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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS SUPERVISÃO ESCOLAR Autor: Antonio José Müller 371.2 M997t Müller, Antonio José. Supervisão escolar / Antonio José Müller. Indaial Uniasselvi, 2011. 148 p. il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-437-9 1. Supervisão escolar; 2. Administração escolar I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra Bárbara Götzinger Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Célia Regina Appio Revisão Gramatical: Marli Helena Faust Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2011 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Antonio José Müller Graduado em Educação Física pela Universidade Regional de Blumenau-SC (FURB), especialização em Treinamento Desportivo e Voleibol pela Universidade Nova Iguaçu do Rio de Janeiro e Doutor em Educação pela Universidade do Texas-El Paso (EUA). Atua como professor universitário desde 2001 com experiência acadêmica em Universidades públicas e particulares no Brasil, EUA e na Arábia Saudita, na graduação, especialização e mestrado nas áreas da Educação Física e Pedagogia. Tem um livro publicado sobre Voleibol e diversos artigos científicos publicados em revistas especializadas no exterior. Apresentou seus estudos em Conferências Internacionais nos EUA, México, Canadá, Arábia Saudita, Austrália e no Catar. Na Uniasselvi trabalha no Núcleo de Ensino a Distância, e é coordenador do curso de Educação Física (Indaial), além de professor na graduação e na pós-graduação. Sumário APRESENTAÇÃO ........................................................................... 7 CAPÍTULO 1 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e Funções .................... 9 CAPÍTULO 2 O Planejamento Escolar e os Desafios da Supervisão para uma Escola Atual e Ideal .............................. 35 CAPÍTULO 3 A Gestão Escolar e as Possibilidades para uma Escola Democrática .................................................. 77 CAPÍTULO 4 Setores de Atuação do Supervisor Educacional ................ 109 CAPÍTULO 5 Meios e Técnicas de Supervisão Escolar ............................. 127 APRESENTAÇÃO Prezado(a) Pós-Graduando(a), A disciplina que você está iniciando se propõe a discutir a importância, as funções e a realidade da supervisão escolar no Brasil. Veremos neste caderno de estudos as definições das atividades do supervisor escolar de acordo com a própria história educacional e como componente essencial para a melhoria da qualidade da educação no país. A supervisão escolar é de fundamental importância para o bom andamento da escola, pois auxilia as práticas docentes e discentes, além de gerenciar conflitos e planejar as melhorias de que a escola necessita. Essa importância é impulsionada pelos processos de formação que por sua vez ampliam as possibilidades de atuação profissional e de crescimento pessoal. Não pode ficar limitada pela falta de boa vontade do supervisor em buscar aprimorar seus conhecimentos, pela dificuldade de uma gestão realmente democrática e principalmente pela dificuldade de transpor o discurso teórico para a função prática e transformadora. Este material tem o propósito de discutir e orientar as funções, dificuldades e amplificar as possibilidades do supervisor para uma educação possível na escola atual e para uma educação eficiente em termos sociais e profissionais. O foco deste material é a supervisão de ensino, o papel do supervisor escolar em suas atividades e obrigações em âmbito escolar. Nesse sentido, o primeiro capítulo compreende o processo histórico da Supervisão Escolar no Brasil, permitindo uma reflexão sobre a sua situação anterior e sua influência na situação atual. Pretende também conhecer e debater os importantes conceitos, características e funções do Supervisor Escolar no Brasil atual, além de cobrir as dificuldades enfrentadas pelos profissionais desta função. No capítulo 2, abordamos os desafios e oferecemos sugestões para o planejamento na escola. Esse planejamento tem a finalidade de definir prioridades e buscar caminhos, sempre com a intenção de aperfeiçoar o ensino e fazer da educação algo realmente relevante na vida das pessoas, especialmente daqueles professores e alunos que passam por dificuldades na relação ensino- aprendizagem. No terceiro capítulo, abordamos a Gestão Escolar e as possibilidades para uma escola democrática com a participação essencial da comunidade escolar preocupada e ativa no processo de desenvolvimento do ensino. Na sequência, o capítulo 4 expõe os setores de atuação do supervisor na escola. O propósito é de compreender a teoria funcional e explorar a atuação profissional nos setores da escola em que o supervisor deve fazer a diferença, na prática. O último capítulo explora ainda mais os aspectos práticos da função, uma vez que determina as possibilidades e técnicas de atuação do supervisor educacional em relação às ações de trabalho na busca de uma educação de qualidade. CAPÍTULO 1 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e Funções A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Compreender o processo histórico da Supervisão Escolar no Brasil, permitindo uma reflexão sobre a sua situação anterior e sua influência na situação atual. 9 Conhecer e debater os importantes conceitos, características e funções do Supervisor Escolar no Brasil atual. 10 Supervisão escolar 11 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 Contextualização Você deve lembrar-se do Super-Homem, não lembra? O Superman tem várias qualidades e poderes. Um super-herói invulnerável, velocíssimo e de força infinita. Uma das qualidades do Superman é a de possuir uma visão privilegiada, uma “super visão”. Através da “super visão” ele combina variações de visão telescópica, microscópica, de calor e de transparência para executar seus atos de heroísmo e ajudar as pessoas em perigo. Afinal, Supervisão significa uma “super visão”, uma visão elevada de algo, uma visão amplificada, melhorada e privilegiada da situação. A tarefa de supervisionar tem a ver com as características do Superman, não pelo aspecto de ser uma pessoa resistente e imbatível, mas sim uma pessoa que faz uso da visão para suas funções profissionais no auxílio às pessoas “em perigo”, sejam elas os professores, alunos e/ou a comunidade onde a escola está inserida. Nesse sentido, a supervisão escolar é humana e, por esse fato, passível às fragilidades humanas. Evitar essas fragilidades é a intenção de uma boa supervisão que, por sua vez, demanda uma boa preparação e conhecimento elevado do funcionamento do sistema educacional, do relacionamento humano, da gestão democrática e da capacidade de pensar diferente para fazer a diferença. O bom supervisor deve ter a capacidade de “visão” para fazer tarefas exigidas na sua competência, para transformar e ousar nas mudanças que a escola exige, por vezes. Não é necessário ser o Superman para se ter uma visão privilegiada da situação, mas a boa preparação, o conhecimento e a liderança podem amplificar essa qualidade, transformando o humano comum em um “Super-Visor”,capaz de fazer a diferença entre a escola comum e a escola de qualidade. Veremos, neste primeiro capítulo, uma breve explanação do surgimento da supervisão, sua transferência para o ambiente escolar e do contexto histórico da supervisão escolar no Brasil. A história, nesse caso, torna-se imprescindível, não apenas para conhecer os fatos, mas sim para significar ideias e conceitos de antigamente. Como escreve o sociólogo francês Henri-Pierre Jeudi (1995, p. 53), “A história é o fruto da própria produção dos acontecimentos e assim se constrói a antecipação da continuidade”. Ou seja, a história se torna muito mais interessante e importante quando articulada com os erros e acertos verdadeiros que aconteceram na tentativa de explicar a situação atual dos fatos e, consequentemente, da supervisão. Você verá, também, as definições dos conceitos relevantes que devemos entender para então percebermos as funções e a importância do supervisor na escola atual. Mais do que isso, discutiremos as dificuldades da profissão e especialmente as qualidades que fazem do supervisor o grande responsável pela boa educação, tão necessária em qualquer sociedade evoluída. 