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Curso de Bacharelado em Direito MEIO AMBIENTE DO TRABALHO Muriaé-MG 19 de Maio de 2018 Curso de Bacharelado em Direito MEIO AMBIENTE DO TRABALHO Trabalho apresentado à unidade de ensino Bacharelado do Curso de Direito da UNIFAMINAS, como requisito parcial a sua integralização. Prof(a).: Henrique Tavares Acadêmico (a): Ana Gabriela Ferreira, Beatriz Quintão, Geraldo Mateus Lourenço, Gustavo Junior, Hariadne Melato, Júlia Roriz, Laryssa Ferreira. Período: 9º Turma: B Muriaé-MG 19 de Maio de 2018 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................……..................... 02 2 HISTÓRICO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO ATÉ OS DIAS ATUAIS..............................................................................................….............. 03 2.1 Convenções da OIT………………………………………….. 06 3 EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO AO TRABALHADOR NO BRASIL………... 10 4 CONCEITO DE SAÚDE E SAÚDE NO TRABALHO................................... 15 5 PRINCÍPIOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO..……………............. 16 6 FISCALIZAÇÃO E SUA COMPETÊNCIA.......................…......................... 18 7 OBRIGAÇÕES DA EMPRESA E DO EMPREGADO.................................. 21 8 O QUE É CIPA?......................…..……………………………........................ 23 8.1 Funções da CIPA...............……….………............................... 25 8.2 Composição da CIPA.........…………...................................... 26 8.3 Direito dos empregados participantes................................. 27 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 30 REFERÊNCIAS................................................................................................... 31 2 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho trata da temática envolvendo o meio ambiente do trabalho. Entende-se como meio ambiente do trabalho o local onde são realizadas as atividades laborais. Este ambiente deve proporcionar ao trabalhador condições dignas para a realização do trabalho bem como não deve representar perigo a saúde física e mental do trabalhador. No capítulo dois deste trabalho faz-se uma investigação histórica de onde se deu as primeiras preocupações com relação as condições de trabalho que culminou em consideráveis avanços nesta área. Faz-se também, uma análise do surgimento da OIT bem como dos significativos avanços que esta instituição trouxe através de suas convenções. No capítulo três faz-se uma análise local dos históricos avanços das condições de trabalho no Brasil. No quarto capítulo aborda-se a temática da saúde aplicada ao trabalho. São alvos de nossas pesquisas ainda o conceito de saúde, saúde no trabalho e dos princípios do meio ambiente do trabalho, que são expostos e analisados no capítulo quinto da presente pesquisa. Por fim, nos últimos dois capítulos deste trabalho foram investigadas as obrigações da empresa e do empregado no que tange as orientações de segurança e prática laboral, bem como analisa-se a CIPA. Sua composição, suas funções, e os direitos dos empregados participantes da convenção. 3 2 HISTÓRICO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO ATÉ OS DIAS ATUAIS O trabalho é inerente ao homem, tanto que o homem primitivo procurou continuamente maneiras de satisfazer suas necessidades desde a antiguidade, como satisfazer sua fome, proteger-se e defender-se através de alguma forma de trabalho. Assim, pode-se enfatizar que o trabalho é tão antigo quanto o homem, que usou suas mãos como um instrumento de luta pela sobrevivência. É cediço que atualmente, o trabalhador, por muitas vezes passa mais tempo no ambiente de trabalho que em sua residência, sendo portando necessário que o ambiente de trabalho seja saudável adequado seguro e digno. Quando o homem começou a se reunir em tribos, a luta pelo poder e a dominação começou, onde os perdedores se tornariam prisioneiros, criando assim a escravidão, caracterizado pela subordinação sem pagamento ou dia de trabalho determinado, sendo tratado como mercadoria. A mesma condição surge no período feudal, mas os senhores feudais forneciam aos seus servos, que não eram livres, proteção política e militar em troca do trabalho. No final da Idade Média, onde os artesãos trabalhavam de forma independente e vendiam suas mercadorias, dessa forma o trabalhador foi caracterizado como uma pessoa, embora com direitos muito limitados, com jornadas de trabalho ultrapassando 18 horas por dia, e mulheres e crianças exploradas, com condições de trabalho muitas vezes perigosas e insalubres. Os Romanos foram os primeiros a perceberem que havia uma correlação entre o trabalho e as doenças. Observou-se o aparecimento de doenças em trabalhadores que lidavam com enxofre e minério, sendo que em 1556 foi publicado o primeiro tratado sobre mineração de autoria do médico alemão Georgius Agrícola, relatando o aparecimento de doenças entre os mineiros (doenças oculares, de junta 4 e de pulmão), indicando à necessidade de prevenção. Um acontecimento importante dessa evolução foi a publicação, em 1700, do médico Bernadino Ramazzini De Morbis Artificum Diatriba, traduzido sob o título As doenças dos trabalhadores, pesquisa que aprofundou na realidade laborativa de inúmeros trabalhadores. Os aprendizes que trabalhavam nas oficinas de artesanato deviam obediência aos seus mestres, e ao final de sua aprendizagem, um deles permanecia ligado ao seu mestre. Do impasse, no qual os aprendizes mal atingiram o status de mestre, nasceu a “compagnonnagem”, que pode ser identificada como o embrião que forma o presente movimento sindical; sendo as corporações de ofício praticamente extintas com a Revolução Francesa e a “Lei Chapelier”, esta lei proibia qualquer grupo, coalizão ou reunião pacífica, porque não era do interesse do estado que essas pessoas se reunissem por causa da forma política que tais movimentos poderiam obter " Assim começa o liberalismo, onde o estado é o menos ativo nas