramente: abomaso distendido, apenas no caso 
de volvo abomasal e numa zona bastante anterior (ne-
cessidade de braço comprido); hepatomegalia. 
Durante a palpação deveremos estar atentos a sinais de dor 
e desconforto que poderão indicar peritonite, metrite puer-
peral, lesões pós-parto do canal pélvico, ou irritação da mu-
cosa rectal . 
Durante e após a palpação rectal são observadas as fezes 
no que diz respeito à quantidade, consistência, presença de 
sangue, muco, falsas membranas, material alimentar não 
digerido ou corpos estanhos (e.g. areia e pedras). 
4.2.8. Exame da cabeça 
Devido ao facto da observação da cabeça de um bovino 
lhe causar bastante apreensão devemos deixar o seu exa-
me para o final. O clínico nunca se deve esquecer que a 
cabeça de um bovino constitui a sua arma mais perigosa e 
que mais nos pode magoar. Na cabeça as estruturas abaixo 
indicadas devem ser examinadas cuidadosamente: 
4.2.B.1 . Olho 
Conjuntiva - Amarelada (icterícia); Palidez (hemorragias, 
úlceras, diarreias sanguinolentas, plasmólise devido à in-
gestão de grandes volumes de água ou desidratação); 
congestão e edema em infecções locais ou sistémicas 
como IBR, Febre Cata rral Maligna, Querato-conjuntivite 
Infecciosa dos Bovinos, Pasteurelose, ou corpos estra-
nhos; presença de petéquias no caso de clostridiose ou 
CID; presença de parasitas (Thefazia sp.) ou corpos estra-
nhos (frequentemente praganas). 
Esclera - engorgitação dos vasos em casos de toxemia 
ou septicemia; amarela em casos de hemólise; hemorra-
gias benignas em vitelos no pós-parto. 
Córnea - opacidade (e.g. corpo estranho, querato-
-conJuntivite infecciosa, septicemia, acidose), úlcera (ge-
ralmente por querato-conjuntivite infecciosa bovina) 
(Fig. 28), ruptura. 
Diâmetro da pupila - mídriase (e.g. hipocalcémia) ou 
miose (e,g. intoxicação por organofosforados). 
Visão - quando não há lesões evidentes a cegueira pode 
ser difícil de avaliar sendo suspeitada quando há alterações 
de comportamento (e.g. choque contra objectos, cabeça 
fixa em posição de audição sem reacção à aproximação) 
ou ausência de resposta a um gesto de ameaça (aproxima-
ção rápida da mão). No entanto lembrar que a ausência de 
reflexo tanto pode significar paralisia como cegueira. 
Estrabismo - geralmente congénito, mas surge em casos 
de leucose. 
• Presença e simetria de reflexo pupilar - diagnóstico dife-
rencial entre avitaminose A (reflexo ausente) e Bl (reflexo 
presente). 
111 Ol hos encovados - sin al que surge tanto em casos de 
caquexia como de desidratação. 
• Pálpebras - presença de papilomas, quisto dermóide, ec-
tropion, feridas .. . Paralisia bi-lateral ou hemiplegia (e.g. 
listeriose). Pólipos e carcinomas espino-celular são mais 
frequentes na 3.a pálpebra (Fig. 29), mas podem ocorrer 
em qualquer tecido do olho ou na região peri-ocular. 
4.2.8.2. Orelhas 
As orelhas podem dar informação sobre o estado geral dos 
animais. Animais com saúde orientam as orelhas na direc-
ção de estímulos visuais ou auditivos. Em casos de doença 
podem estar caídas, deitadas para trás (BSE) ou assimétricas 
(e.g. listeriose ou síndrome vest ibular). 
Temperatura - orelhas frias podem ajudar a avaliar o estado 
de desidratação especialmente em vitelos. 
Otite - principalmente em vitelos - cabeça inclinada para 
um dos lados e orelha caída (Fig. 30). Procurar dor e presen-
ça de corrimento purulento. 
Verificar ainda a colocação correcta de brincos já que a apli-
cação sobre as carti lagens do pavilhão auricular por condu-
zir a hematomas e abcessos com dor (Fig. 31 ). 
4.2.8.3. Focinho e narinas 
O focinho de um bovino saudável está limpo e húmido (a 
língua limpa-o con stantemente). Um focinho sujo é nor-
malmente sinal de mal-estar, paralisias (e.g. botulismo ou 
paralisia de nervos cranianos). O focinho seco pode ser sinal 
de desidratação ou hipocalcémia. Examinar o interior das 
fossas nasais - erosões e úlceras no caso de IBR (Fig. 32). 
Procurar corpos estranhos. 
Deve-se avaliar o fluxo de ar quanto a velocidade, simetria e 
cheiro. Alteração na simetria é sinal de lesão/doença a nível 
das fossas nasais (Fig. 33). Avaliar ainda o corrimento que 
normalmente é seroso e em pequena quantidade. Corri-
mento sero-mucoso, mucoso ou purulento ocorrem em 
graus diferentes de infecções do tracto respiratório (Fig. 23). 