12 Supervisão escolar A Supervisão Escolar no Brasil: uma Contextualização Histórica O conceito de supervisão surgiu com o fenômeno da Revolução Industrial iniciada em meados do Século XVIII, na Inglaterra, e expandida para outras partes do mundo no início do Século XIX e tem projeções até os dias de hoje em todo o mundo. Nessa fase de desenvolvimento social, econômico e tecnológico, as indústrias transformaram a produção de maneira artesanal para a técnica, com a utilização de máquinas em maior escala. Os trabalhadores, que anteriormente trabalhavam “para si” na agricultura familiar ou em pequenas comunidades, em manufaturas, voltaram seus esforços para a busca de salário, trabalhando para outras pessoas que buscavam transformar a matéria-prima em produtos comerciais, atingindo assim os lucros do capitalismo. Dentro dessa realidade, foi preciso criar uma função para controlar as atividades produtivas exigidas pelos patrões. Vigiar, controlar e punir eram as atribuições que uma determinada pessoa exercia sobre outros durante o processo produtivo. Essa função era, portanto, a de supervisionar o trabalho dos funcionários em suas atividades diárias nas fábricas na busca de um objetivo comum e orientado. Com o surgimento das complexas organizações sociais e comerciais, vieram as definições de poder e controle sobre a massificação do trabalho. Foram criados cargos de controle e de gerenciamento das atividades. Posteriormente, esses cargos também foram adotados fora das fábricas em outras atividades humanas organizadas, como, por exemplo, os exércitos, associações sociais e esportivas e escolas. O controle das atividades escolares realizado por um responsável surgiu na metade do século XIX, nos Estados Unidos, ainda sem a preocupação de melhorar a qualidade da gestão educacional ou a preparação de professores, tendo unicamente a intenção de fiscalizar o trabalho (LIMA apud RANGEL, 2001). A supervisão escolar, no Brasil, surgiu com a Reforma Francisco Campos (Decreto-Lei 18.890 de 1931). A intenção da lei era a de implantar novas possibilidades pedagógicas e desconsiderar os aspectos de fiscalização. Com a lei de caráter da preparação científica, surgem os chamados especialistas em educação, entre eles o Supervisor. O trabalho de supervisão continuou, a partir da criação da O conceito de supervisão surgiu com o fenômeno da Revolução Industrial iniciada em meados do Século XVIII, na Inglaterra, e expandida para outras partes do mundo no início do Século XIX. Função para controlar as atividades produtivas exigidas pelos patrões. Vigiar, controlar e punir eram as atribuições que uma determinada pessoa exercia sobre outros durante o processo produtivo. A supervisão escolar, no Brasil, surgiu com a Reforma Francisco Campos (Decreto- Lei 18.890 de 1931). 13 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES), por meio do Decreto-Lei 34.638 de 14/11/1953, transformando-se em uma aliança entre Brasil e EUA, cuja finalidade era a melhoria da qualidade do ensino, utilizando-se para tanto o treinamento de recursos humanos. Saviani (1993) comenta que este programa, chamado de Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar (PABAEE), tinha por objetivo ‘treinar’ os educadores brasileiros a fim de que estes garantissem a execução de uma proposta pedagógica voltada para a educação tecnicista, dentro dos moldes norte-americanos. O PABAEE teve a sua origem voltada para a assistência e a formação de professores leigos. “Tais alterações, nos seus fundamentos, geraram mudanças profundas na maneira de encarar a tarefa educativa e na compreensão da escola como local especializado para conduzir o processo educativo” (FERREIRA, 2000, p. 167). Na década de 1960, com a Lei 4.024/61, atribui-se atenção maior aos técnicos em educação. A partir dessa lei, foram criados setores especializados nas escolas. Seguindo esse conceito, Maldonado (2003, p.7) comenta que “Na proposta pedagógica do PABAEE, o mais importante não era o conteúdo, mas o meio, ou seja, o como ensinar, a partir do interesse da criança. As orientações do PABAEE predominaram até 1964”. Maldonado (2003, p. 7) completa: “Após o golpe militar de 64, o governo realizou reformas de ensino, com o objetivo de ajustar a educação à nova situação. E é nesse contexto que o Conselho Nacional de Educação aprova o Parecer 252, incorporado à Resolução nº. 2 de 12 de maio de 1969, que reformulou os cursos de Pedagogia, instituindo as habilitações em administração, inspeção, supervisão e orientação, e prevendo a existência da Supervisão Pedagógica para, além das quatro primeiras séries, as quatro últimas, ou seja, o, então, ginásio”. Pela primeira vez na história educacional do Brasil se buscava a formação profissional para cargos da administração escolar. Santos (2006, p. 22) discute que “Esta lei inseriu a formação de profissionais destinados a funções não docentes, isto é, profissionais que não atuavam em sala de aula, mas sim em cargos relativos à administração da escola.” Em 1971, a Lei 5692 trouxe a necessidade de preparar pessoal específico para exercer a função de supervisor. Para tanto surgiram cursos superiores que formaram os primeiros Supervisores Educacionais. Nos anos 80, contudo, as funções de controle e fiscalização do supervisor não combinavam com as novas tendências libertárias dos grupos ativos que exigiam uma nova educação. O país estava cansado de tanto controle e fiscalização Em 1971, a Lei 5692 trouxe a necessidade de preparar pessoal específico para exercer a função de supervisor. 14 Supervisão escolar promovidos pela repressão e pela herança de anos de controle do sistema político, social, econômico e educacional através de militares. De acordo com Maldonado (2003), a exagerada valorização da qualidade através do uso da técnica como garantia da eficiência foi contestada pelos movimentos de transformação que emergiram nos anos 80, como reação à repressão generalizada, vivida durante quase vinte anos, por uma sociedade que, então, sonhava com a liberdade. A década de 80 foi marcada pelo ‘movimento crítico’ da Educação que apontou os ‘especialistas do ensino’, mais especificamente os supervisores, como responsáveis pelo insucesso escolar (RANGEL, 2000, p.72). Tanto que Rangel (2000, p. 72) argumenta que “na complexão da análise do capitalismo e seus desdobramentos, a especialidade isola, desarticula, setoriza e sectariza os serviços e as atividades escolares, desconectando-as entre si e com a problemáticasocial”. As tendências de supervisão como contexto de controle baseada em Frederick Taylor e as tendências educativas de John Dewey, utilizadas até então, estavam dando passagem à educação transformadora, ou, quem sabe, à crítica da própria educação nos moldes em que estava sendo realizada. A função de Supervisor foi extinta, deixando a educação ainda mais desarticulada e sem os princípios pedagógicos (técnicas de ensino e currículo) e profissionais (formação continuada dos professores) que o supervisor anteriormente determinava. No final dos anos 1980, início dos anos 1990, nascem alguns novos conceitos e tendências pedagógicas. A palavra de ordem era transformação e essa ideologia se dispersa nos discursos dos responsáveis pela escola. A mudança de alguns paradigmas é necessária para se pensar em um novo modo de fazer educação. Novas filosofias educacionais foram adaptadas pelas instituições de ensino baseadas na formação para a cidadania. Escolas buscam referências em Freinet, Piaget, Vigotsky, Giroux, Foucalt, Gardner, entre outros, e especialmente em Paulo Freire para contextualizar suas práticas educativas em uma escola que está em ebulição. “A escola, nesse momento, é vista como lugar dinâmico, ativo, no qual os processos de ensinar e aprender são processos dialéticos e que dependem de todos os membros da comunidade escolar, instituindo, assim, que o professor, os alunos e, consequentemente, a supervisão escolar tem papel relevante para essa mudança” (MEDINA, 2002). Na década de 90 ressurge o debate sobre o valor da Supervisão, apontada como um dos instrumentos necessários aos processos de mudança nas escolas, Na década de 90 ressurge o debate sobre o valor da Supervisão, apontada como um dos instrumentos necessários aos processos de mudança nas escolas. A década de 80 foi marcada pelo ‘movimento crítico’ da Educação que apontou os ‘especialistas do ensino’, mais especificamente os supervisores, como responsáveis pelo insucesso escolar. 