relações econômicas. Com o crescimento das cidades, a expansão do comércio e o crescente uso de máquinas a vapor, máquinas de tecelagem e teares, a industrialização começou a crescer, levando a uma expansão de empresas e formas de produção cada vez mais rápidas. Apesar deste desenvolvimento aparente, a comunidade dos trabalhadores percebeu, rapidamente, a fragilidade da sua saúde, uma vez que o foco era os crescentes lucros e o avanço do capitalismo, colocando os trabalhadores em condições de miserabilidade, sem o mínimo de proteção, sofrendo com moléstias decorrentes do trabalho, que em alguns casos resultava em mutilações e mortes. Em 1908, surge, então, a primeira lei protetiva chamada “Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”, impondo limitação da jornada, a proibição do trabalho noturno e estipulava ações de higiene no local de trabalho. A chamada “Encíclica” do Papa Leão XIII Surge, no século XIX, estimulando na sociedade o sentido da Justiça Social, cujo escopo era incentivar os legisladores o respeito à proteção, indicando a 5 necessidade de criação de normas contra os patrões que submetessem seus empregados a condições indignas e subumanas. Após longo período de deterioração das condições dignas de trabalho, e diante da crescente e irreversível indignação dos operários, após a Primeira Grande Guerra fora realizada a Conferência da Paz, em 1919, que, por intermédio do Tratado de Versailles, restou criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cujo objetivo foi uniformizaro tratamento das questões trabalhistas, com foco na Justiça Social. Com a criação da OIT surgem os primeiros avanços na medicina do trabalho, uma vez que se tornava cada vez mais necessária a participação dos médicos nos processos seletivos dos trabalhadores, bem como incrementou-se a atividade do profissional de saúde na busca da recuperação dessa força de trabalho, já que se passou a perceber, principalmente diante do método do fordismo, que seria necessário o trabalhador sadio, produtivo e com baixo índice de faltas. Nessa época, a figura do médico era o foco da intervenção empresarial, porquanto este profissional se destinava a atuar nos casos de enfermidade sem a preocupação, contudo, com os motivos que resultaram naquela enfermidade. O trabalhador era agraciado apenas com a disponibilização de um médico para administrar os resultados danosos em seu labor, já que o profissional de medicina não possuía autonomia para interferir no processo de produção, muito menos na eliminação dos fatores de risco. No Brasil, a atuação dos serviços médicos nas empresas surge de forma obrigatória apenas por intermédio da Portaria do Ministério do Trabalho n.° 3.237/72, ainda assim, de acordo com o número de empregados e os riscos da atividade. Muito embora a atuação do médico tenha representado considerável avanço nas condições de trabalho e verdadeiro beneficio em busca da melhora da condição social, percebeu-se que não só a disponibilização do profissional de saúde representava a real necessidade da comunidade laborativa, compreendendo-se que era imperiosa a evolução desses direitos em busca da plena saúde ocupacional, com atuação não só no tratamento das enfermidades, como também na prevenção e na evolução do próprio ambiente de trabalho. 6 Há que se registrar que tais preceitos surgem na própria Declaração Universal do Direitos Humanos, ao enumerar princípios de criação de normas jurídicas, ressaltando o direito à vida, à liberdade e à dignidade humana. Não por outra razão, o seu art. XXIII estabelece que “todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, as condições justas e favoráveis de trabalho (...), e seu art. XXIV registra o direito ao repouso, à limitação de horas de trabalho e a férias periódicas. Nada obstante, tais movimentos indicativos de avanços de direitos, tímidas foram as iniciativas governamentais com foco nessa proteção, o que resultou na insatisfação e fortes reivindicações trabalhistas. Em 1970 foi promulgada na Itália a lei intitulada Statuto dei Dirilli dei Lavoratori, estabelecendo inúmeros avanços na proteção à saúde, na integridade física, na Liberdade sindical e no direito à informação do empregado. A referida norma estabelecia que era direito do trabalhador o controle da aplicação das regras de prevenção aos acidentes de trabalho e das doenças profissionais. Em 1981, a Conferência da OIT editou a Convenção nº 155, a respeito da segurança e saúde dos trabalhadores, representando verdadeiro avanço, como, por exemplo, o conceito de saúde, impondo a adaptação dos processos produtivos às capacidades mentais e físicas dos trabalhadores, a possibilidade de interrupção do trabalho em caso de perigo grave à saúde e à vida. 2.1 Convenções da OIT A Organização Internacional do Trabalho pessoa jurídica de direito público e internacional de caráter permanente, constituída de Estados, que assumem, soberanamente, a obrigação de observar as normas constitucionais da organização e das convenções que ratificam, integrando o sistema das Nações Unidas como uma de suas agências especializadas". 7 A OIT foi criada para promover a uniformização internacional do Direito do Trabalho, proporcionando a evolução das normas protetivas do trabalhador com alcance na justiça social e na dignidade do trabalho. Como já esposado, os membros da Organização assumem a obrigação de observar as convenções emanadas deste órgão internacional, desde que as ratifique, assumindo tais convenções força normativa, passando a integrar o conjunto do direito positivado do Estado-Membro. A OIT, além das convenções, também emite recomendações destinadas à harmonização do Direito do Trabalho A CRFB/88 prevê em seu art. 5°, § 2°, que os direitos e garantias contidas no corpo da Constituição não excluem outros decorrentes dos tratados internacionais em que o Brasil seja parte. Tem-se, portanto, que a própria Constituição confere a esses tratados valor jurídico de norma constitucional. Registre-se que a Emenda Constitucional n.