Sangue com espuma bilateral é sinal de hemorragia pul-
monar que acontece principalmente no caso de Síndromada Veia Cava. 
4.2.8.4. Seios frontais e nasais 
Avaliar o estado dos seios por percussão na área entre base 
dos cornos e cantos mediais dos olhos - sinais de dor ou 
som maciço geralmente associam-se à presença de sinusi-
tes. Vacas descornadas recentemente podem apresentar 
um corrimento sanguinolento ou purulento por infecção 
do seio frontal. 
4.2.8.5. Boca 
Certos autores dizem que nunca se deve "voltar as costas" a 
um animal que não come sem examinar com cuidado a ca-
vidade bocal. Os incisivos dos bovinos não são muito peri-
gosos, mas os molares podem provocar lesões graves no 
operador e por isso o exame deve ser feito com precaução. 
Abrir a boca introduzindo a mão logo atrás dos incisivos fa -
zendo pressão sobre o palato. Se necessário observar du-
rante mais tempo ou com maior pormenor as zonas poste-
riores da cavidade bocal deve-se exteriorizar a língua 
usando um pano na nossa mão e puxando a língua para o 
canto da boca (Fig. 34). Em alternativa usar um abre-bocas 
específico para grandes animais. 
Podemos aproveitar para determinar a idade através da ob-
servação da muda dos dentes incisivos (entre 18 meses e 
4 anos) ou pelo seu desgaste. 
Mucosa - verificar a cor, humidade e integridade. Procurar 
presença de erosões, úlceras ou aftas (BVD - Doença das 
Mucosas, Febre Aftosa, Estomatite papulosa). 
Dentes - por exemplo, a muda dos pré-molares pode ser a 
causa de novilhas recém-paridas (2 anos) não comerem ou 
não con seguirem ruminar (presença de ingesta em redor 
do animal). Dentes partidos ou infecções das raízes podem 
ser os responsáveis pelo emagrecimento de um animal. 
O ranger de dentes é típico de bovinos com dor ou grande 
desconforto, 
Abcessos - provocado pelo entupimento dos canais das 
glândulas salivares, feridas, necrobacilose oral em vitelos ou 
infecção de um dente em erupção (Fig. 35). 
Tumefacções duras e não dolorosas da mandíbula ou maxi-
la sugerem actinomicose ou neoplasias. Edema, falsas 
membranas e tecido necrosado nos tecidos moles da boca 
surgem em casos de actinobacilose (língua-de-pau). Ede-
ma maligno por Clostrídeos ca usa tumefacção fria na zona 
da mandíbula porque a boca funciona como primeira porta 
de entrada quando a alimentação é agressiva. 
O hálito deve ser avaliado quando se faz o exame visual da 
boca. Hálito malcheiroso é detectado em casos de abcessos 
retrofaríngeos, necrobacilose oral ou mesmo em casos de 
pneumonia; o hálito a acetona surge em casos de cetose. 
O comportamento oral da vaca pode dar indicações quan-
to a alguns estados físicos ou mentais. Por exemplo, uma 
vaca com a boca aberta quando o observador se aproxima 
pode indicar o início de uma hipocalcémia ou medo e frus-
tração em animais incapacitados para se levantarem. No 
entanto, poderá surgir também em animais com um corpo 
estranho na cavidade bocal (e.g. arame) (Fig. 36). Animais a 
rodarem a língua fora da boca podem exibir um comporta-
mento estereotipado ou possível falta de fibra na dieta. 
4.2.8.6. Linfonodos 
A palpação dos linfonodos da zona da cabeça é feita por 
baixo (sub-mandibulares) e atrás (retrofaríngeos) de cada 
ramo da mandíbula. Empurrar com uma mão a laringe en-
quanto que do lado contrário se procura apanhar o linfono-
do, às vezes apenas sentindo o mesmo a ressaltar entre os 
dedos. Comparar os dois lados para melhor identificar hiper-
trofias. Registar tamanho e sinais de dor. 
4.2.9. Exame dos membros 
Quando existe claudicação é essencial um exame minucio-
so dos membros, e em particular das úngulas já que cerca 
de 90% dos casos de claudicação têm origem em lesões/ 
doenças nas extremidades. Nas vacas leiteiras as úngulas 
mais afectadas (>80% dos casos) são as laterais dos mem-
bros posteriores. Nos membros anteriores as lesões surgem 
maioritariamente nas úngulas mediais. Devemos lembrar-
-nos que as claudicações podem também ser causadas por 
doenças neurológicas ou metabólicas ou incapacidades 
mecânicas (adquiridas ou congénitas), não sendo conse-
quência de dor. 
Uma correcta investigação quanto às causas de claudica-
ção deve começar pela observação à distância do animal 
em estação e a andar - os aprumas e apoios podem indicar 
qual o membro e mesmo qual a úngula afectada. No entan-
to, os sinais de dor noutros pontos podem ser pouco evi-
dentes se existir uma dor muito intensa numa úngula e por 
isso o exame de um animal côxo deve incluir sempre todos 
os membros e regiões. 
