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aulas 1 e 10 Bioética

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Aula 1: Ética, bioética e tecnologia
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1- Articular os eixos temáticos do curso com as áreas do Direito; 2- Identificar a diferença entre ética, bioética e deontologia;3- Entender o conceito e o histórico da Bioética; 4- Identificar a articulação entre as diversas áreas do conhecimento presentes na discussão bioética; 5- Distinguir os princípios e modelos bioéticos; 6- Conhecer os principais diplomas ético-normativos
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: Diferença entre ética, bioética e deontologia; conceito e o histórico da bioética; identificação da articulação entre as diversas áreas do conhecimento presentes na discussão bioética; Distinção dos princípios e modelos bioéticos; Principais diplomas ético-normativos
INTRODUÇÃO: O avanço tecnológico, em especial nas áreas da biomedicina e da biotecnologia, tornou possível o conhecimento de cura de doenças, mas nos deu poderes nunca antes imaginados sobre a vida humana. Com isso, surgem os problemas ético-jurídicos...
QUESTIONAMENTOS:
- Podemos criar uma vida humana em laboratório?
- Podemos criopreservar um embrião humano, impedindo o seu desenvolvimento e posterior nascimento?
- Podemos destruir os embriões criopreservados?
- Em nome do direito ao planejamento familiar, podemos selecionar embriões, em razão de suas características genéticas?
- Podemos clonar o ser humano?
- Podemos prolongar artificialmente a vida humana?
- Podemos manipular o genoma humano?
- Como lidar com os novos conhecimentos biotecnológicos e biomédicos respeitando o valor supremo da pessoa humana?
- Qual a maior dificuldade que temos hoje em lidar com esses questionamentos ético-jurídicos?
- O que é possível do ponto de vista biotecnológico e biomédico é lícito? O novo é sempre melhor?
Antes, a questão da vida e da morte era sobrenatural, ligada aos deuses. Na medida em que o homem e a mulher começam a deter conhecimentos científicos aliados ao controle da técnica (biomedicina, biotecnologia...), conseguiram prolongar a vida, trazendo em cena questões de ordem ética. A ciência e a técnica trazem questionamentos importantes que antes eram impossíveis.
O fenômeno jurídico tem 3 dimensões: FATO ocorrido na sociedade, que recebe um VALOR (justo, injusto, importante ou não), o qual leva ao estabelecimento de uma NORMA JURÍDICA ( teoria tridimensional do Direito). O fenômeno jurídico, então, pode ser analisado enquanto valor ético ou enquanto norma jurídica. O fenômeno ligado à vida é bioético e, se deu origem à uma norma, será biojurídico - criando um biodireito.
Antes de haver uma lei de biossegurança, há uma discussão bioética. As leis que tratam das questões ligadas à vida humana têm um lastro axiológico ( valor moral, ético). Não se trata de direitos individuais, somente, mas sociais e intergeracionais
 	Podemos identificar que tais questões nos remetem a três dimensões dos problemas bioéticos e biojurídicos: individual, social (ou familiar) e o intergeracional. Assim, não se trata apenas de uma discussão sobre os limites do direito ao próprio corpo, pois envolve interesses de terceiros e também das futuras gerações.
	Poderíamos identificar um padrão moral que servisse de referência para nortear as condutas humanas diante desses novos conhecimentos? Para Maria Helena Diniz, este padrão moral seria “o valor supremo da pessoa humana, de sua vida, dignidade e liberdade ou autonomia, dentro da linguagem dos direitos humanos e em busca de uma qualidade de vida digna”.
Sobre o desenho do paleolítico e piloto: O paleolítico lança seu instrumento em busca de sobrevivência. O piloto consciente levou a bomba de Hiroshima e um povo inteiro ainda está sofrendo as sequelas da radiação até hoje. A violência causada pelo segundo é maior que a do primeiro. A bomba foi uma experiência dos norte-americanos para saber como funcionava a radiação em seres-humanos. Disseram isso no Japão, pois eram inimigos. A biotecnologia não deve ser usada para tais finalidades, devendo respeitar o valor supremo da vida humana.
Biotecnologia e Biomedicina: 
	Karl-Otto Apel sustenta que, em razão da amplitude espacial e temporal das ações humanas, torna-se difícil para o homem sentir-se emocionalmente atingido pelas consequências de suas ações. Neste ponto, recorre-se à ilustração realizada por Konrad Lorenz sobre a comparação do homem paleolítico com um machado em punho e o piloto que transportou a bomba de Hiroshima. O manipulador do machado de mão ainda apresentava fortes instintos repressivos, pois tinha de se defrontar com seu adversário olho no olho. Ou seja, ele via a sua condição de ser humano espelhada no seu adversário. Já a situação do piloto que transportou a bomba de Hiroshima é diferente, pois ele é preservado do encontro humano com o “inimigo”, pois apenas apertou um botão. Não vivenciou, portanto, as consequências da liberação da bomba de forma sensitivo-emocional. Verificamos, portanto, que a ausência de um sentimento de responsabilidade solidária é um mal do qual padece a humanidade. A grande ameaça não vem de grupos não humanos, mas, sim, de subgrupos que fazem parte da humanidade.
	A sede de viver o presente, instigada pela rede de sedução biotecnológica, desperta a “perda de sentido da continuidade histórica”.
- O Imperativo Categórico é uma das ideias centrais para a adequada compreensão da moralidade e da eticidade. Nesta proposta Kant sintetizou o seu pensamento sobre as questões da moralidade. Kant valorizava esta idéia de lei moral. Ele cunhou uma das mais célebres frases a este respeito:
Duas coisas me enchem o ânimo de admiração e respeito: o céu estrelado acima de mim e a lei moral que está em mim. (Crítica da Razão Pura)
- O filósofo alemão Hans Jonas propõe o imperativo da responsabilidade. O que caracteriza o imperativo de Jonas é a sua orientação para o futuro, mais precisamente para um futuro que ultrapassa o horizonte fechado no interior do qual o agente transformador pode reparar danos causados por ele ou sofrer a pena por eventuais delitos que ele tenha cometido. Propõe: “Age de tal maneira que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana genuína”.
GRANDES QUESTÕES BIOÉTICAS: HIROSHIMA E NAGASAKI E TRIBUNAL DE NUREMBERG
CONCEITO: 
	O termo Bioética – bios – vida; ethiké – ética – foi utilizado pela primeira vez pelo oncologista Van Renssealer Potter, na obra Biotehics: bridge to the future, em 1971. A preocupação do autor era com as relações dos seres humanos com o ecossistema e a necessidade de preservação da vida no planeta. É nesse sentido que ele utiliza a palavra “ponte”, no sentido de ligar, do ponto de vista ético, a humanidade e a ciência. Com o passar do tempo, esse conceito foi tornando-se cada vez mais amplo, para abarcar, ao final, a ética das ciências da vida e da saúde. O conceito de Bioética apresentado pela Enclyclopedia of Bioethics é “estudo sistemático das dimensões morais das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto interdisciplinar”. 							A partir desse conceito, podemos extrair algumas conclusões: a) é um conhecimento complexo, ou seja, utiliza o diálogo interdisciplinar para analisar a realidade, e, portanto, não se limita à ética médica; b) é pluralista, pois utiliza uma variedade de metodologias éticas. Em razão dessa e de outras denúncias de pesquisas envolvendo seres humanos, o governo norte-americano formou uma comissão com o objetivo de definir princípios éticos para pesquisa com seres humanos. Em 1978, o Relatório Belmont, fruto dos trabalhos da comissão, foi publicado pela National Comission for the Protection Of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research e identificou os seguintes princípios:
PRINCÍPIOS: 
A) PRINCÍPIO DA AUTONOMIA: Respeito à vontade do sujeito da pesquisa e sua liberdade (sem prejuízo de terceiros), considerando seus valores, crenças, vida e o próprio corpo, bem como sua intimidade como concretização desse princípiotemos o termo de consentimento livre e informado.
b) PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA: Deve-se buscar fazer o bem ao paciente/sujeito da pesquisa, evitando causar danos. Ou seja, é o princípio que regula as diversas instâncias da profissão médica e estrutura a deontologia profissional, como se revela no artigo 2 do Código Brasileiro de Ética Média, pelo qual:
O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício do qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.
c) PRINCÍPIO DA NÃO-MALEFICÊNCIA: é considerado um desdobramento do princípio da beneficência e indica a obrigação de não ocasionar danos;
d) PRINCÍPIO DA JUSTIÇA: O princípio da justiça está alicerçado na obrigação de igualdade de tratamento e, em relação ao Estado, da justa distribuição das verbas para a saúde, para a pesquisa etc. 
Ou seja, esse princípio exige equidade na distribuição de bens, benefícios, mas também dos ônus, no exercício da medicina e nos resultados das pesquisas científicas, para evitar discriminações e injustiças nas políticas e nas intervenções biomédicas.
- A primeira fase bioética é principiológica: Envolveu um experimento norteamericano voltada ao problema de saúde pública dos Estados Unidos por volta de 1950: Dos 600 negros em experimento, na metade inocularam o vírus da sífilis a fim de observar o avanço da doença e promover caminhos de cura.. 20 anos mais tarde, com a morte de muitos obviamente, a notícia veio à tona e, obviamente, questionaram o avanço da ciência por meio da manipulação da vida humana. Com isso, criaram princípios norteadores das pesquisas envolvendo humanos:
MODELOS: O modelo dos princípios foi o primeiro a ser proposto e foi adotado em vários países.
