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Aprendizagem Esperamos que, ao término desta aula, você seja capaz de: descrever como que as experiências de aprendizagem definem nossas opções de consumo; relacionar os mecanismos de aprendizagem com as diferentes ferramentas de marketing. 7 ob jet ivo s A U L A Metas da aula Apresentar a relação entre aprendizagem e consumo; demonstrar a importância da aprendizagem no desenvolvimento de ações de marketing. 1 2 126 C E D E R J Comportamento do Consumidor | Aprendizagem Introdução Com esta aula, você aprenderá a influência do processo de aprendizagem no comportamento do consumidor. Esse tema, central na área da Educação, também é considerado no universo do marketing, pois, ao nascermos, nada sabemos, tudo está para ser aprendido e, como estamos na sociedade de consumo, diariamente aprendemos a consumir. Nas aulas anteriores, foram abordados temas como motivação, personalidade e percepção. De maneira bem objetiva, pode-se dizer que todos estão bem relacionados, pois é fascinante a inter-relação entre nossas motivações, a personalidade que temos, a maneira como percebemos e tudo o que aprendemos. Ao final dessa série dedicada à dimensão psicológica (que termina na próxima aula, sobre atitudes), ficará mais fácil entender por que há um universo a ser explorado na intimidade de cada indivíduo. Por isso, é comum ouvir dizer que os fatores internos aos indivíduos são enigmas a serem decifrados pelos profissionais de marketing. O tema aprendizagem é muito importante para o consumo, a ponto de alguns autores defenderem que é preciso entender como as pessoas aprendem para ajudá-las a aprender o que querem. Essa visão rompe significativamente com a idéia de que primeiro as empresas precisam saber o que as pessoas querem, para depois oferecer algo a contento ou que as surpreenda. Um tema bastante polêmico, correto? Com certeza, os temas tratados nesta disciplina suscitam muitas discussões, levando-nos sempre a questionar a razoabilidade dos objetivos do marketing e a sustentabilidade dessa sociedade de consumo. AprendIzAgem e mArketIng É comum ouvirmos que viver é um processo de constante aprendizagem. Isso significa que começamos a aprender ainda pequenos e que faremos isso pelo resto da vida. Outras vezes ouvimos que de tudo tiramos uma lição, sinalizando que sempre há um aprendizado a ser experimentado. Se aprendemos tudo na vida, aprender é um dos processos mais importantes do comportamento humano, correto? Enquanto nos desenvolvemos vivendo em sociedade, aprendemos a comer, beber, falar, vestir, fazer asseio pessoal, agir etc. Logicamente, aprendemos a consumir, pois, como estamos numa sociedade de consumo, aprendemos que para cada tarefa básica da nossa vida, para cada ritual, existem produtos e serviços associados. Aprendemos para que servem, como utilizá-los C E D E R J 127 A U LA 7 e como adquiri-los. Mais importante: aprendemos sobre as marcas e, por vezes, as adotamos. Isso é o que se define, de maneira geral, como aprendizagem do consumo. Os profissionais de marketing começaram a estudar como as pessoas aprendem para poder desenvolver boas estratégias de marketing. Muita coisa começou a ser feita para influenciar o comportamento de consumo. Essa realidade levou a maioria dos profissionais a começar a ação de marketing pelo entendimento do consumidor para, posteriormente, entregar a ele o que era requisitado e/ou desejado. Chama-se a tal procedimento estratégia impulsionada pelo cliente (CARPENTER, 2001). Acontece que, com o constante processo de inovação observado nos diferentes setores, os consumidores são expostos a uma grande variedade de informações e de produtos, tornando-os praticamente inconscientes de tudo o que existe para consumir, como as coisas funcionam e os benefícios que podem ser obtidos. Dessa maneira, existem profissionais de marketing que pensam que não basta saber como as pessoas aprendem, mas sim ajudá-las a aprender o que vão querer, como sugerem Carpenter et al. (2002). Assim surgem as estratégias impulsionadoras de mercado, aquelas que definem o que os consumidores vão experimentar, isto é, aquelas estratégias que definem a