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Tópicos WENDT (1999) - Social Theory of International Politics

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Tópicos WENDT, Alexander (1999). Teoria Social da Política Internacional. Capítulos 1, 5 e 6. 
WENDT, Alexander. Teoria Social da Política Internacional. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, 2014.
Capítulo 1 – Quatro Sociologias da Política Internacional 
* Wendt inicia o capítulo afirmando o reconhecimento, nos trabalhos acadêmicos recentes, da política internacional como socialmente construída. Tal entendimento construtivista parte de duas premissas centrais: (1) as estruturas da associação humana (Estado?) são determinadas principalmente por ideias compartilhadas, mais do que por fatores materiais; (2) identidades e interesses dos atores internacionais são definidas de acordo com essas ideias, e não dadas por natureza. 1 (idealismo) + 2 (holismo/estruturalismo) = construtivismo como “idealismo estrutural” (p. 17).
* O autor reconhece que existem vários construtivismos, e delimita o seu como um “construtivismo moderado”, focado numa abordagem científica capaz de acrescentar importantes elementos às perspectivas materialistas e individualistas (neorrealismo/Síntese Neo-Neo) (p. 17). Sua teoria, então, não iria tão longe quanto os construtivismos radicais (como o pós-estruturalismo), mas ainda assim implicaria ir além das abordagens teóricas do mainstream em Relações Internacionais (p. 17-18).
* Redução dos debates nas RI, a partir da ‘Síntese Neo-Neo’ (Wendt não utiliza esse termo), seria se os Estados buscam mais frequentemente ganhos absolutos ou relativos em suas interações no sistema internacional (p. 19). 
* Wendt categoriza autores como Haas, Deutsch e mesmo Hedley Bull como os primeiros construtivistas da disciplina (p. 19). 
* De certa forma, as abordagens construtivistas emergem num contexto de dificuldade do mainstream teórico das RI em explicar o fim da Guerra Fria, ou as mudanças sistêmicas em geral (p. 20). 
* Wendt defende o enrobustecimento dos estudos empíricos desde as perspectivas construtivistas, e afirma que um método de análise em RI só é útil quando responde a problemas concretos da política mundial (p. 20).
* Wendt afirma partir de premissas semelhantes a Waltz (Estados como atores centrais, interatuando num sistema anárquico), mas de uma discordância ontológica com relação ao neorrealismo proposto pelo autor. Waltz partiria de uma concepção materialista e individualista, que o levou a enxergar um sistema anárquico como inerentemente conflituoso, onde só é possível a autoajuda dos Estados. Wendt parte de uma concepção idealista e holista da política internacional, o que lhe permite perceber que “a anarquia é o que os Estados fazem dela” (p. 22).
* Sendo assim, Wendt afirma que seu livro é mais sobre a ontologia do sistema de Estados e, consequentemente, mais sobre a teoria internacional do que sobre a política internacional em si mesma (p. 22). 
O projeto sistêmico dos Estados
* Wendt justifica a primazia do Estado em sua análise por este ser a estrutura política responsável pelo monopólio do uso da violência, elemento que influencia diretamente todas as demais relações sociais (p. 24).
* O autor não nega, porém, que outros atores influenciem na forma de os Estados gerirem e organizarem a “violência organizada”. O Estado, porém, é quem canaliza essas influências na regulação da violência para o sistema mundial. Assim, embora atores não-estatais possam ser mais determinantes na promoção de mudanças na política internacional, é por meio dos Estados que essas mudanças acontecem (p. 25). 
* Outrossim, Wendt parte de um nível de análise sistêmico para desenvolver sua teoria (p. 27). 
* Wendt critica a pressuposição de Waltz de que a estrutura tem precedência explicativa aos agentes na análise de política internacional. Na perspectiva construtivista de Wendt, as estruturas não podem gerar efeitos isolados das interações entre os agentes. Estrutura e agentes se co-constituem mutuamente (p. 28).
* O autor também ‘compra’ a distinção de Waltz entre a política doméstica como hierárquica e a política internacional como anárquica (ignora as ‘hierarquias’ na anarquia internacional) (p. 30).
O Neorrealismo e seus críticos
* Três críticas fundamentais ao Neorrealismo – em especial a seu individualismo, materialismo e descaso pelos processos de interação (p. 32-33) – assumidos por Wendt para construir o seu construtivismo:
(1) Limitação para explicar mudanças estruturais. Só logra explicar aquelas concebidas estritamente em termos de mudança de polaridade. Incapacidade para transições como a do feudalismo para o capitalismo, ou da GF para o pós-GF (p. 34).