MODELO LIBERTÁRIO – apresenta a autonomia como o valor mais forte;
MODELO DAS VIRTUDES – baseado na tradição aristotélica da ética das virtudes, centram-se no profissional da saúde, a partir da integração do paciente ao processo de decisão;
MODELO PERSONALISTA – sua preocupação é com a fundamentação da ação, ou seja, não pode ferir a dignidade da pessoa humana.
MODELOPRINCIPALISTA
Os modelos angloamericanos são mais individualistas, os europeus são mais humanista e os latinoamericanos têm uma tradição ligada ao cuidado e à alteridade.
--Ler os diplomas ético-normativos
SISTEMAS: A forma como as discussões bioéticas são tratadas difere muito entre os países, pois há, também, a influência da cultura.e de questões sociais. Assim, podemos identificar algumas diferenças marcantes entre os sistemas europeu, anglo-americano e latino.
DIPLOMAS NORMATIVOS
Código de Nuremberg: resultado do julgamento, pelo Tribunal de Nuremberg, dos criminosos da II Guerra Mundial , tratou pela primeira vez do tema da experimentação em seres humanos.
Declaração Universal do Genoma Humano (UNESCO): preocupação com a manipulação do patrimônio genético-humano.
Declaração Universal dos Direitos Humanos das Gerações Futuras: preocupação com as gerações futuras, a geração presente tem o dever de manutenção e perpetuação da humanidade com respeito à dignidade humana.
Juramento de Hipócrates: Apesar de ter mais de 2.500 anos, ainda é uma referência ética para a prática médica, dando ênfase a não-maleficiência, a beneficiência e a confidencialidade.
AULA 2: BIODIREITO E BIOÉTICA
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1- Entender o processo de juridicização da Bioética;
2- Identificar o conteúdo dos direitos da personalidade e o direito ao próprio corpo;
3- Entender o conteúdo e a eficácia do princípio da dignidade da pessoa humana;
4- Identificar os princípios constitucionais do Biodireito
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
	A liberdade de pesquisa está prevista no inciso IX do art. 5º da CRFB. É certo que o legislador, ao instituir tal direito, não o admitiu de forma absoluta. 
	Na hipótese de conflito entre esse direito e outros, como o direito à vida e à integridade física, deve-se aplicar a técnica da ponderação. Além disso, deve-se frisar que a liberdade de pesquisa não pode levar à “coisificação” do ser humano (art. 1º. III, CRFB).
	A dignidade humana se apresenta como um “elemento universal", ou seja, um padrão de ética amplamente aceito em nível mundial (reificação do ser humano, rei em latim – coisa).
	No período nazista, em nome do avanço da Psicologia, os profissionais se prestaram a fazer pesquisas científicas colocando mães judias nas solitárias, proibindo-as de amamentarem seus filhos a fim de medir a potencialidade de loucura da mãe ao não poder acalentar o bebê. Questões como essa levaram a questionar se em nome da ciência vale tudo. Para que nunca mais se cometa barbaridades, colocou-se a dignidade da pessoa humana como farol iluminador da sociedade ocidental a partir dos erros e da tragédia universal que foi a Segunda Guerra Mundial.
	A legitimidade de um sistema jurídico perpassa pela necessidade de consagração da intangibilidade da dignidade da pessoa humana, eis que esta é ponto de referência essencial na temática da dignidade.
	Nesse sentido, segundo Miguel Reale: "Da análise racional do homem e da consideração de que o homem é por necessidade um animal político, resulta a ideia de que cada homem representa um valor e que a pessoa humana constitui o valor-fonte de todos os valores. [...] A ideia de pessoa humana, e de que cada homem tem uma individualidade racional, que como tal deve ser respeitada, eis o valor por excelência, aquele que podemos chamar de valor-fonte."
	Tal noção do homem como animal político advém de Aristóteles e se refere ao homem que vive na cidade e decide as questões políticas junto com os outros seres como ele. Nisso, cada homem é importante é representa um valor, sendo o reconhecimento do valor imprescindível pelo e no outro. O individualismo exacerbado destrói e as soluções são sempre coletivas.
	O respeito à dignidade humana é a base para a elaboração e construção de todos os direitos humanos fundamentais. Ou seja, a dignidade não é considerada um direito separado e específico, mas a fonte da qual derivam todos os direitos do homem.
	A respeito da manipulação do genoma humano, segundo Machado Paupério: “Quando as regras de Direito se obstinam em não conhecer a dignidade da pessoa humana, deixam de ser regras propriamente jurídicas, porque, evidentemente, qualquer norma dessa natureza pressupõe um destinatário humano. Já então se está diante não de um direito injusto, mas da simples ausência do Direito”.
O princípio da dignidade da pessoa humana é considerado por Gustavo Tepedino como: “Cláusula geral de tutela e promoção da pessoa humana”.
ORDENAMENTO JURÍDICO:
Como conciliar o processo estático do direito com a dinâmica da sociedade e dos avanços tecnológicos?
Diante das incertezas, da própria mutabilidade do conhecimento científico e também de sua incompletude, como deve o Direito regular a aplicação dos conhecimentos biotecnológicos e biomédicos?
	Para respondermos a esta pergunta, devemos, inicialmente, fazer uma breve exposição sobre como o Direito regulamenta os fatos.
	Os positivistas entendem que o ordenamento jurídico era composto de normas positivadas. No entanto, os pós-positivistas entendem que é composto por princípios (normas deduzíveis a partir de uma hermenêutica, interpretação de normas dadas) e regras (normas positivadas, direito posto).
O ordenamento jurídico é composto por princípios e regras:
- Regras: descrevem um fato, ou fatos, e se vinculam a suportes fáticos específicos;
- Princípios: são mandados de otimização de valores, permitindo ao aplicador do Direito maior flexibilidade diante de determinado fato concreto.
	Dessa forma, a regra é pontual e definitiva, no entanto, os princípios possuem maior amplitude, visto que permitem a atribuição de valores os quais fundamentam decisões acerca de situações não previstas pela regra positivada em razão das transformações sociais. Assim, fornecem substrato jurídico para os novos casos concretos. Se o caso concreto se subsume na regra, procura-seo princípio que se coaduna por meio da hermenêutica.
	Os princípios são fontes ricas para regulamentar práticas da biomedicina e da biotecnologia porque crescem em progressão geométrica, não dando conta o direito positivado de regulamentar as inovações trazidas pelas referidas ciências. Ademais, as questões dos referidos saberes envolvem questões éticas, de valor, de princípios. 
	Considerando a complexidade e a mutabilidade dos fatos, podemos recorrer aos princípios (com maior plasticidade) e às regras (dotadas de alto grau de concretização).
	"O Direito deve, porém, na medida do possível, apresentar-se com abertura suficiente para atender ao pluralismo moral, realizando o princípio da tolerância e o respeito à diversidade, incentivado nas sociedades ocidentais contemporâneas. Esta, porém, é uma tarefa delicada, em se tratando de temas tão impregnados de crenças, religiosidade e valores distintos.”
	Os princípios são considerados o melhor meio para regulamentar as práticas da Biomedicina e da Biotecnologia, pois, por sua natureza, teriam condições de acompanhar a mutabilidade dos fatos científicos, preservando o valor que lhe é inerente.
BIODIREITO: ramo do Direito
Objetos: 
1.	Os direitos fundamentais (constitucionais): demarcam a situação do cidadão perante o Estado. Decorrem do princípio da dignidade da pessoa humana recepcionados pela constituição.
2.	Os direitos da personalidade: envolvem a pessoa, direitos sem os quais as pessoas não podem desenvolver plenamente suas potencialidades. Adquire-se a personalidade a partir do nascimento com vida (respiração), possuindo capacidade de direito.
3.	Os direitos humanos: são aqueles essenciais para a vida. É preciso a recepção de um país para ter cogência.
Ver Emenda Constitucional nº45
DIREITOS DA PERSONALIDADE, DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS
Inicialmente, cumpre estabelecer uma delimitação de ordem conceitual e metodológica. 
	Na construção do que se denomina “Biodireito”, que para alguns autores é um novo ramo do Direito, encontraremos normas que se apresentam no âmbito dos direitos da personalidade, dos direitos fundamentais e humanos. Sendo assim, devemos indicar, preliminarmente, seus objetos:
- Direitos da personalidade: Têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais, e são trabalhados no âmbito do Direito Civil.
- Direitos fundamentais: São os direitos do ser humano, positivados no âmbito constitucional de determinado Estado.
- Direitos humanos: São os direitos do ser humano, reconhecidos em documentos de Direito Internacional.
DIREITO DA PERSONALIDADE: Como já vimos, os Direitos da Personalidade têm como objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais. Atualmente, há previsão dos direitos da personalidade no Código Civil de 2002 e na legislação esparsa.Contudo, não se trata de uma previsão taxativa, visto que o princípio da dignidade da pessoa humana é considerado uma cláusula geral de proteção da personalidade, pois esta é vista como um valor a ser tutelado. A doutrina aponta para as seguintes características dos direitos da personalidade:
DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS: Já ressaltamos que a relação entre direitos fundamentais e direitos humanos não é uma relação de oposição, pois são apenas instâncias diferenciadas de regulação da pessoa humana. Devemos ressaltar, ainda, que não há uma identidade entre o rol dos direitos humanos e dos direitos fundamentais. Isto porque, no que diz respeito aos direitos humanos, há necessidade de recepção na ordem interna de um país, para que lhe seja atribuída a cogência.