º 45/2004, que introduziu o § 3º do art. 5° da CRFB/88, assegura que os tratados e convenções internacionais, aprovados pelo Congresso Nacional, equiparam-se às Emendas Constitucionais, daí se perceber a extrema importância desses normativos internacionais sobre os direitos e fundamentos de proteção ao trabalhador. As convenções da OIT ratificadas até a EC 45/2004, na verdade, passavam a compor o ordenamento jurídico do Pais, desde que não contrariassem o próprio Texto Constitucional. Elas ocupam posição intermediária entre a Constituição e a Lei Ordinária. Já aquelas ratificadas após a publicação da EC 45/2004, urna vez aprovadas pelo Congresso Nacional e ostentando caráter de Emenda Constitucional, passam a se posicionar na hierarquia normativa com status supralegal, já que se equiparam à própria emenda. Como exemplo, a Convenção Internacional de Direitos da Pessoa com Deficiência, ratificada pelo Brasil pelo Decreto Legislativo 186/2008, passando a integrar o conteúdo constitucional das normas fundamentais. Pelo que se infere, as Convenções da OIT, ratificadas, integram-se ao arcabouço legislativo nacional, podendo criar, alterar, complementar e até mesmo derrogar normas em vigor. 8 No quadro abaixo, é possível verificar as principais convenções da OIT que se relacionam aos aspectos de proteção ao trabalhador, em especial as Convenções nº 148, 155, 161, 167 (ratificadas pelo Brasil) e a de nº 187 (não ratificada), em virtude de sua abrangência e relevância em sua aplicação: Convenção n° 103 Amparo à Maternidade (em vigor no Brasil desde 18/06/1966) Convenção n° 115 Proteção contra as Radiações Ionizantes (em vigor no Brasil desde 05/09/1967) Convenção n° 121 Prestações em caso de Acidentes do Trabalho e Doenças Profissionais (não ratificada pelo Brasil) Convenção n° 127 Peso máximo das cargas (em vigor no Brasil desde 21/08/1971) Convenção n° 134 Prevenção de acidentes de trabalho dos marítimos (em vigor no Brasil desde 25/07/1997) Convenção n• 136 Proteção contra os riscos de intoxicação por benzeno (em vigor no Brasil desde 24/03/1994) Convenção nº 139 Proteção e controle de riscos profissionais causados pelas substâncias ou agentes cancerígenos (em vigor no Brasil desde 27/06/1991) Convenção n° 148 Proteção dos trabalhadores contra os riscos decorrentes da contaminação do Ar, Ruídos e Vibrações no local de trabalho (em vigor no Brasil desde 14/01/1983) Convenção n° 152 Segurança e higiene nos trabalhos portuários (em vigor desde 17/05/1991) Convenção n° 155 Segurança e saúde dos trabalhadores e melo ambiente de trabalho (em vigor no Brasil desde 18/05/1993) Convenção n° 159 Reabilitação profissional e emprego de pessoas deficientes (em vigor no Brasil desde 18/05/1991) 9 Convenção n° 162 Utilização de asbesto com segurança (em vigor no Brasil desde 18/05/1991) Convenção n° 161 Serviços de saúde no trabalho (em vigor no Brasil desde 18/05/1991) Convenção n° 163 Proteção da saúde e a assistência médica aos trabalhadores marítimos(em vigor no Brasil desde 03/03/1998) Convenção n° 167 Segurança e saúde na construção (em vigor no Brasil desde 19/05/2007) Convenção nº 170 Segurança na utilização de produtos químicos no trabalho (em vigor no Brasil 22/12/ 1997) Convenção n° 171 Trabalho noturno (em vigor desde 1811212004) Convenção n° 174 Prevenção de acidentes industriais maiores (em vigor desde 02/08/2002) Convenção n° 176 Segurança e saúde nas minas (em vigor desde 18/05/2007) Convenção nº 182 Proibição das piores formas de trabalho infantil (em vigor desde 02/02/2001) Convenção n° 184 Segurança e saúde na agricultura (não ratificada pelo Brasil) Convenção n° 187 Marco promocional para a segurança e saúde no trabalho (não ratificada pelo Brasil) 10 3 EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO AO TRABALHADOR NO BRASIL 1824 – A Constituição do Império (art. 179, XXV), inspirada nos princípios da Revolução Francesa, assegurou ampla liberdade para o trabalho e extinguiu as Corporações de Oficio. 1850 – Código Comercial. Primeiro código nacional que trouxe regras de Processo, Direito Civil e Direito do Trabalho, sendo, portanto, o berço dos demais Códigos. Ao tratar das relações de comércio, fazia menção ao armador e seus tripulantes, tratando também da possibilidade do aviso prévio, da indenização pela rescisão injusta do contrato a termo, da justa causa, da garantia de salário em caso de acidente de trabalho. 1871 – Lei do Ventre Livre em que os nascidos do ventre de escrava já não eram mais escravos. 1885 – Lei Saraiva Cotegipe. Libertou os escravos com mais de 60 anos depois que cumprissem mais de três anos de trabalho espontâneo. 1888 – A Lei Áurea foi a mais importante lei do Império. Libertou os escravos, aboliu a escravatura. Este fato trouxe para o Brasil unia nova realidade, porque houve aumento da demanda no mercado e não havia trabalho para todos. A mão de obra era desqualificada e numerosa. 1890 – Foi emitido um aviso do Ministro da Agricultura em 17 de janeiro de 1890 concedendo férias anuais remuneradas de 15 dias úteis para os ferroviários da Estrada de Ferro Central do Brasil. 1891 – A Carta de 1891 apenas garantiu o livre exercício de qualquer profissão (art. 72. § 24) e assegurou a liberdade de associação (art. 72, § 8°), o que embasou o STF a considerar lícita a organização de sindicatos. 1891 – Através do Decreto nº 1.31 3/91 foi proibido o trabalho do menor de 12 anos em fábricas; foi fixada jornada de sete horas para menores entre l2 e 15 anos do sexo feminino e entre 12 e 14 do sexo masculino. 11 1903 – Primeira norma brasileira sobre sindicalização e organização sindical dos rurais, Decreto no 979/2003. 1907 – Organização sindical dos urbanos garantida pelo Decreto nº 1.6 37/2007. 1916 – Código Civil. Tratou da locação de serviços e parte de suas disposições era aplicada às relações de trabalho, com o aviso prévio, contrato determinado etc. 1919 – Criação do instituto do acidente de trabalho e, mundialmente, a criação da OIT. 1923 – Lei Eloy Chaves (Lei nº 4.682/23) criou a estabilidade decenal apenas para os ferroviários e no mesmo ato instituiu o Conselho Nacional do Trabalho, no âmbito do Ministério da Agricultura, indústria e Comércio. O Decreto nº 1 6.027/23 criou o Conselho Nacional do Trabalho, que foi o primeiro embrião da Justiça do Trabalho. 