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ESPIRITO SANTO PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SUPERVISÃO ESCOLAR CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 1 SUPERVISOR EDUCACIONAL: ARTICULADOR DA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE “Quando a escola não é importante para os pais, também não é para os filhos”. Roberto Giancaterino A Educação vem nas últimas décadas sendo motivo para muitas discussões, isto porque o modo como o ensino formal vinha sendo desenvolvido no Brasil não atendia as perspectivas sociais; diante da necessidade, as mudanças vêm sendo desenvolvidas mesmo que a passos lentos. Nesse caso, o trabalho desenvolvido nas instituições escolares precisa de uma preparação, um planejamento prévio, uma direção a ser delineada e de profissionais competentes e compromissados com a tarefa de proporcionar uma educação de qualidade. Silva (1981:10) afirma que: “A escola é um sistema social, exigindo, para subsistir, que os papéis estejam claramente diferenciados e designados. Os indivíduos que desempenham papéis devem ser adequadamente treinados e distribuídos entre as diferentes posições. Enfim, todos os atores podem relacionar-se, uma vez que, aceitem as mesmas normas sobre os objetivos que buscam e os meios que empregam para alcançá-los. ” Todavia, só é possível almejar bons frutos se todos trabalharem de forma produtiva. O professor, o educando, o supervisor, o quadro administrativo, os pais e toda a comunidade precisam desempenhar adequadamente suas funções. É justamente a integração desses elementos que permite uma análise concreta dos problemas existentes e a definição de estratégias de ação. Abre-se um parêntese aqui para dizer que mais do que nunca as pessoas estão valorizando o ambiente escolar e procurando neste, os conhecimentos que lhes permitam construir o saber elaborado e com isto promover-se. Cabe ao supervisor escolar ser conhecedor do seu trabalho pedagógico e desenvolver seus propósitos em harmonia com todo o grupo a fim de detectar os problemas existentes e discutir junto aos demais as possíveis soluções. 2 Fonte: image.freepik.com Refletir um pouco mais a respeito desta missão, analisando os pontos fundamentais é uma maneira simples de encontrar os pressupostos que orientam o trabalho educacional, por isso, o presente artigo oportuniza um espaço de discussão do papel do supervisor junto aos professores a fim de promover a qualidade educacional. Normalmente uma Instituição de Ensino não é uma empresa que visa somente lucro, porém, não deixa de ser uma organização que tem uma missão, objetivos, filosofia e estratégias para a sua atuação na sociedade como entidade coletiva e de personalidade jurídica. Assim, tem a sua atuação alicerçada na qualidade. Juran e Gryna (1991:17) enfatizam que a qualidade consiste nas características de produtos e serviços que vão ao encontro das necessidades dos clientes, desta forma, proporcionam a satisfação em relação ao produto. Na visão dos autores, a Qualidade é a ausência de falhas. Ressalta-se não apenas a qualidade de produtos, mas colocam que a prestação de serviços é igualmente crucial, incluindo neste a educação. No que se refere à qualidade em educação, a Lei 10.171, de 08/01/2001, que aprovou o Plano Nacional de Educação – PNE e que dispõe sobre a elaboração de Planos Decenais Municipais e Estaduais correspondentes a partir de sua vigência (art. 3 2º), prioriza a questão referente aos padrões de qualidade em todos os níveis de ensino. Quando a infraestrutura prevê a elaboração, no prazo de um ano, de padrões mínimos nacionais compatíveis, como o tamanho dos estabelecimentos e com as realidades regionais que incluem espaço, iluminação, insolação, segurança e temperatura ambiente, instalações sanitárias e para higiene, espaços para esportes, recreação, biblioteca e serviço de merenda escolar, adaptação dos edifícios escolares para o atendimento dos alunos com necessidades especiais, atualização e ampliação do acervo das bibliotecas, mobiliário, equipamentos, material pedagógico, telefone, serviço de reprodução de texto, informática e equipamento multimídia para o ensino. Ferreira e Aguiar (2000) argumentam que a qualidade do processo educativo está intimamente ligada ao entendimento, qual a concepção do saber. Contudo, a questão da qualidade na educação remete à questão da finalidade do saber. Lembrando que, o conhecimento não é um fim, não se ensina e aprende por diletantismo. O saber é um meio, é um instrumento do ser cidadão. No entanto, não se ensina para responder às necessidades do mercado, o saber, como instrumento do ser cidadão, é cada vez mais a matéria-prima que move a nova sociedade do conhecimento. O cenário da qualidade a educação deve ser encarado em um contexto de mudanças como oportunidade de renovação, por não se limitar no tempo e no espaço, mas em toda a vida por meio da qual o ser humano toma consciência de si mesmo e de suas possibilidades na sociedade. Entretanto, procura redescobrir o sentido da educação para a criança, e sua função é primordial, “não como categoria estática, como algo sempre igual” (Arroyo, 1994:01). Para Moran et alli. (2000), um ensino de qualidade envolve muitas variáveis: Uma organização inovadora aberta, dinâmica com um projeto pedagógico coerente, aberto e participativo; Uma organização que congregue docentes bem preparados intelectual, emocional, comunicacional e eticamente motivados e com boas condições profissionais, e onde haja circunstâncias favoráveis a uma relação efetiva com os alunos que facilite conhecê-los, acompanhá-los e orientá-los; 4 Uma organização que tenha alunos motivados, preparados intelectual e emocionalmente, com capacidade de gerenciamento pessoal e grupal. Fonte: safespaceforcounselling.com Qualidade na educação: é a capacidade de atender as expectativas de alunos, pais, professores e a própria sociedade. É um julgamento de valor. Cada instituição educacional deve elaborar seu próprio plano de implantação da Qualidade, através de um roteiro individualizado que leve em conta suas principais necessidades de melhorias e suas restrições, utilizando as forças e os recursos disponíveis dentro e fora da organização (Ramos, 1992; Barbosa et alli, 1995). Nesta perspectiva, acreditamos que o supervisor pode ser o articulador da educação de qualidade, para isso, ser inovador, criativo, crítico, moderno e atual não é suficiente. Ele deve ultrapassar as barreiras do conhecimento comum e adequar-se ao momento perante a sociedade global. Todavia, para que seja possível, exige de seus profissionais flexibilidade e previsibilidade, lembrando que experiências servem apenas de referências, nunca de padrão de ações com segurança de sucesso. Neste contexto, emerge uma formação supervisora baseada na prática almejando uma reformulação dos seus saberes. E imprescindível que o supervisor reavalie seus saberes em busca de uma nova verdade, reconsiderando-a, analisando- 5 a e refletindo-a constantemente numa busca incessante da ressignificação dos saberes, e, por conseguinte, que seja real a atuação do supervisor, comprometida com uma educação de qualidade. Em síntese, o supervisor é visto no contexto educacional brasileiro atual como sendo um instrumento minimizador de problemas qualitativos referentes ao sistema escolar e também como um acionador dos mecanismos capazes de elevar quantitativa e qualitativamente a qualidade educacional do sistema de ensino como um todo. Formar cidadãos não é tarefa apenas da escola. No entanto, como local privilegiado de trabalho com o conhecimento, a escolatem grande responsabilidade nesta formação: recebe crianças e jovens por certo número de horas todos os dias, durante anos de suas vidas, possibilitando-lhes construir saberes indispensáveis para sua inserção social. Assim, a função Supervisor educacional foi mais uma inovação educacional de ordem política para atender a ideologia do sistema, evidenciando uma tendência tecnicista. Entretanto, as novas políticas educacionais e as mudanças tecnológicas vêm disseminando uma nova visão de supervisor, uma pessoa preocupada com a realidade e que almeja modificar a realidade social por meio do seu trabalho interativo. Todavia, trata-se de um grito de alerta, uma nova possibilidade de elevar o nível educacional do país e dar ao povo a oportunidade de crescer em um espaço democrático. Assim sendo, o supervisor precisa ser uma pessoa que tenha qualificação teórica e busque o aperfeiçoamento constante cuja prática pedagógica seja planejada a partir das contribuições que pode dar ao sistema educacional. Portanto, suas habilidades devem propor um clima aberto a discussões com os demais colegas, onde todos estejam comprometidos com o ensino, onde a humildade seja uma das características preponderantes do supervisor. Muito ainda se tem a fazer. Acredita-se que mesmo a passos lentos é possível fazer da escola um espaço de democracia e de aprendizagens significativas. Nesse contexto, o trabalho de pesquisa desenvolvido é uma oportunidade de reflexão, de análise do sistema educacional e também um meio de viabilizar novas estratégias de trabalho a todo aquele que se preocupa com os caminhos percorridos pela educação. 