São: 
- Absolutos: São oponíveis erga omnes, ou seja, impõem o dever de respeito a toda coletividade.
- Gerais: São outorgados a todas as pessoas.
- Extrapatrimoniais: Não há conteúdo patrimonial auferível, apesar de a lesão poder gerar mensuração econômica.
- Intransmissíveis: São inalienáveis (art. 11, C.C., 2002).
- Irrenunciáveis: Não se pode renunciar (art. 11, C.C., 2002). Em alguns casos, pode-se admitir a transmissibilidade de poderes vinculados a determinados direitos da personalidade, como, por exemplo, no caso da doação de órgãos intervivos, dodireito à imagem, dentre outros.
- Imprescritíveis: Não há prazo para seu exercício.
- Vitalícios: Terminam com a morte. Porém, há direitos da personalidade que se projetam para além
da morte, como, por exemplo, o direito ao corpo morto e à honra.
Como se dá a tutela aos direitos da personalidade?
Art. 12 CC/2002: “Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão. A direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei”.
No âmbito constitucional, pelos seguintes incisos do art. 5°. LXVIII, LXIX, LXXI, LXXII.
“LXVIII – conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se acharameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”.
“LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público”.
“LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”.
“LXXII – conceder-se-á habeas-data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo”.
Princípios constitucionais aplicáveis ao Biodireito
Inicialmente, cumpre esclarecer a importância dos princípios constitucionais. 
 “Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
 II - a cidadania
 III - a dignidade da pessoa humana;
 V - o pluralismo político.”
“Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
 I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
 II - garantir o desenvolvimento nacional;
 III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
 IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
 I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
 II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
 III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
 IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
	Segundo Luís Roberto Barroso: “Os princípios constitucionais são o conjunto de normas da ideologia da Constituição, seus postulados básicos e seus afins. Dito de forma sumária, os princípios constitucionaissão as normas eleitas pelo constituinte como fundamento ou qualificações essenciais da ordem jurídica que institui” Ao longo do curso, verificaremos que tais princípios nos auxiliam na solução de questões biojurídicas e são considerados princípios constitucionais do Biodireito.
Nesta aula, você: Entendeu o processo de juridicização da Bioética; Identificou o conteúdo dos direitos da personalidade e o direito ao próprio corpo; Entendeu o conteúdo e a eficácia do princípio da dignidade da pessoa humana; Identificou os princípios constitucionais do Biodireito.
AULA 3: DIREITO À VIDA: COMPREENSÃO, EXTENSÃO E LIMITES
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1- Entender o processo de juridicização da Bioética; 2- Identificar o conteúdo do direito da personalidade e o direito ao próprio corpo; 3- Entender o conteúdo e a eficácia do princípio da dignidade da pessoa humana; 4- Identificar os princípios constitucionais do Biodireito.
DIREITO À VIDA
Importância da vida: 
	A vida de qualquer ser humano é importante e deve ser protegida independentemente do país assinar um pacto. Isso porque antes de ser um direito constitucional é natural de qualquer ser humano. Antes da lei, há o ser. Todos fazem parte da humanidade e a vida do semelhante é importante. Assim proteger a vida de qualquer ser humano é proteger minha própria vida porque sou igual ao outro. Essa é a diferença do direito natural do positivo: o positivo é criado, o natural existe e é prerrogativa pra vida.
	A Constituição Federal elenca, entre os direitos fundamentais, o direito à vida. Podemos conceber que a proteção conferida ao direito à vida é a de não a ter interrompida por ato de outrem.
Nesse sentido, a legislação penal pune o aborto, o infanticídio e o homicídio.
	O Brasil é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), que determina, no artigo 4º, nº 1: “Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção”.
Quando a vida humana começa? 
 	O caso do aborto não é biológico, não se trata de quando a vida começa ou termina. É uma questão, antes de tudo, ética. Na Idade Média, devido à falta de recursos biotecnológicos, entendiam que a vida começava quando a criança se mexia. No entanto, com o avanço das ciências e dos recursos de exame, é possível adotar outros parâmetros para entender melhor o estágio de desenvolvimento.
	É uma questão bioética. Definir quando a vida humana começa é questão tormentosa, com várias correntes, principalmente após o advento das técnicas de reprodução assistida e da possibilidade de pesquisa e terapia com células-tronco embrionárias.
- Para os concepcionistas, a vida humana tem início com a fecundação do óvulo pelo espermatozoide.
- Existem, no entanto, outros entendimentos de que o início da vida ocorre: com a implantação do embrião no útero;
- Outros dizem que ocorre com a formação do sistema nervoso;
- A partir do terceiro mês (como decidiu a Suprema Corte norte-americana);
- Ou apenas com a vida extrauterina.
	O aborto no Brasil é criminalizado. A grande questão do debate é quando a vida começa, no entanto, devemos pensar a vida como um processo. Por que é necessário pensar o momento no qual a vida objetivamente começa? O óvulo e o espermatozoide tem vida e são organismos vivos que se unem, já havendo vida. O Professor Maurício Mori afirma que não é possível determinar quando a vida começa, pois a vida humana começou há milhares de anos. Isso porque óvulo e espermatozoide são organismos vivos que se encontram em certo estágio do processo da vida humana. Assim, não há que se falar quando começa, mas em qual estágio se interrompe ou se desenvolve a vida.								Em outras palavras, Mori considera que, ao questionamento sobre “quando começa a vida humana”, cabe somente uma sensata resposta, à luz do pensamento de F. Jacob: “A vida humana começou num passado longínquo, há centenas de milhares de anos, e desde então ela se tem transmitido através do processo teleológico da reprodução”.
	Mori reconhece que, aos olhos do senso comum, a vida humana é percebida sob uma perspectiva “coisalista”. Esta perspectiva vê o mundo como sendo constituído por “coisas” que são produto da fusão de outras “coisas”.
	Por essa concepção, podemos exemplificar que, se temos um pouco de leite (uma coisa), que se une a um pouco de farinha de trigo ( uma outra coisa), um pouco de açúcar (outra coisa) e um ovo (outra coisa), teremos em consequência um bolo (uma nova coisa).
	Por esta linha de raciocínio, deduzimos necessariamente que a vida começa quando um espermatozoide (uma coisa) se funde com um óvulo (uma coisa), para dar origem a um novo ente, que se caracteriza por ser possuidor de uma delimitação espaço-temporal por bordas próprias (uma nova coisa).
	Assim, para Mori, parece ser coerente, normal e até mesmo natural, nessa perspectiva “coisalista”, a concepção ser considerada como o momento para o começo da vida. Porém, ainda que o “coisalismo” se valha de toda uma linguagem científica para sustentar suas posições, para Mori segue sendo mero senso comum, e temos de reconhecer que as questões de ordem biológica não podem ser estudadas por meio de uma perspectiva “coisalista”, visto que não estamos a lidar com “coisas”, mas com processos que tendem a determinado fim (processos teleológicos). E este apresenta distintos níveis de complexidade envolvendo o
processo vital.
	Então, a partir do abandono do modo “coisalista” e da assunção de um “modo biológico” de pensar, a própria pergunta “quando se inicia a vida humana?” se revela carente de consistência, pois fica evidente que a questão central é a seguinte: “quando começa o processo teleológico de transmissão da vida?”.
	Mori reconhece que não é fácil estabelecer uma resposta para esta indagação, pelo fato de não se estar diante de um simples evento. Trata-se de todo um processo cíclico em que a vida, lato sensu, depois do começo primordial, é um ciclo em permanente movimento, e cada um dos eventos deste ciclo pode ser apontado como o “inicial”.
	Deste modo, não é possível desconsiderar ou relegar a um segundo plano eventos que envolvem desde a escolha do parceiro até a manifestação da vontade de duas pessoas em “pôr em ato as capacidades generativas”.
Resolução n°. 1358/92 do Conselho Federal de Medicina
I PRINCÍPIOS GERAIS
 “2 - As técnicas de RA podem ser utilizadas desde que exista probabilidade efetiva de sucesso e não se incorra em risco grave de saúde para a paciente ou o possível descendente.”
 “4 - As técnicas de RA não devem ser aplicadas com a intenção de selecionar o sexo ou qualquer outra característica biológica do futuro filho, exceto quando se trate de evitar doenças ligadas ao sexo do filho que venha a nascer.”
“5 - É proibido a fecundação de oócitos humanos, com qualquer outra finalidade que não seja a procriação humana.”
6 - O número ideal de oócitos e pré-embriões a serem transferidos para a receptora não deve ser superior a quatro, com o intuito de não aumentar os riscos já existentes de multiparidade.
7 - Em caso de gravidez múltipla, decorrente do uso de técnicas de RA, é proibida a utilização de procedimentos que visem a redução embrionária.”
“IV - DOAÇÃO DE GAMETAS OU PRÉ-EMBRIÕES
1 - A doação nunca terá caráter lucrativa ou comercial.
“V - CRIOPRESERVAÇÃO DE GAMETAS OU PRÉ-EMBRIÕES
1 - As clínicas, centros ou serviços podem criopreservar espermatozóides, óvulos e pré-embriões.
2 - O número total de pré-embriões produzidos em laboratório será comunicado aos pacientes, para que se decida quantos pré-embriões serão transferidos a fresco, devendo o excedente ser criopreservado, não podendo ser descartado ou destruído. 
