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6 H S M M a n a g e m e n t 1 2 j a n e i r o - f e v e r e i r o 1 9 9 9 Há uma nova economia se estabelecendo no mundo, resultante da aplicação de conhecimentos sem precedentes ao processo de criação de riqueza. Quem faz essa afirmação é o mais renomado dos futuristas, Alvin Toffler, em entrevista exclusiva a José Salibi Neto, diretor editorial de HSM Management. Toffler, autor do best seller A Terceira Onda (ed. Record), entre outros livros que hoje são referência, descreve essa nova economia (os conceitos e o vocabulário são abordados na página 139 desta edição, na primeira parte da Enciclopédia da nova economia). Segundo o especialista, ela se define por ter predominância dos setores de informação e serviços, ritmo de mudança acelerado e muita instabilidade, pelo menos nas próximas décadas. Ele orienta empresas e países sobre como se proteger da instabilidade acarretada por isso. Sobre o Brasil, o especialista diz ser um país extremamente complexo e, portanto, difícil de administrar de forma centralizada. A G EN D A 2 00 0 Em entrevista exclusiva, o futurista Alvin Toffler descreve o cenário da terceira onda e adverte sobre os cuidados que devem ser tomados pelas empresas A nova Fo to s D iv ul ga çã o Alvin Toffler 7 ➙ H S M M a n a g e m e n t 1 2 j a n e i r o - f e v e r e i r o 1 9 9 9 economia Há muitos estudiosos falando em uma nova economia. Como o sr. a definiria? Ela já existe ou ainda está por acontecer? Há dois grupos com opiniões distintas sobre a nova economia. Um sustenta que não há nenhuma nova economia, visto que todos os antigos princípios econômicos continuam a ser aplicáveis, tal como vem sendo feito nos últimos 200 anos. Esse grupo diz que o campo de batalha continua o mesmo e garante, portanto, que o elevado preço das ações não é realista, mas especulativo, o que pode acabar provocando uma crise. O outro grupo, ao contrário, afirma que há uma nova economia, sim, e que essas grandes altas observadas nos mercados de ações refletem um aumento de produtivi- dade relacionado a ela. Portanto, o primeiro grupo acredita que deve- mos esperar uma crise, enquanto o segundo diz que não devemos esperar uma crise porque os preços na verdade são realistas. Eu pessoalmente acredito que ambos os grupos estão errados. Para mim, há uma economia muito nova, sim, vinculada à aplicação de conhecimentos sem precedentes ao processo de criação de riqueza. Minha discordância com o segundo grupo está no fato de que a existência da nova economia não implica, para mim, que o mercado será estável. Na realidade, penso que acontecerá o contrário. Esta- mos lançando essa nova economia revolucionária baseada em princí- pios totalmente diferentes –nela o dinheiro é informatizado e a informação monetarizada; as formas de trabalho mudam; as estruturas organizacionais mudam; a escala da operação muda. E isso se tra- duzirá, logicamente, na instabilida- de dos mercados, inclusive o mer- cado de ações. Minha posição, portanto, difere da de ambos os lados: daqueles que se prendem ao passado e daqueles que dizem que não haverá turbulên- cia no futuro. Entretanto, se estamos passando por um processo revolu- cionário, a turbulência é inevitável. Ela faz parte do preço da mudança. Nesse caso, vamos ter de aprender a conviver com a turbulência? Ou a turbulência se resumirá à fase de transição e haverá um ambiente mais estável no futuro? Acredito que tudo depende do horizonte de tempo que estamos considerando. Durante as próximas décadas, o nome do jogo será tur- bulência. Vamos nos ver diante de turbulência política, turbulência de informações, turbulência cultural e esse passará a ser o nosso ambiente natural nas próximas décadas. A verdadeira questão é saber se essa nova economia –que é a terceira onda e a sociedade criada por ela– conseguirá se estabelecer efetivamente para nos proporcionar um longo período de tranquilidade. Em minha opinião, já adianto, isso é pouco provável, porque a acele- ração da mudança está trazendo ao mundo uma combinação explo- siva de tecnologia da informação e revolução biológica. Isso dará origem a todos os tipos de oportu- nidades e crises inimagináveis. Depois disso, talvez tenhamos um novo surto de mudanças quando a raça humana começar a povoar outros planetas. Falando um pouco mais de turbu- lência e instabilidade, estamos vendo governos e economias da América Latina passar por isso, o que pode causar