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Universidade Federal de São Paulo Instituto de Ciência e Tecnologia ENSAIO DE TRAÇÃO EM MATERIAIS METÁLICOS Docente Prof. Dr. Dilermando Nagle Alunos André de Paula Barros 86654 Carlos Zardin Graeff 86768 Luís Guilherme Moraes 86889 Marina Judice Silva 86903 Paula Cardoso Lauar 86918 São José dos Campos Outubro de 2015 1. Introdução Na engenharia de materiais, o ensaio de tração é o método mais utilizado na obtenção de propriedades dos materiais em geral [1], principalmente em metais, polímeros e compósitos, justamente por apresentar relativa simplicidade, mais fácil reprodutibilidade e, ao final do ensaio, extrair um elevado número de informações úteis acerca das propriedades do material. Geralmente, os ensaios de tração são realizados na máquina de ensaios do tipo universal, com dispositivos aptos a fixação de corpos de prova padronizados, a imposição de carregamentos sob velocidade ou taxa controlada e constante, o registro destas cargas e da deformação imposta por estas cargas no corpo de prova. Os resultados obtidos referentes a carga e o alongamento são transformados em curvas de tensão x deformação de engenharia ou verdadeira, onde se podem extrair as propriedades desejadas. Este ensaio é amplamente utilizado nos setores de pesquisa e desenvolvimento de novos materiais, em métodos para verificar controle de qualidade, e também para a verificar a admissibilidade de projetos estruturais. 2. Objetivo Este experimento tem como objetivo executar ensaios de tração em corpos de prova usinados a partir de uma chapa de liga de alumínio 2524-T3, seguindo as recomendações da norma ASTM-E8, e assim, avaliar a dispersão dos resultados estimando a tensão real na ruptura. 3. Metodologia 3.1 Materiais x Paquímetro; x Micrômetro; x Pincel de marcação permanente; x Corpos de prova previamente usinados (extraídos de chapas de alumínio); x Máquina de ensaios universal eletromecânica EMIC DL20000, equipada com uma célula de cargas com capacidade de 20 KN; x Extensômetro para medição do alongamento da amostra, com L0 = 50mm e ΔL máximo de 25mm. 3.2 Métodos Primeiramente, foi identificado cada corpo de prova e então foram retiradas as suas medidas fazendo as devidas anotações de suas dimensões. Em seguida, executaram-se as marcações na sua seção útil a cada 5mm, no sentido longitudinal. Após todas as anotações terem sido tomadas, a carga lida na célula de carga foi zerada antes da fixação do corpo de prova. Então, o corpo de prova foi preso pela sua parte inferior, sendo centralizado em relação à área de garra e verificando o máximo alinhamento em relação à garra superior, tomando os devidos cuidados para a garra prender o corpo de prova pelas suas extremidades, garantindo a maior área de contato possível e não a deixando avançar sobre a seção útil do corpo de prova. Após estes procedimentos, a garra superior foi aproximada pelo movimento do travessão da máquina, até que esta estivesse na posição mais adequada para a fixação. Em seguida, o extensômetro foi fixado na seção útil do corpo de prova, centralizado em relação a este e alinhado com sua direção longitudinal. Por fim, foi retirado o pino-trava do extensômetro e zerada a leitura de deslocamento do mesmo antes de iniciar o ensaio. Após a fratura, foi medido o alongamento final dos corpos de prova, tomando como base as marcações feitas inicialmente. 4. Resultados e discussão Na primeira etapa do ensaio mediu-se os corpos de provas e que são expressar pela tabela 1 e figura 1. Tabela 1. Medidas das dimensões da área útil dos corpos de prova, e seus respectivos comprimentos finais após os ensaios de tração. Corpo de Prova Largura (mm) Espessura (mm) Comprimento (i) (mm) Comprimento (f) (mm) CP1 13,10 2,10 50,00 59,75 CP2 13,00 2,10 50,00 58,81 CP3 12,68 2,07 50,00 61,00 CP4 12,80 2,00 50,00 61,30 Média 12,895 2,0675 50 60,215 Figura 1. Visão panorâmica dos corpos de prova (protótipos) de liga de alumínio 2524- T3: a) CP1; b) CP2; c) CP3; e d) CP4, cortados a 45° em relação ao sentido de laminação da chapa. 4.1 Cálculos das propriedades baseadas nas curvas de engenharia As medidas são fornecidas para o software da máquina de ensaios universal eletromecânica EMIC DL20000 e a partir dos dados primordiais de alongamento e força fornecidos pode-se plotar as curvas tensão x deformação de engenharia, obtendo-se os gráficos 1, 2 e 3, que representam os ensaios de tração dos três corpos de prova de alumínio de caráter aeronáutico. Entretanto, no corpo de prova número 1 ocorreu um erro na aquisição dos dados, assim, não foi possível obter tal curva. Gráfico 1. Gráfico da variação de tensão (MPa) em função da deformação para o corpo de prova número 2. Gráfico 2. Gráfico da variação de tensão (MPa) em função da deformação para o corpo de prova número 3. Gráfico 3. Gráfico da variação de tensão (MPa) em função da deformação para o corpo de prova número 4. A partir do ensaio de tração e analisando os gráficos obtidos é possível determinar características mecânicas de um determinado material. 