O afastamento lateral de um ou dois membros geralmente 
indica lesão na unha lateral dessa pata assim como a exten-
são dos membros posteriores para trás significa dor na zona 
dos talões. Vacas que em estação cruzam os membros ante-
riores normalmente apresentam lesão e dor nas úngulas 
mediais. 
O exame próximo das úngulas deve ser feito com cuidado 
e nas melhores condições de contenção possíveis. O uso de 
troncos especiais para o exame e tratamento de patologias 
das extremidades é o ideal, mas é possível adaptar a estru-
tura dos estábulos. O exame das úngulas dos membros an-
teriores em animais dóceis é possível apenas fazendo a 
contenção da cabeça e levantando o membro para cima 
do joelho do operador, mas os posteriores devem ser sem-
pre levantados com auxílio de uma corda presa acima do 
curvilhão. Em animais violentos ou nervosos ou quando se 
prevê causar dor durante o exame, a extremidade deve ser 
atada a uma estrutura firme. 
No exame da úngula devem ser observadas e palpadas as 
diferentes zonas e estruturas, nomeadamente a sola, pare-
de lateral e dorsal, espaço interdigital e pele adjacente à 
coroa (e.g. dermatite). Devem-se procurar fissuras (transver-
sais e longitudinais), soluções de continuidade (geralmente 
espaço interdigital), úlceras da sola (geralmente na zona 
posterior da sola), zonas de penetração de corpos estra-
nhos (geralmente na linha branca) ou hemorragias. No caso 
de ser difícil identificar a zona de origem da dor deve-se 
aparar o casco até ter a dimensão normal e, se ainda for 
necessário, usar um alicate de compressão. O olfacto é im-
portante na detecção de abcessos e panarício. 
Quando a claudicação tem origem numa outra região que 
não na extremidade pode-se provocar a flexão das várias 
articulações tentando perceber quais causam dor (Fig. 37). 
Este é um exame relativamente fácil em animais jovens e 
essencial para detectar precocemente artrites sépticas em 
vitelos recém-nascidos. Esta situação não deve ser confun-
dida com disfunções congénitas, como por exemplo con-
tractura dos tendões flexores (Fig. 38). O bloqueio com 
anestésicos locais é possível, mas muito menos usado do 
que em equídeos. 
4.3. O exame neurológico 
Por se tratar de uma área muito específica do exame clínico 
iremos fazer uma abordagem mais pormenorizada. Este 
tipo de exame, por ser mais complexo e demorado, não é 
efectuado por rotina sendo limitado aos casos em que se 
detectam alterações do comportamento, incoordenação, 
paresias, hiperestesias, convulsões ou qualquer outra con-
dição que faça suspeitar de uma doença neurológica. 
Uma das primeiras considerações a fazer antes de iniciar o 
exame é determinar se se trata efectivamente de uma do-
ença neurológica versus uma doença metabólica (e.g. hipo-
magnesiemia ou hipocalcémia), nutricional (e.g. doença do 
músculo branco) ou de origem músculo-esquelética (e.g. 
miopatia). Ou seja, a fraca resposta a estímulos pode ocor-
rer não por uma doença ou lesão neurológica, mas por uma 
incapacidade de reagir. 
Algumas características do animal afectado permitem 
avançar com alguns diagnósticos diferenciais e descartar 
outros - e.g. meningite em animais jovens, BSE em adultos, 
lesões congénitas típicas de certas raças, cetose nervosa 
em vacas com alta produção leiteira. 
Finalmente devemos fazer uma boa avaliação do ambiente 
de onde provém o animal (e.g. presença de baterias velhaspodem ser causa de problemas por ingestão de metais pe-
sados em vitelos que as lamberam; fungos no azevém po-
dem causar tremores, incoordenação e paresias). Um bom 
exame do local onde está o animal (mesmo que já morto) 
pode dar-nos indicações sobre reacções e comportamen-
tos entretanto alterados ou suprimidos (Fig. 39). 
As perguntas a fazer de seguida são: 1) é um problema do 
SNC, sistema nervoso autónomo (SNA) ou periférico (SNP)? 
2) Se é no SNC: é anterior ao forâmen magno, tem origem 
na medula espinhal ou são nervos periféricos que estão 
afectados? 
É muito importante ter uma boa noção da anatomia do 
SNC e das regiões inervadas por diferentes fibras. Por exem-
plo, a acção e estruturas inervadas pelos nervos cranianos 
são essenciais a um bom exame de disfunções na região da 
cabeça (Tabela 2). 
Para identificar a região ou estrutura lesionada correcta-
mente existem uma série de exames e perguntas que de-
vem ser feitas: 
• História: para além da anamnese geral (já apresentada) 
deveremos saber quando se deu o início dos sinais, a 
evolução (e.g. progressiva, não progressiva, episódica), 
dados epidemiológicos (entrada de novos animais), aces-
so a plantas tóxicas em pastagens ... 
• Relembrar outros sinais do exame clínico (e.g. frequência 
respiratória ou cardíaca, temperatura rectal) 
• Parece ser uma doença exclusivamente neurológica ou 
uma extensão de uma outra afecção (e.g. otite)? 