6 RELEVÂNCIA E AS ATRIBUIÇÕES DO SUPERVISOR EDUCACIONAL EM UMA ESCOLA, TENDO COMO FOCO A APRENDIZAGEM Fonte: www.sp.senac.br/ “A escola dos nossos sonhos só será possível quando todos os educadores tiverem consciência de que não basta apenas criticar, é preciso em premissa maior, vestir a camisa de sua profissão com total responsabilidade”. Roberto Giancaterino O supervisor escolar precisa saber dialogar, argumentar e conversar com os professores que trabalham com ele. Isto é competência. Saber se expressar. Ser competente é ter humildade, auxiliar o professor no seu planejamento, nas realizações das atividades. É levar ideias para que os profissionais melhorarem sua prática educativa sem parecer mandão, arrogante e sem ser autoritário. Isto é muito importante na Instituição. Para adquirir essa competência é preciso também disciplina. Ambas andam juntas e são necessárias na escola. Uma das competências mais importantes do supervisor é ele conseguir passar para os educadores o quanto é fundamental o professor semear desejos e estimular projetos, fazendo com que os alunos saibam articular seus projetos e ideias pessoais com os da coletividade na qual está inserida. Ser competente pode-se dizer também que é saber pedir, ajudar, expressar-se, ser flexível e trabalhar em equipe. 7 Para ser competente, é necessário dominar conhecimento. Mas também deve saber mobilizá-los e aplicá-los de modo pertinente à situação. Tal decisão significa vontade, escolha e, portanto, valores. Essa é a dimensão ética da competência. Que também se aprende que também é aprendida. A competência só pode ser constituída na prática, não é só saber, mas sim o saber fazer. Aprende-se fazendo, numa situação que requer esse fazer determinado. Esse princípio é importante para a educação. Desenvolver competência com alunos e professores precisa ir além do ensino da memorização de conteúdos abstratos e fora de contexto. É fundamental que eles aprendam para que serve o conhecimento, quando e como aplicá-lo. Isso é competência. Pode-se citar como uma das missões do supervisor escolar o compromisso juntamente com os professores de garantir os princípios de liberdade e solidariedade humana, no pleno desenvolvimento do educando, no seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho e, para isso assegurar a qualidade de ensino, da educação, da formação humana. Ao se estabelecer um conceito supervisão, é importante esclarecer o sentido etimológico do termo. A palavra Supervisão é formada pelos vocábulos super (sobre) e visão (ação de ver). Indica a atitude de ver com mais clareza uma ação qualquer. Como significação estrita do termo, pode-se dizer que significa olhar de cima, dando uma “ideia de visão global”. Afirma Ferreira (1999): supervisor é aquele que: “assegura a manutenção de estrutura ou regime de atividades na realização de uma programação/projeto. É uma influência consciente sobre determinado contexto, com a finalidade de ordenar, manter e desenvolver uma programação planejada e projetada coletivamente”. O supervisor escolar faz parte do corpo de professores e tem a especificidade do seu trabalho caracterizado pela coordenação – organização em comum – das atividades didáticas e curriculares e a promoção e o estímulo de oportunidades coletivas de estudo. O papel do supervisor está atrelado à gestão da escola como um todo. Uma vez que ele busca junto com o professor minimizar as eventuais dificuldades do contexto escolar em relação ao ensino-aprendizagem. 8 Fonte: facinepe.edu.br Quando questionamos sobre a função ou atribuição do supervisor, as respostas são: Coordenar e organizar os trabalhos de forma coletiva na escola, oferecer orientação e assistência aos professores, bem como fornecer aos mesmos materiais e sugestões de novas metodologias para enriquecer a prática pedagógica; Orientar os professores no planejamento e desenvolvimento dos conteúdos, bem como sugerir novas metodologias que os avaliem na prática pedagógica e aperfeiçoem seus métodos didáticos; Acompanhar o desenvolvimento da proposta pedagógica da escola e o trabalho do professor junto ao aluno auxiliando em situações adversas. O supervisor, como qualquer profissional, em seu curso de formação e em sua prática, prepara-se para atuar como especialista, no caso, como coordenadora do processo curricular, seja em sua formulação, execução, avaliação ou reorientação. E é instrumentalizada para coordenar o processo de construção coletiva do projeto político-pedagógico da escola. 9 O tempo é um dos maiores empecilhos da função de supervisor, o de não ser cumprido como deveria ser, haja vista que, muitos casos o supervisor procura desenvolver seu trabalho de forma superficial, não se aprofundando o necessário, isso por que em muitas vezes exerce outra função além da supervisão. É sabido que exercer a função de supervisor requer uma visão nobre - a visão geral de fundamentos, princípios e conceitos do processo didático. A ação supervisora, implica ter-se uma concepção clara a respeito: - Da escola como instituição social fincada numa sociedade que tem sua base no sistema capitalista; - Do sentido que têm a educação e o ensino; - Da posição que o sistema de ensino atribui para o supervisor como um dos agentes educacionais; - Da posição que o próprio supervisor se atribui como agente do ensino e da educação; - Do objeto específico de trabalho do supervisor escolar e da capacidade de observar o cotidiano, para através dele, transformar sua ação. A supervisão escolar é relevante, haja vista que a mesma atua no sentido da construção de uma competência docente coletiva, por que: Visa ao acompanhamento ao aluno com ajuda de professores, para um bom desenvolvimento do ensino-aprendizagem, bem como ajuda no fornecimento de materiais alternativos, para tornar conteúdos mais atrativos visando sempre uma melhoriana aprendizagem; Procura soluções para situações que permeiam o relacionamento aluno- professor, pois é uma pessoa apta e disponível para atender problemas individuais, bem como elevar os bons trabalhos realizados. Alguns diriam que qualquer professor poderia fazer o que foi descrito acima, no entanto, as funções do supervisor educacional fortemente presente, que possui conhecimentos específicos, produzem resultados mais eficazes. Todavia, os conhecimentos específicos só o especialista domina, e é ele, portanto, quem pode desempenhar tal função mais competentemente. 10 Fonte:www.fsanet.com.br A função de supervisor acopla funções de orientador, assistente social, psicólogo, visando prestar suporte às atividades dos professores no desenvolvimento do currículo escolar. Pode também incentivar o estudo de princípios metodológicos, enfatizando, elementos pontuais para a escolha dos métodos educacionais, considerando: - As relações entre professores, alunos, objetivos, conteúdos, avaliação e recuperação da aprendizagem; - O aluno e seus interesses, que emergem, tanto de sua vivência, quanto do movimento social e suas motivações; - Fundamentos da aprendizagem e da dinâmica da sala de aula, como a diversificação metodológica; - Os processos e recursos da avaliação e recuperação da aprendizagem. Os principais entraves para o desenvolvimento das atividades do supervisor, é, a falta de conhecimento dos professores da função do supervisor na escola, esta tem atrapalhado o supervisor a desempenhar sua função com eficácia e o pouco tempo para resolver muitos problemas. Também a prática da supervisão exige desse profissional, uma constante avaliação crítica do seu próprio desempenho e um esforço continuado de aperfeiçoamento como técnico e como pessoa. Só dessa forma conseguirá a 11 mobilização das energias dos professores no sentido dos objetivos educacionais perseguidos (VILLAS BOAS, 2003). A SUPERVISÃO EDUCACIONAL: MUDANÇAS SOB OLHAR DE UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA “Enquanto a Educação for utópica em sua complexidade, o sonho é necessário para que possamos trilhar um caminho”. Roberto Giancaterino Um dos assuntos mais polêmicos da atualidade e que vem sendo amplamente discutido é a educação, no seu sentido de formação humana. Educar é uma tarefa que exige comprometimento, perseverança, autenticidade e continuidade. As mudanças não se propagam em um tempo imediato, por isso, as transformações são decorrentes de ações. No entanto, as ações isoladas não surgem efeito. É preciso que o trabalho seja realizado em conjunto, onde a comunidade participe em prol de uma educação de qualidade baseada na igualdade de direitos. Com base em tais considerações, o supervisor escolar representa um profissional importante para o bom desempenho da educação escolar, o grupo escolar, o qual deve opinar, expor seu modo de pensar e procurar direcionar o trabalho pedagógico para que se efetive a qualidade na educação. Na atualidade o supervisor se direciona para uma ação mais científica e mais humanística no processo educativo, reconhecendo, apoiando, assistindo, sugerindo, participando e inovando os paradigmas, pois tem sua “especialidade” nucleada na conjugação dos elementos do currículo: pessoas e processos. Desse modo, caracteriza-se pelo que congrega, reúne, articula, enfim soma e não divide. Neste contexto, compreender e caracterizar a função supervisora no contexto educacional brasileiro não ocorre de forma independente ou neutra. Essa função decorre do sistema social, econômico e político e está relacionada a todos dos determinantes que configuram a realidade brasileira ou por eles condicionada. 