1925 – Lei nº 4.982/25 estendeu as férias de 15 dias úteis para os trabalhadores de estabelecimentos comerciais, industriais e bancários. 1927 – Código de Menores (Decreto nº 17.934-A) em que se estabeleceu a idade mínima de 12 anos para o trabalho, como também a proibição de trabalho noturno e em minas de subsolo. 1930 – Em 24 de outubro desse ano, Getúlio Vargas tornou-se presidente e no dia 26 do mês de novembro criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio através do Decreto nº 19.443/30. A partir de então, houve farta legislação, através de decretos legislativos, tanto sobre previdência social quanto a respeito das relações de trabalho (individuais e coletivas) até a promulgação da Carta de 1934. 1931 – O Decreto Legislativo nº 19.671-A criou o Departamento Nacional do Trabalho e o Decreto Legislativo nº 19.770/3 I regulamentou a organização sindical. 1932 – O Decreto Legislativo nº 21.396/32 criou a Comissão Mista e Permanente de Conciliação e o Decreto Legislativo nº 22.132/32 as Juntas de Conciliação e Julgamento. Estes dois decretos representam a mais importante figura 12 na formação da futura Justiça do Trabalho, constituída formalmente apenas em 1939. O Decreto Legislativo nº 21.690/32 foi o primeiro a falar da Convenção Coletiva do Trabalho. O Decreto nº 21.417-A regulamentou o trabalho da mulher e o Decreto nº 21.186 fixou jornada de oito horas para trabalho no comércio, mais tarde também estendida aos industriários. 1934 – Foi a primeira Constituição (Constituição da República) que elevou os direitos trabalhistas ao status constitucional disposto nos arts. 120 e 121, tais como salário-mínimo, jornada de oito horas, férias, repouso semanal (não era remunerado), plural idade sindical, indenização por despedida imotivada, criação da Justiça do Trabalho, ainda não integrante do Poder Judiciário. A Carta de 1934 foi elaborada sob forte influência da Constituição de Weimar (social-democrata) e da Constituição americana (liberal-individualista). 1935 – A Lei nº 62/35 disciplinou a rescisão do contrato, justa causa, aviso prévio e a estabilidade dos empregados da indústria e do comércio após 10 anos de serviço. 1936 – A Lei nº l 85/36 instituiu o salário-mínimo. 1937 – Golpe de Getúlio Vargas. Regime ditatorial. O Congresso é fechado. Foi dada competência normativa aos tribunais trabalhistas. A Constituição de 1937 foi outorgada por Getúlio, com apoio das Forças Armadas e tinha índole corporativa. No campo dos direitos individuais, a Carta de 37 manteve o elenco de direitos da Constituição anterior e garantiu direitos coletivos como: reconhecimento dos sindicatos; a imposição da contribuição sindical e a unicidade sindical; previsão para o contrato coletivo de trabalho. A greve e o lockout foram considerados recursos antissociais. O Decreto-Lei nº 39/37 disciplinou a execução dos julgados nos conflitos entre empregados e empregadores. A Lei nº 435/37 considera empregadora única e solidária a empresa principal do grupo econômico. 13 1939 – Organização da Justiça do Trabalho através do Decreto-Lei nº 1.237/39.O ·Decreto-Lei nº 1.346/39 reorganiza o Conselho Nacional do Trabalho. 1940 – Regulamento do Conselho Nacional do Trabalho pelo Decreto nº 6.597/40. 1941 – Decreto-Lei nº 3.078/41 regulou a locação de serviços dos empregados domésticos. 1943 – A CLT é compilada. Decreto-Lei nº 5.452, de 1° de maio de 1943. O Decreto nº 5.821/43 dispõe sobre dissídio coletivo enquanto perdurar o estado de guerra. 1945 – Getúlio é deposto. 1946 – A Carta de 1946 foi considerada democrática. Dispôs sobre a participação dos empregados nos lucros da empresa, o repouso semanal remunerado, feriados, concedeu a estabilidade decenal a todos os trabalhadores, foi reconhecido o direito de greve, houve a inclusão da Justiça do Trabalho no Poder Judiciário, retirando este órgão da esfera do Executivo. Os julgadores e conciliadores da Justiça do Trabalho, até então nomeados (e não concursados), passaram a se chamar juízes e os dois conciliadores passaram a se chamar vogais, posteriormente classistas. 1949 – A Lei nº 605/49 instituiu o repouso semanal remunerado.A partir daí há extensa legislação trabalhista, sendo destacadas abaixo apenas as mais importantes. 1955 – Lei nº 2.573/55 criou adicional para o trabalho perigoso. 1957 – A Lei nº 3.207/57 dispôs sobre o vendedor pracista. 1962/1963 – Criação do 13º salário: Lei nº 4.090/62 e Lei nº 4.769/65. 1964 – Lei nº 4.330/64: primeira lei que regulamentou o direito de greve reconhecido no art. 158 da CRFB de 1946. 1966 – Lei nº 5.107/66: Lei do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS. 14 1967 – Esta Constituição manteve os direitos previstos na Carta de 1946 e objetivou a continuidade da revolução de 1964. 1969 – A Emenda Constitucional nº 1, de 1969, repetiu a Constituição anterior, porém criou alguns direitos. Em relação ao direito coletivo dispôs sobre o imposto sindical, proibiu o direito de greve para o serviço público e atividades essenciais. A revisão da Carta de 67 pela ·EC nº 1/69 foi imposta pelo golpe militar de 17 de outubro 1969 que assumiu o poder rompendo a doutrina defendida pela Carta de 1967. 1972 – Lei nº 5.859/72: Lei do doméstico. 1973 – Lei nº 5.889/73: Lei do trabalho rural. 1974 – Lei nº 6.019/74: Lei do trabalho temporário. 1983 – Lei nº 7.102/83: Lei dos vigilantes. 1988 – Nova Constituição retomando o homem como figura principal a ser protegida, abandonando o conceito individualista e privatista e priorizando o coletivo, o social e a dignidade da pessoa. Houve, portanto, uma intensa evolução na legislação até culminar na Constituição de 1988 que, no art. 7°, arrola inúmeros direitos aos trabalhadores que visam à melhoria de sua condição social. Por outro lado, também forneceu instrumentos para a flexibilização de direitos trabalhistas. 