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8 ENQUALAB-2006 - Congresso e Feira da Qualidade em Metrologia Rede Metrológica do Estado de São Paulo - REMESP 30de maio a 01de junho de 2006, São Paulo, Brasil COMO INICIAR A VALIDAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS Andréia de Paula Silva1, Míriam C. Carvalho Alves2 1Laboratório de Ensaios Físico-Químicos em Alimentos, Escola SENAI Mario Amato, São Bernardo do Campo-SP, Brasil, labalimentos@sp.senai.br 2Environ Científica Ltda., São Bernardo do Campo-SP, Brasil, miriam_coutinho@ig.com.br Resumo: A validação de métodos analíticos determina o desempenho característico de um método, partindo-se da avaliação de parâmetros como exatidão, precisão, seletividade, linearidade e faixa de trabalho, limites de detecção e quantificação, variações intra-laboratoriais e inter-laboratoriais. Este estudo teve como objetivo demonstrar como avaliar e obter dados preliminares para a validação de um método titulométrico para determinação de acidez em água, utilizando-se ensaios de proficiência baseados nas normas DOQ-CGCRE-008 (INMETRO: 2003), Guia EURACHEM versão Brasileira (QUAM 2002) e ISO/IEC 17025 (NBR:2001). A validação apresenta importância fundamental para laboratórios que buscam um rigoroso programa de Garantia de Qualidade e realizam periodicamente avaliação de seu desempenho. Palavras chave: Validação, métodos analíticos. 1. OBJETIVOS 1.1 OBJETIVO GERAL Esse trabalho tem por objetivo enfatizar a importância da validação de métodos análiticos para laboratórios que desejam a acreditação pelo INMETRO, segundo a norma NBR ISO/IEC 17025; demonstrando a seqüência de planejamento e parâmetros necessários à validação. 1.2 OBJETIVO ESPECÍFICO Exemplificar experimentalmente a avaliação de dados preliminares para a revalidação de um método titulométrico de determinação de acidez em água, partindo-se da alteração de um método normalizado. 2. INTRODUÇÃO A validação de métodos analíticos comprova através de evidências objetivas que requisitos para uma determinada aplicação ou uso específico são atendidos [1]. Pode ser definida como o processo que confere validade a um método analítico, instrumento ou equipamento, cujas especificações são aceitas como corretas, conferindo confiabilidade aos resultados obtidos. 2,3 Ter validado um resultado significa que o procedimento, que inclui desde as condições de operação do equipamento até toda a seqüência analítica, seja aceito como correto. Para isso, estabelecem-se níveis de exigência que podem definir a aprovação do produto ou espécie em estudo. Para tanto, é fundamental que os laboratórios disponham de meios e critérios objetivos para demonstrar que os métodos que utilizam conduzem a resultados confiáveis, que garantam qualidade, idoneidade e credibilidade de seus produtos e/ou serviços. É importante enfatizar que qualquer alteração de métodos normalizados implica em revalidar o método [2]. Ao empregar métodos de ensaios químicos emitidos por órgão de normalização, organizações reconhecidas na sua área de atuação ou publicados em livros e/ou periódicos de grande credibilidade na comunidade científica, o laboratório precisa demonstrar que tem condições de aplicar de maneira adequada estes métodos normalizados, dentro das condições específicas existentes nas suas instalações antes de implantá-los. Como os métodos normalizados são métodos validados, não é necessário realizar o processo completo de validação, desde que não ocorram alterações significativas dos mesmos. Entretanto, a conformidade dos métodos normalizados utilizados deve ser verificada sob condições reais de uso. É responsabilidade do laboratório verificar se as características de desempenho prescritas no método oficial podem ser obtidas. A validação deve ser efetuada após seleção, desenvolvimento, e otimização dos métodos. O procedimento operacional padrão deve ser claro, objetivo e completo de acordo com a norma ISO 78 -2, e aprovado, autorizado e revisado pelo grupo de garantia da qualidade da empresa. A documentação da validação deve conter ainda, especificação dos requisitos, características de desempenho obtidas, critérios de aceitação dos valores obtidos das características de desempenho em comparação com os requisitos, e a afirmação da validade dos resultados quanto ao atendimento das necessidades do problema analítico. O uso de testes estatísticos adequados (t de Student, Fisher, Cochran, Grubbs, ANOVA, testes de hipóteses) torna as decisões menos subjetivas o que faz com que o processo de validação de métodos analíticos seja mais objetivo, mais fácil de demonstrar e implementar. 