15 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 que, por sua vez, repetiam as mudanças sociais e políticas do país. Contudo, a educação como aparelho de um sistema político ainda enxerga, na figura do supervisor, um “mero intermediário na implantação de novas propostas curriculares amplamente divulgadas pelos órgãos oficiais” (RANGEL, 2000, p.47). Essa articulação era a principal realização do supervisor e somente nos anos 90, essencialmente após a LDB, a importância do cargo de supervisor foi colocada novamente em evidência e se começava a dissimular a ideia da gestão democrática nas escolas. De acordo com Maldonado (2003, p. 13), “O incentivo à participação dos profissionais na elaboração do projeto de ensino muda a configuração das relações de trabalho na escola baseada, até então, na concentração do poder e na centralização das decisões. A descentralização, dentro das escolas públicas, interfere diretamente na coordenação das ações e no planejamento”. Com isso, a combinação de tarefas estava finalmente determinada com a gestão democrática e a interação dos trabalhos com objetivos concretos e dirigidos. O conceito de gestão democrática trouxe a possibilidade da participação dos profissionais da educação pela condução das tarefas em busca de uma educação de qualidade. Mas, mesmo nos dias atuais, o desafio está em “como” e “por quê” trabalhar este ou aquele assunto ou programa, respeitando o currículo engessado pelo sistema nacional. Ou, ainda, como preparar as próximas gerações para serem cidadãos atuantes e críticos, uma vez que a sociedade ainda exige uma educação preparatória ao trabalho ou apenas a preparação para entrarem nas universidades, leia-se preparação ao vestibular. A história mostra isso e na própria história se buscam soluções para problemas atuais. Afinal, de acordo com Maldonado (2003, p. 16), A história, portanto, mostra incoerências e indefinições que interferem na ação supervisora dentro da escola, sobretudo na relação da supervisão com o professor. Da mesma forma que a supervisão, a atual organização do trabalho escolar também mostra características semelhantes àquelas que caracterizaram a escola dos anos 80. Apesar da existência dos Projetos Políticos Pedagógicos, os modelos organizacionais administrativos e pedagógicos atuais ainda têm se apoiado no material didático e em estratégias, que chegam às mãos dos professores, prontos para serem executados, desconsiderando-se as diferenças regionais, locais e específicas de cada escola. Uma equipe pensa e outra executa mantendo-se, desta forma, a fragmentação do processo educacional. Questões intrigantes e de difícil resposta. Porém as respostas para essas questões estão na cooperação de trabalhos entre os responsáveis pela educação O conceito de gestão democrática trouxe a possibilidade da participação dos profissionais da educação pela condução das tarefas em busca de uma educação de qualidade. 16 Supervisão escolar na escola. Essa articulação pretende proporcionar a educação de forma construtiva e ao mesmo tempo transformadora, que se considera a ideal. Para se chegar a este nível, a educação necessitava, e ainda necessita, de articulação entre os professores e alunos, entre os professores e a direção, ou entre a comunidade e a escola. FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Supervisão educacional: uma reflexão crítica. Petrópolis: Vozes, 2007. Atividade de Estudos: Faça uma pequena comparação entre as tendências de supervisão como contexto de controle baseada em Frederick Taylor e as tendências educativas de John Dewey, Escreva aqui suas anotações: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 17 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ O que é Supervisão Escolar? Conceitos e Definições A palavra supervisão é derivada do Latim supervideo, que significa visão superior, uma visão de cima para baixo (MICHAELIS, 2011). Visão de controle e de vistoria. Em termos de supervisão de pessoas, podemos concordar com Harries (1987), de que a supervisão é o processo pelo qual um trabalhador recebe a função da instituição de trabalhar com outro funcionário ou funcionários com o propósito de atingir certos objetivos organizacionais, profissionais ou pessoais que, juntos, promovem os melhores resultados para osusuários do serviço. Na escola essa definição é limitada e gera outros argumentos. No caso da supervisão voltada à escola, os conceitos de vistoria ou fiscalização, que apesar de historicamente apresentarem essas características, não são mais cabíveis na supervisão moderna. Nos conceitos atuais o supervisor deve, sim, orientar, coordenar e ajudar a equipe que comanda (ANDRADE, 1976). Podemos dizer que o supervisor faz uso da “visão superior” como um modo avaliativo, perceptivo ou de acompanhamento. Contudo, essa observação deve ter a condição de tirocínio e que gere outra ação criadora ou modificadora de algo que deve ser revisto ou desenvolvido. Tirocínio: Aprendizado. Experiência, prática adquirida no exercício de uma atividade, ou necessária ao exercício de uma profissão. Capacidade de discernimento. Como se percebe, supervisão tem definições variadas e consequentemente as interpretações acerca do desenvolvimento de uma ação criadora e modificadora A palavra supervisão é derivada do Latim supervideo, que significa visão superior, uma visão de cima para baixo. 18 Supervisão escolar também se traduzem em algo variável e de difícil mensuração, o que pode causar confusões e limitações. O maior desafio, contudo, está no fato de os envolvidos no processo educacional, inclusive o próprio supervisor, não saberem exatamente as suas funções na escola. O propósito deste trabalho é contribuir na busca dessas respostas, pois para se fazer uma atividade bem feita é preciso estar ciente das funções de cada componente no organograma da escola, desde o operacional até a diretoria. É preciso definir a função exata antes, durante e depois da mesma. Esses critérios também são emprestados da hierarquia empresarial. Basicamente, o supervisor tem as funções de: • Acompanhar o processo de ensino e aprendizagem. • Orientar professores. • Diagnosticar a condição social e educacional dos alunos. • Dinamizar a construção e acompanhamento do projeto pedagógico da escola. • Coordenar projetos educativos na escola. • Encaminhar alunos com dificuldades a fim de obter laudos e relatórios que auxiliem na identificação das causas da dificuldade de aprendizagem. • Elaborar os planos de intervenção. • Elaborar a construção do planejamento estratégico. • Aproximar a família da escola. Se os conceitos de supervisão têm diversos entendimentos, supervisão escolar gera ainda mais discussão. De acordo com Mosher e Purpel (1972, p. 3): A dificuldade de definição de supervisão em relação à educação também se origina, em grande parte, de resolver problemas teóricos sobre o ensino. Simplesmente, não temos conhecimento suficiente do processo de ensino. Nossas teorias de aprendizagem são inadequadas, os critérios para medir a eficácia do ensino são imprecisos, e existe um profundo desacordo sobre o conhecimento, isto é, qual currículo é mais valioso para ensinar. Quando conseguirmos maior compreensão do que e como ensinar, e quais os resultados especiais aos alunos, teremos então uma definição menos vaga sobre a supervisão na educação. Supervisão escolar ainda pode ser definida como um serviço prestado à instituição de ensino, mais precisamente aos professores, com o objetivo de melhorar a instrução, tendo o aluno como o beneficiário final. O supervisor é uma pessoa treinada para auxiliar outros funcionários na boa prestação de serviço, de acordo com um modelo conceitual. Ele ou ela deve ser um idealista na constante busca da compreensão do sentido da Educação e sua importância na vida moderna. Entre definições e definições, uma que se pode considerar como realista e bastante fundamentada é “Supervisão implica uma visão Supervisão escolar ainda pode ser definida como um serviço prestado à instituição de ensino, mais precisamente aos professores, com o objetivo de melhorar a instrução, tendo o aluno como o beneficiário final. 19 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 de qualidade, inteligente, responsável, livre, experiencial, acolhedora, empática, serena e envolvente de quem vê o que se passou antes, o que se passa durante e o que se passará depois, ou seja, de quem entra no processo para compreendê- lo por fora e por dentro, para atravessá-lo com o seu olhar e ver para além dele numa visão prospectiva baseada num pensamento estratégico.” (MINTZBERG, apud ALARCÃO, TAVARES, 2003, p. 45). A escola atual necessita de um supervisor que não só atenda as exigências do Sistema Nacional de Ensino, mas especialmente que preste suas habilidades no planejamento, no desenvolvimento e na avaliação escolar, além de promover o melhor desempenho docente. Essas habilidades podem ser amplificadas com a inclusão da importância da função de aplicação e organização de tarefas. O supervisor visualiza o problema, visualiza o atendimento, visualiza a formação docente, mas essencialmente pensa e age na busca interminável, incansável e até estressante de uma educação de alto nível. Na função supervisora, o bom profissional deve ser o apoio dos outros profissionais da educação no objetivo maior de construir e aprimorar o cotidiano do trabalho escolar. Por mais estressante que possa ser, a busca da qualidade deve constar como o parâmetro para o bom funcionamento da escola e o aprimoramento das atividades oferecidas, pois, de acordo com Spears, apud Przybylski (1991), “A boa supervisão tem a intenção de liberar as energias das pessoas buscando a criatividade na solução de problemas comuns e individuais”. Por outro lado, a supervisão apropriada tem produzido bons efeitos quando bem aplicada, refletindo no resultado positivo pelo qual a escola existe e se propõe, ou seja, o desenvolvimento social e acadêmico do aprendiz. Indicamos a leitura do artigo: A identidade do Supervisor Pedagógico: Um processo em Construção. Disponível em: <http://www.anpae.org.br/simposio2011/cdrom2011/trabalhosCom pletos01.htm>. Acesso em: 10 jun. 2011. Na função supervisora, o bom profissional deve ser o apoio dos outros profissionais da educação no objetivo maior de construir e aprimorar o cotidiano do trabalho escolar. 