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Resumo direito real

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GENERALIDADES SOBRE OS DIREITOS REAIS DE GOZO E FRUIÇÃO
Ao contrário da propriedade plena, em que está presente o ius in re propria (direito sobre coisa própria), nos direitos reais ora em estudo há o ius in re aliena (direito sobre coisa alheia).
Como bem leciona Clóvis Beviláqua, os direitos reais de gozo e fruição estão submetidos a três regramentos fundamentais: a) os direitos reais sobre imóveis constituem-se e transmitem-se, entre vivos, por escritura pública e registro imobiliário; b) os direitos reais aderem ao imóvel nas mutações da propriedade; c) os direitos reais sobre móveis, quando constituídos ou transmitidos por ato entre vivos, só se adquirem pela tradição, entrega da coisa (BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das coisas..., v. I, p. 269-270).
São direitos reais de gozo ou fruição tipificados pelo art. 1.225 do Código Civil de 2002:
A superfície (inciso II).
As servidões (inciso III).
O usufruto (inciso IV).
O uso (inciso V).
A habitação (inciso VI).
A concessão de uso especial para fins de moradia (inciso XI).
A concessão de direito real de uso (inciso XII).
DA SUPERFÍCIE
Conceito, partes e estrutura. Código Civil de 2002 versus Estatuto da Cidade.
CC -}1.369 a 1377.
Estatuto da Cidade -}arts. 21 a 24 da Lei 10.257/2001.
O direito real de superfície surgiu para substituir a enfiteuse, banida pela nova codificação, nos termos do art. 2.038 do CC/2002, Quando do surgimento do instituto, nos anos iniciais do Código Civil, apontava-se que a superfície seria bem mais vantajosa do que a enfiteuse, pelas diferenças marcantes entre os institutos. Primeiro, porque a superfície pode ser gratuita ou onerosa, enquanto a enfiteuse era sempre onerosa. Segundo, pois a superfície é temporária ou não, enquanto a enfiteuse é necessariamente perpétua, o que era uma grande desvantagem, pois a perpetuidade não é mais marca dos novos tempos. Terceiro, porque na enfiteuse havia a condenável figura do laudêmio, não presente na superfície.
Conceito: A superfície é o instituto real pelo qual o proprietário concede a outrem, por tempo determinado ou indeterminado, gratuita ou onerosamente, o direito de construir ou plantar em seu terreno. Tal direito real de gozo ou fruição recai sempre sobre bens imóveis, mediante escritura pública, devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Essa é a ideia constante do art. 1.369 do CC/2002. A escritura pública somente será necessária para as constituições nos casos de imóveis com valor superior a trinta salários mínimos, nos termos do art. 108 da mesma codificação material. 
Sujeitos: O primeiro deles é o proprietário, também denominado fundieiro, aquele que cede o uso do bem imóvel a outrem. Na outra ponta da relação jurídica está o superficiário, que recebe a coisa para a realização de construções e plantações, tendo os atributos de usar e gozar do bem imóvel.
Rodrigo Reis Mazzei: “o direito de superfície pode ser conceituado como direito real complexo e autônomo, de ter temporariamente construção e/ou plantação em imóvel alheio, conferindo ao titular os poderes de uso, gozo e disposição sobre os implantes.”
Na superfície a divisão de dois patrimônios distintos entre as partes, sobre os quais recaem encargos e ônus autônomos. Limita-se, assim, a responsabilidade do superficiário às obrigações, encargos e tributos vinculados exclusivamente à edificação e aos negócios nela explorados e a responsabilidade do proprietário aos encargos, tributos e obrigações vinculados ao terreno, sendo incomunicáveis os patrimônios assim formados.
O Novo Código de Processo Civil, por sugestão de Rodrigo Mazzei, passou a admitir a penhora fracionada sobre os direitos do proprietário-fundieiro e do superficiário ( art. 791, caput).
Enunciado n. 93 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil (2002): “As normas previstas no Código Civil sobre o direito de superfície não revogam as normas relativas a direito de superfície constantes do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), por ser instrumento de política de desenvolvimento urbano”. Tartuce segue esse posicionamento.
	Direito de superfície CC 2002
	Direito de superfície do Estatuto da Cidade
	Imóvel urbano ou rural.
	Imóvel urbano
	Exploração mais restrita: construções e plantações.
	Exploração mais ampla: qualquer utilização de acordo com a política urbana.