• Observar estado mental - o animal está alerta ou apáti-
co? Mostra interesse no que o rodeia? 
• Reacção a estímulos dolorosos e não dolorosos - existe 
hiperestesia, alodinia ou hipoestesia? 
• Existe relação de certos sinais com nervos cranianos (Ta-
bela 2)? 
• Posição da cabeça - opistótonos ou cabeça inclinada? 
• Olhos - existe nistagmus (para que lado?), resposta a 
ameaça, reflexo pupilar à luz, reflexo palpebral. 
• Alterações nos movimentos da língua, mastigação, rumi-
nação, deglutição? 
• Tipo de postura e andamentos: paresia (fraqueza) ou pa-
ralisia? Hipo ou hipermetria? Andar em círculos? 
• Comportamentos anormais - head-pressing, picacismo, 
agressividade, isolamento ... 
• Qual a tonicidade muscular- hipo or hipértonos?Timpa-
nismo? 
• Presença de reflexos do aparelho locomotor: patelar, de 
retirada? Aumentados ou diminuídos? 
• Reacção a testes de propriocepção. 
O exame físico neurológico pode ser complementado por 
uma análise do líquido cefalo-raquidiano (LCR) através de 
uma punção lombar (entre LS e S1). Notar: quantidade, 
pressão (saída de fluido imediatamente após punção?), tur-
vação (Fig. 40). Enviar quanto antes para avaliação de pro-
1 - Olfactlvo 
11-Ôptico 
Ili - Oculomotor 
IV -Troclear 
V-Trigémeo 
VI - Abducente 
VII-Facial 
VIII- Vestlbulococlear/auditlvo 
IX - Glossofaríngeo 
X-Vago 
XI- Espinhal/Acessório 
XII - Hipoglossal 
na. - n~o se aplica 
Olfacto 
Visão 
Movimento 
do olho 
Movimento 
do olho 
Movimentos 
mastigatórios, 
sensibilidade 
da face 
Movimento 
lateral do olho 
Músculos da 
face. Movimento 
da língua 
Audição 
e equilíbrio 
Língua e faringe 
Faringe, laringe, 
coração, vísceras 
Músculos 
do pescoço 
Músculo 
da língua 
n.a. 
Reflexo de ameaça 
Reflexo pupilar à luz, movimento 
horizontal do olho 
Estender cabeça 
Reflexo palpebral. Observar 
movimento da mandíbula. 
Observar movimento do olho ao 
toque. 
Sensação na face. Reacção ao 
toque na face. Reflexo de ameaça 
Observar movimento vertical do 
olho. Ameaça auditiva em zona 
cega. 
Reflexo de engasgo à palpação da 
faringe. Movimentos da língua. 
Reflexo de engasgo, FC, 
contracções ruminais. 
Observar facilidade de 
movimentação do pescoço. 
Observar movimentos da llngua 
Difícil de avaliar em bovinos 
Choque com objectos, não foge 
ou reage a ameaça 
Estrabismo ventro-lateral, 
midríase 
Estrabismo dorso-lateral 
Bilateral = mandíbula descaída. 
Unilateral = dificuldade de 
ruminação, perda de ingesta, 
acumulação de ingesta na 
bochecha 
Estrabismo medial. Incapacidade 
de recuar globo ocular ao toque. 
Paralisia da face, ptialismo 
Ausência de resposta a estímulo 
auditivo, cabeça inclinada, 
nistagmus 
Dificuldade de deglutição. 
Engasgar. Falso trajectos. 
Síndrome vagai, timpanismo, 
dispneia, bradicardia 
Cabeça baixa. Pescoço estendido 
para baixo. 
Desvio da língua para o lado da 
lesão, Não recolhe a língua 
exteriorizada. 
teína, presença de leucócitos e bacteriologia. A punção 
cervical é bastante mais arriscada e difícil em bovinos e ofe-
rece poucas vantagens em relação à punção lombar. 
hiperestesia, epilepsia, convulsões, tremores, opistoto-
nus ... ) ou excessiva modelação/inibição das funções (de-
pressão, head pressing, colapso, coma ... ). 
4.3.1. Lesões cerebrais ou dos nervos cranianos 
Se bem que a relação não seja sempre linear, é possível pre-
ver a localização aproximada da lesão através dos sinais clí-
nicos exibidos (Tabelas 2 e 3). 
Lesão generalizada do SNC caracteriza-se por evidentes si-
nais de disfunção cerebral e pode apresentar-se como defi-
cite de modelação/inibição da actividade neurológica (e.g. 