20 Supervisão escolar A Importância e Características do Supervisor Escolar A importância da supervisão se confunde e se completa na própria importância da educação. A boa educação deve ser algo que acontece pela elaboração e execução dos projetos, assim como a educação eficiente e eficaz acontece pela motivação e competência dos envolvidos. Educação abrange outros aspectos tão importantes quanto a própria didática ou a preparação dos professores. A Educação é algo difícil de mensurar, complicada de aplicar e extremamente difícil de estabilizar. Uma vez que se descobre a verdadeira Educação se percebem suas dificuldades, seus benefícios e seus infinitos caminhos. Apesar disso, é incontestável que as pessoas buscam o desenvolvimento humano com o desafio de aprender e assim serem conhecedores de si e do mundo que as cerca. A Pedagogia foi e é estudada há séculos. Grandes filósofos e educadores já expuseram suas definições sobre o assunto e atualmente fazemos uso dessas teorias numa combinação de ideias anteriores para uma prática dentro da realidade local (cultural e social) e que seja ao mesmo tempo útil, interessante e transformadora ao aluno. Como vemos, apesar de ideias geniais, práticas super interessantes, utilização da tecnologia e investimentos cada vez maiores, ainda não conseguimos construir uma educação de qualidade para todos e em todos os níveis. Mas o que significa qualidade na educação? Como se percebe qualidade? Qualidade é um conceito subjetivo e difícil de mensurar em educação. Existem hoje, no Brasil e fora, conceitos que medem, através de testes, o índice de conhecimento dos alunos. Testes nacionais, como o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), ou internacionais, comoo PISA (Programme for International Student Assessmen) ou Programa Internacional de Avaliação do Estudante, que mede a eficiência escolar em 65 países; esses testes avaliam e comparam estudantes entre si. Porém, a educação é muito maior do que isso e o conhecimento não é limitado à linguagem ou à lógica, que normalmente são medidos pelos testes citados. Precisamos, sim, ter parâmetros mais verdadeiros. Com o PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), lançado em 2007, tivemos algum avanço, sobretudo quando introduziu o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). O PDE compôs um conjunto de medidas e projetos fortemente ancorados na ideia de que devemos ter parâmetros, medir, contar, quantificar (GADOTTI, 2009). O conceito de qualidade da educação é “polissêmico”: do ponto de vista social, a educação é de qualidade “quando contribui para a equidade; do ponto de vista As características essenciais ao supervisor para exercer as suas funções e são: sensibilidade para se apercebe, capacidade para analisar, capacidade para estabelecer uma comunicação eficaz, competência em desenvolvimento curricular e responsabilidade social. 21 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 econômico, a qualidade refere-se à eficiência no uso dos recursos destinados à educação” (DOURADO, 2007, p.12). Com base nas definições anteriormente apresentadas, é possível entender algumas das características que deliberam as competências do supervisor e dele (a) são esperadas. Alarcão e Tavares (2003, apud MOSHER e PURPEL, 1972) apresentam as características essenciais ao supervisor para exercer as suas funções e são: • sensibilidade para se aperceber dos problemas e das suas causas; • capacidade para analisar, dissecar e contextualizar os problemas e hierarquizar as causas que lhes deram origem; • capacidade para estabelecer uma comunicação eficaz a fim de perceber as opiniões e os sentimentos dos professores e exprimir as suas próprias opiniões e sentimentos; • competência em desenvolvimento curricular e em teoria e prática de ensino; • Skill (habilidades) de relacionamento interpessoal; • responsabilidade social assente em noções bem claras sobre os fins da educação. Dentro dessa perspectiva explanatória da importância e características do supervisor em geral, as características acima podem ser utilizadas na função do supervisor escolar, pois não se distinguem, pelo contrário, confirmam as funções de uma boa supervisão. Vieira (1993, apud OLIVEIRA, 2008, p. 19) cita cinco funções fundamentais à atuação do bom supervisor: 1. Informar. O supervisor deve ser uma pessoa informada e ter sempre presente a importância de partilhar informação relevante e atualizada aos professores e alunos, enriquecendo o processo de ensino aprendizagem. 2. Questionar. O supervisor deve problematizar o saber e a experiência adquirida, através de interrogações que questionem a realidade observada, tentando encorajar o professor a uma postura de reflexão, como pessoa que questiona a sua prática profissional, procurando soluções alternativas. 3. Sugerir. Com base nas funções anteriores o supervisor pode partir para a sugestão de ideias, práticas e soluções, tendo sempre em consideração o poder de decisão do formando e visando a sua responsabilização por atividades, projetos, dinâmicas, avaliações, etc. 4. Encorajar. O supervisor deve investir num relacionamento interpessoal baseado em sugestões que motivem o professor a evoluir e a melhorar as suas práticas educativas, sendo fundamental a afetividade em todo este processo de crescimento não só profissional, mas também pessoal e social. 22 Supervisão escolar 5. Avaliar. Tendo em conta a importância da avaliação de caráter formativo e não apenas de classificação, avaliar a prática pedagógica do professor deve ser um fator de abertura e clarificação de um fator essencial e imprescindível ao processo de formação profissional. A importância do Supervisor não está na definição de conceitos ou teorias e sim na capacidade individual de bem aplicar as suas funções. A supervisão educacional gera interpretações variadas dos acontecimentos que devem trazer à tona a realidade escolar e os paradigmas da solução pertinente. Segundo Paulo Freire (1994, p. 161), “transformar ciência em conhecimento usado apresenta implicações epistemológicas porque permite meios mais ricos de pensar sobre o conhecimento”. Essa interpretação epistemológica deve gerar uma práxis construtiva em busca de uma escola eficiente. A educação moderna propõe, com sabedoria, que a qualidade educacional passe pela associação entre a gestão democrática e a avaliação, com a participação da sociedade. Mais ainda, a reinvenção da educação passa obrigatoriamente pela organização do trabalho pedagógico, a organização das atividades, da prática educativa, da avaliação constante e justa, além da motivação dos envolvidos no árduo trabalho exigido para quem acredita na educação. Atividade de Estudos: A partir do que você estudou sobre as cinco funções fundamentais do supervisor escolar, faça uma análise destas funções, colocando-as em ordem de importância: 1) Informar _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 2) Encorajar _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ A importância do Supervisor não está na definição de conceitos ou teorias e sim na capacidade individual de bem aplicar as suas funções. A supervisão educacional gera interpretações variadas dos acontecimentos que devem trazer à tona a realidade escolar e os paradigmas da solução pertinente. 23 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 3) Questionar _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 4) Sugerir _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 5) Avaliar _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Funções do Supervisor Escolar Seguindo com o princípio proposto neste estudo de buscar melhor definição para então melhor compreender as funções da supervisão escolar, é importante revermos o que diz a legislação atual e direta sobre a formação e a função do supervisor. Pretendo também exemplificar as funções da supervisão fazendo uso de autores que resumem as características fundamentais desses tipos que se tornam úteis neste estudo e que veremos abaixo. O supervisor escolar tem todo o seu trabalho baseado na organização, seja ela para resolver problemas, para o bom andamento das atividades e serviços pedagógicos, ou para a construção de novas possibilidades. Por sua vez, a organização está apoiada nos conceitos de planejamento que deve empower às pessoas e que os envolvidos tenham influência nas decisões, importância no sistema e que o objetivo se transforme em algo geral e não pessoal ou limitado. Empowe: aumentar a importância, dar maior poder. 