	Exploração mais ampla: qualquer utilização de acordo com a política urbana.
	Em regra, é possível utilizar o subsolo ou o espaço aéreo.
	Cessão somente por prazo determinado.
	Cessão por prazo determinado ou indeterminado.
Regras fundamentais a respeito do direito real de superfície
Apesar da clareza do dispositivo do Código Civil, alguns estudiosos entendem que mesmo a superfície submetida a essa norma deve abranger o uso do solo e do subsolo. Nesse sentido, o Enunciado n. 568, aprovado quando da VI Jornada de Direito Civil (2013), in verbis: “O direito de superfície abrange o direito de utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo relativo ao terreno, na forma estabelecida no contrato, admitindo-se o direito de sobrelevação, atendida a legislação urbanística”. Assim, entendeu-se que é possível afastar, por força do contrato, a norma do parágrafo único do art. 1.369 do CC, considerada como preceito de ordem privada.
Enunciado n. 249 do CJF/STJ, da III Jornada de Direito Civil (2004), que “A propriedade superficiária pode ser autonomamente objeto de direitos reais de gozo e de garantia, cujo prazo não exceda a duração da concessão da superfície, não se lhe aplicando o art. 1.474”. Ilustrando, é possível hipotecar o direito do superficiário pelo prazo de vigência do direito real. O enunciado doutrinário foi aprovado em momento anterior à alteração do art. 1.473 do CC/2002 pela Lei 11.481/2007, que introduziu expressamente a possibilidade de hipoteca sobre a propriedade superficiária (inc. X).
Pelo mesmo raciocínio, é perfeitamente possível adquirir por usucapião o direito à superfície, se houver interesse do usucapiente, assim como ocorre com outros direitos reais de gozo, caso das servidões. Esse, aliás, parece ser o entendimento majoritário da doutrina, que deve ser seguido, apesar de resistências.
Em sentido contrário, o entendimento de Gustavo Tepedino, Maria Celina Bodin de Moraes e Heloísa Helena Barboza, para quem “não seria possível usucapir, na prática, o domínio sobre a construção ou plantação desvinculado do domínio da propriedade.”
O superficiário deve zelar pelo imóvel como se fosse seu, respondendo pelos encargos e tributos que incidem sobre o bem (art. 1.371 do CC). Em sentido próximo, estabelece o art. 21, § 3.º, do Estatuto da Cidade que “O superficiário responderá integralmente pelos encargos e tributos que incidirem sobre a propriedade superficiária, arcando, ainda, proporcionalmente à sua parcela de ocupação efetiva, com os encargos e tributos sobre a área objeto da concessão do direito de superfície, salvo disposição em contrário do contrato respectivo”.
Enunciado n. 94 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil: “As partes têm plena liberdade para deliberar, no contrato respectivo, sobre o rateio dos encargos e tributos que incidirão sobre a área objeto da concessão do direito de superfície”.
Permite-se a transmissão da superfície por ato inter vivos ou evento mortis causa, o que demonstra que o instituto não é personalíssimo (intuitu personae), ao contrário do que ocorre com o usufruto.
(art. 1.373 do CC e art. 22 do Estatuto da Cidade) Direito de preferência. Enunciado aprovado na V Jornada de Direito Civil, evento promovido pelo Conselho da Justiça Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em 2011: “Ao superficiário que não foi previamente notificado pelo proprietário para exercer o direito de preferência previsto no art. 1.373 do CC, é assegurado o direito de, no prazo de seis meses, contado do registro da alienação, adjudicar para si o bem mediante depósito do preço” (Enunciado n. 510). A única ressalva a fazer ao enunciado é que ele deveria mencionar o prazo de 180 dias, e não seis meses.
Da extinçãodo direito real de superfície e suas consequências
Vencido o prazo estipulado pelas partes, o negócio jurídico celebrado é reputado extinto automaticamente, sem a necessidade de notificação do superficiário. Caso a coisa não seja devolvida, o fundieiro proprietário poderá ingressar com a ação de reintegração de posse em face do superficiário, demanda que sempre é cabível nos casos de superfície.( art. 23, inc. I, do Estatuto da Cidade é implícito ao art. 1.374)
A superfície pode extinguir-se antes do termo final se o superficiário der ao terreno destinação diversa daquela para a qual lhe foi concedida (art. 1.374 do CC/2002 e art. 24, § 1.º, da Lei 10.257/2001). As regras tratam do inadimplemento do negócio superficiário, quando a parte desrespeita a lógica do ato de constituição, dando ao bem uma finalidade que não foi prevista pelas partes. Ilustrando, as partes fixaram que o imóvel deveria ser utilizado para plantações e o superficiário realiza construções, violando aquilo que foi pactuado.