1999 – A Emenda Constitucional nº 24 transformou as Juntas de Conciliação e Julgamento em Varas do Trabalho, extinguindo a representação classista. 2004 – A Emenda Constitucional nº 45 ampliou a competência da Justiça do Trabalho para abarcar também as controvérsias oriundas das demais relações de trabalho. 2013 – A Emenda Constitucional 72 estendeu aos domésticos diversos direitos trabalhistas, antes só garantidos aos urbanos e rurais. Alguns dependem de regulamentação e outros têm eficácia imediata. 2015 – A Lei Complementar 150 regulamentou a Emenda Constitucional 72/2013. 2017 – Reforma Trabalhista – Lei 13.467117 15 4 CONCEITO DE SAÚDE E SAÚDE NO TRABALHO Para que se possa conceituar o termo saúde, é mister utilizar a definição realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) sendo que a saúde é "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades". Neste sentido, a saúde passou a ser um direito conferido a sociedade e não apenas ao indivíduo de forma singular, bem como houve a ampliação de ideias e objetivos desta, passando a possuir relevância para, ampliando-se, a comunidade e para o indivíduo e o trabalho. Ao se falar em saúde no trabalho, há de se revelar, conforme descreve o texto Introdução à Saúde e Segurança do Trabalho “a saúde e a segurança no trabalho englobam o bem-estar social, mental e físico dos trabalhadores, ou seja, da pessoa no seu todo”. Diante de tal afirmação torna-se difícil dissertar sobre a saúde no trabalho sem correlacioná-la com a segurança no trabalho, visto que ambas atuam de forma conjunta e igualitária nesse contexto, ou seja, a saúde acaba por ser de difícil observação no ambiente de trabalho, diante seu difícil diagnóstico, a difícil estabelecimento da relação de causa e efeito, conquanto a segurança do trabalho possui forma mais concreta, onde se trabalho meios de evitar que a saúde do trabalhador acabe por se degradar durante o labor ou em virtude deste. Findo, é de suma importância que se tenha um meio ambiente de trabalho saudável e seguro pois os esforços devem atuar de forma a criar meios de prevenir doenças e acidentes profissionais, conforme afirma o texto Introdução à Saúde e Segurança do Trabalho, veja: “os esforços na saúde e segurança no trabalho devem ter como objectivo prevenir os acidentes e as doenças profissionais e, ao mesmo tempo, reconhecer a ligação entre a saúde e a segurança do trabalhador, o local de trabalho, e o seu ambiente exterior”. (BOREAU, 2009) 16 5 PRINCÍPIOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO No que tange ao meio ambiente de trabalho, em prima face é de suma importância que se fale a respeito dos elementos que compõem este, de forma a tornar mais fácil a compreensão dos princípios que o norteiam. Compreende-se como meio ambiente de trabalho todas as relações em que estão inseridos os trabalhadores no contexto fático da relação de emprego, ou seja, englobam áreas como o maquinário utilizado, os produtos, o local de trabalho e suas condições, quer sejam físicas, espaço onde se trabalha, condições psicológicas ou de higiene. Para tanto existem determinados princípios que regulam esta correlação de trabalho e segurança do trabalhador, sendo estes descritos no artigo 5º da Portaria nº 1.823, de 2012, confira-se: Art. 5º A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora observará os seguintes princípios e diretrizes: I - universalidade; II - integralidade; III - participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social; IV - descentralização; V - hierarquização; VI - equidade; e VII – precaução. (BRASIL, 2012) Desta forma o princípio da universalidade atua de forma a torna e determinar que a todos os trabalhadores são conferidos a proteção ao meio ambiente de 17 trabalho saudável, não podendo nenhum trabalhador estar fora desta proteção. Conquanto o princípio da integralidade descreve que são cobertura a todos os trabalhadores as medidas cabíveis à proteção do trabalhador, tanto na utilização de EPI ou EPC, bem como ambiente saudável e seguro para desempenho da atividade laborativa. Já o princípio da participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social cria uma forma tripartite de atuação dos setores correlacionados com a relação de emprego, ou seja, é atribuído a estes a observância do devido e correto cumprimento das normas e utilização dos mecanismos de proteção do trabalhador. Ao se falar no princípio da equidade, retrata-se ao sistema de tratamento diferenciado aos trabalhadores com maior vulnerabilidade de forma mais concisa, ou seja, tratar os desiguais de forma desigual na medida de suas desigualdades. Findo o princípio da precaução atua de forma direta nos métodos paliativos de proteção e segurança do meio ambiente de trabalho, assim fica intimamente ligado ao uso dos EPIs e EPCs, a obrigatoriedade na utilização destes e sua fiscalização, item que passaremos a tratar agora. 18 6 FISCALIZAÇÃO E SUA COMPETÊNCIA Conforme disposição da CLT em seus artigos 156 a 159, são responsáveis por um meio ambiente de trabalho propício e seguro ao trabalhador a atividade conjunta das delegacias de trabalho, empregador e empregado. Quanto a competência das delegacias de trabalho, foi-lhes atribuída a fiscalização do cumprimento das normas de segurança do trabalho, bem como a adoção de medidas necessárias como obras e reparos nos locais de trabalho e ainda a aplicação de penalidades por descumprimento legal. Veja o que descreve o artigo 156 da CLT: Art. 156. Compete especialmente às Delegacias Regionais do Trabalho, nos limites de sua jurisdição: (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) I - promover a fiscalização do cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho; (Incluído pelaLei nº 6.514, de 22.12.1977) II - adotar as medidas que se tornem exigíveis, em virtude das disposições deste Capítulo, determinando as obras e reparos que, em qualquer local de