24 Supervisão escolar Supervisores executam uma grande variedade de tarefas, que podem ou nãoincluir funções administrativas. O supervisor deve ser cumpridor das funções de coordenador, consultor, líder do grupo e avaliador dentro dos domínios do desenvolvimento instrucional, curricular e pessoal. O supervisor deve possuir características pessoais que irão permitir-lhe trabalhar de forma harmoniosa com as pessoas e conhecimentos e habilidades suficientes para executar todas as funções de forma eficaz. Liderança e habilidades de comunicação interpessoal parecem ser especialmente importantes para a supervisão de sucesso. Os supervisores devem possuir uma mistura sensata de técnicas gerenciais e habilidades de relações humanas. Oliveira (2008) quantifica e qualifica muito bem as funções do supervisor levando e consideração toda a pluralidade da supervisão em face de questões como: (1) relação entre teoria e prática; (2) formação e investigação; (3) noção de conhecimento (como saber construído e transmissível ou construção pessoal de saberes); (4) papéis do supervisor e do professor; (5) noções de educação e de formação de professores e (6) assunção da escola como centro de formação. É óbvio que os vários cenários apresentados não se excluem mutuamente; pelo contrário, interpenetram-se. Cada um lança olhares diferentes, histórica e culturalmente contextualizados, sobre o mesmo fenômeno: a supervisão como processo intrapessoal e interpessoal de formação profissional que visa a melhoria da educação nas escolas. (ALARCÃO; TAVARES, 2003, p. 41). A legislação vigente, apesar de limitadora, procura colocar o cargo de supervisor como algo imprescindível para o Sistema Nacional de Educação e define a função profissional e suas atribuições. A legislação atual, que rege a supervisão escolar, LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação No 9394 de Dezembro de 1996) e PLC No 132 de 2005 (Projeto de Lei da Câmara), que foi derivado da Lei 132-1978, descrevem os processos de formação e atividades da supervisão escolar. A LDB em seu Artigo 64 determina na íntegra que: A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. Liderança e habilidades de comunicação interpessoal parecem ser especialmente importantes para a supervisão de sucesso. Os supervisores devem possuir uma mistura sensata de técnicas gerenciais e habilidades de relações humanas. A LDB em seu Artigo 64 determina na íntegra que: A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. 25 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 Como se pode perceber, a legislação descreve a formação do supervisor para que possa atuar na função. Determina, portanto, como pré-requisitos, que ele tenha graduação em pedagogia, ou que, após alguma graduação, o profissional tenha uma pós-graduação no mínimo em nível especialização (lato-sensu) na área específica. Por sua vez, a LDB não determina as atividades e obrigatoriedades dos cargos administrativos da escola, o que causou, e ainda causa, alguma dificuldade nas especificidades de cada profissional. Não raro se percebe o diretor exercendo atividades que seriam de competência do supervisor ou o supervisor executando atribuições que seriam específicas do professor. Para dissipar essas dúvidas, um Projeto de Lei foi elaborado em 2005 com base na Lei 132 de 1978 e na própria LDB. As atribuições do Supervisor Educacional estão descritas no PLC (Projeto de Lei da Câmara) 132/2005 e na lei 132/1978, apresentadas a seguir. ART. 4º DA PLC 132/2005 SÃO ATRIBUIÇÕES DO SUPERVISOR EDUCACIONAL: I – coordenar o processo de construção coletiva e execução da Proposta Pedagógica, dos Planos de Estudo e dos Regimentos Escolares; II – investigar, diagnosticar, planejar, implementar e avaliar o currículo em integração com outros profissionais da Educação e integrantes da Comunidade; III – supervisionar o cumprimento dos dias letivos e horas/aula estabelecidos legalmente; IV – velar o cumprimento do plano de trabalho dos docentes nos estabelecimentos de ensino; V – assegurar processo de avaliação da aprendizagem escolar e a recuperação dos alunos com menor rendimento, em colaboração com todos os segmentos da Comunidade Escolar, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade de ensino; VI – promover atividades de estudo e pesquisa na área educacional, estimulando o espírito de investigação e a criatividade dos profissionais da educação; 26 Supervisão escolar VII – emitir parecer concernente à Supervisão Educacional; VIII – acompanhar estágios no campo de Supervisão Educacional; IX – planejar e coordenar atividades de atualização no campo educacional; X – propiciar condições para a formação permanente dos educadores em serviço; XI – promover ações que objetivem a articulação dos educadores com as famílias e a comunidade, criando processos de integração com a escola; XII – assessorar os sistemas educacionais e instituições públicas e privadas nos aspectos concernentes à ação pedagógica. Por outro lado a Lei 132/1978 determina que os deveres do supervisor são: • Assessorar os sujeitos hierárquicos em assuntos da área da supervisão escolar; • Participar do planejamento global da escola: • Coordenar o planejamento do ensino e o planejamento do currículo; • Orientar a utilização de mecanismos e instrumentos tecnológicos em função do estágio de desenvolvimento do aluno, dos graus de ensino e das exigências do Sistema Estadual de Ensino no qual atua; • Avaliar o grau de produtividade atingido em nível de Escola e em nível de atividades pedagógicas; • Assessorar os outros serviços técnicos da escola, visando manter coesões na forma de se permitir os objetos propostos pelo sistema Escolar; • Manter-se constantemente atualizado com vistas a garantir padrõesde eficiência e de eficácia no desenvolvimento do processo, de melhoria curricular em funções das atividades que desempenha. Exemplos de Atribuições do Supervisor: • Traçar as diretrizes e metas prioritárias a serem ativadas no Processo de Ensino, considerando a realidade educacional de 27 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 sistema, face aos recursos disponíveis e de acordo com as metas que direcionam a ação educacional; • Participar do planejamento global da escola, identificando e aplicando os princípios de supervisão na Unidade Escolar, tendo em vista garantir o direcionamento do Sistema Escolar; • Coordenar o planejamento de ensino, buscando formas de assegurar a participação atuante e coesiva da ação docente na consecução dos objetivos propostos pela Escola; • Realizar e coordenar pesquisas, visando dar um cunho científico à ação educativa promovida pela Instituição; • Planejar as atividades do serviço de Coordenação Pedagógica, em função das necessidades a suprir e das possibilidades a explorar, tanto dos docentes e alunos, como da comunidade; • Propor sistemáticas do fazer pedagógico condizente com as condições do ambiente e em consonância com as diretrizes curriculares; • Coordenar e dinamizar mecanismos que visam à instrumentalização dos professores quanto ao seu fazer docente. Fonte: ASSERS. Atribuições do Supervisor Educacional. Disponível em: <http://www.assers.org.br/>. Acesso em: 10 maio 2011. Apesar de as tarefas estarem determinadas em lei ou projeto, a dificuldadede supervisão não é de caráter teórico e sim na prática diária. Os principais erros de supervisão estão na interpretação da lei e das funções que estão descritas. Um erro de interpretação causa um erro de função, que por sua vez pode causar um erro de execução, aumentando assim a amplitude do erro e a frustração acadêmica. Alguns supervisores sentem dificuldades com a falta de clareza do que constitui o trabalho pedagógico e suas atribuições na função, o que acaba levando-os a repetir modelos sem uma visão crítica de sua realidade histórica e social. Repetir modelos molda o sujeito, é preciso então recriar-se, reinventar- se na função e em todo o processo da educação. Nesse contexto, é essencial ao supervisor estar sempre buscando a atualização com um entendimento crítico e assim traçar novos caminhos para uma educação transformadora. Outro detalhe difícil se refere ao nosso Brasil, que possui diferentes características e culturas. Essas diferenças determinam o sucesso ou o fracasso escolar quando se percebe que os profissionais, responsáveis pelo resultado, não estão engajados no sucesso, ou não possuem formação adequada, ou estão desestimulados com o trabalho desgastante e pouco valorizado da Educação Brasileira. 