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Capítulo anatomia e f siologia do intestino grosso i 1 Introdução O intestino grosso abrange o cólon que vai des- de a válvula ileocecal, do apêndice até o reto, final- mente acabando no canal anal e ânus, dividindo-se em cinco segmentos: cólon direito (cólon ascendente); cólon esquerdo (cólon descendente); cólon transverso; cólon sigmoide; reto. A extensão do cólon é de 1,5 metro e compreen- de as seguintes camadas: serosa – muscular circular – muscular longitudinal (tênias) – submucosa – mucosa. Flexura hepática: separa o cólon direito do transverso. Flexura esplênica: separa o transverso do cólon esquerdo. O cólon aparece no quadrante inferior direito e faz a forma de uma ferradura, terminando na pelve. Não existem vilos na mucosa colônica como no intes- tino delgado; o que é característico histologicamente são as criptas de Lieberkun. Embora o cólon seja considerado intraperitonial, é importante lembrar que o cólon ascendente e descenden- te são retroperitoniais. Assim, um divertículo que rompe, por exemplo, no cólon descendente pode dar pneumore- troperitônio, e não necessariamente pneumoperitônio. Durante a embriologia, o cólon roda em sen- tido horário ao longo do eixo da artéria mesentérica superior (AMS). O ceco migra do quadrante superior esquerdo do abdome até sua posição anatômica no quadrante inferior direito fi xado pelo peritônio. Anor- malidades do ceco podem ocorrer com rotações in- completas do intestino ou mesmo na má rotação onde o ceco pode se localizar solto na cavidade peritonial, o que pode levar à torção do intestino (volvo). Existem três diferenças fundamentais do cólon para o intestino delgado: 1. tênias; 2. haustrações; 3. apêndices epiploicos. A camada muscular longitudinal do cólon consti- tui, na tênia, característica do intestino grosso. A união das três tênias é no apêndice vermiforme. No retossig- moide, as tênias geralmente coalescem e formam uma camada muscular única ao reto. Quando as tênias se contraem, fi ca aquela forma característica do cólon com as haustrações (saculações que se projetam para o inte- rior do cólon e dão o aspecto característico no raio X). As haustrações são semicirculares e diferentes das válvulas coniventes do intestino delgado (válvulas de Ker- ckring), que são circulares na totalidade da luz intestinal. Os apêndices epiploicos são extensões da gordu- ra peritonial na borda antimesentérica do cólon. Ceco e apêndice A válvula ileocecal é um esfíncter localizado na junção do ileoterminal e o ceco. O esfíncter é o resul- tado da fusão das fi bras musculares circulares superio- res e inferiores do íleo e ceco, que previnem o refl uxo das fezes do ceco de volta ao ileoterminal. Embora não bem desenvolvido anatomicamente como a válvula ileocecal, existe um outro esfíncter na junção do ceco com o cólon ascendente. Essa válvula ce- cocolônica foi estudada in vivo através da colonoscopia e ex vivo em espécimes cirúrgicos após estimulação far- macológica (é equivalente ao rúmen nos ruminantes). O ceco mede de 7-9 cm, é intraperitonial e é fi xa- do no peritônio no quadrante inferior direito. Como o ceco é grande em diâmetro, difi cilmente existe obstru- ção; na maioria das patologias que acomete essa área existe anemia e sintomas mais arrastados. Lei de la Place = Tensão na parede + pressão x raio Espessura Assim, segundo a lei de La Place, o ceco é geral- mente o sítio de rotura quando existe uma obstrução distal no cólon (obstrução em alça fechada). O apêndice vermiforme geralmente se projeta inferomedialmente no ceco. O comprimento e curso do apêndice são amplamente variáveis, sendo que a ponta do apêndice pode estar apontando para o baço (mais comum), mas também pode estar na pelve ou mesmo retrocecal (na apendicite retrocecal pode ocor- rer diarreia e leucocitúria). Similarmente ao ceco, o apêndice pode ser intrape- ritonial ou parcialmente retroperitonial. Quando o apên- dice é retroperitonial é chamado apêndice retrocecal. Cólon ascendente e fl exura hepática do cólon Localiza-se no quadrante direito do abdome, indo até próximo ao fígado (ângulo ou fl exura hepáti- ca, medindo 15 cm) onde dobra-se transversalmente para formar o cólon transverso. A fl exura hepática do Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 201510 cólon é envolvida por dobra de peritônio que se fi xa ao retroperitônio, fígado e vesícula em local muito próxi- mo ao duodeno. Assim, ocasionalmente, os tumores envolvendo a fl exura hepática do cólon podem fazer erosão para o duodeno. Cólon transverso e fl exura esplênica É totalmente intraperitonial e mede cerca de 50 cm e é a porção mais móvel do cólon, podendo ser acha- do no abdome superior, mas pode chegar até a pelve. O cólon transverso é suspenso pelo mesocólon transverso e coberto pelo omento maior. O omento maior pode ser separado do cólon transverso sem sa- crifício vascular algum. Esse é o plano para a entrada da retrocavidade dos omentons (plano da gastrecto- mia) onde temos a exposição da parede posterior do estômago e pâncreas. A fl exura esplênica é o ângulo entre o cólon transverso e o cólon descendente localizado mais ce- falicamente que a fl exura hepática. Junto com o reto infraperitonial, a fl exura esplênica é uma das mais di- fíceis de se abordar e expor. Os ligamentos espleno- cólico e frenocólico devem ser cuidadosamente dis- secados durante a mobilização do cólon para evitar posterior esplenectomia. Cólon descendente e sigmoide O cólon descendente está no quadrante esquerdo do abdome e vai até o sigmoide. É parcialmente peritonizado, pois está retroperitonial. O sigmoide está na pelve e tem a forma de “S” com 10-30 cm e acaba no reto. O sigmoide tem mesentério livre, e muitas vezes existe propensão ao volvo. Alguns já descreveram também zona de esfíncter na junção retossigmoide (18 cm da margem anal). É essa área que é propensa a AGANGLIONOSE, criando a acalásia do sigmoide que ocorre não somente por megacólon chagási- co, mas também na constipação crônica. Reto Tamanho = 15 cm A junção retossigmoidiana é delimitada por ou- tra fl exura em nível de promontório sacral. A junção do sigmoide móvel com o reto, que é mais fi xo, forma o ângulo sigmoidorretal. A origem do reto é no pro- montório sacral, fazendo curvas junto ao sacro (vál- vulas de Houston – geralmente três – que aparecem como projeções intraluminais) e fi nalmente se aca- ba no canal anal e ânus. Entretanto, antes do canal anal existe uma anteriorização do reto pelo músculo puborretal (ângulo anorretal). Esses ângulos têm a forma de um número 7 e exercem papel fundamental na manobra de Valsalva com o aumento da pressão intra-abdominal. A ampola retal é a parte mais distal do reto que é fusiforme e vai aumentando progressivamente de tamanho. No reto inferiormente já não existe peritô- nio; assim, podemos dizer que a maior parte do reto é EXTRAPERITONIAL. Sangue e linfáticos chegam ao reto através do mesorreto, que cobre a parede latero- posterior do reto. Ânus É a porção terminal do trato intestinal. É envol- vido por dois tubos musculares que estão envolvidos no mecanismo da continência. Desprovido de glândulas sebáceas, sudoríparas ou mesmo folículos pilosos. O anoderma acaba na margem anal. A área de mucosa colônica que se une ao anoderma cria a linha denteada, que está localizada a 1,5 cm da margem anal. Acima da linha denteada existe zona de transição de 6-12 mm, onde o epitélio escamoso gradualmente muda para cilíndrico simples. Acima da linha dentea- da (ou pectínea), o intestino tem inervação simpática e parassimpática; a irrigação, a drenagem venosa e a linfática estão relacionadas aos vasos hipogástricos.Abaixo, a inervação é somática, e o suprimento san- guíneo e a drenagem venosa derivam do sistema he- morroidário inferior. Colunas de Morgani (8 a 14) são pregas na mu- cosa, localizadas acima da linha denteada, onde come- çam a coalescer para formar as criptas anais. O canal anal é envolvido por dois músculos tipo esfíncter que são responsáveis pela continência: Esfíncter interno: continuação da camada mus- cular interna do reto; é musculatura lisa com controle involuntário e inervação autônoma. Este músculo liso tem espessura média 0,5 cm e comprimento de 2,5 cm a 4 cm. Esfíncter externo: músculo estriado com controle voluntário e inervação somática. A parte mais profun- da do esfi ncter está intimamente relacionada ao mús- culo puborretal, por qual é considerado atualmente um componente de ambos os grupos musculares, ele- vador do ânus e esfíncter externo do ânus. 1 Anatomia e fi siologia do intestino grosso 11 Vascularização Arterial do cólon Do ceco até a metade proximal do transverso = artéria mesentérica superior (MAS) ½ distal do transverso, cólon descendente e sigmoide = artéria mesentérica inferior (AM) Na maioria das pessoas a artéria ileocólica e a artéria cólica média são ramos separados da MAS. A artéria cólica direita nasce da ileocólica ou mesmo da cólica média. A vascularização do cólon esquerdo e sigmoide vem da AMI através da cólica esquerda e ramos de vasos sigmoidianos e hemorroidários superiores. Arterial do reto É segmentar: 1. artéria retal superior (ramo terminal da AMS) vasculariza o reto superior e médio; 2. artéria retal média e inferior (ramos da artéria ilíaca interna). Artéria marginal de Drummond: bifurcação de vasos formando arcadas de 1-2 cm da borda mesentérica. Arcada de Riolan: anastomose entre as arcadas de vasos mesentéricos superior e inferior. Anomalias vasculares são relativamente comuns no cólon. Assim, a cólica direita pode nascer da AMS em 10%; a artéria hepática direita acessória pode nascer da AMS e mesmo a artéria cólica média pode nascer da ar- téria esplênica. Omento maior (removido) Tênia omental do colo (exposta pelo gancho) Tênia omental do colo Tênia livre do colo Apêndices omentais (adiposos) Pregas semilunares do colo Junção retossigmoidea Reto Mesocolo sigmoide Tênia livre do colo Tênia mesocólica do colo (exposta pelo gancho) Mesocolo transverso Flexura direita do colo Flexura esquerda do colo Figura 1.1 Topografi a e estrutura do cólon. Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 201512 Artéria cólica média Mesocolo transverso Artéria mesentérica superior 1ª artéria jejunal Artérias jejunais e ileais Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artéria mesentérica inferior Artéria cólica esquerda Ramo ascendente Ramo descendente Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artérias sigmóideas Mesocolo sigmoide Artéria retal superior Artéria retossigmóideas Bifurcação da artéria retal superior Artéria pudenda interna no canal pudendo (de Alcock) Artérias retas Artéria retal infeiorRamo da artéria retal superior Artéria retal média Artéria vesical inferior Artéria vesical superior (da parte aberta da artéria umbilical) Artéria sacral mediana (da parte abdominal da aorta) Artéria obturatória Artéria ilíaca interna Artéria apendicular Artéria cecal posterior Artéria cecal anterior Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artéria ileocólica Artéria cólica direita Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artéria pancreatico- duodenal inferior Parte comum Artérias retas Ramo posterior Ramo anterior Ramo cólico Ramo ileal Arco justacólico (artéria marginal do colo) Figura 1.2 Suprimento vascular, linfático e nervoso do intestino grosso. Atenção: ponto crítico de Griffi ths localizado no ângulo esplênico e que corresponde ao limite de separação entre os territórios da artéria mesentérica superior e inferior. Ponto crítico de SUDECK: é uma região do cólon em que recebe, escassamente, uma mistura de dois suprimentos sanguíneos, das artérias sigmoideanas e retal superior (junção retossigmoide). As artérias intermediárias Situam-se entre os três maiores ramos aórticos (AMS, TC e AMI) e os plexos microscópicos. São constitu- ídas por uma rede de vasos anatomicamente visíveis, que incluem os vasos intestinais, as arcadas do intestino delgado e a circulação marginal e os vasos retos do cólon. Os ramos iniciais da AMS para o intestino delgado são estreitos, espaçados a intervalos de 1-2 cm e não formam um sistema de arcada. Porém, à medida que se avança distalmente, o sistema torna-se mais complexo e desenvolve-se em uma série de três a quatro arcadas paralelas. A artéria marginal do cólon (formada pela união dos três principais ramos colônicos que têm origem no lado direito da AMS) continua em direção à fl exura esplênica, para se juntar à artéria cólica esquerda (ramo da AMI). A disposição dos vasos ao longo do cólon direito é constante e inclui uma artéria marginal fornecendo va- sos retos e breves, os quais ocasionalmente se comunicam. Estes vasos retos dividem-se em ramos anterior e posterior, os quais caminham em direção à tênia antimesentérica, onde se dividem novamente e atravessam a musculatura circular. Os vasos breves, por sua vez, dirigem-se para a margem mesentérica onde se anastomosam e, fi nalmente, atravessam o músculo de cada lado da tênia mesentérica. 1 Anatomia e fi siologia do intestino grosso 13 Tênia antimesentérica Tênia mesentérica Vaso breve Vaso reto Artéria marginal Apêndice epiploico Circulação completa Figura 1.3 Vasos retos e breves. Microcirculação Compreende os vasos intramurais e a circulação para as vilosidades. Os primeiros são constituídos por pequenos ramos que partem dos vasos retos e breves e que se dirigem ao peritônio visceral e apêndices epiploi- cos (no caso do cólon). Abaixo da serosa, eles formam um plexo muscular externo e, após perfurarem o mús- culo, as artérias se unem em um rico plexo submucoso, o qual se estende como uma camada contínua ao longo do intestino. Nesta rede e entre os vasos existe uma ma- lha mais fi na, da qual se originam arteríolas que cursam em direção às vilosidades ou entre as criptas para suprir a mucosa. O plexo submucoso é mais desenvolvido no intestino delgado do que no cólon, o que torna aquele mais resistente à isquemia do que este. A densidade vascular é mais pronunciada nas ca- madas mucosa e submucosa. Parecem existir conexões arteriovenosas no plexo submucoso, embora alguns autores considerem que elas sejam pouco numerosas e de pequena importância funcional. Essas comunica- ções são mais facilmente demonstradas no estômago. Os vasos do plexo submucoso fornecem uma única arteríola para cada vilosidade, a qual caminha através do estroma central e se torna capilarizada (isto é, perde a camada muscular lisa) logo após ter deixa- do a base. À medida que se aproxima da ponta da vi- losidade, a arteríola começa a se arborizar, podendo se dividir em um sistema muito complicado de fi nos canais subepiteliais, os quais eventualmente drenam para uma veia central. Esta relação artéria/veia na cir- culação das vilosidades é extremamente íntima e de crucial importância na manutenção da circulação da mucosa em estados de hipotensão e na produção de pseudomembranas (trocas contracorrentes de oxigê- nio e nutrientes). Como resultado, a extremidade das vilosidades é relativamente hipóxica, o que explica a vulnerabilidade dessas células durante a isquemia. Drenagem venosa Veia mesentérica inferior = carreia sangue do có- lon esquerdo para a veia esplênica. Veia mesentérica superior = carreia sangue do cólon direito ese junta com a veia esplênica para for- mar a veia porta. A veia retal superior carreia sangue do reto supe- rior e médio para a veia porta e mesentérica inferior. As veias retais médias drenam o reto inferior e o canal anal, esvaziando na veia cava via veias ilíacas internas. O importante é notar que tumores do reto po- dem dar metástase para canais venosos que entram no sistema portal (veia porta) ou, ainda, sistêmico (veia cava) e daí disseminação generalizada. Drenagem linfática Os linfáticos intramurais da mucosa e submuco- sa perfuram a camada muscular junto com os vasos e formam a rede linfática subserosa que se dirige à in- serção do mesocólon para formar as cadeias linfáticas extramurais que acompanham os vasos sanguíneos. De acordo com sua localização, formam quatro grupos: epicólicos, paracólicos, intermediários e principais. A drenagem linfática do reto e canal anal se faz através de três pedículos; pedículo superior formado pe- los gânglios que acompanham as artérias retal superior e mesentérica inferior drenando para os gânglios peria- órticos; pedículo médio, drenando para gânglios ao nível da origem da artéria retal média, sacrais laterais e sacral média; pedículo inferior, que drena a porção inferior do reto e o canal anal para os gânglios inguinais, ilíacos ex- ternos e na origem da artéria pudenta interna. Nodos mesentéricos superiores Nodos ileocólicos Ceco Nodos retais médios Com vasos retais inferiores para os nodos ilíacos internos Nodos ilíacos Para os nodos inguinais Ânus Reto Colo sigmoide Nodos mesentéricos inferiores Nodos cólicos esquerdos Nodos paracólicos AMI AMS Colo Colo Co lo transverso as ce nd en te descendente Figura 1.4 Diagrama dos vasos linfáticos do intestino grosso. Os linfonodos do cólon dispõem-se em quatro grupos – 1: nodos cólicos, sobre a parede do intestino; 2: nodos paracólicos, ao longo das margens mediais dos colos ascendente e descendente; 3: nodos cólicos direitos, médios e esquerdos, ao longo das respectivas artérias cólicas; 4: nodos mesentéricos superiores e inferiores, próximos aos troncos principais das artérias mesentérica superior (AMS) e inferior (AMI). Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 201514 Inervação do cólon O intestino grosso é inervado por fi bras simpáti- cas e parassimpáticas. Simpático: Cólon direito: gânglios celíacos e mesentérico superior; cólon esquerdo: plexo mesentérico inferior. Parassimpático: Cólon direito: nervo vago (X); cólon esquerdo: plexo hipogástrico (pélvico). O parassimpático estimula a motilidade e o sim- pático inibe. Inervação autônoma intrínseca do intesti- no grosso: Plexo de Meissner (submucoso) e Auerbach (mio- entérico), que são mais numerosos na porção distal do intestino. A ausência ou diminuição desses plexos de- termina distúrbios na motilidade de grande repercus- são clínica (megacólon adquirido ou congênito). Fisiologia A reciclagem dos nutrientes depende da ativida- de metabólica da fl ora intestinal, da motilidade colô- nica e da absorção e secreção da mucosa. Função do cólon: reciclagem de nutrientes. Função do reto: eliminação das fezes. 1. Absorção de água e eletrólitos O cólon, com sua extensão aproximada de 1,5 m, é o segmento do canal alimentar responsável pela esto- cagem, por longos períodos, dos materiais a serem eli- minados pela evacuação. Essa função ocorre em razão de sua grande complacência, capacidade de adaptação e dos seus movimentos de propulsão, peristálticos, pouco frequentes. A ele cabe, também, concluir as últimas eta- pas da absorção de água que recebe do intestino delgado, o que faz com efi ciência até maior, considerando-se que recupera 90% do seu volume, em particular na sua me- tade direita, à custa da passagem de sódio para o meio interno, na troca com potássio, e de cloro por bicarbo- nato, comandadas pela aldosterona. Por intermédio de contrações segmentares, as de maior número, o cólon fi ca dividido em compartimentos funcionais, retardando o deslocamento caudal do seu conteúdo, o que favorece o contato da água com a mucosa, chegando até a produ- zir movimentos anterógrados com o mesmo objetivo. Não há mais nutrientes a serem absorvidos, à exceção de alguns ácidos graxos, remanescendo apenas a ação dos componentes da fl ora bacteriana sobre resíduos não di- geridos, a auxiliar a formação fi nal do bolo fecal. O tempo de trânsito fi siológico pelo cólon pode atingir cerca de 48 horas, portanto, muito acima do observado no intestino delgado. 