4 9 O planejamento e a execução da validação seguem a seqüência de trabalho abaixo: • Definir a aplicação, objetivo e escopo do método; • Definir os parâmetros de desempenho e critérios de aceitação; • Desenvolver um procedimento operacional para validação; • Definir os experimentos de validação; • Verificar se as características de desempenho do equipamento estão compatíveis com o exigido pelo método em estudo; • Qualificar os materiais, por exemplo, padrões e reagentes; • Executar os experimentos preliminares de validação; • Ajustar os parâmetros do método e/ou critérios de aceitação, se necessário; • Executar experimentos completos de validação; • Preparar um procedimento operacional para execução do método, na rotina; • Definir critérios de revalidação (por exemplo, mudanças de pessoal, condições ambientais, equipamentos, periodicidade, etc), e • Definir tipo e freqüência de verificações de controle da qualidade analítica para a rotina [1-2]. 3. PRINCÍPIOS DA VALIDAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS Uma forte infra-estrutura internacional de medições está sendo implementada, para isso há necessidade progressiva de dados analíticos comparáveis e consistentes, para a eliminação de barreiras técnicas entre os países. Para atingir este processo de reconhecimento mútuo em nível internacional devem ser observados requisitos legais, de certificação e de acreditação, ou seja, uma vez efetuada a medição esta é aceita em qualquer país. As normas internacionais (ISO, USP, FDA, AOAC, NATA, ASTM) e sistemas da qualidade (Boas práticas de laboratório; ISO/IEC 17025) requerem a validação de métodos analíticos e a documentação do trabalho de validação, para a obtenção de resultados confiáveis e adequados ao uso pretendido. Portanto existem fortes razões, legais, técnicas e comerciais, que justificam a validação de métodos analíticos. Os métodos analíticos usados para avaliação da qualidade de produtos, tais como, farmacêuticos, alimentícios, cosméticos, agro-químicos, estão sujeitos a vários requisitos legais e normativos. Segundo requisitos da norma 21 CFR 211.194 (a) (2), os métodos de ensaios usados para avaliar a conformidade destes produtos com especificações estabelecidas devem atingir padrões adequados de exatidão, precisão e confiabilidade. A norma NBR ISO/IEC 17025 especifica o requisito técnico - "Validação de métodos analíticos". A farmacopéia americana USP 24 (Seção de Ensaios Gerais <1225>) apresenta sugestões para a validação de métodos analíticos oficiais. Apresenta também um sumário das características de desempenho requeridas para os vários tipos de métodos de ensaios. Sendo assim os métodos normalizados são aqueles desenvolvidos por um organismo de normalização ou outras organizações, cujos métodos são aceitos pelo setor técnico em questão,e método não normalizado é aquele desenvolvido pelo próprio laboratório ou outras partes, ou adaptado a partir de métodos normalizados e validados [3- 4]. 4. DOCUMENTAÇÃO DE MÉTODOS VALIDADOS Uma vez cumpridas todas as etapas do processo de validação, é importante documentar os procedimentos de forma que o método possa ser implementado de maneira clara e sem ambigüidades. A documentação apropriada auxilia na aplicação consistente do método, já que, uma vez implantadoo método, ele será sempre executado conforme descrito; caso contrário o desempenho real do método não irá corresponder àquele previsto nos dados de validação. Documentações que registrem etapas da validação são necessárias também para fins de avaliação e podem ser exigidas por razões contratuais ou até mesmo por organismos regulamentadores. A sistemática de controle de documentos do laboratório deve permitir a retirada de circulação dos documentos obsoletos e emissão de métodos revisados. As alterações devem ser realizadas somente por pessoas autorizadas. A Norma NBR ISO/IEC 17025 estabelece requisitos para o controle de documentos[2-3]. 5. PARAMETROS DE VALIDAÇÃO [1-3-5] Para validar um método faz-se necessária a aplicação dos parâmetros: Especificidade e Seletividade; Faixa de trabalho e Faixa linear de trabalho; Linearidade; Sensibilidade; Limite de detecção; Limite de quantificação; Exatidão e tendência (bias); Precisão; Robustez; Incerteza de medição. 