12 Fonte: Fonte: gestor.cursosposgraduacaoonline.com.br O desenvolvimento da sociedade moderna representa motivos de muita reflexão, principalmente pelo fato de que a área educacional possui muitos problemas e que diretamente vinculam-se as demais atividades sociais vistas que são tais profissionais que irão atuar junto ao mercado de trabalho. Existe uma preocupação com a formação humana e com a forma com que o educando vem obtendo o conhecimento científico. Acredita-se na viabilidade de fazer do ambiente escolar um espaço construtivo, que desperte o interesse do educando para aprender e fazer do professor um mediador do saber. Trata-se de ignorar as velhas práticas educacionais e acreditar na possibilidade de construir uma sociedade onde o homem tenha consciência do seu papel e da sua importância perante o grupo. Santos e Haerter (2004:3) assinalam: A necessidade de empreendermos tentativas de rompimento com verdadeiros “receituários” que todos nós professores tínhamos no sentido de “educar é assim”, “conhecimento é isso”, “é preciso cumprir o programa de conteúdos”, o que não nos causa estranhamento, uma vez que somos frutos de uma maneira bastante específica de ser, pensar, sentir e agir no mundo, identificada com a concepção cartesiana de conhecimento, que orientou e ainda orienta os conceitos e práticas relacionados à gestão e ao ensino na educação. 13 Acredita-se que se existem falhas no sistema educacional a melhor maneira de redimensionar o trabalho é assumir o compromisso de fazer do trabalho educacional uma meta a ser atingida por todos. Nessa busca incessante por uma nova postura de trabalho, o professor possui um papel fundamental, por isso, deve recuperar o ânimo, a sede e a vontade de educar e fazer do ensino uma ação construtiva. Deve agir como um verdadeiro aprendiz na busca pelo conhecimento e fazer desta ferramenta um compromisso social. Diante das perspectivas de inovação o supervisor escolar representa uma figura de inovação. Aquele profissional que assume o papel fundamental de decodificar as necessidades, tanto da administração escolar, a fim de fazer com que sejam cumpridas as normas e como facilitador da atividade docente, garantindo o sucesso do aprendizado. Contudo, a ação supervisora tornar-se-á sem efeito se não for integrada com os demais especialistas em educação, (Orientador Escolar, Secretário Escolar e Administrador Escolar) respectivamente. Medina (1997) argumenta que nesse processo, o professor e supervisor têm seu objeto próprio de trabalho: o primeiro, o que o aluno produz; e o segundo, o que o professor produz. O professor conhece e domina os conteúdos lógico- sistematizados do processo de ensinar e aprender; o supervisor possui um conhecimento abrangente a respeito das atividades de quem ensina e das formas de encaminhá-las, considerando as condições de existência dos que aprendem (alunos). O que de forma alguma é admissível é manter as velhas políticas de submissão, onde toda a estrutura escolar submetia-se aos interesses da classe dominante. De certa forma, tem-se a impressão de ser esta uma postura radical. No entanto, busca- se uma escola cidadã, onde haja comprometimento com o ensino, com a aprendizagem, onde o professor seja valorizado enquanto profissional e onde o supervisor consiga desenvolver com eficiência a sua função. A nova realidade denota que a função do supervisor educacional assume um parecer diferente do que era conceituada na escola tradicional. Conforme Freire (1998), a educação libertadora passou a inspirar novos conceitos que orientam uma nova sociedade baseada nos princípios de liberdade, de participação e de busca pela autonomia. 14 Fonte: 4bp.blogspot.com Passerino (1996:39) estabelece alguns conceitos fundamentais da educação libertadora, sendo que estes se tornam suporte desta nova concepção do supervisor educacional: - Práxis via análisedo cotidiano: é preciso olhar a realidade presente em sala de aula e os conceitos trazidos pela criança para refletir os métodos e modo como devem ser trabalhos no espaço escolar; - Diálogo inclui conflito: o diálogo representa uma possibilidade de desenvolvimento das relações interpessoais de modo a permitir a análise e o desocultamento da realidade. Ser dialógico é permitir que cada educando exponha seu modo de pensar mesmo que este não seja coerente com a sua visão. Todavia para administrar os conflitos que podem ser gerados o professor precisa desenvolver uma série de dinâmicas em grupo; - Conscientização a partir da dúvida e do questionamento: o supervisor deve atuar na dinamização de um clima de análise das rotinas da escola para que as mesmas possam ser confrontadas com as novas idéias que se almeja desenvolver. Convém destacar que o processo de desenvolvimento da consciência é lento e requer uma interpretação abrangente do todo; 15 - O método dialético supera a visão parcial: a aplicação do método dialético proporciona uma visão objetiva de toda a realidade permitindo a compreensão entre o velho e o novo. A partir destas o supervisor pode encaminhar estratégica concreta para a superação das dificuldades encontradas. - Participação crítica para a transformação: a escola segundo a visão de educação libertadora, colabora para a emancipação humana à medida que garantem o conhecimento às camadas menos favorecidas da sociedade. Assim sendo, o supervisor, deve ser aquela pessoa que orienta e estimula a concretização de um projeto transformador sob o qual são elaborados esforços coletivos para a obtenção dos êxitos; - Pela democracia, chega-se à liberdade: todo e qualquer trabalho desenvolvido pelo supervisor deve partir dos conceitos de liberdade e democracia, conceitos esses que serão desenvolvidos lentamente para que possa se efetivar a condição de mudanças sociais. Para Passerino (1996:40), “o trabalho do supervisor educacional deve ser orientado pela concepção libertadora de educação, exige um compromisso muito amplo, não somente com a comunidade na qual se está trabalhando, mas consigo mesmo”. Trata-se de um compromisso político que induz a competência profissional e acaba por refletir na ação do educador, em sala de aula, as mudanças almejadas. Todavia, a tarefa do supervisor é muito difícil de ser realizada, exige participação para a integração em sua complexidade. Assim, descreve Gandin (1983:89), esta ação não é fácil, porque: - Exige compromisso pessoal de todos; - Exige abertura de espaços para a participação; - Há necessidade de crer, de ter fé nas pessoas e nas suas capacidades; - Requer globalidade (não é participação em alguns momentos isolados, mas é constante); 16 Fonte:www.etecpirituba.com.br - Distribuição de autoridade; - Igualdade de oportunidades em tomada de decisões; - Democratização do saber. No entanto, diante do exposto até aqui se conclui que a escola, como parte integrante da totalidade social, não é um produto acabado. É resultado, dos conflitos sociais que os trabalhadores vivem nas relações de produção, nas relações sociais e nas lutas de classe. É também fruto das lutas sociais pela escola como lugar para satisfazer a necessidade de conhecimentos, qualificação profissional, e de melhoria de suas condições de vida enquanto possibilita melhores empregos e o acesso a uma maior renda. Não se pode negar este direito aos trabalhadores, e, por isso, a escola pública, apesar dos pesares, é um espaço de Educação Popular. Contudo, caracteriza Brandão (1999, em seu artigo): A educação existe no imaginário das pessoas e na ideologia dos grupos sociais e, ali, sempre se espera, de dentro, ou sempre se diz para fora, que a sua missão é transformar sujeitos e mundos em alguma coisa melhor, de acordo com as imagens que se tem de uns e outros. Para que a escola possa cumprir com este papel, será necessário investir na mudança de atitude do seu professor, do supervisor, no sentido de criar condições que favoreçam este elo, tendo como objetivo a valorização e a cultura do aluno e 17 busque promover o diálogo com a cultura erudita. Sem dúvida, é imprescindível a presença do supervisor, como instigador da capacitação docente, destacando a necessidade de adquirir conhecimento e condições de enfrentar as dificuldades próprias de sua profissão, como também, estar preparado para administrar as constantes mudanças, no contexto escolar. Ressaltando que a LDB, no seu capítulo IX afirma: “quando se fala em uma nova abordagem pedagógica (...) e avaliação contínua do aluno, tudo isto exige um novo tipo de formação e treinamento ou retreinamento de professores”. Medina (1997) aduz que o supervisor, tomando como objeto de seu trabalho a produção do professor, afasta-se da atuação hierarquizada e burocrática - que sendo questionada por educadores, e passa a contribuir para um desempenho docente mais qualificado. Assim, torna-se desafio do professor a busca do conhecimento para poder encaminhar e articular o trabalho nas diferentes áreas; reflexões permanentes sobre os princípios que fundamentam os valores, objetivando a construção da cidadania no espaço escolar. Neste sentido, o professor passa a ser visto como um elemento fundamental responsável pela construção da sociedade, tendo em vista resultados a curto, médio e longo prazo. A LDB no seu art. 22 afirma: “a educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. Lembrando que a escola deve trabalhar a educação, de maneira a ajudar de forma intencional, sistemática, planejada e contínua para os alunos que a freqüentam. Esta educação deve ser diferente da forma como fazem as outras instituições como: a família, os meios de comunicação, o lazer e os outros espaços de construção do conhecimento e de valores para convivência social. Deve, portanto, assumir explicitamente o compromisso de educar os seus alunos dentro dos princípios democráticos. Ela precisa ser um espaço de práticas sociais em que os alunos não só entrem em contato com valores determinados, mas também aprendam a estabelecer hierarquia entre valores, ampliam sua capacidade de julgamento e realizam escolhas conscientes, adquirindo habilidades de posicionar- se em situações de conflito. 