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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO – Prof. Davidson Malacco Ferreira 02/02/16 Programa da Disciplina: Origens históricas, princípios e fontes do Direito Processual do Trabalho. Organização judiciária trabalhista. Ministério Público do Trabalho. Jurisdição e competência da Justiça do Trabalho. Ação, processo e procedimentalidade trabalhistas. Atos processuais, nulidades e prazos. Partes e procuradores. Intervenção de terceiros no processo do trabalho. Petição inicial. Audiência trabalhista. Resposta do réu. Meios probatórios. Encerramento da instrução. Sentença trabalhista. Custas, emolumentos e outras despesas processuais. Meios peculiares e impugnação. Teoria geral dos recursos. Recursos no processo do trabalho. Execução trabalhista. Bibliografia: LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2014. ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito processual do trabalho. 5. ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte, MG: Del Rey, 2014. Avaliações: 18/03. 1ª Prova. 25 pontos. Dissertativa, questões abertas. Teórica-explicativa (disserte sobre...). 19/04. Avaliação Parcial. 20 pontos. [estudar muito] Prova de 1 minuto. 13 questões. Professor dita a pergunta e os alunos tem 1 minuto para responder. As respostas devem ser objetivas. 17/05. 2ª Prova. 25 pontos. Dissertativa, questões abertas. Prática (solução de caso). Prova Global. 30 pontos. Questões objetivas. Prova Especial. Questões abertas. 05/02/16 – faltei FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO Conhecer a estruturação da justiça do trabalho. Sua formação histórica. A justiça do trabalho tem papel fundamental, pois é uma justiça de distribuição de renda. Mesmo não tendo razão, o autor da demanda sempre terá algum benefício. A justiça do trabalho é paternalista. Mas isso não quer dizer que o reclamante sempre vai ganhar alguma vantagem. Essa ideia paternalista vem à tona porque a irregularidade trabalhista é muito comum em nosso cotidiano. Entre os direitos, o do trabalho é um dos mais desprestigiados em termos de cumprimento. Como há muito descumprimento, o normal é que os reclamantes tenham razão. Ex.: ficar sem pagar o FGTS, atrasar o pagamento. O descumprimento é uma característica do nosso estado democrático de direito. Então, quando você pega esse descumprimento, a justiça do trabalho normalmente dá a proteção. Acordos na justiça do trabalho. Muitas vezes o acordo para o empregador é a melhor resposta em face do descumprimento, sabendo que em uma condenação o valor será maior. A crítica do professor à conciliação trabalhista é com relação às pessoas que fazem a conciliação. Ex.: o autor faz uma petição inicial desonesta, sabendo que não tem direito naquilo que se pede. O réu que deixa a justiça do trabalho fazer o papel de homologação da rescisão de contrato (por causa de pagamento de verbas rescisórias). O juiz que força a conciliação não exerce bem o seu papel. A transação está baseada na reciprocidade (ganhos e perdas). Não se pode admitir renúncia (abrir mão do direito trabalhista). A verdadeira conciliação ocorre quando ambas as partes saem insatisfeitas. Se uma parte sair satisfeita, o autor recebeu mais do que deveria ou o réu pagou menos do que deveria, isso está errado. Conselho Permanente de Conciliação e Arbitragem – 1907 A conciliação trabalhista não é apenas no aspecto jurídico e sim da formação histórica, pois a palavra sempre apareceu, foi enfatizada. Por isso, damos muita importância à conciliação: é um fato histórico. Antes da justiça do trabalho ser criada como órgão do poder judiciário, foi organizada de forma extrajudicial. Esses conselhos foram criados, mas não foram implementados. A ideia é importante, o conceito foi o primeiro a ser trazido. Embora, o conceito não tenha sido implementado, é importante destacar porque foi a primeira tentativa. Essa fase foi pouco expressiva do direito trabalhista (o Brasil havia saído da escravidão há pouco tempo). Não havia normatização trabalhista, então não havia conflito. Tribunais Rurais / SP – 1922 Esses tribunais foram implementados para dirimir conflitos no meio rural. Essa segunda tentativa se justifica porque o país ainda era agroexportador, não havia indústria. Essa organização também era extrajudicial, não havia litigância. Comissões Mistas de Conciliação / Juntas de Conciliação e Julgamento – 1932 Aqui já aparece melhor a justiça do trabalho. Mas, ainda de forma extrajudicial. Em 1932, instituem essas duas organizações: as comissões dirimiam conflitos coletivos (primeira ideia de sindicatos). As juntas ficavam com os conflitos individuais. Embora, extrajudicial, conseguimos evoluir um pouco mais em termos de estrutura. Em 1932, já havia legislação trabalhista. Foi o período em que mais se construiu norma trabalhista. Consequentemente, teremos mais conflitos. Um problema: como eram organizações extrajudiciais, um acordo feito e não cumprido, não gerava nenhuma consequência para quem o descumprisse. Por isso, muitas vezes, os acordos iam ser discutidos na justiça comum (que já existia na época). Constituição de 1934 Foi a primeira previsão de criação da justiça do trabalho. Só a previsão. Criar uma justiça especializada no labor humano. Efetivamente, a criação da justiça do trabalho se deu em 1939. Decreto Lei 1237/39 A justiça do trabalho foi efetivamente criada a partir desse decreto lei, em 1939. Getúlio Vargas é o pai da criação da CLT e da justiça do trabalho. Quando foi criada, a justiça do trabalho não foi criada como órgão do poder judiciário. Era uma organização judiciária ligada ao poder executivo, especificamente ao ministério do trabalho. Essa era a forma de Getúlio controlar a justiça do trabalho. Na época, a 1ª instancia chamava Juntas de Conciliação e Julgamento. Órgão era colegiado: juiz presidente (togado) e dois juízes classistas (leigos, nomeados politicamente, dentre os dirigentes sindicais – que representavam as classes sociais: empregados e empregadores/patronal). Hoje em dia não é mais colegiado é monocrático. A 2ª instancia eram os Conselhos Regionais do Trabalho. A 3ª instancia era o Conselho Nacional do Trabalho. CLT – 1943 Constituição de 1946 Essa constituição teve papel redemocratizante (fim do estado novo). Em termos trabalhistas, houve uma novidade: a partir de 1946, a justiça do trabalho passou a ser órgão do poder judiciário. A estrutura classista continuou durante um bom tempo (mesmo sendo resquício da fase autoritária). Ela se manteve por causa de uma questão política. CR/88 Quando foi promulgada não conseguiu tirar a representação classista, a 1ª instancia ainda era colegiada. EC 24/99 Somente nessa emenda constitucional é que se tirou a representação classista da justiça do trabalho. Consequentemente, acabaram as juntas e foram criadas as varas de trabalho. Estrutura Atual Varas do trabalho 1ª instância É uma fase pesada, de muito trabalho. Fazer audiência, prédio cheio, atrasos. Tribunal regional do trabalho 2ª instância Desembargadores Tribunal superior do trabalho 3ª instância Ministros 09/02/16 – carnaval 12/02/16 ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA TRABALHISTA TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO – TST O TST tem um papel destacado e diferenciado, pois exerce duas funções essenciais: (1) ser o guardião