Lesões ou doenças predominantemente cerebrais normal-
mente acompanham-se de depressão, apatia, cegueira, 
convulsões ou comportamentos e movimentos estranhos 
e compulsivos. Lesões do cerebelo correspondem a altera-
ções de movimentos musculares - tremores, balancear, in-
coordenação, hipermetria, opistótonos e ataxia. Lesões do 
sistema vestibular caracterizam-se por cabeça inclinada, fal-
ta de equilíbrio e de propriocepção, nistagmos e torneio. As 
principais causas são listeriose, lesões congénitas [hidrocé-
Cérebro - cortex 
Cerebelo 
Vestibular (periférico) 
Vestibular (central) 
Tálamo e hipotálamo 
HACIONADOS COM ZONA LESIONADA 
Convulsões 
Depressão - Sistema Reticular 
Cegueira cortical (sem lesão ocular) 
Demência - comportamentos estranhos 
Opistótonos 
Headpressing 
Bocejar 
Vocalização anormal 
Andar em círculos (circling) 
Ataxia (c/ ou si paresia) 
Tremores 
Estação alargada 
Hipermetria 
Hipertónus muscular 
Quedas para trás 
Deficit de propriocepção (inconsciente) 
Ausência de reflexo de ameaça, mas sem cegueira 
Cabeça descaída (para o lado da lesão) 
Pálpebra semi-cerrada (para o lado da lesão) 
Andar em círculo (para o lado da lesão) 
Encostar (para o lado da lesão) 
Nistagmos (geralmente horizontal) 
Ataxia c/ e s/ fraqueza 
Alerta, desperta e mantém apetite 
Cabeça descaída 
Pálpebra semi-cerrada 
Andar em círculo (para o lado da lesão) 
Hemiplegia 
Encostar (para o lado da lesão) 
Nistagmos (horizontal, vertical, rotatório) 
Ataxia c/ fraqueza 
Perda de apetite 
Depressão e demência 
Alteração de comportamento 
Desregulação da temperatura. Golpe de calor? 
Disfunção endócrina 
falo (compressão por acumulação de LCR) ou hipoplasia 
cerebral (e.g. BVD)J, lesão do ouvido médio/interno por oti-
te ou abcesso. 
tores com origem periférica. Grande parte dos deficites dos 
nervos cranianos têm origem em lesões no tronco cerebral. 
Certos agentes neurotrópicos atingem esta zona através 
das fibras oriundas do SNP (e.g. vírus da raiva e Listeria mo-
nocytogenes) e exercem aí o seu efeito patogénico - síndro-
me vestibular, sinais de torneio, hemiplegia generalizada, 
O tronco cerebral contém importantes centros neuroacti-
vos e núcleos de vários nervos cranianos, para além de ser 
uma zona de processamento de estímulos sensitivos e mo-
alteração do comportamento. O nistagmos ocorre em ca-
sos de lesões no tronco cerebral, mas também no cerebelo 
ou ouvido interno. 
A observação do grau de resposta a estímulos pode ser im-
portante para identificar a zona do SNC ou o(s) nervo(s) 
craniano(s) afectado(s). A falta de resposta ao reflexo deameaça (colocar um plástico ou vidro transparente entre a 
mão em movimento para ter a certeza de não ser o movi-
mento do ar a provocar a reacção) pode indicar lesão do 
olho, nervo óptico ou n. VII. A ausência de reacção ao teste 
de fixação (seguir com os olhos um lenço deixado cair à 
frente) pode corresponder a lesões oculares, SNC ou n. li, IV 
ou VI. O reflexo palpebral pode estar diminuído em casos de 
lesão do n. V ou VII. O reflexo pupilar à luz deve ser avaliado 
num ambiente escuro e deve ser prestada a atenção à sime-
tria do reflexo. Cegueira com presença de reflexo pupilar in-
dica lesão a nível central, enquanto que cegueira sem refle-
xo pupilar à luz sugere lesão ocular ou no tronco cerebral. 
Ausência de reflexo corneal é típica de lesão do n. Ili e VI. O 
estrabismo pode ser congénito, mas quando adquirido 
pode corresponder a lesões de nervos cranianos (Tabela 2). 
Não há síndromes ou doenças relacionadas com lesões 
exclusivas do SN Autónomo. No entanto, intoxicações 
com compostos com actividade neurotransmissora, po-
dem exacerbar ou inibir a actividade do parassimpático 
ou do simpático. As situações mais frequentes são as in-
toxicações por compostos de acção parasimpaticomi-
mética (e.g. organofosforados) que se caracterizam por 
hipersalivação, miose, diarreia, tremores, espasmos mus-
culares e convulsões. 
4.3.2. Lesões da espinhal-medula (Tabela 4) 
As lesões da medula espinhal e/ou coluna vertebral são relati-
vamente raras em bovinos e geralmente relacionam-se com 
traumatismos. É importante que a sua localização seja o mais 
precisa possível, mas o exame neurológico exaustivo pode ser 
difícil em bovinos adultos, tanto pela discreta exibição de dor 
como pela corpulência do animal que dificulta uma avaliação 
correcta das reacções posturais, reflexos e mesmo tónus e 
movimento. Provocar uma reacção de retirada por picada de 
agulha no sentido caudal pode dar uma ideia da localização 
da lesão quando ocorre transição de hiperestesia para hipoes-
tesia. No entanto, lembrar que pode haver perda de reflexos 
sem alterações de nocicepção e por isso deve-se ter cuidado 
para não causar excessiva dor ao animal. 