A superfície fixada por prazo indeterminado, nos termos do Estatuto da Cidade, também pode ser extinta pela resilição, aplicando-se, por analogia, a regra do art. 473 do Código Civil.
A extinção da superfície também pode decorrer do distrato entre as partes e da consolidação, fusão, na mesma pessoa, das qualidades de fundieiro e superficiário.
Maria Helena Diniz menciona a extinção da superfície pela renúncia do superficiário, o que parece ser outra hipótese de resilição unilateral. Outras três hipóteses mencionadas pela jurista, e que devem ser consideradas, são: a) pelo perecimento do terreno gravado; b) pelo não uso do direito de construir ou de plantar dentro do prazo acordado; c) pelo falecimento do superficiário, sem deixar ele herdeiros.
Desapropriação do terreno sobre o qual recaiu o direito real de gozo ou fruição. Determina o art. 1.376 do CC/2002 que, em casos tais, a indenização cabe ao proprietário e ao superficiário no valor correspondente ao direito de cada um.
Com a extinção da superfície, o proprietário passa a ter a propriedade plena sobre o terreno; o que inclui a construção, ou a plantação, as acessões e as benfeitorias, independentemente de indenização, se as partes não estipularem o contrário (art. 1.375 do CC e art. 24, caput, do Estatuto da Cidade). Tal situação é denominada pela doutrina como reversão
	Órgão:
	5ª Turma Cível
	Processo N.:
	Agravo de Instrumento 20130020274956AGI
	Agravante(s):
	SUELENE DIAS DE VASCONCELOS
	Agravado(s):
	SUELI ALEXANDRE E SILVA E OUTROS
	Relator:
	Desembargador JOÃO EGMONT
	Acórdão Nº:
	781.347
E M E N T A
PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INVENTÁRIO E PARTILHA. DIREITO DE SUPERFÍCIE. TRANSMISSIBILIDADE. CÓDIGO CIVIL E ESTATUTO DA CIDADE (ART. 21). COMPROVAÇÃO. ESCRITURA PÚBLICA.
1. Agravo de instrumento tirado contra interlocutória proferida em sede de inventário e partilha, que determinou a exclusão de bem denominado Chácara Menino Jesus 123, Setor P Norte – Ceilândia/DF, diante da informação, prestada pela TERRACAP, quanto à impossibilidade da escrituração do imóvel em nome do espólio de Odilon Alves, haja vista não ter sido firmado contrato de concessão de uso junto à extinta Fundação Zoobotânica do Distrito Federal. 
2. Destarte, uma das principais marcas do direito de superfície é sua transmissibilidade, por ato inter vivos, oneroso ou gratuito, ou causa mortis. 2.1 Todavia, apesar de o direito de superfície, entendido como sendo direito real de ter construção ou plantação em solo alheio, ser passível de transmissão aos herdeiros, por morte do superficiário (art. 1.372 do CCB), a forma legal de instituição do referido instituto é por meio de escritura pública (arts. 21 do Estatuto da Cidade e 1.369 do CC/2002). 2.2 No mesmo sentido, o art. 21, da Lei 10.257/2001(Estatuto da Cidade), prescreve que “o proprietário urbano poderá conceder a outrem o direito de superfície do seu terreno, por tempo determinado ou indeterminado, mediante escritura pública registrada no cartório de registro de imóveis”.
3. Inviável cogitar-se de transmissibilidade, aos herdeiros, de direito de superfície não instituído regularmente por meio de instrumento público, em razão de o imóvel seja objeto de parcelamento irregular.
4. Agravo improvido.
DAS SERVIDÕES
Prédio serviente- prédio que sofre a servidão.
Prédio dominante- prédio que se aproveita.
Conceito, características, constituição e institutos afins.
Por meio desse instituto real, um prédio proporciona utilidade a outro, gravando o último, que é do domínio de outra pessoa. Em suma, a servidão reapresenta um tapete de concessão em benefício de outro proprietário, simbologia que serve como luva para representar a servidão de passagem, sua situação mais comum.
Características:
Predialidade – como exposto, só se admitem servidões sobre prédios, ou seja, sobre bens imóveis corpóreos, excluindose os bens móveis e imateriais.