18 Fonte: Fonte: 3.bp.blogspot.com De acordo com os PCNs (1997), como princípio, o espaço escolar caracteriza- se como um espaço de diversidade. O caráter universal do ensino fundamental, definido em lei, torna a escola um ponto de convergência de diversos meios sociais, traz para o seu seio os mais variados valores expressos na diversidade de atitudes e comportamentos das pessoas que a integram. Como instituição permanente, defronta- se com o desafio da constante mudança em seu interior. Coloca-se para a escola a questão de como enfrentar o conflito entre suas normas e regras e aqueles valores que cada um de seus membros traz consigo. Tal conflito traduz-se freqüentemente em problemas que, se não são novos, têm se tornado cada vez mais relevantes no espaço escolar, como, por exemplo, a indisciplina e a violência, portanto, a necessidade de problematizá-las na perspectiva de uma formação moral. Logicamente o supervisor escolar, em suas ações, pode delinear o início de uma nova era educacional, onde haja mais coletividade e o ensino seja buscado com qualidade, priorizando o aluno e valorizando as experiências significativas. Acredita-se que o SupervisorEscolar tem a possibilidade de transformar a escola no exercício de uma função realmente comprometida com uma proposta política e não com o cumprimento de um papel alienado assumido. 19 Deve antes de tudo, estar envolvido nos movimentos e lutas justas e necessárias aos educadores. Semear boas sementes, onde a educação se faz presente e acreditar veemente que estas surtirão bons frutos. A caracterização da Supervisão precisa ser definida e assumida pelo Educador e pelo Supervisor. É uma opção que lhe confere responsabilidade e a tranqüilidade de poder. O Supervisor Educacional deverá ser capaz de desenvolver e criar métodos de análise para detectar a realidade e daí gerar estratégias para a ação; deverá ser capaz de desenvolver e adotar esquemas conceituais autônomos e não dependentes, diversos de muitos daqueles que vem sendo empregados como modelo, pois um modelo de Supervisão não serve a todas as realidades. O Supervisor possui uma função globalizadora do conhecimento através da integração dos diferentes componentes curriculares. Sem esta ação integradora, o aluno recebe informações soltas, sem relação uma das outras, muitas vezes inócua. Para que o conhecimento ganhe sentido transformador para o aluno é necessário ter relação com a realidade por ele conhecida, e que os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento sejam referidos à totalidade de conhecimento. Assim, acredita-se que uma das funções específicas do Supervisor Escolar é a socialização do saber docente, na medida em que há ela cabe estimular a troca de experiências entre os professores, a discussão e a sistematização de práticas pedagógicas, função complementada pelos órgãos de classe que contribuirá para a construção, não só de uma teoria mais compatível à realidade brasileira, mas também do educador coletivo. Lembrando que não cabe ao supervisor impor critérios ou soluções, cabe-lhe sem dúvida, ajudar na construção da conscientização necessária da luta para uma educação libertadora. A supervisão escolar é dividida em seis momentos ao longo de toda a história da educação. Supervisão é um processo abrangente e agregado no trabalho escolar. Sobre essa pode dizer que é uma tarefa técnico-científica. Como técnica ela é maneira definida de exercer determinada função integrante de um sistema no caso o educacional. Sua função é muito importante na consecução de melhor qualidade na 20 Fonte: Fonte: www.alefcentroeducacional.com.br prestação de serviços educacionais, desde as instâncias mais amplas e abrangentes até a atividade básica. Como trabalho científico, a supervisão tem que: Pesquisar os fatos para que possa abranger todas as dimensões da realidade que atua; Estabelecer hipóteses de atuação; Determinar prioridades com as respectivas atividades necessárias à sua execução; Avaliar o resultado das mudanças que indicam a existência de “uma nova realidade” e impõe, consequentemente, um novo ciclo de atuação. (Maia, Garcia, 1990). Como trabalho técnico científico, a supervisão, desenvolve-se através de três etapas que são: planejamento, acompanhamento e controle: A supervisão, em sua atuação, precisa prever todo o seu trabalho para um período letivo, anual e semestral, bem como precisa prever a execução de suas tarefas particulares. Mas estas se desenrolam segundo o esquema: planejamento, acompanhamento e controle. O planejamento refere-se ao que e como fazer, o acompanhamento à execução e o controle à avaliação. 21 O planejamento é previsão metódica de uma ação a ser desencadeada e a racionalização dos meios para atingir os fins. Essa etapa dentro de sua acepção mais ampla, sempre compreende uma gama de idéias. Por si só não constitui a fórmula mágica que soluciona ou muda a problemática a ser resolvida. Estabelece uma busca cada vez maior de estudos científicos que favoreçam o estabelecimento de diretrizes realistas. O acompanhamento é a segunda etapa do trabalho de Supervisão, uma vez que, esta não só vai seguindo o desenrolar de suas próprias atividades, como as atividades de todo corpo docente. O acompanhamento é um trabalho que se desenvolve por todo o período letivo, a fim de providenciar replanejamento, quando necessário; isto em vista dos dados recolhidos e avaliados durante o desenrolar das atividades escolares. O controle é a terceira fase do trabalho de Supervisão e atua sobre os resultados dos trabalhos que foram realizados, a fim de prevenir desvios, efetuarem retificações e mesmo alterações que melhor ajustem a ação da escola às necessidades do educando e da comunidade. O controle fornece dados, também que influenciarão nos próximos planejamentos, visando a torná-los mais objetivos, pragmáticos e eficientes. Apesar de muitas críticas, diversos cursos do país continuam mantendo a mesma estrutura curricular, formando no curso de pedagogia o especialista em gestão escolar, em supervisão e orientação escolar. A história da Supervisão Educacional segue juntamente com a história da Educação e, atualmente, procura fazer uma releitura da realidade municipal, estadual, nacional e, até mesmo, internacional, com o propósito de oferecer informações para a construção de uma educação mais democrática e eficiente. Dessa forma, diante do que foi exposto, espera-se que a educação possa contar com o urgente apoio dos ilustres pares para ver transformado de forma jurídica este projeto de lei, pois nele possui fundamentos jurídicos, sociais e de justiça. 22 A IMPORTÂNCIA DA INTER-RELAÇÃO ENTRE O SUPERVISOR PEDAGÓGICO E O CORPO DOCENTE Fonte: www.unicentroro.edu.br Ser formador é oferecer a teoria e as condições para aprimorar a prática. É reunir opiniões e concepções da equipe em torno de um projeto pedagógico. É fazer com que os professores consigam ver além dos hábitos e conceitos adquiridos com a experiência e a formação inicial, por meio da sistematização do que ocorre em sala de aula (HEIDRICH, 2009). Embora o contexto educacional tenha passado por várias transformações no decorrer dos anos, nos dias atuais a Escola ainda presencia certos paradigmas e/ou concepções tradicionais bem explícitas que acabam interferindo no processo pedagógico. Um desses dilemas diz a respeito à concepção de supervisão, e consequentemente ao relacionamento entre o supervisor e o professor. Pode-se dizer que o orientador educacional é concebido como um “fiscal”, um “investigador”, ou até mesmo um “juiz”; que determina o que pode e/ou que deve ser feito. Diante de tal situação, o professor se sente desamparado, desprovido de auxílio, de trocas de experiências e/ou vivências. Assim, a presença do supervisor acaba se tornando um incômodo. 