As células do neurónio motor superior (NMS), localizadas 
no cérebro, estimulam ou inibem as células do neurónio 
motor inferior (NMI), mantêm o tónus, iniciam o movimen-
to e mantêm a postura. As células do neurónio motor infe-
rior (NMI) estão localizadas na medula espinhal e inervam 
directamente os músculos e órgãos efectores. De uma for-
ma resumida temos que: 
• das lesões de NMS resultam reflexos normais ou aumen-
tados e atrofia muscular progressiva e discreta. 
• das lesões de NMI resultam reflexos diminuídos ou au-
sentes e atrofia muscular rápida e severa. 
Um segmento espinhal é definido como uma porção de 
medula que dá origem a um par de nervos espinhais. Em 
termos de função a medula espinhal é dividida em cinco 
segmentos: Cl-CS, C6-T2, T3-L3, L4-S2, S3-cd5. As células de 
neurónio motor inferior (NMI) para os membros torácico e 
pélvico estão localizadas na intumescência cervical (C6-T2) 
e lombo-sagrada (L4-S3), respectivamente. Geralmente as 
lesões medulares provocam uma lesão do NMS e da pro-
priocepção caudalmente à zona afectada. Lesões localiza-
das na intumescência cervical ou lombo-sagrada afectam 
NMI para os membros anteriores ou posteriores, respectiva-
mente. 
Salvo raras excepções as lesões da medula provocam uma 
mesma sequência de alterações que se inicia com perda 
de propriocepção, perda de movimento e finalmente de 
nocicepção. 
C1-CS 
Alteração da postura e movimento da cabeça e pescoço 
Perda de sensibilidade superficial 
Défice da propriocepção consciente 
Reflexos aumentados 
Ataxia/fraqueza nos quatro membros 
Prostração - só levanta cabeça se lesão for caudal a C4 
Rigidez de movimentos a virar 
Tropeça ou arrasta boleto. Dificuldade em levantar membro interior quando obrigada a andar em círculo 
Membros posteriores hiper-reflexivos 
Reflexos dos membros anteriores reduzidos_ 
C6-T2 Tropeça por deficiente propriocepção dos membros anteriores 
Perda de sensibilidade superficial 
T3-L3 
Ataxia/fraqueza - membros anteriores 
Reflexos nos membros anteriores normais 
Membros posteriores hiper-reflexivos 
Deficiente propriocepção dos posteriores 
Perda de sensibilidade superficial (a jusante da lesão) 
Ataxia/fraqueza - membros posteriores 
Posição "cão sentado" 
Bexiga distendida de difícil esvaziamento, esfíncter uretral espático. 
L4-S2 
51-52 
Reflexos nos membros anteriores normais 
Reflexos dos posteriores diminuídos 
Deficiente propriocepção dos posteriores 
Perda de sensibilidade superficial (caudal à da lesão) 
Ataxia/fraqueza - membros posteriores 
Distensão da bexiga. Perda do tónus anal 
Incontinência urinária (atonia do músculo detrusor). 
53-Cd5 Cauda flácida, falta de sensibilidade no pénis, vulva e períneo. 
Deste modo o diagnóstico da localização da lesão espi-
nhal é relativamente fácil se fizermos um exame neuro-
lógico correcto e baseia-se na seguinte combinação de 
sinais de NMS, NMI e normalidade para os quatro mem-
bro s: 
Zona cranial à lesão --t reflexos normais; Zona da lesão --t 
reflexos NMI; Zona caudal à lesão --t reflexos NMS. 
As tabelas 4 e 5 resumem os sinais esperados para as dife-
rentes localizações das lesões medulares. 
(1-(5 
C6-T2 
T3-L3 
L4-53 
54-cdS 
NMS Normal ou NMS 
NMI Normal ou NMS 
Normais NMS 
Normais NMI 
Normais Normais 
4.3.3. Lesões dos nervos periféricos 
Os nervos periféricos são frequentemente lesionados ou 
traumatizados no casos de agressões, partos distócicos, 
decúbito prolongado em superfícies duras e injecções de 
produtos irritantes em animais com pequeno volume 
muscular (lesão do ciático em vitelos após injecção na 
região da coxa) . Para se perceber qual o nervo lesionado 
é preciso saber bem qual a zona inervada por cada ramo 
e quais as funções do nervo. O exame à distância é essen-
cial para uma correcta apreciação da postura, movimen-
tos e paresias. O exame de proximidade inclui a avaliação 
da presença de dor, redução da amplitude de movimen-
tos e presença e grau de alguns reflexos (e.g. reflexo pate-
lar, reflexo do tricipede, reflexo pedal). Algumas situações 
frequentes em bovinos são lesões do: plexo braquial por 
excessiva tracção em partos ou membro anterior preso 
pela axila em portões, conduz a paralisia quase total do 
membro; nervo radial com incapacidade de estender as 
articulações do cotovelo, carpo e dígitos e que normal-
mente sucede a decúbito lateral prolongado (Fig. 41); 
nervo ciático e nervo obturador após partos difíceis e 
conduzindo a adução completa uni ou bilateral (Fig. 42) e 
arrastar das pinças quando o animal anda; lesão do nervo 
ciático com incapacidade de flectir membro posterior 
após injecções em vitelos com produtos oleosos ou irri-
tantes; lesão do nervo peroneal após decúbito prolonga-
do e caracterizado pela incapacidade de estender o bole-
to fazendo com que a face cranial arraste no chão (Figura 
43); lesão do nervo tibial que se caracteriza por curvilhão 
flectido e descaído e boleto constantemente flectido, 
mas a úngula normalmente assenta completamente no 
solo (Fig. 44). 