Acessoriedade – as servidões não podem existir sozinhas, havendo necessidade de um prédio sobre o qual recaem.
Ambulatoriedade – a servidão acompanha o prédio no caso de sua transmissão.
Indivisibilidade – a servidão não se adquire nem se perde por partes, como regra, sendo indivisível (servitutes dividi no possunt). A regra, prevista pelo art. 1.386 do CC, comporta exceção, como se verá.
Perpetuidade – no sentido de não se poder estabelecer uma servidão por tempo determinado. Ressalte-se que a presente característica não afasta a possibilidade de extinção da servidão.
Nulli res sua servit – não existe servidão sobre a própria coisa de alguém. 
Servitus in faciendo consistere nequit – a servidão não sujeita a pessoa, mas a coisa.
 Servitus servitutis non potest – não se admite a subservidão, a servidão da servidão ou servidão de segundo grau. 
Praedia debent esse vicina – em princípio, os prédios relativos à servidão devem ser vizinhos, havendo uma relação jurídica de interferência entre eles. Relembre-se, na linha do exposto no Capítulo 4 desta obra, que prédios vizinhos não são necessariamente contíguos. 
Servitutum numerus no est clausus – não há que se falar de enquadramento da servidão em relação taxativa, diante das várias formas que a figura pode assumir no plano concreto.
A servidão não se presume, outra característica fundamental, podendo ter as mais variadas origens de constituição.
De início, a servidão pode decorrer de negócio jurídico inter vivos ou mortis causa, nos termos do citado art. 1.378 do Código Civil. Em suma, institui-se o direito real por contrato ou testamento, devidamente registrado no Cartório de Registro de Imóveis. Deve ficar claro que o termo contrato deve ser entendido como instrumento e não como categoria.
Estabelece o caput do art. 1.379 do Código Civil que o exercício incontestado e contínuo de uma servidão aparente, por dez anos, nos termos do art. 1.242, autoriza o interessado a registrá-la em seu nome no Registro de Imóveis, valendo-lhe como título a sentença que julgar consumada a usucapião (usucapião ordinária de servidão).
Porém, nos termos do seu parágrafo único, se o possuidor não tiver título, o prazo da usucapião será de vinte anos (usucapião extraordinária de servidão). Como se pode notar, o CC/2002 consagra um prazo de vinte anos para a usucapião extraordinária de servidão, superior ao maior prazo previsto para a usucapião extraordinária, qual seja, o prazo de quinze anos da modalidade extraordinária (art. 1.238, caput, do CC). CONTRADIÇÃO NO TEMPO.
“o proprietário, em caráter permanente (perpetui usus causa), reserva determinada serventia, de prédio seu, em favor de outro. Se, futuramente, os dois imóveis passam a pertencer a proprietários diversos, a serventia vem a constituir servidão” Trata-se, assim, de uma instituição que decorre de ato unilateral.
É possível que a servidão decorra de sentença judicial, prolatada em ação confessória, demanda que visa a declarar a prevalência ou não do direito real. A ação confessória é cabível quando estão presentes duas ordens de lesõesà servidão. A primeira ordem é relativa à lesão que suprime totalmente o exercício, como quando o possuidor do prédio gravado impede a tirada de água. A segunda ordem está relacionada a simples perturbações do direito, como na hipótese de o dono do prédio serviente viciar a fonte de água.
É cabível a ação negatória de servidão, por parte do proprietário do pretenso imóvel serviente, que quer afastar o direito alheio. Essa ação também deve seguir o procedimento comum constante do Novo CPC.
Cumpre confrontar a servidão com institutos afins. Inicialmente, repise-se que a servidão não se confunde com a passagem forçada. A servidão é facultativa, não sendo obrigatório o pagamento de uma indenização. A passagem forçada é compulsória, assim como é o pagamento da indenização. A servidão é direito real de gozo ou fruição. A passagem forçada é instituto de direito de vizinhança, presente somente na situação em que o imóvel encravado não tem saída para a via pública (art. 1.285 do CC/2002). A servidão envolve os imóveis dominante e serviente; na passagem forçada estão presentes o imóvel encravado e o serviente. Na servidão cabe a citada ação confessória; na passagem forçada, para a defesa do direito, a ação cabível é denominada ação de passagem forçada.