da legislação trabalhista federal. Faz a última (e melhor) interpretação da lei. (2) exercer o papel de uniformização da jurisprudência trabalhista. O papel da jurisprudência.O papel das súmulas e orientações jurisprudenciais. O TST direciona a melhor interpretação do direito trabalhista aos tribunais inferiores. Indica qual tendência deve ser adotada (embora não seja vinculante). Jurisprudência vinculativa é somente do STF. O TST é composto por 27 Ministros escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal. Cumpre lembrar que, nos termos do § 1º do art. 111-A da CF, a lei disporá sobre a competência [funcional] do Tribunal Superior do Trabalho, o que, atualmente, é regulado pela Lei n. 7.701/88. Legislação regulamentar que deve ser conhecida por quem atua na justiça trabalhista: Lei n. 7.701/88 [ler]; Regimento Interno. O TST é formado por organizações internas, com atribuições específicas. Dentre elas, vamos destacar as seguintes: a. O Tribunal Pleno é constituído pelos Ministros da Corte. Tem função mais administrativa do que judicante. É o órgão que aprova as súmulas do TST. A função judicante é pouco expressiva. b. As Turmas. São 8 turmas, com 3 Ministros cada. As Turmas julgam recursos repetitivos (recursos de revista) em decorrência de sua quantidade. Os recursos de maior simplicidade são julgados pelas Turmas. Fazem o trabalho mais operacional. c. SDI - Seção de Dissídios Individuais. Temos duas seções nessa categoria. São compostas por 13 e 11 Ministros. Os casos de maior repercussão são julgados pela SDI. Porque são discutidos por mais pessoas (considerando que as turmas são compostas apenas por 3 ministros). Ex.: os embargos no TST. As decisões da SDI refletem o entendimento majoritário, por causa da quantidade de Ministros. d. SDC - Seção de Dissídios Coletivos. Trata de questões relacionadas ao sindicato, entes coletivos. O quórum para o seu funcionamento é de cinco Ministros. Entendimentos sumulados consolidados. Vem de precedentes repetitivos, aprovados pelo Pleno. Tanto SDI quanto SDC também possuem entendimentos consolidados: Orientação Jurisprudencial (OJ) emitida pela SDI. A OJ é um passo para se transformar em súmula (embora isso não seja uma regra). A SDC também tem seus entendimentos sumulados: Precedente Normativo (PN). http://www.tst.jus.br/sumulas http://www.tst.jus.br/ojs http://www.tst.jus.br/precedentes-normativos TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO – TRT Atuam na fase recursal. Proferir novo julgamento em razão da insatisfação de alguma das partes. Compete ao TRT, originariamente, processar e julgar as ações de sua competência originária, tais como dissídios coletivos, mandados de segurança e ações rescisórias; em grau recursal, o TRT julga os recursos das decisões de Varas do Trabalho. [competência funcional] Compete aos Tribunais Regionais do Trabalho julgar os recursos ordinários interpostos em face das decisões das Varas e também, originariamente, as ações rescisórias, os dissídios coletivos e de greve, mandados de segurança impetrados em face de Juízes de Varas do Trabalho, entre outras ações previstas na lei e no seu Regimento Interno (ver art. 115, da CF). (Schiavi, p. 36) Eles têm competências originárias: mandado de segurança, ação rescisória, dissídio coletivo etc. O dissídio coletivo é proposto em um dos tribunais (seja TRT ou TST). Não se distribui em vara do trabalho. Os dissídios coletivos envolvem empresas e sindicatos, são de categoria. Nesse dissídio, temos categorias organizadas por município, estado ou federação. Cada categoria tem uma circunscrição territorial de representatividade. É isso que define aonde será distribuído o dissídio. Os TRT’s normalmente tem circunscrição de um estado federado. Nos termos do art. 674 da CLT, o território nacional é dividido em vinte e quatro Regiões. Atualmente, existem 24 TRTs. 4 estados não possuem TRT: Tocantins, Acre, Roraima e Amapá. As questões de recursos destes serão julgadas pelos Tribunais de estados vizinhos. O TRT de Minas Gerais é da 3ª região. São Paulo, em função da grande demanda, tem dois TRT’s (Capital/Região metropolitana 2ª + Campinas 15ª). Se o conflito de categoria estiver organizado em mais de um estado federado, o dissídio será ajuizado no TST. Ex.: o bancário. Exceção: no estado de SP, como tem 2 tribunais, ajuíza na 2ª região (não no TST). Quanto mais desenvolvido é o estado, mais demandas trabalhistas ele tem. Consequentemente, isso reflete no tamanho do TRT. SP e RJ são os maiores. Campinas tem o mesmo tamanho de MG. No Maranhão, tem apenas 8 desembargadores. A demanda é pequena porque o conflito não chega na instância de discussão. Estados do sudeste e sul têm muitas demandas. À medida que sobe para nordeste, centro oeste e norte, as demandas caem demais. Os juízes dos TRTs, atualmente denominados “Desembargadores do Trabalho” (Resolução CSJT n. 104/2012). De acordo com o art. 115 da CF, com redação dada pela EC n. 45/2004, os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes. Compete aos Tribunais Regionais elaborar seu próprio Regimento Interno. VARAS DO TRABALHO As Varas do Trabalho são órgãos da primeira instância da Justiça do Trabalho. A jurisdição da Vara do Trabalho é local, pois abrange, geralmente, um ou alguns municípios. Cabe à lei fixar a competência territorial das Varas do Trabalho. Compete às Varas do Trabalho, em linhas gerais, processar e julgar as ações oriundas das relações de trabalho (CF, art. 114, I a IX) e aquelas que, por exclusão, não sejam da competência originária dos tribunais trabalhistas. [competência funcional] Função precípua: julgar os dissídios individuais (entre empregado e empregador). Esse é o grande foco das varas. Onde se percebe a discussão fática, jurídica, pois é a fase de acertamento de direito. CLT. Art. 668 - Nas localidades não compreendidas na jurisdição das Juntas de Conciliação e Julgamento, os Juízos de Direito são os órgãos de administração da Justiça do Trabalho, com a jurisdição que lhes for determinada pela lei de organização judiciária local. No caso de inexistência de jurisdição trabalhista em determinada localidade, o juiz de direito responde também pela demanda trabalhista, se a lei de organização judiciária autorizar. Essa situação é mais comum nos estados com menos demanda. Desse modo, nas localidades em que não há Varas do Trabalho, o Juiz de Direito acumula a jurisdição trabalhista. Das decisões proferidas pelo Juiz de Direito em causas trabalhistas, caberá recurso ordinário para o Tribunal Regional do Trabalho do Estado. Schiavi, p. 35. Em cada unidade judiciária de 1ª instância atuam um “Juiz Titular de Vara do Trabalho” e um “Juiz do Trabalho Substituto”. 16/02/16 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Embora não faça parte da organização judiciária, ele é incluído porque é um ator importante no cenário trabalhista. Legislação: Lei Complementar 75/93: lei orgânica do ministério público da união. A partir do art. 83. Papel fundamental do Ministério Público do Trabalho: CR/88. Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. O Ministério Público do Trabalho não tem uma ação judicante muito grande. Tem uma função mais estratégica porque tem que filtrar as demandas que vai atuar, tem que ter o interesse público suficiente para sua interveniência. Conceito: O Ministério Público é instituição permanente, essencialà função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, sendo uma instituição autônoma e permanente. Schiavi, p. 94. Níveis de atuação do Ministério Público do Trabalho: Procuradores do Trabalho (atuação é operacional também, mais em termos de estratégia do que judicante). Ele é auxiliado pelo Auditor Fiscal do Trabalho (que faz o trabalho mais operacional, faz diligências). Procuradores Regionais do Trabalho (atuam em causas de maior repercussão). Subprocuradores-Gerais do Trabalho (atuam em causas de maior repercussão). Conforme o art. 86 da LC 75/93, a carreira do Ministério Público do Trabalho será constituída pelos cargos de Subprocurador-Geral do Trabalho, Procurador Regional do Trabalho e Procurador do Trabalho. O cargo inicial da carreira é o de Procurador do Trabalho e o do último nível o de Subprocurador- Geral do Trabalho. Schiavi, p. 93. Em todas as procuradorias do Ministério Público do trabalho: existem grupos de trabalho contra combate ao trabalho escravo, trabalho infantil, às fraudes de terceirização, entre outros. Composição: CR/88. Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de quatorze membros. Atuação Extrajudicial e Judicial: ambas as atuações são importantes. Mas, é preciso levar em consideração que a questão extrajudicial seria mais interessantes pelo fato de ser conciliatória. Ocorre que o perfil do brasileiro é ser contencioso. O que mais temos são demandas repetitivas individuais. Extrajudicial: inquérito civil e procedimentos administrativos (tem o mesmo sentido de coletar provas, para uma futura ação ou para resolver de forma extrajudicial). O objetivo dos procedimentos administrativos e inquérito civil é a assinatura do TAC: termo de ajustamento de conduta. O TAC não é brincadeira, é um título executivo extrajudicial. As multas fixadas são altíssimas. É o compromisso mais importante firmado para regularizar as questões trabalhistas. Essa solução é mais positiva porque outra forma de resolver são as demandas individuais. O sentido da ação extrajudicial é acabar com a controvérsia. Se essa atuação extrajudicial não for suficiente, existem as opções judiciais: através da ação civil pública (Lei 7347/85). Aqui não tem dúvida, o conflito é selecionado, mas não tem repercussão para a classe, pois se resolve individualmente. A não ser que a ação ajuizada seja coletiva (pouco comum, pois nem todos os empregadores vão para a justiça). Outra atuação é através da ação anulatória de cláusula convencional. Toda negociação coletiva tem limites, não pode negociar qualquer coisa. Se alguma cláusula infringir os direitos trabalhistas, O MPT ajuíza essa ação. Por último, é o dissídio coletivo de greve em atividade essencial (art. 114, §3, CR/88). O sindicato também pode atuar na tutela coletiva, pois defende uma categoria específica. FORMAS DE ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO São duas as formas básicas de atuação do Ministério Público do Trabalho: judicial e extrajudicial. A atuação judicial, é óbvio, resulta da sua participação nos processos judiciais, seja como parte, autora ou ré, seja como fiscal da lei. Já a atuação extrajudicial ocorre, via de regra, no âmbito administrativo, mas pode converter-se em atuação judicial. Frise-se que os arts. 127 e 129 da CF fornecem-nos exemplos gerais das duas formas de atuação ministerial, na medida em que ofertam a todos os ramos do MP instrumentos de atuação extrajudicial, como o inquérito civil, e judicial, como a ação civil pública. A atuação extrajudicial do Ministério Público do Trabalho, como órgão estatal que é, ocorre na esfera administrativa. O inquérito civil (IC) constitui uma função privativa do Ministério Público, na defesa do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros direitos ou interesses metaindividuais. O objeto do IC reside na colheita de elementos que poderão formar o convencimento do órgão ministerial acerca de eventuais lesões perpetradas a interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos e, verificada a existência de tais lesões, empolgar a promoção de ACP em defesa desses interesses. Se o órgão ministerial se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá, fundamentadamente, o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas. Principais áreas de atuação institucional do MPT em defesa da ordem jurídico-trabalhista O MPT tem priorizado algumas áreas de atuação institucional em defesa da ordem jurídico-trabalhista: a) erradicação do trabalho infantil e regularização do trabalho do adolescente, tendo sido criada, em novembro de 2000, a Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho Infantil e do Adolescente; b) combate a todas as formas de discriminação no trabalho, em especial, as de raça e gênero, sendo também implementada a inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho; c) erradicação do trabalho escravo ou forçado e regularização do trabalho indígena; d) regularização das relações de trabalho, por meio de audiências públicas que visam orientar a sociedade e os administradores públicos para inúmeras temáticas, como o verdadeiro cooperativismo e a exigência constitucional do concurso público; e) defesa do meio ambiente do trabalho, mormente na área de segurança e medicina do trabalho. Para operacionalizar essas metas institucionais, o MPT utiliza diversos instrumentos institucionais, como o inquérito civil, a mediação, a arbitragem, a audiência pública, a ação civil pública, o dissídio coletivo de greve, a ação anulatória de cláusulas de convenção de acordo coletivo de trabalho etc. 19/02/16 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA TRABALHISTA Jurisdição Contenciosa Trabalhista Diante da multiplicidade de conflitos na sociedade, alguns critérios tiveram de ser criados para que esses conflitos fossem distribuídos uniformemente aos juízes. Assim, a jurisdição poderia atuar com maior efetividade e também propiciar ao jurisdicionado acesso mais célere e efetivo à jurisdição. Por isso, criou-se o critério de distribuição da jurisdição entre os diversos juízes, que é a competência. Schiavi, p. 42. Quando o Estado assume o papel de único a prestar a tutela jurisdicional, ele precisa se estruturar para isso. Em termos trabalhistas, a jurisdição não é voluntária. Sempre será contenciosa, ou seja, lide. Para ganhar eficácia, a jurisdição é dividida em competência, para dar conta de atender todas as demandas. A EC45/2004 foi decisiva na alteração da competência trabalhista. A jurisdição tem íntima relação com a competência. Tradicionalmente, fala-se que a competência é a medida da jurisdição de cada órgão judicial. É a competência que legitima o exercício do poder jurisdicional. Com razão, Marcelo Abelha Rodrigues, ao afirmar que “todo juiz competente possui jurisdição, mas nem todo juiz que possui jurisdição possui competência”. É, pois, do exame dessa medida da jurisdição que se saberá qual órgão judicial é competente para julgar determinada causa. Com base na teoria geral do direito processual, é possível formular inúmeros critérios para determinar a competência. Tais critérios levam em conta a matéria, a qualidade das partes, a função, a hierarquia do órgão julgador, o lugar e o valor da causa. Daí o uso corrente das expressões que designam a competência em razão da matéria (ratione materiae), em razão das pessoas (ratione