3 - No momento da criopreservação, os cônjuges ou companheiros devem expressar sua vontade, por escrito, quanto ao destino que será dado aos pré- embriões criopreservados, em caso de divórcio, doenças graves ou de falecimento de um deles ou de ambos, e quando desejam doá-los.VI - DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE PRÉ-EMBRIÕES
As técnicas de RA também podem ser utilizadas na preservação e tratamento de doenças genéticas ou hereditárias, quando perfeitamente indicadas e com suficientes garantias de diagnóstico e terapêutica.
1 - Toda intervenção sobre pré-embriões "in vitro", com fins diagnósticos, não poderá ter outra finalidade que a avaliação de sua viabilidade ou detecção de doenças hereditárias, sendo obrigatório o consentimento informado do casal.
2 - Toda intervenção com fins terapêuticos, sobre pré-embriões "in vitro", não terá outra finalidade que tratar uma doença ou impedir sua transmissão, com garantias reais de sucesso, sendo obrigatório o consentimento informado do casal.
3 - O tempo máximo de desenvolvimento de pré-embriões "in vitro" será de 14 dias”.
Princípios constitucionais aplicáveis ao Biodireito
Verificamos que, apesar de se referir ao embrião como “pré-embrião”, a resolução proíbe a sua coisificação, vedando, inclusive, a destruição dos embriões. Conheça a disposição da Lei n° 8974/95 (antiga lei de biossegurança), revogada pela Lei n° 11.105/2005, em seu artigo 8°., incisos III e IV:
“Art. 8°. É vedado, nas atividades relacionadas à OGM:
III – a intervenção em material genético humano „in vivo‟, exceto para o tratamento de defeitos genéticos, respeitando-se princípios éticos, tais como o princípio de beneficência, e com a aprovação prévia da CTNBio;
IV – a produção, armazenamento ou manipulação de embriões humanos destinados a servir como material biológico disponível”.
	Tais condutas eram tipificadas, no artigo 13, incisos II e III como crime, com a previsão de penas entre 2 e 20 anos. Vale ressaltar que a produção, armazenamento ou manipulação de embriões humanos destinados a servirem como material biológico disponível eram apenadas com reclusão de 6 a 20 anos, ou seja, a mesma pena prevista para o crime de homicídio.
	Já a nova Lei de Biossegurança, Lei n° 11.105/2005, proíbe a utilização de embriões humanos em desacordo com o que dispõe o seu artigo 5°, prevendo pena de detenção de 1 a 3 anos, e multa, ou seja, a mesma pena prevista para o crime de aborto provocado ou consentido (artigo 124 do Código Penal). Já ao
proibir a prática da engenharia genética em células germinais humanas, zigotos humanos ou embriões humanos, a referida lei estabelece a pena de reclusão de 1 a 4 anos, e multa, ou seja, a mesma pena estabelecida para o agente que provoca aborto consentido.
	Verificamos que a Lei n°11.105/2005 apresenta um enorme paradoxo, pois ao mesmo tempo em que autoriza a utilização de embriões inviáveis ou armazenados há 3 anos, proíbe a utilização de embriões que não estejam enquadrados nestes requisitos. Podemos extrair duas conclusões: 
a) o legislador protege a vida humana embrionária, desde a concepção, pouco importando se ex utero ou in utero, como se depreende da leitura dos artigos 24 e 25 da Lei n°11.105/2005; 
b) contraditoriamente, defende que o embrião armazenado há mais de 3 anos e o considerado inviável não seriam merecedores dessa tutela, o que nos leva a questionar se a proteção é conferida em razão da concepção ou da sua viabilidade.
	O inciso II do artigo 5°. da Lei n° 11.105/2005 nos leva a crer que, após 3 anos de criopreservação, o embrião humano é inviável, ou seja, há a presunção de sua inviabilidade. Não há, na literatura médica, nenhuma indicação de que, a partir de certo prazo, o embrião criopreservado necessariamente passe a ser inviável. Ou seja, o legislador, para aumentar a oferta de embriões para pesquisa e terapia ou para dar um fim aos embriões criopreservados, elegeu um prazo sem qualquer embasamento científico, contrariando o próprio posicionamento da Lei n°11.105/2005, que não permite a utilização de todo e qualquer embrião,
inclusive com efeitos na esfera penal, protegendo, em regra, o embrião humano desde a concepção.
Alegando a inconstitucionalidade do artigo 5°. da Lei 11.105/2005, foi proposta, no STF, a ADI n°. 3510, por violação do art. 1°., III da Constituição Federal, que permite a utilização de células-tronco embrionárias originárias de embriões excedentes das técnicas de reprodução assistida, desde que sejam embriões inviáveis ou congelados há mais de 3 anos.No desenvolvimento da argumentação,sustenta-se que:
 a) a vida embrionária se inicia com a fecundação e que a partir desse momento, estar-se-ia diante de um ser humano; 
b) que a utilização de células-tronco adultas vem apresentando progressos significativos, ou até melhores do que com as células-tronco embrionárias; 
c) aponta que, em outros países, há específica proteção aos embriões, proibindo-se a utilização de células tronco embrionárias.
NASCITURO: O artigo 2º. do Código Civil de 2002 estabelece que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. O conceito e a natureza jurídica do nascituro são questões controvertidas, o que originou as correntes natalista e concepcionista.
O que dizem os natalistas: Os adeptos da teoria natalista sustentam que a personalidade jurídica começa do nascimento com vida. O Código Civil brasileiro adotou essa corrente, ao dispor na primeira parte do art. 2º que:  “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida”. No que diz respeito ao nascituro, é uma salvaguarda de direitos que virão a concretizar-se com o nascimento com vida.
O que dizem os concepcionistas: “Estabelece-se, destarte, que certos direitos e determinados estados, atributos da personalidade, independem do nascimento com vida, o que refuta a tese de que aquela deste depende sempre. Mesmo que ao nascituro fosse reconhecido apenas um status ou um direito, ainda assim seria forçoso reconhecer-lhe a personalidade, porque não há direito ou status sem sujeito, nem há sujeito de direito que tenha completa e integral capacidade jurídica (de direito ou de fato) que se refere sempre a certos e determinados direitos particularmente considerados. [...] a personalidade do nascituro não é condicional, apenas certos efeitos de certos direitos dependem do nascimento com vida, notadamente os direitos patrimoniais materiais, como a doação e a herança. Nesses casos, o nascimento com vida é elemento do negócio jurídico que diz respeito à sua eficácia, aperfeiçoando-a.“ Silmara de Almeida Chinelato Os defensores da corrente concepcionista defendem que a personalidade civil começa desde a concepção, seja no ventre materno ou no tubo de ensaio do laboratório.
NOSSO CÓDIGO CIVIL ADOTOU A TEORIA NATALISTA: Os defensores da teoria natalista estabelecem a definição da condição jurídica de pessoa a partir do nascimento com vida, levando em consideração que a preocupação do legislador do Código Civil não era a dar segurança às relações jurídicas e aos sujeitos de Direito. Essa posição parece estar justificada pela primeira parte do artigo 2º do Código Civil Brasileiro de 2002. Contudo, tal teoria não explica o exercício efetivo de direitos pelo nascituro antes do seu nascimento.
DIVERGÊNCIA: Nunca restou dúvida, no entendimento doutrinário e jurisprudencial brasileiro, quanto à aplicação da teoria natalista, a saber: “a pessoa natural começa sua existência com o nascimento com vida e, nesse sentido, a sua capacidade jurídica”. Entretanto, a novidade está aparecendo na crescente aplicação da teoria concepcionista, que garante certa equiparação ente os nascidos e os ainda em fase de gestação (não há decisões envolvendo embriões de laboratório). Em recente julgado, o STJ decidiu, por maioria de votos, recurso especial que  reconheceu direito aos pais à indenização por danos pessoais, prevista na legislação do seguro DPVAT, em face de nascituro. No voto-vista, o ministro Paulo de Tarso Sanseverino afirma que a polêmica central encontra-se em enquadrar a situação ocorrida, em que a vítima estava no ventre de sua mãe e veio a falecer quatro dias após o acidente, com 35 semanas completas de gestação. Entendeu o Ministro, portanto, mais razoávela proteção dos direitos fundamentais, onde a indenização pelo “dano-morte” como modalidade de “danos pessoais” não se restringe ao obtido no conceito simplista de pessoa natural, mas sim a pessoa já formada, plenamente apta à vida extrauterina, mesmo que não nascida. Conclui: “se é certo que a lei brasileira previu como aptos a adquirirem direitos e contraírem obrigações, os nascidos com vida, dotando-os de personalidade jurídica, não exclui do seu alcance aqueles que, ainda não nascidos, remanescem no ventre materno, reconhecendo-lhes a aptidão de ser sujeitos de ‘direito’”.
Embrião pré-implantatório (ou em situação extracorpórea)
	Após analisarmos a situação do embrião implantado – nascituro –, vamos passar para um dos assuntos mais tormentosos: a tutela do embrião em situação extracorpórea. Vimos que, com a técnica da fertilização in vitro, é possível haver concepção fora do ventre materno e, posteriormente, criopreservação do embrião.
	O Direito brasileiro tutela o embrião preimplantatório da mesma forma que o implantado?
A primeira indagação que devemos fazer é: a destruição dos embriões preimplantatórios seria tipificado como crime de aborto?