Principais classificações das servidões
Classificação quanto à natureza dos prédios envolvidos:
Servidão rústica – em casos de prédios localizados fora de área urbana, ou seja, em terreno rural. Exemplos: servidão para tirar água, para condução de gado, de pastagem, para tirar areia ou pedras.
Servidão urbana – se o imóvel estiver localizado em área urbana. Exemplos: servidão para escoar água da chuva, para não impedir a entrada de luz, para passagem de som, para usufruir de vista ou de janela.
Classificação quanto às condutas das partes:
Servidão positiva – exercida por ato positivo ou comissivo por parte do proprietário do prédio dominante. Exemplo: servidão de passagem ou trânsito.
Servidão negativa – decorre de ato omissivo ou abstenção do prédio serviente. Exemplo: servidão de não construir edificação no terreno.
Classificação quanto ao modo de exercício:
Servidão contínua – aquela que é exercida independentemente de ato humano. Exemplos: servidão de passagem de som, de imagem, de energia, de luz. Ressalte-se que a doutrina clássica sempre citou, aqui, o exemplo da passagem de água. Porém, como visto e em regra, o regime da passagem de cabos e tubulações passou a se enquadrar no regime de passagem forçada, pelo que consta do art. 1.286 do Código Civil de 2002.
Servidão descontínua – depende da atuação humana de forma sequencial, com intervalos. Exemplos: servidão de passagem ou trânsito de pessoas, servidão para tirar água de terreno alheio, servidão de pastagem.
Classificação quanto à forma de exteriorização:
Servidão aparente – está evidenciada no plano real e concreto, havendo sinal exterior (visível a olho nu). Exemplos: servidão de passagem ou trânsito, servidão de imagem, servidão de vista (através da janela).
Servidão não aparente – aquela que não se revela no plano exterior, não perceptível a olho nu. Exemplos: servidão de não construir, servidão de não passar por determinada via, servidão de não abrir janela e a servidão de caminho, que consiste em transitar pelo prédio alheio, sem que haja marca visível
Servidão aparente contínua – servidão de passagem de som, como os vãos em muros que podem ser percebidos na chegada da cidade de São Paulo, pela rodovia dos Bandeirantes.
Servidão aparente descontínua – servidão de trânsito de pessoas, um dos casos mais corriqueiros de servidão. 
Servidão não aparente contínua – servidão de energia solar, sem qualquer obra aparente. 
Servidão não aparente descontínua – servidão de não construir
Súmula 415 do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual “Servidão de trânsito, não titulada, mas tornada permanente pela natureza das obras, considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória”. Em suma, somente a servidão aparente propicia a proteção possessória, o que não alcança a servidão não aparente, como regra.
Do exercício das servidões
Caso o dono do imóvel serviente impeça a realização de tais obras necessárias, são cabíveis medidas para forçar a aplicação do comando. Ilustrando, “a criação de obstáculos ao ingresso na propriedade serviente para adoção de medidas de conservação, conforme prevê o art. 1.380 do CC/2002, diante de erosão do solo a ameaçar torres de energia elétrica, configura esbulho possessório, autorizando a concessão da reintegração de posse de interesse”.
Igualmente, tem-se concluído pela possibilidade de ação de manutenção de posse, desde que a servidão seja aparente, no caso de desrespeito à regra em comento.
No artigo 1380, a divisão igualitária e proporcional das despesas remonta ao concursu partes fiunt do Direito das Obrigações, constante do art. 257 do Código Civil.
Nos termos do art. 1.382 do Código Privado, se a obrigação referente às obras incumbir ao dono do prédio serviente, por convenção entre as partes, este poderá exonerar-se, abandonando, total ou parcialmente, a propriedade ao dono do dominante.
Segundo bem aponta a doutrina nacional, trata-se de hipótese de abandono liberatório da propriedade, em favor de determinada pessoa, no caso, em benefício do proprietário do imóvel dominante, e somente dele. Conforme se depreende dessa mesma doutrina, tal abandono configura característica típica de uma obrigação ambulatória ou propter rem, seguindo a coisa com quem quer que ela esteja.
Em caso de incômodo no exercício da servidão, dono do prédio dominante poderá fazer uso das ações possessórias, caso da ação de interdito proibitório e da ação de reintegração de posse, desde que a servidão seja aparente como regra, nos termos do art. 1.213 do CC. Tal conclusão não afasta a possibilidade da ação de obrigação de fazer e de não fazer.