personae), em razão da função e da hierarquia, em razão do território (ratione loci) e das chamadas causas de alçada (em razão do valor dacausa). Esses critérios podem ser trasladados para os domínios do direito processual do trabalho, desde que observadas algumas peculiaridades desse setor especializado da árvore jurídica. Competência Critérios: Vamos fazer o estudo de cada um deles. A primeira coisa quando se pensa em ação trabalhista é definir a competência. Territorial (em razão do lugar) Funcional Pessoa Matéria (* a mais destacada) As duas primeiras (territorial e funcional) são regulamentas por lei infraconstitucional. Consequentemente as outras duas (pessoa e matéria) estão definidas pela Constituição (art. 114, CR/88). As competências em razão da função e em razão do território dos órgãos da Justiça do Trabalho são fixadas pela lei, e não pela CF. É o que diz o art. 113 da própria CF (com nova redação dada pela EC n. 24/1999), que remete à lei a tarefa de regular “a constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho”. A lei em questão é da competência privativa da União (CF, art. 22, I), por meio do Congresso Nacional, ou seja, trata-se de lei federal, pois os Estados e os Municípios não têm competência para legislar sobre direito processual (inclusive o do trabalho), os que os impede juridicamente de regulamentar o art. 113 da CF. Competência absoluta e relativa: três dos critérios são competências absolutas (funcional, pessoa e matéria) e a competência relativa (territorial). As repercussões são conhecidas. Quando for relativa, pode haver prorrogação da competência. Arguição não é de oficio, é da parte. A competência absoluta é matéria de ordem pública, pode ser decretada de ofício. A competência absoluta é arguida em preliminar de contestação. O novo CPC tem aplicação subsidiária no processo trabalhista. Além disso, tem que ter compatibilidade. Tem que saber se a regra é compatível com a estrutura processual trabalhista. CLT. Art. 769 - Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título. O primeiro requisito da petição inicial é a designação do juízo, que passa pelos quatro critérios de definição de competência: é matéria trabalhista? As pessoas envolvidas na relação jurídica processual podem demandar ou serem demandadas? Qual órgão da justiça do trabalho vai julgar? (vara, trt ou tst). Qual jurisdição territorial vai julgar? Reclamante (autor) / Reclamado (réu) COMPETÊNCIA TERRITORIAL A competência em razão do lugar (ratione loci), também chamada de competência territorial, é determinada com base na circunscrição geográfica sobre a qual atua o órgão jurisdicional. Geralmente, a competência ratione loci é atribuída às Varas do Trabalho, que são os órgãos de primeira instância da Justiça do Trabalho. A competência territorial das Varas do Trabalho é determinada por lei federal. Cumpre ressaltar, no entanto, que os Tribunais Regionais do Trabalho têm competência para processar e julgar as causas trabalhistas, originariamente(ex.: dissídio coletivo) ou em grau de recurso (ex.: recurso ordinário), dentro do espaço geográfico, normalmente correspondente a um Estado da Federação. Vale dizer, o TRT tem competência territorial limitada a determinada região, que, geralmente, coincide com a área de um Estado. Na mesma linha, o TST possui competência territorial para processar e julgar, originariamente, os dissídios coletivos que extrapolem a área geográfica de uma região (ou melhor, ultrapassem a área territorial sob a jurisdição de um Tribunal Regional do Trabalho) e, em grau recursal, as decisões dos TRTs nos dissídios individuais ou coletivos. Numa palavra, o TST possui competência ratione loci sobre todo o território brasileiro. O regramento da competência em razão do lugar tem previsão expressa na CLT (art. 651), não cabendo, pois, em princípio, a aplicação subsidiária do CPC. Trata-se, portanto, de competência relativa e somente pode ser arguida por meio de exceção. Logo, não pode ser declarada de ofício (STJ, Súmula 33; TST/SBDI-2 OJ 149). Tem-se admitido, em homenagem ao princípio da simplicidade que informa o processo do trabalho – embora tecnicamente não seja a forma correta – a arguição da incompetência territorial como preliminar da contestação. A competência territorial é relativa, pois está prevista no interesse da parte. Portanto, o Juiz não pode conhecê-la de ofício. Caso não impugnada pelo reclamado no prazo da resposta (exceção de incompetência em razão do lugar — arts. 799 e seguintes da CLT), prorroga-se a competência (ver art. 651 da CLT). Schiavi, p. 63. A competência territorial das Varas do Trabalho pode ser classificada: a) quanto ao local da prestação do serviço; b) quando se tratar de empregado agente ou viajante comercial; c) de empregado brasileiro que trabalhe no estrangeiro; ou d) de empresa que promova atividade fora do lugar da celebração do contrato. Art. 651, CLT. - A competência da Junta de Conciliação e Julgamento Vara de Trabalho é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro. Regra geral: a vara competente é a do local de prestação de serviço. A Vara da localidade aonde o trabalhador prestou o seu serviço. Mesmo quando o empregado for o reclamado (réu). Mesmo que tenha sido contratado em outra localidade. Ex.: Foi contratado em São Paulo, mas prestou serviço em BH. A vara competente será a de BH. Quando se estabeleceu o local de prestação de serviço como regra da competência territorial trabalhista o objetivo foi facilitar a captação da prova. Se o serviço foi prestado em BH, a prova da lide está aqui e isso facilita a captação, por isso a competência territorial é a do local onde o serviço foi prestado. A jurisprudência trabalhista tem também noticiado outro argumento para fixar a vara no local da prestação de serviço: facilitar o acesso ao judiciário. Ao fazer isso, você também facilita a própria prestação jurisdicional. É mais difícil você ter que sair do interior para fazer a audiência na capital ou outro Estado. A jurisprudência é mais flexível, considerando o domicílio do empregado. É uma exceção à regra geral, mas que tem como objetivo facilitar o acesso do sujeito ao judiciário. É uma tendência jurisprudencial. A regra prevista no art. 651, caput, da CLT visa à facilitação da instrução processual, pois as provas, especialmente a testemunhal, são, em regra, encontradas no local da prestação do serviço. Vale dizer, a norma foi pensada para facilitar o acesso do trabalhador à Justiça do Trabalho, mormente pelo fato de que naquele tempo (meados do século XX) era bastante precário o sistema de transportes para deslocamento territorial de trabalhadores no âmbito intermunicipal e interestadual. Assim, de acordo com a interpretação literal do preceptivo em causa, a ação trabalhista deve ser ajuizada no local em que o empregado prestou serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado em outra localidade ou em outro país. Exemplo: se o empregado A é contratado pela empresa B em Vitória (ES), mas vai prestar serviços no Rio de Janeiro (RJ), terá competência territorial para processar e julgar eventual ação trabalhista uma das Varas do Trabalho do local da prestação do serviço, in casu, Rio de Janeiro (RJ). Todavia, a interpretação literal do art. 651, caput, da CLT pode não ser a mais justa no exame do caso concreto, cabendo ao intérprete buscar o real sentido e finalidade precípua na citada regra, levando sempre em conta os seus finssociais e a promoção da justiça. Com efeito, dispõe o art. 