2. Fermentação bacteriana Os glicídios que não foram digeridos sofrem ação bacteriana e ocorre produção de ácidos graxos de ca- deia curta que fornecem energia para o transporte ati- vo de Na+ na mucosa colônica. 3. Armazenamento de fezes Aquilo que não é absorvido fi ca armazenado no cólon até ser eliminado voluntariamente nas fezes. Aproximadamente 1/3 do peso seco das fezes é BACTÉRIA. Cada grama de fezes contém 1011-1012 bactérias com prevalência de anaeróbios. O intervalo entre as evacuações é infl uenciado por hábitos alimentares e sociais, sendo mais frequen- temente de 24 horas, mas podendo ser considerados normais intervalos de 8 a 12 horas ou de dois a três dias. O importante, do ponto de vista clínico, são as alterações do hábito intestinal que são muitas vezes um sinal precoce de doenças do cólon e do reto. Bacteroides é anaeróbio e é o germe mais comum no cólon. Escherichia coli é o mais comum aeróbio. 4- Gás colônico Resulta de três fatores: (1) ar digerido; (2) produção intraluminal e (3) difusão sanguínea. São eles: nitrogê- nio, oxigênio, CO2 e metano. Repare agora nas bactérias que compõem a microbiota indígena (fl ora normal). Anaeróbicos Coliformes Flora Gram + 101 103 105 107 109 1011 Estômago Duodeno Jejuno Íleo Cólon N úm er o de O rg an is m os / m L Figura 1.5 Composição da fl ora bacteriana de acordo com a topogra- fi a do trato gastrointestinal. 1 Anatomia e fi siologia do intestino grosso 15 ROTEIRO PROPEDÊUTICO BÁSICO eM GINECOLOGIA Capítulo 2 Capítulo Abordagem diagnóstica 2 Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 2015166 Exame clínico Como na avaliação de qualquer afecção, a história clí- nica e o exame físico formam a base para o diagnóstico das doenças do intestino grosso e do ânus. Ainda, orientam o médico na solicitação do exame complementar ideal, redu- zindo custos e minimizando a manipulação do paciente. Os sintomas das afecções colônicas e anorretais são variáveis, e é fundamental a correlação do exame físico com o complementar. Relacionamos a seguir os sinais e sintomas mais comuns em coloproctologia. Dor abdominal: quando decorrente de disten- são do intestino grosso ou de peristaltismo co- lônico exacerbado, a dor abdominal de origem colônica é geralmente em cólica. A dor é do tipo contínua ou em pontada quando provocada por irritação do peritônio visceral. Dor anorretal ou proctalgia: quando ocorre durante a defecação, está frequentemente asso- ciada à fi ssura anal. A proctalgia dos abscessos anorretais é contínua, de forte intensidade, exacerbando-se quando há aumento de pressão intra-abdominal. A dor referida na região sacro- coccígea, de origem proctológica, é rara e geral- mente é ocasionada por infl amação ligamentar ou do periósteo do cóccix. Prurido anal: sintoma muito comum, tem etiologia variável, que inclui higiene precária, dermatite de contato alérgica (produtos de hi- giene pessoal), irritante primário (detergentes), afecções dermatológicas do períneo (psoríase, fungos dermatófi tos e leveduras), neoplasias doânus ou do canal anal e infestações parasitárias como as por Enterobius vermicularis. Pode estar associado à mucorreia, ao sangramento ou a ul- cerações do anoderma. Tenesmo: o tenesmo (esforço evacuatório inefe- tivo, longo e doloroso) é um desconforto frequen- te, decorrente de doenças infl amatórias, infeccio- sas ou neoplásicas dos segmentos anorretais. Alteração do hábito intestinal (constipação e/ ou diarreia): qualquer alteração do hábito intes- tinal, principalmente em pacientes acima de 40 anos, requer investigação colônica. Alteração do hábito intestinal, emagrecimento, anemia e massa palpável sugerem carcinoma do cólon. Os pacientes com carcinomas colorretais distais ou anais podem apresentar fezes em fi ta, puxo e tenesmo. Incontinência: é a incapacidade de controlar fe- zes e fl atos, que indica a ausência de integridade da musculatura e/ou da inervação esfi ncteriana. Prolapso mucoso: é a exteriorização da mu- cosa e submucosa e deve ser diferenciado da procidência, em que todas as camadas do reto são exteriorizadas. Em geral associado à doença hemorroidária, papilas anais hipertrófi cas ou pólipos, o prolapso mucoso pode ou não ocor- rer durante a evacuação e reduzir-se de forma espontânea ou manual. Sangramento: as hemorragias do intestino grosso podem apresentar-se como melena ou enterorragia (hematoquezia), dependendo da intensidade e do local de sangramento. Uma perda de 50 mL de sangue no trato gastroin- testinal superior é suficiente para ocasionar melena. A hemorragia digestiva alta geral- mente produz melena, mas hemorragias ma- ciças do trato gastrointestinal alto ou do in- testino delgado podem exteriorizar-se como enterorragia. A presença de sangue “vivo”, eliminado conjuntamente com as fezes, na superfície externa destas, é geralmente ori- ginária de lesões anorretais distais. Assim, são importantes a sondagem nasogástrica e a aspiração do conteúdo gástrico em pacientes com enterorragia intensa. Evacuação de muco: a produção de muco, as- sociada ou não ao sangramento, geralmente re- laciona-se a doenças infl amatórias do intestino grosso ou ao adenoma viloso do cólon ou reto. Exame físico No exame abdominal, deve-se observar a presen- ça de distensão, peristaltismo visível ou ascite. Procu- ra-se palpar massas em topografi a colônica, identifi car a presença de hepatomegalia, esplenomegalia e linfa- denomegalia inguinal. O exame proctológico inicia-se com a inspeção da região perineal. Normalmente o períneo apresenta simetria e o orifício anal como fenda longitudinal. A simples inspeção pode trazer informações importan- tes sobre o anoderma e doenças anorretais como fís- tulas, fi ssuras, abscessos e hemorroidas. O segundo tempo de um exame proctológico deve ser obrigatoriamente o toque retal, que também deve preceder todos os métodos endoscópicos. Cerca de 60 a 70% dos cânceres do reto e de 25% de todas as neoplasias malignas do intestino grosso são sen- tidos no exame retal. Deve-se sentir a tonicidade dos esfíncteres, em repouso e por contrações voluntárias, estreitamentos anulares ou tubulares e a sensibilida- de dolorosa (presente em fi ssuras, abscessos, criptites e ulcerações). As paredes retais são de consistência mole, lisa e depressível. A presença de sangue macros- cópico ou oculto deve ser determinada. Os carcinomas colorretais apresentam-se como lesões vegetantes, ul- ceradas e de consistência dura, sem limites precisos. Ainda pelo toque retal, podem-se avaliar a próstata, as vesículas seminais, o útero, os paramétrios e o fundo- -de-saco de Douglas. A anuscopia possibilita a avaliação do canal anal e faz parte do exame proctológico de rotina. Avaliam- -se a presença de doença hemorroidária interna, fi s- sura, papilas anais hipertrófi cas e carcinoma. Existem 2 Abordagem diagnóstica 167 inúmeros modelos de anuscópicos, sendo que alguns, com iluminação própria, permitem a realização de pe- quenos procedimentos. A ligadura elástica de mamilos hemorroidários internos ou a esfi ncterotomia para o tratamento cirúrgico da fi ssura anal são procedimen- tos preferencialmente ambulatoriais. Exame coprológico Macroscopia Volume: o volume das fezes é variável, de- pendendo do conteúdo de fibras vegetais in- gerida e da concentração de água das fezes. Em uma dieta hospitalar habitual, o volume diário de fezes situa-se entre 100 e 200 mL. Entretanto, nas síndromes diarreicas, como na doença celíaca e na insuficiência pancre- ática exócrina, o volume fecal pode elevar-se para 1 a 2 litros por dia. Em pacientes com síndrome da cólera pancreática, secundária a uma neoplasia endócrina do pâncreas, o vo- lume líquido perdido com as evacuações pode alcançar 10 litros por dia. Consistência: existe uma ampla variação da consistência normal das fezes. O estado físico depende da dieta, principalmente da quantida- de de fi bra ingerida, sendo mais pastosa quanto maior a ingestão de vegetais. Cor: a cor normal das fezes deriva principal- mente dos pigmentos biliares e varia normal- mente do marrom-claro ao escuro. A dieta pode alterar a coloração das fezes. A ingestão de gran- des quantidades de leite ou laticínios empresta tonalidade clara às fezes, confundindo com a acolia das hepatopatias colestáticas. Alimentos ricos em ferro tingem as fezes de negro e neces- sitam ser diferenciadas de melena. Na insufi ciência pancreática exócrina há um aumento dos triglicerídeos nas fezes, que adquirem manchas amareladas. As fezes fl utuam e aderem-se à parede do receptáculo. Odor: o indol e o escatol, derivados da descarbo- xilação do triptofano pela ação bacteriana, são responsáveis pelo odor característico das fezes numa dieta equilibrada. Nas dietas hiperprotei- cas, o odor é mais marcante devido à produção de mercaptanos, ácido sulfúrico, e ao metabo- lismo putrefativo das proteínas. Por outro lado, em uma dieta rica