(2) Carência de especificidade do conceito de “balança de poder”, o que gera hipóteses e análises falsas (p. 34). 
(3) Incapacidade de explicar adequadamente seus temas centrais, como a política de poder e a própria balança de poder, a partir de seus pressupostos (egoísmo, autoajuda etc.) (p. 34-35).
* Wendt defende um questionamento dessas limitações, sobretudo sobre o conceito de estrutura assumido por Waltz. Assim, para Wendt, a estrutura internacional é um fenômeno social, e não material. A base da sociabilidade, nesse sistema, é o conhecimento compartilhado: a constante difusão e assimilação de ideias entre seus atores (p. 37).
* Em suma, o argumento é que o cenário internacional é fundamentalmente determinado pelas crenças e expectativas dos Estados com relação um ao outro e às suas interações, amplamente constituídas por estruturas sociais, e não materiais (como assim essa distinção entre social e material?) (p. 37).
* Wendt afirma que a “sociedade internacional” por si só possui baixa densidade, de modo que seria insuficiente para explicar a formação da identidade dos Estados. O que melhor explicaria ao menos as primeiras fases dessa formação identitária seriam elementos da política doméstica. Não obstante, tais identidades são delimitadas pelo e estão inseridos num contexto sistêmico, priorizado na análise proposta pelo autor (p. 38). 
Quatro Sociologias
* Materialismo: atribui à natureza e às forças materiais um papel central na explicação da sociedade (p. 40).
* Idealismo: aspecto fundamental das sociedades é consciência social, aquilo que Wendt chama de ideias e conhecimento. Nessa perspectiva, independentemente de essas ideias se institucionalizarem ou não, a estrutura social contribui para a formação das identidades e interesses dos atores, que pode se dar de modo a favorecer a cooperação e estabelecer expectativas de comportamento (mas não necessariamente. Existem perspectivas idealistas ‘pessimistas’/conflitivas também [p. 42]). Forças materiais só são de alguma forma ‘válidas’ quando recebem um sentido atribuído pelos atores (p. 41).
* Individualismo: afirma que as explicações científicas sobre a sociedade devem focar na ação de indivíduos ‘isolados’, que existem e agem de maneira relativamente independente com relação à estrutura na qual estão inseridos (perspectiva “de baixo pra cima”) (p. 44).
* Holismo: defende que os efeitos das estruturas sociais não podem ser explicar meramente pelo comportamento e interação entre atores. As estruturas constituem esses agentes e interações (perspectiva “de cima para baixo”) (p. 44).
* Para os “individualistas”, a estrutura social constrange os atores, influenciando em seu comportamento. Para os “holistas”, a estrutura social constrói/constitui os atores, conformando suas identidades e interesses (p. 44).
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* O autor inclui construtivistas radicais e moderados, autores pós-modernos, autoras feministas e autores da Escola Inglesa numa mesma ‘caixinha’ de construtivismo nas RI, e opõe o campo “racionalista” ao “construtivista” (posteriormente, Keohane vai trazer Wendt para o campo “racionalista” [e, portanto, cientificamente válido] das RI e opor esse grupo aos “reflexivistas” majoritariamente pós-modernos) (p. 49-50).
* Wendt faz uma forte crítica ao Neoliberalismo, afirmando que este presta a si mesmo um papel secundário, de mero ‘corretor’ daquilo que o Neorrealismo não consegue explicar com precisão. Para o autor, um verdadeiro desafio ao Neorrealismodeveria questionar os seus próprios pressupostos. É o que pretende Wendt ao afirmar que o poder material e os interesses são constituídos intersubjetivamente, a partir de elementos identitários e ideacionais dos Estados (p. 53).
* Wendt pretende construir uma via média no “Terceiro Debate” apontado por Lapid. Isso porque o autor propõe uma ontologia idealista sem, com isso, pensar ser necessário uma epistemologia pós-positivista. Wendt afirma acreditar na ciência e assumir, portanto, uma epistemologia positivista (p. 58).
Capítulo 5 – O Estado e o problema da agência corporativa
* Na ontologia construtivista proposta por Wendt, as estruturas de associação humana são fenômenos principalmente culturais, e não materiais (distinção quanto ao materialismo). Além disso, essas estruturas não influenciam apenas o comportamento dos atores, mas ajudam a construir suas identidades e interesses (distinção quanto ao ‘racionalismo’) (p. 239).