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Lei n. 12.376/2010): “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. É dizer, o juiz poderá valer-se das interpretações sistemática e teleológica que o orientarão no sentido de fixar a sua competência territorial considerando a questão da (in)suficiência econômica do trabalhador e a facilitação do seu acesso à Justiça Laboral. Nesse passo, a fixação da competência territorial prevista no art. 651 da CLT há de ser interpretada de modo a conferir a máxima efetividade aos princípios constitucionais que informam o nosso ordenamento jurídico, tais como os princípios fundamentais do valor social do trabalho e da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III e IV), bem como os princípios processuais constitucionais da inafastabilidade do acesso ao Poder Judiciário nos casos de lesão ou ameaça a direito (CF, art. 5º, XXXV), do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV) e da razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII). A interpretação e aplicação das disposições do art. 651, caput, da CLT, portanto, deve ter por escopo facilitar ao litigante economicamente fraco o ingresso em juízo em condições que lhe propiciem buscar judicialmente seus direitos, desde que isso não implique prejuízo ao direito de ampla defesa do demandado, o que exige o exame do caso concreto submetido à cognição judicial. Nestes termos, se o trabalhador que tenha sido contratado e prestado serviço em outra localidade diversa ajuizar ação trabalhista no foro do seu domicílio, afirmando na petição inicial que não tem condições econômicas de se deslocar até o local da celebração do contrato ou da prestação do serviço (art. 651, caput, da CLT), o juiz, caso o reclamado apresente exceção de incompetência, deverá, considerando a verossimilhança da afirmação do reclamante, interpretar tal regra conforme a Constituição (art. 1º, III e IV; art. 5º, LV e LXXVIII) e rejeitar a exceção. Especificidades § 1º - Quando for parte de dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Junta da localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, será competente a Junta da localização em que o empregado tenha domicílio ou a localidade mais próxima. Regra sucessiva: 1. Local aonde a empresa tenha agência/filial, além disso, o empregado tem que estar subordinado a esta agência/filial. São duas variáveis que devem ser observadas conjuntas. 2. Local do domicílio do trabalhador; ou localidade mais próxima (porque pode ser que no domicílio não tenha vara de trabalho). Como já ressalvamos no item 2.4.1 supra, o § 1º do art. 651 da CLT também comporta interpretação sistemática, teleológica ou conforme a Constituição, no sentido de assegurar a máxima efetividade do direito fundamental de acesso ao Poder Judiciário. Destarte, o empregado agente ou viajante comercial terá a opção de propor a ação trabalhista: • no foro da Vara da localidade em que a empresa tenha agência ou filial “e a esta o empregado esteja subordinado”, isto é, no domicílio do réu (reclamado) para quem se encontra, de fato, prestando serviços (o que supõe a facilitação da viagem até o local); ou • no foro da Vara do seu domicílio ou da localidade mais próxima, desde que declare na petição inicial que não possui condições econômicas de deslocamento até a agência ou filial da empresa reclamada. Embora o § 1º do art. 651 da CLT diga que a competência será da filial e, na falta, do domicílio do empregado ou da localidade mais próxima, pensamos que a finalidade teleológica da lei seja facilitar o acesso do trabalhador à Justiça do Trabalho, e a presente regra fora idealizada em benefício do trabalhador. Portanto, a interpretação não pode ser literal, mas, sim, teleológica. Schiavi, p. 64. § 2º - A competência das Varas de Trabalho Juntas de Conciliação e Julgamento, estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário. Não há tanta aplicabilidade. É a situação do sujeito que é contratado no Brasil, pra exercer atividade no estrangeiro. A lide vai ser ajuizada no Brasil. Mas como a competência é relativa, o sujeito pode optar por ajuizar lá no estrangeiro também. A regra possibilitou que o sujeito que é brasileiro, ajuíze a ação aqui. Normalmente, quando o cara é dispensado, ele costuma voltar para o Brasil. Se não tivesse esse parágrafo, ele teria que obrigatoriamente ajuizar a ação no estrangeiro. Isso dificultaria muito. O processo utiliza as regras processuais brasileiras. Mas, e o direito material? Se brasileiro ou argentino? Duas questões: uma súmula (207, TST, que foi cancelada) que estabelece uma regra: lei do local da execução do contrato. Significa que em uma controvérsia, a lei que vai reger/regular essa relação é a lei do local da execução do contrato. Aonde o contrato foi executado. No nosso exemplo, se o contrato foi executado na Argentina, a lei material considerada é a da Argentina. Tem que conhecer a legislação estrangeira. Por isso, existe intérprete. Regras para utilizar esse dispositivo: desde que o empregado seja estrangeiro e que não haja convenção internacional específica. Em termos de aplicação majoritária: se a execução do contrato foi no estrangeiro, é a lei do estrangeiro que será utilizada na lide (o direito material). Mas, o processo será o trabalhista brasileiro (as regras processuais brasileiras). Não obstante, é preciso destacar que o ordenamento jurídico brasileiro estabelece dois critérios para solução de conflitos de leis trabalhistas no espaço: um de direito material e outro de direito processual. Quanto ao critério de direito processual, atribui à Justiça do Trabalho a competência territorial para processar e julgar ação trabalhista proposta por brasileiro que tenha trabalhado em agência ou filial no estrangeiro. No que concerne ao critério de direito material, estabelece que a relação de emprego será regida segundo a lei do país em que o serviço tenha sido ou esteja sendo prestado. Pouco importa se a empresa é brasileira ou estrangeira, pois o critério específico adotado pelo art. 651, § 2º, da CLT diz respeito ao empregado brasileiro, nato ou naturalizado, que prestar serviços no estrangeiro e desde que não exista tratado internacional fixando outro critério de competência. Salienta Marcelo Moura que o texto normativo em questão estabelece regra de competência concorrente, porquanto permite que a ação seja proposta no estrangeiro caso exista tal previsão em Convenção Internacional ratificada pelo Brasil. Quanto à Vara do Trabalho competente para julgar a ação, alguns entendem que será a da sede ou filial da empresa no Brasil ou do local da contratação antes de o empregado ir para o exterior. Se a empresa não tiver sede ou filial no Brasil, Sergio Pinto Martins sustenta que “haverá a impossibilidade da propositura da ação, pois não será possível sujeitá-la à decisão de nossos tribunais”. § 3º - Em se tratando de empregador que promova realização de atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação dos respectivos serviços. A empresa que promove atividades fora do local de contratação. Nesse caso, o empregado tem uma faculdade. A norma faculta a: ajuizar no foro da contratação ou no foro da prestação de serviços. A