4.1.1 Módulo de elasticidade O módulo de elasticidade pode ser obtido pela razão entre a tensão exercida e a deformação sofrida pela amostra estudada, dentro do regime elástico, em que a deformação é totalmente reversível e proporcional à tensão [2]. Onde: E = módulo de elasticidade; σ = tensão; ɛ = deformação. Para o cálculo do módulo de elasticidade são utilizados intervalos de tensão e deformação dos gráficos 4, 5 e 6, coletados na região elástica, onde o comportamento do material é linear e neste caso utiliza-se o método da secante. Gráfico 4. Gráfico da variação de tensão (MPa) em função da deformação ampliada para o corpo de prova número 2. Gráfico 5. Gráfico da variação de tensão (MPa) em função da deformação ampliada para o corpo de prova número 3. Gráfico 5. Gráfico da variação de tensão (MPa) em função da deformação ampliada para o corpo de prova número 5. Portanto, o módulo de elasticidade do material é 677,66 MPa. 4.1.2 Limite de escoamento É a tensão necessária para iniciar a deformação plástica do material. No caso de um metal adota-se a tensão correspondente a deformação permanente igual a 0,2%. Gráfico 7. Gráfico 1 ampliado com a reta para a correspondência de limite de escoamento com valor de deformação de 0,002. Gráfico 8. Gráfico 2 ampliado com a reta para a correspondência de Limite de escoamento com valor de deformação de 0,002. Gráfico 9. Gráfico 3 ampliado com a reta para a correspondência de Limite de escoamento com valor de deformação de 0,002. A partir dos gráficos 7, 8 e 9, pode-se definir que os limites de escoamento são 195 MPa, 211 MPa e 215 MPa, respectivamente, portanto o limite de escoamento do material é 207 MPa. 4.1.3 Módulo de resiliência Habilidade do material de absorver energia quando deformado elasticamente e retornar à situação inicial quando a força é retirada [3]. Onde: E = módulo de elasticidade; = tensão de escoamento. Calculando, usando os valores médios dos corpos de prova, tem-se: ( ) Portanto, o módulo de resiliência é 32,61 MPa. 4.1.4 Módulo de tenacidade Habilidade do material absorver energia na região plástica. É a área total abaixoda curva tensão-deformação. Para materiais dúcteis, tem-se [3]: Onde: = tensão de ruptura; = alongamento até a raptura 7,82MPa 4.1.5 Limite de resistência Máxima tensão que um material pode suportar ao ser tracionado antes de falhar ou quebrar. Onde: Fmax= carga máxima aplicada no corpo de prova; So = área inicial da secção transversal. Pode-se determinar o limite de resistência analisando o gráfico tensão x deformação, que representa o ponto máximo de tensão que a curva possui, Lcp2 = 360 MPa, Lcp3 = 403 MPa e Lcp4 = 410 MPa. Limite de resistência do material é 391 MPa. 4.1.6 Deformação elástica Deformação elástica é o resultado de um pequeno alongamento ou contração da célula cristalina na direção da tensão tração aplicada [4], onde o corpo pode votar ao seu estado normal após retirar-se a tensão, pode ser representada pela lei de Hooke ( . Onde: = tensão de escoamento. E = módulo elástico. Logo, com a média dos valores encontrados nos corpos de prova, temos: 4.1.7 Deformação total Deformação total ocorrida no corpo de prova até sua ruptura no ensaio de tração, sendo a soma de uma parcela de deformação elástica recuperável, e uma parcela de deformação plástica. Onde: Lf = comprimento final do corpo de prova; L0 = comprimento inicial do corpo de prova. Portanto, calculou-se que alongamento total até a fratura é 0,20%. 4.2 Cálculos das propriedades baseadas nas curvas reais A partir dos dados primordiais de alongamento e força fornecidos, assim como as curvas de engenharia do item 4.1, foi possível plotar as curvas tensão x deformação reais, obtendo-se os gráficos 10, 11 e 12 a seguir a partir das funções: δreal = log(1+ε) Ϭreal = Ϭeng *(1+ε) Gráfico 10. Gráfico da curva real da variação de tensão (MPa) em função da deformação para o corpo de prova número 2. Gráfico 11. Gráfico da curva real da variação de tensão (MPa) em função da deformação para o corpo de prova número 3. Gráfico 12. Gráfico da curva real da variação de tensão (MPa) em função da deformação para o corpo de prova número 4. 4.2.1 Limite de resistência real A partir da análise dos gráficos de Tensão x Deformação real foi possível encontrar os valores de limite de resistência real que seguem abaixo: CP2= 431,94 MPa CP3= 496,66 MPa CP4= 511,60 MPa Temos então, uma média de 480 MPa, valor que melhor se aproxima dos valores reais encontrados em artigos (445,5 MPa) [5], do que quando comparamos com a média encontrada nas curvas de engenharia (391 MPa). 