5.1 Especificidade e Seletividade É a capacidade que o método possui de medir exatamente um composto específico independente da matriz da amostra e de suas impurezas. Para análise qualitativa (teste de identificação) é necessário demonstrar a capacidade de seleção do método entre compostos com estruturas relacionadas que podem estar presentes. Isto deve ser confirmado pela obtenção de resultados positivos em amostras contendo o analito, comparativamente com resultados negativos obtidos com amostras que não contém o analito, contendo estruturas semelhantes. A especificidade e a seletividade estão relacionadas ao evento da detecção. A especificidade refere-se a um método específico para um único analito e a seletividade refere-se a um método utilizado para vários analitos com capacidade de distinção entre eles. 10 5.1.1 Testes de Especificidade Os testes de especificidade têm como objetivo determinar os componentes que precisam ser analisados na amostra, para isso, é necessário definir a matriz, assim com os possíveis interferentes. Para análise quantitativa (teor) e análise de impurezas, a especificidade pode ser determinada pela comparação dos resultados obtidos de amostras contaminadas com quantidades apropriadas de impurezas ou amostras não contaminadas, para demonstrar que o resultado do teste não é afetado por esses materiais. 5.1.2 Testes de Seletividade A matriz da amostra pode conter componentes que interferem no desempenho da medição pelo detector selecionado, sem causar um sinal visível no teste de especificidade. Os interferentes podem aumentar ou reduzir o sinal, e a magnitude do efeito também pode depender da concentração. Para fazer o teste de seletividade podem ser utilizados diversos testes, depende da disponibilidade do analito, da matriz sem o analito e de amostras de referência nas concentrações de interesse. Podem ser aplicados os teste F (Snedecor) de homogeneidade de variâncias e o teste t (Student) de comparação de médias. De início, parte-se da hipótese em que a matriz não afeta o sinal do analito em níveis de concentração elevados ou acima da faixa. Preparam-se dois grupos de amostras de teste, um com a matriz e o outro sem a matriz, ambos os grupos com a concentração do analito idêntica em cada nível de concentração de interesse. O número de amostras paralelas em cada nível de concentração deve ser maior ou igual a 7 (sete) para permitir o uso adequado dos modelos estatísticos e proporcionar uma comparação válida. Com os valores obtidos nos dois grupos de amostras calcula- se o teste F e compara-se o valor do teste F com o valor do teste F tabelado. Se o valor do teste F calculado for menor que o valor do teste F tabelado, a matriz não tem efeito significativo sobre a precisão do método, caso contrário a matriz interfere na precisão do método. O teste t (Student) deve ser calculado e comparado com o teste t tabelado, caso o valor o calculado seja menor que o valor do teste t tabelado, a matriz não tem efeito significativo sobre o ensaio, caso contrário a matriz tem efeito estatisticamente significante sobre o resultado do ensaio. O teste t de Student pode ser utilizado como fator decisivo caso o teste F calculado tenha um valor maior que o teste F tabelado, porém o teste t sempre deve ser calculado independente do resultado do teste F. 5.2 Faixa de Trabalho e Faixa Linear de Trabalho Em qualquer método quantitativo, existe uma faixa de concentrações do analito no qual o método pode ser aplicado. Os primeiros valores da faixa podem ser dos valores dos limites de detecção e de quantificação e os últimos dependem do sistema de resposta do equipamento de medição. A faixa linear é definida como a faixa de concentrações na qual a sensibilidade pode ser considerada constante e são normalmente expressas nas mesmas unidades do resultado obtido pelo método analítico. Para escolher a faixa de trabalho procede-se da seguinte maneira: quando se tem uma amostra específica, a concentração esperada deve se situar no meio da faixa de trabalho e quando a concentração do analito é desconhecida utiliza-se a faixa de trabalho estudada para amostras diversificadas. Os valores medidos têm que estar dentro da faixa de trabalho, e os valores medidos próximos ao limite inferior da faixa de trabalho ter que ser diferente dos brancos dos métodos. 5.2.1 Métodos para determinação da Faixa de Trabalho e Faixa Linear Para determinação da faixa de trabalho e faixa linear pode- se usar um método com 3 etapas: 1ª etapa: Passar sete ou mais vezes o branco com adição de concentrações variadas do analito preparados de forma independente. Colocar no eixo x as concentrações do analito e no eixo do y as respostas das medições. Objetivo: identificar por observação visual, a faixa linear aproximada e o limite superior e inferior da faixa de trabalho. 