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ATIVIDADE I Professora: Curso: Pós-graduação Especialização em Docência Disciplina: Profissão Professor Síntese do texto: A construção social e histórica da profissão docente: uma síntese necessária Libânia Nacif Xavier Atualmente, uma das profissões mais comumente discutida sob as mais variadas visões, seja histórico-educacional, econômico, jurídico, sociológico, psicológico e etc., é a profissão docente. Normalmente, todas a teorias das profissões são abordadas pela vertente sociológica. Porém, o interesse sociológico, não é por essa orientação, mas sim por uma perspectiva histórico-educacional. Araújo (2010), diz que entre o final do século XIX e começo do século XX, quando as teorias das profissões ganharam força dentro do cenário científico, muito por conta da importância da industrialização e da urbanização, e também tendo em o aprofundamento da divisão social do trabalho e suas consequências em torno da divisão social do saber, a profissão docente passou a ocupar espaço nas discussões, já que naquela conjuntura tal profissão também passou a se apresentar como coparticipante do cenário urbano, industrial e educacional. O autor diz que: “O triunfo da escola primária, a disseminação dos jardins de infância, a ampliação da escola secundária, bem como a expansão da formação profissional e acadêmica em nível superior fazia firmar a necessidade de formação do professor, bem como de sua efetivação como profissional. ” A profissão docente, carrega algumas particularidades que foram surgindo ao longo da história, que estão relacionadas com real papel do professor, a função da escola, e a real noção do que é educação escolar. No texto analisado, Libânia Xavier relata que alguns formuladores e gestores das políticas educacionais, tinham um ponto de vista diferente e o desejo de fazer da prática pedagógica e da ação do professor um trabalho calcado em parâmetros racionais, com a expectativa de ter desses trabalhos, resultados previsíveis e imediatos, e isso gerou confusões, críticas infundadas e representações equivocadas sobre os vários aspectos da prática educativa, e que em contrapartida, gerou um certo descrédito em relação às instituições, mais especificamente sobre a escola, que contribuiu para reforçar uma imagem bastante instável do seu real papel e da influência positiva exercida pelo(a) professor(a) na vida de seus alunos e no próprio desenvolvimento social de maneira geral. O texto traz um trecho onde Hutmacher, fala de maneira resumida, porém, bastante clara sobre essa difusão da função da escola e o papel do profissional docente, que diz: As concepções que comumente se difundem sobre a função da escola e o papel do professor, em geral, aparecem associadas a duas noções recorrentes: a noção de que a educação escolar encontra-se em crise e a convicção de que é preciso promover uma mudança. Contra essa corrente, alguns estudos apresentam argumentos que nos permitem desestabilizar certas ideias e noções naturalizadas pela familiaridade que temos com o modo de vida escolar (HUTMACHER, 1992). Dentro dessa retrospectiva da história, outros estudos mostraram que de uma forma geral, a formação e atuação dos profissionais docentes, sempre foi marcada por uma segregação entre o eu profissional e o eu pessoal. Em 1995, Nóvoa apresentou estudos que “recolocavam os professores no centro de debates educativos e das problemáticas de investigação”. Tais estudos, mostraram uma nova perspectiva dos professores, onde fora resgatado o quanto a individualidade do professor, influenciava no desempenho da sua profissão. Com relação essa perspectiva, Libânia Xavier relata que estudos de Tardif; Lessard; Lahaye, (1991); Hutmacher (1992), sobre as formas de organização do trabalho pedagógico e (Perrenoud, 1993), sobre as tensões que marcam as práticas docentes, onde os primeiros pesquisaram sobre a construção do saber docente em situações de trabalho, onde se destacam três questões no centro dessa problemática, que são: As características particulares do saber docente; Os aspectos que distinguem o saber docente do saber universitário – no âmbito das chamadas “ciências da educação” – e dos conhecimentos incorporados nos cursos de formação de professores; As relações entre as três instâncias de produção de saberes – a formação universitária, a formação pedagógica e a profissionalização ocorrida na prática cotidiana e no ambiente escolar. O que se podemos dizer é que essas pesquisas nos trazem aspectos que corroboram toda a contextualização histórica do desenvolvimento da profissão, e do profissional docente, de forma a nos dar a real compreensão e visão sobre a construção do saber docente. Além disso, quando permeamos pela leitura e compreensão do texto, aliando aos estudos desenvolvidos por vários autores, compreendemos quando eles afirmam que “os saberes docentes são temporais, plurais, e heterogêneos, personalizados e situados e, ainda, carregam consigo as marcas do seu objeto, que é o ser humano. ” Pois, da mesma forma, apesar das suas singularidades, o ser humano em seu caráter, também é plural, heterogêneo, personalizado na sua forma de orientar, transmitir os saberes docentes, os conhecimentos. Com toda essa evolução e desenvolvimento da construção social e histórica do saber docente e da profissão docente e todas as suas particularidades, dentro do contexto atual, os profissionais docentes ainda vivenciam e sofrem as consequências de uma situação de “mal-estar”, causada pelas mudanças recentes na educação, que são claramente