trabalho, se façam necessárias; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) III - impor as penalidades cabíveis por descumprimento das normas constantes deste Capítulo, nos termos do art. 201. (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977). (BRASIL, 1943) No que tange ao Empregador, caberá a instrução e fiscalização de seus empregados no uso das normas de proteção coletiva e individual no intuito de evitar acidentes de trabalho, cumprir e fazer cumprir as normas de segurança do trabalho, adotar as medidas determinadas pelos órgãos regionais e facilitar a fiscalização pelo poder público, conforme descreve o artigo 157 da CLT, observe: 19 Art. 157. Cabe às empresas: (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977). (BRASIL, 1943) Ao Empregado incumbiu-se a observância das normas de segurança do trabalho e a colaboração para com a empresa das determinações legais correlacionadas a segurança do trabalho, podendo estes serem, no caso de recusa injustificada, penalizados por falta grave. É o que dispõe o artigo 158 da CLT, note: Art. 158. Cabe aos empregados: (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II do artigo anterior; (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) II - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste Capítulo. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) Parágrafo único - Constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada: (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) a) à observância das instruções expedidas pelo empregador na forma do item II do artigo anterior; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) 20 b) ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa. (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) (BRASIL, 1943) Contudo de forma subsidiária a CLT estabeleceu que por meio de convênio com o Ministério Público do Trabalho, poderão ser delegadas as atividades de fiscalização ou orientação a órgãos federais, estaduais ou municipais, conforme disposto no artigo 159 da CLT. Cumpre ressaltar que as Delegacias do Trabalho ao constatar irregularidades graves que possam comprometer de forma iminente o trabalhador em sua saúde, poderá, munido de mediante laudo, interditar o estabelecimento, máquina ou afins até que se tenha sido regularizado a situação potencialmente gravosa. 21 7 OBRIGAÇÕES DA EMPRESA E DO EMPREGADO O artigo 157 da CLT regra as obrigações das empresas quanto a Segurança e a Medicina do Trabalho. Ao empregador compete a obrigação de cumprir e de fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho no uso de seus poderes de direção, ligado diretamente com a subordinação jurídica do empregado e de controle que é de fiscalizar a prestação do serviço. Mediante ordens de serviço o empregador deve instruir os empregados quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais. Aderir às medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente e colaborar para que a fiscalização competente possa ser desempenhada. Há regras também que alcançam os empregados, são as previstas no artigo 158 que descreve o dever de obediência, sujeição às regras, orientações e normas estabelecidas pelo empregador, inerentes ao contrato de trabalho desde que legais e não abusivas. O empregado deve executar as normas de segurança e medicina do trabalho que lhes forem instruídas e ordenadas pelo seu empregador a fim de precaver acidentes e doenças relativas ao trabalho. Sua cooperação quanto ao uso dos equipamentos de proteção fornecidos pela empresa é ou deveria ser de seu interesse já que se trata de sua saúde e integridade. Se houver recusa injustificada do empregado quanto à observância das instruções das normas de segurança e medicina do trabalho, uso dos equipamentos de proteção individual oferecidos pelo empregador constituirá ato faltoso de sua parte. 22 As medidas de proteção da saúde e da integridade só serão eficazes se o empregado também fizer a sua parte. 23 8 O QUE É CIPA? CIPA é uma sigla que significa: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. O Ministério do Trabalho, órgão de âmbito nacional, regulamenta as instruções, a composição e o funcionamento das CIPA (s) através da NR 5 – Norma Regulamentadora 5 publicação da Portaria GM n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. As Normas Regulamentadoras (NR) são determinações complementares ao capítulo V da CLT que disserta a respeito da Segurança e Saúde no Trabalho e consiste em obrigações, direitos e deveres a serem cumpridos por empregadores e trabalhadores com o objetivo de garantir trabalho seguro e sadio, prevenindo a ocorrência de doenças e acidentes de trabalho. Sua elaboração/revisão cabe ao Ministério do Trabalho, o qual conta com a participação de grupos e comissões constituídas por representantes do governo, de empregadores e empregados (sistema tripartite paritário). Disposições em relação às matérias incluídas em códigos ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios onde as empresas são situadas devem ser observadas e cumpridas em todos os locais de trabalho. A constituição e o regular funcionamento da CIPA são obrigatórios nas empresas privadas, públicas, sociedades de economia mista, órgãos da administração direta e indireta, instituições beneficentes, associações recreativas, cooperativas, bem como outras instituições que admitam trabalhadores como empregados com vínculo empregatício. Também devem constituir CIPA os empregadores ou seus equiparados que possuam empregados (pessoa física que preste serviço de natureza não eventual a empregador, sob dependência deste e mediante salário). Essa obrigatoriedade não abrange os trabalhadores que não estão no rol das formatações dos vínculos de emprego, por exemplo os servidores públicos, devida a 24 falta de regulamentação constitucional sobre a quem cabe regulamentar as questões de segurança. Quando existir em órgão público ou empresa pública trabalhadores efetivamente com vínculo de emprego regidos pela CLT e outros