28 Supervisão escolar O bom supervisor deve ter clareza de suas responsabilidades e atividades na preocupação de se atingir resultados positivos. O quadro que segue descreve alguns objetivos e como atingi-los: OBJETIVOS ATIVIDADES • Melhoria do ato educativo • Tornar claro a todos os propósitos das tarefas a serem realizadas • Planejamento e execução da proposta pedagó- gica • Providenciar os recursos materiais ou financei- ros necessários • Aperfeiçoamento de professores em serviço • Motivar os esforços de todos • Gestão democrática • Dar importância a todos os componentes da comunidade escolar • Seleção de prioridades e organização do trabalho; • Controlar as atividades propostas • Melhoria da qualidade didática e curricular • Tornar o serviço o mais eficiente possível • Avaliação dos professores • Avaliar constantemente para que se percebam as dificuldades e acertos Quadro 1: Objetivos da supervisão Fonte: Adaptado de Przybylski (1976). As funções do supervisor são variadas e marcantes. De acordo com Marquez, citado por Nérici (1974), as funções do supervisor educacional podem ser divididas em três partes: Técnica, Administrativa e Social. • Funções Técnicas: – Investigar a realidade da escola e da comunidade e, a partir disso, planejar cooperativamente o trabalho de supervisão que se pretende realizar; – Orientar e coordenar as atividades de ensino e aprendizagem, material didático e os processos de avaliação realizados pelos professores; – Formação continuada dos professores; – Atividades de divulgação e de reuniões/relatórios; • Funções Administrativas: – Organização da escola, das aulas e dos trabalhos auxiliares; – Organização do ano letivo e do calendário de atividades – Material didático; – Arquivos e documentação; – Dados estatísticos docentes e discentes; – Coordenação dos espaços e da distribuição física; – Gestão democrática. 29 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 • Funções Sociais: – Boas relações humanas entre todos os envolvidos na comunidade; – Promover projetos sociais e comunitários; – Criação de centros e associações; – Construção da cidadania a todos os envolvidos no processo. Não existe receita pronta para uma boa supervisão. Existem estudos e experiências que podemos discutir e considerar como válidas em nosso propósito. Um dos estudos interessantes quanto às proficiências do supervisor foi realizado por Edward Pajak nos Estados Unidos. Pajak fez um grande estudo bibliográfico sobre a escola e a função do supervisor. Ele também entrevistou vários supervisores em diferentes realidades. Após este estudo ele concluiu que as funções da profissão de supervisor estão voltadas a 12 princípios essenciais com relevante conhecimento, atitudes e habilidades em cada princípio. Esses princípios e suas definições são os seguintes (PAJAK, 1989): • Relações com a Comunidade – Estabelecer e manter relações abertas e produtivas entre a escola e sua comunidade. • Desenvolvimento de Pessoal – Auxiliar no desenvolvimento facilitando oportunidades significativas de crescimento profissional. • Planejamento e Mudança – Introduzir e executar estratégias desenvolvidas de forma colaborativa para a melhoria contínua. • Comunicação – Comunicação clara e aberta entre os indivíduos e grupos, através da organização. • Currículo – Coordenação e integração do processo de desenvolvimento e implementação do currículo. • Programa Pedagógico – Apoiar e coordenar os esforços para melhorar o programa de instrução. • Atender aos Professores – Fornecimento de materiais, recursos e assistência para apoiar o ensino e aprendizagem. • Observação e Comentários – Proporcionar aos professores a conferência baseada na observação de sala de aula. • Resolução de Problemas e Tomada de Decisão – Utilizando uma variedade de estratégias para esclarecer e analisar problemas e tomar a melhor decisão. • Pesquisa e Avaliação do Programa – Incentivo de cunho científico e experimentação e avaliação dos resultados. • Motivar e Organizar – Ajudar as pessoas a desenvolver uma visão compartilhada e alcançar os objetivos coletivos. • Desenvolvimento Pessoal – Reconhecer e refletir sobre suas habilidades pessoais e profissionais, crenças e ações. Não existe receita pronta para uma boa supervisão. Existem estudos e experiências que podemos discutir e considerar como válidas em nosso propósito. 30 Supervisão escolar Além das definições de Pajak, acima, podemos entender o processo de supervisão como uma sequência de funções que o supervisor deve executar. O entendimento das funções do supervisor fica mais claro quando dispostas em forma de figura. Nessa condição, a figura abaixo descreve o “Ciclo de Supervisão” voltado à escola, tornando o complexo processo global de supervisão mais legível e útil. Estes itens estão posteriormente explicados, para podermos assim perceber suas utilidades na realidade escolar. Figura 1 - Ciclo de Supervisão Fonte: Villas-Boas, 1991; Alarcão, 1982 (apud Oliveira, 2008). Com base na figura 1 - Ciclo de Supervisão, podemos agora definir cada item de modo explicativo. Acompanhe!!! CICLO DE SUPERVISÃO 1. Estabelecer a Relação Supervisor – Educador. Numa fase inicial, compete ao supervisor desenvolver no educador um espírito de abertura, afastando ansiedades, esclarecendo os papéis que cada um desempenha nesse processo, aferindo expectativas e possíveis dificuldades a superar. 2. Planificação da Prática Pedagógica – Nesta fase planificam-se as primeiras intervenções do educador na sua prática pedagógica. O plano pode ser organizado seguindo estruturas diferenciadas, 31 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 no entanto deve abordar questões fundamentais como: valores, princípios educativos, objetivos pedagógicos, questões logísticas (tempo, espaço, recursos humanos e materiais, custos, etc.). 3. Planificação da Estratégia de Observação – Além de ter em conta todos os aspectos práticos envolvidos na observação de uma aula – recursos técnicos e físicos, devidas autorizações, etc. – nesta fase deve fazer-se, também, uma reflexão conjunta sobre quais os aspectos pertinentes da prática pedagógica a observar, criando assim um enfoque na observação a realizar. 4. Observação – Tendo em conta toda a temática da observação em sala de aula, o supervisor deve ter uma atitude neutra de observador e levar a cabo um escrutínio dos acontecimentos e das interações que ocorrem durante a aula, tornando o momento de observação o mais cuidadosoe sistemático possível. 5. Análise do processo Ensino – Aprendizagem. Numa fase inicial do ciclo de supervisão este momento será vivido separadamente, mas com o estreitar da relação supervisor/aluno estagiário, a tendência será para que estes momentos do ciclo se realizem em conjunto, enriquecendo e abreviando o processo de Análise/ Avaliação/Reformulação. 6. Planificação da Reunião – Deverão ser momentos em que se procura encontrar soluções, estratégias e planos alternativos que ajudem o aluno estagiário a superar possíveis dificuldades e a melhorar a sua prática pedagógica. Numa fase inicial esta iniciativa será desenvolvida quase exclusivamente pelo supervisor. No entanto, procura-se que, com o decorrer da prática, o próprio aluno estagiário faça, também, uma reflexão crítica sobre a prática efetuada. 7. Reunião – Este momento de partilha pode ser organizado de formas diferentes, com objetivos diferentes. No entanto a maioria das vezes é um momento conjunto de reflexão de trabalho em equipe e de avaliação entre o supervisor e o educador. Podem surgir ocasiões em que a conferência de supervisão proporcione a reunião com outros estagiários ou supervisores, o que permite enriquecer, ainda mais, todo o processo de supervisão. 8. Análise do Ciclo – Mudança. Ao longo das várias fases do processo irão surgir aspectos a serem alterados e reformulados 32 Supervisão escolar ou se tornam mesmo pertinentes de reformular. Nesse sentido, aluno estagiário e supervisor planejam estratégias que ajudem a superar dificuldades sentidas, reiniciando o ciclo de supervisão que, assim, se vai recriando e otimizando ao longo do tempo e da prática vivida. Fonte: O Supervisor Pedagógico enquanto Mediador. Disponível em: <http://repositorio. ul.pt/bitstream/10451/775/3/17163_enq_teorico.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2011. Atividade de Estudos: Você acompanhou alguns definições e princípios que compõem a ação do supervisor escolar. Agora elabore o seu próprio conceito para a função de supervisor escolar e justifique sua importância: ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Algumas Considerações Mais importante do que definir a palavra ou as funções do supervisor escolar, devemos perceber a atuação dos mesmos que depende essencialmente da dedicação e do estímulo individual. Muitos estão presentes, mas não ativos ou não fazem qualquer diferença no andamento da escola. Outros fazem a diferença e estão atuantes em suas funções profissionais. O supervisor tem suas funções profissionais na escola. Porém seu papel é ainda mais importante quando conectado com sua relevância política e social. 