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Teoria do crime

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Teoria do crime 
Conceito de Direito Penal
O direito penal é o sistema normativo legal que se liga o crime como fato e a pena como consequência e disciplina as relações jurídicas que dai resultam.
O direito penal se orienta através da intervenção mínima ou última ratio (razão);
Código penal é o centro;
Direito penal objetivo e subjetivo
O Direito Penal Objetivo é conceituado como sendo um conjunto de normas que são únicas e exclusivamente outorgadas aos indivíduos, criando assim um padrão de conduta para a sociedade. Dependendo da direção desta conduta (se no caso for uma conduta transgressora), uma sanção será aplicada. O que deve ser fixado é, o fato desse direito ser um agrupamento de normas. 
Exemplo: Lei.
O Direito Penal Subjetivo (Jus Puniendi) é uma esfera onde o poder estatal é enfatizado, assim como sua titularidade e exclusividade de aplicar as penas. Nessa direção, concluímos que o Estado é o único que possui o famoso ius puniendi (direito - punir), ou seja, somente o Estado tem o direito de punir. Simplificando mais o conceito, podemos entender direito penal subjetivo como o poder do Estado de aplicar o direito penal objetivo.
Exemplo: Aplicação da lei por parte do Estado.
O direito penal subjetivo só existe por conta do objetivo;
Juiz é imparcial, ele julga conforme a lei;
O subjetivo depende que o objetivo seja violado para que ele possa entrar em ação;
Direito penal comum e especial
DIREITO PENAL COMUM E DIREITO PENAL ESPECIAL 
O direito penal comum se aplica a todas as pessoas e aos atos delitivos em geral. 
O direito penal especial é dirigido a uma classe de indivíduos de acordo com sua qualidade especial, e a certos atos ilícitos particularizados. 
Pode-se falar em legislação penal comum em relação ao código penal, e em legislação penal especialcomo sendo as normas penais que não se encontram no referido estatuto. 
Exemplos: Crimes de competência federal – art. 109, CRFB; (Direito penal comum).
 Militar, Eleitoral, Estadual (PM e bombeiro militar); (Direito penal especial). 
Fontes Direito Penal
Quando tratamos dos marcos de origem e manifestações do Direito Penal, nos referimos as suas fontes; ou seja, o órgão e a forma de exteriorização são exemplos de fontes do Direito Penal. Podemos citar o caso da União, um órgão que legisla privativamente sobre direito civil, comercial, processual, eleitoral, do trabalho, dentre outros. A existência de leis, costumes, jurisprudências e/ou doutrinas também são exemplos de fontes.
As fontes do Direito Penal se dividem em: Fontes Materiais, Formais, Formais Imediatas e Formais Mediatas.
FONTE MATERIAL OU DE PRODUÇÃO (união art. 22, §1 da CRFB)
É a fonte de produção da norma, o órgão encarregado de criar o Direito Penal. No Brasil, a Constituição Federal incumbiu essa função a União, que de acordo com o artigo 22 da Carta Magna diz:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
(...)
Contudo, vale ressaltar que Lei Complementar pode autorizar os Estados a legislarem sobre Direito Penal incriminador sobre matérias específicas conforme prevê artigo 22 parágrafo único da Constituição:
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.
Para exemplificar e tornar mais fácil a compreensão, imaginem que em um determinado Estado tenha uma vegetação típica que não é encontrada em nenhum outro lugar do mundo, então a União, através de Lei Complementar, autoriza este Estado a criar Lei Penal específica a fim de proteger aquela vegetação.
A fonte material então é como se fosse uma fábrica, em que o direito penal é produzido.
FONTES FORMAIS OU DE CONHECIMENTO 
Por sua vez, a fonte formal é o instrumento de exteriorização do direito penal, é o modo como as regras são reveladas (fonte de conhecimento ou cognição).
As fontes formais se subdividem em fontes formais imediatas e fontes formais mediatas.
Para a doutrina clássica, as fontes formais imediatas se resumiam nas leis, enquanto as fontes formais mediatas se revelavam nos costumes e princípios.
Contudo, data vênia, essa explicação está ultrapassada, a doutrina moderna traz novas fontes que se mostram relevantes na atualidade.
Fontes formais expressam como o direito penal se revela;
Fontes formais imediatas (Lei fereral)
Lei
Único instrumento normativo capaz de criar crimes e cominar penas.
 Constituição Federal
Não cria crime e comina penas. Apesar de ser superior a Lei, não cria crime devido a seu processo moroso e rígido de alteração (imaginem toda vez para criar ou revogar uma lei criminal fosse necessário quórum qualificado, o Congresso não faria outra coisa). Porém, a Constituição pode estabelecer patamares mínimos e máximos a serem seguidos (mandados constitucionais de criminalização), exemplo:
Artigo 5º CRFB
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
De acordo com a doutrina majoritária, existem ainda mandados constitucionais implícitos na Constituição Federal, por exemplo quando esta garante o direito à vida não deseja que o legislador exclua o crime de homicídio (com base nisso questiona-se hoje a legalização do aborto).
Tratados internacionais de direito humano
Podem ingressar em nosso ordenamento jurídico de duas formas, como emenda constitucional quando aprovado por quórum de emenda ou como status supra legal (abaixo da Constituição e acima das leis ordinárias) se aprovadas por quórum simples.
 Jurisprudência
Revela o Direito Penal podendo ter caráter vinculante. Exemplo: O artigo 71do Código Penal traz a possibilidade de continuação delitiva, porém não diz a condição de tempo que caracterizaria esta hipótese. A jurisprudência então propõe um lapso temporal de 30 dias entre o primeiro e o último crime.
Princípios
Não aparece como fonte formal mediata como queria a doutrina clássica. Não rara as vezes os Tribunais absolvem ou reduzem penas com fundamentos em princípios. Exemplo: Princípio da insignificância.
Ato administrativo
Quando complementam norma penal em branco. Exemplo: Lei de Drogas que não define drogas, quem define é a Portaria número 344/98 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.
Fonte formal mediata (costume e princípios gerais do direito- LINDB, art. 4º.
Seria a própria doutrina.
Neste entendimento, os costumes são classificados como fontes informais do Direito Penal.
A fonte mediata é utilizada quando a imediata for omissa;
Resumindo:
Analogia (LINDB, art. 4º)
Conceito: No âmbito jurídico, a analogia é um método de integração das lacunas da lei. Ocorre analogia quando é feita uma comparação entre casos diferentes, mas com um problema parecido para surgir a mesma resposta. A analogia tem como base o princípio da igualdade jurídica, também afirma que deve haver a mesma solução para a mesma infração ou razão da lei.