em carboidratos ou láctea, as fezes são quase inodoras. A administração de antibióticos reduz o odor fecal pela diminuição da fl ora bacteriana entérica. Sangue oculto nas fezes O Hemocult II é o teste mais comumente utiliza- do no rastreamento do câncer colorretal. Novos testes como o Hemocult II SENSA (baseado no guáiaco) e o teste imunoquímico HemeSelect e FlexSure melhoram a precisão no rastreamento do câncer. Os reativos diferem entre si, principalmente quanto à sua sensibilidade. Em estudo recente, Gre- enberg et al. avaliaram quatro testes em uso isolado e a associação de dois testes (associação de testes imu- noquímicos com os baseados no guáiaco). Compro- varam que testes modernos de pesquisa do sangue oculto melhoram a sensibilidade no rastreamento do câncer colorretal, enquanto o uso de dois testes melhora a especifi cidade. Devido à alta sensibilidade dos métodos para detecção de sangue oculto nas fezes, é importante sa- lientar que a perda de 1 mL de sangue por dia, dis- tribuído em 150 g de fezes, resulta em uma concen- tração de 1 mg de hemoglobina por grama de fezes, podendo positivar o exame para sangue oculto em 11% das vezes. Normalmente há perdas de 2 a 3 mg de hemoglobina por grama de fezes por dia no trato gastrointestinal, podendo ocasionar resultados falso- -positivos. É importante observar que, quando ocorre melena ou hematêmese persistente por 3 a 5 dias, o teste com o guáiaco pode permanecer positivo por 2 a 3 semanas. Um teste positivo em três amostras de fezes obriga a investigação endoscópica ou radioló- gica do intestino grosso. Cinco estudos controlados demonstraram que pacientes assintomáticos, fora de grupo de risco para câncer colorretal, com idade aci- ma de 50 anos e exame positivo na pesquisa de sangue oculto, tiveram uma prevalência de câncer colorretal ou pólipo adenomatoso de 39% em média (variandode 22 a 58%). Com o objetivo de determinar méto- dos de rastreamento do câncer colorretal, uma meta- -análise foi realizada por Towler et al. Foi observado que um total de 10 mil pacientes submetidos a exame do Hemocult resultaria em 2.800 colonoscopias e na prevenção de 8,5 mortes em um período de dez anos. Estudos fi siológicos São ainda controversos. Geralmente, a história e o exame físico já são sufi cientes para determinar diagnóstico e tratamento. Entretanto, alguns estudos podem ser úteis: Manometria anorretal: dá informação de tônus e habilidade do esfíncter de se contrair; pode também documentar a presença do refl exo retoesfi nctérico (au- sente no Hirschsprung). Eletromiografi a (velocidade de condução do nervo pudendo) pode evidenciar lesão aos nervos pudendos que inervam o esfíncter anal. Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 2015168 Análise fecal Pesquisa de toxina do Clostridium diffi cile: deve ser feito em pacientes com diarreia e suspeita de colite pseudomembranosa. Osmolaridade e eletrólitos: ajuda na diferen- ciação entre diarreia secretora e má absorcão. Gap osmótico: (Na+ fecal + K+ fecal) x 2 – osmo- laridade calculada. Se o gap for negativo, signifi ca diarreia secretora. Gap positivo é diarreia de má absorção. Gordura fecal: sugere má absorção. A esteator- reia é a excreção de mais de 7 g de gordura por dia. Mutações K-Ras: têm sido pesquisada nas fezes e representam mutações que predispõem ao apareci- mento de câncer colorretal. Entretanto, têm sido en- contradas também em pacientes com pancolite. Retossigmoidoscopia Pode ser flexível ou rígida. O grande benefí- cio da retossigmoidoscopia em relação à colonos- copia é que pode ser feita sem sedação. Pode ser feita biópsia, polipectomia e mesmo hemostase. É interessante na avaliação das colites de cólon distal (isquêmica, actínica, granulomatosa ou mesmo co- lite ulcerativa). Antigamente, era muito comum se fazer proc- tosigmoidoscopia rígida para diagnóstico de pato- logias colorretais e ela acabou sendo substituída pela colonoscopia. Entretanto, hoje ainda é utili- zada nos casos em que o coto retal do Hartmann é difícil de ser encontrado e facilita muito para esse achado no intraoperatório. Indicações • Avaliação de anormalidades achadas no enema baritado. • Avaliação e acompanhamento de doença infl amatória. • Diagnóstico diferencial entre doença diverticular e câncer. • Presença de pólipo (ou histório de pólipo prévio). • Sintomas gastrointestinais (sangramento, dor, anemia etc.). • Follow-up de ressecção de câncer de cólon. • Sangramento agudo gastrointestinal. • Redução de volvo sigmoide. • Exclusão de metástases sincrônicas (mais de um foco de neo no cólon). Tabela 2.1 Estudos radiográfi cos Enema opaco É exame muito custo-efetivo para identifi car patologias do cólon. O problema é que não é efetivo para screening de câncer e não pode fazer diagnóstico defi nitivo, pois não permite biópsia. Não é necessário fazer sedação, mas necessita de preparo de cólon pre- viamente ao exame. O enema contrastado hidrossolúvel (gastrografi - na) é interessante em casos de suspeita de perfuração intestinal. Nesse caso, o uso do bário poderia induzir à peritonite química e formação de aderências. Tomografi a computadorizada Excelente método de avaliação de pacientes com suspeita de diverticulite (enemas podem piorar a in- fl amação). Reações infl amatórias podem ser revela- das, bem como abscessos, que podem ser drenados por TC. A TC é útil na detecção de metástases. Ressonância magnética Parece oferecer poucas vantagens sobre a TC. Tal- vez uma das vantagens em especial é a diferenciação entre recidiva cancerosa e fi brose no pós-operatório. O interessante na RM é que não se usa radiação. – Limitantes do método: movimento e gás; isso explica por que a sensibilidade da TC no estadiamento do câncer colorretal é signifi cativamente maior do que na RM. Colonoscopia virtual É o exame do momento. Especula-se que futura- mente esse exame irá substituir a colonoscopia. É si- milar à TC e é feita tomografi a em 3D, reconstituindo a mucosa tridimensionalmente. É minimamente inva- siva comparada à TC, sendo mais acurada em relação à localização, forma e tamanho das estruturas. Pode fazer desde detecção de pólipos e/ou carcinomas até o estadiamento de neoplasias colônicas. O nome colonoscopia virtual refere-se à repre- sentação da mucosa em imagem sem a necessidade da endoscopia. Segundo o Consenso do Colégio Brasileiro dos Cirurgiões, a colonoscopia virtual ainda não substi- tui a colonoscopia e não deve ser empregada como tal. Entretanto, em pacientes nos quais não se consegue ou não existem condições clínicas para fazer colonoscopia talvez, a colonoscopia virtual seja uma boa opção. 2 Abordagem diagnóstica 169 Cintilografi a A cintilografi a com hemácias marcadas é exa- me de escolha para sangramento baixo ativo do TGI. Atualmente tem ainda duas novas aplicações: trânsito intestinal e rastreamento de recidiva de câncer color- retal (cintilografi a rastreadora de CEA). O uso da cintilografi a para verifi car anormalida- des de trânsito intestinal é uma analogia da cintilo- grafi a para detectar anormalidades de esvaziamento gástrico. Assim, alterações na motilidade intestinal podem ser detectadas. Defecografi a A defecografi a é uma técnica radiográfi ca contras- tada e dinâmica utilizada para o estudo da evacuação. O exame consiste na ingesta de 300 mL de solução di- luída de bário e na realização do enema de uma pasta de bário no momento do exame. Com o paciente sentado, tomam-se imagens radiográfi cas; com o paciente em repouso, quando contrai vigorosamente o ânus (conti- nência voluntária); e durante a defecação propriamente dita. Medições são realizadas ao repouso, durante a eva- cuação, e o tempo da evacuação é controlado (que pode ser parcial ou completa). Os seguintes parâmetros são analisados: ângulo anorretal, alterações anatômicas du- rante a continência e a defecação, comprimento e calibre do canal anal e porcentagem de expulsão do material contrastado. Algumas patologias podem ser suspeitadas ou confi rmadas com a proctografi a evacuatória como a retocele, o anismo, a intussuscepção e o prolapso. Colonoscopia A colonoscopia é um excelente método diagnós- tico das afecções do intestino grosso, apresentando sensibilidade e, quando realizada sob condições ideais, a especifi cidade é próxima a 100%. Quando realizada por endoscopistas experientes, a frequência de colo- noscopia total (intubação cecal) varia entre 91 e 99% em vários estudos publicados. Estudos recentes repor- tam taxas de complicações variando de 0,2 a 1% para sangramento importante, de 0 a 0,2% para perfuração e de 0 a 0,06% para mortalidade. As soluções orais para limpeza colônica mais co- mumente utilizadas são o polietileno glicol (PEG), a solução de fosfato de sódio e, no Brasil, a solução de manitol a 10%. Apesar de obrigar o paciente a ingerir um grande volume líquido, as vantagens do PEG são as de uma solução osmoticamente balanceada (uma solução eletrolítica não absorvida), que limpa o intes- tino por simples lavagem e não promove trocas signi- fi cativas de água e eletrólitos. A solução de fosfato de sódio e o manitol são preparados hiperosmóticos que promovem a secreção de fl uídos na luz para estimular a evacução. Apresentam grande tolerabilidade, mas al- teram os níveis de eletrólitos e podem causar depleção do volume intravascular. O manitol e a solução fosfa- tada estão contraindicados em pacientes com insufi - ciência renal, cardiopatia congestiva ou isquêmica e ascite. Os esquemas de preparo podem ser alterados (como nos casos de retocolite ulcerativa) ou até mes- mo