33 A Supervisão Escolar no Sistema Educacional Brasileiro: História, Conceitos, Características e FunçõesCapítulo 1 É extremamente importante considerar as funções e descrever as características do supervisor na realidade educacional do Brasil. Torna-se ainda mais importante percebermos a importância social do supervisor em benefício dos alunos que não têm outra possibilidade de ascensão social a não ser através da educação que lhes permita conhecer a palavra para entender o mundo. O supervisor na função social pode transportar crianças fadadas ao fatalismo e à exclusão para um novo contexto de participação democrática na busca de uma cidadania crítica e atuante. Este assunto está mais aprofundado no Capítulo 3 deste Caderno. Referências ALARCÃO, Isabel; TAVARES, José. Supervisão da Prática Pedagógica. Uma perspectiva de desenvolvimento e aprendizagem. 2 ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2003. ANDRADE, Narcisa Veloso de. Supervisão em educação. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1976. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/LEIS/l9394.htm>. Acesso em: 11 maio 2011. ______. Senado Federal. Projeto de Lei Da Câmara Nº 132, de 2005. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/mate/servlet/PDFMateServlet?s=http:// www.senado.gov.br/atividade/materia/MateFO.xsl&o=ASC&o2=A&m=76130>. Acesso em: 26 maio 2011. DOURADO, Luiz Fernandes (Coord.); OLIVEIRA, João Ferreira de; SANTOS, Catarina de Almeida. A qualidade da educação: conceitos e definições. Série: “Textos para discussão”, nº 24. Brasília: INEP/MEC, 2007. 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Educação Musical nos anos iniciais do ensino fundamental: concepções e ações de coordenadoras pedagógicas escolares. 2006. 153 f. Dissertação (Mestrado) apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro de Educação, da Universidade Federal de Santa Maria, 2006. SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 1993. CAPÍTULO 2 O Planejamento Escolar e os Desafios da Supervisão para uma Escola Atual e Ideal A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Conhecer a importância do planejamento escolar em suas etapas e dificuldades na circunstância de supervisor. 9 Identificar os desafios da supervisão na elaboração do planejamento escolar e sua aplicabilidade na escola atual e para a escola ideal. 9 Discutir o planejamento escolar como possibilidade de mudança no ambiente escolar. 36 Supervisão escolar 37 O Planejamento Escolar e os Desafios da Supervisão para uma Escola Atual e IdealCapítulo 2 Contextualização A educação para o século XXI se destaca através das mudanças ocorridas na sociedade que passou a ser muito mais ágil na informação e mais exigente na formação.Alunos de diversas culturas e crenças transformam a educação atual em algo ainda mais complexo, sendo esta uma realidade presente em nossas escolas públicas ou privadas, uma vez que alguns caminhos seguidos e sugestões anteriores não mais se aplicam com a mesma eficiência no contexto mutável de hoje. Nesse sentido, a complexidade da supervisão escolar passa a ter uma importância ainda maior, uma vez que pretende e deve encaminhar a educação para uma possibilidade que reconhece o aluno de agora, suas características e limitações. Neste capítulo, discutiremos o trabalho diário do supervisor em seus aspectos administrativos e pedagógicos que são características da função, mas num contexto contemporâneo, uma vez que, como foi determinado acima, estaremos conectando esses afazeres dentro da realidade moderna do educando com o objetivo de nortear a teoria formal com a prática essencial, concreta e positiva. O Supervisor Escolar e o Planejamento no Sistema Educacional Brasileiro Atual A escola atual deve promover o ensino de forma variada. Não raro se percebem escolas que oferecem ao aluno atividades como leitura, esportes, música (nova exigência de lei), pesquisa ou informática. Essas atividades curriculares são exemplos do novo contexto exigido pela sociedade atual e são promovidos por algumas escolas que pretendem gerar uma atualização em seus conceitos. Na escola pública essas variações acadêmicas são ainda limitadas e dependem da iniciativa das secretarias de educação do município ou do estado. Nas escolas particulares, essas atividades pretendem promover uma educação integral, mas são normalmente cobradas além da mensalidade regular. De qualquer modo, a importância dessas atividades é alta e demonstra que as escolas estão voltadas ao desenvolvimento presente e devem estar atualizadas na procura de uma educação conectada com a realidade do aluno e do mundo contemporâneo. Essa realidade deve fazer parte do entendimento dos trabalhadores da educação e suas funções profissionais. Então, o supervisor escolar precisa estar preparado para essas constantes atualizações inerentes à escola e aos alunos. Além de estar ciente do que se passa na realidade em que 38 Supervisão escolar vive e nas tendências pedagógicas, ele/ela deve promover a inclusão de novas atitudes e dinâmicas através da construção do planejamento que respeite essa condição epistemológica. O planejamento pode ser considerado a engrenagem para uma boa educação. Nesse processo é importante garantir que sejam seguidas três etapas: a elaboração, a execução e a avaliação. Na primeira, é necessário que o grupo explicite os ideais que norteiam suas ações. Qual realidade sonhamos vivenciar? Que tipo de pessoas formamos? Que Educação queremos para crianças e jovens? Conhecendo o desejado, é hora de analisar a realidade existente. Para que o planejamento seja realmente um instrumento de trabalho, é preciso colocá-lo em prática, ou seja, agir de acordo com o que foi imaginado. E só será possível perceber se o quadro encontrado no início do ano está sendo transformado na direção da realidade desejada se houver algum tipo de acompanhamento das ações. De acordo com Vasconcellos (2000), há a descrença na utilidade do planejamento. Ele aponta que alguns professores consideram impossível dar conta da tarefa por diferentes motivos: o trabalho em sala de aula é dinâmico e imprevisível; faltam condições mínimas, como tempo; e existe o pensamento de que nada vai mudar e, portanto, basta repetir o que já tem sido feito. Há também aqueles que acreditam na importância do planejamento, mas que não fazem parte da sua construção, desprezando-o. Combinações para uma Escola Eficiente Para uma escola se tornar exemplo de eficiência ela deve buscar esse caminho em seu planejamento. Em um estudo comparativo realizado nas escolas públicas em 2004, nos Estados Unidos, perceberam-se problemas e soluções para uma educação eficiente. Esse estudo apontou as melhores e as piores escolas e que as melhores escolas daquele país têm semelhanças entre si. As maiores qualidades foram notadamente ligadas à gestão dessas escolas e como seus gestores aplicam soluções práticas e que fazem diferença na qualidade de ensino. Essas indicações são perfeitamente aplicáveis na nossa realidade brasileira, pois não requerem investimentos nem grandes treinamentos do pessoal envolvido. Trazem, sim, uma mudança de mentalidade e amplificam a importância da educação e o poder da escola, quando bem aplicados. A partir desse estudo, as combinações para uma escola eficiente, são: O planejamento pode ser considerado a engrenagem para uma boa educação. Nesse processo é importante garantir que sejam seguidas três etapas: a elaboração, a execução e a avaliação. As maiores qualidades foram notadamente ligadas à gestão dessas escolas e como seus gestores aplicam soluções práticas e que fazem diferença na qualidade de ensino. 39 O Planejamento Escolar e os Desafios da Supervisão para uma Escola Atual e IdealCapítulo 2 • Ambiente Seguro e Ordenado – Comportamento desejável do aluno; – Ambiente que promova o ensino-aprendizagem; – Ambiente colaborativo e cooperativo para adultos e jovens; – Respeito à diversidade humana e aos valores democráticos. • Grande Expectativa para o Sucesso – Oportunidades iguais para todos os alunos; – Estratégias de rever as técnicas de ensino; – Professores devem ser os “lançadores”; – Escola deve ceder melhores ferramentas aos professores. • Liderança Educacional – Escola é uma comunidade de troca de valores; – Diretor não é o único líder e os professores devem ser encorajados. • Missão Clara e Consistente – Todos os alunos devem ter a condição de sucesso; – Desenhar o currículo que atenda as necessidades dos alunos; – Combinação entre o alto nível do currículo com a preparação dos professores; – Ambiguidade: Ensinar e aprender. • Oportunidade de Aprender e Tempo aos Alunos – Professores mais bem organizados; – efinir o que deve ser ensinado e dedicar mais tempo na elaboração desses conteúdos; – Alunos necessitam de mais tempo para aprender. • Monitoramento do Progresso dos Estudantes – Usar a tecnologia para professores e alunos acompanharem os seus progressos e ajustarem os seus comportamentos; – Avaliações mais autênticas. Ênfase no trabalho do aluno. • Relação Escola-Casa – Relação pais-escola deve ser uma parceria autêntica; 40 Supervisão escolar – Construir uma relação de confiança e uma comunicação adequada em busca do mesmo objetivo: escola e educação eficientes. Figura 2 - Competências Para Uma Escola Eficiente Fonte: O Autor. O Conceito de Planejamento Escolar Planejamento escolar se define como sendo o caminho que se deve seguir na busca de objetivos propostos antecipadamente. Esses objetivos podem ser de ordem pedagógica ou administrativa, mas sempre na expectativa de melhorias do que já se está fazendo, ou na programação de algo totalmente novo. É oportuno perceber que os conceitos de Planejamento já foram apresentados no Caderno da disciplina de “Planejamento Institucional”, que você pode rever para melhor entendimento. 