* Não significa negar a importância dos fatores materiais e do poder, apenas trazer a precedência da cultura (ideias compartilhadas) para se poder explicar o poder e os interesses (p. 239).
* Wendt reforça que o construtivismo é uma teoria da vida social, não de política internacional. Ao trazê-la para as RI, o autor prioriza o Estado e o sistema de Estados como ‘objetos’ de explicação. Wendt argumenta que tal escolha se dá pela primazia do Estado no monopólio legítimo da violência e pela relativa autonomia do sistema de Estados com relação a outras estruturas do sistema internacional moderno, como a economia mundial (distinção com Wallerstein e Teoria do Sistema Mundo em geral, que veem a estrutura política e a econômica como dois lados da mesma moeda na economia-mundo capitalista) (p. 239). 
* Wendt reconhece que os Estados são atores dotados de um Self, isto é, de um senso próprio de identidade e intenções (p. 241).
O Estado essencial 
* Para uma análise substantiva da política internacional em sua dimensão estrutural do sistema de Estados, Wendt pretende identifica o Estado em sua essência, de maneira independente de suas formas de organização interna ou das sociedades particulares que o compõem. Noção construída a partir de elementos do pensamento weberiano, pluralista e marxista sobre o Estado, com ênfase para o weberiano por considerar o Estado como ator por si próprio, dotado de ação e intenções particulares, sendo a concepção mais adequada para uma teoria sistêmica das RI referenciada no Estado (p. 247-248).
* Formar uma espécie de ‘tipo ideal’ – não necessariamente idêntico às experiências históricas reais de configuração dos Estados – para iniciar o processo de formulação teórica sistêmica (p. 248).
* Cinco propriedades centrais: (1) ordem legal-institucional; (2) uma organização (governo) que reivindique o monopólio sobre o uso da violência organizada; (3) atributo da soberania; (4) conter uma sociedade e (5) um território (p. 248-249). 
(1) Trata-se da estrutura de autoridade política, do conjunto de regras e normas que regem a organização da vida social (p. 249). Institucionalização e corporificação de leis garantem previsibilidade e convergência de expectativas, logo, a estabilidade necessária para a constituição das sociedades modernas (p. 249-50).
(2) Característica essencial e distintiva do Estado é o seu controle legítimo sobre o uso da violência organizada (p. 251).
(3) No nível interno, significa que o Estado é a autoridade política máxima no interior de suas fronteiras (p. 253). Para Wendt, não se dá pelo Estado enquanto ‘figura autônoma’ ou unicamente pelos Chefes de Estado enquanto ‘figuras representativas’, mas sim pela própria estrutura organizacional do Estado, dividida em diversos setores com ‘soberanias’, competências e autoridades em áreas específicas que, em última instância, compõem o ‘todo’ do Estado soberano (p. 254-255). A soberania externa, por sua vez, implica meramente a ausência de uma autoridade política acima do Estado no sistema internacional (p. 255).
(4) Embora seja diferente dele, a sociedade é parte constitutiva do Estado (p. 256). Wendt não se preocupa com as sociedades específicas de cada Estado. Em sua busca por um “Estado essencial”, as considerações do autor dizem respeito às relações entre Estado e sociedade em geral (p. 256). Tratam-se de relações co-constitutivas: tanto o Estado quanto a sociedade se constituem através de suas relações um com o outro (p. 256-57). 
(5) --------------------------------
“Os Estados também são pessoas”
* Para Wendt, o Estado é um ser real corporativo, dotado de qualidades propriamente humanas tais quais a identidade, interesses e intencionalidade (p. 262). 
* O autor faz uma discussão sobre agentes individuais (governantes, chefes de Estado, funcionários da burocracia estatal) e agentes corporativos (o Estado em si, com seus próprios atributos). O sentido da argumentação é demonstrar que, apesar da importância dos atores individuais, o Estado segue sendo um ator corporativo, isto é, capaz de agência própria e de atributos particulares (identidades, ideias, entendimentos etc.). Os atores individuais são essenciais para levar a “Ideia” de Estado adiante e administrar seus aspectos pontuais, mas não podem ser confundidos com a própria essência ou identidade do Estado em si (p. 263-269).
Identidades e Interesses 
* Identidade tem fundamentalmente a ver com a formação de uma noção de Self, à qual inerentemente se vinculam certas noções de Other (p. 272).
* Os Estados, como os indivíduos, não tem uma, mas múltiplas identidades (p. 278). 
* Os interesses derivam das identidades. Não é possível saber o que ‘se quer’ se não sabemos o que ‘somos’ (p. 279-80).
