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Avaliação Institucional 1ª edição 2017 Avaliação Institucional 3 Palavras do professor Nosso ponto de partida para as discussões se inicia na constatação de que a escola, no contexto atual, é uma dimensão importante para a redu- ção das desigualdades e promoção da equidade social. Essa escola de que falamos deve ser capaz de garantir o pleno desenvolvimento das compe- tências expressas nos currículos da educação básica, bem como ser gerida sob a prerrogativa de eficácia e eficiência de seus processos educacionais. Ou seja: uma escola onde todos igualmente aprendam, e na idade certa. Para tanto é preciso que se saiba quais são as fortalezas e em quais aspec- tos as escolas devem buscar melhorias. Essa necessidade de compreen- são da escola, por ela própria e sua comunidade, amplia o conceito de avaliação: na aprendizagem do aluno, aferido nos testes de sala de aula, para a análise de todos os aspectos que circundam a vida escolar. A Ava- liação Institucional, sob esse prisma, reflete um percurso de construção permanente de diagnósticos sobre a escola. O que essa disciplina propõe, portanto, é discutir as dimensões da avalia- ção institucional, entendidas como uma ação subjacente à prática peda- gógica e de gestão escolar e, a partir daí, instrumentalizar os alunos na construção de diagnósticos centrados na melhoria da qualidade educa- cional. Faço votos para que as reflexões levantadas aqui contribuam para o seu desenvolvimento profissional e para que as discussões sobre o tema não se esgotem nesse material, mas que sejam levadas adiante em sua busca constante por aperfeiçoamento. Dividida em oito unidades de aprendizagem nesta disciplina vamos refle- tir sobre o contexto educacional brasileiro e, em específico, um histórico da avaliação institucional, apresentar as bases legais que constituem a importância dessa ação, discutir alguns modelos aplicáveis de avaliação institucional, conhecer os princípios definidos para a avaliação institu- cional bem como alguns indicadores e suas relações com os critérios e dimensões da qualidade educacional. Um bom curso para todos. 1 4 Unidade 1 Avaliação Institucional no Brasil Para iniciar seus estudos Nesta unidade vamos refletir sobre alguns temas de base da avaliação institucional, sobretudo o conceito de avaliação, de maneira geral, até a sua aplicação no âmbito institucional e a evolução dessa prática no con- texto brasileiro. Objetivos de Aprendizagem Situar os leitores no tema proposto pela disciplina através de concepções tiradas de estudos da atualidade, bem como os mais antigos, no intuito de apontar os avanços que a avaliação institucional sofreu no decorrer dos anos. 5 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil 1.1 A Avaliação no contexto educacional brasileiro A partir da segunda metade do século XIX os estudos sob o tema da avaliação começaram a ganhar força na área educacional, em especial com o uso dos testes psicológicos para aferição de medidas de inteligência de jovens e crianças. Ao longo do século XX, com o enfraquecimento da ênfase determinista das medidas psicológicas, ganham força nas publicações acerca da avaliação os trabalhos sobre métodos de avaliação formativos e pro- cessuais, de base construtivista e sócio-interacionista, realizados no âmbito da sala de aula. O foco passa a ser a discussão sobre melhorias nos métodos avaliativos e a centralidade e protagonismo do aluno no processo de ensino e aprendizagem. No final do século XX, com a criação do Sistema de Avaliação da Educação Básica no Brasil, o SAEB, as avaliações sistêmicas passam a fazer parte do cotidiano escolar e da vida de milhões de jovens submetidos todos os anos a testes como a Prova Brasil e o ENEM. A partir daí os estudos vem buscando relacionar medidas de desempenho escolar à qualidade dos sistemas educacionais e à sua capacidade de reduzir as desigualdades sociais, tão pro- fundamente enraizadas na sociedade brasileira. Chegamos quase à segunda década do século XXI com as escolas no centro de um importante debate: se a universalização do acesso à educação pública já é uma realidade, pelo menos nos primeiros anos da educação básica, a qualidade da educação tem deixado a desejar. Nossos jovens aprendem pouco, repetem muito e, o que é mais grave, uma parcela significativa, em especial no ensino médio, abandona a escola simplesmente porque o universo escolar não lhe representa nenhuma pers- pectiva de vida. Essa situação traz, em certa medida, sérios impactos para a sociedade brasileira em termos sociais e econômicos, refletidos nos indicadores de produtividade das empresas, de violência nas cidades, de desemprego dos jovens e de qualidade de vida. Paralelo a esse quadro desolador, muitas escolas convivem com pouco investimento público, professores desmotivados e gestão pouco eficiente na administração dos recursos escolares. Com bai- xos resultados dos sistemas educacionais, todos saem perdendo, é verdade. Ainda que pese esse contexto, há muitas experiências de sucesso de escolas que buscaram alternativas de ensino e de aprendizagem, bem como de gestão, que foram capazes de modificar a sua trajetória e fazer a diferença na vida dos alunos. As saídas relatadas são múltiplas: parcerias com outras instituições, uso de novas tecnologias metodologias ati- vas de aprendizagem, incentivo ao protagonismo juvenil, gestão escolar para resultados, valorização dos pro- fissionais de educação, maximização dos tempos de aprendizagem em sala de aula, flexibilização de currículos, só para citar algumas propostas no sentido de reforçar a ideia de que não há uma receita única. Em comum, essas escolas partiram de uma profunda reflexão sobre si mesmas, no exercício de um autodiagnostico voltado a compreensão de seu modo de funcionamento, seus problemas, limites de atuação e potenciais de melhoria. Com base nessa reflexão, reuniram evidências cruciais para a busca das soluções mais aplicáveis à sua realidade. A essa ação que leva a escola a refletir sobre si própria, com base nos resultados de avaliações internas e externas, bem como na percepção da comunidade escolar sobre a própria escola, é uma das ações mais importantes do universo educacional. Os resultados desse trabalho podem trazer impacto em toda a gestão da escola, incre- mentar a prática docente com influência na qualidade do processo de ensino e aprendizagem e, principalmente, trazer novas expectativas para a vida dos jovens. A essa reflexão, realizada na escola com o propósito de produzir diagnósticos sobre a escola, damos o nome de Avaliação Institucional.Nessa disciplina vamos discutir a importância desse tipo de avaliação e, mais importante, vamos aprender a realizar o processo de Avaliação Institucional com vistas a produzir ações de transformação da vida escolar. 6 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil Para tanto, de imediato, é preciso que você aprofunde alguns conceitos mais amplos sobre avaliação, mesmo que estes lhe sejam velhos conhecidos, propomos uma discussão sobre novos olhares. Vamos em frente? Figura 1.1 - Teste. Legenda: marcação das alternativas em um gabarito de um teste de múltipla escolha. Fonte: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=Category:Tests&filefro m=Palestine+Routes+Test.svg#/media/File:Test-986769_640.jpg> 1.2 O conceito de avaliação Todos nós temos histórias e vivências que nos remetem a situações de avaliação ao longo de nossa vida. Avalia- mos e somos avaliados a todo tempo. Fazemos isso para tomar decisões, para medir nossa capacidade de ação sobre as coisas, para refletir sobre nós mesmos. Mas o que vem a ser, de fato, a avaliação? Etimologicamente falando, a palavra “avaliar” tem origem no latim avalere (a+valere), que significa atribuir um mérito ouvalor a alguma coisa. No entanto, esse é um verbo que remete à vários significados e entendimentos. 7 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil Glossário Ao fazermos uma rápida visita ao dicionário encontramos algumas expressões de uso cor- rente no entendimento do ato avaliativo como, por exemplo, aferir, calcular,computar, apreciar ou estimar o merecimento de algo ou alguma coisa. Em seu sentido comum a avaliação remete, portanto, à possibilidade de dar valor a algo ou alguma coisa, em comparação com outra ou com ela própria, em momentos diferentes. Esse sentido mais comum da avaliação nos permite extrair uma primeira premissa sobre esse conceito: avaliar é próprio da natureza humana. Observamos, mensuramos, categorizamos e comparamos fenômenos, coisas e sujeitos o tempo todo em nossa interação com o mundo. É bem possível, inclusive, que o ato avaliativo tenha sido fundamental para nossa adaptação e sobrevivência ao longo da nossa história evolutiva. Isso porque se considera que seja com base na avaliação das informações que recebemos do mundo que sejamos capazes de identificar o perigo, buscar saídas e soluções para os problemas, reconhecer situações amigáveis e estabelecer alianças proveitosas, com base no nosso julgamento de valor. Até ao executar um ato corriqueiro, como, por exemplo, atender ao celular, realizamos processos mentais de avaliação que articulam a delimitação de uma situação-problema, a busca de informações com base nas análises de categorização e reconhecimento de dados, comparação, julgamento e tomada de decisão, até, finalmente, agirmos. Todo esse processo pode ser ilustrado da seguinte forma: Figura 1.2 - Processos de avaliação. Legenda: Processos de avaliação. Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/Mobile_phone#/media/File:CellPhone.png>. 