Emprego: no caso in bonam partem (em benefício do réu); na fiança; em leis fiscais; em negócios jurídicos (e na renúncia).
Analogia, interpretação extensiva e interpretação analógica
A analogia é um mecanismo de integração. Trata-se da aplicação de uma norma a um fato não abrangido em nenhum outro dispositivo normativo.
Toda norma legal se expressa por um texto;
A interpretação extensiva consiste no aumento da amplitude da área de incidência da norma, ou seja, estende-se sua interpretação para abranger maior quantidade de casos concretos.
Quando o texto diz menos do que ele deveria;
A interpretação analógica é a atividade do intérprete diante de uma norma específica que dentro de seu conteúdo apresente expressões abertas. Ao aplicar a norma ao caso concreto, enquadra-se situações semelhantes ao conceito especificoprevisto por existir dentro da mesma norma uma previsão genética.
Norma legal prevista a fatos semelhantes;
A lei penal
Classificação das normas penais:
Podemos inicialmente afirmar que as normas tidas penais cumprem a finalidade de punir determinadas condutas descritas no Código Penal e estão em direção ao que promana a legalidade como princípio, além da conduta do agente que a norma proíbe ou manda determinada conduta. É por isso que as normas penais incriminam ou não conforme o previsto em lei.
Incriminadoras, permissivas e finais;
Normas penais incriminadoras: tem por escopo definir as infrações penais, proibindo ou impondo condutas, desse modo, o seu não cumprimento se sujeita a penalidade. Podem ser primárias ou secundárias:
Primárias ou “preceptum iuris”: são aquelas que descrevem perfeita e detalhadamente a conduta proibindo ou impondo;
Secundárias ou “sanctio iuris”: tem por objetivo a individualização da pena em abstrato.
Normas penais não incriminadoras: Possuem tais finalidades, como:
 Tornar licitas determinadas condutas;
 Afastar a culpabilidade do agente, como no caso de isenção de penas;
Esclarecer determinados conceitos;
 Fornecer princípios penais para a aplicação da lei penal;
Há outro critério classificativo das normas penais não incriminadoras, como: 
 Permissivas:
Podem ser:
Justificantes: afasta a ilicitude da conduta do agente, por exemplo: arts. 23, 24 e 25 do CP.
Exculpantes: elimina a culpabilidade, isentando o agente de pena, por exemplo: art. 26 “caput” e 28 do CP.
 Finais: São as que esclarecem o conteúdo de outras normas, delimitando o campo de sua aplicação. Exemplo: o artigo 1º do Código Penal trata da anterioridade da lei.
Completas e incompletas (em branco) 
Lei Penal Completa:Considera-se Lei Penal Completa a que independe de complementação normativa/valorativa, isto é, a conduta perpetuada pelo indivíduo se encontra prevista/descrita junto a norma penal.
Exemplo: Artigo 121 do Código Penal.
Por não necessitar complemento normativo, nem valorativo, a doutrina a chama de lei penal completa.
Lei Penal Incompleta: De outro norte, estar-se-á frente a uma Lei Penal Incompleta quando ela pender de complementação normativa/valorativa, ou seja, mesmo havendo descrição da conduta proibida, deve-se ter, necessariamente, algum complemento vindo de outra norma, para que, assim, possa-se entender, efetivamente, o limite da proibição.
Exemplo: Lei 11.343/2006 art. 33 do CP, tipificação: droga (Portaria do Ministério da Saúde).
Características das normas penais
Exclusividade: A norma penal é exclusiva porque somente ela define infrações e impõe penas.
Imperatividade: Em relação à imperatividade, a norma penal é autoritária por sujeitar quem descumprir o seu mandamento. Ela separa e define o lícito do ilícito penal. Quem incorrer no ilícito penal receberá as consequências jurídico-criminais conhecidas como penas.
Todos devem obedecer as leis penais. Todas as leis e as normas penais são imperativas.
A prática do fato típico faz surgir a relação jurídica punitiva que significa o aparecimento do direito concreto de punir do Estado e a obrigação do indivíduo de não obstar a aplicação da pena. Nos casos de normas penais permissivas como o caso da legítima defesa, acontece inversão nos polos da relação jurídica entre o sujeito e o Estado, cabendo a este último reconhecer os efeitos da excludente da antijuridicidade.
Generalidade: A norma penal tem eficácia erga omnes, ou seja, para todas as pessoas. Explica Damásio que mesmo os considerados inimputáveis devem obedecer ao mandado proibitivo da norma penal incriminadora.
Abstração e impessoalidade: A norma penal dirige-se a fatos futuros, vez que não existe crime sem lei anterior que o defina como tal. A norma penal não é feita para indivíduos determinados.
Interpretação da lei penal
A interpretação da lei penal é a atividade consistente em identificar o alcance e significado da norma penal. Pode ser classificada:
quanto ao sujeito, levando em consideração aquele que realiza a interpretação:
quanto ao modo, considerando os meios empregados para a interpretação;
quanto ao resultado, tendo em conta a conclusão a que chegou o exegeta.
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AO SUJEITO
Quanto ao sujeito, a interpretação pode ser autêntica, doutrinária ou jurisprudencial.
Interpretação autêntica: Também chamada de legislativa, é aquela que emana do próprio órgão encarregado da elaboração do texto legal, podendo ser:
a) contextual, quando feita no bojo do próprio texto interpretado (ex.: art. I50 e § 4º. do CP e o conceito de casa);
b) não contextual ou posterior, quando feita por outra lei de edição posterior.
Interpretação doutrinária: É aquela feita pelos estudiosos do Direito, em livros, artigos, teses, monografias, comentários etc.
A doutrina pode ser conceituada como o conjunto de estudos jurídicos de qualquer natureza, feito pelos cultores do Direito. Não se trata de fonte do Direito, mas, antes, de forma de procedimento interpretativo.
Interpretação jurisprudencial: Também denominada judicial, é aquela dada pelos tribunais, mediante a reiteração de seus julgamentos.
Jurisprudência é a reiteração de decisões no mesmo sentido, lançadas em casos idênticos, por meio da interpretação e aplicação do Direito ao caso concreto. Da mesma forma que a doutrina, não se trata de fonte do Direito, mas, antes de procedimento interpretativo.
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AOS MEIOS
Quanto ao modo, a interpretação pode ser gramatical ou lógica.
 Interpretação gramatical
Também chamada de literal ou sintática, é aquela fundada nas regras gramáticas, levando em consideração o sentido literal das palavras.