contraindicados(como na suboclusão intestinal). É exame que substituiu o enema baritado desde 1990. Apesar de a colonoscopia permitir visualização direta da mucosa, o índice de detecção de lesões não é 100%. Isso ocorre porque o colonoscópio passa rapi- damente por determinadas áreas tipo junção retossig- moidiana, fl exura hepática e esplênica. Indicações para estudo diagnóstico Estudo Indicações mais comuns Raio X Obstrução, perfuração, megacólon tóxico Enema baritado Sangramento retal (investigação eletiva) Trânsito intestinal Constipação crônica Colonoscopia Screening/Follow-up câncer colo, biópsia, polipectomia Sigmoidoscopia fl exível Monitorização colite distal, redução de volvo Sigmoidoscopia rígida Planejo pré ou intraoperatório, redução volvo TC Câncer colorretal, diverticulite, doença infl amatória RNM Câncer de reto Ultrassom abdominal Avaliação de massa em sigmoide Ultrassom endorretal Câncer de reto, incontinência fecal Defecografi a Prolapso retal, constipação crônica Manometria anorretal Incontinência fecal Cintilografi a Sangramento, constipação crônica, recidiva de câncer cólon Colonoscopia virtual Rastreamento de câncer de cólon Tabela 2.2 Sabiston, 2001. Ultrassom endorretal É a interpretação ultrassonográfi ca de quatro ca- madas básicas da parede e tecidos do reto e do canal anal: a submucosa, o esfíncter anal interno, a camada longitudinal e o esfíncter anal externo. É um exame pouco disponível no Brasil, mas não expõe o doente a radiações ionizantes. Sua principal limitação é a este- nose da luz retal menor do que 2 cm (o que impossibi- lita a introdução do transdutor). Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 2015170 O exame é realizado com a introdução endor- retal do transdutor do aparelho ultrassonográfi co. Estudam-se 360º de toda a parede retal e as estrutu- ras pélvicas adjacentes. Nas mulheres, também podem ser obstipadas imagens com o transdutor introduzi- do via vaginal. A ultrassonografi a intrarretal é muito utilizada na avaliação de possíveis lesões traumáticas dos esfíncteres. Também é um método útil para o es- tagiamento das neoplasias do reto, da invasão dos órgãos adjacentes e linfonodos comprometidos. Pode auxiliar, portanto, na determinação do procedimento cirúrgico a ser empregado. A correlação histopatológica do grau de infi ltra- ção neoplásica da parede intestinal (estagiamento T) varia entre 80 e 95% quando comparado com 65 e 75% da tomografi a e 75 e 85% da ressonância magnética. Em estudos recentes, a precisão do ultrassom na de- tecção de linfonodos perirretais comprometidos tem sido desapontadora. Resultados demonstram precisão aproximada entre 70 e 75% para a ultrassonografi a, comparada com 55 e 65% da tomografi a e 60 a 65% da ressonância magnética. O exame ultrassonográfi co é operador-dependente, e estudos demonstrando baixa correlação histopatológica não são uma surpresa, já que 20% dos linfonodos comprometidos são menores que 5 mm. Outras aplicações da ultrassonografi a intrarretal são o seguimento pós-operatório do câncer, objetivan- do a detecção precoce de recidivas locais e regionais, é a avaliação da fístula perianal, da dor anal de etiologia desconhecida ou abscessos. Figura 2.1 Colonoscopia virtual (TC colonográfi ca); A: imagem de pólipo (seta) evidenciada em padrão bidimensional na TC scan; B: TC colonográfi ca em visão tridimensional; C: imagem colonoscópica da le- são polipoide (seta). Figura 2.2 A: colonoscopia evidenciando lesão polipoide obstrutiva da região do sigmoide; B: clister-opaco mostrando lesão estenosante de contornos irregulares na mesma topografi a; C: espécime cirúrgica mostrando lesão anular estenosante com aparência em guardanapo. ROTEIRO PROPEDÊUTICO BÁSICO eM GINECOLOGIA Capítulo 2 Capítulo doenças do apêndice 3 Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 2015172 Anatomia e fi siologia O apêndice vermiforme é um órgão estreito, oco e muscular que, caracteristicamente, se origina da face posteromedial do ceco na junção das três taenia coli, cerca de 1 a 2 cm abaixo do íleo. O tamanho varia de 2 a 20 cm (com média de 10 cm) de comprimento. Apre- senta uma posição extremamente variável; na maioria das vezes se encontra a 5 cm da espinha ilíaca anteros- superior, na linha que vai desta espinha até o umbigo. Nas situações em que o ceco desce menos que o habi- tual durante a rotação do intestino sobre a artéria me- sentérica superior, o apêndice fi cará em posição alta, próximo do fígado. Às vezes a descida do ceco durante a fase embrionária é maior do que a normal, e o apên- dice irá se encontrar na pélvis. Quanto à sua posição em relação ao ceco, o apêndice pode estar (Figura 3.1): lateral interno; lateral externo; descendente; retrocecal. Sua função não é bem conhecida. Sabe-se que secreta muco, que é eliminado para o ceco em uma quantidade média de 1 a 2 cm3 diariamente. Em geral, há fezes na luz apendicular, mas se torna difícil saber se este se enche a cada ciclo digestivo. Quando exci- tado, apresenta movimentos peristálticos. Em casos de infl amação, tende a desenvolver um espasmo (este assim como a distensão origina uma dor que é referi- da no epigástrio) – se o peritônio parietal adjacente se infl ama, a dor é percebida também no quadrante infe- rior direito do abdome, e os músculos suprajacentes frequentemente mostram um espasmo refl exo. A importância do apêndice segundo Boyd não reside na sua fi siologia, mas na frequência com que se torna sede de perturbações patológicas. POST. ANT. retro-cecal pós-ileal pré-ileal subcecal pélvica Figura 3.1 Posições do apêndice. A apendicite aguda é a doença mais frequen- te do apêndice vermiforme e a operação é a conduta de primeira escolha para o seu tratamento. Sua inci- dência é mais frequente em jovens em idade escolar e adolescentes, predominando no sexo masculino. Pode manifestar-se em diferentes fases: catarral, supurativa, gangrenosa e hiperplásica. A depender de cada caso, há presença de neutrófi los, pus, ulcerações, gangrena e peritonite local ou difusa se ocorreu rotura do órgão. As taxas de mortalidade geral atuais são de cerca de 0,2%, mesmo nas apendicites complicadas, podendo chegar até 15% em idosos. Incidência Cerca de 7% dos indivíduos ocidentais apresen- tam apendicite em algum momento da vida. Sexo: segundo a maioria dos autores, é 3 a 4 ve- zes mais frequente em homens; contudo, há autores que consideram a incidência igual nos dois sexos. Idade: é uma afecção predominatemente de jo- vens, sendo muito comum antes dos 20 anos. É rara an- tes dos 2 anos de idade. A maioria dos pacientes está en- tre 5 e 30 anos, porém pode ser encontrada em idosos. Raça: não há preponderância. Herança: certas famílias apresentam maior inci- dência de casos. Tal fator, no entanto, permanece ain- da de certa forma pouco defi nido. Etiologia e patogenia Pode-se identifi car fatores obstrutivos em até 70% dos casos. Em até um terço dos casos pode não ser identifi cado um foco de obstrução intraluminal. A obstrução pode ser determinada por hiper- trofi a linfoide (60%), fecalitos ou estase fecal (35%), por tecido fi broso (fi brose) que fecha a luz, corpos estranhos vindos com os alimentos ou mesmo para- sitas intestinais (4%) e por tumores (1%). Às vezes ela se resolve espontaneamente com a expulsão do corpo obstrutor; quando não expulsos, acabam trau- matizando a mucosa e determinando a infl amação. A doença pode existir de forma concomitante com moléstias exantêmicas e associação a viroses. Vá- rios autores referem casos de apendicite aguda asso- ciada com sarampo. De forma geral, são identifi cadas três fases da apendicite: infl amatória, purulentae gangrenosa. Apendicite aguda: bactérias isoladas Aeróbios Anaeróbios Escherichia coli Streptococcus viridans Pseudomonas aeruginosa Streptococcus grupo D Enterococcus species Bacteroides fragilis e outros Peptostreptococcus micros Bilophila species Lactobacillus species Fusobacterium species Tabela 3.1 3 Doenças do apêndice 173 Quadro clínico Quadro clássico: mantém uma sequência bem defi nida dor – naúseas – vômitos – hiperestesia na área do apêndice – febre. Apenas 55% dos pacientes com apendicite aguda apresentam o quadro clássico. Em geral, na apendicite aguda temos um período de 12 a 48 h desde o início dos sintomas até a hospitalização. Nos casos de apêndice em FID, mais de 95% referem dor que, de início, tem localização em região epigástrica e perium- bilical e posteriormente localizando-se no quadrante inferior direito, onde permanece constante e intensa. Pode irradiar para MMII devido ao envolvimento do psoas. Devemos, todavia, ressaltar que esta sequência não é notoriamente observada em todos os pacientes, em especial naqueles com apendicite retrocecal. Além disso, a dor não se localiza no quadrante inferior di- reito em um número considerável de pacientes, em es- pecial nas mulheres no segundo/terceiro trimestre de gravidez, sendo difusa ou fi cando no abdome inferior. A dor na apendicite pélvica pode localizar-se no qua- drante inferior esquerdo. Na apendicite retrocecal pode irradiar-se para a coxa ou para o testículo direito, tendo em muitas vezes seu epicentro característico na região lombar direita – torna-se, portanto, com um caráter se- melhante à cólica renal ou abcesso perinéfrico com os quais deve ser diferenciada. A disúria é frequente em ambos os tipos de apendicite. Luz ocluída levando ao aumento do peristaltismo e distensão do apêndice Dor vaga e difusa em epigástrio e região periumbilical Hipersecreção, aumento da luz e proliferação