experiência de consumo, auxiliando as pessoas a compreender as diferenças entre marcas existentes (percepção), a formar julgamentos sobre o valor das diferenças (preferências) e, fundamentalmente, a criar, quando for o caso, um raciocínio lógico para escolher uma dentre as marcas existentes numa categoria de produto (estratégia de escolha de marca). O ponto de partida dessa inflexão na prática e no pensamento de marketing é o entendimento de que, expostos a muitas informações, nós lançamos mão de nossas experiências e observações para aprender o que queremos. Lembra-se do exemplo do transporte público na aula passada? definindo aprendizagem De acordo com Hamze (2008), aprendizagem é um processo de mudança de comportamento obtido por meio da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente. 128 C E D E R J Comportamento do Consumidor | Aprendizagem Essa definição vem do meio relacionado à educação e, como será observado adiante, traz mais informações sobre o que seja o processo de aprendizagem, objetivando o desenvolvimento do indivíduo em sua completude e trajetória de vida. A preocupação é processual, ou seja, com a maneira como o processo de ensino e aprendizagem ocorre, buscando aperfeiçoamentos que o tornem mais fácil e produtivo, ou, numa linguagem mais técnica, mais efetivo. As abordagens de marketing são mais direcionadas à relação entre aprender e consumir e sofrem, infelizmente, de um empobrecimento de foco. As definições a seguir explicam bem essa realidade. Segundo Kotler (1998), aprendizagem são todas as mudanças ocasionadas no comportamento de um indivíduo em função de suas experiências. Com ênfase direta no marketing, Seabra (2008) diz que o conhecimento dos princípios da aprendizagem serve para entender de que maneira os indivíduos geram os seus desejos e motivações e como se desenvolvem os seus gostos. Kanuk et al. (2004) afirmam que a aprendizagem do consumidor é um processo que está continuamente evoluindo e mudando em função do conhecimento adquirido ou da experiência. Segundo McDaniel et al. (2004), o aprendizado é um processo que cria modificações no comportamento por meio de experiência e prática. Nesse caso, o que vai revelar se o aprendizado ocorreu ou não são as ações do consumidor. Corroborando os autores, Seabra (2008) afirma que pela aprendizagem adquire-se a maioria das atitudes, valores, gostos, condutas, preferências, significados simbólicos e sentimentos. A nossa cultura e classe social, por meio de instituições como as escolas e as organizações religiosas, assim como a família e os amigos, proporciona experiências de aprendizagem que influem de maneira considerável no estilo de vida que procuramos e nos produtos consumidos. O aprendizado descreve mudanças no comportamento individual, advindo da experiência, diz Cobra (1992). Pela experiência a pessoa aprende e muda seu comportamento, ou seja, adquire o conhecimento e a experiência de compra e de consumo e os aplica num comporta- mento futuro. C E D E R J 129 A U LA 7 Com a aprendizagem que se adquire devido a mudanças que o consumidor sofre com as experiências anteriores, tende-se então a apresentar um determinado comportamento, seja por meio de comportamentos físicos, aprendizagens simbólicas ou aprendizagens afetivas(SEABRA, 2008). Dentro desse processo está a chamada modelação, que é a ajuda que os consumidores têm para imitar pessoas que são referência, como as celebridades, por exemplo. Os profissionais de marketing desejam transmitir, com esses símbolos, imagens positivas da empresa e aumentar o conhecimento do seu nome por parte dos consumidores (idem). Segundo McDaniel et al. (2004), há dois tipos de aprendizagem, a experimental e a conceitual. A aprendizagem experimental ocorre quando a experiência vivida muda o comportamento, ou seja, existe uma experiência direta que altera seu comportamento. Na aprendizagem conceitual não há a experiência direta, geralmente alguém vive a expe- riência e passa o resultado para a outra pessoa que toma essa experiência para si. Dessa forma, aprendemos observando como uma pessoa cumpre uma tarefa ou como reage a uma situação e assim, pensamos em nós mesmos passando por essa