grandes danos a países emergentes como o Brasil, a Argenti- na ou o México. Como esses países podem se proteger para não ser tão vulneráveis a estragos provocados por outros países? Estamos caminhando muito rapidamente para aquilo que denominamos globalização, mas estamos confundindo globalização com liberalização. Não são sinôni- mos. A globalização é possível tanto para economias de planejamento central quanto para economias de mercado. Precisamos entender as diferenças entre o processo de ir além dos mercados nacionais e o processo de integração dos merca- dos nacionais em uma única econo- mia mundial. Ao mesmo tempo, é preciso compreender a diferença entre aqueles que desejam uma movimentação totalmente livre do capital, sem limitações, e aqueles que querem estabelecer controles para prevenir o contágio. No que diz respeito à globaliza- ção, o processo é extremamente desigual. Nem todas as partes da nossa economia são igualmente globalizadas. O setor financeiro é o mais globalizado, mas mesmo em finanças há diferenças entre os mercados de câmbio e os de ações, os seguros etc. Portanto, há diferen- ças marcantes de setor para setor, de segmento para segmento, de país para país. Em 1987, minha mulher e eu escrevemos um artigo para o jornal The New York Times no qual comen- tamos que, embora fosse muito 8 H S M M a n a g e m e n t 1 2 j a n e i r o - f e v e r e i r o 1 9 9 9 importante reduzir as barreiras contra o fluxo de capital através de fronteiras nacionais –visto que isso era bom para o desenvolvimento do comércio–, precisávamos pensar na criação de novas medidas de segu- rança para prevenir o contágio. Mas evidentemente ninguém deu muita atenção a nossas previ- sões. Nos últimos dez anos todos os esforços foram realizados no sentido de reduzir as barreiras e as medidas de segurança, e não de criar novas. Heidi e eu dissemos que a eliminação de barreiras contra o fluxo livre de capitais seria o equiva- lente a construir um superpetrolei- ro sem compartimentos de seguran- ça, ou seja, qualquer pequeno furo no casco poderia afundar o navio inteiro. É exatamente isso que estamos enfrentando no momento. E quais seriam os compartimentos de segurança dos países? Em minha opinião, controles temporários de fluxo de capitais, como vemos na Malásia e em outros países hoje, podem ser necessários ocasionalmente. Não podemos simplesmente supor que qualquer nível de controle normativo seja ruim e que o controle feito pelo próprio mercado resolva tudo. Precisamos de sistemas inteli- gentes e à prova de falhas para prevenir o contágio. Eles não podem ser parecidos com as velhas barreiras. Devem ser projetados para ser mínimos, temporários e se concentrar exclusivamente naqueles aspectos do sistema financeiro que têm maior risco de contágio. Como as empresas podem elaborar sua estratégia neste ambiente? O mais importante é que as empresas e seus líderes decidam em que parte da economia desejam atuar. No Brasil, por exemplo, vocês não apenas têm tribos indígenas isoladas vivendo de caça e pesca na Amazônia como também possuem um setor agrícola de grande porte, tudo que eu chamo de setor de primeira onda. Além disso, vocês têm um imenso e tradicional setor de indústria pesada, que classifico como setor de segunda onda, e assistem a um crescimento muitorápido do setor de terceira onda, o setor de informações. Cada uma dessas ondas tem exigências diferentes. Elas precisam de tratamentos diferentes por parte do governo. E, respondendo à sua pergunta, precisam de estratégias de negócio completamente diferen- tes. Por isso, toda empresa deve ter consciência sobre em que onda está operando e para que onda quer ir. As empresas de sucesso costumam adotar estratégias de acordo com a onda em que estão, capazes de au- mentar seu valor em cada onda. Se não conseguir entender essa econo- mia de terceira onda do futuro e seus requisitos, a empresa não pode- rá aproveitar ao máximo as oportuni- dades criadas pela nova economia. Muitos empresários têm uma visão estreita de seus negócios e sabemos que nesta época de turbu- lência muitas companhias serão simplesmente eliminadas pela concorrência, não apenas vinda do exterior, mas de outros setores de atividade em seu país. Daí a extre- ma importância da estratégia. Algumas pessoas afirmam que não é possível ter uma estratégia porque as mudanças são muito rápidas atualmente. Segundo elas, a agili- dade e a capacidade de adaptação substituem a