	Para Heloísa Helena Barboza: “Considerando que a lei penal pune, mas não conceitua o aborto (etimologicamente ab = privação + ortus= nascimento), e que este é definido como a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção, afirma-se inexistir crime de aborto na fertilização in vitro, visto que a gravidez só existe em organismo vivo, não sendo reconhecida fora dele.”
	Para Rodolfo Pamplona Filho e Pablo Stolze: “Sem violação do princípio da tipicidade, levando-se em conta o fato de a lei penal não definir o que seja aborto, não se poderia negar proteção jurídica a um embrião fecundado in vitro, pelo simples fato de se formar fora do útero materno. O aspecto circunstancial não pode prevalecer sobre a razão da norma. A lei tutela a vida desde a sua formação, e o fato de o desenvolvimento embrionário ocorrer em laboratório não é justificativa para negar a aplicação da lei penal. Afinal, onde há a mesma razão, deve haver o mesmo direito”.
	Para Nilo Gonçalves: “É incontestável, portanto, que a ocisão dolosa do concepto, ainda que in vitro, representa um ato contra a vida, bem máximo tutelado pelo nosso Código Penal”. Não existe uma definição clara no ordenamento jurídico sobre a natureza jurídica do embrião pré-implantatório, apesar de ser possível advogar a tese de que não há tratamento na qualidade de coisa. Para tanto, precisamos analisar alguns diplomas normativos.
Obs 1: É uma questão de saúde pública. No Brasil, há um número gigantesco de feto anencéfalos (sem cérebro), tendo a causa principal a anemia da mãe ( alimentação pobre em proteínas, vitaminas B). Dessa forma, está intimamente ligada à miséria e à fome. Assim, há maior incidência de feto nas regiões norte e nordeste na maioria dos casos. A partir do governo Lula, começou-se uma campanha de distribuição de ácido fólico para as mães nessas localidades a fim de prevenir a formação de fetos sem cérebro.
 Obs2: Existem várias gradações, mas a questão do feto anencefálico é que vai falecer pouco tempo depois do parto ou mesmo na barriga da mãe. Os casos de lesões não configuram anencefalia.
Obs3: A discussão não é de ordem técnica, mas bioética. Enquanto o embrião estiver no tubo de ensaio, criopreservado, não há que se falar em expectativa ou em pessoa. No entanto, na medida que é implantado e recebe uma relação parental, de alteridade, torna-se ser em potencial.
Esse entendimento é vitorioso do Supremo Tribunal Federal, que autorizou a manipulação dos embriões congelados depois de 3 anos, pois as células embrionárias não fruticam mais, podendo ser descartados ou utilizados para curar a quem padece de alguma doença.
Ler o posicionamento de Heloísa Helena Barbosa, que diz que a lei pune o aborto, mas não o conceitua.
Obs4: A questão do aborto dessas células criopreservadas é polêmica justamente por não haver definição de aborto na lei. Como os progressos técnico-científicos caminham de forma veloz, o direito não consegue acompanhar, cabendo sim reflexões éticas acercas dessas questões.
ABORTO DE FETO ANENCEFÁLICO
	O Direito brasileiro considera o aborto como crime e o tipifica nos artigos 124 a 127 do Código Penal. Contudo, admite sua realização nas hipóteses previstas no artigo 128, I e II do Código Penal (aborto terapêutico e aborto sentimental).
	O Poder Judiciário brasileiro já foi chamado inúmeras vezes para se pronunciar sobre a possibilidade de realização de aborto de feto anencefálico. No âmbito do STF, tramita a ADPF nº. 54, foi movida pela Confederação dos Trabalhadores na Saúde – CNTS e objetiva que o STF declare inconstitucional, com eficácia erga omnes e efeito vinculante, a interpretação dos artigos 124, 126 e 128, I e II do Código Penal como impeditivos da interrupção da gestação em caso de gravidez de feto anencefálico, reconhecendo o direito subjetivo da gestante em se submeter a tal procedimento.
ARGUMENTOS CONTRA A INTERRUPÇÃO:
- não há aumento de risco na gravidez de feto anencéfalo, pois toda e qualquer complicação pode ser revertida clinicamente; (É um argumento que parte do pressuposto de que todas as mulheres têm acesso ao pré-natal. No entanto, os maiores índices de fetos anencefálicos ocorrem no nordeste, nas regiões mais pobres do país.)
- desde a concepção há um ser humano – o direito brasileiro protege a vida humana desde a concepção;
- para a decretação da morte encefálica deve haver uma lesão de tronco cerebral e o anencéfalo tem tronco cerebral sem lesão.
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS:
- impossibilidade de incidência dos artigos 124 a 128 do CP, pois equipara o anencéfalo a um morto cerebral;
- aumento do risco na gravidez de feto anencéfalo;
- autonomia da gestante;
- não há vida viável em formação
- a continuidade da gravidez é equiparada à tortura para a mulher que é obrigada a levar esta gestação.
ADPF 54 é julgada procedente pelo ministro Gilmar Mendes
	O ministro Gilmar Mendes foi o sétimo a votar pela procedência da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54, em análise pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele considerou a interrupção da gravidez de feto anencéfalo como hipótese de aborto, mas entende que essa situação está compreendida como causa de excludente de ilicitude, já prevista no Código Penal, por ser comprovado que a gestação de feto anencéfalo é perigosa à saúde da gestante.
No entanto, o ministro ressalvou ser indispensável que as autoridades competentes regulamentem de forma adequada, com normas de organização e procedimento, o reconhecimento da anencefalia, a fim de “conferir segurança ao diagnóstico dessa espécie”. 
	Enquanto pendente de regulamentação, disse o ministro, "a anencefalia deverá ser atestada por, no mínimo, dois laudos com diagnósticos produzidos por médicos distintos e segundo técnicas de exames atuais e suficientemente seguras”.
	Apesar de entender que a regra do Código Penal é a vedação do aborto, o ministro Gilmar Mendes avaliou que a hipótese específica de aborto de fetos anencéfalos está compreendida entre as excludentes de ilicitude, estabelecidas pelo Código Penal. 
	Ele citou que, conforme a legislação brasileira, o aborto não é punido em duas situações: quando não há outro meio de salvar a vida da mãe (aborto necessário ou terapêutico) e/ou quando a gravidez é resultante de estupro, caso em que se requer o consentimento da gestante, porque a intenção é proteger sua saúde psíquica.
	“Todavia, era inimaginável para o legislador de 1940 (ano da edição do Código Penal), em razão das próprias limitações tecnológicas existentes”, disse.									Com o avanço das técnicas de diagnóstico, prosseguiu o ministro, “tornou-se comum e relativamente simples descobrir a anencefalia fetal, de modo que a não inclusão na legislação penal dessa hipótese de excludente de ilicitude pode ser considerada uma omissão legislativa, não condizente com o CódigoPenal e com a própria Constituição”.
	De acordo com o ministro, a inconstitucionalidade da omissão legislativa está na ofensa à integridade física e psíquica da mulher, bem como na violação ao seu direito de privacidade e intimidade, aliados à ofensa à autonomia da vontade. “Competirá (como na hipótese do aborto de feto resultante de estupro) a cada gestante, de posse do seu diagnóstico de anencefalia fetal, decidir que caminho seguir”, ressaltou.
	Por essa razão, o ministro destacou a necessidade de o Estado disciplinar, “com todo zelo, a questão relativa ao diagnóstico de anencefalia fetal, visto que ele é condição necessária à realização deste tipo de aborto”.
Prevenção à anencefalia
	Conforme o ministro Gilmar Mendes, o Brasil já possui medidas que priorizam a prevenção, e não apenas a repressão da interrupção da gravidez.
	Ele contou que o Ministério da Saúde homologou resolução do Plenário do Conselho Nacional de Saúde, na qual se atribui ao próprio ministério a responsabilidade de promover ações que visem à prevenção de anencefalia.
Disponibilização do ácido fólico na rede básica de saúde, para acesso de todas as mulheres nos períodos pré-gestacional e gestacional, além de garantir a inclusão de ácido fólico nos insumos alimentícios.
Síntese da Aula
Nesta aula, você: 
1. Entendeu o processo de juridicização da Bioética; 
2.Identificou o conteúdo dos direitos da personalidade e o direito ao próprio corpo;
3.Entendeu o conteúdo e a eficácia do princípio da dignidade da pessoa humana; 
4.Identificou os princípios constitucionais do Biodireito.
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
1. Diferenciar a clonagem reprodutiva e terapêutica;
2. Aplicar a legislação brasileira pertinente ao tema;
3. Conhecer a tutela jurídica conferida à identidade pessoal e genética do ser humano;
4. Conhecer os impactos biojurídicos da clonagem reprodutiva e terapêutica.
AULA 4 - Clonagem reprodutiva e terapêutica: conceitos e diferenças
Ao final dessa aula, você será capaz de:
1- Diferenciar a clonagem reprodutiva e terapêutica;
2- Identificar a legislação brasileira pertinente ao tema;
3- Conhecer a tutela jurídica conferida à identidade pessoal e genética do ser humano;
4- Conhecer os impactos biojurídicos da clonagem reprodutiva e terapêutica
Introdução:
	O que é um clone? É um ser idêntico, obtido a partir do material genético de um outro ser.
ATENÇÃO!!!! A natureza já nos brinda com clones há muito tempo. Os gêmeos univitelinos nada mais são que clones naturais. Você já tinha pensado nisso?
