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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS – PASSOS FILOSOFIA GERAL E JURÍDICA Prof. Moisés Castro O QUE É IDEOLOGIA? CHAUÍ, Marilena. RESENHA CRÍTICA Rodolfo Vieira da Silva. PASSOS - MG 2017 RESENHA CRÍTICA O que é ideologia. CHAUÍ, Marilena. Rodolfo Vieira da Silva 3º período - Noturno Professor: Moisés Castro Bibliografia da obra: Obra: O que é ideologia Autora: Marilena Chauí Editora: Brasiliense Edição: 26ª 1. UM POUCO SOBRE A AUTORA Marilena de Souza Chauí, paulista de Pindorama, nasceu em 1941. Formada em filosofia pela USP, é professora de Filosofia Política e História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Marilena Chauí possui grande número de livros publicados e recebeu diversos prêmios e títulos durante sua vida acadêmica e profissional. É conhecida também por publicar livros didáticos sobre filosofia, voltados para o público geral e jovem, mais leigo no assunto filosofia. Dentre os muitos livros publicados, encontram-se “O que é Ideologia” e “O Convite à Filosofia”. 2.TEMA, TESE, IDEIA CENTRAL A ideia central de Marilena Chauí é defender que o mundo tem uma visão errônea sobre o verdadeiro sentido de ideologia. Geralmente, o termo ideologia é confundido com ideário. Mas a autora desfaz esse conceito e classifica ideologia não como um ideário qualquer, e sim um de cunho mais histórico, social e político, servindo para ocultar a realidade, mantendo a desigualdade e a exploração. 3. BREVE SÍNTESE DA OBRA A obra é divida em três capítulos, sendo eles: partindo de alguns exemplos, histórico do termo e a concepção Marxista de Ideologia. No primeiro capítulo, Marilena começa falando sobre a teoria das quatro causas de Aristóteles, quais sejam: causa material, causa formal, causa motriz e causa final. O pensamento moderno reduziu em apenas duas causas, eliminando as causas finais do plano da natureza. Ela disserta também sobre a frase de Descartes que enuncia: “o corpo humano é um animal máquina” e parte para a concepção de homem livre moderno. Acaba o capítulo com uma digressão para o leitor: “nossa tarefa será, pois, a de compreender por que a ideologia é possível: qual a sua origem, quais seus fins, quais seus mecanismos e quais seus efeitos históricos, isto é, sociais, econômicos, políticos e culturais”. No segundo e terceiro capítulos, ela expõe de forma clara e objetiva o que vários pensadores expunham sobre este tema. Um destes pensadores era Karl Marx, para quem o ideólogo é aquele que inverte as relações entre as ideias e o real. Assim, a ideologia, que inicialmente designava uma ciência natural da aquisição, pelo homem, das ideias calcadas sobre o próprio real, passa a designar, dar por diante, um sistema de ideias condenadas a desconhecer sua relação com o real. O pensamento de Marx sobre ideologia sofre fortes influências do filosofo Hegel e uma destas influências é a dialética hegeliana, a qual definia a história como um processo temporal movido pela contradição e cujo sujeito é o espírito como reflexão. Pela visão de Augusto Comte, o criador do positivismo, a ideologia é uma organização sistemática de todo conhecimento científico, o qual fora produzido por sábios que recolhiam opiniões e as corrigiam, eliminando elementos metafísicos ou religiosos, caso existissem, nestas opiniões. Assim a ideologia manipulava as ações dos homens, que eram submetidos a este poder ideológico, o qual era dominado pelos burgueses. Nesse sentido, quando as ações humanas, individuais e sociais, contradisserem as ideias, serão tidas como desordem, caos, anormalidade e perigo para a sociedade global, pois o grande lema do positivismo é: “Ordem e Progresso”. Para Durkheim a ideologia é todo conhecimento da sociedade que não respeite o critério da objetividade científica, sendo a da separação entre sujeito do conhecimento e objeto do conhecimento. Tal separação é que garante a objetividade, porque garante a neutralidade do cientista. Durkheim tem a intenção de criar a sociologia como ciência, como conhecimento racional, objetivo, observacional e necessário da sociedade. Para isso é preciso tratar o fato social como uma coisa, exatamente como o cientista da Natureza trata os fenômenos naturais. Isto significa que a condição para uma sociologia científica é tomar os fatos sociais como desprovidos de interioridade, isto é, de subjetividade, de modo a permitir que o sociólogo encare uma realidade, da qual participa, como se não fizesse parte dela. Acaba-se por concluir que ideologia é um conjunto lógico e sistemático de ideias, valores e regras, que ensina os membros da sociedade a valorizar e seguir as coisas consideradas "certas" por um membro da sociedade com controle sobre as classes inferiores. Conclui a autora, então, que ”A ideologia é um dos meios usados pelos dominantes para exercer a dominação” e essa ocorre quando oculta a luta de classes, sendo a sua eficácia será tão melhor garantida quanto maior for a capacidade de ocultamento dessa luta. A classe dominante utiliza-se da figura do Estado para manter um controle social, que lhe permite exercer o poder através das leis. E é através do direito que a dominação acaba sendo exercida e não vista de forma violenta. A função da ideologia é impedir a revolta, fazendo com que o legal apareça para os homens como legitimo, isto é, como justo e bom. Assim a ideologia substitui a realidade do Estado. 4. ANÁLISE CRÍTICA DA OBRA A obra consegue descrever de maneira objetiva as diferentes visões históricas a respeito do conceito de ideologia, além de descrever sucintamente a concepção de ideologia para vários importantes pensadores. O livro não é extenso em tamanho, mas denso em conteúdo, trazendo sobre o tema uma luz, que faz com que o leitor amplie a visão sobre o termo “ideologia”, afastando dele o conceito lugar-comum, que causa confusão entre ideologia e ideário. A autora consegue fazer com que a ideia de ideologia não seja vista ou analisada de forma isolada, mas sim num contexto histórico, político, social e por que não? Ideário. Assim como a obra “O Príncipe”, de Maquiavel, a obra alvo desta resenha tira, de certa forma, a eventual inocência do leitor acerca do jogo de poder que, na maioria das vezes, se esconde nos bastidores de governos, governantes e Estados. Isso é perceptível de forma mais transparente no último terço da obra. 5. Contextualização da leitura Não obstante a especialidade da autora e a leitura da presente obra não deixarem dúvidas sobre seu cunho filosófico, não se pode deixar de ver a pertinência e ligação do tema central, ideologia, com a ciência do Direito. O campo de aplicação da ideologia, em qualquer acepção desta, é a sociedade humana. E assim o é o Direito. O profissional do Direito, para ser bem sucedido, necessita ter e fazer uso de uma visão ampla e ao mesmo tempo profunda dos processos sociológicos. A leitura de O Que é Ideologia, ao estimular o leitor a ver os diversos significados de ideologia, também o convida a exercer essa capacidade no Direito. Deverá, ao longo da vida profissional, interpretar a lei e para isso, se ater não só à letra fria da lei, mas ao processo social que levou o legislador a elaborá-la e se esta lei continua se aplicando ao fato jurídico em questão. Isto posto, reconheço a grande importância desta obra para minha formação acadêmica e vida profissional futura, no Direito.
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