situação algum dia. A seguir são retomadas as definições associadas à educação. De acordo com Hamze (2008), os objetivos da aprendizagem são classificados em: domínio cognitivo (ligados a conhecimentos, infor- mações ou capacidades intelectuais); domínio afetivo (relacionados a sentimentos, emoções, gostos ou atitudes); domínio psicomotor (que ressaltam o uso e a coordenação dos músculos). No domínio cognitivo temos as habilidades de memorização, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. No domínio afetivo, temos habilidades de receptivi- dade, resposta, valorização, organização e caracterização. No domínio psicomotor apresentamos habilidades relacionadas a movimentos básicos fundamentais, movimentos reflexos, habilidades perceptivas e físicas e a comunicação não-discursiva. Quando olhamos como nosso comportamento mudou com o passar do tempo, temos uma visão clara do que a aprendizagem significa. Conforme vivemos, somos informados de muitas coisas e experimentamos diferentes situações, muitas positivas, algumas, infelizmente, negativas. Geralmente, toda aprendizagem nos conduz a um processo de adaptação ou adequação ao ambiente no qual estamos inseridos, onde o objetivo 130 C E D E R J Comportamento do Consumidor | Aprendizagem Conceitue aprendizagem e comente sobre o tipo de abordagem feita pela área de educação e a de marketing. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Comentário De maneira geral, a aprendizagem é entendida como um processo de mudança de comportamento que todo indivíduo sofre durante sua vida em função das experiências vividas. A área de educação preocupa-se com a questão da aprendizagem tendo em perspectiva o desenvolvimento do indivíduo em sua completude e trajetória de vida. A preocupação é processual, ou seja, em como tornar mais fácil o processo de ensino e aprendizagem. A área de marketing preocupa-se com o aprendizado do consumidor, com o processo pelo qual este vai mudando seu comportamento de consumo em função das experiências vivenciadas. O objetivo é entender, a partir dos princípios da aprendizagem, de que maneira os indivíduos geram os seus desejos e motivações e como se desenvolvem os seus gostos. Atividade 1 1 é, sem dúvida alguma, a uniformização dos comportamentos, evitando grandes discrepâncias entre eles. Em verdade, esse processo de adequação visa gerar a regularidade necessária para que a vida transcorra. C E D E R J 131 A U LA 7 Como os profissionais de marketing abordam os conceitos de aprendizagem Como você já viu anteriormente, a abordagem da área de Edu- cação para o tema aprendizagem é complexo e profundamente ligado à evolução humana, à maneira como aprendemos, e à produção e ao compartilhamento de conhecimento. É um tema muito amplo e existem várias perspectivas teóricas, como demonstra brevemente Quadro 7.1. O objetivo desse quadro é oferecer uma pequena introdução sobre tais teorias. Caso você queira fazer um estudo mais profundo, acesse o site do NCE (http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/ RenatoMaterial/teorias.htm). As teorias de aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender, partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do homem, e tentam explicar a relação entre o conhecimento preexistente e o novo conhecimento. A aprendizagem não seria apenas inteligência e construção de conhecimento, mas, basicamente, identificação pessoal e relação por meio da interação entre as pessoas (NCE, 2008). Quadro 7.1: Teorias da aprendizagem teorias de aprendizagem Características Epistemologia Genética de Piaget Ponto central: estrutura cognitiva do sujeito. As estruturas cognitivas mudam por meio dos processos de adaptação: assimilação e acomodação. A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes, enquanto que a acomodação se refere à mudança da estrutura cognitiva para compreender o meio. Níveis diferentes de desenvolvimento cognitivo. Teoria Construtivista de Bruner O aprendizado é um processo ativo, baseado em seus conhecimentos prévios e os que estão sendo estudados. O aprendiz filtra e transforma a nova informação, infere hipóteses e toma decisões. O aprendiz é participante ativo no processo de aquisição de conhecimento. Instrução relacionada a contextos e experiências pessoais. 