 Interpretação lógica (LINDB, art 5º)
Igualmente chamada teleológica, é aquela que procura descobrir a vontade do legislador, assim como a finalidade com a qual a lei foi editada.
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AO RESULTADO
Quanto ao resultado, a interpretação pode ser declarativa, restritiva e extensiva.
Interpretação declarativa: É aquela que dá à lei o seu sentido literal, sem extensão nem restrição, correspondendo exatamente ao intuito do legislador.
Interpretação restritiva: É aquela que, concluindo ter dito mais do que queria o legislador, restringe seu sentido. Aos limites da norma.
Interpretação extensiva: É aquela que, concluindo ter a lei dito menos que queria o legislador, estende seu sentido para que corresponda ao da norma.
Elementos de interpretação
Texto legal;
Ratio legis; (Razão da lei.)
Sistemático; (analisa normas jurídicas entre si. Pressupondo que o ordenamento é um todo unitário, sem incompatibilidades, permite escolher o significado da norma que seja coerente com o conjunto.)
Histórico; (Levar em conta a história da lei.)
Direito comparado; (Se compara com o Direito de outros países.)
Extrapenal; (Utiliza outros ramos do direito, além do penal.)
Extrajurídico; (Utliliza outros ramos fora do direito.)
Princípio da legalidade ( art 5º, XXXIX da CRFB e art. 1º da CP)
A elaboração de normas incriminadoras é função exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência desse fato exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção correspondente. O princípio da legalidade foi consagrado através da fórmula latina nullum crimen, nulla poena sine lege. O princípio da legalidade constitui uma real limitação ao poder estatal de interferir na esfera de liberdades individuais (garantia do indivíduo contra o Estado, jamais pode ser usado pelo Estado contra o indivíduo). O princípio da legalidade é o pilar do chamado Garantismo, corrente ideológica que prega a existência de um poder punitivo mínimo do Estado em face ao máximo de garantias aos indivíduos.
Princípio da taxatividade: a lei penal deve trazer descrição pormenorizada de seus elementos essenciais e circunstanciais para que se permita a proibição inquestionável de determinada conduta. O princípio da taxatividade impedeque a lei penal seja ambígua ou apresente descrição imprecisa ou vaga, situações que podem favorecer interpretações arbitrárias da lei penal. A taxatividade da lei penal garante a segurança jurídica, pois espanca qualquer dúvida em relação às condutas que podem ou não ser praticadas.
Princípio a anterioridade da lei: determina que a lei penal deve ser anterior ao fato que busca incriminar. Em outras palavras, é necessário que a lei penal já esteja em vigor na data em que o fato que tipifica é praticado (regra do tempus regit actum). Um fato só é considerado reprovável pelo ordenamento jurídico penal se era considerado como tal pela lei penal à época de seu acontecimento. O princípio da anterioridade define como regra a irretroatividade de lei penal, mas apenas quando se tratar de novatio legis in pejus (lei nova que prejudica o réu), pois admite-se excepcionalmente a regra da retroatividade da lei penal mais benéfica ao réu (novatio legis in mellius).
A lei penal no tempo
Vigência da lei (LINDB, arts. 1º, caput, e 2º, caput e §1)
45 dias após a publicação;
A lei vai vigorar até que outra a revogue (total: abrrogação; parcial: derrogação).
 Conflitos de leis penais no tempo
A lei posterior discriminante (abolito criminis) 
A nova Lei deixa de considerar como infração um fato que era anteriormente punido. (art. 2º, caput) 
Natureza Jurídica: Extinção da punibilidade. (art. 107, III)
O fato era crime, mas deixou de ser, logo, o réu não poderá mais ser punido.
Exemplo:
A lei posterior mais benéfica (novatio legis in mellius)
Quando a lei posterior que traz um benefício, de certa forma, para o agente do fato (a lei nova beneficia a situação do acusado).
Aplicação da lei retroativa em benefício do réu.
Exemplo:
Lei penal mais gravosa (novatio legis in pejus ou lex gravior)
A lei nova que prejudica o agente não retroage, isto é, deve ser mantida a lei revogada (ultra-atividade da lei vigente na época do fato). Destarte, havendo inovação legislativa para pior, “A lei que terá incidência, nesse caso, é a antiga (que vai continuar regendo os fatos ocorridos em seu tempo). Esse é o princípio da ultra-atividade da lei penal anterior mais benéfica (leia-se a lei anterior, embora já tenha perdido sua vigência, diante da lei nova, continua válida e aplicável para os fatos ocorridos durante o seu tempo; se alei nova é prejudicial, ela não retroage, não alcança os fatos passados; desse modo, eles continuam sendo regidos pela lei anterior, mesmo tendo essa lei anterior já perdido sua vigência; aliás, justamente porque já não está vigente é que se fala em ultra-atividade, ou seja, a lei acaba tendo atividade mesmo depois de ‘morta’)”.
Se a lei posterior não for benéfica, ela irá retroagir em benefício do réu.
A lei nova só vale para caso posteriores a revogação.
Exemplo:
A lei posterior incriminante (novatio legis incriminadora)
Uma lei posterior que criminaliza determinada conduta, aplica-se a regra geral da irretroatividade penal. Segundo Capez “é a lei posterior que cria um tipo incriminador, tornando típica a conduta considerada irrelevante penal pela lei anterior”. Como se vê, nesta hipótese, a regra é aquela insculpida no princípio da legalidade e da anterioridade: não haverá crime ou pena sem lei prévia. Portanto, em decorrência da máxima nullum crimen nullum poena sine praevia lege, as condutas que superveniente tornaram-se crime não retroagem, sendo aplicáveis a partir de sua vigência.
Não há crime anterior sem que haja uma lei que o defina.
Exemplo:
Apuração da lei mais benéfica 
Para verificar qual a lei penal mais benéfica, em regra, é possível a sua verificação hipoteticamente. Quando ambas as leis penais (anterior e posterior) forem de fácil constatação naquilo em que houve o favorecimento ao agente, aplica-se desde logo a mais vantajosa ao réu. É o que ocorreu, por exemplo, com o crime de “porte ilegal de drogas para consumo próprio” do art. 16, da Lei nº 6368/76 revogada pelo artigo 28 da Lei nº 11.343/06 (lex mitior), que foi possível a verificação literal da lei mais benéfica.