	Há já bastante tempo os progressos do conhecimento e os respectivos avanços da técnica no âmbito da biologia molecular, genética e fecundação artificial tornaram possível a experimentação e a realização de clonagens no campo vegetal e animal.
A clonagem pode ocorrer de forma natural ou de forma manipulada.
CLONAGEM NATURAL: A clonagem, enquanto processo natural, ocorre com a união do espermatozoide com o ovulo. No meio desse processo, há uma cisão gemelar, do ovo, formando ao invés de um, dois ovos, originando dois filhotes ou dois bebês.
CLONAGEM MANIPULADA: 
	Um padre foi o pai de biogenética, Mendel, que criou as primeiras leis genéticas, por meio do plantio de feijões, descobrindo as combinações genéticas.
Desde o início do século XX, vem se fazendo combinações genéticas com vegetais e depois dos animais de reinos inferiores (protozoários, répteis...). Tudo isso ocorria sem os cientistas darem publicidade até que, no fim do século XX, conseguiram clonar um animal tido como superior, a ovelha Dolly. A experiência de clonagem da ovelha não foi de procedimento de fertilização em vitro, mas de forma assexuada.
	Ocorreu, durante todo o século XX, em laboratório, a clonagem manipulada de animais inferiores e superiores.
	Os seres humanos e os animais são originados a partir de duas células, apenas: óvulo e espermatozoide. Essas duas únicas células originam todas as outras e, por isso, são chamadas de pluripotentes: células do tecido nervoso, muscular, epitelial e todas. Depois que essas células totipotenciais se transformam num determinado tipo de célula, nunca mais voltam a essa condição. Assim, uma célula transformada em cabelo, se transformará sempre em cabelo e não mais produzirá outro tipo de tecido.
	Esse era o pensamento até 1996, não dando para reverter o processo, tipo: pegar o tecido da glândula mamária e fazer essa célula dar origem a outro tipo de tecido. Acreditavam que apenas as células sexuais eram multipotencialidades de se transformar.
	No entanto, isso foi provado como falso. Cientistas pegaram o material do núcleo mamário de uma célula adulta e colocaram num líquido e a célula se desenvolveu por meio de um procedimento simples. A célula de tecido realizou o processo inverno, voltando a ser totipotente, por meio de estímulos elétricos tendo a capacidade de dar origem a outro ser. A célula se transformou num ovinho e num outro ser. Dessa forma, foi assexuada, não precisou do óvulo e do espermatozoide. A célula reproduziu a mesma ovelha que deu o material genético (clone).
As pesquisas foram constantemente controladas, pois as tentativas culminavam em célula tumoral.
A TÉCNICA DA CLONAGEM
	A clonagem visa a duplicação da carga genética de um ser. O processo pode ser considerado como um método reprodutivo. Na clonagem, não ocorre a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, pois o indivíduo é criado a partir da célula somática do indivíduo original, e, portanto, com a mesma carga genética. Trata-se de um processo de reprodução assexuada, com a obtenção de indivíduos geneticamente idênticos, como ocorre com os gêmeos univitelinos, que são “clones naturais”. 
Mas, a notícia publicada na revista Nature de 27 de Fevereiro de 1997, do nascimento da ovelha Dolly, por obra dos cientistas escoceses, Jan Vilmut e K.H.S. Campbell, do Roslin Institute , de Edimburgo, cuja vida foi fruto, não de um procedimento de fertilização in vitro como já conhecido, mas de uma experiência de clonagem assexuada, abalou excepcionalmente a opinião pública, suscitando tomadas de posição de Comissões e autoridades nacionais e internacionais; isto porque se tratou de um fato novo e considerado inquietante. A NOVIDADE DO FATO DEVE-SE A DUAS RAZÕES:
Que se tratou, não de uma cisão gemelar, mas de uma novidade radical definida clonagem, isto é, uma reprodução assexual e agâmica destinada a produzir seres biologicamente iguais ao indivíduo adulto que fornece o patrimônio genético nuclear.
Este gênero de clonagem era, até então, impossível. Julgava-se que o ADN das células somáticas dos animais superiores, tendo sofrido o processo da diferenciação, já não pudessem recuperar a potencialidade original e, a capacidade de guiar o desenvolvimento de um novo indivíduo.
Superada tal suposta impossibilidade, parecia que estava já aberto o caminho para a clonagem humana, entendida como replicação de um ou mais indivíduos somaticamente idênticos ao doador.
	Este evento suscitou, justamente, ansiedade e alarme. Mas, depois de uma primeira fase de unânime oposição, levantaram-se algumas vozes querendo chamar a atenção para a necessidade de garantir a liberdade da investigação e de não exorcizar o progresso.
	No reino animal, espécies inferiores como os protozoários se reproduzem de uma maneira clônica, por autodivisão de suas células. Essa espécie de clonagem se fundamenta no fato de que cada célula de um organismo contém todos os cromossomos com as informações codificadas para o indivíduo completo.
Divisão nuclear: Ocorre a partir da separação das células de um embrião, no estágio inicial do seu desenvolvimento.
Transferência nuclear: É realizada pela substituição do núcleo de um óvulo por outro, contendo a carga integral de um ser humano.
	A transferência nuclear ganhou publicidade em julho de 1996, quando no interior da Escócia foi produzida artificialmente uma ovelha, chamada mais tarde de Dolly.mA técnica consistiu na retirada de uma célula, que contémtoda a carga genética, da mama de uma ovelha adulta, sem a ocorrência de cruzamento ou mesmo de inseminação artificial.
A CLONAGEM DE SERES HUMANOS É POSSÍVEL:
	Em 1993, os cientistas Jerry Hall e Robert Stillman, da George Washington University, produziram 48 clones embrionários humanos, chegando a criar pares de gêmeos e trigêmeos, que foram destruídos seis dias depois.
	Harry Griffin, bioquímico e diretor de ciência do Instituto Roslin, afirma em 1997 que: A clonagem de seres humanos é possível, sim. Mas nós não faremos nenhum trabalho neste sentido. Só espero que a clonagem humana seja ilegal não apenas na Grã-Bretanha, mas em outros países, que devem criar uma legislação apropriada. Há um potencial para o uso de nossas descobertas, no instituto, na terapia de células.
	Em novembro de 2002, duas notícias acirraram ainda mais o debate em torno da clonagem humana:
Relativa à previsão de nascimento do primeiro clone humano para janeiro de 2002; Referente a um pedido para clonar embriões humanos para a extração de células-tronco. Estas são células não especializadas, ou seja, são capazes de evoluir para qualquer outro tipo de célula. O responsável pela primeira notícia foi o ginecologista italiano Severino Antinori. Ele informou que três de suas pacientes estavam grávidas de clones. Os bebês eram todos do sexo masculino, já que os maridos eram inférteis, e assim, eles teriam sido clonados. Segundo Antinori, o percentual de êxito no procedimento de clonagem em seres humanos fica entre 10% e 20% e os erros graves ocorrem em função de má-formação do aparelho cardiovascular e dos pulmões. A experiência de Antinori não foi confirmada. Até hoje, não há provas de que algum cientista tenha conseguido clonar um ser humano.
CLONAGEM REPRODUTIVA: reproduz o ser
	Apesar de os objetivos das técnicas serem diferentes, em ambas há a formação de um embrião “clone” para sua realização.
	A clonagem reprodutiva visa produzir a cópia de uma pessoa viva ou morta, com o objetivo de reprodução, ou seja, de transferir o clone para um ventre materno e dar continuidade ao processo de gestação, nascimento etc.
Na maioria dos casos, as pessoas que desejam recorrer ao método da clonagem com fins reprodutivos almejam a repetição de um ser humano.
	Ou seja, a recriação deste mesmo ser, como se fosse possível copiar todas as dimensões do ser humano a partir de sua duplicação genética.
Da mesma forma que os animais, o ser humano não é resultado única e exclusivamente de sua carga genética. Isto porque a bagagem emocional que cada pessoa traz em si é uma experiência inigualável.
	Isto, de certa forma, traz a segurança de que o homem sempre terá sua individualidade resguardada, embora no plano genético haja a possibilidade de sua duplicação.
	A clonagem reprodutiva é proibida na maioria dos países, pois trata-se de técnica de baixa eficiência, levando à inúmeras más-formações, abortos e envelhecimento precoce.
Sidney Callaham, do Mercy College, de Nova York, afirma: 
	O clone será obrigado a viver uma vida que não é sua. Ou seja: será apenas o substituto de alguém que morreu. Pense nas implicações psicológicas desta situação.
Clonagem terapêutica: Já a clonagem terapêutica visa, a partir da criação de um clone, obter as células-tronco embrionárias, com o objetivo de produzir tecidos ou órgãos para transplante. O argumento é o de que o organismo humano não poderia rejeitar o produto do seu próprio corpo. Esta modalidade de clonagem vem sendo admitida em alguns países. ( reproduz o tecido pra cura)
TÉCNICQAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA:
	Com o advento das Técnicas de Reprodução Assistida, e consequentemente das técnicas de manipulação de óvulos, esperma e embriões, houve um interesse maior sobre os mecanismos de reprodução celular com o objetivo de realizar a clonagem. 
	As primeiras pesquisas nesse campo foram realizadas com óvulos e embriões animais e, mais recentemente, em embriões humanos.
	Vale dizer também, que há estudos avançados para clonagem do Baloubet du Rouet e outros cavalos campeões, o que custará em média US$ 200.000,00.