132 C E D E R J Comportamento do Consumidor | Aprendizagem Teoria Sociocultural de Vygotsky O desenvolvimento cognitivo é limitado a um determinado potencial para cada intervalo de idade (ZPD); o indivíduo deve estar inserido em um grupo social e aprende o que seu grupo produz; o conhecimento surge primeiro no grupo, para só depois ser interiorizado. A aprendizagem ocorre no relacionamento do aluno com o professor e com outros alunos. Aprendizagem baseada em Problemas/Instrução ancorada (John Bransford & the CTGV) A aprendizagem se inicia com um problema a ser resolvido. Aprendizado baseado em tecnologia. As atividades de aprendizado e ensino devem ser criadas em torno de uma “âncora”, que deve ser algum tipo de estudo de um caso ou uma situação envolvendo um problema. Teoria da Flexibilidade Cognitiva (R. Spiro, P. Feltovitch & R. Coulson) Trata da transferência do conhecimento e das habilidades. É especialmente formulada para dar suporte ao uso da tecnologia interativa. As atividades de aprendizado precisam fornecer diferentes representações de conteúdo. Aprendizado Situado (J. Lave) A aprendizagem ocorre em função de atividade, contexto e cultura e ambiente social naqual está inserida. O aprendizado é fortemente relacionado com a prática e não pode ser dissociado dela. Gestaltismo Enfatiza a percepção em vez da resposta. A resposta é considerada como o sinal de que a aprendizagem ocorreu e não como parte integral do processo. Não enfatiza a seqüência estímulo-resposta, mas o contexto ou campo no qual o estímulo ocorre, e o insight tem origem quando a relação entre estímulo e campo é percebida pelo aprendiz. Teoria da Inclusão (D. Ausubel) O fator mais importante de aprendizagem é o que o aluno já sabe. Para ocorrer a aprendizagem, conceitos relevantes e inclusivos devem estar claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo. A aprendizagem ocorre quando uma nova informação se ancora em conceitos ou proposições relevantes preexistentes. Aprendizado Experimental (C. Rogers) Deve-se buscar sempre o aprendizado experimental, pois as pessoas aprendem melhor aquilo que é necessário. O interesse e a motivação são essenciais para o aprendizado bem-sucedido. Enfatiza a importância do aspecto interacional do aprendizado. O professor e o aluno aparecem como os co- responsáveis pela aprendizagem. Inteligências Múltiplas (Gardner) No processo de ensino, deve-se procurar identificar as inteligências mais marcantes em cada aprendiz e tentar explorá-las para atingir o objetivo final, que é o aprendizado de determinado conteúdo. Fonte: NCE (2008). O quadro traz muitos conceitos importantes, ainda que brevemente abordados, e esses são objetivamente explorados na literatura do marketing sobre aprendizagem. C E D E R J 133 A U LA 7 Segundo Kotler (2000), a teoria da aprendizagem ensina aos profissionais de marketing que eles podem criar a demanda para um produto associando-o a fortes impulsos, usando sinais motivadores e fornecendo reforço positivo. Corroborando a idéia, McDaniel et al. (2004) relatam que essa teoria é útil para lembrar aos profissionais de marketing que o que reforça o comportamento desejado do consumidor são as ações concretas e oportunas. Normalmente a aprendizagem ocorre em função de tentativas repetidas, mas segundo Kanuk et al. (2004), um volume considerável de aprendizagem ocorre em função do processo de pensamento e de solução de problemas pelo consumidor. Pode acontecer também a chamada aprendizagem súbita, em que frente a um problema podemos achar a solução instantaneamente. Mas o que freqüentemente ocorre é a busca de informações sobre o produto para que então possamos desenvolver um conceito sobre o mesmo para depois tomarmos nossa decisão buscando sempre a melhor decisão possível para nossos propósitos. Portanto, a aprendizagem é o resultado de uma reflexão. A chamada aprendizagem cognitiva é baseada na atividade mental. Segundo Kanuk et al. (2004), essa teoria sustenta que a aprendizagem envolve um complexo processamento mental da informação. A mesma enfatiza o papel da motivação dos processos