2ª etapa: Passar sete ou mais vezes materiais de referência (diferentes concentrações), na faixa linear e branco da amostra com adição de concentrações variadas do analito, na faixa linear. Colocar no eixo x as concentrações do analito e no eixo do y as respostas das medições; Verificar visualmente a existência de dispersos que possam interferir na regressão; Calcular o coeficiente de regressão linear; Calcular e fazer o gráfico dos valores dos resíduos (resíduo é a diferença entre o valor observado e o valor calculado pela equação da reta de regressão para cada valor de x); A distribuição aleatória em torno da linha reta confirma a linearidade; Tendências sistemáticas indicam a não linearidade. Objetivo: determinar a faixa de trabalho e confirmar a linearidade. 3ª. Etapa: Passar sete vezes o branco da amostra com adição de concentrações variadas do analito, próximas ao LD. Expressar o LQ como a concentração mais baixa do analito que pode ser determinada com um nível aceitável de incerteza. Objetivo: determinar o Limite de Quantificação (LQ), que efetivamente forma o limite mais baixo da faixa de trabalho. 5.3 Linearidade 11 É a capacidade de uma metodologia analítica demonstrar que os resultados obtidos são diretamente proporcionais à concentração do analito na amostra, dentro de um intervalo especificado. A linearidade é obtida por padronização interna ou externa e formulada como expressão matemática (equação da regressão linear) usada para o cálculo da concentração do analito a ser determinado na amostra real. O coeficiente de correlação linear (r) é freqüentemente usado para indicar a adequabilidade da curva como modelo matemático. Um valor maior que 0,90 é, usualmente, requerido. O método pode ser considerado como livre de tendências (unbiased) se o corredor de confiança da reta de regressão linear contiver a origem. 5.4 Sensibilidade Sensibilidade é um parâmetro que demonstra a variação da resposta em função da concentração do analito. Pode ser expressa pela inclinaçãoda curva de regressão linear de calibração, e é determinada simultaneamente aos testes de linearidade. A sensibilidade depende da natureza do analito e da técnica de detecção utilizada. 5.5 Limite de Detecção Limite de detecção é a menor quantidade do analito presente em uma amostra que pode ser detectada, porém não necessariamente quantificada, sob as condições experimentais estabelecidas. No caso de métodos não instrumentais (CCD, titulação, comparação de cor), esta determinação pode ser feita visualmente, onde o limite de detecção é o menor valor de concentração capaz de produzir o efeito esperado (mudança de cor, turvação, etc). E no caso de métodos instrumentais (CLAE, CG, absorção atômica), a estimativa do limite de detecção pode ser feita com base na relação de 3 vezes o ruído da linha de base. 5.5.1. Determinação de Limite de Detecção (LD) Para determinação do LD analisam-se 7 ou mais amostras em branco e calcula-se o LD = x + ts onde x é a média dos valores das amostras em branco e s é o desvio padrão das amostras em branco. A média e o desvio padrão são dependentes da matriz e é válido somente quando os valores das amostras em branco apresentarem um desvio padrão diferente de zero. Pode ser determinado também analisando-se sete ou mais amostras em branco com a adição da menor concentração aceitável do analito e calcula-se LD = 0 + ts onde: s = desvio padrão das amostras em branco com adição. A “menor concentração aceitável” é aquela tida como a concentração mais baixa para a qual um grau aceitável de incerteza pode ser alcançado. 5.6 Limite de Quantificação É a menor quantidade do analito em uma amostra que pode ser determinada com precisão e exatidão aceitáveis sob as condições experimentais estabelecidas. Onde o limite de quantificação é estabelecido por meio da análise de soluções contendo concentrações decrescentes do analito até o menor nível determinável com precisão e exatidão aceitáveis. O Limite de Quantificação refere-se à concentração do analito correspondente ao valor da média das amostras em branco mais 5, 6 ou 10 desvios padrão ou pode corresponder ao padrão de calibração de menor concentração descontando o branco. 5.6.1 Determinação do Limite de Quantificação (LQ) Para determinação do LQ analisa sete vezes a amostra em branco e calcula LQ = X + 5s ou LQ = X + 6s ou LQ = X + 10s, onde X = Média dos valores dos brancos e s = Desvio padrão dos brancos, onde a obtenção do branco verdadeiro pode ser difícil. Ou pode ser determinado analisando-se sete brancos com adição de concentrações variadas do analito, próximas ao LD. Que para cálculos pode-se: Medir, uma vez cada 7 replicatas independentes a cada nível de concentração; Calcular o desvio padrão “s” do valor do analito, para cada concentração; Fazer o gráfico “s” versus concentração e atribuir um valor para o LQ, por inspeção; Expressar o LQ como a concentração mais baixa do analito que pode ser determinada com um nível aceitável de incerteza. Onde o LQ faz parte do estudo para determinação da faixa de trabalho. 