Todavia, em casos mais complexos, “Não basta a comparação, em abstrato, de duas leis penais, para descobrir-se qual é a mais benéfica. Elas devem ser comparadas em cada casos concreto, apurando-se quais seriam os resultados e consequências da aplicação de uma e de outra” (DELMANTO, 2010, p. 85). Nesses casos, é necessário que o julgador verifique, no caso concreto, comparando-a, nas leis questionadas, qual será a mais benéfica ao acusado. Persistindo a dúvida, a doutrina tem entendido que se deve perguntar ao acusado, aconselhado pelo seu defensor, qual das leis lhe parece ser a mais favorável (Neste sentido: Sanches, Hungria, Delmanto e Bacigalupo). Damásio finaliza que “nos casos de séria dúvida sobre a lei mais favorável, deve a nova ser aplicada somente aos fatos ainda não decididos, nada impedindo seja ouvido o réu a respeito”.
Depende da pena;
Será apurado concretamente de acordo com o réu;
Exemplo:
Combinação das leis
Eis o ápice da aplicação da lei no tempo: é possível a conjugação de leis penais, formando, o que a doutrina chama de terceira lei (lex tertia)? Em outras palavras, pode o julgador utilizar-se de partes de leis diferentes favoráveis ao réu para aplicação no caso concreto?
Não é possível dividir a norma para aplicar a parte mais benéfica, criando uma terceira lei (lex tertia). Sobre o assunto: “Nessa tarefa deve-se analisar em separado uma e outra lei, mas não é lícito tomar preceitos isolados de uma e outra, mas cada uma delas em sua totalidade. Se assim não fosse, estaríamos aplicando uma terceira lei, esta inexistente, criada unicamente pelo intérprete” e continua afirmando que “o juiz não pode criar uma terceira lei porque estaria aplicando um texto que, em momento algum, teve vigência” (ZAFFARONI e PIERANGELI, 2004, p. 219/220). O Superior Tribunal de Justiça corrobora com este entendimento (HC 124782 / ES, RHC 22407 / PR).
Pegar o que cada lei tem de bom em benefício do réu não é permitido, prevalece a mais favorável;
Retroagir apenas no que beneficia o réu, irá gerar uma terceira lei;
Lei intermediária
Consiste a lei intermediária aquela que não era vigente ao tempo do fato e nem ao tempo do julgamento, porém, vigorou durante o processo criminal. Em outros termos, a lei intermédia surge no interregno de tempo entre o fato criminoso e o julgamento e prevalecerá, caso seja mais favorável, às demais leis (do tempo do fato ou do julgamento).
Portanto, “Se a lei intermediária for a mais favorável, deverá ser aplicada. Assim, a lei posterior, mais rigorosa, não pode ser aplicada pelo princípio geral da irretroatividade, como também não pode ser aplicada a lei da época do fato, mais rigorosa. Por princípio excepcional, só poderá ser aplicada a lei intermediária, que é a mais favorável. Nessa hipótese, a lei intermediária tem dupla extra-atividade: é, ao mesmo tempo, retroativa e ultra-ativa!” (BITENCOURT, 2007, p. 167/168).
Norma penal em branco
É a lei que depende de outro ato normativo para que tenha sentido, uma vez que seu conteúdo é incompleto. Pode ser classificada como homogênea (sentido lato) ou heterogênea (sentido estrito). Desta forma, a classificação homogênea é aquela cujo complemento estiver em outra lei e podemos citar como exemplo o casamento contraído com ciência de impedimento absoluto. Já a classificação heterogênea dar-se-á quando o complemento estiver em ato normativo diverso da lei, tais como, portarias, decretos, resoluções.
São leis incompletas;
Muda apenas o complemento. O complemento altera o sentido do crime;
Se houver algum tipo de dano, ela não retroage;
Só retroage quando modificar a figura abstrata do penal;
Lei temporária excepcional
Previstas no artigo 3º do Código Penal. Possuem como características a ultratividade e a autorrevogação, pois o seu próprio texto determina o prazo final de sua vigência. Comportam duas espécies, a saber: 
I. Leis temporárias: tem vigência previamente fixadapelo próprio texto da lei. 
II. Leis excepcionais: são as destinadas a viger em situações de emergência. 
Existe a hipótese da retroatividade da lei posterior para atingir fatos regulados pela lei excepcional e temporária, qual seja, quando esta lei posterior for mais benéfica e fizer expressa menção ao tempo (período) anormal de vigência.
Lei temporária: Sabemos quando ela vai acabar;
Auto-revogável;
Vale a ultratividade- quando a lei mesmo revogada permanece aplicável aos fatos ocorridos durante a sua vigência;
Lei excepcional: Sabemos que vai acontecer, só não se sabe quando;
Exemplo:
Tempo do crime
Necessário se torna saber qual é o tempo do crime, ou seja, a ocasião, o momento, a data em que se considera praticado o delito para a aplicação da lei penal. O artigo 4º do Código Penal trás a solução: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”. Três são as teorias a respeito da determinação do tempo do crime, vejamos: 
1ª) Teoria da Atividade: considera-se como tempo do crime o momento da conduta comissiva ou omissiva; 
2ª) Teoria do Resultado: o crime é praticado no momento da produção do resultado (consumação); 
3ª) Teoria da Ubiquidade ou Mista: é a somatória das duas teorias acima, ou seja, considera como tempo do crime tanto o momento da conduta como o do resultado. 
O Código Penal Brasileiro, nos termos do seu artigo 4º, adotou a Teoria da Atividade que traz como principal consequência a imputabilidade do agente ser aferida no instante em que o crime é praticado, não importando a data em que venha o resultado ocorrer. O Professor Fernando Capez assim explica a aplicação da Teoria da Atividade: 
Um menor com 17 anos e 11 meses esfaqueia uma senhora, que vem a falecer em consequência desses golpes três meses depois. Não responde pelo crime, pois era inimputável à época da infração. No caso de crime permanente, como a conduta se prolonga no tempo, o agente responderia pelo delito. Assim, se o menor, com a mesma idade da hipótese anterior, sequestrasse a senhora, ao invés de matá-la, e fosse preso em flagrante três meses depois, responderia pelo crime, pois o estaria cometendo na maioridade. 
Crime permanente e crime continuado
Crime permanente é aquele crime que a sua consumação se estende no tempo.
Ex: Se um sequestro está em andamento, com a vítima colocada em cativeiro, havendo a entrada em vigor, de uma lei nova, aumentando consideravelmente as penas para tal delito, aplica-se de imediato a norma prejudicial ao agente, pois o delito está em plena consumação.
A consumação se alonga no tempo por conta do sujeito;
Sumula 711 do STF: "A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado e permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência".
Crime continuado quando o agente pratica várias condutas, implicando na concretização de vários resultados, terminando por cometer infrações penais de mesmas espécies, em circunstancias parecidas de tempo, lugar e modo de execução, aparentando que umas são meras continuações de outras. Em face disso aplica-se a pena de um só dos delitos.