mentais na produção de uma resposta desejada e diz também que o tipo de aprendizagem mais característico do ser humano é a busca de soluções de problemas. Assim, a aprendizagem cognitiva é aquela por meio da qual o indivíduo se conscientiza de um estímulo. Segundo Seabra (2008), aplicando-o ao caso do comportamento do consumidor, a aprendizagem cognitiva será mais freqüente para os produtos caros, duradouros ou para produtos comprados pela primeira vez. Enquanto não conseguimos resolver um problema, a insatisfação provoca tensão e motiva o prosseguimento da busca da resposta. A aprendizagem repousa em dois elementos essenciais: o reconhecimento de situações repetitivas do contexto, mas também a trajetória de comportamentos passados. As teorias comportamentais, também chamadas teorias de estí mulo-resposta, estão calcadas na premissa de que, caso haja respostas perceptíveis a estímulos externos específicos, entende-se que houve a aprendizagem. 134 C E D E R J Comportamento do Consumidor | Aprendizagem Segundo Kanuk et al. (2004), existem duas grandes teorias comportamentais de grande pertinência para o marketing: o condi- cionamento clássico e o condicionamento instrumental. CondICIonAmento ClássICo Segundo essa teoria, nossos comportamentos advêm de entidades relativamente passivas em que se podem ensinar certos comportamentos por meio da repetição, isto é, do condicionamento (Kanuk et al., 2004). Seria como estar acostumado a uma situação que se interliga a outra. Veja um breve exemplo: você está acostumado a todo dia de manhã tomar café e assistir ao noticiário; assim, no dia em que assistir a esse mesmo noticiário e não tomar café, provavelmente sentirá falta, ou seja, apenas os sons advindos desse noticiário já lhe dariam vontade de tomar café, mesmo que já o tenha feito ou que ainda não. Seabra (2008) afirma que o condicionamento clássico baseia-se num processo de associação entre dois estímulos, que permite a um deles receber, ao fim de várias situações repetitivas, a capacidade de provocar a resposta que o outro só se limitava a engendrar, ou seja, relaciona um estímulo com outro que já produz uma determinada resposta. Segundo a autora, ele serve para explicar como adquirimos os gostos e motivações e aplica-se para associar a marca com um ambiente agradável, uma aplicação muito conhecida em publicidade. Por exemplo, a associação de personagens simpáticos ou de certo prestígio reconhecido a uma marca ou a um elemento visual, como é o caso do Marlboro, que associa a sua marca ao caubói. Ela faz uma ressalva: No entanto, a força da associação depende da freqüência da aparição conjunta dos dois estímulos. Se estes deixam de aparecer juntos, o condicionamento atenua-se e acaba por desaparecer. Os indivíduos podem estabelecer relações entre dois elementos, em função de critérios tais como a generalização e a proximidade. C E D E R J 135 A U LA 7 Para Seabra, os indivíduos podem estabelecer relações entre dois elementos, em função de critérios tais como a generalização e a proximidade. A generalização refere-se à tendência que as pessoas têm para considerar os objetos que se parecem como se fossem iguais. O processo de generalização produz-se quando, depois de aprender certa resposta perante um estímulo, esta tende a ser provocada não só pelo estímulo original presente na situação da aprendizagem mas também por estímulos que se pareçam com aquele. A formação de estereótipos é o resultado da generalização das características de um objeto a todos aqueles que se pareçam com ele. Muitas vezes, diz Seabra, as empresas exploram o êxito de em- presas inovadoras ao oferecer produtos muito similares. Também se utiliza para introduzir novos produtos que se pareçam muito com os seus predecessores. Outra forma de generalização de estímulos é utilizar a estratégia de “marca de família”. Com essa estratégia, pretende-se que as percepções e atitudes favoráveis do público face ao nome de família se generalizem também ao novo produto para conseguir o mesmo êxito. A proximidade baseia-se na idéia de que os objetos situados na proximidade de outro lhe dão as mesmas características (SEABRA, 2008). Segundo Kanuk et al. (2004), esse condicionamento não é uma ação reflexiva, mas uma aprendizagem cognitiva associativa em que não há a aquisição de novos reflexos, e sim de novos conhecimentos sobre o mundo. Ainda segundo o autor, existem três conceitos básicos que derivam desse condicionamento e que são muito importantes para a compreensão do comportamento do consumidor: a repetição, a generalização de estímulo e a discriminação de estímulo. 