5.7 Exatidão e Tendência (Bias) A exatidão de um método analítico é verificada quando são obtidos resultados muito próximos em relação ao valor verdadeiro, a exatidão é calculada como porcentagem de recuperação da quantidade conhecida do analito adicionado à amostra, ou como a diferença porcentual entre as médias e o valor verdadeiro aceito, acrescida dos intervalos de confiança. A exatidão do método deve ser determinada após o estabelecimento da linearidade, do intervalo linear e da especificidade do mesmo, sendo verificada a partir de, no mínimo, 9 (nove) determinações contemplando o intervalo linear do procedimento, ou seja, 3 (três) concentrações, baixa, média e alta, com 3 (três) réplicas cada. A tendência implica numa combinação de componentes de erros aleatórios e sistemáticos, onde a determinação da tendência total com relação aos valores de referência apropriados é importante no estabelecimento da rastreabilidade aos padrões reconhecidos. A tendência pode ser expressa como recuperação analítica (valor observado / valor esperado). A tendência deve ser corrigida ou demonstrada ser desprezível, mas em ambos os casos, a incerteza associada com a determinação da tendência 12 permanece como um componente essencial da incerteza global. Os processos normalmente utilizados para avaliar a exatidão de um método são, dentre outros: uso de materiais de referência, participação em comparações interlaboratoriais e realização de ensaios de recuperação. 5.7.1 Materiais de referência certificados (MRC) Os materiais de referência certificados são utilizados no processo de validação de um método de ensaio para avaliar o desempenho do laboratório, por isso o fornecimento de MRC é realizado por organismos reconhecidos e confiáveis, como por exemplo, NIST, LGC, dentre outros. Na avaliação da exatidão utilizando um material de referência, os valores médios obtidos pelo laboratório e o desvio padrão de uma série de ensaios em replicata, devem ser comparados com os valores certificados do material de referência, para esta comparação podem ser utilizados: Erro relativo (ER); Teste de hipóteses; Índice z (z Score); Erro normalizado; 5.7.2 Comparações interlaboratoriais Busca mostrar o desempenho do laboratório em; estabelecer a eficácia e a comparabilidade de novos métodos de ensaio ou de medição; monitorar métodos estabelecidos e determinar as características de desempenho de um método, geralmente conhecido como processos colaborativos que é uma forma de ensaio para avaliar o desempenho de um método nas condições normais de trabalho em vários laboratórios, através de ensaio de amostras homogêneas preparadas cuidadosamente. 5.7.3 Comparação de métodos Tem como objetivo estudar o grau de proximidade dos resultados obtidos pelos diferentes métodos de ensaio comparando os resultados obtidos utilizando um método interno e um método de referência, que busca avaliar a exatidão do método interno relativamente ao de referência. 5.8 Precisão A precisão é a avaliação da proximidade dos resultados obtidos em uma série de medidas de uma amostragem múltipla de uma mesma amostra, onde as duas formas mais comuns de expressá-la são por meio de repetitividade e reprodutividade expressa pelo desvio padrão. A precisão é geralmente expressa como desvio padrão ou desvio padrão relativo. Ambas repetitividade e reprodutibilidade são geralmente dependentes da concentração do analito e, deste modo, devem ser determinadas para um diferente número de concentrações; em casos relevantes, a relação entre precisão e concentração do analito deve ser estabelecida. Neste caso o desvio padrão relativo pode ser mais útil, pois foi normalizado com base na concentração e deste modo ele é praticamente constante ao longo da faixa de interesse, contanto que esta não seja muito extensa. 5.8.1 Repetitividade Repetitividade é a precisão intra-corrida, ou seja o grau de concordância entre os resultados de medições sucessivas, efetuadas sob as mesmas condições de medição. Todas as medições com o mesmo procedimento; mesmo analista; mesma instrumentação, dentro de um curto período de tempo. A repetitividade pode ser expressa quantitativamente em termos da característica da dispersão dos resultados e pode ser determinada por meio da análise de padrões, material de referência ou adição ao branco de várias concentrações da faixa de trabalho. A partir do desvio padrão dos resultados dos ensaios sob condição de repetitividade, calcula-se o limite de repetitividade “r” que capacita o analista a decidir se a diferença entre análises duplicatas de uma amostra é significante para um nível de confiança de 95%. 