regra tem que ser usada de forma inteligente, para facilitar captaçãoda prova. Ex.: você foi contratado no RJ, mas prestou serviço em BH. Como as provas estão em BH, seria mais inteligente ajuizar ação aqui. Se for no RJ, vai ter que utilizar carta precatória. Alguns autores interpretam restritivamente a expressão “empregador que promova realização de atividades fora do lugar do contrato de trabalho” como sendo a hipótese do empregador que desenvolve suas atividades em lugares incertos, transitórios ou eventuais, tal como ocorre, por exemplo, com empresa construtora de pontes, com sede em uma localidade e que promove construções em outras localidades, porquanto seria natural que contratasse empregados por determinado período, longo ou não, para cada nova construção. Adverte Décio Sebastião Daidone que não se enquadraria na moldura deste parágrafo a hipótese do empregado de instituição bancária que possui várias agências, cada qual com pessoal próprio. Parece-nos, no entanto, que a interpretação teleológica do § 3º do art. 651 da CLT autoriza uma opção legal para o empregado de empresa que realiza atividades em locais diversos da contratação do obreiro, pouco importando se a título permanente ou esporádico, ajuizar a ação no foro do lugar da contratação ou no da prestação de serviço. Ademais, deve-se analisar a questão sob a perspectiva do alargamento do acesso à Justiça e, sobretudo, enaltecendo o princípio da economia processual, máxime quando não há prejuízo para a defesa. 23/02/16 COMPETÊNCIA FUNCIONAL Essa competência remete à organização da justiça do trabalho. Competência funcional é a definição das atribuições dos órgãos que compõe a justiça do trabalho. A competência funcional (ou em razão da função) é fixada em virtude de certas atribuições especiais conferidas aos órgãos judiciais em determinados processos. Nos termos do art. 93 do CPC, aplicado analogicamente ao processo do trabalho, a competência funcional dos tribunais é regida pela Constituição, pelas leis processuais e pelos regimentos internos, enquanto a dos juízes de primeiro grau é disciplinada na própria legislação processual trabalhista (especialmente, a CLT) e, subsidiariamente, pelo CPC. A competência funcional pode ser vertical (hierárquica ou por graus), fixada com base no sistema hierarquizado de distribuição de competências entre os diversos órgãos judiciais, ou horizontal, atribuída aos órgãos judiciais do mesmo grau de jurisdição. As competências recursais são competências funcionais verticais, portanto o critério adotado é o hierárquico. São competências funcionais horizontais as fixadas para execução da sentença (CLT, art. 877) e concessão de medidas liminares (CLT, art. 659, IX e X). A distribuição por dependência prevista no art. 253, II, do CPC é um caso de competência funcional horizontal fixado por prevenção do juízo perante o qual fora proposta a demanda anterior e julgada extinta sem resolução do mérito. A competência prevista para o juízo do local do dano nas ações civis públicas (Lei n. 7.347/1985, art. 2º) é, a um só tempo, funcional (horizontal) e territorial. Tomando-se por base os órgãos que compõem a Justiça do Trabalho, podemos dizer que há competência funcional das Varas do Trabalho, dos Tribunais Regionais do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho. Quais são as atribuições através da legislação. Órgão Lei Específica TST Lei 7701/88. Lei federal que descreve as atribuições e os órgãos que o compõe. TRT Regimento Interno. As definições sobre a organização interna é feita por cada tribunal em seu regimento. Arts. 678 ss. CLT. Capítulo específico que trata dos tribunais regionais. A maior competência é a recursal. Mas, em termos de especificidade (ação específica trabalhista) é o dissidio coletivo. Vara do Trabalho Art. 652 e 653, CLT. Função principal: julgar dissídios individuais. Outras duas funcionalidades que merecem destaque: demanda do pequeno empreiteiro, operário ou artificie; o estivador, trabalhador portuário. Competência funcional do Tribunal Superior do Trabalho O TST tem por principal função uniformizar a jurisprudência trabalhista. A competência do TST está disciplinada pela Lei n. 7.701, de 21 de dezembro de 1988, e pela Resolução Administrativa n. 1.295/2008 (DJU 9-5-2008), que instituiu o Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho – RITST. Compete, pois, ao TST, nos termos do art. 67 do seu Regimento Interno, processar, conciliar e julgar, na forma da lei, em grau originário ou recursal ordinário ou extraordinário, as demandas individuais e os dissídios coletivos que excedam a jurisdição dos Tribunais Regionais, os conflitos de direito sindical, assim como outras controvérsias decorrentes de relação de trabalho, e os litígios relativos ao cumprimento de suas próprias decisões, de laudos arbitrais e de convenções e acordos coletivos. Para racionalizar sua atuação e tornar mais eficiente a prestação jurisdicional, o TST, no âmbito da sua autonomia, encontra-se dividido em: Tribunal Pleno, Órgão Especial, Seção Especializada de Dissídios Coletivos e Seção Especializada de Dissídios Individuais, subdividida em duas Subseções, e oito Turmas. Competência funcional dos Tribunais Regionais do Trabalho A competência funcional dos Tribunais Regionais do Trabalho, quando dividido em Grupos de Turmas, deverá observar o disposto no art. 6º da Lei n. 7.701/88 e o respectivo Regimento Interno, ou seja, um Grupo de Turma, necessariamente, terá competência para apreciar e julgar os dissídios coletivos. Nem todos os TRTs possuem Grupos de Turmas. Alguns funcionam apenas com o Pleno; outros, com Pleno e Turmas. Quando não divididos em Turmas, diz o art. 679 da CLT que aos Tribunais Regionais compete o julgamento das matérias a que se refere o art. 678, exceto a de que trata o inciso l da alínea c do item 1, bem como os conflitos de competência entre Turmas. A competência funcional dos Presidentes dos TRTs está prevista no art. 682 da CLT, com as alterações introduzidas pela EC n. 24/99. Competência funcional das Varas do Trabalho A competência funcional das Varas do Trabalho está prevista no art. 652 e 653 da CLT. É importante ressaltar que, em decorrência da EC n. 24/99, a competência privativa do “Juiz Presidente” deixou de ter importância prática, pois, atualmente, compete funcionalmente ao Juiz Titular (ou ao juiz substituto em exercício na Vara do Trabalho)... Finalmente, compete, funcionalmente, à Vara do Trabalho do local onde ocorreu lesão ou ameaça a interesses ou direitos metaindividuais (difusos, coletivos ou individuais homogêneos) processar e julgar ação civil pública promovida pelo Ministério Público do Trabalho – MPT ou associação sindical, por força do art. 83, III, da Lei Complementar n. 75/93, combinado com o art. 2º da Lei n. 7.347/85 e o art. 93 da Lei n. 8.078/90. Com o advento da EC n. 45/2004, que deu nova redação ao art. 114 da CF, as Varas do Trabalho passaram a ser competentes para “processar e julgar” (houve supressão do verbo “conciliar”, que constava da redação original do preceptivo em causa). A nosso ver, o procedimento trabalhista continua inalterado, pelo menos até que sobrevenha a tão prometida “Reforma do Processo do Trabalho”. De modo que, por enquanto, compete às Varas do Trabalho “conciliar, processar e julgar”. Até porque o princípio da conciliação sempre foi