1. A repetiçãoé uma estratégia muito importante, pois pode levar a uma aprendizagem maior. Os profissionais de marketing utilizam a repetição para que os consumidores guardem as informações necessárias sobre as vantagens exclusivas de seus produtos. 2. A generalização de estímulos se dá quando uma empresa bem- sucedida em um determinado produto resolve lançar outros diferentes produtos. Espera-se que, ao lançar novos produtos, 136 C E D E R J Comportamento do Consumidor | Aprendizagem os consumidores associem seu nome (marca) ao produto já reconhecido no mercado e, assim, acreditem que esse novo produto seja tão bom quanto o que já existe. Essa é uma boa estratégia para as grandes empresas, pois ocorre uma maior facilidade de venda de novos itens e até mesmo o aumento dos itens já existentes. Para isso empresas usam táticas para serem mais facilmente reconhecidas, como ocorre com a Nestlé, que utiliza parte do seu nome em seus produtos, como é o caso do Nescafé, do Nescau, do Neston ou ainda como a empresa fez ao lançar o sorvete Moça. Acompanhando a imagem do seu leite condensado Moça, faz com que seus consumidores associem o sabor agradável do leite condensado ao do sorvete. Outras empresas, para se inserirem no mercado, buscam, na imitação, a forma de se fixar, mas isso é muito ruim para as empresas originais, pois primeiramente o consumidor pode confundir o produto por causa da embalagem semelhante e acabar comprando o concorrente sem perceber, ou, na pior das hipóteses, o consumidor experimenta e não aprova o produto e acredita que a marca original pode ser tão ruim como a marca imitadora. Segundo Kotler (2000), os consumidores têm maior possibilidade de transferir fidelidade a marcas semelhantes, o que caracteriza a generalização. 3. Já a discriminação de estímulos ocorre de forma oposta. A discriminação ocorre quando um consumidor é fiel a um produto. Mesmo que apareça um similar no mercado, o consumidor não trocará aquele que ele já conhece. Normalmente o consumidor já tende a consumir o produto de forma automática; assim, ele já se sente atraído pela marca, mas conhece claramente a marca, sem que haja risco de consumir outra que seja semelhante, como ocorre com as marcas de refrigerantes Pepsi e Coca-Cola, quando seus consumidores acreditam que existe a diferença entre seus sabores, por mais que pareçam iguais. http://www.thecoca-colacompany.com/ pre s s cente r / img / imagebrands / downloads/lg_2lcontour.jpg http://www.ax3.se/drycker/Stora_carls- berg_bilder/pepsi%20max%201.jpg C E D E R J 137 A U LA 7 CondICIonAmento InstrumentAl Segundo Seabra (2008), o condicionamento instrumental requer o desenvolvimento de conexões entre estímulos e respostas. Baseia-se fundamentalmente num comportamento a que se associa uma recompensa ou um castigo. Em outras palavras, o sujeito deverá descobrir uma resposta apropriada ou "correta", que será reforçada depois. Por meio de várias intenções reforçadas aprende-se uma conexão entre o estímulo e a resposta. Ainda segundo a autora, as experiências favoráveis darão lugar a um reforço positivo (compra do produto) e as experiências desfavoráveis darão lugar a um reforço negativo (a não- compra do produto). A implicação é uma seqüência: Comportamento desejado recompensa aprendizagem Comportamento indesejado castigo aprendizagem Segundo McDaniel et al. (2004), o reforço e a repetição ajudam no aprendizado. O reforço ajuda porque com ele a pessoa se sente motivada a repetir ou evitar um padrão de comportamento. Corroborando o autor, Kanuk et al. (2004) afirmam que o reforço aumenta a probabilidade de que uma resposta específica irá ocorrer no futuro como resultado de sinais específicos ou estímulos. Segundo Cobra (1992), o aprendizado é importante, pois ele