5.8.2 Reprodutibilidade Reprodutibilidade é a precisão interlaboratorial, ou seja, o grau de concordância entre os resultadosobtidos em laboratórios diferentes como em estudos colaborativos. Embora a reprodutibilidade não seja um componente de validação de método executado por um único laboratório, é considerada importante quando um laboratório busca a verificação do desempenho dos seus métodos em relação aos dados de validação obtidos através de comparação interlaboratorial. A partir do desvio padrão obtido sob condições de reprodutibilidade é possível calcular o limite de reprodutibilidade “R”, o qual permite ao analista decidir se a diferença entre os valores da duplicata das amostras analisadas sob condições de reprodutibilidade é significante. 5.8.3 Precisão intermediária Precisão intermediária é a precisão intercorridas, ou seja, refere-se à concordância entre os resultados do mesmo laboratório, mas obtidos em dias diferentes, com analistas diferentes e/ou equipamentos diferentes. Para a determinação da precisão intermediária recomenda-se um mínimo de 2 dias diferentes com analistas diferentes. Existem vários métodos para determinação e controle desse parâmetro de qualidade, como por exemplo, por meio de gráfico de controle de amplitude, que poderão ser aplicados para replicatas de amostra e para padrões estáveis ao longo do tempo. Um método simplificado para estimar a precisão intermediária baseia-se na execução de: • uma mesma amostra; • amostras supostamente idênticas; • padrões. 13 5.8.4 Comparação da precisão entre métodos A precisão de um método analítico pode ser expressa como o desvio padrão ou desvio padrão relativo de uma série de medidas. Quando se pretende avaliar se dois métodos (A e B) têm diferenças significativas entre si, em termos de precisão, pode-se recorrer ao teste F. Este se baseia no cálculo da razão entre as variâncias dos dois métodos (Fcal = SA²/SB²), colocando-se a maior no numerador, de modo que a razão seja maior ou igual a um. Em seguida, compara-se este valor obtido com o valor tabelado de F. Se Fcalculado ≤ Ftabelado, os dois métodos não apresentam diferenças significativas entre si, relativamente às suas precisões. 5.8.5 Recuperação A recuperação do analito pode ser estimada pela análise de amostras adicionadas com quantidades conhecidas do mesmo (spike). As amostras podem ser adicionadas com o analito em pelo menos três diferentes concentrações. A limitação deste procedimento é a de que o analito adicionado não está necessariamente na mesma forma que apresente na amostra. A presença de analitos adicionados em uma forma mais facilmente detectável pode ocasionar avaliações excessivamente otimistas da recuperação. 5.8.6 Método de determinação de Repetitividade e Reprodutibilidade Analisar 7 Padrões, materiais de referência ou amostras de branco fortificadas a várias concentrações ao longo da faixa de trabalho. Com mesmo analista, equipamento, laboratório, em um período curto de tempo. Determinar o desvio-padrão (s) da repetitividade de cada concentração; Analistas e equipamentos diferentes, mesmo laboratório, período estendido (precisão intermediária). Determinar o desvio-padrão da reprodutibilidade intralaboratorial de cada concentração. Analistas, equipamentos e laboratórios diferentes, período estendido. Determinar o desvio-padrão da reprodutibilidade interlaboratorial de cada concentração. 5.9 Robustez A robustez de um método de ensaio mede a sensibilidade que este apresenta face a pequenas variações. Um método diz-se robusto se revelar praticamente insensível a pequenas variações que possam ocorrer quando esse está sendo executado. Para determinar a robustez de um método de ensaio, pode-se recorrer ao teste de Youden. Trata-se de um teste que permite não só avaliar a robustez do método, como também ordenar a influência de cada uma das variações nos resultados finais, indicando qual o tipo de influência de cada uma dessas variações. Convém salientar que quanto maior for à robustez de um método, maior será a confiança desse relacionamento à sua precisão. 