8 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil Uma análise superficial e imediata desses processos pode levar à falsa impressão de que a avaliação é algo “engessado”, um estímulo que surge mediante um problema e percorre uma via linear subjetiva até a emissão de uma resposta observável, ou seja, quase como um instinto, pouco submetido à intencionalidade dos sujeitos. Pelo contrário, em seu sentido mais estrito, a avaliação e todos os processos e atitudes nela envolvidos não resulta de uma atividade neutra ou destituída de intencionalidade. Essa constatação nos permite extrair uma segunda premissa sobre o conceito de avaliação: avaliar, sendo próprio da natureza humana, se relaciona aos contextos sociais, históricos, políticos e econômicos a partir dos quais a existência do homem ganha significado. Ou seja, como fenômeno social e coberto de intencionalidades a ava- liação se expressa em diversas situações. No mundo do trabalho, por exemplo, com as avaliações de desempenho laboral; na política, com o processo de análise de candidatos e escolha do voto; nas salas de aula, com a aplicação de provas e testes e na escola como um todo, na elaboração de diagnósticos sobre a realidade escolar. Compreender essa segunda premissa, portanto, é fundamental para fecharmos esse estudo inicial do conceito de avaliação e avançar, nos próximos tópicos, em direção ao entendimento específico da avaliação na área edu- cacional. 1.3 A avaliação educacional Na Pedagogia a avaliação é um aspecto constituinte do processo de ensino e de aprendizagem que antecede, acompanha e sucede o trabalho pedagógico e a prática da gestão escolar. Nesse sentido, um processo avaliativo pode ter por objeto tanto à avaliação da aprendizagem, dos docentes, cur- rículo, programas, políticas públicas e projetos quanto a avaliação das instituições escolares, como, por exemplo, as escolas de educação básica, as instituições de ensino superior, entre outras (DIAS SOBRINHO; BALZAN, 2011.) Sobre esse assunto existe uma vasta literatura que pode ser classificada, de maneira geral, nos temas da Avalia- ção da Aprendizagem, Avaliação Externa e a Avaliação Institucional, que agrega os dados e informações das duas primeiras à percepção de sujeitos da comunidade escolar na constituição de diagnósticos da realidade de cada escola (DARDENGO, 2007; DIAS SOBRINHO, 2003) Vamos compreender um pouco mais sobre cada uma dessas perspectivas da avaliação na área educacional. 1.3.1 Avaliação da aprendizagem Realizada em sala de aula pelos professores, a avaliação da aprendizagem, ou avaliação interna, tem por objetivo investigar a aprendizagem do aluno em relação a um dado conteúdo. Em suas funções diagnóstica, formativa e somativa, a avaliação da aprendizagem possui, ainda, a característica de subsidiar ações pedagógicas desde o planejamento dos professores até as práticas de recuperação da apren- dizagem para os alunos em dificuldade. Para Cipriano Carlos Luckesi (2003, p. 196), a avaliação da aprendizagem é uma apreciação qualitativa do pro- cesso de ensino e aprendizagem que auxilia o professor a tomar decisões sobre o seu trabalho. 9 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil Nelson Piletti (1986, p. 190), outro importante pesquisador, entende a avaliação da aprendizagem como um pro- cesso permanente de investigação com o objetivo de interpretar os conhecimentos, as atitudes e as habilidades dos alunos, tendo em vista o rendimento esperado, a fim de que haja condições de decidir sobre alternativas do trabalho docente e da escola como um todo. Para Libâneo (1991, p. 196), a avaliação é vista como um componente do processo de ensino cuja finalidade, através da verificação e qualificação dos resultados obtidos, é determinar a correspondência com os objetivos pedagógicos propostos e, a partir daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguintes. Outros autores relacionam, ainda, a avaliação da aprendizagem à verificação do conhecimento do aluno, tal qual um processo de atribuir valores ou notas aos resultados obtidos nas mais diversas situações de testagem da aprendizagem. A avaliação da aprendizagem, nesse contexto, produz suas medidas de análise a partir do somatório dos acertos de um teste aplicado aos alunos, no que é conhecido por metodologia baseada na Teoria Clássica dos Testes. Pensando nesse contexto, se o aluno obteve um dado percentual de acerto, entre 50% ou 60%, podemos entender que o aluno aprendeu o que era esperado e será considerado apto para prosseguir para níveis mais avançados de aprendizagem? Essa perspectiva de produzir resultados de avaliação, com base na quantidade de acertos obtidos nas situações avaliativas, é ainda a que se utiliza em sala de aula, em boa parte das escolas brasileiras, e usada como parâmetro para a aprovação, ou não, do aluno nos sistemas educacionais. Em comum, para a grande maioria dos autores, a avaliação da aprendizagem é integrante do processo educativo e tem por função oferecer a alunos e docentes a possibilidade de diagnosticarem a aprendizagem realizada e as dificuldades encontradas, de forma a reorganizar a ação educativa. 1.4 Avaliação externa A avaliação externa, também chamada de avaliação sistêmica ou avaliação em larga escala, recebe esse nome por ser realizada por instituição de fora da escola. Glossário Avaliação externa É aquela em que o processo avaliativo é realizado por agências públi- cas ou privadas. Podendo contar com a colaboração da equipe pedagógica da escola a ser avaliada. 10 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil Diferentemente da avaliação da aprendizagem, na avaliação externa o foco é o desempenho da escola, produ- zido em uma medida chamada de proficiência. Os resultados da avaliação externa permitem o desenho de polí- ticas públicas para os sistemas educacionais e, à cada escola, um retrato de seu desempenho. As primeiras discussõessobre avaliação em larga escala no Brasil tiveram início nos anos de 1980, com o pro- cesso da redemocratização brasileira que tornou propício o ambiente político para os debates sobre universali- zação do acesso à educação básica e melhoria da qualidade dos sistemas educacionais. Esse contexto foi o embrião para a criação, na década seguinte, do Sistema de Avaliação da Educação Básica, o SAEB, do Ministério da Educação. Atualmente o SAEB avalia os estudantes das redes públicas e privadas do país, localizados em área rural e urbana, matriculados na 4ª e 8ª séries (ou 5º e 9º anos) do ensino funda- mental e também no 3º ano do ensino médio. Os resultados dessas avaliações têm subsidiados políticas de acompanhamento e monitoramento da qualidade da educação baseadas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o IDEB, calculado a partir da relação entre os resultados do Saeb e do rendimento (aprovação e evasão escolar). As Metas do Plano Nacional de Educação, PNE, que apresenta estratégias para a política educacional dos próxi- mos dez anos no período 2014-2024, por exemplo, tem por base os resultados do IDEB, dentre outras medidas de avaliações em larga escala. Em mais de 15 anos de avaliação em larga escala o Saeb tenha sido importante ator na identificação de proble- mas de desempenho escolar das redes de ensino, em especial na apropriação de habilidades de leitura, escrita e matemática pelos alunos da educação básica e na identificação da relação entre a repetência e o ensino de baixa qualidade no Brasil. Vale considerar também que quase todos os estados brasileiros, e alguns municípios, possuem os seus sistemas próprios de avaliação em larga escala como, por exemplo, o Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública, o Simave de Minas Gerais; o Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará, Spaece e a Prova Floripa, do município de Florianópolis. Em comum com o Saeb esses sistemas utilizam de uma mesma metodologia, conhecida por Teoria da Resposta ao Item, que permite a comparação entre os testes padronizados realizados por diferentes alunos em diferentes momentos. 11 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil A Teoria da Resposta ao Item também é utilizada para calcular os resultados dos alunos no Enem. É essa metodologia que permite, por exemplo, que as edições do Enem tenham o mesmo nível de dificuldade e que mesmo um aluno que tenha acertado mais questões que outro, obtenha, ao final um resultado menor. Para saber mais sobre a Teoria da Res- posta ao Item, acesse <http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/389-ensino-medio- -2092297298/17319-teoria-de-resposta-ao-item-avalia-habilidade-e-minimiza-o- -chute>. Para saber mais sobre os avanços das medidas educacionais, da Teoria Clássica dos Testes à Teoria da Resposta ao Item, acesse: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art text&pid=S0102-79722013000200004>. Nesse contexto, podemos constatar que tanto a avaliação interna quanto a externa são essenciais para a ava- liação institucional, uma vez que ambas fornecem elementos essenciais para a Avaliação Institucional, influen- ciando-a e sendo influenciado por ela. Esse assunto discutiremos no próximo tópico. As avaliações externas são, comumente, realizadas nas redes de educação pública e, como tal, têm por objeto as escolas públicas. Isso não quer dizer que escolas privadas, as quais muitas vezes não são submetidas a processos de avaliação externa, não possam se valer de Avaliação Institucional para construir seu diagnóstico. Apenas reforça a ideia de que, na falta dessa dimensão da Avaliação Institucional, é preciso reforçar as outras para que a prá- tica ganhe sentido e seja capaz de representar, de forma clara, o retrato de toda a escola. 