Art. 1.385 do Código Civil- o dispositivo consagra os seguintes preceitos específicos, nos seus parágrafos, que afastam interpretações extensivas a respeito das servidões:
Constituída para certo fim, a servidão não se pode ampliar a outro. Exemplo: se a servidão é para pastagem de gado, não pode incluir a cultura agrícola no mesmo campo rural. Ou ainda, se a servidão é de passagem de água de chuva, não é possível também passar a água de esgoto.
Nas servidões de trânsito, a de maior inclui a de menor ônus, e a menor exclui a mais onerosa. Exemplos: se a servidão é de passagem de carros, inclui a passagem de pessoas, motos e bicicletas. Todavia, a recíproca não é verdadeira. Uma passagem de motos e bicicletas não inclui a passagem de carros.
Se as necessidades da cultura, ou da indústria, do prédio dominante impuserem à servidão maior largueza, o dono do serviente é obrigado a sofrê-la; mas tem direito a ser indenizado pelo excesso. Assim, imagine-se que a servidão foi imposta para passagem de animais de menor porte, inicialmente. Todavia, o dono do imóvel dominante passa a ter uma atividade relativa a animais maiores. O dono do imóvel serviente é obrigado a tolerá-lo, tendo direito, porém, a uma indenização pela tolerância. A norma tende a conservar a servidão, dentro de suas possibilidades e de acordo com a função social da posse e da propriedade.
Art.1386. Ilustrando, imagine-se que um imóvel serviente tem a restrição de servidão de passagem apenas no seu lado direito. Se esse imóvel for dividido em duas partes, entre dois herdeiros, apenas o proprietário da parte direita terá a restrição, não o dono da parte esquerda.
Da extinção da servidão
Extinção por renúncia do proprietário do imóvel dominante:
art. 1.388, inc. I. cabendo ao dono do prédio serviente o direito de pleitear por meios judiciais o cancelamento do registro, embora o dono do prédio dominante impugne.
Extinção pela cessação da utilidade ou comodidade da servidão:
art. 1.388, inciso II. Cabendo o pedido judicial ao dono do imóvel serviente e posterior cancelamento registral. Trata-se de hipótese de fim da causa da servidão, ou desaparecimentode sua função social.
Extinção pelo resgate da servidão por parte do dono do prédio serviente:
art. 1.388, inc. III, da codificação material, mais uma vez se houver pedido judicial do proprietário do imóvel serviente e cancelamento do registro.
Extinção pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma pessoa:
Trata-se de hipótese de confusão real, quando, na mesma pessoa, confundem-se as qualidades de proprietário do imóvel dominante e serviente (art. 1.389, inc. I, do CC).
A confusão pode decorrer de ato inter vivos ou evento mortis causa. Assim, imagine-se a situação em que o proprietário do imóvel serviente adquire o imóvel dominante e vice-versa. Ou, ainda, o proprietário do imóvel serviente é único herdeiro do dono do imóvel dominante, recebendo o bem como herança, pelo falecimento do último.
Extinção pela supressão das respectivas obras por efeito do contrato ou de outro título expresso
Extinção pelo não uso pelo prazo de dez anos contínuos
Trata-se do desuso da servidão, presumindo-se pelo tempo a sua inutilidade. Diante da lógica adotada pelo Código Civil, o prazo citado é decadencial e não prescricional.
Extinção da servidão por desapropriação dos imóveis envolvidos
DO USUFRUTO
Conceito, partes, estrutura interna e figuras afins:
Como define Clóvis Beviláqua, “o usufruto é o direito real, conferido a alguma pessoa, durante certo tempo, que a autoriza a retirar, de coisa alheia, frutos e utilidades, que ele produza” (Direito das coisas..., v. 1, p. 309).
Como primeira parte, há o usufrutuário que, como o próprio nome já diz, tem os atributos de usar (ou utilizar) e fruir (ou gozar) a coisa.
	
Quem pode ingressar com a ação reivindicatória da coisa em usufruto? Somente o nu-proprietário.
O usufrutuário pode vender o bem? A resposta é, mais uma vez, negativa. Isso porque somente o nu-proprietário pode fazêlo, por ter o atributo de disposição ou alienação.
Principais classificações do usufruto
Classificação quanto ao modo de instituição ou quanto à origem.
O usufruto será legal quando decorre da norma jurídica e não da vontade das partes, sendo desnecessário o seu registro no Cartório de Registro de Imóveis, conforme consta expressamente do art. 167, I, n. 7, da Lei 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos).