1. ANÁLISES SANGUÍNEAS EM BOVINOS 
- ASPECTOS PRÁTICOS. 
Nesta secção iremos apresentar alguns dos parâmetros ob-
tidos por análise sanguínea, o significado das principais al-
terações e como tirar o melhor partido dos resultados. 
Em clínica de bovinos o factor económico tem um enorme 
peso e portanto é fundamental: i) fazer uma selecção crite-
riosa dos parâmetros que serão mais úteis para o diagnósti-
co, sem o risco de perder informações preciosas; ii) colher e 
enviar o sangue/soro/plasma nas melhores condições para 
que a possibilidade de erros seja minimizada. 
Começaremos por fornecer um resumo dasregras essen-
ciais para melhor aproveitamento deste meio complemen-
tar de diagnóstico. 
• Não ler os resultados "longe" do animal - os exames labo-
ratoriais só devem servir para excluir ou confirmar os 
diagnósticos diferenciais entretanto avançados. Ou, no 
caso do diagnóstico já estar estabelecido, permitem ajui-
zar a gravidade, avaliar o sucesso da terapêutica, prever a 
evolução e avançar com um prognóstico. 
• Valores de referência - os valores no intervalo de refe-
rência são obtidos em circunstâncias (e.g. ambiente, 
raça, sexo, idade) provavelmente diferentes daquelas 
que se tem presente e correspondem a cerca de 95% 
da população testada. Por estas razões a interpretação 
dos resultados deve ser sempre feita com espírito críti-
co (Fig. 1). 
• A sensibilidade e especificidade dos testes variam bas-
tante entre parâmetros. 
• Falsos resultados podem resultar de: má colheita, arma-
zenagem e envio; uso de anticoagulantes não adequa-
dos; tempo decorrente desde a recolha; incorrecta iden-
tificação e informação; terapêutica entretanto instituída; 
complicações da doença original; ou, erros laboratoriais. 
• Variações a nível do laboratório - deve-se ter cuidado 
na comparação de resultados oriundos de laboratórios 
diferentes e, portanto, deve-se evitar usar laboratórios 
diferentes para o mesmo caso clínico. Os laboratórios 
devem saber previamente com que espécie se está a 
trabalhar. 
• Variação devido aos anticoagulantes: 
- nas determinações dos valores de electrólitos devem 
evitar-se compostos contendo sódio ou potássio. 
- o ácido etileno-diamino-tetra-acetico (EDTA), os oxala-
tos e os citratos evitam a coagulação por serem que-
lantes do cálcio. Porque este elemento é um cofactor 
essencial à actividade de algumas enzimas, deve ser 
evitado o EDTA se forem efectuados testes que in-
cluem reacções químicas. 
- a heparina provoca alguma hemólise, com elevação 
dos níveis de potássio. 
- sais de flúor são apenas úteis quando se quer inibir a 
glicó/ise causada pelos eritrócitos, pois prejudicam 
muitas outras reacções enzimáticas. 
- o soro (ausência de anticoagulante) é o ideal para a 
maioria dos parâmetros de bioquímica sanguínea. 
- no plasma (sangue com heparina) pode ser obtida 
muita informação apenas por observação macroscópi-
ca após centrifugação (e.g. hemólise intravascular, lipi-
demia, icterícia). 
Como já se referiu, alguns erros podem ser causados por 
deficiente técnica de colheita, armazenamento, transporte 
e processamento. Alguns exemplos mais comuns são: 
• hemólise por uso de agulhas de calibre demasiado es-
treito; vácuo na seringa demasiado potente; forçar san-
gue para o tubo de colheita através da agulha; tempera-
tura ambiental elevada; trepidação ou vibração intensa. 
A hemólise prejudica os valores do hemograma, altera a 
leitura de outros componentes, se for usada a refracção 
luminosa, e permite a saída de certos elementos (e.g. po-
tássio) do interior das células. 
• stress e excitação do animal (Fig. 2) poderá afectar certos 
valores. 
• tempo desde a última refeição afecta alguns parâmetros, 
especialmente em vitelos pré-ruminantes. 
• temperatura de armazenamento - manter o metabolis-
mo elevado favorece o consumo de certos compostos 
ou aumenta a permeabilidade da membrana celular com 
a consequente passagem para o soro de certos elemen-
tos (e.g. potássio). A refrigeração é aconselhada se as 
amostras demorarem mais do que 1 - 2 horas a entrar no 
laboratório (30 minutos no caso da glucose). 