bacteriana Pressão intraluminal acima de 85 cmH2O determinando dor constante pela compressão das terminações nervosas da parede do apêndice Hipóxia apendicular com pequenos infartos da parede e invasão por bactérias Surge febre, leucocitose e taquicardia Congestão vascular, edema e diapedese com maior distensão do órgão. Dor referida em FID (distensão dos filetes nervosos), náuseas e vômitos Ulceração da mucosa, invasão bacteriana maciça, infecção da parede apendicular, distensão abdominal por íleo adinâmico Dor peritoneal intensa e bem localizada Trombose vascular com piora do edema e isquemia Gangrena e perfuração Ampla irradiação da dor para todo o abdome inferior Figura 3.2 Eventos envolvidos no desenvolvimento e evolução da apendicite aguda. O padrão de dor irradiada para mesogástrio deve-se ao estiramento do órgão nas fases iniciais do processo infl amatório. A princípio ela é vaga e leve, mas aumenta pouco a pouco no decorrer de aproxima- damente 4 h, podendo ser em cólica. Ela tende a ceder indo localizar-se sobre o ponto da doença depois que o processo atingiu a serosa e o peritônio. Nesse momen- to tem em geral de média a grande intensidade, sen- do referida normalmente como “em pontada”, comu- mente sem caráter de cólica ou torção. O desconforto parece ser aliviado no momento da perfuração em alguns pacientes; depois da perfuração, a localização da dor depende se o processo é ou não rapidamente bloqueado. Assim, há um desconforto abdominal vari- ável quando a infecção não é contida. Dessa maneira, de um ponto de vista didático, podemos observar o ocorrência de três fases no tocante à dor que envolve a apendicite aguda (Tabela 3.2). A anorexia e náuseas (com ou sem vômitos) são respectivamente o segundo e terceiro sintomas mais frequentes. Os vômitos são em geral pouco frequen- tes, porém, nos casos em que há perfuração do apên- dice com o desenvolvimento de peritonite franca, podem se tornar mais intensos e ter um aspecto fe- caloide. Cerca de 10% dos pacientes referem constipa- ção; a diarreia é incomum. A febre é em geral discreta, de 38 a 38,6ºC; os níveis mais elevados indicam quase sempre perfuração. A dissociação da temperatura re- tal e axilar pode ser maior que 0,5ºC, dado que deve ser considerado. Características da dor Localização Causa 1ª fase Intensidade cres- cente (de leve desconforto a in- tensa), podendo ser em cólica Pouco espe- cífi ca, sendo referida em epigástrio e região pe- riumbelical (95%) Distensão do apêndi- ce nas fases iniciais do processo in- fl amatório 2ª fase Intensidade média a forte, normalmente em pontada e contínua Localização mais precisa sobre o ponto da doença – quadrante in- ferior direito Envolvi- mento da serosa e do peritônio parietal no processo in- fl amatório 3ª fase Alguns pacientes referem melhora no desconforto, suas característi- cas vão depender da contenção do processo infec- cioso Depende se o processo é ou não rapidamente bloqueado Perfuração Tabela 3.2 Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 2015174 Apêndice em FID Apêndice pélvico Apêndice retrocecal - Dor abdominal difusa - Náuseas e vômitos - Dor referida em FID - Febre moderada - Raramente há diarreia - Piora progressiva do quadro Infl amação si- lenciosa Pode haver disúria Sensibilidade em fundo de saco retovesical e retouterino Sinais obscu- ros (apêndice retroperito- nial) Frequente- mente evolui para abscesso Tabela 3.3 Exame físico Os achados vão depender não só do grau da infl a- mação, mas também da idade do paciente. Na maioria dos casos, onde o apêndice é lateroce- cal, o sinal mais comum e característico é a dor à palpa- ção (99%), sendo que sua ausência praticamente invali- da o diagnóstico. Normalmente se limita ao ponto de McBurney, o qual corresponde à localização habitual da víscera. À medida que os dedos do examinador se afas- tam desse ponto, para cima ou para baixo, a dor vai di- minuindo. Nas outras localizações do apêndice haverá dor à palpação em lugares diferentes como já foi citado. Além de dor, encontra-se em 20% dos casos hi- perestesia da pele na fossa ilíaca direita, por refl exo viscerocutâneo. A defesa muscular é encontrada em ¾ dos casos. Nos casos de dor baixa, por provável apêndice pélvico, o toque retal torna-se valioso, principalmente em crianças em que o dedo do médico pode atingir um nível relativamente mais alto. Nas mulheres, com fre- quência, impõe-se o toque vaginal, para excluir outras causas plausíveis. Os tratados geralmente nos trazem sinais carac- terísticos no diagnóstico de apendicite aguda, todos eles com um valor um tanto relativos, pois não descar- tam a hipótese de outras causas de abdome agudo. São eles (guarde todos!): Sinal de Blumberg: descompressão dolorosa. Sinal de Rowsing: deslocamento de gases do colo esquerdo para o hemicolo direito, provo- cando dor na fossa ilíaca direita nos casos de apendicite aguda. Sinal de Dumphy: dor desencadeada pela per- cussão abdominal ou a referida quando se solici- ta ao paciente para tossir. Sinal de Lapinsky: compressão do ceco contra a parede posterior do abdome, enquanto se manda o doente elevar o membro inferior direito estendido; nos apêndices retrocecais, principalmente, surgiria dor provocada pela compressão do apêndice entre o músculo psoas e a mão do examinador. Sinal de Lenander: diferença de temperatura axilo-retal > 1ºC (retal > axilar). Sinal do Obturador: dor epigástrica à rotação in- terna da coxa direita fl exionada sob decúbito dorsal. Sinal do Psoas: dor à extensão seguida de ab- dução da coxa direita, com o paciente em DLE (apendicite retrocecal). Sinal de Murphy: não se obtém som timpânico (pelapresença de exsudato) na zona apendicu- lar. Todas as manobras e sinais auxiliam, mas nenhum deles isoladamente, sem outros dados clínicos e laboratoriais, fazem o diagnóstico de apendicite aguda. Manobra de Sloan: levantamos a perna direita do paciente sem fl exionar o joelho, mais com- pressão da zona apendicular. Teoricamente, a compressão do apêndice entre a mão e o múscu- lo psoas aumenta a dor. A dor generalizada à descompressão indica peri- tonite difusa. A peristalse pode estar presente ou não; a ausência associada à distensão e à descompressão dolorosa generalizada é compatível com perfuração e peritonite difusa. Com frequência, o paciente com apendicite agu- da não parece doente. O médico não deve fi car decep- cionado; o diagnóstico reside na dor persistente e na sensibilidade localizada. Ponto de Lantz Ponto de McBurney's Ponto de Morris Figura 3.3 Pontos apendiculares. 3 Doenças do apêndice 175 Figura 3.4 Atitude passiva antálgica de um paciente com apendicite aguda e/ou abscesso periapendicular, ou qualquer outro processo in- fl amatório agudo dos órgãos pélvicos do hemiabdome inferior direito. Figura 3.5 Esquema representativo do sinal de Rowsing. A compres- são deslizante do cólon descendente e da metade esquerda do trans- verso determinará dor na fossa ilíaca direita ou dor espontânea que o paciente apresenta por hipertensão interna na luz dos cólons. Figura 3.6 Sinal do psoas (Sinal de Cope). Figura 3.7 Sinal do obturador. Diagnóstico Hemograma completo Em até 90% dos pacientes, encontra-se leu- cocitose moderada – 10.000 a 15.000 cels/mm3 –, com neutrofi lia geralmente superior a 75% e/ou des- vio para a esquerda de discreto a moderado. Entretan- to, essas alterações também são observadas em várias outras patologias abdominais e pélvicas agudas, ten- do, assim, baixa especifi cidade para apendicite. A ausência de leucocitose ou percentual de neutrófi los < 70% torna improvável a hipótese de apendicite aguda. Leucocitose > 15.000 cels/ mm3 e neutrofi lia acima de 80% são sugestivos de per- furação e/ou peritonite pélvica da mulher. Níveis elevados de proteína C-reativa (PC-R) também reforçam a suspeita de apendicite aguda, especialmente quando combinados às alterações previamente observadas no leucograma. Urina I De modo geral, o exame é normal. Cerca de 15% dos pacientes apresentam uma pequena concentração de proteínas ou uma discreta piúria e hematúria, este último muito frequente nas apendicites retrocecais (mais um elemento para confusão diagnóstica). Radiografi a simples de abdome presença de fecalitos calcifi cados na região in- guinal direita é um achado útil, mas que ocorre em um número pequeno de pacientes; velamento da sombra do músculo psoas direito; apagamento da gordura pré-peritonial; nível hidroaéreo; sinais de obstrução intestinal; escoliose antálgica de concavidade à direita; alça ileal em sentinela na FID; desvio das alças para a esquerda; corpo estranho em topografi a de apêndice; pneumoperitônio (raro). Ultrassonografi a e TC O ultrassom de abdome tem hoje a especifi cida- de e sensibilidade de cerca de 98% na visibilização do apêndice, mas em até 15% dos casos pode mostrar um apêndice normal, em quadros de apendicite clinica- mente evidente, sendo útil no diagnóstico de exclusão de outras patologias. A tomografi a é útil na suspeita de perfuração intestinal para diagnosticar um abscesso periapendicular. Casos com clínica evidente não ne- cessitam exame de imagem. Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 2015176 Achados radiológicos da apendicite aguda • Escoliose antálgica de concavidade voltada para a direita • Apagamento da gordura pré-peritoneal • Espessamento da parede do ceco • Gás fora de alça na fossa ilíaca direita • Pneumoperitônio Tabela 3.4 Apendicete aguda – achados ultrassonográfi cos • Diâmetro apendicular > 7 mm • Distensão luminal • Edema da mucosa • Não compressibilidade • Aperistalse • Correspondência com o ponto doloroso • Apendicolito • Coleção periapendicular Tabela 3.5 A laparoscopia pode ser útil no diagnóstico dife- rencial, particularmente em mulheres jovens com dor na FID. A visualização de apêndice infl amado confi rma o diagnóstico e a de um normal o exclui. A presença de massa infl amatória na região é bastante sugestiva de apendicite aguda. Apendicite aguda – achados tomográfi cos • Apêndice infl amado e distendido, com líquido • Diâmetro apendicular maior que 7 mm • Espessamento da parede apendicular (1-3 mm) • Realce da parede infl amada e hiperêmica pelo contraste EV • Infi ltração da gordura periapendicular e do mesoapêndice • Coleções adjacentes ao apêndice • Massa com densidade de partes moles na FID • Apendicólito • Pneumoperitônio Tabela 3.6 Diagnóstico diferencial São inúmeras as doenças que precisam ser afas- tadas para chegarmos ao diagnóstico fi nal de apendi- cite aguda. Zerbini costumava dividir estas patologias em três grupos: aquelas que apresentam dor intensa, acompanhada de sensibilidade e defesa muscular; aquelas que se acompanham de cólica abdominal sem defesa, e aquelas que podem ser confundidas com ab- cesso apendicular. Primeiro grupo: doenças que apresentam dor intensa acompanhada de sensibilidade e defesa muscular • Úlcera perfurada (história clínica/dor violenta em facada no epigástrio/pneumoperitônio) • Colecistite aguda (dor irradiada para o ombro direito ou dorso/hiperestesia e defesa muscular mais alta/vômitos mais intensos) • Calculose ureteral (confundida com apendicite retroce- cal/cólica renal/sinal de Giordano positivo/paciente agi- tado/não há febre nem leucocitose/hematúria no EAS/ao raio X podem ser vistos cálculos) • Pielite aguda direita (não há sinais de irritação peritonial/ febre elevada – 39 a 41ºC/disúria) • Prenhez tubária rota (quadro mais dramático/queda rápi- da da PA/sinais evidentes de hemorragia interna) • Anexite aguda (inflamação dos anexos uterinos – trompa e ovário: em geral a sensibilidade à palpação é bilateral / corrimento vaginal / disúria / hemossedi- mentação elevada) • Linfandenite mesentérica (muito mais frequente em crianças/casos agudos não têm diferenciação clínica) • Doença de Crohn (ileíte regional: história clínica mais arrastada de 4 a 6 evacuações diárias diarreicas ou com fe- zes pastosas acompanhadas de dores abdominais difusas, mal-estar abdominal, perda progressiva de peso e crises suboclusivas) • Divertículo de Meckel (quadro clínico inteiramente su- perponível ao da apendicite aguda) • Pneumonia (na criança é comum a pneumonia determinar dor refl exa na fossa ilíaca direita/faltam a defesa muscular e os sinais de peritonite/presença de sinais estetoacústicos pulmonares/a mortalidade nos casos de os pacientes com pneumonia serem apedicectomizados é enorme; a confu- são de pneumonia com apendicite é um erro imperdoável) • Peritonite penumocócica (pode ser secundária à pneu- monia ou otite ou mesmo primária pela ascensão de ger- mes a partir dos anexos) • Infarto mesentérico (mais comum em portadores de lesão cardiocirculatória/quadro de comprometimento do estado geral/toxemia) Segundo grupo: doenças que se acompanham de cólica abdominal sem defesa • Cólica intestinal (paciente. inquieto entre as crises/ausên- cia de sinais de peritonite) • Cólica biliar (dor mais súbita e mais grave/irradiação para o ombro/pode ser aliviada pela compressão/dispepsia an- tiga/intolerância a alimentos gordurosos/crises anteriores semelhantes à atual) • Cólica renal (paroxismos violentos/hematúria sempre presente, mas nem sempre macroscópica) Terceiro grupo: doenças que podem ser confundidas com abcesso apendicular• Linfandenite supurada • Tuberculose ileocecal (evolução mais lenta/lesões pulmo- nares residuais ou em atividade ao raio X) • Carcinoma do ceco (consumo do paciente/diarreia com muco e sangue/indolor à palpação) • Cisto ovariano torcido (ausência de sinais infl amatórios/ início brusco, dor violenta/choque) • Hematoma da parede abdominal (principalmente em crianças pode haver um quadro que simule um abcesso apendicular/empastamento é de parede e não de cavidade abdominal/referência a um trauma) Tabela 3.7 3 Doenças do apêndice 177 Tratamento Hoje, pode-se dizer que, feito o diagnóstico de apendicite aguda, o tratamento cirúrgico (apendicec- tomia) é imediato, a menos que haja uma contraindi- cação muito forte. Deve-se corrigir a desidratação do paciente e ini- ciar uso de antibióticos pré-operatórios que reduzem os índices de infecções de ferida. A fl ora bacteriana encontrada no apêndice é si- milar à colônica. Assim, antibióticos contra bactérias aeróbicas (gram-positivas e negativas) e anaeróbicas devem ser iniciados no pré-operatório. Se a apendicite não for complicada, os antibióticos são utilizados em dose única ou no máximo por 24 horas. Se a apendicite for complicada (gangrenosa ou perfurativa), o antibi- ótico deve ser empregado até o paciente permanecer afebril por 48 horas, com um mínimo de cinco dias. Ainda existe uma grande controvérsia sobre a seleção de antibióticos. Os esquemas mais empregados são: 1- somente cefoxitina para as apendicites não complicadas; e 2- combinação de cefalosporina de terceira gera- ção e metronidazol para as apendicites complicadas. Muitos autores usam o esquema tríplice (ampicilina, aminoglicosídeo e metronidazol ou clindamicina) para as apendicites complicadas. Pacientes com abscessos periapendiculares po- dem ser tratados por drenagem percutânea, hidrata- ção e antibióticos devido à difi culdade cirúrgica nestes casos. Uma apendicectomia deve ser realizada após seis semanas para prevenir uma apendicite recorrente. A apendicectomia pode ser realizada por incisões específi cas para apendicite, como as incisões de Mc- Burney (incisão na FID, oblíqua ao ponto de McBur- ney, perpendicular à linha do umbigo à espinha-ilíaca anterossuperior) e de Rocky-Davis (incisão transversa passando pelo ponto de McBurney) ou por incisões medianas e paramedianas, dependendo da avaliação do quadro. O apêndice é identifi cado seguindo-se a taenia an- terior. O mesoapêndice é ligado, sendo a base do apên- dice seccionada entre duas pinças de Kelly. O coto apen- dicular pode ser tratado de três maneiras diferentes: 1. simples ligadura; 2. invaginação e 3. ligadura seguida de invaginação. A última ma- neira tem o inconveniente de criar condições para o desenvolvimento (muito raro) de um abscesso intra- mural ou mucocele. Se houver difi culdade de localizar o apêndice pela presença de intensa infl amação, é preferível drenar a região e realizar a apendicectomia 2-3 meses após. Se em vez de apendicite aguda o achado for de tumor carcinoide ou mucocele simples, a apen- dicectomia simples com 2 cm de margem de segu- rança é suficiente. Se o carcinoide ultrapassar 2 cm de diâmetro, ou se o tumor for adenocarcinoma, está indicada a hemi- colectomia direita. Na presença de coleção purulenta localizada, um dreno de Penrose deve ser colocado e retirado pela in- cisão de McBurney ou por contraincisão. Na presença de peritonite difusa ou apendicite sem coleção puru- lenta localizada, não está indicada a colocação de dre- nos. Na presença de pus, a pele e o tecido celular sub- cutâneo são deixados abertos com fi o de mononáilon passado na pele. Se não ocorrer infecção até 72 horas após, os pontos são aproximados (fechamento primário re- tardado). O fechamento de todos os planos da inci- são está indicado nos casos em que não houver pus na cavidade. Figura 3.8 A: incisões longitudinais; a: mediana infraumbilical; b: paramediana pararretal externa; B: incisões localizadas; C: incisão de McBurney; D: incisão de Davis, E: incisão baixa. Complicações da apendicite • Peritonite • Abscesso localizado (apendicular ou em fundo de saco) • Abscesso subfrênico • Obstrução intestinal • Fístulas enterocutâneas (fístula estercoral) ou entre alças • Hérnia incisional • Complicações clínicas (infecção sépsis) Tabela 3.8 Complicações pós-operatórias • Supuração da incisão operatória* • Abscessos pélvicos e subfrênicos • Abscesso de parede • Fístula cecal (estercoral ou entre alças) • Hérnia incisional Tabela 3.9 *Complicação mais comum. Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 2015178 Conduta não operatória na apendicite Os pacientes que se apresentam tardiamente no curso da apendicite com massa e febre podem benefi ciar- -se de um período de tratamento não operatório, que re- duz as complicações e a permanência geral no hospital. Os estudos por imagem são úteis para confi rmar o diag- nóstico e para avaliar o tamanho de qualquer abscesso presente. Os pacientes com abscessos grandes, de mais de 4 a 6 cm de tamanho, e especialmente os pacientes com abscesso e febre alta, benefi ciam-se da drenagem do abscesso. Isso pode ser conseguido pela rota transretal ou transvaginal usando-se orientação ultrassônica se o abscesso for convenientemente localizado, ou por uma abordagem percutânea orientada por imagem. Esses pacientes com abscessos menores ou fl eimão e que não estão doentes podem ser tratados inicialmente, com su- cesso, com antibióticos isoladamente. Os pacientes que continuam a ter febre e leucocitose após vários dias de tratamento não operatório têm probabilidade de exigir apendectomia durante a mesma hospitalização, enquan- to aqueles que melhoram prontamente podem ser consi- derados para apendectomia com intervalo. Após o tratamento não operatório de apendici- te tardia suspeitada, os adultos se submetem a colo- noscopia ou enema de bário, uma vez que câncer de cólon é detectado em cerca de 5% dos casos. O risco de apendicite recidivando é de cerca de 15 a 25% após tratamento não operatório e justifi ca a consideração de apendicectomia com intervalo. Realizamos tipica- mente esse procedimento com laparoscopia cerca de 6 semanas após o acesso inicial de apendicite. A apendi- cectomia com intervalo associa-se a baixa morbidade e a curta permanência hospitalar. O procedimento é rotineiramente realizado em crianças. A decisão sobre proceder com apendectomia com intervalo para pa- cientes adultos inclui fatores como idade do paciente, condições comórbidas e cirurgia abdominal anterior. Apendicite na gravidez Uma em cada 2 mil mulheres grávidas sofre com- plicações com apendicite aguda, o que não difere pra- ticamente da incidência em mulheres não grávidas da mesma faixa etária. O procedimento cirúrgico não obstétrico mais comum durante a gestação é a apendicectomia. Esse quadro ocorre com a mesma frequência nas gestantes e nas não gestantes, e parece não haver uma predi- leção por qualquer trimestre. A taxa de perfuração é signifi cativamente aumentada, entretanto, durante o terceiro trimestre, devido à demora no diagnóstico e à imunossupressão relativa da gravidez. O sinal de Alder pode ser útil para diferenciar doença uterina da dor abdominal extrauterina. O ponto máximo de dor é identifi cado com a paciente supina. A paciente é então colocada em uma inclina- ção lateral para a esquerda, deslocando efi cazmente o útero gravídico para a esquerda, e o ponto de dor máxima é novamente localizado. A dor de origem uterina, como a degeneração fi brinoide ou tração de anexo, tende a se mover com o útero, enquanto a dor de um apêndice infl amado favorece uma dor com uma posição constante. A indicação de apendicectomia durante a gravi-dez deve ser a mesma que para uma mulher não grá- vida. As complicações materna e fetal são muito mais elevadas após a perfuração; portanto, a operação deve ser indicada precocemente. A apendicite é mais grave no 3º trimestre de gravidez porque o omento frequen- temente não consegue alcançar o apêndice infl amado para ajudar a conter a infl amação. Trabalho de parto prematuro ocorre em aproximadamente metade das gestantes de 3º trimestre com apendicite, dependen- do do prognóstico do feto e de sua maturidade. Cesa- riana é indicada na presença de peritonite difusa. Se a apendicectomia for realizada em gestantes nos 1º e 2º trimestres, antes da perfuração do apêndice, possivel- mente a gestação não será alterada. Apendicite no idoso A apendicite aguda é um quadro mais grave no idoso e 50 a 90% apresentam perfuração. Parece que essa maior propensão a perfurar está associada à de- mora em procurar o médico, à atipia do quadro de dor, à insufi ciência vascular que predispõe à perfuração. A dor é comumente discreta e difusa no QID. As alterações de exame físico são em geral mínimas na fase inicial. Febre e leucocitose estão frequente- mente ausentes. Apendicite na criança Apendicite aguda é incomum em criança com me- nos de dois anos de idade, provavelmente pelo fato de o apêndice possuir forma cônica e base larga, que difi - cultam sua obstrução. Nas crianças com doença de Hirschspring, a apen- dicite pode ocorrer em idade inferior a um mês de vida. Este diagnóstico deve ser suspeitado em toda criança com quadro de diarreia cujo primeiro sinto- ma tenha sido dor abdominal. A febre é mais alta, e ao exame físico a distensão abdominal é o dado mais significativo. 3 Doenças do apêndice 179 A incidência de perfuração é de quase 100% em crianças com menos de um ano de idade e acima de 50% naquelas entre um e cinco anos de idade. Portan- to, a morbidade e a mortalidade são mais signifi cativas nesta população. Apendicite crônica ou recorrente Raramente este conceito clínico foi documenta- do. Um episódio agudo pode regredir espontaneamen- te e, depois, novos surtos podem se repetir, com dor na FID. A defi nição desse diagnóstico deve ser criterio- sa e uma vez decidida, proceder à cirurgia. O diagnós- tico defi nitivo será anatomopatológico. Apendicectomia laparoscópica A apendicectomia laparoscópica pode ser con- siderada a abordagem adequada, virtualmente para qualquer paciente para o qual haja a hipótese diagnós- tica de apendicite. No entanto, a indicação mais co- mum é para pacientes que apresentam dor abdominal de origem duvidosa na FID. Contraindicações: 1. Inexperiência do cirurgião; 2. Coagulopatia não tratável; 3. Comorbidades (DPOC); 4. Múltiplas cirurgias pregressas (aderências). Complicações: Abscessos; Infecção da ferida operatória (frequência menor quando comparada com a cirurgia convencio- nal); Lesão iatrogênica (pneumoperitôneo do proce- dimento versus distensão intestinal pelo proces- so infl amatório-infeccioso). Tumores do apêndice e mucocele Os tumores do apêndice são incomuns e rara- mente suspeitados antes da operação. O diagnóstico pré-operatório é importante porque pode infl uenciar não apenas no acesso cirúrgico (via laparoscópica ou aberta), mas também no procedimento apropriado (apendicectomia ou colectomia direita). As neoplasias do apêndice podem ser classifi ca- das em quatro categorias principais: tumor carcinoide puro, adenocarcinoma do tipo colônico, mucocele ma- ligna e tumor adenocarcinoide. Os pacientes com tumor do apêndice, indepen- dente do tipo histológico, apresentam uma incidên- cia aumentada de neoplasias metacrônicas ou sincrônicas, principalmente relacionadas ao tra- to gastrointestinal, devendo ser investigados e acompanhados apropriadamente. Embora se acreditasse antes que os tumores car- cinoides fossem as neoplasias apendiculares mais co- muns, atualmente os tumores mucinosos do apêndice são considerados os mais comuns. Tumor carcinoide O apêndice é o primeiro local mais frequente de tumor carcinoide gastrointestinal. O íleo é o lo- cal mais comum quando o tumor carcinoide expressa a síndrome carcinoide, assunto este já abordado no ca- pítulo das doenças do intestino delgado. A maioria dos tumores carcinoides do apêndi- ce é menor do que 1 cm, e poucos são maiores do que 2 cm. Carcinoides do apêndice quase sempre são benignos, e metástases ocorrem em menos de 2% dos tumores; estas geralmente ocorrem em tumores maio- res que 2 cm de diâmetro e praticamente inexistem nos menores do que 2 cm. Quando o carcinoide do apêndice é maior do que 2 cm, o risco de metás- tase é de 30 a 60%, comparado com 86 a 95% no caso de carcinoide do intestino delgado e 80 a 100% dos tumores carcinoides do reto. Assim, tu- mores carcinoides do apêndice têm melhor prognósti- co do que aqueles originários de outra localização. Pacientes do sexo feminino apresentam uma incidência duas vezes maior. Essa predominância no sexo feminino é também observada em carcinoides de outros locais, como intestino grosso, estômago e pul- mão, sugerindo a possibilidade de uma predisposição genética nas mulheres. Sinais e sintomas A maioria dos casos é assintomática e são acha- dos incidentais durante apendicectomias ou outras operações abdominais. Raramente causam apendici- te aguda devido à sua localização mais frequente na ponta do apêndice ou ao seu tamanho pequeno, insu- fi ciente para obstruir a luz do apêndice quando locali- zado na sua base. Clínica cirúrgica | Coloproctologia SJT Residência Médica - 2015180 A síndrome carcinoide (síndrome de Thor- son-Biörck) é raramente observada nos tumores carcinoides do apêndice, sendo mais bem docu- mentada com a doença de localização ileal as- sociada a metástase hepática. Para a abordagem diagnóstica laboratorial reporte-se ao capítulo “Tu- mores neuroendócrinos” na abordagem das doen- ças do intestino delgado. Apêndice – Classifi cação TNM para tumores neuroen- dócrinos de acordo com AJCC Tumor (T) Tx Tumore primário não pode ser avaliado T0 Sem evidência de tumor primário T1 Tumor < 2 cm em sua maior dimensão T1a Tumor < 1 cm em sua maior dimensão T1b Tumor > 1 cm e < 2 cm em sua maior dimen- são T2 Tumor > 2 cm e < 4 cm em sua maior dimen- são ou se estendendo até o ceco T3 Tumor > 4 cm ou se estendendo até o íleo T4 Tumor invade diretamente outros órgãos ou estruturas adjacentes, como a parede abdomi- nal ou musculatura esquelética Estádios/grupos prognósticos. Classifi cação TNM para tumores neuroendócrinos de acordo com AJCC Estádio I T1 N0* M0* Estádio II T2, T3 N0 M0 Estádio III T4 N0 M0 Qual- quer T N1 M0 Estádio IV Qual- quer T Qualquer N M1 Tabela 3.10 *Classifi cação N e M conforme descrito anteriormente. Tratamento e prognóstico Metástases em pacientes com tumor carcinoide menor que 2 cm praticamente inexistem. A apendi- cectomia é o tratamento de escolha para carcinoide do apêndice menor do que 1 cm. A colectomia di- reita é indicada para os tumores com mais de 2 cm de diâmetro. O tratamento de carcinoides entre 1 e 2 cm é controverso, e a decisão deve ser baseada na localização. A grande maioria dos tumores com esse tamanho necessita somente de apendicectomia. Entretanto, na presença de invasão do mesoapên- dice e de tumores localizados na base do apêndice (fatores de risco para metástase), está indicada a colectomia direita. A sobrevida em cinco anos é de 86%, superior à do tumor carcinoide dos demais locais do trato gastrointestinal (54%). Mucocele e pseudomixoma peritoneal Mucocele do apêndice é o acúmulo anormal de muco na luz do apêndice, que se distende, indepen- dentemente da causa. Pseudomixoma peritoneal é o implante de epitélio mucinoso na superfície
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