5.10. Incerteza de Medição Os estudos de validação e o seu acompanhamento que deve ser feito de acordo com a rotina do laboratório, produzem dados de desempenho global do método e fatores de influência individuais que podem ser aplicados à estimativa da incerteza associada aos resultados do método em rotina. Através desses dados é possível calcular as variações sofridas pelo método e determinar a incerteza, ou seja, quanto o meu resultado vai variar para mais ou para menos numa determinada faixa de trabalho com uma determinada matriz. Após essa etapa, o método pode ser considerado validado e passar para o processo de acreditação, onde todos os parâmetros da validação serão avaliados pelo órgão certificador responsável. A manutenção da validação do método também será analisada através do uso de padrões de verificação e de participação em estudos interlaboratoriais [1-3-5]. 6. PARTE EXPERIMENTAL Para exemplificar o processo de validação, foram aplicadas algumas alterações no método 2310 do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater titulométrico para determinação de acidez em água, conforme abaixo: Uso exclusivo do indicador fenolftaleína 1% (m v-1); Extensão da faixa de trabalho (de 50 a 1000 mg de CaCO3 L-1); Acondicionamento da amostra com ácido sulfúrico 0,02N. A revalidação do método é necessária para verificar se as alterações feitas não modificam o desempenho do método. A validação desse método foi feita para a matriz de água potável, visando restringir os estudos sobre o efeito da matriz. Como em toda a validação, foram adotados alguns critérios para melhor compreensão e efetuação dos cálculos, deixando claro que esse trabalho visa indicar um caminho e não uma regra para a validação de métodos de ensaio químico. Durante os cálculos a constante k que é um fator de cobertura, ou seja, fator de confiança; é igual a 2, o que significa que o nível de confiança é de 95%. Este fator de 95% é o mais utilizado em laboratórios químicos e metrológicos, porém em outros tipos de laboratório esse fator pode ser alterado de acordo com o nível de confiança que se deseja alcançar. Outro fator que deve ser definido é a temperatura do ambiente onde serão realizadas as análises. No caso deste trabalho, adotou-se 22°C + 2°C; esse valor não é casual, foi escolhido devido calibração do material volumétrico a 20°C e, por esse motivo, a temperatura ambiente foi mantida na faixa de 20 a 24°C onde a variação da densidade da água e da dilatação do vidro são considerados constantes [3]. 14 Acidez R2 = 1 0,00 200,00 400,00 600,00 800,00 1000,00 1200,00 0 200 400 600 800 1000 1200 Conc e nt r a ç õe s do Ana l i t o 7. PRINCÍPIO DO MÉTODO [8] A acidez da água esta diretamente relacionada aos íons de hidrogênio presentes na amostra, como resultado da dissociação ou hidrólise de solutos e a sua capacidade de reação com uma solução padrão de uma base forte adicionada á amostra. O valor da acidez depende do valor de pH adotado como ponto final ou do indicador utilizado, o valor encontrado pode variar significativamente de acordo com o valor de pH utilizado na determinação como ponto final. A acidez é a medição de uma propriedade agregada à água que pode ser interpretada de em termos específicos onde a composição da amostra é conhecida. Minerais fortemente ácidos, ácidos fracos como o carbônico e o acético, e sais hidrolisados como sulfatos de ferro ou alumínio também contribuem para a determinação de acidez segundo este método. Essa determinação pode refletir a qualidade da água. 7.1 Reagentes e Materiais: Os materiais e os reagentes utilizados para a realização dos ensaios são controlados e obedecem aos critérios estabelecidos pelo método de análise, assim como as soluções requeridas por ele. 7.2 Determinação de Acidez da Água Pipetou-se 100mL de amostraou padrão e transferiu-se para um erlenmeyer de 250mL, adicionou-se 5mL de solução de ácido sulfúrico 0,02N e 5 gotas de peróxido de hidrogênio 30% (v.v-1), aqueceu-se por 5 minutos. Resfriou-se até a temperatura ambiente e adicionou-se 5 gotas da solução de fenolftaleína 1% (m v-1), titulando-se com a solução de hidróxido de sódio 0,1N até o ponto final indicado pela coloração rosa (primeiro tom de rosa). Efetuar a prova em branco com água tipo I [8]. Determinação de acidez Acidez mg CaCO3 .L-1 = [( A x B ) – ( C x D )] x 50000 mL de amostra Onde: A= Volume gasto de hidróxido de sódio 0,1N (mL); B= Normalidade real do hidróxido de sódio 0,1N; C= Volume adicionado de ácido sulfúrico 0,02N (mL); D= Normalidade real do ácido sulfúrico 0,02N. 7.3 Valores Experimentais: Tabela 1: Média dos resultados obtidos utilizando-se a faixa estendida "com a matriz". Conc. em mg CaCO3.L-1 Conc. em mg de CaCO3 .L-1 (média dos valores) Branco 1,52 50 49,39 100 100,83 150 149,42 200 200,15 250 250,88 Conc. em mg