representadas por sentimentos e sensações que foram produzidos em termos de educação ao longo da história. Sensações como, medo do que irá enfrentar ao ingressar na profissão, desmotivação pessoal, que muitas vezes se torna decepção, com o baixo investimento na educação escolar e na formação do profissional docente por parte dos governantes, a desvalorização do profissional professor que não mais é visto como “autoridade” máxima dentro da sala de aula, e acaba gerando esgotamento físico, psicológico e estresse, como consequência do acúmulo de tensões diárias, e a ausência de uma reflexão crítica sobre a ação profissional e outras reações que permeiam a prática educativa e que acabam, em vários momentos, provocando um sentimento de autodepreciaçãoe e abandono da própria profissão. Em relação da socialização e identidade profissional, o texto de Libânia Xavier destaca a abordagem sociológica francesa, que norteou a maioria dos estudos brasileiros sobre a profissão docente, onde o que prevaleceu foi explanar e explicar a preocupação da ideia recorrente de crise das instituições escolares e compreender suas repercussões sobre o trabalho docente, onde essas questões, de certa forma incentivaram o estudo das negociações identitárias, destacando os processos de construção individual e coletiva das identidades docentes. Através das contribuições da publicação do livro de Claude Dubar, em Portugal no ano de 1997, que posteriormente foi publicado no Brasil em reimpressão de 2005, e a publicação de François Dubet, Le declin de l’institution, na França em 2002, mesmo ainda sem tradução para o português, mas circulando em língua espanhola em reedição de 2006, com o título El declive de la institución – profesiones, sujetos e individuos ante la reforma del Estado. A autora afirma que, a teoria sociológica apresentada por Dubar parte do ponto da articulação entre dois processos identitários heterogêneos, onde o primeiro, diz respeito à atribuição de identidade pelas instituições e pelos pares em interação com o profissional, devendo ser analisado dentro dos sistemas de ação nos quais o indivíduo está inserido. O segundo, se refere à incorporação da identidade pelos próprios indivíduos só podendo ser analisado levando em consideração as trajetórias sociais por meio das quais os indivíduos constroem identidades para si. Concluindo-se que, a legitimidade dependerá daquilo que subjetivamente tem importância para o indivíduo. Libânia Xavierexpõe isso quando ressalta no texto uma observação de Dublet (2002), quando este diz que: A consciência de viver em um mundo aberto, pluralista e desagregado provém de que a maior parte das instituições escolares perdeu seu monopólio sobre a difusão de conhecimentos socialmente relevantes. Isso porque – no momento atual, em que o modo escolar de socialização já extrapolou os muros da escola – as crianças encontram acesso a muitos outros meios que lhes abrem distintos universos culturais, e a cultura escolar se torna uma cultura entre outras, mais exigente e oficial, porém não mais a única. (DUBLET, 2002) Já na abordagem da língua inglesa sobre a “fabricação” das identidades docentes, eles consideram que dentro de um projeto educativo, o professor é parte importante, mas podem aparecer como sombras, representantes ou sujeitos. Isso quer dizer que o professor só aparece nos momentos em que “algo foge ao contrato de neutralidade política e comportamental estabelecido entre os docentes e a sociedade representada pelo Estado, desencadeando um estado de pânico moral acionado pela desconfiança do poder que os professores detêm sobre a parte fraca da sociedade”, que são as crianças. Ou seja, quando essas crianças não correspondem, demonstrando que compreenderam aos ensinamentos transmitidos pelo professor, este poderá aparecer como sendo o responsável por essa “não correspondência” das crianças aos ensinamentos. Isso está subentendido no trecho que diz: Por meio desse tipo de abordagem, torna-se possível desenvolver estudos que objetivem explicitar os imperativos práticos e ideológicos da gestão do Estado sobre a identidade dos professores, identificados por meio da observação de determinadas regras de conduta profissional, das condições de ingresso, desempenho e valorização da carreira, bem como pela atribuição de certas qualidades, funções e papéis sociais que os documentos governamentais, tais como os materiais de orientação curricular e as propostas pedagógicas oficiais declaram esperar desses profissionais. (XAVIER, 2014) Com relação a abordagem sobre as condições de trabalho e saúde do profissional professor, o texto de Libânia Xavier, destaca os estudos realizados pelo espanhol José Manoel Estevez, em 1999, mas que reflete claramente o ainda hoje é vivido pelo profissional docente. A realidade atual em que o profissional professor vive, e que foi construída com o passar dos anos (historicamente falando), e as muitas reformas educacionais, muitas vezes dificulta a construção dessa identidade profissional, pois, entram em cena elementos novos de controle do trabalho docente, que são caracterizados pelo acumulo de tarefas a serem realizadas pelo profissional professor, além desse agora também ter que se aperfeiçoar muito mais para este acúmulo de funções que ultrapassam a docência, tais como: ser responsável pelo desempenho do estudante, que é avaliado e medido através de avaliações sistêmicas, o que além de colocar a auto responsabilização, ainda causa a culpa e a intensificação do trabalho docente, e consequentemente, traz as frustrações, desencantos