estratégia hoje. O sr. concorda com isso? Em minha opinião, esse é um erro terrível, porque significa que você se adapta para fazer o que todo “Controles de fluxo de capitais entre países são necessários às vezes, mas devem ser temporários e se concentrar nas áreas de maior risco de contágio” Para a China. “A China pode se tornar uma grande potência no futuro próximo se não quebrar devido ao desenvolvimento acelera- do demais. Não creio que venha a enfrentar uma guerra civil de imediato, porém não digo nada sobre isso daqui a 10, 20 ou 25 anos. Mas ela também não será a superpo- tência do ano 2020 que alguns predizem, por essas tensões sociais e por complicações geopolíticas.” Para a União Monetária Européia. “O que os europeus estão fazendo é um suicídio. Sua entrada no século XXI não será nada tranquila: assisti- remos a instabilidade econômica, social e geopolítica. E situações desse tipo exigem flexibilidade, o que não combina com a rigidez excessiva que vem sendo imposta às moedas e às economias dos países membros. Eu acredito que haverá uma multiplica- ção de moedas pelos países da região e não uma redução. Sei que estou sozinho nesse prognóstico.” Para o restante da Ásia. “Estou convencido de que a economia asiática pode se recuperar, depen- dendo do mercado de ações dos EUA, da desvalorização da moeda da China e de uma queda do Japão. Mas ainda há o enorme desequilí- brio social por resolver, resultante da grande velocidade com que cresceu sua economia, o que pode provocar crises políticas e até um confronto armado. Além disso, também é preciso solucionar o real problema da região –a incompatibi- lidade entre a produção econômica e o sistema financeiro.” O S P R O G N Ó S T I C O S D E T O F F L E R 10 H S M M a n a g e m e n t 1 2 j a n e i r o - f e v e r e i r o 1 9 9 9 mundo está fazendo e nunca estará em posição de controlar seu desti- no. As empresas que sobreviveram sempre foram aquelas que tinham um pensamento estratégico arrai- gado e profundo e não aquelas que simplesmente se adaptaram ao que os estrategistas de fora decidiram. Dado que as pessoas geralmente não gostam de instabilidade, como é possível convencer os funcionários de que essa é a realidade da nova economia e fazê-los sentir-se confor- táveis com ela? Que conselho o sr. daria aos gerentes e executivos? Antes de mais nada, as pessoas obviamente precisam de novas habilidades para essa nova econo- mia, habilidades essas que deverão ser adquiridas dentro ou fora da empresa. No entanto, nossa defi- nição de habilidade tende a ser muito estreita e mecânica. Pensa- mos em cada função como uma tarefa altamente específica para a qual podemos treinar alguém. A verdade é que as mudanças em curso não envolvem apenas o conjunto de habilidades das quais uma empresa precisa em determi- nado momento; estas estão mudan- do continuamente, assim como as culturas corporativas. Há culturas diferentes: as com- panhias de primeira, segunda e terceira onda são caracterizadas por culturas internas diferentes, que apresentam diferenças de comportamento diante da autorida- de e da velocidade, por exemplo. Se você estiver em uma empresa de um setor tradicional de primeira onda, que extraia minério de ferro, plante feijão ou fabrique papel, haverá grande probabilidade de você enfrentar mudanças em ritmo muito menos acelerado do que aquelas de um setor ligado ao varejo ou marketing, de terceira onda, no qual a moda e os produtos mudam de um dia para outro. Para empresas de terceira onda avançada, as pessoas que marcham sem pensar não são muito valiosas. Elas precisam de um tipo diferen- te, de uma atitude diferente e até mesmo de uma personalidade diferente. Os líderes dessas empre- sas devem não apenas tolerar, mas também estimular maior diversida- de interna. Como os gerentes devem adminis- trar suas ferramentas de informa- ção no meio da revolução pela qual estamos passando nesse setor? Todos sabemos que é muito difícil decidir entre um computador e outro, ou entre um sistema de telecomunicações e outro. Não estaríamos escolhendo entre dois candidatos e sim entre vários, e isso é muito difícil. Acho que, para podermos fazer essas escolhas, precisamos pensar em questões não-tecnológicas. Precisamos, isto sim, pensar em questões organizacionais e até mesmo em questões culturais. Por exemplo, parece-me que um erro cometido por muitas companhias é comprar tecnologia da informação de terceira onda e depois tentar usá-la