Portanto se uma lei nova tiver vigência durante acontinuidade ,deverá ser aplicada ao caso, prejudicando ou beneficiando.
O sujeito pratica 2 crimes da mesma espécie e circunstâncias parecidas;
A lei penal no espaço
Territorialidade
Define que a lei local se aplica a todos os crimes ocorridos no território nacional, independente da nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico lesado, respeitando limites de tratados, convenções e regras internacionais (CP: art. 5º, §§ 1º e 2º). Está ligado ao próprio princípio da soberania do Estado, pelo qual ele detém o monopólio do poder nos limites de seu território.
Território nacional por extensão;
Solo, ar, mar territorial, subsolo, plataforma continental, golfos, bahias, portos, lagoas e rios;
Extraterritorialidade
Conforme o art. 7º do CP, a lei penal brasileira poderá ser aplicada no exterior em alguns casos.
a) Extraterritorialidade incondicionada
Será aplicada a lei brasileira, sem qualquer condicionante, mesmo que o agente tenha sido julgado no exterior (CP: art. 7º, I), para crimes contra a liberdade ou a vida do Presidente da República, crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, Distrito Federal, estados, municípios, empresas e órgãos públicos, pessoas a serviço destas entidades, etc., ou genocídio (quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil).
A fim de proteger bens jurídicos essenciais, o poder brasileiro é exercido independentemente da concordância do Estado onde o crime ocorreu (mesmo que lá o ato não seja crime), podendo o agente ser julgado à revelia, caso não esteja no Brasil.
b) Extraterritorialidade condicionada
Aplica-se a lei brasileira obedecendo alguns requisitos, segundo os princípios da universalidade, personalidade, bandeira e defesa (CP: art. 7º) para crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se comprometeu a reprimir, crimes praticados por brasileiros, por aeronaves ou embarcações brasileiras em território estrangeiro que não sejam lá julgados ou praticados por estrangeiros contra brasileiros fora do Brasil (caso o agente ingresse no Brasil ou seja passível de extradição para cá).
É importante lembrar que, de modo algum, o Brasil concede a extradição de brasileiros natos para que sejam julgados e condenados no país onde cometeram o crime, e, para evitar a impunidade, estando aqui, serão julgados pela lei brasileira relacionada ao crime lá cometido.
Lugar do crime (como saber onde o crime aconteceu?)
A identificação do local do crime – locus commissi delicti – é importante para saber qual princípio deverá ser adotado, implicando na definição da competência e jurisdição sobre o fato, podendo ser adotadas diversas teorias.
a) Teoria da ação ou da atividade: É considerado o local onde a conduta típica criminosa foi realizada. O problema é que esta teoria impede a ação do Estado a que pertence o bem jurídico lesado, que é onde o delito acaba produzindo seus maiores efeitos nocivos.
b) Teoria do resultado ou do evento: O local do crime é considerado onde seus resultados se concretizam, onde o evento se consuma, independente da ação ou intenção do agente. Mas acaba excluindo a atuação do Estado no qual a ação foi deflagrada.
c) Teoria da intenção: É considerado local do crime aquele onde o agente tinha intenção que o resultado de sua ação se concretizasse. É uma teoria que não oferece respostas para questões envolvendo crimes culposos ou preterdolosos (que acabam tendo resultado mais grave que a intenção do agente).
d) Teoria do efeito intermédio ou do efeito mais próximo: O local do crime é aquele onde a “energia” movimentada pela atuação do agente atinge a vítima ou bem jurídico.
e) Teoria da ação à distância ou da longa mão: O local do crime é aquele onde se verificou o ato executivo.
f) Teoria limitada da ubiqüidade: O local do crime pode ser tanto o local da ação quanto do resultado.
g) Teoria pura da ubiquidade, mista ou unitária: Tanto pode ser o local da ação ou do resultado, ou o local do bem jurídico atingido. É a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro (art. 6º). A adoção desta teoria visa resolver conflitos de jurisdição e de adoção de teorias, no caso concreto, bem como aplicar “compensação” de penas caso o agente venha a ser condenado, por exemplo, no estrangeiro e depois no Brasil (CP: art. 8º).
TEORIA DA UBIGUIDADE: possibilidade de presença em mais de um lugar, o crime pode acontecer em mais de um lugar;
Exemplo: Uma bomba lançada do RJ (conduta) em direção a Venezuela (lugar onde deveria produzir-se o resultado), mas a vítima foi levada para América (resultado) e lá vem a morrer.
Pena cumprida no estrangeiro
Antes de qualquer coisa faz-se necessário transcrever o artigo 8º do Código Penal, que trata da pena cumprida no Estrangeiro: “A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nelaé computada, quando idênticas”. Este artigo dispõe sobre a não incidência do bis in idem, ou seja, o agente não pode cumprir a pena de mesma natureza duas vezes. 
O agente que praticou um crime no estrangeiro e outro no Brasil, sendo condenado à pena de mesma natureza, a pena cumprida pelo agente no estrangeiro será descontada no Brasil. Assim, caso a pena cumprida pelo agente seja maior do que a pena a ser cumprida no Brasil, nada restará a cumprir. Caso as penas sejam de natureza diversa, a pena cumprida pelo agente no estrangeiro atenua, a critério do juiz, a pena que deve ser cumprida no Brasil. A doutrina costuma denominar a pena cumprida no estrangeiro como “detração da pena cumprida no estrangeiro”. 
Pena cumprida no estrangeiro
Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: 
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; 
II - sujeitá-lo à medida de segurança. 
Parágrafo único - A homologação depende: 
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; 
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. 
Mirabete assim comenta sobre a eficácia de sentença estrangeira no Brasil: Por força da lei penal, a sentença estrangeira produz alguns efeitos no Brasil, independentemente de qualquer condição. Assim ocorre no instituto da reincidência, que considera como antecedente condenação em país estrangeiro (art. 63), na detração que manda computar tempo de prisão no exterior (art. 42), nas condições impostas a respeito da extraterritorialidade (art. 7º, § 2º, d e c etc.). É ela considerada, nesses casos, como fato jurídico capaz de produzir efeitos jurídicos perante a lei brasileira. Bastará, pois, uma prova documental idônea (certidão devidamente traduzida) para que a sentença estrangeira produza aqueles efeitos previstos expressamente na lei brasileira. (MIRABETE, 1999, p.).
Homologar significar ratificar, aprovar ou confirmar determinados atos praticados por particulares. No caso da sentença estrangeira esta homologação cabe ao STJ, nos termos do artigo 105, inciso I, alínea i da Constituição Federal que diz: “Art. 105: Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias”.