O Interesse Nacional
* Aqui, Wendt pretende apresentar alguns dos interesses que são de certa forma intrínsecos à identidade dos Estados enquanto agentes corporativos. Tais interesses não são construções sociais sistêmicas; partem majoritariamente do próprio Estado (p. 282-83). 
* Dessa forma, o interesse nacional de um Estado diz respeito a suas possibilidades de reprodução e segurança, tanto enquanto Estado quanto enquanto sociedade (p. 283). 
* Wendt, seguindo George e Keohane, atribui quatro interesses nacionais fundamentais assumidos pelos Estados: (i) sobrevivência física (vida); (ii) autonomia (liberdade); (iii) bem-estar econômico (propriedade) e (iv) autoestima coletiva (este último, conceito próprio de Wendt) (p. 284). 
* No que tange à autoestima coletiva, sempre se dá na relação do Self com seus Others. Quando se manifesta de maneira negativa, como em contextos de depreciação de determinados grupos de Estados ou de alta competitividade, se dá pela desvalorização e agressão dos ‘Outros’. Quando se dá de forma positiva, se manifesta em formas de respeito mútuo e de cooperação (p. 286). 
Capítulo 6 – Três culturas da anarquia
* Wendt inicia o capítulo sumarizando algumas de suas considerações sobre o Estado. Na perspectiva do autor, por ser sistêmica, os Estados são tidos como ‘dados’, e suas identidades e interesses são majoritariamente (mas não exclusivamente) formadas por via de processos endógenos. Tais processos não fazem parte do enfoque do autor – Wendt quer entender como o sistema de Estados funciona, e não como suas unidades se conformam. Não obstante, é apenas no nível sistêmico que as identidades e interesses encontram seus termos e ganham significado (diferenciação com relação ao ‘individualismo’ positivista) (p. 301).
* O autor argumenta que a cultura política – em termos gerais, as ideias compartilhadas pelos Estados – é o elemento mais importante para se entender o sistema internacional. A anarquia é um pressupostos da estrutura desse sistema, mas distintas ‘culturas’ podem levar a distintos tipos de interesses, identidades, expectativas e comportamentos no interior dessa estrutura anárquica (p. 304-5). 
* Wendt bebe nas reflexões de Bull, que contra-argumentava com a perspectiva realista de que a estrutura anárquica do SI, somada à natureza autointeressada dos Estados, invariavelmentelevaria à no máximo a formação de um sistema de Estados. Bull afirma que mesmo nessas condições é possível a formação de uma “sociedade”, com base em interesses, regras e instituições comuns. Wendt, porém, contraria Bull e os neoliberais de perspectiva semelhante ao afirmar que a presença de uma “cultura” (ideias/conhecimento compartilhados) não necessariamente significa mais cooperação ou harmonia nas r.i. Existem também culturas que tendem ao conflito (p. 308).
* “Quinhentas armas nucleares britânicas são menos ameaçadoras para os Estados Unidos do que cinco armas nucelares norte-coreanas por causa dos entendimentos compartilhados que as sustentam” (p. 311). 
* Um elemento importante da argumentação construtivista de Wendt nesse ponto é o conceito de “papel”, referente à posição estrutural dos atores no sistema. Cada ‘cultura da anarquia’ (hobbesiana, lockeana e kantiana) é caracterizada pela percepção de um determinado papel dos Others com relação ao Self: na hobbesiana, é o de inimigos; na lockeana, o de rivais e na kantiana o de amigos (p. 313). 
	* Derivam daí o que o autor chama de identidades-papel: autoidentificações dos 	Estados de acordo com a posição objetiva que ocupam em uma dada cultura 	estrutural (p. 314).
A Cultura Hobbesiana
* Marcada pela percepção de hostilidade dos ‘Outros’ com relação ao Self, ou seja, de que os ‘Outros’ não reconhecem o direito à vida e liberdade do Self e não se absterão de utilizar a violência contra ele. Assim, o Self percebe o(s) ‘Outro’(s) como inimigos (p. 316).
* Nesse cenário, a política de poder (realpolitik) e a autoajuda seriam comportamentos racionais dos Estados com base em conhecimentos compartilhados entre eles (estão lidando com unidades semelhantes, inimigas e ameaçadoras à própria sobrevivência); não são produtos inerentes da natureza dos Estados ou do sistema internacional anárquico, como afirmam os Realistas (p. 324). 
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* Três Graus de Internalização da cultura/conhecimento compartilhado (p. 323-330):
(1) Coerção: Os Estados são obrigados a seguir e se adequar a determinada cultura e às normas, regras e instituições dela derivadas, caso contrário correm o risco de serem exterminados.