pode es- timular a demanda de um produto pela associação de motivação provocada pela imagem que o produto possa conferir ao usuário. Dessa forma, entende-se que a compra de um produto é a resposta à motivação, e o uso repetitivo desse produto pode gerar um reforço positivo que decorre da satisfação proporcionada. Ações concretas e oportunas são o que reforça o comportamento desejado do consumidor. Normalmente o indivíduo compra os produtos que conhece e que anteriormente lhe proporcionaram bons resultados. Dessa forma, será muito difícil arriscar- se a comprar uma marca nova ou desconhecida, apesar de existir uma probabilidade de esta ser melhor do que aquela que é habitualmente usada ou mais barata (SEABRA, 2008). O reforço pode ser positivo ou negativo. Reforço positivo é aquele que, quando apresentado o estímulo, fortalece o comportamento que o precede. O reforço negativo se dá falta negativa do comportamento ou 138 C E D E R J Comportamento do Consumidor | Aprendizagem Comente sobre os seguintes itens e sua relação com o consumo: • aprendizagem cognitiva • condicionamento clássico • condicionamento instrumental __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Comentário A aprendizagem cognitiva é aquela baseada na atividade mental e que enfatiza o papel da motivação dos processos mentais na produção de uma resposta desejada e que o tipo de aprendizagem mais característico do ser humano é a busca de soluções de problemas. Ela é mais freqüente para os produtos caros, duradouros ou para produtos comprados pela primeira vez. Enquanto não conseguimos resolver um problema, a insatisfação provoca tensão e motiva o prosseguimento da busca da resposta. O condicionamento clássico baseia-se num processo de associação entre dois estímulos, que permite a um deles receber, ao fim de várias situações repetitivas, a capacidade de provocar a resposta que o outro só se limitava a engendrar, ou seja, relaciona um estímulo com outro que já produz uma determinada resposta; serve para explicar como adquirimos os gostos e motivações e aplica-se para associar a marca com um ambiente agradável. O condicionamento instrumental requer o desenvolvimento de conexões entre estímulos e respostas e baseia-se, fundamentalmente, Atividade 2 2 da punição. Segundo McDaniel et al. (2004), sem reforço positivo ou negativo uma pessoa não será motivada a repetir ou evitar o padrão de comportamento. C E D E R J 139 A U LA 7 num comportamento a que se associa uma recompensa ou um castigo. O indivíduo deverá descobrir uma resposta apropriada ou ”correta”, que será reforçada depois. Por meio de várias intenções reforçadasaprende-se uma conexão entre o estímulo e a resposta. As experiências favoráveis darão lugar a um reforço positivo (compra do produto) e as experiências desfavoráveis darão lugar a um reforço negativo (a não compra do produto). O reforço ajuda, porque com ele a pessoa se sente motivada a repetir ou evitar um padrão de comportamento. Ele pode ser positivo, o que fortalece o comportamento que o precede, ou negativo, que se dá por meio da negativa do comportamento ou da punição. Segundo Seabra (2008), os resultados da aprendizagem advindos das ações de marketing serão distintos segundo a utilização de um es- quema clássico ou instrumental. A propaganda, por exemplo, utiliza o esquema do condicionamento clássico, e apresenta situações agradáveis não diretamente ligadas às características intrínsecas dos produtos. Por outro lado, os anúncios que explicam as características intrínsecas e próprias de tais produtos utilizam um esquema de condicionamento instrumental. A autora oferece alguns exemplos importantes, especificamente, os produtos cujas propriedades físicas não são facilmente diferenciáveis à primeira vista ou que sejam difíceis de serem explorados pela lógica funcional, como bebidas, tabaco ou perfumes. Nesse caso, é conveniente criar um condicionamento de tipo clássico, mediante associações, de forma que o indivíduo distinga essas propriedades. As bebidas alcoólicas e os perfumes constituem mercados nos quais a similitude característica dos produtos e a falta de conhecimento por parte da maioria dos consumidores para