vínculos estabelecidos conforme o estatuto do servidor público, a constituição da CIPA deve ser conforme o número de empregados vinculados ao regime celetista, os quais podem se candidatar e votar. Entretanto, não haverá discriminação dos trabalhadores quanto às ações da CIPA de melhoria das condições de trabalho sob pena de infração à Lei Maior. Não há empecilho caso queira englobar todos os trabalhadores, empregados e funcionários públicos na CIPA, e desde que haja a garantia das vagas estabelecidas para os empregados celetistas, estes podem se candidatar. Prestadores de serviço em atividade no estabelecimentoe que forem contratados por outra empresa não podem ser englobados. Todas as disposições da NR 5 no que couber são aplicadas aos trabalhadores avulsos observando disposições estabelecidas em NR de setores econômicos específicos. Empresas instaladas em centro comercial ou industrial, por exemplo, os “shoppings” e os consórcios de empresas industriais que são estruturados com administração autônoma ou semiautônoma em um mesmo local, estabelecerão através de membros de CIPA ou designados, mecanismos de integração com objetivo de promover o desenvolvimento de ações de prevenção de acidentes e doenças decorrentes do ambiente e instalações de uso coletivo. São consideradas instalações de uso coletivo as áreas de uso comum por parte dos trabalhadores de todas as empresas: áreas de circulação, vestiários, banheiros, refeitórios, entre outros. O ambiente dos sistemas de ar-condicionado, instalações elétricas, redes de gás que quase sempre são de responsabilidade dos administradores, mas que afetam todas as empresas e seus empregados, sejam avaliados pelas CIPA, já que podem ser origem de acidentes e de doenças. Auditores-Fiscais do Trabalho verificarão o cumprimento das regras de participação de um centro comercial (shopping) ou industrial. 25 8.1 Funções da CIPA A função da CIPA é a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho por meio de: a) identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de riscos, com a participação do maior número de trabalhadores, com assessoria do SESMT, onde houver; b) elaborar plano de trabalho que possibilite a ação preventiva na solução de problemas de segurança e saúde no trabalho; c) participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos locais de trabalho; d) realizar, periodicamente, verificações nos ambientes e condições de trabalho visando a identificação de situações que venham a trazer riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores; e) realizar, a cada reunião, avaliação do cumprimento das metas fixadas em seu plano de trabalho e discutir as situações de risco que foram identificadas; f) divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no trabalho; g) participar, com o SESMT, onde houver, das discussões promovidas pelo empregador, para avaliar os impactos de alterações no ambiente e processo de trabalho relacionados à segurança e saúde dos trabalhadores; h) requerer ao SESMT, quando houver, ou ao empregador, a paralisação de máquina ou setor onde considere haver risco grave e iminente à segurança e saúde dos trabalhadores; i) colaborar no desenvolvimento e implementação do PCMSO e PPRA e de outros programas relacionados à segurança e saúde no trabalho; 26 j) divulgar e promover o cumprimento das Normas Regulamentadoras, bem como cláusulas de acordos e convenções coletivas de trabalho, relativas à segurança e saúde no trabalho; l) participar, em conjunto com o SESMT, onde houver, ou com o empregador, da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de solução dos problemas identificados; m) requisitar ao empregador e analisar as informações sobre questões que tenham interferido na segurança e saúde dos trabalhadores; n) requisitar à empresa as cópias das CAT emitidas; o) promover, anualmente, em conjunto com o SESMT, onde houver, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho – SIPAT; p) participar, anualmente, em conjunto com a empresa, de Campanhas de Prevenção da AIDS. O trabalho deve ser compatível com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. SESMT é a sigla para Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho e é uma equipe de profissionais da saúde, que ficam dentro das empresas para proteger a integridade física dos trabalhadores A sigla CAT significa Comunicação de Acidente do Trabalho. A CAT é um documento usado para comunicar o acidente ou doença de trabalho ao INSS. Hoje em dia é emitida Online. Após a emissão, vai imediatamente constar no banco de dados do INSS. 8.2 Composição da CIPA De acordo com os critérios da Norma Regulamentadora, cada CIPA será composta de representantes do empregador e dos empregados. 27 Os empregadores designarão seus representantes titulares e suplentes, ou seja, não há eleição neste caso e dentre estes o indicará o Presidente da CIPA. Os empregados através de eleição secreta elegerão seus representantes titulares e suplentes, independentemente de filiação sindical, exclusivamente os empregados interessados. O Vice-Presidente será escolhido entre os titulares. Pode abster-se de votar na eleição da CIPA caso queira o empregado. O número de membros titulares e suplentes da CIPA, considerando a ordem decrescente de votos recebidos, observará o dimensionamento previsto no Quadro I NR 5, ressalvadas as alterações disciplinadas em atos normativos de setores econômicos específicos. Quando o estabelecimento não se enquadrar no Quadro I, a empresa designará um responsável pelo cumprimento dos objetivos da NR 5, podendo ser adotados mecanismos de participação dos empregados, através de negociação coletiva. Os membros eleitos da CIPA terão mandato com duração de um ano. É permitida apenas uma reeleição. 