Como primeiro exemplo de usufruto legal, cite-se o usufruto dos pais sobre os bens dos filhos menores (art. 1.689, inc. I, do CC/2002). Cumpre destacar que o art. 1.693 da própria codificação material exclui de tal usufruto alguns bens, a saber: a) os bens adquiridos pelo filho havido fora do casamento, antes do reconhecimento; b) os valores auferidos pelo filho maior de dezesseis anos, no exercício de atividade profissional e os bens com tais recursos adquiridos; c) os bens deixados ou doados ao filho, sob a condição de não serem usufruídos, ou administrados, pelos pais; d) os bens que aos filhos couberem na herança, quando os pais forem excluídos da sucessão.
usufruto voluntário ou convencional, aquele que decorre do exercício da autonomia privada, podendo ter origem em testamento ou em contrato, como é o caso da doação.
O usufruto convencional deducto geralmente é utilizado como forma de planejamento sucessório. Assim, é comum na prática, no caso de falecimento de um dos cônjuges que possuem relevante patrimônio imobiliário, dividir os imóveis em lotes, que serão escolhidos ou sorteados entre os filhos, a quem se atribui a nua propriedade, dividida de forma equânime e nos limites da proteção da legítima.
 usufruto misto, aquele que decorre de usucapião, como bem aponta Maria Helena Diniz (Curso..., 2009, v. 4, p. 437). Como leciona a jurista, o prazo para a usucapião do usufruto deve ser o mesmo previsto para a usucapião ordinária (dez anos) ou extraordinária (quinze anos), o que depende ou não da presença do justo título e da boa-fé. Ressalte-se que o art. 1.391 do CC/2002 reconhece expressamente a possibilidade de se adquirir o usufruto por usucapião, não havendo o mesmo debate doutrinário existente em relação à superfície. De toda sorte, raras são as suas situações concretas.
Classificação quanto ao objeto que recai
o usufruto próprio ou regular é aquele que recai sobre bens infungíveis e inconsumíveis. Ao final, o usufrutuário deve restituir os bens que recebeu.
usufruto impróprio, irregular ou quase usufruto recai sobre bens fungíveis e consumíveis. O usufrutuário se torna proprietário da coisa, podendo aliená-la a terceiros ou consumi-la. Por razões óbvias, ao final do usufruto, deverá ser restituído o equivalente à coisa, aplicando-se as mesmas regras do mútuo, conforme determina o art. 1.392, § 1.º, do CC/2002. Pelo comando citado, não sendo possível devolver coisa do mesmo gênero, caberá a restituição em dinheiro.
Classificação quanto à extensão
usufruto total ou pleno é aquele que abrange todos os acessórios da coisa e os seus acrescidos, o que constitui regra, salvo previsão em contrário (art. 1.392, caput, do CC). Trata-se de uma decorrência natural do princípio da gravitação jurídica, segundo o qual o acessório segue o principal. A título de exemplo, o usufruto sobre o apartamento abrange a vaga de garagem. Todavia, entende o STJ que, se a vaga de garagem tiver matrícula própria, havendo uma atribuição própria na fração ideal, não se aplica tal premissa, pois não há relação de acessoriedade.
o usufruto parcial ou restrito tem seu conteúdo delimitado na instituição, podendo não abranger todos os acessórios da coisa objeto do instituto. A própria lei estabelece exceções à regra do usufruto total nos parágrafos do art. 1.392 do CC/2002.
Classificação quanto à duração
Se for usufrutuária a pessoa jurídica, seu termo máximo de duração será de trinta anos, conforme o art. 1.410, inc. III, do CC/2002.
Usufruto vitalício está presente caso seja estipulado a favor de pessoa natural, sem previsão de prazo ou termo final, ocasião em que é considerado como vitalício e se extingue com a morte do usufrutuário (arts. 1.410, inc. I, e 1.411 do CC/2002).
Deve-se atentar ao fato de que a morte do nu-proprietário não é causa de extinção do usufruto, transmitindo-se tal qualidade aos seus herdeiros.
Regras fundamentais relativas ao usufruto. A questão da inalienabilidade do direito real
Além do usufruto decorrente de usucapião –, em havendo usufruto legal, caso dos decorrentes de Direito de Família, não há necessidade de tal registro, conforme consta expressamente do art. 167, I, n. 7, da Lei 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos). Nos casos de usufruto convencional antes expostos, o registro imobiliário é fundamental.
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