de uma forma típica da segunda onda. Isso é mais comum do que se pensa. E já aconteceu antes, como na ocasião da Revolução Industrial. Os traba- lhadores rurais trabalhavam em equipes constituídas pelas pessoas da família e, quando surgiram as primeiras fábricas, seus donos instalaram tecnologias industriais, máquinas para a fabricação em massa e contrataram famílias, ou seja, usaram tecnologias avançadas numa organização obsoleta. Depois descobriram que as famílias não eram muito eficientes –os mais idosos não conseguiam acompanhar o ritmo, as crianças queriam brincar e precisavam ser acorrentadas às máquinas e assim por diante. Então passaram a contratar um indivíduo e não uma família inteira. O mesmo está acontecendo hoje. Se você comprar tecnologia da informação e escolher às cegas os funcionários que trabalharão com ela, não estará obtendo o valor potencialmente disponibilizado pela nova tecnologia. Outro ponto-chave para ser lembrado é que, quando compra- mos tecnologia da informação, precisamos nos perguntar se esse sistema está aumentando a burocra- cia ou ajudando a eliminá-la em favor de formas mais avançadas de organização. Se você estiver pagan- do uma grande quantia de dinheiro para instalar um sistema que sim- plesmente calcifica ou fortalece a burocracia, mais tarde se arrepen- derá amargamente. Além disso, é preciso lembrar que, quando lidamos com tecnolo- gia da informação, estamos corren- do para integrar a cadeia de supri- mentos. Isso cria um sistema poten- cialmente muito mais eficiente, que pode economizar grande quanti- dade de dinheiro. Mas é igualmente importante lembrar que também precisamos de sistemas à prova de “As mudanças em curso não envolvem apenas o conjunto de habilidades das quais uma empresa precisa no momento, pois estas também mudam” “Para podermos escolher as ferramentas da informação precisamos pensar em questões não-tecnológicas, como as organizacionais e culturais” 11 ➙ H S M M a n a g e m e n t 1 2 j a n e i r o - f e v e r e i r o 1 9 9 9 falhas e de sistemas de reserva na cadeia de suprimentos para que, se uma unidade do sistema fechar por qualquer razão (poruma greve, por exemplo), você continue operando normalmente. Quanto mais integrados os sistemas, maior o risco de contágio. Voltando um pouco à questão da globalização: com o fracasso do co- munismo e a abertura das fronteiras na nova economia, qual deverá ser o papel da política e dos políticos? A forma tradicional de caracteri- zar os políticos é direita, centro e esquerda. No entanto, isso é apenas um aspecto. Precisamos na verdade entender qual é a posição dos políticos e dos governos em relação ao passado e ao futuro. É preciso analisar se determinada política adotada pelo governo facilitará o desenvolvimento do país e de sua capacidade de usar as novas tecnolo- gias ou impedirá esse desenvolvi- mento e a aplicação das poderosas novas tecnologias que criam riqueza. Devemos começar a pensar sobre os políticos dessa forma e nos perguntarmos quem são seus principais eleitores –se esses eleito- res se encontram em setores de primeira, segunda ou terceira onda. É preciso entender como esses políticos se posicionam em relação às diferentes ondas da economia e da sociedade. E o que dizer da política em um país com as especificidades do Brasil, que o sr. tão bem descreveu? O fato de um país como o Brasil ter as três ondas simulta- neamente torna-o extremamente complexo e, portanto, difícil de administrar de forma centralizada. Penso que, à medida que a terceira onda se disseminar pelo Brasil, e por quaisquer países, assistiremos a uma transformação dos governos federais, estaduais e municipais, de centralizados em cada vez mais descentralizados. A decisão relativa a essa transformação provavelmente ainda será centralizada, mas muitas decisões passarão a ser tomadas pelos governos estaduais, por entidades regionais ou pelo setor privado. Depois será a vez das decisões tomadas por regiões transnacionais. O papel do Estado precisará ser drasticamente reduzido em toda a América Latina. O fato é que o ambiente econômico, cultural e social está ficando cada vez mais complicado e, quanto mais complicado for, menos infor- mações as pessoas no topo da hierarquia governamental terão sobre a realidade. Se queremos desenvolvimento econômico –e isso é o que devería- mos querer–, precisamos reduzir a mão pesada do governo. Natural- mente o problema será a resistência dos funcionários