peculiar ao processo do trabalho. Funcionalmente, pois, a leitura do art. 114 da CF permite-nos dizer que compete às Varas do Trabalho conciliar, processar e julgar as ações. Função principal das Varas de Trabalho: julgar dissídios individuais. Outras duas funcionalidades que merecem destaque: (1) demanda do pequeno empreiteiro,operário ou artificie. A empreitada como um todo é a pessoa física, autônoma, que realiza uma obra específica para um tomador de serviços. A relação é jurídica civil (não trabalhista), regida pelo contrato. Mas, se houver demanda, ela será julgada na justiça do trabalho. Entretanto, o direito invocado será o civil (o contratual). (2) Trabalhador avulso (estivador, trabalhador portuário). Tem um órgão gestão de mão de obra (que funciona como sindicato). A relação trabalhista é triangular: trabalhador, tomador de serviços e o órgão gestor. Não é uma relação típica de emprego, mas tem caráter trabalhista. Se houver lide, a demanda será processada na justiça do trabalho. O direito material é equivalente ao direito do trabalho, pois a Constituição o equiparou ao trabalhador urbano e rural. COMPETÊNCIA EM RELAÇÃO À PESSOA PESSOA: quem pode demandar e serem demandas na justiça do trabalho. Tradicionalmente, o empregado e o empregador já demandavam. A partir da EC45, houve um acréscimo/avanço: inserir o trabalhador que não tem vínculo de emprego e o seu tomador de serviços. A competência em relação à pessoa é uma repercussão em relação à elasticidade da matéria, que agora também pode ser demandada na justiça federal. A EC45 elasteceu a demanda processual para esse trabalhador (que não tem vínculo empregatício). Antes, era discutida na justiça comum. Agora é discutida na justiça do trabalho. Reconheceu que esse trabalhador também tem crédito alimentar. O trabalhador autônomo não teve equiparação ao direito material, somente do processual. Mas, não são todos os trabalhadores autônomos, vai depende muito da relação jurídica estabelecida. A competência em razão das pessoas é fixada em virtude da qualidade da parte que figura na relação jurídica processual. Problematizando: quem são as pessoas que podem demandar na Justiça do Trabalho? Para enfrentar tal questão, optamos por conceituar os trabalhadores tutelados pelo direito material do trabalho, ou seja, aqueles que são alcançados pela expressão “trabalhadores”, contida no art. 7º, caput, da CF. Em seguida, veremos quais as demais espécies de trabalhadores que também estão autorizados a demandar na Justiça Especializada. Além disso, por força do art. 114 da CF, com redação dada pela EC n. 45/2004, será competente a Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações em que figurarem como parte: Trabalhadores que podem demandar na Justiça do Trabalho Trabalhador, em sentido amplo, é toda pessoa física que utiliza sua energia pessoal em proveito próprio ou alheio, visando um resultado determinado, econômico ou não. Convém dizer, desde logo, que nem todo trabalhador é empregado, mas todo empregado é trabalhador. Trabalhadores subordinados típicos são o empregado urbano e o empregado rural. São trabalhadores subordinados atípicos o eventual, o avulso, o temporário, o doméstico e o servidor público investido em cargo público, de provimento efetivo ou em comissão, bem como o servidor contratado a título temporário (CF, art. 37, IX). Convém advertir que, à luz do nosso ordenamento jurídico vigente, os trabalhadores autônomos não gozam de proteção do direito do trabalho, mas as relações de trabalho que mantêm com os respectivos tomadores do serviço por eles prestados podem ser processadas e julgadas pela Justiça do Trabalho. O trabalhador eventual e o servidor público investido em cargo público (estatutário), de provimento efetivo ou em comissão, embora subordinados, também estão excluídos da proteção do direito material do trabalho; contudo, a Justiça do Trabalho passou a ser, por força da EC n. 45/2004, competente para processar e julgar as ações oriundas das relações de trabalho entre eles e os respectivos tomadores de seus serviços. O doméstico e o temporário são trabalhadores subordinados sob tutela especial, isto é, não são destinatários de grande parte dos direitos trabalhistas outorgados ao empregado comum. Todavia, ambos já podiam demandar na Justiça do Trabalho. [Bezerra, p. 502-507] COMPETÊNCIA EM RELAÇÃO À MATÉRIA Estudo analítico do art. 114, CR/88. Com o advento da EC n. 45/2004, a competência da Justiça do Trabalho foi bastante ampliada, pois ela passou a processar e julgar as ações oriundas, não apenas da relação de emprego, como também daquelas decorrentes da relação de trabalho (CF, art. 114, I). A leitura atenta do art. 114, da CF, com a nova redação dada pela EC n. 45/2004, revela-nos a existência de três regras constitucionais básicas de competência material da Justiça do Trabalho [178], que podem ser assim sistematizadas: competência material original, competência material derivada e competência material executória. Vamos estudar 3 blocos: - incisos II, III, IV, V, VII e VIII - inciso VI - incisos I e IX Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: II – as ações que envolvam exercício do direito de greve; é uma inovação muito boa da EC45. Premissa: direito de greve Algumas ações que tinham como fundamento o exercício de greve já eram julgadas na justiça do trabalho (como o dissidio coletivo de greve). Mas, a ideia é trazer lide conexa à relação de emprego. Não se discute a relação de emprego em si, mas uma lide que decorre dessa relação. Qualquer ação judicial cuja premissa envolvida é o exercício do direito de greve. Ex1.: ação de reparação de danos (causados em função do movimento paredista) [**] Ex2.: movimento paredista impede que até os proprietários entrem na empresa. Independente de legitimidade existe um ponto que merece discussão: o direito de propriedade (o esbulho possessório). Esse interdito proibitório dos donos contra o movimento paredista é discutido na justiça do trabalho. Súmula vinculante 23, STF: A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada. O direito de greve do servidor público é uma discussão ainda ampla. [pg. 458] III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; é uma inovação muito boa da EC45. Premissa: representação sindical. Qualquer assunto que envolva a questão sindical será discutido na justiça trabalhista. As pessoas envolvidas não mudaram, mas a premissa (nesse caso) é conflito sobre representação sindical. Ex1.: se tem disputa nas eleições sindicais de uma chapa contra outra, agora é discuta na justiça do trabalho (antes era na justiça comum). Ex2.: ação de cobrança de contribuição sindical. A empresa não repassa ao sindicato, que tem que ajuizar ação. Toda vez que a tipologia da ação envolver a discussão de representatividade sindical, a competência é a justiça do trabalho. Lide conexa à relação de emprego: a lide não é sobre a relação de emprego, mas está relacionada à ela. 26/02/16 IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; esse inciso não traz inovação alguma, é uma ratificação da jurisprudência trabalhista já consolidada. Essas ações sempre foram utilizadas na justiça do trabalho. Embora, sejam pouco utilizadas: habeas corpus e habeas data. O mandado de segurança é mais comum. Premissa: quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição. Isso quer