aceder à sua autêntica qualidade constituem razões suficientes para constatar a eficácia dos mundos imaginários construídos na publicidade. Ou seja, uma abordagem baseada em funcionalidade não teria a repercussão esperada, fazendo com que os profissionais prefiram desenvolver marcas baseadas em imagem ou experiência. Para produtos de alta diferenciação intrínseca (atributos intrínse- co), o condicionamento de tipo instrumental é mais fácil de aplicar, já 140 C E D E R J Comportamento do Consumidor | Aprendizagem que o indivíduo pode, mediante a prova, dar-se conta por si mesmo de que o produto que está a consumir é melhor ou pior do que os outros. O condicionamento instrumental vai produzir mudanças nas ações dos indivíduos, ou seja, o resultado direto da aprendizagem operante fará com que o indivíduo procure comprar o produto na vez seguinte ao ser reforçada a sua ação de compra. Portanto, diz Seabra (2008), se a pessoa tomar contato com as características do produto e for diretamente para uma ação de consumo, o condicionamento instrumental é mais adequado. E reforça: cada vez que o indivíduo consome, ele está reforçando o próximo uso do produto. Isso justifica a ênfase na qualidade que alguns fabricantes põem nos produtos líderes. ConClusão O aperfeiçoamento dos estudos sobre aprendizagem descortinou diversas facetas de como os indivíduos respondem aos estímulos do seu ambiente, tornando mais claro o entendimento do que seja aprender. A aprendizagem é um processo de mudança de comportamento obtido por meio da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender, por sua vez, é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente. A perspectiva de marketing diferencia-se bastante da dos profissionais da área de Educação. Estes objetivam o desenvolvimento do indivíduo em sua completude e trajetória de vida; a preocupação é processual, ou seja, com a maneira como o processo de ensino e aprendizagem ocorre, buscando aperfeiçoamentos que o tornem mais fácil e produtivo, ou, numa linguagem mais técnica, mais efetivo. Os profissionais de marketing são mais direcionados à relação entre aprender e consumir. O conhecimento dos princípios da aprendizagem serve para entender de que maneira os indivíduos geram os seus desejos e motivações e como se desenvolvem os seus gostos. Por meio da aprendizagem adquire-se a maioria das atitudes, valores, gostos, condutas, preferências, significados simbólicos e sentimentos, fatores que, como você está vendo nesta disciplina, têm bastante influência sobre o consumo. C E D E R J 141 A U LA 7 Crie uma propaganda para um determinado produto e diga se você usou um esquema de condicionamento clássico ou instrucional, justificando. _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Atividade Final 21 Dentre os diversos elementos da aprendizagem, a teoria de marketing destaca a aprendizagem cognitiva e os condicionamentos clássicos e intrumentais. A aprendizagem cognitiva é aquela baseada na atividade mental e que enfatiza o papel da motivação dos processos mentais na produção de uma resposta desejada e que o tipo de aprendizagem mais característico do ser humano é a busca de soluções de problemas. O condicionamento clássico baseia-se num processo de associação entre dois estímulos, que permite a um deles receber, ao fim de várias situações repetitivas, a capacidade de provocar a resposta que o outro só se limitava a engendrar, ou seja, relaciona um estímulo com outro que já produz uma determinada resposta. r e s u m o 142 C E D E R J Comportamento do Consumidor | Aprendizagem O condicionamento instrumental requer o desenvolvimento de cone - xões entre estímulos e respostas, baseando-se fundamentalmente num comportamento a que se associa uma recompensa ou um castigo. O indi- víduo deverá descobrir uma resposta apropriada ou ”correta”, que será reforçada depois. Por meio de várias intenções reforçadas aprende-se uma conexão entre o estímulo e a resposta. As experiências favoráveis darão lugar a um reforço positivo (compra do produto) e as experiências desfavoráveis darão lugar a um reforço negativo (a não-compra do produto).
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