A homologação da sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça é o de reconhecer a validade jurídica da sentença estrangeira perante o ordenamento jurídico brasileiro. Somente a sentença estrangeira que de algum modo necessita ser executada no Brasil é que precisa da homologação do Superior Tribunal de Justiça. Para tanto são estabelecidas algumas exigências pela norma penal, tais como: obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições, existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça.
Exequatur: espécie de autorização expedida pelo STJ para que se cumpra ato processual requisitado por autoridades estrangeiras no Brasil.
Teoria geral do crime
Conceito formal: É o fato típico e antijurídico que esta descrito em lei, em outras palavras, é a conduta que a norma penal descreve. 
Conceito material: A teoria que conceitua o crime materialmente que prevalece nos dias atuais é a do bem jurídico. Segundo esta teoria, crime é a conduta que viola o bem jurídico tutelado pela norma penal. O bem jurídico tutelado pela norma penal, também chamado de bem jurídico penal esta definido por Claus Roxin como aqueles bens imprescindíveis para a convivência em sociedade. Exemplos desses bens são a vida, a liberdade, a honra, o patrimônio, etc. Portanto, materialmente falando, crime é aquela conduta que viola de forma significativa o bem jurídico penal.
Conceito analítico: O crime na visão analítica possui diversas definições, como o presente trabalho é voltado para concursos, traremos aqui duas correntes muito discutidas no Brasil, que é a Bipartida e a Tripartida.
Crime Conceito Analítico – Corrente Bipartida: A corrente que traz o conceito analítico do crime como bipartido diz que o crime é fato típico e ilicitude.
Crime Conceito Analítico – Corrente Tripartida: A corrente tripartida, conceitua crime analítico como fato típico, ilícito e culpável. Fato Típico, Ilicitude e Culpabilidade serão os assuntos de nosso próximo artigo.
Requisitos do crime:
AÇÃO: Sem a ação não existe o crime, é o elemento (requisito) fundamental; seu núcleo conceitual. É o seu momento principal, seja objetivo ou material.
TIPICIDADE: Como visto, para que a ação seja considerada criminosa, há a necessidade de ser tipificada, agir de acordo com o tipo, ser um fato típico, ou seja, a conduta humana adequada ao que a lei determina como ilícita. Não existe crime sem tipicidade, sem que a ação se enquadre em um tipo, o que equivale a característica da anterioridade da lei, ou seja, não há crime sem que uma lei anterior defina o ato praticado como típico (art. 1º do Código Penal). 
ANTIJURIDICIDADE: A partir do próprio vocábulo, a antijuridicidade é a contrariedade de uma conduta humana com o direito; ela exprime uma relação divergente entre o fato e o direito. Sem a antijuridicidade não há crime, mesmo que haja uma ação típica.
CULPABILIDADEDe acordo com o conceito dogmático, crime é a ação típica, antijurídica e culpável, de onde se deduz que além dos requisitos anteriormente tratados (tipicidade e antijuridicidade) a ação deve ser culpável. A culpabilidade, no sentido lato, é o núcleo do tipo penal subjetivo; é a vontade culposa.
No sentido estrito, divide-se em dolo (vontade plena da ação e do resultado) e culpa (vontade viciada da ação e do resultado).
Dolo é a vontade consciente da criminalidade, da prática da conduta típica. Em tese geral, o dolo existe quando se quis o ato e suas consequências, quando se quis praticar um ato punível por lei.
Culpa é a voluntária omissão de diligência no calcular as consequências do próprio fato, possíveis de acontecer e de serem previstas.
Crime ilícito civil e ilícito administrativo
Ilícito civil: A responsabilidade civil é marcada pelo dano que ocorre face à transgressão de um direito juridicamente tutelado, sem a prática do crime. Neste caso, haverá reparação do dano (moral ou patrimonial) por meio de indenização ou recomposição do statu quo ante.
Segundo Maria Helena Diniz, A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.
Sanção- recomposição patrimonial;
Ilícito administrativo: O ilícito administrativo-disciplinar por sua vez é a conduta contrária aos dispositivos estatutários praticados como atos funcionais pelo servidor público. É exercido um poder punitivo particular fundado na necessidade da defesa da coesão e eficácia de certo grupo existente na comunidade política. O Estatuto, como já foi visto, fixou os deveres gerais dos servidores públicos e as proibições, cujo descumprimento constitui ilícito administrativo e, como tal, passível de aplicação, na forma da lei, de medidas disciplinares. O ilícito administrativo, em suas origens, verifica-se pela perturbação do bom funcionamento da administração, em virtude do descumprimento de normas especialmente previstas no elenco de deveres, proibições e demais regras que integram O Estatuto Geral Dos Funcionários E Agentes Do Estado. Caracteriza-se, pois, pela ofensa a um bem jurídico relevante para o Estado, que é o funcionamento normal, regular e ininterrupto das atividades de prestação de serviços públicos. No ilícito administrativo, agride-se o funcionamento interno doEstado. Assim é que o regime disciplinar prevê um elenco de hipóteses configuradoras de faltas administrativas de conceituação genérica concebidas, propositadamente, em termos amplos para abranger a um maior número de casos. Daí dizer-se que a infração disciplinar pode ser atípica para uns, de tipicidade aberta para outros, mas, para ambas as posições, de comprovado e bem caracterizado prejuízo ao interesse público.
Multa, responde em cada esfera se simultaneamente atingir várias esferas.
O crime na teoria geral do direito
Fatos: comum e jurídico;
Jurídico: naturais e condutas (humanas);
Condutas: de efeito jurídicos voluntários (atos jurídicos) e de efeitos jurídicos involuntários;
Efeitos jurídicos involuntários: atos ilícitos e outros;
Atos ilícitos: crimes e outros;
Conduta
Conceito: Conduta é ação ou omissão humana voluntária que produz resultado no mundo exterior.
Elementos: 
Pode-se afirmar serem dois os elementos da conduta:
(A) Comportamento voluntário (dirigido a um fim): nos crimes dolosos, o fim é a lesão ao bem jurídico ou sua exposição a perigo, ao passo que, nos crimes culposos, a finalidade é a prática de um ato cujo resultado previsível seja capaz de causar lesão ao bem jurídico;
(B) Exteriorização da vontade: é o aspecto mecânico ou neuromuscular, consistente na prática de uma ação ou omissão capaz de externar o elemento psíquico.