23 Diante deste quadro, questionamos qual é o papel do supervisor escolar para garantir um trabalho eficiente e conjunto com os professores. Partindo desta premissa é que surgiu a necessidade de discutirmos e refletirmos sobre essas questões. Inicialmente, buscamos compreender e refletir sobre a evolução do conceito de supervisão de ensino, como também, identificamos quais funções compete a este profissional no processo de ensino. Buscamos conhecer alguns aspectos que podem interferir na relação supervisor e professor, apontando possíveis caminhos para a solução dos problemas oriundos desta relação. Em suma, como lembra Lavelberg (2009), a orientação educacional tem dever de auxiliar a escola para promover socialização, (re) construindo as ações pedagógicas e educacionais, propiciando a articulação de valores que resultem em atitudes éticas no âmbito do convívio escolar esocial. E sem a mera intenção de mencionar o que é certo ou errado, o que deve ser feito ou não, pretende-se com este estudo, refletir sobre algumas ações e posições do ser supervisor e professor no lócus de ensino. EVOLUÇÃO DA CONCEPÇÃO DE SUPERVISÃO ESCOLAR Repensar a ação supervisora nas instituições escolares requer uma breve análise na linha do tempo, percorrendo fatos e conceitos da história da supervisão educacional, para entendê-la em suas origens e em seus avanços. No contexto brasileiro, a supervisão é uma profissão relativamente recente. O pressuposto do que vem a ser supervisão originou-se na indústria, relacionada com a produção. Antes de ser contemplada na educação, a supervisão era empregada na indústria como uma forma de melhoria da qualidade e da quantidade. Pode-se dizer que foi a partir de 1900 que a supervisão se integra à educação, com a intenção de melhorar o desempenho da escola mediante a ação educativa, a fim de buscar atender as necessidades do educando. Posteriormente, ao ano de 1920, a supervisão dirigiu-se para a eficiência do professor, buscando orientá- lo para mudanças didáticas às quais permitissem um maior rendimento escolar. Em torno da década de 30, a supervisão sofreu influências de grandes estudiosos sociais 24 Fonte: vestibular.mundoeducacao.bol.uol.com.br e passou a priorizar mais a cooperação e a coordenação dos professores em suas ações pedagógicas. Em meados dos anos 70, com a Reforma Francisco Campos, foi decretada a Lei 19.890 de 18/4/1931, a qual veio diferenciar a orientação escolar da mera concepção de fiscalização. Com base nos dizeres de Nérici (1978), no intervalo do ano de 1940 a 1960 a supervisão teve preocupação em sensibilizar o professor para a pesquisa, na qual visava que o educador tinha que tomar consciência de suas dificuldades e, posteriormente, ir em busca de orientação necessária para que pudesse melhorar sua atuação e a superação das dificuldades. No ano de 1942, pelo Decreto-Lei 4.244 de 9/4/1942 foi promulgada a Lei Orgânica do Ensino Secundário, na qual concebia no artigo 75, parágrafo 1º que dizia que “a inspeção far-se-á, não somente sob o ponto de vista administrativo, mas ainda com o caráter de orientação pedagógica, aplicando-se, dessa forma, às atividades da inspeção” (LIMA, 2008, p.70). Em 1953, por meio do Decreto-Lei 34.638 de 14/11/1953, foi elaborada a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (Cades), a qual tinha como principal objetivo “melhorar a qualidade do ensino por meio do treinamento de recursos humanos, oferecendo aos inspetores da época subsídios para a formação e 25 a fundamentação de seu trabalho nas escolas, enfatizando, sempre, o caráter pedagógico” (LIMA, 2008, p.70-71). E ainda na década de 50, por meio de “uma política de alianças” entre Brasil e Estados Unidos, a inspeção surgiu no campo educacional brasileiro de maneira diferenciada, ou melhor, de maneira mais contemporânea. Assim, houve a garantia e a efetivação de uma política desenvolvimentista que trazia a ideia de uma educação voltada para a transformação social. Foi a partir de então que a supervisão escolar foi classificada e nominada legalmente, através de um protótipo americano, em que prevaleciam os métodos e técnicas de ensino. Assim, a supervisão escolar teve início aqui nas terras brasileiras, por meio de cursos promovidos pelo Programa Americano-Brasileiro de Assistência ao Ensino Elementar (PABAEE), o qual foi o primeiro a formar supervisores escolares para atuarem no ensino elementar (primário) brasileiro. A finalidade era modernizar e melhorar a qualidade do ensino e a formação dos professores. De acordo com Medina, uma das ideias contidas nos objetivos do PABAEE era: Introduzir e demonstrar aos educadores brasileiros os métodos e técnicas utilizados na educação primária, promovendo a análise, aplicação e adaptação dos mesmos, a fim de atender às necessidades comunitárias em relação à educação, por meio do estímulo à iniciativa do professor, no sentido de contínuo crescimento e aperfeiçoamento. Criar, demonstrar e adaptar material didático e equipamento, com base na análise de recursos disponíveis no Brasil e em outros países, no campo da educação primária (MEDINA, 2002 apud PABAEE, 1964, p.4-5). O PABAEE foi um programa apontado como a grande novidade educacional brasileira, tendo repercussão desde o ano de 1957 à 1963, atribuído a um “caráter inovador na área pedagógica e preocupando-se, principalmente, com os meios que possibilitariam o reformismo educacional” (LIMA, 2008 apud MORAES, 1982, p. 24). No ano de 1961, com a criação da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) - Lei 4.024 de 20/12/1961 nota-se que as transformações ocorridas no campo da supervisão foram retomadas para o “Ensino Primário”. Em seu artigo 52 (LDB, 1961 apud LIMA, 2008, p. 71) diz que “o ensino normal tem pôr fim a formação de professores, orientadores, supervisores e administradores 26 escolares destinados ao ensino primário e o desenvolvimento dos conhecimentos técnicos relacionados à educação da infância”. Fonte: www.folhadosudoeste.jor.br A partir de então, ficou determinado que os governos, tantos estadual quanto municipal, tinham que assumir e administrar os encargos de organização e execução de todo o sistema educacional. Ao Governo Federal cabia o propósito de definir as metas a serem alcançadas em todo o país e uma ação supletiva às deficiências regionais, por meio de auxílio financeiro e de assistência técnica. Mediante a esse princípio de descentralização administrativa em nível de execução, também foi descentralizado pela LDB a inspeção, delegando aos Estados a incumbência de organizar esses serviços, referente ao ensino primário e médio. Tendo em vista que o PABAEE teve grande influência no sistema educacional brasileiro no início dos anos 60, o Brasil sofre grandes transformações, as quais acarretaram mudanças significativas no campo educacional. A partir da política do governo pós-64, a educação tornou-se o principal assunto de interesse econômico e de segurança nacional. Nos diversos sistemas educacionais das unidades federativas, a supervisão escolar passou a exercer a função de controlar a qualidade do ensino, e também, a de criar condições necessárias para que se promovessem a melhoria da qualidade do 27 ensino. No entanto, exigia-se do supervisor uma formação em nível superior. Segundo Saviani: (...) como as demais habilitações educacionais criadas e oficialmente institucionalizadas na educação brasileira, a partir da regulamentação da lei 5540/68, a supervisão escolar passa a ter sua formação em cursos de graduação, sendo processada a partir da linha em que se davam os cursos promovidos pelo Pabaee e Pamp. Isto é, fundamentada nos pressupostos da pedagogia tecnicista – que se apoia na neutralidade científica e se inspira nos princípios da racionalidade, eficácia e produtividade do sistema. (LIMA, 2008 apud SAVIANI, 1988, p. 15) Contudo, a presença dos especialistas em supervisão no interior do sistema educacional, demonstra o reforço à divisão do trabalho na escola. Pode-se dizer que desde o ano de 1960 até os dias atuais, a supervisão tem sido incorporada pela eficiência, cooperação e pesquisa, com vistas ao desenvolvimento profissional do educador. A supervisão escolar requer meios que transformem o professor em um profissional cada vez mais consciente, eficiente e (co) responsável no processo educativo. Desde então, a supervisão educacional passou por três fases distintas, apresentadas a seguir. Fase fiscalizadoraConforme diz Nérici (1978), este período da supervisão é considerado a primeira fase em que há confusões com a inspeção escolar. A fase fiscalizadora é demarcada pela característica do supervisor direcionar o seu trabalho mais para a função técnica e administrativa. Tal ação era voltada para o cumprimento das leis de ensino, das condições do prédio, das situações legais dos docentes, do cumprimento das datas e prazos de atos escolares (provas, transferências, matrículas, férias, documentação dos educandos, dentre outros). Pode-se dizer que esta etapa da supervisão prioriza o seguimento de padrões rígidos e inflexíveis e esses segmentos eram os mesmos adotados por todo o país. Não havia respeito com as diferenças e individualidades de cada região, de cada instituição e de cada aluno. 