4.2.2 Deformação real na fratura A partir da análise dos gráficos de Tensão x Deformação real foi possível encontrar os valores de deformação real na fratura que seguem abaixo: CP2= 14,44% CP3= 9,11% CP4= 10,79% 4.2.3 Coeficiente de resistência (k) Os coeficientes de resistência k foram obtidos através da equação: Ϭreal = Kδn CP2= K= 544,625 CP3= K= 761,669 CP4= K= 1605,39 4.2.4 Coeficiente de encruamento (n) O coeficiente de encruamento foi determinado pelo cálculo da tangente [6] no gráfico de Tensão x Deformação real entre os valores de deformação real de 0,1 a 1 mm/mm. Abaixo seguem os valores obtidos: CP2= 0,1349 CP3= 0,1782 CP4= 0,3987 4.3 Cálculos das propriedades baseadas na área final da fratura Com auxilio do software fireworks, foi possível calcular, aproximadamente, a área final da fratura do corpo de prova , através de uma fotografia da mesma, como mostra a figura 2. Figura 2. Altura média e largura média, convertendo os pixels para milímetros. Então, obteve-se a área final: Af= 1,8mmx18,3mm → Af= 32,94 mm2 4.3.1 Estricção Através dos dados da tabela 1, temos que a área inicial do CP3 é igual a 26,25 mm2. Logo, podemos calcular a estricção do alumínio, que nos fornecerá informações sobre a ductilidade do alumínio: O que mostra que a liga de alumínio em questão possui boa ductilidade. 4.3.2 Tensão real na ruptura É a tensão real que o material apresenta no ensaio de tração após a ruptura. Usamos então a força final do ensaio e a área obtida após a fratura do corpo de prova 3 da liga de alumínio. ( ) O resultado obtido não foi o esperado, pois deveria ser por volta de 450 MPa, assim como no item 4.1.5 e 4.2.1 deste relatório. Isto pode ter ocorrido por não termos a escala precisa da profundidade da foto, logo a medida da área foi feita por aproximação, o que pode resultar em um erro grande. 5. Conclusão A liga AA2524-T3 de alumínio aeronáutico apresenta uma alta tenacidade e elevada resistência à propagação de trincas por fadiga [5]. Porém, analisando os dados obtidos através do ensaio de tração em corpos de prova metálicos de um as informações obtidas por esse modelo de ensaio apresentam resultados discrepantes em relação a valores teóricos, como por exemplo, o módulo de elasticidade da liga que em valores de engenharia encontra-se numa faixa superior aos 60GPa enquanto os dados obtidos apresentam uma média na casa dos MPa, em relação ao limite de resistência real foram encontrados valores tanto abaixo quanto acima do padrão teórico, sendo encontrado valores com desvio de mais de 10%, assim como a deformação real na fratura que em valores teóricos apresenta-se próximo aos 20%, mas no ensaio apresentou dados entre 9% e 14%. Essa discrepância nos resultados pode ser explicada por alguma falha na preparação do ensaio, como a posição do extensômetro, ou até mesmo por defeitos nos corpos de prova, como trincas. Com isso conclui-se que o ensaio foi importante em termos de conhecimento prático sobre a técnica, e também para compreendermos melhor o comportamento de um metal dúctil frente a um ensaio de tração, e analisar seus pontos principais, como o módulo elástico, limite de escoamento, limite de resistência à tração, tensão real na fratura, entre outros que foram calculados e discutidos na seção 4 analisando a região elástica e plástica. Apesar dos valores não estarem dentro do esperado pela teoria, com isso mostrou a importância de se utilizar a norma de maneira correta a fim de se obter dados mais condizentes com valores teóricos. 6. Referências [1] Propriedade Mecânica de Materiais. Acessado em 15 de outubro, disponível em: http://www.foz.unioeste.br/~lamat/downmateriais/materiaiscap10.pdf [2] BEER, F. P. & JOHNSTON, E. R., (1995), Resistência dos Materiais, MAKRON Books, 3ª Ed, pp. 64–84. [3] Comportamento Mecânico dos Materiais. Acessado em 16 de outubro, disponível em: http://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/TM727/fadiga-ufsc-rosa/fad-03.pdf [4] Ensaio de Tração. Acessado em 16 de outubro, disponível em: https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja& uact=8&ved=0CBwQFjAAahUKEwiep_rmhdLIAhXGlZAKHQvwAEE&url=http%3A %2F%2Fdisciplinas.stoa.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.php%3Fid%3D46494& usg=AFQjCNE3lzyrJbiVaxfAZoccJtbf_Demyw&sig2=mXkzVtDsf940nqUWwk2Z1Q &bvm=bv.105454873,d.Y2I [5] Moreto, J. A. Estudo da corrosão e corrosão-fadiga em ligas Al e Al-Li de Alta Resistência para Aplicações Aeronáuticas, pp. 149. [6] CIPRIANO, G. L.; Determinação do coeficiente de encruamento de metais através da morfologia das impressõesde dureza na escala macroscópica, volume 1, Curitiba, novembro, 2008