1.5 A Avaliação institucional A avaliação institucional tem sido uma prática realizada pelos sistemas educacionais desde o século passado. Inicialmente caracterizada pelo aspecto controlador das burocracias estatais, as avaliações institucionais tinham por função investigar, nas escolas, o cumprimento dos regimentos e determinações das secretarias, sendo rea- lizada, nesse sentido, de forma isolada e no âmbito das inspeções escolares. Produzia-se relatórios com a finali- dade de checar o cumprimento das normativas estabelecidas pelos sistemas. A partir da década de 1980, com o processo de redemocratização brasileiro e o incremento das discussões sobre a gestão escolar democrática, uma nova perspectiva da avaliação institucional se sobrepõe àquela de caráter 12 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil meramente administrativo que vinha sendo feita até então: a possibilidade da participação ativa dos sujeitos da comunidade escolar como partícipes de todo o processo de avaliação. Essa nova perspectiva ganha força e se amplia, na década de 1990 com a criação dos sistemas de avaliação em larga escala que permitiram a criação e acompanhamento de indicadores de qualidade escolar. Como vimos no tópico anterior, a avaliação da aprendizagem é um tipo de avaliação interna, realizada em sala de aula pelo professor, cujo objetivo é coletar informações sobre o nível de aprendizagem do aluno. De posse dessas informações o professor pode identificar quem são os alunos que cumpriram com os objetivos de aprendizagem e aqueles que apresentam dificuldades e necessitam de atenção especial. Por sua vez a avaliação externa utiliza-se da aplicação de testes padronizados em larga escala para a elaboração de diagnósticos das redes de ensino, o que possibilita implementar políticas públicas mais eficazes com o intuito de reduzir as desigualdades e promover equidade entre os estudantes. A avaliação institucional, nesse sentido, também é um tipo de avaliação interna, por que é realizada dentro da escola por agentes da própria escola mas, diferentemente da avaliação da aprendizagem, a avaliação institucio- nal abarca a escola como um todo. Ou seja, a avaliação institucional é uma autoavaliação, realizada pela escola na qual se relacionam os resultados da avaliação da aprendizagem, os dados da avaliação externa e a percepção da comunidade escola sobre a própria escola. A partir da relação entre essas variáveis conclui-se que o processo de avaliação externa se complementa com o de avaliação interna e os dois alimentam a entrada de dados e informação para a realização da avaliação insti- tucional. Como propõe Santos Guerra (2003), esse processo de coavaliação apresenta uma combinação das informações geradas pela avaliação externa, mais voltadas aos resultados do desempenho escolar, com aquelas advindas da avaliação interna, centrada na melhoria dos processos internos do trabalho escolar, acrescida da percepção da comunidade escolar sobre a própria escola. Essas variáveis demonstram o quanto o sistema da avaliação é dinâ- mico. A finalidade da avaliação institucional é, portanto, avaliar a escola em suas diferentes dimensões, a partir da pers- pectiva dos sujeitos que dela tomam parte. Ou seja, alunos, professores, funcionários, enfim, toda a comunidade escolar. Com os resultados da avaliação institucional, é possível verificar os acertos, os resultados positivos, bem como o que precisa ser ajustado e, com base nessas informações, tomar atitudes que levem a mudanças signifi- cativas, a propostas de alternativas que conduzam a unidade escolar a melhorias constantes. A avaliação institucional, portanto, engloba todos os membros da comunidade escolar, e, em geral, é conduzida pela equipe pedagógica, em especial pelo diretor ou coordenador/orientador pedagógico da escola. Sendo assim, podem ser utilizados diversos instrumentos de investigação com vistas a dar respostas sobre o funcionamento da escola. Os instrumentos são variados, como, por exemplo, questionários, entrevistas e for- mulários quepodem ser aplicados a cada grupo de sujeitos, com diferentes objetivos e em diversos momentos. Para começarmos a aprofundar o entendimento dessa autoavaliação, no entanto, é preciso analisar a estrutura escolar sob sua perspectiva institucional. Trataremos desse assunto no próximo tópico. 13 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil As instituições representam estruturas ou mecanismos reconhecidos por sua função social. Sob esse aspecto, você considera que a escola tem cumprido com sua função social? Figura 1.3 - Participantes do Enem. Legenda: estudantes do ensino médio de uma escola brasileira concentrados na realização do Enem. Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Participantes_do_Enem.jpg?uselang=pt-br>. 1.6 A Instituição escolar As instituições, como o próprio nome indica, representam uma organização intencional de pessoas que se unem em torno de um propósito. Essa união pode se dar em torno da produção de um produto como, por exemplo, um carro, uma televisão, quanto a um serviço, como um atendimento de saúde ou o transporte urbano de uma cidade. Existem também instituições que são organizadas para disseminar conceitos, valores, ideologias e ideias de vida, como, por exemplo, as instituições religiosas. As instituições, nesse sentido, se organizam sob regras e normas com o objetivo de ordenar as interações entre as pessoas e, desses com as organizações. Estas exercem especial influência na socialização por serem, elas mes- mas, responsáveis em tornar os indivíduos membros da sociedade. As instituições formais são estabelecidas 14 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil explicitamente por uma organização objetiva enquanto as instituições informais se caracterizam por apresentar um conjunto de normas, valores e tradições. Podemos classificar como instituições, por exemplo, as empresas, indústrias, hospitais, partidos políticos, o casa- mento, a família e também, as escolas. Entretanto, apesar de se assemelharem em diversos aspectos com as demais organizações, as escolas têm que dar respostas próprias às realidades singulares que enfrentam. Ainda, as escolas, por sua natureza complexa, trafegam entre a produção de conhecimento, a prestação de um serviço educacional e a transformação – ou manutenção – do status quo da sociedade por ser, em si mesmo, forte disseminadora de ideologias. Isso faz toda a diferença entre uma escola e qualquer outra instituição, como, por exemplo, uma instituição do mundo do trabalho, uma fábrica. Ainda que pesem conjuntos de atividades semelhantes sobre as diversas instituições, o que dará contornos espe- cíficos à escola será o seu objetivo original. Ou seja, a escola deve ser capaz de educar, de desenvolver cognitiva, social e afetivamente os alunos de forma a torná-los suficientemente preparados para a atender às múltiplas demandas requeridas pela sociedade. Entender em que nível as escolas cumprem com esse objetivo é a base fundamental da avaliação institucional das escolas. Assim, a escola é uma instituição formada por diferentes atores: diretor, equipe de secretaria, equipe pedagógica, alunos e pessoal de apoio e, de maneira mais ampla, a comunidade escolar formada pelos familiares dos alunos e o entorno da escola. Cada um desses atores apresenta responsabilidades, perspectivas de atuação e diferentes expectativas em rela- ção à própria escola. Desta forma, alunos frequentam a escola e têm múltiplas expectativas, por exemplo, avançar as etapas de esco- larização e se formarem. E os professores, ainda nesse exemplo, preparam suas aulas a partir dos currículos esco- lares, elaboram, aplicam e analisam os testes e estão sujeitos aos calendários e organização burocráticas das secretarias de educação. Quanto aos diretores, eles aplicam os recursos escolares, organizam a grade de horário dos professores e estruturam os projetos e eventos previstos para o ano letivo, dentre várias outras atividades, enquanto o pessoal de apoio e de secretaria operacionaliza as diversas atividades que dão suporte ao dia a dia da escola como, por exemplo, os serviços de limpeza e cantina. A inter-relação entre esses sujeitos, cada um em seu campo de ação, forma uma teia que dá sustentação ao uni- verso escolar e representa sua complexidade. Essa teia de relações nem sempre é harmoniosa e, muitas vezes, as expectativas de um grupo se tornam exatamente o ponto de conflito de outro grupo. Nesse sentido, uma boa avaliação institucional é aquela que, além de proceder a uma análise dos resultados de aprendizagem e rendimento dos alunos, consegue captar o movimento institucional presente nas relações entre os diferentes atores e desses com a comunidade escolar. 1.7 Dimensões da avaliação Iinstitucional Quando pensamos em um hospital nos vêm à mente uma série de elementos que determinam suas característi- cas básicas e os diferenciam entre si. Sabemos que um hospital é um hospital e não uma prisão ou uma igreja pelo tipo de sua estrutura física, pelo seu nome, pelos procedimentos adotados internamente, pelo uniforme que as pessoas usam, pelas regras pró- prias que existem em um hospital, enfim, por uma infinidade de sinais sociais que informam que um hospital é, efetivamente, um hospital. 15 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil Esses elementos, que conferem materialidade às instituições, podem ser organizados em três dimensões: a estrutura, os processos e as pessoas. Diante desse contexto, quando pensamos em uma escola, no entanto, quais elementos estão presentes? Figura 1.4 - A instituição escolar. Legenda: uma escola é reconhecida por sua estrutura física, seu nome, a forma de organização dos espa- ços e tempos escolares e, principalmente, pela interação entre os diferentes atores da comunidade escolar. Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/School#/media/File:Agrestina- -Escola-Professor-Jos%C3%A9-Constantino.jpg>. A escola é um complexo ambiente social formado pelos funcionários, equipe pedagógica, professores, alunos e seus familiares. Essas diferentes subjetividades convivem em um espaço físico cujos limites são caracterizados pela instrumentalidade própria da organização escolar: seu regimento, sua burocracia e sua estrutura hierár- quica, seu tempo de funcionamento, sua distribuição dos espaços, suas regras de conduta, suas normas e seus procedimentos. Esses são alguns dos aspectos que constituem o universo da cultura escolar. Em síntese, podemos reconhecê-los nas seguintes dimensões: • Estrutura: engloba o aparato objetivo necessário ao funcionamento de uma unidade escolar, ou seja, o prédio, o mobiliário, o material pedagógico, as áreas de lazer e convívio social para os jovens, a energia elétrica e a água disponíveis, dentre outros. 16 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil Para ser uma escola, portanto, é preciso uma estrutura própria, baseada em espaços de sala de aula, de secretaria e de convivência coletiva. Entretanto, apenas a estrutura de uma escola não a define como sendo uma escola. É preciso haver processos específicos, organizados sob a lógica das instâncias maiores de gestão, as secretarias de educação, e também sob a lógica interna da própria escola, expressa no seu currículo, no regimento escolar e no seu projeto político e pedagógico. • Processos: os processos escolares podem ser entendidos como todas as ações intencionais organizadas e desenvolvidas pelos diferentes membros, dentro da estrutura disponível, com o fim de desenvolver as propostas educativas. A definição do cardápio das refeições oferecidas, o controle da frequência e monitoramento do desem- penho dos alunos, a aplicação de provas, o uso do material pedagógico e dos livros, o planejamento coletivo da escola e muitasoutras ações executadas por alunos, professores, funcionários e pelo diretor. São processos que nascem no planejamento, se efetivam na execução, e são reformulados nas ações de avaliação que, novamente, levam ao planejamento, reiniciando o ciclo. Para ser escola, é preciso, pois, uma estrutura de funcionamento própria do espaço escolar e de ações desencadeadoras de trabalho pensadas sob a lógica do processo de ensino e de aprendizagem e todas as nuances aí envolvidas. No entanto, estrutura e processo, isoladamente, não determinam a organização escolar. Nada funciona, é claro, se não houver pessoas responsáveis por movimentar todo esse mecanismo. • Pessoas: as pessoas são, obviamente, o coração de uma instituição. Elas são as responsáveis por pensar, executar, modificar, construir e desconstruir todos os processos e a estrutura de uma organização. Uma instituição, ainda que muitos autores considerem que vá além dos sujeitos, na prática só existe pelo desejo e pela ação das pessoas que lhe dão vida. Para cada realidade, no entanto, são esperados papéis, funções e características diferentes das pessoas. Ou seja, da mesma forma que a estrutura e os processos são diferentes para uma fábrica e para um hos- pital, espera-se das pessoas posturas diferentes em cada uma dessas organizações. Na escola, os alunos e seus familiares, os professores, a equipe pedagógica, os funcionários e a direção são pessoas que têm funções, comportamentos e expectativas específicas, típicas de cada sujeito e que guardam relação direta com o espaço que ocupam na instituição. A estrutura de uma organização ou os processos podem interferir na forma como as pessoas entendem a própria organização. Sob a mesma lógica, a forma como as pessoas entendem uma organização pode fazer com que os seus processos e até a sua estrutura sejam modificados. Por isso é tão importante a realização da avaliação institucional de uma escola, por que é por meio dela que se extraem os dados de percepção e de atitude das pessoas acerca dos processos e da estrutura da organização escolar. Esses dados, acrescidos dos resultados das avaliações internas e externas formam um amplo e rico quadro do diagnóstico da realidade escolar. 17 Avaliação Institucional | Unidade 1 - Avaliação Institucional no Brasil Participe do Fórum Desafio no Ambiente Virtual e compartilhe suas considerações com os colegas! A avaliação institucional das escolas deve ser entendida como um instrumento de modificação da realidade escolar, no contexto de ações que visem à melhoria do processo de aprendizagem. Nesse sentido, a avaliação institucional não é um fim em si mesma, mas um possível caminho para a implemen- tação de ações inovador. Garantir a legitimidade desse processo é, portanto, fundamental para o seu próprio sucesso. É preciso sensibi- lizar a comunidade escolar para a sua importância e motivar para que todos, efetivamente, tenham voz e sejam partícipes desse processo. Esses aspectos nortearão, daqui para frente, nossa discussão nas Próximas Unidades da disciplina. 18 Considerações finais Os principais temas abordados na Unidade fizeram referência ao con- texto educacional brasileiro que tem demonstrado graves problemas no tocante aos resultados obtidos pelos alunos. Esse quadro é ainda mais grave no ensino médio. Vimos que a educação, no contexto de grandes transformações atuais, é entendida na perspectiva de promoção da equidade e redução das desi- gualdades sociais. Para tanto é preciso avaliar os alunos, as escolas, os sis- temas educacionais e a comunidade escolar. Verificamos que a relação entre a avaliação interna, realizada no âmbito da sala de aula, e a avaliação externa, dos sistemas educacionais, soma- dos à percepção da comunidade escolar sobre a estrutura e os processos da escola, compõe os aspectos centrais da avaliação institucional. E que as dimensões institucionais da estrutura, processos e pessoas indicam os aspectos de desdobramento das avaliações institucionais. Referências bibliográficas 19 LIBÂNEO, José. A Prática Pedagógica de Professores da Escola Pública. São Paulo, 1991. LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem na escola: reelabo- rando conceitos e recriando a prática. Salvador: Malabares Comunicação e Eventos, 2003. PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. São Paulo: Editora Ática, 1986. SANTOS GUERRA, Miguel Ángel. Uma seta no alvo: a avaliação como aprendizagem. Porto: Edições ASA, 2003. 2 1 Unidade 2 Concepções de avaliação institucional e bases legais Para iniciar seus estudos Olá! Seja bem-vindo à segunda unidade da disciplina de Avaliação Insti- tucional. Nesta unidade vamos aprofundar os seus conhecimentos acerca das bases legais e das concepções de avaliação institucional da educa- ção brasileira. Nos tópicos seguintes você conseguirá acompanhar que a legislação vigente consolidou avaliação como um dos principais ins- trumentos para a manutenção da qualidade das instituições escolares. Vamos lá? Objetivos de Aprendizagem Apresentar as bases legais da avaliação institucional na educação brasi- leira, com enfoque principal na Educação Básica, alvo dos cursos de licen- ciatura plena. 2 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais 2.1 Avaliação institucional Existem diversos autores que abordam a teoria “avaliação institucional”, tais como José Dias Sobrinho, Newton Cesar Balzan e Isaura Belloni, dada a sua relevância para a prática educativa. É amplamente reconhecido que o tema tem suscitado inúmeras mudanças na sociedade e que, consequentemente, surgem novas exigências para a Educação e que requerem novas competências às instituições de ensino. Nesse contexto, identifica-se a necessidade de um processo de ensino-aprendizagem pautado na construção do conhecimento, no qual seja possível formar alunos atuantes na sociedade. Isto pressupõe que a avaliação é um mecanismo que pode aferir o desempenho e a qualidade do trabalho educativo aplicado e desenvolvido pela escola. A avaliação deve ser concebida como um importante patrimônio das organizações escolares, pois consiste na compreensão global da instituição e na integração das suas variadas dimensões. Figura 2.1 - Avaliação institucional. Legenda: Avaliação Institucional. Fonte: 123RF. Nesse sentido, é essencial entendermos que a avaliação institucional está inserida no contexto educacional, assim, deve ser diferenciada da avaliação de aprendizagem dos discentes, haja vista que este tipo de avaliação serve para mediar a aprendizagem do aluno e a qualidade do trabalho do docente. A avaliação educacional está ligada à avaliação da aprendizagem ou desempenho escolar e à avaliação de currículos. Deste modo, a avaliação institucional está destinada avaliar as políticas e projetos definidos pela instituição de ensino. Entende-se que a avaliação deve conceber a análise de uma forma global, considerando os fatores internos e externos, a missão e visão da instituição, contexto social e cultural a qual está inserida. De acordo com Dias Sobri- nho (1995, p. 33), a escola precisa saber, de maneira permanente, quais são os seus valores dominantes nas suas atividades, prática pedagógica e nas questões administrativas. 