	A clonagem e o direito internacional: A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), por sua parte, em 11 de novembro de 1997, publicou, sob o título “Declaração comum sobre o genoma humano e os direitos humanos”, um Código de Ética, que proíbe a clonagem em seres humanos e exige o respeito tanto pela herança genética de cada indivíduo, como à da espécie humana de conjunto.
	No Brasil, com a promulgação da Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005, denominada Lei de Biossegurança, o assunto passou a ser tratado de maneira expressa, sendo que o art. 6º, inciso IV, dessa Lei, proíbe a realização da clonagem humana, o que também não é permitido diante dos princípios bioéticos e constitucionais à dignidade da pessoa humana, à vida, à integridade física e moral, à saúde, bem como à preservação da diversidade e integridade do patrimônio genético do País.
	Nesse sentido, a Lei de Biossegurança, em seu art. 5º, autorizou apenas a realização de pesquisa e terapia com células-tronco embrionárias, ou seja, encaminha-se para a permissão da realização de clonagem com fins terapêuticos, a qual possibilita o tratamento de doenças como a diabetes, o Mal de Parkinson, o Alzheimer, dentre outras doenças degenerativas e neurológicas.
	A utilização de embriões excedentários de técnicas de fertilização in vitro é a garantia de que o direito à vida dos embriões não será violado, uma vez que a realização de pesquisas e de tratamentos médicos pode ser realizada apenas com embriões inviáveis, ou seja, com alterações morfológicas que comprometeriam seu desenvolvimento que, por essa razão, foi interrompido. Assim, esses embriões deixaram de ser uma vida em potencial, inclusive. Por outro lado, garante o direito à saúde de pessoas portadoras de doenças até então incuráveis.
	Já a realização de clonagem reprodutiva não é permitida pelo ordenamento jurídico brasileiro, seja em razão dos princípios constitucionais já mencionados, seja em função de princípios bioéticos, seja pelo disposto no art. 6º, inciso IV, da Lei de Biossegurança.
Síntese da Aula
Nesta aula, você:
Diferenciou a clonagem reprodutiva da terapêutica;
Identificou a legislação brasileira pertinente ao tema;
Conheceu a tutela jurídica conferida à identidade pessoal e genética do ser humano;
Conheceu os impactos biojurídicos da clonagem reprodutiva e terapêutica.
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
Histórico e descobertas do projeto Genoma Humano;
Formas de manipulação genética e terapias genéticas;
Tutela jurídica conferida ao genoma humano;
Direitos em colisão quando da análise do DNA nas ações de investigação criminal e de maternidade/ paternidade.
AULA 5 - Projeto Genoma Humano: manipulação, terapia e identidade genética
Ao final dessa aula, você será capaz de:
1- Conhecer o histórico e as descobertas do projeto Genoma Humano;
2- Reconhecer as formas de manipulação genética e as terapias genéticas;
3- Aplicar a tutela jurídica conferida ao genoma humano às questões jurídicas atuais;
4- Identificar os direitos em colisão quando da análise do DNA nas ações de investigação criminal e de maternidade/ paternidade.
PROJETO GENOMA HUMANO:
	Em 1990, criado por cientistas americanos, surgiu o projeto Genoma Humano. Sua finalidade foi identificar, até o ano de 2005, cada um dos 100 mil genes através de um processo chamado mapeamento genético humano. Esse mapeamento consiste em registrar cada um dos genes do cromossomo, determinando a ordem dos nucleotídeos e sua função.
O genoma humano é composto de várias bases organizadas em uma sequência específica e pode ser comparado a um manual de instruções contendo comandos, chamados genes. Cada gene é composto por uma sequência específica das bases do DNA. Em alguns casos, um único gene pode ser determinante de uma certa característica humana, mas, na maioria das vezes, os genes agemem conjunto.				As variações em cada gene são responsáveis pela diversidade de tipos humanos. Já erros em determinados genes, responsáveis por má formações ou doenças, são chamados de mutações. Contudo, nem toda mutação é responsável por má-formações e doenças, pois pode dar ao ser humano uma nova característica.	 													A informação genética humana está dividida em pedaços, que são os cromossomos, ou seja, os cromossomos são partes de DNA. O genoma humano é composto de 23 pares de cromossomos em cada célula somática. As células reprodutoras contêm apenas 23 cromossomos, pois no ato da fecundação, forma-se uma nova célula, totalizando os 23 pares de cromossomos.						No que diz respeito à natureza estática da identidade pessoal, tradicionalmente, a pessoa humana podia ser identificada pelo nome, que a individualiza; pelo estado, que estabelece a sua posição na família e na sociedade e pelo domicílio, que é o lugar de onde irradiam os efeitos jurídicos de seus atos. Segundo Heloísa Helena Barboza, o progresso científico agregou mais um elemento para a identificação do ser humano: o DNA.
	Em outras palavras, o Projeto Genoma Humano é o primeiro esforço coordenado internacionalmente na história da Biologia, que se propõe a determinar a sequência completa do código genético humano, localizando com exatidão os genes e o resto do material hereditário da espécie humana responsáveis pelas instruções genéticas da estrutura humana do ponto de vista biológico.
Os objetivos do PGH são:
a) identificar os 50 a 100 mil genes no genoma humano; 
b) determinar a sequência do DNA humano; 
c) disponibilizar a informação obtida em bancos de dados; 
d) desenvolver instrumentos para análise dos dados obtidos;
e) discutir questões éticas, legais e sociais; 
f) realizar análises similares em organismos-modelo.
	As vantagens desse trabalho estão no fato da identificação do diagnóstico e da cura de muitas doenças até então tidas como incuráveis. Alguns exemplos são: certos tipos de obesidades, o diabetes, a hipertensão e doenças genéticas. Isto será de grande benefício para toda a humanidade e as futuras gerações.
	Não se pode deixar de apontar que há desvantagens (éticas e morais). O uso indevido das informações que possam ser obtidas através do projeto pode fazer com que as pessoas percam sua individualidade e se tornem vulneráveis e propícias.
	Elas podem, por exemplo, ser preteridas numa entrevista de trabalho. Isto se explica porque, por um simples exame, pode ser detectada uma má-formação genética que leve à possibilidade de  um futuro câncer, o que dificultará sua admissão no emprego.
	O conhecimento do código genético humano pode ofertar um trunfo a certas pessoas. Ele poderia se usado de forma indevida e resultar em sérios problemas éticos e morais, mas também sociais e políticos, a depender de sua má utilização.
	Outro projeto, nos moldes do PGH, vem sendo desenvolvido também. Trata-se do projeto de Diversidade do Genoma Humano, de nível internacional e base antropológica. Quem lidera o estudo é Luca Calli-Sforza, que objetiva o estudo da variedade e da riqueza genética da espécie, demonstrando a diversidade da humanidade em concomitância com sua estreita unidade. Esse estudo esbarra justamente na questão de recolhimento de amostras genéticas em populações indígenas na América do Sul.
	Projeto Genoma Humano – PGH – foi desenvolvido com a cooperação mundial entre Institutos, Centros de Pesquisas e Universidades, dentre eles: Lawrence Berkeley National Laboratory Human Genome Center,
Department of Energy Oak Ridge National Laboratory, Baylor College of Medicine Human Genome Center, Généthon – Human Genome Research Center, The National Center for Genome Research, UK Medical Research Center Human Genome Mapping Project, Center of Genetics in Medicine (Washington University), Cooperative Human Linkage Center, Genome International Corp., Somatix Therapy Corporation, e outros.
	O PGH foi dirigido, inicialmente, por James Watson, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina, juntamente com Francis H.C.Crick, no ano de 1953, pela descoberta da estrutura do DNA.
	Ao projeto norte-americano incorporaram-se os seguintes países: Canadá, Japão, França e Grã-Bretanha. Paralelamente ao PGH, a União Européia lançou os Projetos Biomed e Biomed 2, destinando parte dos recursos para a investigação sobre o genoma humano.
	Houve uma divisão da tarefa de seqüenciamento do genoma humano entre os grupos do consórcio, ficando cada qual responsável pela análise de um cromossomo específico.
	A HUGO havia proposto inicialmente um prazo inicial para desenvolvimento do projeto, que foi prorrogado, posteriormente, para 2005. Nesse primeiro estágio, seria divulgado o “esboço operacional” do genoma humano, ou seja, o resultado da decodificação da seqüência genética humana. Na conclusão
do primeiro estágio, houve uma corrida entre o grupo internacional oficial do projeto e lideranças particulares patrocinadas por grandes empresas farmacêuticas. 
	O ano de 1997 marcou o assentamento da fase-chave do PGH, já que a madurez dos mapas obtidos e os avanços a baixo custo nas tecnologias de sequenciamento e processamento de dados supôs que seria possível dar luz verde à obtenção maciça de seqüências de forma sistemática e organizada. As seqüências foram postas de modo praticamente imediato, na internet, à disposição da comunidade investigadora por meio de várias bases de dados entrelaçados.
	O Projeto Genoma Humano pretendia, até o ano 2005, mapear todos os genes responsáveis pelas características humanas, revelando uma nova anatomia do homem. Todavia, em fevereiro de 2001, os dados obtidos pelas duas frentes de seqüenciamento acabaram sendo complementares, e o consórcio público
divulgou parte dos dados obtidos na Revista Nature e a empresa Celera publicou parte dos seus na Revista Science, pois a outra parte só seria divulgada mediante pagamento.