Teoria da conduta
Finalista: Para a teoria finalista da ação, que foi a adotada pelo nosso Código Penal, será típico o fato praticado pelo agente se este atuou com dolo ou culpa na sua conduta, se ausente tais elementos, não poderá o fato ser considerado típico, logo sua conduta será atípica. Ou seja, a vontade do agente não poderá mais cindir-se da sua conduta, ambas estão ligadas entre si, devendo-se fazer uma análise de imediato no “animus” do agente para fins de tipicidade.
A referida teoria adotada leva em conta o valor da ação, o motivo pelo qual levou alguém a praticar o delito, ao contrário da teoria causal que se contenta em apenas ver a relação de causa e efeito da conduta. A teoria finalista se preocupa com o conteúdo da conduta e da norma, pois muitos tipos penais no seu próprio corpo descrevem elementos que exigem uma finalidade específica, portanto, não poderíamos ignorar essa vontade da lei. Um exemplo de tipo penal que exige finalidade é o artigo 216-A do Código que descreve em sem preceito primário:
“Art.216–A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função".
Ora, está claro que o tipo penal incriminador estabelece uma finalidade especial do agente para que este se enquadre no mesmo, exigindo-se a finalidade de “obter vantagem ou favorecimento sexual”, concluindo que não se pode separar a conduta do agente de sua vontade, deixando claro que nosso Código Penal adotou a teoria finalista da ação.
Em suma, para a teoria finalista, importa saber se o agente atuou com dolo ou culpa, não estando presente tais elementos, sua conduta será atípica. Ao passo que para a teoria causal sua conduta seria típica, porém ele não seria culpável por ausência de dolo e culpa, elementos estes que, para a teoria causal, fazem parte da culpabilidade.
A consciência voluntária faz parte da conduta (Brasil adota);
Naturalista: Para a teoria causal da ação, pratica fato típico aquele que pura e simplesmente der causa ao resultado, independente de dolo ou culpa na conduta do agente, elementos esses que, segundo essa teoria, serão analisados apenas na fase de averiguação da culpabilidade, ou seja, não pertencem à conduta. Para saber se o agente praticou fato típico ou não, deve-se apenas analisar se ele foi o causador do resultado, se praticou a conduta descrita em lei como crime, não se analisa o conteúdo da conduta, a intenção do agente na ação, trabalha-se com o mero estudo de relação de causa e efeito. Crime, para essa teoria, é fato típico, antijurídico e culpável, pois o dolo e a culpa, que são imprescindíveis para a existência do crime, pertencem à culpabilidade, logo esta deve fazer parte do conceito de crime para os seguidores dessa teoria.
Para esclarecer melhor a teoria causal, partimos de um exemplo: Imagine uma pessoa que, ao sair de um restaurante, dirija-se ao depósito para retirar seu guarda-chuva e, por engano, retira guarda-chuva alheio. Para a teoria causal da ação essa pessoa praticou fato típico (furto), visto que subtraiu para si coisa alheia móvel. Mesmo que tal pessoa não tenha agido com dolo, praticou fato típico, ou seja, a conduta descrita em lei como crime.
Formas de conduta
Ação e omissão
 Os crimes podem ser praticados por ação (crimes comissivos) ou por omissão (crimes omissivos).
Os crimes comissivos consistem num fazer, numa ação positiva.
Os crimes omissivos consistem na abstenção da ação devida.
Tanto se omite quem não faz nada como quem se ocupa em coisa diversa.
Os crimes omissivos dividem-se em:
Omissivos próprios (ou omissivos puros);
Comissivos por omissão (omissivos impróprios).
Ação: comissivo (não faça)
Omissão: Omissivo (faça)
Resultado:
Teoria naturalista: A Teoria Naturalista, ou Teoria Causalista da Ação, parte da premissa de que a conduta do agente delitivo toca-se de vontade, mas não se aventa, para fins de averiguação da tipicidade do ato, da existência ou não de uma motivação abrangente do resultado ilícito que a tutela penal resguarda.
Alteração da realidade que a conduta criminosa produz;
Teoria jurídica: 
Cuida do crime e do resultado enquanto previsão jurídica;
É a ofensa ao bem jurídico penalmente tutelado; 
Crime sem resultado
Não há crime sem resultado jurídico: se o resultado jurídico – a lesão ou o perigo concreto de lesão ao bem jurídico – é requisito essencial do injusto penal (de acordo com nossa teoria constitucionalista do delito), como aqui se admite (coerentemente com o princípio da necessária ofensividade e o sentido marcadamente valorativo das normas penais), ele deve estar presente, de uma ou de outra forma (explícita ou implicitamente), em todo delito.
Relação de causalidade
A relação de causalidade é a busca do nexo existente entre a conduta perpetrada pelo agente e o resultado típico. Em outras palavras, a relação de causalidade objetiva saber se uma determinada conduta é ou não causa de um determinado resultado. 
Teoria da equivalência dos antecedentes causais
 Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Segundo a qual quaisquer das condutas que compõem a totalidade dos antecedentes é causa do resultado, como, por exemplo, a venda lícita da arma pelo comerciante que não tinha idéia do propósito homicida do criminoso do comprador. Essa teoria costuma ser lembrada pela frase a causa da causa também é causa do que foi causado. Contudo, recebe críticas por permitir o regresso ao infinito já que, em última análise, até mesmo o inventor da arma seria causador do evento, visto que, se arma não existisse, tiros não haveria;
Crimes materiais, formais e de mera conduta
O crime material só se consuma com a produção do resultado naturalístico, como a morte no homicídio. O crime formal, por sua vez, não exige a produção do resultado para a consumação do crime, ainda que possível qu ele ocorra. O crime de mera conduta é aquele em que a lei descreve apenas uma conduta, e não um resultado. Sendo assim, o delito consuma-se no exato momento em que a conduta é praticada. Pode-se citar, como exemplo, o crime de violação de domicílio, previsto no artigo 150, do Código Penal, em que a lei tipifica a conduta de ingressar ou permanecer em domicílio alheio sem autorização do morador, independente da ocorrência de qualquer resultado naturalístico.
Causa superveniente relativamente independente
Art. 13, §1º- A superveniência de causa relativamenteindependente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. 
Relevância da omissão
Art.13 § 2º- A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;  ex.: pai que intencionalmente deixa de alimentar seu filho recém-nascido, causando sua morte, responde por “homicídio doloso”; 
 b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; ex.: salva-vidas que zela pela segurança dos banhistas de um clube;  
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado; ex.: aquele que, por brincadeira, joga uma pessoa na piscina e, posteriormente, percebe que esta não sabe nadar tem o dever de salvá-la; se não o fizer, responde pelo crime.
Tipo e tipicidade
Conceito de tipo: A descrição legal e abstrata do fato proibido é por meio dele que a norma incriminadora define o crime. Ex: Art. 121. Matar alguém.