28 Fonte: Fonte: portal.sme.prefeitura.sp.gov.br Fase construtiva Esta modalidade da supervisão é conhecida por fase construtiva e/ou supervisão orientadora. A atuação do supervisor nesta fase sofre uma mudança significativa mediante a fase anterior. A supervisão orientadora é caracterizada por passar a ter reconhecimento de que é necessária uma melhoria na atuação dos professores. A partir de então, os especialistas em supervisão começaram a promover cursos de aperfeiçoamento e atualização dos professores. Portanto, através destes cursos, como menciona Nérici (1978), era possível identificar os “erros” praticados na atuação do professor em sala de aula e, posteriormente, realizar trabalhos acerca dos próprios “erros” para tentar saná-los, buscando novos conceitos e metodologias. Fase criativa Para Nérici (1978), a fase criativa é quando a supervisão passa a ser diferenciada e separada da inspeção escolar. A partir desta fase, a supervisão escolar passa a ter como principal finalidade o aprimoramento de todo o processo ensino aprendizagem. Deve-se ressaltar que o papel do supervisor nessa fase é o de permitir que todos os envolvidos no âmbito educacional (professores, pais, alunos, 29 funcionários em geral), participem ativamente de todas as decisões, no sentido de um trabalho cooperativo e democrático. SUPERVISÃO ESCOLAR AUTOCRÁTICA A supervisão autocrática é aquela que prioriza a ação autoritária do supervisor, que determina todas as ordens, sugestões e direções para a melhoria do processo de ensino. Segundo Nérici (1978), esta forma de supervisão emite ordens e controla o seu comprimento, funcionando como sendo capaz de encontrar soluções para todas as dificuldades, qual “repositório da sabedoria didático-pedagógica”. Esta forma de supervisão procura impor–se pela autoridade e pela intimidação, ao invés de captar a confiança e desenvolver a cooperação entre ele e o professor, não utilizando da possível cooperação entre as partes, sacrificando o seu espírito criador, dentre outras. SUPERVISÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA É notório o fato de a supervisão escolar democrática ser aquela em que a atuação do supervisor é baseada na liberdade de expressão, respeito, compreensão e criatividade. O trabalho desenvolvido não é feito de forma impositiva, e sim, democrática, onde tomada de decisões envolve todos os responsáveis pelo processo educativo. Novamente Nérici (1978), nos fala que o supervisor democrático se caracteriza pela habilidade de respeitar a individualidade dos seus companheiros de trabalho, estimular a iniciativa e criatividade dos professores, e, aplicar possíveis normas de relações humanas, estimulando o espírito de grupo entre os protagonistas do processo ensino-aprendizagem. 30 SUPERVISÃO ESCOLAR: AFINAL, QUAL É O OBJETO DE TRABALHO DO SUPERVISOR ESCOLAR? Fonte: 2.bp.blogspot.com Este questionamento nos convida para uma reflexão sobre as ações reais dos supervisores no interior da escola. Pode-se afirmar que há diversas e distintas concepções e paradigmas a respeito do ato da supervisão escolar, os quais instigam um estudo aprofundado. Mediante as “verdades absolutas” pertinentes à prática da supervisão, acentua-se a necessidade de compreender, mais amplamente o especialista em supervisão escolar. A supervisão escolar é entendida como um processo dinâmico, contínuo e sistemático. O supervisor é um dos principais líderes do processo educativo, ou seja, é um dos grandes responsáveis pela melhoria do processo ensino-aprendizagem. Pode-se afirmar que o supervisor é concebido como um profissional que tem a função de “orientar e de dar assistência” aos educadores mediante todos os aspectos, sejam educacionais, pedagógicos, como também sociais. O papel primordial do supervisor escolar é o de ser o mediador e colaborador das atividades educativas desenvolvidas pelo professor. O supervisor é aquele que orienta, aprende e ensina, tornando-se um parceiro no processo educativo. 31 Como destaca Nérici, “A supervisão escolar visa à melhoria do processo ensino-aprendizagem, para o que tem de levar em conta toda a estrutura teórica, material e humana da escola” (1978, p. 26). Observa-se muitas vezes, que este profissional exerce apenas a função de cuidar da escola, seja no aspecto organizacional, administrativo ou gerencial, mas, além destas citadas anteriormente, a ação do supervisor não se limita à tarefa de ser um “gerente”, mas também requer uma liderança pedagógica. Assim, é imprescindível que o supervisor saiba articular o administrativo com o pedagógico. Para que esta função seja efetiva, o especialista da área da supervisão deve ter pleno conhecimento da didática, para poder dar apoio aos professores. Segundo Vieira, o supervisor pedagógico deve acompanhar a prática dos docentes de maneira que os ajudem a se tornarem os supervisores da sua própria prática, ambos em constante interação, diálogo e troca de experiências, para que possam assim, contribuir para um processo de ensino e aprendizagem significativo e contextualizado. Tendo em vista que a supervisão requer o domínio da liderança para que possa conscientizar os envolvidos no âmbito educacional a desenvolverem uma educação de qualidade, esta função requer o pleno exercício de uma liderança educacional ativa, ética e em constante comunicação com todos os envolvidos. Vale lembrar mais uma vez, que o ato de liderar não é mandar e somente chefiar, mas exercer as funções de liderança com as “habilidades” necessárias na busca de harmonizar o trabalho de forma cooperativa e harmoniosa. A ação do supervisor deve propiciar que os objetivos da educação sejam alcançados e para isso, o supervisor deve criar as condições para esta efetivação, buscando sempre se aprimorar no embasamento teórico e prático, de forma diferenciada e inovadora. ETAPAS DA SUPERVISÃO ESCOLAR De acordo com Nérici (1978), a atuação do supervisor escolar se desenvolve por meio de três etapas: planejamento, acompanhamento e controle. O planejamento é o ato de elaborar um “roteiro” de tudo que será realizado no período letivo, seja semestral ou anual. É necessário dizer que planejar significa 32 analisar uma dada realidade, refletir sobre as condições existentes, e prever as formas alternativas de ação para superar as dificuldades buscando alcançar os objetivos propostos. Fonte: direitoaeducacao.files.wordpress.com Este planejamento deve ser composto por um conteúdo objetivo e flexível, para que possa ser ajustado com as necessidades que surgirem no cotidiano escolar. Alguns aspectos relevantes deste planejamento, como lembram Nérici (1978), são: determinar ou reformular o currículo, organizar o calendário escolar, prever diversos tipos de reuniões, prever cooperação na elaboração dosplanos de ensino e das normas de verificação e avaliação da aprendizagem, refletir sobre a vida disciplinar da escola, levantamento da realidade dos alunos e do meio, selecionar métodos e técnicas de supervisão contextualizadas, dentre outras. Já a etapa de acompanhamento o supervisor deve analisar diariamente se todos os planejamentos estão sendo executados com eficiência. Esta etapa propicia que o especialista observe a atuação e o desempenho dos educadores, para posteriormente, orientá-los e coordená-los. A atividade profissional executada pelo acompanhamento deve ser realizada durante todo o período letivo. Tal ação permite que o supervisor faça replanejamentos, quando for preciso. 33 Já a etapa de controle, é aquela fase da atividade da supervisão, em que se efetua uma análise acerca dos resultados obtidos. O intuito desta fase é prevenir desvios, retificações e alterações buscando atender às necessidades da escola, do professor, do aluno e da comunidade. Esta etapa tem como característica avaliar o rendimento escolar, observar a mudança de comportamento dos educandos, tratar e analisar os dados obtidos e recomendar meios para sanar as deficiências levantadas em todo o processo. FUNÇÕES DA SUPERVISÃO ESCOLAR Com o decorrer do tempo, percebe-se que a função do supervisor escolar sofreu diversas mudanças significativas, passando por distintos perfis, tais como o de fiscalizador, controlador espontâneo, inspetor e atualmente, tem-se a visão do supervisor como parceiro e companheiro do trabalho pedagógico. A função primordial é de orientar para a ação educativa abrangente, dentro dos princípios legais e de formação integral. Partindo do princípio de que as funções da supervisão são múltiplas e significativas, faz se necessário destacar algumas delas conforme Brigs e Justman apud Nérici (1978, p. 42-43), que são: Ajudar os professores a melhor compreenderem os objetivos reais da educação e o papel especial da escola na consecução dos mesmos. Auxiliar os professores a melhor compreenderem os problemas e necessidades dos jovens educandos e atender, na medida do possível, a tais necessidades. Exercer liderança de sentido democrático, sob as formas de promoção do aperfeiçoamento profissional da escola e de suas atividades, buscando relações de cooperação de seu pessoal e estimulando o desenvolvimento dos professores em exercício, colocando sempre a escola mais próxima da comunidade. 34 Fonte:carinhoacadapasso.com.br Estabelecer fortes laços morais entre os professores quanto ao seu trabalho, de tal forma que operem em estreita e esclarecida cooperação, para que os mesmos fins gerais sejam atingidos. Identificar qual o tipo de trabalho mais adequado para cada professor, distribuindo tarefas, mas de forma que possam desenvolver suas capacidades em outras direções promissoras. Ajudar os professores a adquirir maior competência didática. Orientar os professores principiantes a se adaptarem à sua profissão. Avaliar os resultados dos esforços de cada professor, em termos do desenvolvimento dos alunos, segundo os objetivos estabelecidos. Ajudar os professores a diagnosticar as dificuldades dos alunos na aprendizagem e a elaborar planos de ensino para superação das mesmas. Auxiliar a interpretar o programa de ensino para a comunidade, de tal modo que o público possa compreender e cooperar nos esforços da escola. 