• o vaso utilizado para a colheita pode influenciar certos 
valores, como os gases sanguíneos, glucose, fósforo 
(mais baixo na jugular do que na mamária devido à se-
creção de fosfatos na saliva) e corpos cetónicos. A coc-
cígea não deve ser usada para o teste de coagulação 
pois a contaminação por tromboplastina dos tecidos é 
muito provável. Pela mesma razão o sangue destinado 
a exames de coagulação deve ser colhido com muito 
cuidado para não incluir componentes de tecidos 
extra-vasculares. 
Para uma correcta análise dos resultados convém relembrar 
a distribuição dos fluidos no organismo (Tabela 1 ): 
Volume total de fluido (VTF) 60% do peso vivo (75% em vitelos) 
Fluido intracelular (FIC) 2/3 VTF; 40% do pv 
Fluido extracelular (FEC) 1 /3 VTF; 30% do pv (50% em vitelos) 
Volume lntravascular 1/4 FEC; 6-8% do pv 
Volume Intersticial e GI 3/4 FEC; 22-24% do pv 
Por vezes a escolha dos parâmetros a avaliar depende da 
história e do quadro clínico, devendo existir um compro-
misso entre o custo e a informação considerada indispensá-
vel. Nestes casos poderá ser preferível o pedido de um pai-
nel de análises. Por exemplo, as situações clínicas indicadas 
exigem as seguintes avaliações: 
• diarreia neo-natal (i.e. decidir composição da fluidotera-
pia) - pH, Na+, c1-, K+, Excesso de Base ou HC03-, ureia, 
creatinina. 
• fraqueza muscular (e.g. vaca caída) - CPK, AST, pH, K+, 
Ca2+, Na+ 
• excitação e comportamento estranho - Mg2+, Ca2+, 
~-hidroxibutirato. Na+ e glucose (vitelos). 
• obstrução gastro-intestinal (e.g. para prognóstico antes 
da cirurgia) - hematócrito, PT, pH, K+, c1-, glucose. 
• painel hepático (e.g. fígado gordo) - PT, albumina, trigli-
céridos, SDH, AST, GGT, bilirrubina, ureia. 
• dor abdominal - hemograma e leucograma, fibrinogé-
nio, PT e albumina. 
• problemas do pós-parto (e.g. DAE, metrites ... ) - Mg2+, 
Ca2+, P(i)+, ácidos gordos livres (NEFA), ~-hidroxibutirato. 
De seguida resumem-se os significados das alterações dos pa-
râmetros sanguíneos mais frequentemente avaliados em clíni-
ca de bovinos. Os valores de referência podem ser consultados 
na Tabela 3 e 4, no fim deste capítulo. 
Hematocrito (%) 
Significado Volume ocupado pelos eritrócitos por 100 mi de sangue (em tubo de hematócrito ou calculado 
= VCM x n.0 eritrócitos) 
Valores elevados Desidratação, choque. Policitemia. 
Valores diminuídos Anemia - hemólise, hemorragias crónicas, anemia não regenerativa. Hiper-hidratação (iatrogénica 
ou outra) 
Colheita EDTA. 
• Porque o intervalo fisiológico é tão amplo, este é um parâmetro um pouco falível para avaliação do estado de desidratação Poderá ser mais útil se comparar-
mos valores consecutivos do mesmo animaL 
• O melhor método é num tubo de hematócrito após centrifugação Valor calculado a partir do n ° de eritrócitos é mais falível pois é iníluenciado por inúmeros 
factores (e.g. calibração do contador de células). 
Eritrócitos 
Significado Responsáveis pelo transporte de oxigénio (ligação à hemoglobina). Número de eritrócitos por mi-
crolitro de sangue. 
Valores elevados Policitemia e.g. habitats de montanha. Hipoxia prolongada. 
Anemia - hemólise, carências (Fe, Co, Cu), tóxicos, hemorragia crónica (e g. parasitismo, úlceras do 
Valores diminuídos abomaso), ecto e endo-parasitas, doenças hepáticas e doenças crónicas, Erro laboratorial (confusão 
com plaquetas). Hemólise iatrogénica. 
Colheita EDTA. 
• Os ruminantes tem eritrócitos pequenos e por isso a avaliações feitos por instrumentos não calibrados para estas espécies podem dar valores inferiores à realidade 
• Em caso de hemorragia recente poderá não haver alteração no n ° de eritrócitos (só evidente após hemodiluição). 
• Igualmente importante observar certas características morfológicas dos eritrócitos, como por exemplo: 
• Presença de hemoparasitas - Anaplasma spp. Babesía spp, Theílería spp. e Trypanosoma spp. 
• Acantócitos - e g doença hepática 
• Corpos de Heinz - intoxicações (e.g. cobre), deficiência em fósforo ou selén10 
• Reticulócitos - anemia regenerativa Nos bovinos a mobilização de eritrócitos imaturos começa 2-4 dias após perdas importantes e atinge o pico aos 4-7 dias. 
Volume Corpuscular Médio (VCM) 
Significado Volume médio do eritrócito individual em microns cúbicos= (hemotócrito x 1 O)/ n.0 eritrócitos

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