(2) Auto-interesse: Os Estados aceitam se adequar a determinada cultura porque sentem que isso lhes beneficia, atende às identidades e interesses assumidas por eles para suas interações sistêmicas.
(3) Legitimidade: Os Estados ‘concordam’ com a cultura/regras/normas/instituições e ‘querem’ segui-las, pois acreditam que isto vai beneficiar não somente a eles, mas também a seus ‘iguais’ nas interações sistêmicas. Espécie de ‘união’ entre o Self e os Others como elemento constitutivo da identidade/interesse/comportamento do Estado.
* Identidades e interesses não são produto exclusivo do Self. Só assumem significado e substância nas interações sistêmicas com os ‘Outros’. Só ali ganham sentido (p. 331-332).
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A Cultura Lockeana
* Na cultura lockeana – vista por Wendt como a majoritariamente vigente no sistema westfaliano – a estrutura de papeis não assume a categoria de inimizade, mas de rivalidade. Os Estados assumem certo grau de ‘respeito’/reconhecimento dos ‘Outros’ com relação ao Self (e vice-versa) como entidades semelhantes, dotadas do mesmo direito à vida, liberdade e propriedade. Certas disputas e querelas com o uso da violência podem surgir, em especial no que diz respeito à propriedade (território), mas raramente contra o direito de existência um do outro, como seria o caso na cultura hobbesiana ‘pura’ (p. 337). 
* Foco sobretudo no respeito ao direito à soberania de cada Estado (p. 338-40).
* Dentro desse tipo de cultura, é possível surgir uma “other-help”: contenção dos ímpetos particulares para não prejudicar os demais ou mesmo a formação de identidades coletivas com relação a determinados tipos de ‘Outros’, podendo decorrer em ajuda e cooperação para assegurar essas identidades frente a possíveis ‘ameaças’ (p. 352-353).
A Cultura Kantiana
* Teria base numa estrutura de papel de amizade (p. 357). Tal tipo de relação, subteorizado em RI, é composto por dois pressupostos centrais: (1) ausência da violência nas interações e mesmo ‘divergências’ entre Estados amigos; (2) ajuda mútua frente às possíveis ameaças externas (p. 358). Diferentemente das alianças, que são circunstanciais, a amizade tem um senso de perenidade e continuidade a largo-prazo (p. 358-359). 
* Nas relações entre Estados amigos (exs: EUA-Canadá; EUA-Inglaterra), o poder militar perde a sua relevância, uma vez que se sabe (ou se espera fortemente) que não será utilizado. Outras formas de poder, como o discursivo e o econômico, ganham maior destaque então (p. 359).
* Culturas da anarquia não têm aplicação necessariamente global/‘universal’. Podem ser bilaterais ou regionais (ex: complexos regionais de segurança) (p. 361). No caso da cultura kantiana, a “amizade” (inclusão do bem-estar do Other como parte constitutiva do bem-estar do Self, formação de identidades e interesses coletivos etc.) também pode, e geralmente ocorre dessa forma, se dar sobre áreas específicas – principalmente a segurança – sem ‘transbordar’ para outras, como a economia, autonomia cultural etc. (p. 366-367).
Conclusão
* Wendt conclui o capítulo afirmando que a anarquia é um conceito ‘vazio’, referente mais a algo que ‘falta’ do que a algo que existe. O que define a anarquia é o tipo de agentes que existem em seu interior e a estrutura pela qual organizam as suas relações. Nessa concepção, os sistemas anárquicos são uma função das estruturas sociais, cuja constituição, para o construtivismo wendtiano, é primordialmente ideacional – as ideias compõem as identidades e interesses, bem como as ‘significações’ do mundo material (p. 369).
* Assim, as ideias compartilhadas entre os Estados formam determinadas “culturas” nas estruturas sociais que, quando internalizadas por eles, conferem uma certa lógica ao funcionamento do sistema anárquico (p. 369-70). 
* Wendt conclui reconhecendo uma tendência dos processos de internalização de primeiro grau ‘evoluírem’ para o terceiro grau, através de uma intensificação de ideias compartilhadas, elaboração de regras, normas e instituições permeando as identidades, interesses e comportamento dos Estados. Não obstante, o autor reconhece não haver nenhuma constatação de tendência à evolução progressiva entre as ‘culturas’ de anarquia, embora ache difícil a possibilidade de uma regressão nesse sentido (p. 372-73).

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