35 Levar o público a participar dos problemas da escola e recolher suas sugestões a esse respeito. Proteger o corpo docente contra exigências descabidas de parte do público, quanto ao emprego de tempo e energia dos professores. Estas funções, só serão concretizadas, se a relação supervisor e professor decorrer de uma perspectiva de resolução de problemas e atendimento às reais necessidades da escola e se houver dedicação ao trabalho em grupo. ARTIGO PARA REFLEXÃO: Autores ANA MARIA LIMA DE SOUZA ALVES e ELISA APARECIDA FERREIRA GUEDES DUARTE Disponível em: pergaminho.unipam.edu.br Acesso: 15/03/2017 Supervisor escolar: missão, exercício, desafios e perspectivas _________________________________________________________ ANA MARIA LIMA DE SOUZA ALVES Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário de Patos (UNIPAM) ELISA APARECIDA FERREIRA GUEDES DUARTE Professora do UNIPAM e orientadora da pesquisa Resumo: O presente trabalho almeja desvelar a importância do supervisor escolar no âmbito da instituição de ensino. Para tanto teve como objetivo geral conhecer e analisar a atuação do supervisor, conceituando e observando os limites da supervisão, levando‐se em consideração seus objetivos e sua missão. A pesquisa foi realizada a partir de um estudo 36 bibliográfico sobre o tema, visando verificar a importância da atuação do supervisor educacional, o processo histórico, conceitos, limites, formação e formas de atuação dentro da instituição escolar. Nesta fase, foram abordados os seguintes teóricos: Medina (2003), Saviani (2003), Lima (2001), Przybylski (1982), Alonso (2003) Ferreira (2003). A pesquisa de campo foi realizada em uma escola pública de Patos de Minas, com os supervisores e professores das séries iniciais do ensino fundamental. A coleta de dados se deu por meio de observação e também de um questionário em que foram levantados dados sobre a atuação do supervisor educacional dentro da escola. Após a observação e análise do trabalho das supervisoras, pôde‐se constatar que estas não têm satisfatoriamente o conhecimento das funções que lhes são atribuídas e que vivem em constantes contradições entre aquilo que pensam e aquilo que é possível realizar, ou seja, que teoria e prática nem sempre andam juntas. Palavras‐chave: supervisão escolar; legislação educacional; escola; educação básica. Abstract: The present work aims at presenting the importance of the school supervisor in the bounds of an institution. This way, the main objective was to know and analyze the performance of the supervisor, evaluating and observing the limits of the supervision, taking into consideration its objectives and mission. The research was fulfilled through a bibliographic study of the theme, aiming at verifying the importance of the performance of the educational supervisor, the historical process, the concepts, limits, formations and forms of performance in an institution. At this stage, the following theorists were approached: Medina (2003), Saviani (2003), Lima (2001), Przybylski (1982), Alonso (2003) Ferreira (2003). The field research was fulfilled in a public school of Patos de Minas, with the supervisors and teachers of the first years of high school. The data collection was made through observation and a questionnaire in the school. After the observation and analysis of the supervisors’ work, we could verify that these do not have the satisfactory knowledge of the functions that are attributed to them, and that they live in constant contradictions between what they think and what is possible to fulfill, that is, theory and practice not always go together. Keywords: school supervisor; educational law; school; high school. Pergaminho, (3):1‐22, nov. 2012 © Centro Universitário de Patos de Minas 2012 Ana Maria Lima de Souza Alves & Elisa A. Ferreira Guedes Duarte 1. INTRODUÇÃO O presente estudo desvela a importância do supervisor escolar no âmbito da instituição de ensino, local onde ocorre a educação formal. Nesse contexto, o supervisor torna‐se figura importante, porque media relações intrinsecamente ligadas ao ato de ensinar e aprender. Assim, supervisores e professoressão coautores no processo de ensino‐aprendizagem. 37 Antigamente, a supervisão era vista como inspeção; o professor sempre sendo fiscalizado em suas ações, controlado e, muitas vezes, impedido de crescer profissional e pessoalmente. Esse conceito vem sofrendo alterações ao longo do tempo. Nessa perspectiva, por meio de fundamentos teóricos, considera‐se o supervisor escolar uma das pessoas mais importantes para articular e fazer acontecer momentos de estudos e reflexões sobre a vivência pedagógica, sobre práticas inovadoras que conduzam os professores e a comunidade escolar para uma ação mais participativa. Isso mostra o importante papel do supervisor no processo ensino/aprendizagem, garantindo o sucesso da educação, segundo as exigências que a realidade lhe impõe. Nesse contexto, foram propostos para este estudo os seguintes objetivos: 1. Geral: conhecer e analisar a atuação do supervisor, conceituando e observando os limites da supervisão, levando se em consideração seus objetivos e sua missão; 2. Específicos: a) estudar o processo de supervisão escolar, no que abrange histórico, conceito, missão, objetivo, limites, formas de atuação e formação; b) investigar, por meio de estudo documental, a regulamentação do serviço de supervisão escolar e da atuação do supervisor na legislação educacional de Minas Gerais; c) pesquisar, em uma escola estadual de Minas Gerais localizada em Patos de Minas o exercício do serviço de supervisão escolar: orientação político‐pedagógica, formas de atuação, relação com os demais agentes educacionais e o processo de formação. Ser parceiro da escola e principalmente dos professores, significa ficar atento à maneira como acontece o processo de ensino‐aprendizagem, preocupando‐se com a forma de cooperar, corrigir e lidar com os erros. O fundamental nesse contexto é assumir uma postura profissional capaz de transformar os erros e as dificuldades em situações de aprendizagem, para que todos possam acertar juntos e alcançar os objetivos propostos. Nesse sentido, o acompanhamento do supervisor escolar junto aos professores e alunos deve ser contínuo e diagnosticador, pois é uma espécie de mapeamento que vai identificando as conquistas e as dificuldades dos alunos em seu dia a dia. O supervisor deve tornar‐se um “investigador” e um orientador, acompanhando os professores na realização das suas tarefas. Seu trabalho vem ao encontro da proposta de uma “Escola Ideal”, ou seja, trabalhar coletivamente, reformulando atividades e construindo novos meios que 38 levem professores e alunos a se “descobrirem e a descobrir” o seu potencial. Sendo responsável pelo desenvolvimento da escola, esse profissional deve buscar o resgate de uma prática pedagógica participativa, que dê ideia de conjunto, avançando de forma interativa, construindo uma aprendizagem significativa dentro da instituição escolar. Dessa forma, justificou‐se o presente trabalho pela possibilidade de contribuição, por meio de investigação e análise cuidadosa, com a reflexão sobre o exercício da supervisão escolar nas escolas estaduais mineiras. A relevância da pesquisa situou‐se também na possibilidade de consolidação da formação da autora como futura representante da função objeto do presente estudo. A pesquisa que resultou no presente trabalho foi realizada a partir de um estudo bibliográfico sobre o tema, visando verificar a importância da atuação do supervisor educacional, o processo histórico, conceitos, limites, formação e formas de atuação dentro da instituição escolar. Na pesquisa bibliográfica, foram abordados os seguintes teóricos: Medina (2003), Saviani (2003), Lima (2001), Przybylski (1982), Alonso (2003) Ferreira (2003). A pesquisa de campo foi realizada em uma escola pública de Patos de Minas, com os supervisores e professores das séries iniciais do ensino fundamental. A coleta de dados se deu por meio de um questionário, com questões estruturadas, em que são levantados dados sobre a atuação do supervisor educacional dentro da escola. Os dados foram analisados, promovendo uma melhor visualização dos resultados do trabalho desses profissionais e o resultado geral de sua atuação dentro do ambiente escolar. 2. REFERENCIAL TEÓRICO Não se pode falar de supervisão educacional sem retroceder no tempo e observar o processo de surgimento do pedagogo ao longo da história. Pretende esta seção buscar na bibliografia educacional brasileira as informações necessárias a conhecer e analisar a atuação do supervisor na instituição escolar. 2.1. Síntese histórica da supervisão escolar brasileira 39 O termo supervisão surgiu no período da Revolução Industrial, visando assegurar produção quantitativa e qualitativa em menor tempo. É fruto da necessidade de melhores técnicas para orientar os profissionais a exercerem suas funções na indústria e no comércio. Dessa forma, seu surgimento se deve à necessidade de exercer a vigilância e o controle dos profissionais no cenário de toda a produção, com funções específicas de planejar, comandar e controlar. Com a vinda dos jesuítas para o Brasil, em 1549, iniciam‐se as primeiras atividades educativas, surgindo assim a função da supervisão educacional, com uma educação centrada em suas ideologias, para atender aos próprios interesses. Entre 1570 e 1579, apareceram várias tentativas para organizar um sistema de ensino, porém foram grandes as dificuldades e nada se concretizou. Com a expulsão dos jesuítas e a extinção de seu sistema de ensino, o Brasil inaugura uma organização independente e autônoma. A Constituição de 1824 abordou uma instrução pública e gratuita, regulamentada com a lei de 15 de outubro de 1827, que determinava que os estudos se realizassem com o método de ensino mútuo, ou seja, o professor exercia a função de docência e supervisão. As atividades exercidas na época não exigiam conhecimentos técnicos e, por isso, a determinação de que se criassem escolas em todas as cidades não se cumpriu. ato adicional de 1834 transfere às assembleias das províncias o encargo de regular a instrução primária e secundária, e a figura do inspetor escolar emerge devido à preocupação com o funcionamento precário das escolas. A supervisão era vista como inspeção ou fiscalização das tarefas do professor, sem considerar o esforço deste para garantir uma boa qualidade de ensino e aprendizagem. A partir de 1841, o supervisor tinha como objetivo principal melhorar o desempenho da escola, sem se preocupar com sua formação e muito menos com suas múltiplas relações dentro da escola. Essa ação se manteve por mais de trinta anos. Durante o século XVIII e princípio do século XIX, a supervisão manteve‐se dentro de uma linha de inspecionar, reprimir, checar e monitorar (Niles e Lovell 1975). Somente em 1841, em Cincinnatti, surgiu a idéia de supervisão relacionada ao processo de ensino, sendo que até 1875 estava voltada primordialmente para a verificação das atividades docentes (ALONSO et al., 1975, apud LIMA, 2001, p. 69). 