3 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais A avaliação institucional é uma construção coletiva de questionamentos, é uma resposta ao desejo de rupturas das inércias, é um pôr em movimento um conjunto articulado de estudos, análises, reflexões e juízos de valor que tenham alguma força de transformação qualitativa da instituição e de seu contexto, através da melhoria dos seus processos e das relações psicossociais (VIRGÍNIO SÁ, 2009, p. 89 apud DIAS SOBRINHO, 2000) 2.2 Avaliação institucional: concepçõesApesar da avaliação ser usada há bastante tempo, principalmente como um recurso de controle e gestão das instituições, é recente a sua discussão por estudiosos e dirigentes. Atualmente, o emprego da avaliação está atrelado à visão holística, superando desta forma, a visão mecanicista dos processos. Portanto, o enfoque holístico assume a escola na sua totalidade, ou seja, é mais ampla que a soma das partes. Nessa perspectiva, Jacobsen (1996, p. 15), complementa: (...) o avaliador transita entre estratégias que contemplam métodos gerais e perguntas específicas de avaliação, com a finalidade de estabelecer a relevância e significado dos procedimentos opera- cionais que permitem captar dimensões distintas sobre o processo de avaliação. Na concepção de Dias Sobrinho (1995, p. 34): A avaliação institucional reafirma os valores dominantes da instituição: valores fundamental- mente de caráter científico e pedagógico. Como produção social, autônoma e pública, esse pro- cesso não pode ser senão democrático. Não se trata, como na “qualidade total” das empresas, de medir (aí é mais mensuração que avaliação) os níveis de satisfação do consumidor ou indicadores de eficiência e eficácia dos processos e indivíduos em função dos lucros. (...) A qualidade educa- cional ultrapassa as camadas técnicas e científicas atingindo os mais profundos e diferenciados sentidos filosóficos, sociais e políticos. Portanto, é primordial enfatizar que o caráter público e social de qualquer escola, justifica a necessidade da ava- liação institucional, haja vista que seus processos são de propriedade pública, havendo assim a necessidade da prestação de contas, acerca dos resultados. Nesse sentido, Dias Sobrinho (1995, p. 55), reforça que as instituições de ensino não produzem produtos prontos e acabados para o consumo, como faz a indústria. A organização escolar, por sua atribuição formal e conferida pela sociedade, é responsável pela construção de conhecimento, visando a formação de cidadãos. O ato de avaliar deve ultrapassar a concepção de fábrica de produtos quantificados, logo, é preciso compreen- der a avaliação na lógica acadêmica e pedagógica, num sentido dinâmico e processual. 4 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais Em outras palavras, por intermédio de formas diferenciadas, fazendo coisas diversas, constituindo grupos divergentes ideologicamente, com valores e projetos sociais distintos, trabalhando nas mais variadas disciplinas, a comunidade acadêmica se instaura como uma comunidade precisa- mente porque todos se dedicam a uma tarefa essencialmente educativa. Nessa pluralidade de relações que se estabelecem no esforço de construção do conhecimento, vigora o pedagógico. Construir o conhecimento é ao mesmo tempo construir as sociedades e as condições de vida futura da humanidade (DIAS SOBRINHO, 1995, p. 56). Nesta perspectiva, a avaliação possibilita articular a instituição do ensino com situações e problemas da socie- dade, podendo se tornar um instrumento de mudança, tanto para educação quanto demais aspectos da socie- dade. Educação é um serviço ou bem público não só por ter patrocínio do Estado, mas principal- mente porque seus benefícios (profissionais qualificados, cidadãos conscientes, conheci- mento produzido e disseminado) atingem toda a sociedade. Portanto, a educação deve ser avaliada em termos de eficácia social de suas atividades, assim como em termos de eficiência de seu funcionamento (BELLONI, 1996, p. 718). A avaliação institucional é concebida como uma das grandes geradoras de transformações e mudanças no pro- cesso de ensino e aprendizagem, e na construção de saberes e conhecimentos. Diante deste cenário, possibilita a efetivação de uma sociedade mais justa, democrática, participativa e menos excludente. Compreendemos, assim, que a avaliação institucional deve incentivar a construção de uma proposta pedagógica assentada nos princípios da autonomia e gestão democrática, com o intuito de consagrar a responsabilidade da instituição de ensino com o compromisso social. Dessa maneira, a avaliação institucional pode ser compreendida como competência de todos aqueles que estão comprometidos com a construção democrática de uma instituição com maior nível de qualidade. Tal concepção faz referência à participação da comunidade escolar, para obter os resultados almejados. A avaliação institucional é um processo contínuo e global, compreendida como um processo reflexivo da prá- tica educativa. Dias Sobrinho (2000, p. 106), complementa que “os juízos de valor da comunidade externa são apresentados à instituição e, então, inicia-se o momento que podemos chamar de reavaliação”. Nesse sentido, é também concebida como uma meta-avaliação, enquanto objeto de análise e discussão do processo. A reavaliação possibilita que as avaliações executadas internamente e as avaliações oriundas por membros exter- nos, sejam comparadas e confrontadas, desta forma, garantir um processo de melhoria contínua e de aperfei- çoamento. Assim, a avaliação institucional deve ser percebida como um elemento estratégico e essencial para as instituições de ensino, haja vista que, depois de finalizada, a obtenção de informações e atribuição de valor, aliada às partes e ao todo, reafirma o seu aspecto eficaz de transformações e melhoria da instituição edu- cativa. 5 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais 2.2.1 Enfoques e perspectivas da avaliação A avaliação institucional e a avaliação educacional fazem parte da organização da escola. Sendo a avaliação insti- tucional relacionada ao sistema e a organização escolar, enquanto a avaliação educacional está direcionada para a melhoria do desempenho e qualidade do ensino. Desde o século XX, a literatura acerca da avaliação demonstra os seus aspectos de mensuração, consistindo em apresentar uma conotação assentada no princípio da racionalidade científica, caracterizada por objetivos e normas. Segundo, Dias Sobrinho (2003, p. 20), nesta perspectiva a avaliação pode ser compreendida, então, como “um instrumento para diagnosticar quantitativamente a eficiência da escola, dos processos pedagógicos e administrativos”. Portanto, a avaliação das instituições educacionais estava voltada para os princípios utilitaristas tão peculiares à indústria, com enfoques na eficiência e na racionalidade instrumental. Por exercer aspectos assentados na regulação e classificação, é atualmente utilizada pelos governos e as agências avaliadoras contratadas por eles. Conforme a avaliação se torna um processo mais complexo e é inserida num âmbito político e econômico, incorpora novos conceitos e formas de conceber as concepções educacionais. A nova perspectiva pressupõe mudança na compreensão da aprendizagem, ou seja, faz-se necessário a construção de significados. O currículo passa a ser caracterizado como um elemento essencial no projeto pedagógico da escola. Para Dias Sobrinho (2003, p. 28), “a avaliação, por sua vez, busca dar conta da multiplicidade das significações, para isso tendo que utilizar também uma pluralidade de metodologias”. Diante deste contexto, Dias Sobrinho (2003, p.27), cita que este tipo de avaliação passa a incorporar: (...) a negociação como um de seus valores e procedimentos centrais. Ela requer uma nova pos- tura, mais democrática, e novos instrumentos e metodologias adaptados de disciplinas da área de humanas e sociais. Todos os passos da avaliação devem ser discutidos pelos interessados. Há, assim, o reconhecimento de que a avaliação tem interesse público, e não meramente privado. Além de questões técnicas, há também as éticas e políticas. Ao compreender melhor os conceitos citados, vamos ampliar nossos conhecimentos acerca dos diversos enfo- ques e perspectivas da avaliação. 6 Avaliação Institucional | Unidade2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais Figura 2.2 - Enfoques da avaliação institucional. Legenda: Avaliação Institucional. Fonte: 123RF. A avaliação institucional é um instrumento estratégico para averiguação qualitativa e quantitativa da organiza- ção e desempenho escolar. Nesse sentido, é um processo contínuo e global, compreendida como um processo reflexivo da prática educativa. Para Ardoino (1993), “a avaliação propriamente dita relava do complexo, que é a problemática das ciências sociais. Mas a questão não é meramente epistemológica. Não se trata de optar por uma corrente da ciência, tampouco apenas escolher os procedimentos metodológicos. Isso revela as concepções de mundo”. Dias Sobrinho (2003, p. 14), complementa que “a avaliação que hoje nos afeta se relaciona com as possibilidades e as necessidades de escolha que o mundo moderno engrenou. Portanto, avaliar é um ato estreitamente ligado a escolher e optar”. Ao conceber a avaliação institucional numa perspectiva de totalidade e conceber o seu aspecto de estruturação sistemática, propicia-se a tomada de decisão coletiva e consciente para a melhoria da instituição. A tomada de autoconsciência, nesta conceituação, está assentada na possibilidade da participação dos mem- bros da comunidade escolar no aprimoramento e aperfeiçoamento de desempenho e ações de melhorias nos resultados obtidos por meio da avaliação. A avaliação institucional deve ser realizada de forma articulada, não deve se tratar isolada. Isto pressupõe que a avaliação da instituição seja como um todo, movida pelos princípios da democracia e da participação dos agen- tes da comunidade. A avaliação deve procurar contribuir para eliminar falsas dicotomias e enfrentar as comple- xidades, para a construção de novos saberes. 