e adoecimento pelo excesso de responsabilidades e a falta de condições de trabalho. Isso está descrito no texto quando diz que: O autor em seus estudos, relaciona a sensação de mal-estar a um conjunto de mudanças sociais que ocorreram nos últimos anos, tais como o advento da escola de massas, o desenvolvimento de fontes de informação alternativas à escola, a mudança nas expectativas em relação ao sistema de ensino e o aumento das exigências em relação ao trabalho do professor, provocando a ruptura do consenso em torno dos objetivos do ensino, do papel da escola e das funções do professor. Tal situação foi agravada, por um lado, pela difusão das críticas sociológicas ao funcionamento da escola no sistema capitalista, como nos referimos anteriormente, assim como pela desvalorização salarial do professor a qual agravou a desvalorização social. Os reflexos mais visíveis do mal-estar que atinge os professores podem ser observados na grande incidência de pedidos de licença para tratamento de saúde, em particular aquelas atribuídas a transtornos psíquicos que estão sendo tratados como síndrome do esgotamento profissional, também conhecida como síndrome de burnout. (XAVIER, 2014) E ainda ressalta que “tais efeitos foram agravados nos últimos anos em consequência da adoção de políticas de caráter democratizante, que, se por um lado, essas políticas expressam importantes avanços dos movimentos sociais e da própria democracia, a implantação dessas políticas, muitas vezes, é feita, de modo demagógico, e desconsideram a real necessidade de que sejam criadas condições adequadas para sua efetivação e continuidade. ” No que diz respeito a profissionalização docente no Brasil e em Portugal (historicamente falando), destacam-se no texto algumas características comuns no que diz respeito à produção acadêmica sobre este tema, pois em ambos os países, é grande a quantidade de estudos voltados para o tema da profissão docente, sendo que é maior o número de estudos voltados para as atuais condições do profissional docente, que os voltados para a sua história. Dentro desse universo, até o ano de 2006, havia uma maior incidência de estudos sobre a formação docente, em detrimento de temáticas que se voltam para a carreira profissional, condições de trabalho e associativismo docente. A autora destaca que: Uma contribuição significativa do conjunto de pesquisas realizadas em intercâmbio internacional refere-se ao estudo da história da profissão docente no mundo luso-brasileiro, numa perspectiva de longa duração, tentando entendê-la em um duplo contexto, caracterizado, por um lado, pelo processo de formação dos sistemas estatais de ensino e, por outro, pelo processo de institucionalização das ciências da educação, o qual se articula por uma via de mão dupla ao próprio processo de profissionalização do professor. Diante e tudo isso, o conceito de profissão ou profissionalização e cultura docente, mostra um resultado onde é cabível as especializações que ao longo da história foram sendo constituídas, seja através da afirmação inconteste da divisão social do trabalho, cujas origens sócio-políticas se encontram na obra de Adam Smith (1723-1790), intitulada “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”, que foi publicada em 1776 , ou seja através da divisão social do saber docente, que foram particularmente constituídas pelo desenvolvimento e sobressaltos do cotidiano urbano, industrial e tecnológica, bem como pelo conceito de profissão docente. Apesar de muitas pesquisas sobre a história docente, podemos perceber que os problemas atuais enfrentados pelos profissionais professores, principalmente da educação básica, são praticamente os mesmos que os mestres já haviam enfrentado desde o início da história docente. Tais como, processos seletivos, contratos por apadrinhamento, questões salariais, condições de trabalho precárias, e etc. Muitas dessas questões ainda são recorrentes em todo o país, sendo possivelmente identificar mudanças significativas, e ainda continuam a atormentar grande parte dos profissionais docentes. Mesmo com todos os avanços, o profissional de educação ainda é muito desvalorizado, bem como as condições inadequadas de trabalho e a ausência de uma política de valorização social e econômica dos profissionais da educação vem sendo motivos para muitos professores abandonarem a profissão. A autora do texto Libânia Xavier, finaliza o texto ressaltando “a importância de se considerar as potencialidades, os limites e as particularidades da atuação do professor e do trabalho escolar, percebido em sua configuração histórica, social e cultural. Tal esforço de conhecimento e compreensão das particularidades dessa profissão oferece instrumentos que permitem evitar tratá-los como panaceia para a solução de todas as mazelas sociais. Só assim será possível atenuar a culpa que o chamado senso comum atribui ao professore à escola quando as crianças não aprendem, alimentando a falsa ideia de que a escola e o professor podem superar os obstáculos interpostos aos excluídos em uma sociedade desigual e injusta. ” REFERÊNCIAS Hutmacher, Walo. A escola em todos os seus estados: das políticas de sistemas às estratégias de estabelecimento. In: Nóvoa, Antônio (Coord.). As organizações escolares em análise. Lisboa: Dom Quixote, Instituto de Inovação Educacional, 1992. p. 47-74. SOUZA, Maria Verônica de. Profissão Docente: História, condições de trabalho e questão salarial. Disponível em: http://anais-do-quinto-seminário-nacional-estado-e-políticas-sociais. Acesso em: 21 de mar. 2018