CaCO3.L-1 Conc. em mg de CaCO3 .L-1 (média dos valores) 300 299,47 350 349,48 400 400,92 450 449,51 500 501,67 550 550,26 600 600,27 650 651,72 700 700,30 750 750,32 800 801,04 850 850,35 900 901,07 950 952,52 1000 999,68 Continuação da tabela 1. Faixa de Trabalho e Faixa de Linearidade Figura 1: Curva linear, utilizando os valores médios das concentrações encontradas a partir das médias das concentrações dos padrões analisados com a "matriz" descontando o branco. Equação da linha de tendência da curva: y = ax + b Onde: y = Resposta medida (absorbância, altura ou área do pico, etc.); x = Concentração; a = Inclinação da curva de calibração = sensibilidade; b = interseção com o eixo y, quando x = 0. A equação da reta (equação de regressão) do gráfico elaborado com as médias dos resultados obtidos foi: y = 1,0008x + 0,1218; e o coeficiente de correlação linear, também chamado de R² foi igual a 1. 15 Tabela 2: Parâmetros para avaliação da sensibilidade Conc. em mg de CaCO3 .L-1 (média dos valores) xmedido Valores calculados xcalculado Resíduo R=A-B sr tcalculado 1,52 1,40 0,12 1,31 49,39 49,23 0,16 1,72 100,83 100,63 0,20 2,16 149,42 149,18 0,24 2,57 200,15 199,87 0,28 3,00 250,88 250,56 0,32 3,44 299,47 299,11 0,36 3,85 349,48 349,08 0,40 4,28 400,92 400,48 0,44 4,71 449,51 449,03 0,48 5,13 501,67 501,15 0,52 5,57 550,26 549,70 0,56 5,99 600,27 599,67 0,60 6,41 651,72 651,08 0,64 6,85 700,30 699,62 0,68 7,27 750,32 749,60 0,72 7,69 801,04 800,28 0,76 8,12 850,35 849,55 0,80 8,54 901,07 900,23 0,84 8,98 952,52 951,64 0,88 9,42 999,68 998,76 0,92 0,25 9,82 Cálculo dos desvios de linearidade(t): tcalculado = resíduo Onde: sr n resíduo = xmedido - xcalculado sr = desvio padrão dos resíduos; n = numero de pontos. Sensibilidade: S = dx Onde: dc S = sensibilidade; a = inclinação da curva de calibração; S=a dx = variação da resposta; dc = variação da concentração. Logo: a = 1,0008 ∴ S = 1,0008 Tabela 3: Parâmetros para avaliação do limite de detecção Concentração real do Branco mg CaCO3.L-1 X t (95%) s LD 0,09 5,09 0,09 0,09 5,09 0,09 0,09 1,52 2,447 2,04 6,51 Limite de Detecção (LD): LD = X + ts Onde: X = média dos valores dos brancos; t = valor da abscissa t (Student) para (1- α) x 95% nível de confiança; s = desvio padrão dos brancos (para s = 0). Tabela 4: Parâmetros para avaliação do limite de quantificação Concentração real do Branco mg CaCO3.L-1 X s LQ 0,09 5,09 0,09 0,09 5,09 0,09 0,09 1,52 2,04 21,92 Limite de Quantificação (LQ): Onde: LQ = X + 10s X = média dos valores dos brancos; s = desvio padrão dos brancos. 8. CONCLUSÃO Analisando-se os aspectos abordados neste trabalho, evidencia-se a importância da validação da metodologia analítica aplicada em laboratório, uma vez que assegura-se a confiabilidade dos resultados obtidos, delegando qualidade aos produtos e/ou serviços prestados, além de reconhecimento comercial. Na parte experimental, observou-se que as alterações aplicadas no método normalizado não influenciaram seu desempenho em relação a parâmetros, tais como linearidade, seletividade, especificidade, faixa de trabalho, limite de detecção, limite de quantificação e sensibilidade, os quais são dados preliminares para iniciar o processo de revalidação. Partindo-se da avaliação dos parâmetros acima, a etapa seguinte seria testar os demais parâmetros, que são: robustez, repetitividade, reprodutibilidade, precisão intermediária, comparação com outros métodos e recuperação e etc, prosseguindo ao estudo do cálculo de incerteza e, por fim, a acreditação do método. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] NBR ISO/IEC 17025:2001. Requisitos Gerais para a Competência de Laboratórios de Calibração e de Ensaios. ABNT. RJ. Brasil. [2] LEITE, Flávio - Validação em Análise Química - Editora Átomo, 1996. [3] Guia EURACHEM. Primeira Edição do Guia EURACHEM/ CITAC, 2ª ed.,2000. Determinando a Incerteza na Medição Analítica. QUAM 2002. Versão Brasileira. [4] BARROS,C & HIRATA,Y, 2002. Apostila do Curso Estimativa da Incerteza nas Medições Laboratoriais - Rev.02 - Outubro/ 2002. CPTI.São Paulo. SP. [5] COSTA NETO, Pedro Luiz de Oliveira - Estatística - 2ª edição, editora Edgard Blücher Ltda., 2002. [6] KELLY, William D. - Basic Statistics for Laboratories - Ed. Van Nostrand Reynolds, 1991. [7] ISO/ IEC 17025:1999. General Requirements for the Competence of Testing and Calibration Laboratories. 1999. International Organization for Standardization. ISO, Geneva. Switzerland. [8] Método 2310-Acidity - Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater -20Th Edition, 1998.
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