públicos, dos “É preciso analisar se determinada política adotada pelo governo facilitará o desenvolvimento do país e de sua capacidade de usar as novas tecnologias” 12 H S M M a n a g e m e n t 1 2 j a n e i r o - f e v e r e i r o 1 9 9 9 Alvin Toffler é o mais renomado futurista da atualidade. Em seu últi- mo livro, Guerra e Antiguerra – Sobre- vivência na Europa do Terceiro Milênio, que escreveu com a esposa, Heidi Toffler, ele projeta a economia emergente do século XXI, apresen- tando uma nova teoria sobre a guerra e identificando semelhanças entre as mudanças que ocorrem hoje na área militar e na área empresarial. O especialista em traçar cenários de futuro ficou mundialmente famoso com sua trilogia O Choque do Futuro, A Terceira Onda e Powershift, que focaliza o novo sistema de criação de riqueza do mundo a prevalecer no século XXI. No best seller A Terceira Onda, por exemplo, ele separa os sistemas socioeconô- micos em três ondas, acreditando na prevalência da terceira: a primei- ra corresponderia ao setor agrope- cuário e extrativista, a segunda à indústria, e a terceira aos serviços e informações. Já em Powershift, a tese central de Toffler é a de que o poder está mudando de sua base tradicional –violência e riqueza– para uma nova base –o conheci- mento e, especialmente, o conhe- Saiba mais sobre Alvin Toffler cimento sobre o conhecimento. Entre os outros livros de Toffler lançados no Brasil estão A Empresa Flexível, Previsões e Premissas, Power- shift – As Mudanças do Poder e Criando Uma Nova Civilização – A Política da Terceira Onda, este também escrito com Heidi Toffler. Todos os livros de Toffler citados foram publicados pela editora Record. Ao longo de sua carreira, Toffler envolveu-se pessoalmente com grandes líderes mundiais comprometidos com mudanças, como Mikhail Gorbatchev, res- ponsável pela abertura política e econômica da ex-União Soviética, e Zhao Ziyang, o ex-líder do Partido Comunista Chinês que comandou as reformas econômicas liberali- zantes em seu país. sindicatos e de outras organizações que temem essas mudanças. A mesma coisa aconteceu quando a Revolução Industrial ocorreu na Europa Ocidental há duas centenas de anos. Nessa ocasião assistimos a uma longa batalha política entre a velha elite agrária e feudal e a burguesia emergente, as pessoas que foram as primeiras a usar um motor a vapor e a inventar as pilhas. Houve uma prolongada batalha política entre essas partes, que durou mais de um século e foi particularmente intensa na Inglaterra, no período entre 1830 e 1880. É o tipo de luta que está acontecendo hoje e, em minha opinião, essa luta será cada vez mais intensa. Veremos emergir uma nova po- tência econômica, ou continua- remos basicamente com a divisão que temos atualmente? O sr. tem alguma previsão nesse sentido? Posso responder com uma única frase: nada é permanente. A atual divisão de poder no nosso planeta não é permanente. Em sua opinião, quais são os setores em crescimento e quais estão em declínio? Já sabemos que os setores de tecnologia da informação, teleco- municações, biotecnologia estão na vanguarda. É muito mais difícil identificar os milhares ou até mesmo dezenas de milhares de novos nichos interessantes que surgem no setor de serviços. Por exemplo, existe uma cidade nos Estados Unidos que tem um hospital, e os médicos que traba- lham nesse hospital, por incrível que pareça, fazem operações de mudança de sexo. Essa é sua especialidade. Eles fazem milhares dessas operações. Toda a economia da cidade está baseada nessas operações. Acredito que haverá um número imenso de serviços para ser presta- dos em nichos que surgirão em todos os países e estão só esperando que empresários imaginativos os identifiquem. Conheço uma empre- sa no Japão constituída por cerca de 200 empresas e cada uma delas opera em um nicho. Ela pesquisa constantemente o ambiente para identificar nichos adicionais e assim vem descobrindo vários nichos verdadeiramente criativos. Esse é o modelo para o futuro. Veremos uma gama imensa de nichos, particularmente levando em conta o poder da Internet, que tornará possível a pequenos empre- sários com estranhas e novas idéias testá-los muito rapidamente e verificar se há um mercado para o serviço que pretendem oferecer. “Haverá um número imenso de serviços para ser prestados em nichos que surgirão em todos os países e estão só esperando ser descobertos” �
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