41 O Planejamento Escolar e os Desafios da Supervisão para uma Escola Atual e IdealCapítulo 2 Aos nossos interesses, vamos utilizar o planejamento para a escola, para o supervisor, para o professor e para o aluno, pois pelo planejamento se facilita e se dinamiza o trabalho acadêmico de discentes e de docentes. Todas as escolas têm objetivos, funções e metas a serem atingidas e, para alcançar esses objetivos, um plano ou programa é elaborado. Na elaboração deste plano, decisões devem ser tomadas e aprovadas pela maioria para então serem transportadas a um objetivo geral ou objetivos específicos. O planejamento escolar precisa ser democrático e coerente, em que a possibilidade de acerto deve ser sempre a intenção maior. Para tanto, Menegolae Sant’Anna (2001, p. 25) sugerem que: Planejar o processo educativo é planejar o indefinido, porque educação não é o processo, cujos resultados podem ser totalmente pré-definidos, determinados ou pré-escolhidos, como se fossem produtos de correntes de uma ação puramente mecânica e impensável. Devemos, pois, planejar a ação educativa para o homem não impondo diretrizes que o alheiem. Permitindo, com isso, que a educação ajude o homem a ser criador de sua história. Por mais genial, utópico ou realista que o objetivo pareça, ele só terá chances de ser alcançado através de um planejamento bem elaborado. Um bom planejamento determina os objetivos, as metas, as funções e os meios que os envolvidos devem seguir na busca de resultados favoráveis. Resumidamente, o sucesso de uma escola está diretamente relacionado a um planejamento e a uma gestão eficiente. Quando definido o objetivo do programa, outros princípios devem ser considerados: se esse programa é viável financeiramente, se os resultados são realmente atingíveis e se ele é específico à escola, uma vez que se gasta muito tempo em problemas menores ou burocráticos. O bom planejamento, porém, exige acompanhamento e re-avaliação constantes para determinar os pontos fracos que o plano deve perceber e corrigir, além de maximizar os esforços dos envolvidos. O planejamento pode ser formal, como é o caso do PPP, exigido pelo órgão responsável pelo funcionamento das instituições de ensino, ou não-formal, em que o planejamento acontece por uma necessidade particular, com objetivos locais. O planejamento delega funções aos participantes. Quando a pessoa responsável por determinada função não a executa ou executa de maneira ineficaz, todo o processo pode ser afetado. Os profissionais da educação estão ligados pela parte prática que a profissão exige. O maior tempo de trabalho é consumido por atividades que exigem do Por mais genial, utópico ou realista que o objetivo pareça, ele só terá chances de ser alcançado através de um planejamento bem elaborado. Um bom planejamento determina os objetivos, as metas, as funções e os meios que os envolvidos devem seguir na busca de resultados favoráveis. 42 Supervisão escolar profissional a preparação e, principalmente, a execução de uma tarefa prática. Aulas, reuniões, avaliações e praticamente todas as atenções e conhecimentos estão vinculados à prática e menos às teorias pedagógicas. Como os objetivos estão estruturados a partir do saber e do fazer, posteriormente, neste capítulo, estaremos acompanhando exemplos de Planejamento Escolar que caracterizam as ideias apresentadas sobre esta temática. O planejamento em sua contextualização teórica é uma parte importante no conjunto de competências que um bom profissional deve assumir. Segundo Vasconcellos (2000, p. 79), o conceito de planejar fica claro, pois: “Planejar é antecipar mentalmente uma ação ou um conjunto de ações a ser realizadas e agir de acordo com o previsto. Planejar não é, pois, apenas algo que se faz antes de agir, mas é também agir em função daquilo que se pensa.” Para atingir o máximo da qualidade de ensino proposto, o planejamento se faz necessário e pode ser fator determinante para o sucesso ou insucesso de um aluno ou de uma instituição inteira. O supervisor escolar deve respeitar princípios relevantes do planejamento e aplicá-los com sabedoria, tanto em seus aspectos práticos diários como no planejamento teórico dos mesmos. Boas atividades e boas aulas acontecem muito antes da aplicação. Para que a atividade de ensino aconteça com sucesso, é necessária a antecipação de questões/problemas e uma boa elaboração de um plano de atividades. Vários aspectos devem ser considerados quando pretendemos elaborar um planejamento em curto, médio ou longo prazo e que envolva pessoas. É essencial conhecer as características da escola (história, estrutura e cultura), além das possibilidades e limitações de alunos, professores para, então, fazer o planejamento realista e possível. Para isso é preciso ter uma visão crítica da realidade sociocultural em que os envolvidos no processo estão inseridos, buscar resultados a médio e longo prazo e ir avaliando e monitorando cada passo dado (CARNEIRO, 2007). Segundo Libâneo (1994, p. 222), o planejamento tem grande importância por tratar-se de: “Um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social”. Todo o projeto ou planejamento escolar deve considerar três questões fundamentais: 1) Qual a situação atual, uma análise de fatores e “números” que demonstrem a realidade da escola; 2) Para que fazer o projeto, quais os objetivos, onde pretendemos chegar; e 3) Como serão feitas essas ações, como será a planejamento escolar deve considerar três questões fundamentais: 1) Qual a situação atual, uma análise de fatores e “números” que demonstrem a realidade da escola; 2) Para que fazer o projeto, quais os objetivos, onde pretendemos chegar; e 3) Como serão feitas essas ações, como será a operação, a prática do que foi determinado. 43 O Planejamento Escolar e os Desafios da Supervisão para uma Escola Atual e IdealCapítulo 2 operação, a prática do que foi determinado. De acordo com Veiga e Resende (1998), existem vários caminhos para a construção do planejamento e do próprio PPP, uma vez que ele retrata o entendimento e o percurso possível trilhado na realidade das escolas. Partindo desses princípios, é possível apontar três movimentos básicos desse processo de construção do planejamento e do PPP denominados pela autora de: Ato Situacional, Ato Conceitual e Ato Operacional. É importante perceber que estes conceitos estão em movimento, sendo assim, em constante reavaliação e melhoramentos. Figura 3 - Ciclo do Planejamento Escolar Fonte: Gandin (1986). Em resumo, planejar nada mais é do que programar antecipadamente o que pode acontecer, de acordo com uma visão bastante realista das situações anterior e atual de uma escola, considerando: • Filosofia da instituição que representa e objetivos, em termos de trabalho e resultados pretendidos; • Expectativa de desempenho: principais dados anteriores, dados comparativos e resultados a serem atingidos; • Recursos e orçamento disponíveis; Planejar nada mais é do que programar antecipadamente o que pode acontecer, de acordo com uma visão bastante realista das situações anterior e atual de uma escola. 44 Supervisão escolar • Alunos e professores: quantidade, as qualidade e dificuldades por turma e período; • Estrutura disponível: materiais e equipamentos, laboratórios, ginásio, salas. • Sugerimos que leia os seguintes livros: VASCONCELOS, Celso dos S. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico. São Paulo: Libertad, 1999. GANDIN, Danilo. Planejamento como prática educativa. São Paulo: Edições Loyola, 1986. Métodos e Técnicas de Planejamento na Educação O planejamento escolar é utilizado para resolver problemas, atingir metas e, em sua essência, melhorar os níveis da educação nas instituições escolares. Mas, como organizamos um projeto, como percebemos se estamos no caminho certo e como buscar atingir os objetivos com maior eficiência? Antes de entrar nas metodologias ou conceitos de como construir um planejamento, precisamos confirmar que o planejamento serve para (VALLEJO, 2002): • Confirmar a sua autonomia. Percebendo suas necessidades e, baseadas nestas, busca caminhos internos, locais e possíveis. Nesse sentido, Veiga e Fonseca (2003) descrevem que a autonomia se percebe nas: – Possibilidades, ou quais os mecanismos viáveis que irão transformar o ideal de autonomia em prática. – Nas capacidades, ou qual a qualidade técnica do pessoal envolvido, seu grau de compromisso e competência ético-profissional
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