8.3 Direito dos empregados participantes É proibida a dispensa arbitrária ou sem justa causa do empregado eleito para cargo de direção da CIPA desde o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato. Dispensa arbitrária é a que não se funda em motivo disciplinar (falta grave), de ordem técnica, econômica ou financeira. Empregados titulares e suplentes eleitos membros da CIPA têm estabilidade relativa no emprego, só podem ser dispensados por motivos de ordem técnica, econômico-financeira ou disciplinar em caso de eventual reclamação trabalhista 28 deverá comprovada pelo empregador sob pena de ser condenado a reintegrar o obreiro. Art. 165 – Os titulares da representação dos empregados nas CIPA (s) não poderão sofrer despedida arbitrária, entendendo-se como tal a que não se fundar em motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro. Parágrafo único – Ocorrendo a despedida, caberá ao empregador, em caso de reclamação à Justiça do Trabalho, comprovar a existência de qualquer dos motivos mencionados neste artigo, sob pena de ser condenado a reintegrar o empregado. (BRASIL, 1943) Os membros eleitos terão a garantia da não descaracterização das condições de suas atividades normais na empresa, sendo proibida a sua transferência para outro estabelecimento sem sua anuência. O artigo 469 da CLT estabelece: Art. 469 - Ao empregador é vedado transferir o empregado, sem a sua anuência, para localidade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acarretar necessariamente a mudança do seu domicílio. § lº. Não estão compreendidos na proibição deste artigo os empregados que exerçam cargos de confiança e aqueles cujos contratos tenham como condição, implícita ou explícita, a transferência, quando esta decorra de real necessidade de serviço. § 2º. É lícita a transferência quando ocorrer extinção do estabelecimento em que trabalhar o empregado. (BRASIL, 1943) Deverá o empregador garantir aos seus indicados o adequado encaminhamento das questões negociadas na CIPA. 29 A posse ocorrerá no primeiro dia útil após o término do mandato anterior, se não houver mandato anterior seráa data estabelecida no edital de convocação das eleições. O empregador não pode reduzir o número de representantes e nem desativar a CIPA antes do término do mandato de seus membros ainda que haja redução do número de empregados da empresa, salvo no caso de encerramento de suas atividades. A importância das Normas de Segurança e Medicina do Trabalho é ratificada através da Lei nº 13.467, de 2017 – CLT reformada – no artigo 611-B, inciso XVII, onde fica claro a ilicitude de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, exclusivamente que tenham como objeto a supressão ou redução dos direitos às normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho. Em seu parágrafo único, o mesmo dispositivo esclarecer que as regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas como normas de saúde, higiene e segurança do trabalho para os fins do disposto neste artigo. O artigo 201 descreve a penalidade quanto as infrações dispostas no Capítulo relativo à medicina do trabalho que serão punidas com multa de 3 (três) a 30 (trinta) vezes o valor de referência previsto no artigo 2º, parágrafo único, da Lei nº 6.205, de 29 de abril de 1975, e as concernentes à segurança do trabalho com multa de 5 (cinco) a 50 (cinquenta) vezes o mesmo valor 30 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como se viu, o trabalho é inerente ao homem. É difícil imaginar qualquer grupamento humano ao longo da história longe do trabalho. O trabalho talvez apresenta-se características menos formais na antiguidade, mas sempre esteve presente de algum modo na vida das pessoas, influenciando diretamente a forma de organização de suas vidas. Ao longo dos anos, o Direito do Trabalho e as instituições diretamente ligadas a este ramo do Direito trouxeram significativo avanços às condições do trabalho humano. No entanto, ao que se sabe, nem sempre a práxis acompanha a norma que a regulamenta. Um desafio da atualidade para os operadores do Direito é compreender o que eles podem fazer para que a evolução alcançada pela norma possa de fato ser efetiva ao trabalhador. E não apenas editar mais e mais leis de proteção ao trabalhador que, por vezes, mostram-se extremamente difíceis de se levar a cabo no plano concreto. Para que isso ocorra deve-se ater os olhos a realidade do empregado, bem como não perder de vista a realidade do empregador. Só assim, poderemos de fato dar prosseguimento ao progresso laboral iniciado por aqueles que vieram antes de nós. 31 REFERÊNCIAS 1. ANDRADE, Everaldo Gaspar Lopes. DIREITO DO TRABALHO E MEIO AMBIENTE DE TRABALHO I. XXIV Congresso Nacional do Copendi. Florianópolis. Santa Catarina. 2016. 2. BOREAU, Internacional de Trabalho. Introdução a saúde e segurança de trabalho. Genebra. 2009. 3. BRASIL. Decreto-lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1º de maio de 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del5452.htm>. Acesso em: 15 de Maio de 2018. 4. BRASIL. Ministério do Trabalho. Manual de Auxílio na Interpretação e Aplicação da Norma Regulamentadora nº 36: Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados. Brasília, DF, Ministério do Trabalho, 2017. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/publicacoes-e- manuais>. Acesso em: 15 de Maio de 2018. 5. BRASIL. Ministério do Trabalho. Nr 5 – Comissão Interna De Prevenção De Acidentes. Portaria GM n.º 3.214, de 08 de junho de 1978. Brasília, DF, Ministério do Trabalho, 1978. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR5.pdf>. Acesso em: 15 de Maio de 2018. 32 6. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho – 14ª Ed. 2017. São Paulo, Método, 2017. 7. LACAZ. Francisco Antônio de Castro. O campo Saúde do Trabalhador: resgatando conhecimentos e práticas sobre as relações trabalho-saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(4):757-766, abr, 2007. 8. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 1.823 de 2012. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt1823_23_08_2012.html >. Acesso em: 19 mai. 2018. 9. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Decreto Lei nº 5.452 de 1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Cesso em: 19 mai. 2018.