Conceito de tipicidade: Quando o fato abstrato se ajusta perfeitamente ao tipo. Resulta-se da análise de uma conduta realizada no plano concreto e de seu posterior enquadramento na previsão abstrata de um comportamento escrito no tipo.
Formal: É simplesmente a adequação do fato à norma; ou seja, a ação do agente encontra sua tipicidade formal já que os elementos do tipo foram preenchidos;
Material: Consiste numa efetiva lesão ou ameaça do bem jurídico protegido, quando esta lesão ou ameaça não se der de forma intolerável, não há crime, pois esta afastada da tipicidade material. Esta tipicidade pode ser afastada quando encontramos alguns princípios.
Principio da lesividade: é materialmente atípica a conduta que não provoca sequer ameaça de lesão ao bem jurídico.
Principio da insignificância: a conduta que provoca uma lesão irrelevante ao bem jurídico.
Principio da adequação social: é materialmente atípica a conduta que é socialmente adequada. Ex: furar a orelha;
Principio da alteridade: a conduta que não lesa bens jurídicos de terceiros. Ex: autolesão e suicídio. 
Formas de adequação típica
Adequação típica de subordinação imediata: A adequação típica de subordinação imediata (ou direta) se dá quando necessitamos de um só dispositivo legal para o enquadramento típico do fato; por exemplo, homicídio simples consumado, art. 121- Matar alguém.
Adequação típica de subordinação mediata: há a adequação típica de subordinação mediata(ou indireta) quando necessitamos de dois ou mais dispositivos legais para o enquadramento típico do fato; no mesmo exemplo do homicídio, imagine-se a participação de alguém neste crime, qual seria a tipificação da conduta do participante do crime? Art. 121, caput cumulado com o Art. 29, ambos do Código Penal.
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
Elementos do tipo: 
Tipo objetivo: O tipo objetivo abstrato tem como única função descrever os elementos que devem ser constatados no plano dos fatos capazes de identificar e delimitar o conteúdo da proibição penal. Tudo aquilo que estiver previsto no tipo objetivo deverá estar objetivado no mundo exterior. Os elementos que compõem o tipo objetivo são: autor da ação, uma ação ou uma omissão, um resultado, nexo causal e imputação objetiva.
Tipo subjetivo: O tipo subjetivo reúne todas as características subjetivas direcionadas à produção de um tipo penal objetivo. O tipo subjetivo tem como finalidade investigar o ânimo do sujeito que praticar um tipo penal objetivo, ou seja, sua função é averiguar o ânimo e a vontade do agente. O dolo, como elemento subjetivo geral, resume-se à consciência e vontade do agente direcionadas à realização da conduta descrita em um tipo penal objetivo. O dolo, em suma, é a vontade de realizar um tipo objetivo orientada pelo conhecimento de todos os elementos componentes do tipo objetivo constatadas no caso concreto.
Tipo normativo: São aqueles que para serem compreendidos demandaram uma especial valoração na situação concreta. Ele não se extrai da mera observação, depende de uma interpretação, isto é requer que se faça juízo de valor; exigem uma avaliação do seu significado jurídico e/ou social; são expressões empregadas pela lei que exigem uma avaliação do seu significado jurídico ou social, como os conceitos de documentos, ato obsceno sem justa causa, etc. Ex: Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público e Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.
Obs: a) Existem concretamente no mundo e cujo significado não requer que se faça nenhum juízo de valor; referem-se a materialidade do fato; é a ação indicada pelo núcleo do tipo penal (é o verbo). Ex: “matar” (art. 121) “subtrair” (art. 155).
b) Exigem uma finalidade específica por parte do agente; são os que com exclusão do dolo genérico e da culpa, referem-se a certas particularidades psíquicas da ação, situam-se além do dolo e referem-se a um motivo, a uma tendência ou algum dado intelectual ou psíquico do agente. Ex: dolo específico que indica um fim especial visando pelo agente como vantagem ou favorecimento sexual (art. 216-A), ”para si ou para outrem” (art.155).
Crime doloso
Conceito: Art. 18 - Diz-se o crime:  
        Crime doloso: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
Elementos:
O conhecimento (elemento intelectual) e a vontade (elemento volitivo) são os dois elementos do dolo. O conhecimento tem de abranger todos os elementos constitutivos do tipo. Não é preciso que o agente tenha consciência dos fatos não mencionados no tipo penal. A consciência só precisa ir até as circunstancias previstas no tipo penal. Exemplo: Se "A" mata "B" por confundi-lo com "C" não há exclusão do dolo, pois existia consciência que se estava matando alguém. E não é necessário que em relação a termos ou expressões jurídicas como, por exemplo, cheque, funcionário publico, etc., que o agente conheça o seu sentido técnico jurídico, devendo compreender o termo no seu sentido vulgar. Em relação ao elemento volitivo, o dolo é a vontade de realização da conduta típica. Projetando-se também sobre os elementos subjetivos do tipo penal. A vontade deve compreender: o objeto da conduta; o meio empregado para alcançar esse objetivo; as conseqüências derivadas do emprego desse meio. Nos crimes materiais e formais, o dolo do agente deve abranger : - a consciência da conduta e do resultado, - a consciência do nexo causal entre a conduta e o resultado; - a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. Nos crimes de mera conduta, o dolo deve compreender: - a consciência da conduta; - a vontade de realizar a conduta criminosa.
Momentos:
Intelectual: Momento da consciência; representa mentalmente o fato.
Volitivo: Representado pela vontade do agente em realizar a conduta típica, deve abranger ação ou omissão, o resultado e o nexo causal.
Espécies:
Dolo de dano: vontade consciente de praticar uma conduta para causar um dano a um bem jurídico tutelado. Ex: Homicídio- ofende a vida alheia;
Dolo direto ou determinado: vontade consciente de praticar uma conduta para alcançar um resultado pretendido (teoria da vontade). Ex: O agente desfere golpes de faca na vítima com a intenção de matá-la, se projeta de forma direta no resultado da morte;
Dolo de perigo: vontade consciente de praticar uma conduta para causar um perigo de dano a um bem jurídico tutelado. Ex: Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado.
Dolo indireto ou indeterminado: Quando a vontade do sujeito não se dirige a certo e determinado resultado, se divide em duas espécies:
Dolo alternativo: vontade consciente de praticar uma conduta para alcançar qualquer um dos resultados previstos. Ex: roleta russa;
Dolo eventual: vontade consciente de praticar uma condutaassumindo o risco de alcançar um resultado previsto, em relação ao qual se é indiferente.

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