7 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais Portanto, podemos situar a avaliação institucional em duas perspectivas, a primeira com enfoque nas relações de mercado, baseada em políticas neoliberais oriundas dos órgãos internacionais, tais como, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, e outros. A segunda perspectiva, assentada num princípio que visa à função social da avaliação, centrada no processo acadêmico e pedagógico, propondo assim, intensificar as ações de melhorias no desempenho e aperfeiçoamento da instituição. Tais concepções transmitem panoramas opostos, haja vista que de um lado o poder é oriundo do Estado; e no outro enfoque está baseado na comunidade escolar, numa perspectiva democrático-participativa. Vale ressaltar que as duas concepções são distintas em relação ao objetivo do processo de ensino-aprendizagem. A primeira concepção compreende a avaliação institucional na ótica de mercado, objetivando eficiência e pro- dutividade. Logo, valoriza a racionalidade mercadológica e reguladora, ao invés dos aspectos acadêmicos e pedagógicos. A segunda concepção propõe a avaliação institucional assentada nos aspectos sociais, acadêmicos e peda- gógicos, tendo como base a seguinte premissa: elaborar estratégias para identificar os pontos fortes e fracos da escola, com objetivo de “aperfeiçoar o funcionamento e alcançar melhores resultados em sua missão institucio- nal” (Belloni,1998). No que tange à avaliação institucional, com o aumento da participação da comunidade acadêmica na gestão da escola, novas possibilidades são vislumbradas, dando uma dinâmica ao processo de avaliação que contemple uma perspectiva de totalidade. Em suma, a avaliação é primordial, objetivando ser multiforme, integrada com um conjunto de ações na busca dos princípios da qualidade e deve ser um “processo formativo”, como afirma Dias Sobrinho (1995) e, desta maneira, não pode ser limitada “a procedimentos de testagem do rendimento dos alunos” (SOUSA, 1995). Um modelo comunicativo da escola a ser construído como escopo da avaliação institucional emancipatória, deve facilitar a função social da escola como “serviço público” e como forma- dora do cidadão e da cidadã. A busca do entendimento pelo diálogo, como forma de se chegar à verdade, coletivamente, não elimina a conflitorialidade. A busca de consensos não elimina o dissenso. A finalidade do diálogo e da integração social não é se chegar a uma estabilidade sem vida. A instabilidade também faz parte da ação comunicativa e pedagógica. A escola é um sis- tema, mas é também um mundo vivido. Ela pode ser instrumental, sistêmica, colonizando esse rico vivido – como no paradigma burocrático, necessariamente patológico – ou pode descolo- nizar esse vivido e viver plenamente a conflitorialidade, compondo uma harmoniosa sinfonia de vozes, sons, gestos, palavras, ações... Enfim, ela pode e deve definir seus rumos, ser autônoma, cidadã. Não é outro o escopo de uma avaliação institucional do sistema educativo. Só assim ela será realmente necessária (GADOTTI,1999, p. 13). Portanto, a avaliação institucional deve possibilitar a articulação de saberes e a compreensão da instituição na sua globalidade, sendo essencial superar a racionalidade e a lógica da indústria, objetivando assim refletir acerca da sua realidade, por meio de sua ação avaliativa interna e externa, articulando as dimensões pedagógicas e aca- dêmicas, visando gerar resultados e ações de desenvolvimento acerca do processo, por meio de uma construção coletiva. 8 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais Com advento no governo Lula, foi implantado o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), o qual busca assegurar a integração das dimensões internas e externas e os diversos objetivos da avaliação. Para constituir o referido sistema de avaliação, foi criada a Comissão Especial de Avaliação da Educação Superior (CEA). Tal comissão foi composta por membros da SESU, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e de 11 especialistas vinculados às universidades públicas e privadas. De acordo com o Ministério da Educação (2003, p. 62), esse “sistema deve articular duas dimensões importantes: avaliação educativa e regulação”. A avaliação educativa voltada à atribuição de valor e aumentar a qualidade da emancipação. A regulação em suas fun- ções de supervisão e fiscalização do estado. Os princípios e critérios preconizados pelo SINAES são: Educação é um direito social e dever do Estado; Valores sociais historicamente determinados; Regulação e controle; Prática social com objetivos educativos; Respeito à identidade e às diversidades institucionais em um sistema diversificado; Globalidade; Legitimidade e continuidade. 2.3 Avaliação institucional e as bases legais na educação básica Iniciemos este tópico com a seguinte reflexão: Como a Avaliação Institucional tem sido vista pela comunidade escolar e até que ponto é capaz de promover impactos e mudanças na qualidade da educação básica? A avaliação vem ocupando um lugar de destaque nas políticas educacionais, principalmente a partir do ano de 1990, por meio de legislações do governo, objetivando ser um instrumento para promover a qualidade da edu- cação. No marco legal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394 (BRASIL, 1996) estabeleceu que a União é responsável pela avaliação da Educação no conjunto da Federação. Entre as prerrogativas da União, tal legislação preconiza, no art. 9º, que seja garantido “processo nacional de avaliação do rendimento escolar no 9 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino”. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (2004), no art. 3º, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios, no inciso IX: garantiade padrão de qualidade. Em consonância com a referida legislação, no seu art. 22, a educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e estudos posterio- res. A partir da última década do século XX, passou ser frequente a discussão acerca da aferição da qualidade da edu- cação. Tais avaliações propiciam informações referentes à instituição, as quais auxiliam aos gestores escolares, numa prática mais assertiva e com melhores resultados. Na Educação Básica, a avaliação institucional tem sido ainda uma perspectiva tímida, porém, é um mecanismo de suma importância, em decorrência do conhecimento da realidade educacional das instituições de ensino. Sendo assim, as propostas acerca da avaliação institucional tiveram a sua origem na Educação Superior, a partir do momento que se iniciou a avaliação dentro das Universidades. Em virtude da importância desta temática para a educação, a avaliação institucional ganhou visibilidade e chegou até a Educação Básica, por meio de diversas etapas, tais como: avaliação externa, dados estatísticos (indicadores), avaliações internas (autoavaliação) e infor- mações do contexto que a escola está inserida. É na perspectiva da modalidade “autoavaliação” que se inserem as contribuições dos indicadores e critérios da Educação Básica. Isto ocorre em consequência da coleta de dados, que são transformados em informações estratégicas. Sobre a eficácia do processo da avaliação, dia Thurler (1998, p. 176): Resulta de um processo de construção, pelos atores envolvidos, de uma representação dos obje- tivos e dos efeitos de sua ação comum. Assim, a eficácia não é mais definida de fora para den- tro: são os membros da escola que, em etapas sucessivas, definem e ajustam seu contrato, suas finalidades, suas exigências, seus critérios de eficácia e, enfim, organizam seu próprio controle contínuo dos progressos feitos, negociam e realizam os ajustes necessários. Nesse contexto, passou-se a utilizar de indicadores, para identificar tendências, para subsidiar o aprimoramento das políticas de avaliação da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio. E, também, consiste a proposta de avaliação interna (autoavaliação) das instituições de ensino, assentada por indicadores de qualidade, referen- ciando desta forma a avaliação institucional. Avaliação institucional abrange a análise da escola como um todo, nas dimensões política, peda- gógica e administrativa, tem como marco o projeto pedagógico e visa subsidiar seu contínuo apri- moramento, por meio do julgamento das decisões tomadas pelo coletivo da escola, das propostas delineadas e das ações que foram conduzidas, suas condições de realização e dos resultados que vêm sendo obtidos (BRASIL, 2004). Portanto, a avaliação institucional na Educação Básica contempla uma série de indicadores e procedimentos, que vão desde a organização, infraestrutura, condições do trabalho pedagógico e percepções dos membros da comunidade escolar. 