	Apesar dos grandes benefícios que trará para a humanidade, esse projeto pode servir para fins ilícitos. Acredita-se que o intuito desse projeto não seja esse diretamente, mas uma das possibilidades é que, por meio do mapeamento de genes, a seleção dos embriões a serem implantados no útero materno será mais rigorosa, só se admitindo a inseminação de embriões considerados mais aptos.
	Outro aspecto polêmico da questão é a possibilidade de alteração do código genético, pois os embriões se encontrariam completamente indefesos, e seus genitores, em virtude da constatação de determinada característica que não lhes agrade, poderiam solicitar sua alteração, rejeitá-lo ou até mesmo impedir a
continuidade de seu desenvolvimento. O valor positivo dessa técnica seria a prevenção de doenças consideradas genéticas.
	O PGH pode alcançar três resultados: a identificação de uma maior semelhança entre seres humanos e animais; marcar mais fortemente a diferença entre seres humanos ou apresentar a natureza da vida sob um novo enfoque.
O GENOMA HUMANO: UNITÁRIO E INDIVIDUAL
	O genoma humano se encontra no núcleo da célula e é composto pelo DNA. O genoma humano é composto de várias bases, organizadas em uma sequência específica e pode ser comparado a um manual de instruções contendo comandos, chamados genes. Cada gene é composto por uma sequência específica das bases do DNA.
	Em alguns casos, um único gene pode ser determinante de uma determinada característica humana. Mas, na maioria das vezes, os genes agem em conjunto. Para a coagulação do sangue, é necessário um conjunto de cerca de dez genes; já para o funcionamento normal do sistema auditivo, é necessária a interação de mais de 200 genes. 											No que diz respeito à natureza estática da identidade pessoal, tradicionalmente, a pessoa humana podia ser identificada: Pelo nome, que a individualiza; Pelo estado, que estabelece sua posição na família e na sociedade; Pelo domicílio, que é o lugar de onde irradiam os efeitos jurídicos de seus atos. Segundo Heloísa Helena Barboza, o progresso científico agregou mais um elemento para a identificaçãodo ser humano: o DNA.
O Projeto Genoma e o fim das raças
	Os cientistas do projeto Genoma Humano chegaram à conclusão que as diferenças físicas entre as pessoas foram marcadamente construídas ao longo dos milhares de anos, pelo processo de seleção natural e regidas pelas condições climáticas e ambientais das diferentes regiões do mundo. Conforme se observou no projeto, as diferenças genéticas entre dois indivíduos não chega a 1%. Portanto, não existem raças humanas, e sim, uma única raça humana. 
	As diferenças físicas encontradas entre os seres humanos, em relação à cor da pele e à cor dos olhos, resultam do processo evolutivo dos seres humanos diante das necessidades de adaptação às condições ambientais em que viveram. As cores ( fenótipo) são efeitos da interação do meio ambiente.
 	"As diferenças entre um branco nórdico e um negro africano compreendem apenas uma fração de 0,005 do genoma humano. É a comprovação científica de que raça não existe, ou só existe para os racistas" (TORRES, 2010).
Os diagnósticos genéticos pré-implantacionais
	A revolução no mundo genético mostrou que muitas doenças têm origem nas células humanas. Assim, existe a possibilidade de verificação de anormalidades gênicas. A prática da reprodução assistida, e em especial da fertilização in vitro, permitiu o diagnóstico sobre o embrião antes da implantação, a partir da extração de uma célula para a realização de um exame cromossômico ou genético. O resultado destes exames permite a seleção dos embriões a serem implantados.
	Nas últimas décadas, tem-se presenciado o desenvolvimento da Medicina preventiva, que objetiva evitar as condições de criação de patologias e suas consequências. A Medicina, aliada à Biologia molecular e à Genética, proporcionou extraordinários conhecimentos para a determinação de diagnósticos.
A revolução no mundo genético mostrou que grande parte das enfermidades tem origem nas células que formam o organismo humano.
	Assim, desde a fusão dos pronúcleos, com a consequente individualização genética, existe a possibilidade de verificação de anormalidades gênicas.
	A prática da reprodução assistida, e em especial da fertilização in vitro, permitiu o diagnóstico sobre o embrião antes da implantação, a partir da extração de uma célula, para a realização de um exame cromossômico ou genético.
	O resultado destes exames permite a seleção dos embriões a serem implantados.
Os diagnósticos genéticos pré-natal e pós-natal
	O diagnóstico pré-natal é realizado a partir da análise genética do embrião. O objetivo é obter informações sobre defeitos congênitos, ou seja, anomalia do desenvolvimento morfológico, estrutural, funcional ou molecular, hereditário ou não. A indicação do diagnóstico pré-natal começou no final da década de 60, com o aperfeiçoamento das técnicas de cultura das células fetais suspensas no líquido amniótico, para o estudo dos cromossomos a partir da amniocentese. 
	A indicação do diagnóstico pré-natal começou no final da década de 60, com o aperfeiçoamento das técnicas de cultura das células fetais suspensas no líquido amniótico para o estudo dos cromossomos a partir da amniocentese e outros exames mais sofisticados.
Técnicas de diagnóstico epré-natal:
a) ecografia, ultra-som, análise de malformações externas ou estruturais;
b) fetoscopia, introdução de fetoscópio, dentro do útero, para retirada de sangue do feto para extrair tecidos fetais;
c) placentocentese, retirada de sangue fetal da placa corial, para exames genéticos;
d) retirada das vilosidades coriais (CVS), extração de tecidos diretamente do feto, para exames genéticos;
e) amniocentese, retirada de líquido amniótico no qual estão presentes células fetais;
A prova genética: 
	A análise do DNA, como meio de prova, é admitida pelo artigo 145 do CPC quando a realização de prova pericial depender de conhecimento técnico ou científico, não existindo qualquer outro dispositivo que a torne obrigatória. Ou seja, apesar de constar dos meios de provas lícitos, não o torna obrigatório, e o fato do exame genético ter natureza invasiva da personalidade humana faz com que haja a necessidade de consentimento do investigado.
	A genética forense consiste na análise do polimorfismo, ou variabilidade genética humana, aplicada em questões judiciais, tais como investigação de paternidade/ maternidade, investigações criminais e identificação humana. A utilização da prova genética como meio de investigação da origem genética levanta questões de natureza processual, no que diz respeito à sua admissão, produção de efeitos e obrigatoriedade de realização.
	O valor que deveria prevalecer é o da concretização da justiça, importando na obrigação de se submeter ao exame. Isto porque esta obrigação não seria atentatória à personalidade humana. Ao se negar, se estaria atuando em abuso de direito, sofrendo as consequências com sua negativa.
No que respeita à obrigatoriedade de submissão ao exame genético, dois sistemas foram identificados:
 a) O que admite a submissão compulsória, penalizando, em alguns casos,  com multa ou até admitindo o uso de força policial;
b) O que não admite a realização do exame pericial genético sem o consentimento, por considerar como ofensa aos direitos da personalidade do investigado.
DIREITO COMPARADO: 
	O Direito francês admite a perícia genética somente com o consentimento do investigado. Em linha oposta, está o Direito alemão, que admite a realização do exame genético mesmo sem o consentimento do investigado. A recusa à submissão tem sido resolvida no plano processual, considerando-a juntamente com as outras provas. Neste sentido, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro entendeu que: Embora ninguém possa ser coagido a exame ou inspeção corporal, o investigado que se recusa ao exame pericial de verificação da paternidade deixa presumir contra ele a veracidade da imputação (CPC, art. 359, II e CPC, art. 126. Presunção harmoniosa com o conjunto de prova)
	Em caso paradigmático, o Supremo Tribunal Federal, por maioria, decidiu: "Investigação de Paternidade - Exame DNA - Condução do Réu ‘debaixo de vara', discrepa, a mais não poder, de garantias constitucionais implícitas e explícitas - preservação da dignidade humana, da intimidade, da intangibilidade do corpo humano, do império da lei e da inexecução específica e direta de obrigação de fazer - provimento judicial que, em ação civil de investigação de paternidade, implique determinação no sentido de o réu ser conduzido ao laboratório 'debaixo de vara', para coleta do material indispensável à feitura do exame DNA. A recusa resolve-se no plano jurídico-instrumental, considerada a dogmática, a doutrina e a jurisprudência, no que voltadas ao deslinde das questões ligadas à prova dos fatos".
	O Ministro Rezek apontou, em voto divergente. Fundamentos legais que permitem a perícia forçada, conforme se verifica: “ Observa-se uma superlativa atenção do legislador, a partir da Carta de 1988, para com os direitos da criança e do adolescente. As inovações constitucionais no capítulo da família, da criança, do adolescente e do idoso deram nova conformação ao direito da criança, de que é exemplo o artigo 227 da Carta Política. A legislação infraconstitucional tem acompanhado, por igual, os avanços verificados neste exato domínio. Assim, a Lei nº. 8.069/90, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente; a Lei 8.560/92, que regula a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do casamento, entre outras.”
	A solução apontada pela jurisprudência brasileira é que a recusa deverá ser resolvida no plano processual, ou seja, será considerada em cotejo com o conjunto probatório, posição que foi contemplada nos artigos 231 e 232 do Código Civil de 2002.
Lesão ao direito à integridade física do investigado: No que diz respeito à lesão ao direito à integridade física do investigado, verifica-se que, embora se dê num grau mínimo, com a coleta de sangue, fios de cabelo ou com a raspagem da mucosa bucal, a dimensão que se revela é em

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