40 A supervisão manteve, por várias décadas, o controle, a vigilância e a padronização do conhecimento, visando à eficiência do ensino, em que o supervisor atuava como um profissional que transmitia um conhecimento específico, que determinava as diretrizes do trabalho por meio de ações e julgamentos, como pode constatar o relato de Lima (2001, p. 70): No final do século XIX e início do século XX, a supervisão passou a preocupar‐ se com o estabelecimento de padrões de comportamento bem definidos e de critérios de aferição do rendimento escolar, visando à eficiência do ensino. No começodo século XX, pode‐se verificar a utilização dos conhecimentos científicos na melhoria de ensino e na medida dos resultados de aprendizagem dos alunos. Entre os anos de 1925 a 1930, observa‐se uma grande tendência democrática nas organizações educacionais brasileiras, aplicada ao papel do supervisor, uma vez que sua ação tem de ser alterada para se adaptar às novas demandas sociais, em busca de um caráter de liderança cooperativa e da valorização dos processos de grupo na tomada de decisões. Sobre isso, Lima (2001, p. 70) destaca: A partir de 1925, nota‐se uma maior importância das ciências comportamentais na supervisão. Surge então a introdução de princípios democráticos nas organizações educacionais, aplicando‐os ao papel do supervisor como líder democrático. Em 1931, a supervisão surge de uma forma bem diferente da que vinha sendo realizada até aquele momento, pois deixa de ser predominantemente fiscalizadora e passa a assumir o caráter de Supervisão Educacional, por intermédio da Reforma de Francisco Campos, Decreto 19.890 de 18/04/1931, que dispõe sobre o ensino secundário no Brasil, em que o supervisor acompanhava tanto o aspecto organizacional, como o pedagógico. Em 1932, ano de grandes movimentos revolucionários, surge o “Manifesto dos pioneiros da educação nova,” que pontuava a preocupação com o papel político e social da escola e iria formular um plano de conjunto para a reconstrução educacional do país, segundo a visão dos novos profissionais da educação. Alguns anos depois, em 1942, a ação da supervisão educacional acrescenta o caráter de orientação pedagógica a sua prática, promulgada pelo Decreto‐lei 4.244 de 9/4/1942, por intermédio de seu artigo: 41 Art. 75. O Ministério da Educação exercerá inspeção sobre os estabelecimentos de ensino secundário equiparados e reconhecidos. § 1º A inspeção far‐se‐á não somente sob o ponto de vista administrativo, mas ainda com o caráter de orientação pedagógica. § 2º A inspeção limitar‐se‐á ao mínimo imprescindível a assegurar a ordem e a eficiência escolares (LIMA, 2001, p.70). Entre os anos 50 e 60, no cenário educacional do país, em virtude de um acordo entre Brasil e Estados Unidos, o supervisor escolar tem estritamente a função de controlar e inspecionar, com o objetivo de estabelecer uma política desenvolvimentista e promover uma transformação social. Firma‐se um acordo entre esses países para a implantação do Programa Americano Brasileiro de Assistência ao Ensino Elementar (PABEE), que tinha por objetivos “treinar” os educadores brasileiros, a fim de garantir a execução de uma proposta pedagógica voltada para os moldes norte‐americanos. Alguns estados brasileiros, como Minas Gerais, Goiás e São Paulo, foram os principais executores do Programa, porém essa tendência influenciou a educação e a função do Supervisor Escolar em todo o país. Inicialmente, os técnicos do PABEE acreditavam que bastava investir na formação dos professores, com os cursos normais, para garantir as práticas impostas pelo programa. Posteriormente, perceberam que o preparo do supervisor escolar teria maior eficácia na execução dessas ideias, pois esses atuariam diretamente na organização escolar, interferindo no que ensinar, como ensinar e avaliar, educando professores e alunos com fundamentos na ordem, na disciplina e na hierarquia, cimentada na visão do programa educacional americano, como destaca Lima (2001, p. 71): [...] formou a primeira leva de supervisores escolares para atuar no ensino elementar (primário) brasileiro, com vistas à modernização do ensino e ao preparo do professor leigo. A formação de tais supervisores se deu segundo o modelo de educação americano que enfatizava os meios (métodos e técnicas) de ensino. Saviani (2002) considera que a função supervisiva ganha força e, aos poucos, atinge o status de profissão, por meio do Parecer do Conselho Federal de Educação nº 252/69. Segundo esse autor, o Parecer, respaldado na Lei nº 5540/68, da Reforma Universitária, reformulou o Curso de Pedagogia, propondo a especialização do educador em uma função. Dessa forma, cria as habilitações de inspeção, 42 administração, supervisão e orientação. Nas palavras de Saviani (2002, p. 31), compreende‐se melhor esse contexto. A nova estrutura do curso de Pedagogia decorrente do Parecer nº 252/69 abria, pois, claramente a perspectiva de profissionalização da supervisão educacional na esteira da orientação educacional, cuja profissão já havia sido regulamentada por meio da lei 5564, de 21 de dezembro de 1968 [...], com efeito, estavam preenchidos dois requisitos básicos para se constituir uma atividade com o status de profissão: A necessidade social, isto é, um mercado de trabalho permanente [...] e a especificação das características da profissão ordenadas em torno de um mecanismo, também permanente, de preparo dos novos profissionais, o que se traduziu no curso de Pedagogia reaparelhado para formar, entre os vários especialistas, o supervisor educacional. Nesse sentido, o curso de Pedagogia deveria formar o profissional da educação capaz de exercer as diferentes atribuições requeridas pelos sistemas de ensino, as chamadas habilitações técnicas: administração, orientação, supervisão etc., todas exercidas pelo mesmo profissional: o educador. Ressalta‐se que, naquela década, vivia‐se no Brasil uma época de ditadura. Nesse contexto, os profissionais que atuavam nas funções de administração, orientação e supervisão tinham como principal objetivo fiscalizar o trabalho docente. A década de 80 foi marcada pelo movimento “crítico da educação”, pressionado pelas profundas reflexões que se deslanchavam em torno da situação educacional brasileira. O supervisor foi alvo de duras críticas. Nessa perspectiva, era o profissional de quem se esperavam soluções e definições para resolver os problemas e alcançar os objetivos educacionais, como afirma Przybylski (1982, p. 49): [...] a supervisão educacional, hoje, é vista como um processo educativo pelo qual se orienta qualquer campo profissional. É assistência na (re)formulação de objetivos, conteúdos, atividades e no esforço constante para que a escola qualifique seus profissionais para o desenvolvimento do processo educativo: na aplicação dos métodos didáticos e na utilização de todos os recursos que os auxiliem. É apoio para a solução das dificuldades de qualquer natureza. A década de 1990 assiste a uma nova prática de supervisão e, nesse novo contexto, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional (lei n° 9394, de 20/12/1996) vem impactar profundamente o processo de educação brasileira. A figura do supervisor desponta como elemento de intermediação associada à ideia de mudança, preocupada em produzir novos conhecimentos e não apenas em transmiti‐ los, criando ambientes que favoreçam a construção de aprendizagens significativas. As dimensões política, técnica e ética que perfazem a função do supervisor são necessariamente permeadas por princípios que norteiam o seu fazer pedagógico. 43 Nesse sentido, a LDB/96 veio assegurar maior flexibilidade para os profissionais da supervisão, possibilitando novas práticas supervisivas, como assessoramento, apoio, colaboração, ajuda técnica e cooperação, fazendo‐se perceber como agente de mudanças e transformações dentro da comunidade escolar. 2.2. Conceitos de supervisão escolar Uma análise conceitual do supervisor escolar tem o papel de apontar sugestões reflexivas sobre o conceito, que parece tão claro e delimitado, porém pode ter facetas complexas e, frequentemente, contraditórias. No
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