10 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais 2.3.1 Indicadores de qualidade na Educação Infantil Na Educação Básica, percebem-se iniciativas do Governo Federal com ações voltadas para o Ensino Fundamental e Médio, não contemplando a Educação Infantil. Todavia, o Ministério da Educação buscou pautar uma noção de qualidade nesta modalidade de ensino, considerando aspectos pedagógicos e de gestão, por meio de indicado- res de qualidade, apontando para uma perspectiva de avaliação institucional. Os indicadores da qualidade na Educação Infantil utilizados no Programa Nacional, são subdivididos em sete dimensões: Figura 2.3 -Indicadores de Qualidade da Educação Básica. Legenda: Sete dimensões que indicam a qualidade da Educação Básica. Fonte: 123RF. Ao corroborar com o fluxo da figura anterior, é importante destacar que a avaliação não deve se restringir exclusi- vamente ao desempenho do discente. É importante avaliar a escola como um na sua totalidade, objetivando que avaliação institucional seja uma estratégia que possibilite a participação da comunidade escolar, com o intuito de melhoria da qualidade da escola.Por meio de indicadores a escola pode ter um panorama, no qual é possível identificar os pontos positivos e aqueles que precisam ser melhorados. Dessa maneira, é possível listar as priori- dades e mobilizar a comunidade escolar nas ações de melhoria de qualidade. A avaliação institucional abrange a análise da escola como um todo, nas dimensões política, pedagógica e administrativa, tem como marco o projeto pedagógico e visa subsidiar seu con- tínuo aprimoramento, por meio do julgamento das decisões tomadas pelo coletivo da escola, das propostas delineadas e das ações que foram conduzidas, suas condições de realização e dos resultados que vêm sendo obtidos (BRASIL, 2004). Dessa maneira, percebe-se a importância da qualidade na avaliação institucional, não só para o diagnóstico, mas também para o processo de melhoria contínua, possibilitando assim uma relação dialética e possibilidades de 11 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais intervenção pedagógica e formativa.Na perspectiva do Ministério da Educação (2006, p. 21), “a avaliação insti- tucional também carrega a perspectiva formativa, pois possibilita a valorização dos contextos em que os resul- tados foram produzidos, os processos, os programas, o conjunto das ações, o Projeto Pedagógico, comparando o que foi executado com o que estava previsto, identificando os resultados não previstos, os fatores que facili- tam ou são obstáculos à qualidade do ensino; possibilita a reflexão fundamentada em dados, visando desen- cadear mudanças; põe em diálogo informações de fontes variadas (dos alunos, dos docentes, das famílias, das condições objetivas de trabalho, das avaliações externas). Assim, a avaliação institucional pode ser instrumento potente para reconstrução das práticas, resultantes do confronto e da negociação de posições, de interesses, de perspectivas; e, ainda, para o fortalecimento das relações internas e das relações com as demais instâncias decisórias da rede de ensino.” Glossário Indicadores são sinais que revelam aspectos de determinada realidade e que podem qua- lificar algo. Os indicadores apresentam a qualidade da instituição em relação a importantes elementos de sua realidade: as dimensões. Atualmente, existem versões de indicadores do Ensino Fundamental e Educação Infantil. A partir do ano de 2013, ocorreu um processo de estímulo à utilização de indicadores referente à qualidade da educação, para elaboração de forma participativa dos planos estaduais e municipais. Vale ressaltar, que tais indicadores passam a ter significado e aplicabilidade para a instituição de ensino, a partir do momento que compreende a realidade escolar e contribui para elaboração e efetivação das propostas peda- gógicas. Nesse cenário, a avaliação deve contribuir para o processo de tomada de decisão e direcionar as ações de melhorias da escola. Na Educação Básica, a autoavaliação tem um papel essencial, na busca do aperfeiçoamento educacional. A ava- liação externa ocorre por meio da percepção dos membros da comunidade escolar. Tais informações devem ser- vir de embasamento para análise e crítica da organização e gestão da escola. Em 2007, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), foi instituído para monitorar o desempenho das escolas, por meio da proficiência dos alunos na Prova Brasil e taxas de aprovação e reprovação de cada insti- tuição de ensino. Em síntese, a avaliação está presente em todas as atividades humana, ou seja, o “avaliar” é integrante do nosso dia a dia, seja por meio de reflexões informais ou de maneira sistematizada e organizada.Na prática formal e sistematizada, a avaliação do contexto da instituição escolar ocorre em conformidade aos objetivos e perspectivas implícitas e explícitas, com o intuito de refletir os valores e normativas políticas e sociais: (1) Uma avaliação institucional deve questionar todas as dimensões institucionais e contar com ampla participação; (2) Os sistemas devem promover uma efetiva interação entre a autorregula- ção e a regulação, entre a avaliação interna e avaliação externa; (3) Uma concepção global deve fomentar e conferir coesão aos distintos instrumentos e processos, proporcionando uma articu- lação e uma ampliação de âmbitos, objetos, procedimentos, instrumentos e atores; (4) Devem ser valorizados os processos formativos e os enfoques qualitativos, a compreensão das causalidades, das condições de produção e dos contextos, os impactos e efeitos econômicos, sociais, culturais, 12 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais políticos e não somente os produtos e resultados quantitativos: (5) A avaliação deve ser perma- nentemente avaliada; (6) Os ministérios e organismos centrais de avaliação e acreditação devem promover a formação de avaliadores para que as práticas de avaliação externa sejam éticas e tec- nicamente adequadas e coerentes com os projetos, missões e objetivos das instituições avaliadas; (7) Os processos de avaliação devem oferecer informações suficientes completas e acessíveis à sociedade; (8) Valorizar a solidariedade e a cooperação intra e interinstitucional mais que a com- petitividade; (9) Questionar a responsabilidade social e os compromissos públicos das instituições educativas; (10) A acreditação não pode desprezar a autonomia das universidades em prol dos organismos acreditadores (DIAS SOBRINHO, 2006, p. 18). Para você aprofundar os seus conhecimentos sobre avaliação institucional, leia o livro abaixo: 13 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais 2.4 Autoavaliação da Escola e avaliação institucional Neste tópico, vamos conhecer a importância da autoavaliação para a instituição de ensino, na busca estratégica pela qualidade dos seus processos e nos seus resultados finais. Vamos lá! É importante refletir acerca da importância da autoavaliação institucional para as escolas de educação básica, haja vista ser uma importante ferramenta estratégica para a tomada de decisão. Figura 2.4 -Autoavaliação. Legenda: Autoavaliação. Fonte: 123RF. Nesse contexto, faz-se necessário analisar as concepções preconizadas na proposta pedagógica e nos programas de avaliação institucional, objetivando a busca pela melhoria contínua do processo ensino e aprendizagem. Dias Sobrinho (2003, p. 181), salienta que “a avaliação deve sem dúvida produzir conhecimentos objetivos e constatações acerca de uma realidade”, portanto, a avaliação institucional é uma importante ferramenta para a melhoria do processo educacional, possibilitando um diagnóstico acerca da escola. Como visto anteriormente, a avaliação institucional tem por objetivo a melhoria da qualidade do ensino ofere- cido pela instituição escolar. Vale ressaltar, que todos os dados e informações obtidos servirão para nortear as ações e decisões futuras da escola, baseados na autoavaliação e avaliação externa. 14 Avaliação Institucional | Unidade 2 - Concepções de avaliação institucional e bases legais Glossário Nesta perspectiva, Silva (2001, p. 56) complementa que “a autoavaliação é realizada por pessoas envolvidas diretamente na execução do programa”, e passa a ser uma ferramenta que possibilita o conhecimento da instituição na sua totalidade, haja vista que contará com participantes que atuam no cotidiano do ambiente escolar, propiciando assim melhorias da instituição por meio do projeto político-pedagógico. O Sistema Nacional da Avaliação da Educação Superior, Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004, serve de apoio para fundamentar a implementação desta temática dentro das instituições de ensino. A Lei propõe que a avaliação interna, deverá ser coordenada por uma Comissão Própria de Avaliação denominada (CPA), composta e orga- nizada pelos próprios participantes da instituição de ensino. A autoavaliação deverá envolver instituição na sua globalidade, para que se possa avaliar e diagnosticar todas as áreas e setores envolvidos, que servirão de orienta- ção para o processo de tomada de decisão, reforçando assim a identidade institucional. Sendo assim, a avaliação institucional interna ou autoavaliação pode ser concebida como um processo de busca da realidade escolar, seus saberes, seus conflitos e seus pontos a serem corrigidos e aprimorados. Deve servir de apoio no processo de decisões e mudanças na prática pedagógica. A sua execução deve ser dinâmica e sempre atualizada, por isso tem que fazer parte da rotina da escola e da sua relação com a sociedade na qual está inserida. 15 Considerações finais Os principais temas abordados nesta unidade fizeram referência às bases legais da avaliação institucional da educação brasileira, objetivando ser instrumento estratégico para averiguação qualitativa e quantitativa da organização e desempenho escolar. Nesse sentido, é um processo contí- nuo e global, compreendida como um processo reflexivo da prática edu- cativa. Verificamos as principais concepções da avaliação institucional, sendo uma com enfoque nas relações de mercado, baseada em políticas neo- liberais oriundas de premissas e princípios neoliberais. A segunda tem um enfoque assentado num princípio que visa a função social da avalia- ção, centrada no processo acadêmico e pedagógico, propondo assim, intensificar as ações de melhorias no desempenho e aperfeiçoamento da instituição. Abordamos também, a questão das bases legais, na qual a Lei de Diretri- zes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394 (BRASIL, 1996) estabe- leceu um processo nacional de avaliação na educação básica e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino. Esperamos que todo o conteúdo trabalhado nesta unidade possa auxiliar você no desenvolvimento de novas pesquisas voltadas para o desenvolvi- mento da avaliação institucional. Referências bibliográficas 16 AMORIM, A. Avaliação institucional da universidade. São Paulo: Cortez, 1991. BELLONI, I. Avaliação da Universidade: por uma proposta de avaliação consequente e compromissada política e cientificamente. IV CONFERÊN- CIA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO. Anais, 1986. BRASIL. MEC/INEP. Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004. Institui O Sis- tema Nacional De Avaliação Da Educação Superior (SINAES). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/ l10.861.htm>. Acesso em: 28 jan. 2017. DIAS SOBRINHO, J. Avaliação: políticas e reformas da Educação Superior. São Paulo: Cortez, 2003. DIAS SOBRINHO, J.; BALZAN, N. C. (Org.). Avaliação institucional: teoria e experiências. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.180 p. DIAS SOBRINHO, J. Acreditación de la educación superior em América Latina y el Caribe. In: La Educación Superior em América Latina e el Mundo – La financiación de las universidades. Madri: Ed. Mundi Prensa Libros S. A., 2006. DIAS SOBRINHO, J.; RISTOFF, D. (Org.). Universidade Desconstruída: Ava- liação Institucional e Resistência. Florianópolis: Insular, 2000. JACOBSEN, A. L. Avaliação institucional em Universidades: desafios e perspectivas. Florianópolis: Papa Livros, 1996. MEYER, V. A busca da qualidade nas instituições universitárias. Enfo- que, ano IV, n. 10, setembro de 1993. Referências bibliográficas 17 RISTOFF, D. Algumas definições de avaliação. In: Revista da Rede de Ava- liação Institucional da Educação Superior (RAIES). Campinas, SP, n. 2, jun. 2003, p. 19-30.SILVA, M. O. (Org.). Avaliação de políticas e programas sociais: teoria e prática. São Paulo: Veras, 2001. 19 3Unidade 3 Modelos de Avaliação Institucional Para iniciar seus estudos Nesta unidade será possível aprofundar os seus conhecimentos acerca dos modelos reguladores e normativos com a expectativa de superar a fragmentação das instituições de ensino, assim, pressupõe uma avaliação ampla e global. Vamos lá? Objetivos de Aprendizagem Apresentar os modelos de avaliação institucional existentes ancorando as discussões em estudos científicos, materiais didáticos, bem como a ideo- logia presente em cada um deles. Nos tópicos abaixo você vai conhecer os modelos de Avaliação Institucio- nal existentes, visando uma educação de qualidade e fundamentada na transformação social dos alunos. 20 Avaliação Institucional | Unidade 3 - Modelos de Avaliação Institucional 3.1 Avaliação Institucional Para que possamos aprofundar os conhecimentos acerca dos modelos e estratégias utilizados pelas institui- ções de ensino para implantar a avaliação institucional, é importante que você saiba diferenciar os conceitos de avaliar e medir. Figura 3.1 – Avaliação institucional Fonte: 41200092 (123RF) Glossário A palavra avaliar vem do latim a + valere, a qual significa atribuir valor, preço, reconhecer a grandeza e fazer a consideração sobre algo. Nesse sentido, avaliar pode ser caracterizado como algo que atribuímos um juízo de valor referente a um processo de aferição de resul- tado e qualidade. Enquanto, a palavra medir vem do latim metire significa estimar, deter- minar extensão e/ou grandezas. Para Dias Sobrinho (2000), “avaliar não se trata de medir aspectos fragmentados, mas de avaliar articuladamente as diversas dimensões da Instituição”. A avaliação deve ser estruturada em conformidade com as diretrizes e princípios da intuição de ensino e concebida na sua globalidade, para que possa alcançar os objetivos almejados, ou seja, a qualidade no ensino. Ristoff (2004), complementa o conceito da avaliação institucional: Avaliar é um processo contínuo de aperfeiçoamento acadêmico; uma ferramenta para o plane- jamento da gestão universitária; um processo sistemático de prestação de contas à sociedade; um processo de atribuição de valor a partir de parâmetros derivados dos objetivos; um processo criativo de autocrítica” (...) “Como estes dados serão selecionados, organizados, articulados, des- 21 Avaliação Institucional | Unidade 3 - Modelos de Avaliação Institucional critos, analisados, interpretados e valorados é essencialmente a tarefa dos avaliadores e, por isso mesmo, é preciso que tenhamos a certeza de que eles não sejam obra de ficção (RISTOFF, 2003, p. 27-29). Portanto, ainda que a avaliação necessite da mediação, o seu sentido é muito mais amplo, haja vista não ser um processo linear e parcial, devendo ser compreendida como algo contínuo de aperfeiçoamento educacional, uma importante ferramenta de gestão e, principalmente uma sistematização de prestação de contas à sociedade. Avaliação consiste em um processo bastante complexo, formal e intencional, que demanda crité- rios, campos, normas e referências bastante claras, que orientarão a produção de juízos de valor. Estes devem ter função instrumental de orientar as tomadas de decisão para a transformação da realidade avaliada (DIAS SOBRINHO, 1997, p. 81). Na avaliação institucional temos a avaliação externa e a avaliação interna (autoavaliação) da escola. Glossário A avaliação externa é executada por comissões técnicas designadas pelo governo. Enquanto, a avaliação interna é coordenada e conduzida pela própria instituição de Tais avaliações permitem acompanhar e estimular a melhoria do desempenho acadêmico e dos resultados das ações educativas e pedagógicas da escola. Ressaltamos que para que a avaliação institucional seja efetiva, é essencial que ocorra de forma contínua e aberta a todos envolvidos no processo educacional, ou seja, todos os setores da escola, pedagógicos e administrativos, devem refletir acerca da sua prática, objetivado melhorar os resultados da escola na globalidade. Como desenvolver avaliação institucional na instituição de ensino? 22 Avaliação Institucional | Unidade 3 - Modelos de Avaliação Institucional 3.2 Avaliação institucional: concretização das ações educativas É amplamente reconhecido que o ponto inicial para se discutir a avaliação institucional adotada por uma institui- ção de ensino é a resposta das seguintes questões: • Qual é a missão e visão da escola? • Quais os princípios e diretrizes previstos para organização escolar? • Qual o seu projeto educacional? • Quais são os resultados esperados tanto nos aspectos administrativos quanto pedagógicos? Ao responder as questões citadas acima, a avaliação institucional passa a ser uma ferramenta para uma gestão mais assertiva e efetiva dentro das escolas. Veja, a seguir, uma tabela na qual é possível verificar como a referida avaliação pode auxiliar na concretização das propostas pedagógicas: Tabela 3.1: Avaliação institucional: concretização das intenções pedagógicas Princípios Objetivos Finalidades O processo de avaliação institucio- nal deve contar com os seguintes princípios: • Adesão voluntária • Globalidade • Respeito à identidade cultural • Comparabilidade • Não punição ou premiação • Legitimidade • Continuidade A avaliação institucional na escola tem por objetivo: • Aperfeiçoar o projeto político-pedagógico; • Estimular a participação de todos os membros da comunidade escolar; • Agir corretiva e preventivamente nos pontos fracos. Melhoria na qualidade do desempenho escolar, tanto nos aspectos administrativos (gestão escolar) e pedagógicos (ensino- aprendizagem). Fonte: elaborada pela autora Segundo Souza (1995, p. 64), para que o processo de avaliação institucional realmente contribua para os resul- tados e com o aperfeiçoamento do desenvolvimento acadêmico, faz-se necessário: • Ser democrático – considerar que os membros da comunidade escolar (professores, alunos, pais, funcio- nários e sociedade) são agentes primordiais para transformação da educação escolar; • Ser participativo – prever e incentivar a cooperação de todos, desde a definição de como a avaliação deve ser conduzida até a análise dos resultados e a definição dos caminhos a serem seguidos; • Ser contínuo – constituindo-se efetivamente uma prática dinâmica de investigação, que integra o pla- nejamento escolar em uma dimensão educativa. 23 Avaliação Institucional | Unidade 3 - Modelos de Avaliação Institucional Nesta perspectiva, Dias Sobrinho (2000), complementa a avaliação contínua que deve ser global e formativa, portanto, ins¬taura-se “como instrumento da melhoria da qualidade de todos os aspectos e setores científicos, pedagógicos, políticos e adminis¬trativos” (DIAS SOBRINHO, 2000, p. 34). De acordo com Dias Sobrinho (2000, p. 16), a avaliação insti¬tucional afirma o sistema de valores dominante na instituição quando define os papéis e compromissos dos indivíduos nas suas relações. Assim, o autor a com- preende como “produção social, autônoma e pública” resultante de um processo parti¬cipativo e democrático, no qual todos se sentem “agentes de um movimento de atualização e tonificação das prioridades científico- -tecnológicas e pedagógicas”. Diante deste contexto, a avaliação faz parte do processo educativo, todavia, carece de mudanças, que requer uma nova postura das instituições de ensino, visando uma gestão democrática e uma reflexão coletiva, para que novas diretrizes e políticas sejam construídas a partir da realidade da qual está inserida, garantindo assim a qualidade do ensino. De acordo com BRASIL (2003, p. 71), dentro dos objetivos da avaliação, se contam o de conhecer as fortalezas
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