dizer que só posso questionar esse ato, no aspecto da ação constitucional, quando o assunto envolver matéria relacionada com a justiça trabalhista. Se o ato questionado não envolver jurisdição trabalhista, essas ações constitucionais não serão de competência da justiçado trabalho. Ex.: caso de situação análoga à condição de escravo. Isso é matéria penal (art. 124). Como o assunto é penal, não pode impetrar habeas corpus na justiça trabalhista. Matéria criminal não é de competência e não existe na justiça do trabalho. O uso do habeas corpus é restrito porque tem a ver com a dificuldade de locomoção. A matéria trabalhista não se envolve com a questão da liberdade do sujeito. No direito esportivo, já tivemos a utilização do habeas corpus: Oscar (do Chelsea) já teve imbróglio entre São Paulo e Internacional. Oscar queria assinar contrato com SP, mas tinha o passe. Depois de conseguir, quando quis sair, teve vários problemas por causa do passe. Ele impetrou um habeas corpus para ter direito de trabalhar aonde ele quiser. [pesquisar o caso] V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o (que é quando envolve o tribunal superior); esse inciso não traz inovação alguma, é uma ratificação da jurisprudência trabalhista já consolidada. Conflitos de competência entre órgãos que tenham jurisdição trabalhista. Ex.: Juiz do trabalho com juiz do trabalho: quem decide é o TRT. Juiz do trabalho com juiz de direito que tem jurisdição trabalhista: quem decide é o TRT. Juiz do trabalho com juiz de direito que NÃO tem jurisdição trabalhista: ambos dizem que não tem competência: quem decide é o STJ (CR/88. art. 105, I, d: os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o" (quando envolver tribunal superior é o STF), bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;) VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; esse inciso é uma inovação, mas não merece ser curtida Ações judiciais que vão discutir as penalidades administrativas impostas por causa de fiscalização da relação de trabalho. Tem a ver com justiça do trabalho. Mas fazendo uma analise sistemática, o objetivo da EC45 foi trazer o trabalhador para a justiça do trabalho. Mas, no caso desse inciso, é o empregador e a União Federal que estão sendo beneficiados. Nesse caso, a justiça do trabalho ficou desprestigiada, porque passou a ser uma revisão de penalidade administrativa. Foi aplicada uma penalidade ao empregador e a justiça do trabalho é quem deve revisar. A crítica do professor: é que embora a matéria seja trabalhista, revisar penalidades não deveria ser função. O autor dessa ação será o empregador (e o objetivo principal da EC45 é trazer todas as relações de trabalho para a justiça do trabalho). Nesse inciso, discute-se a penalidade imposta. Não queríamos isso na competência trabalhista. Multas administrativas impostas por penalidades (quando não são pagas) são inscritas no título de dívida ativa, executável na justiça do trabalho. Ações fiscais/Execução fiscal. Ex.: ação anulatória de auto de infração. VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; esse inciso não traz inovação nenhuma. É mera repetição do antigo art. 114. Execução de ofício das contribuições previdenciárias. A justiça do trabalho não tem competência para fiscalizar as contribuições previdenciárias. MAS, é responsável por executar as contribuições decorrentes de sentenças que forem proferidas na justiça do trabalho. Ex.: sujeito pediu equiparação salarial. Se ele ganhar, a contribuição previdenciária também será executada de ofício pelo juiz. As contribuições previdenciárias também devem ser incluídas no calculo. Isso sempre foi prerrogativa funcional do magistrado do trabalho. Antes da EC45, o juiz mandava ofício para o INSS para executar a contribuição previdenciária. Raramente, eram executadas. Depois da EC, o juiz do trabalho passou a executar de ofício. SUM-368 (TST) DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO (redação do item II alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 16.04.2012) - Res. 181/2012, DEJT divulgado em 19, 20 e 23.04.2012. I. A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de contribuição. II. É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do empregado oriundo de condenação judicial, devendo ser calculadas, em relação à incidência dos descontos fiscais, mês a mês, nos termos do art. 12-A da Lei n.º 7.713, de 22/12/1988, com a redação dada pela Lei nº 12.350/2010. III. Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de apuração encontra-se disciplinado no art. 276, §4º, do Decreto n º 3.048/1999 que regulamentou a Lei nº 8.212/1991 e determina que a contribuição do empregado, no caso de ações trabalhis-tas, seja calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do salário de contribuição. (ex-OJs nºs 32 e 228 da SBDI-1 – inseri-das, respectivamente, em 14.03.1994 e 20.06.2001) 01/03/16 – prof. Faltou 04/03/16 VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; A justiça do trabalho é competente para julgar as indenizações advindas da relação de trabalho. A jurisprudência já tratava desse assunto antes da emenda. É uma ratificação do que a jurisprudência trabalhista já havia consolidado. OJ-SDI1-327 SUM-392 DANO MORAL E MATERIAL. RELAÇÃO DE TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Nos termos do art. 114, inc. VI, da Constituição da República, a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ações de indenização por dano moral e material, decorrentes da relação de trabalho, inclusive as oriundas de acidente de trabalho e doenças a ele equiparadas, ainda que propostas pelos dependentes ou sucessores do trabalhador falecido. A grande novidade: se os pedidos de indenização tem origem no acidente de trabalho. Essa matéria foi para a justiça do trabalho a partir da EC45. Antes, essas ações eram de competência da justiça comum. Há uma controvérsia sobre a competência desse assunto. Ver STJ súmula 15 / STF súmula 501 Tivemos definição do Supremo (9 a 2) de que a competência seria, mesmo após a emenda, da Justiça Comum. O fundamento: art. 109, I, CR/88 Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; Competências do juiz federal, com exceção de 4 matérias, que são da competência da justiça estadual comum, dentre elas a matéria acidentária. Em junho/2005, o Supremo debruçou sobre o tema novamente em função de um conflito de competência: CC-STF-7.204 Por unanimidade, o Supremo inverteu sua posição e passou a entender que a competência de ações de indenização em função de acidente de trabalho é da Justiça do Trabalho. Foi uma questão de hermenêutica interpretativa. A EC 45 tem como finalidade a ampliação de competência da justiça do trabalho, então não é correto excepcionar. Os fundamentos efetivos utilizados pelo Supremo: baseado em 2 dispositivos constitucionais: art. 7, XXII, XXVIII. Art. 7º Sãodireitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; é responsabilidade da empresa manter a saúde do empregador. XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador,... [isso é matéria previdenciária, aplica o art. 109, I (CR/88)]. Qualquer discussão sobre esse seguro é na justiça estadual comum. ...sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; [art. 114, VI (CLT). esse dispositivo estabelece que a regra geral da responsabilidade civil é subjetiva] A discussão sobre esse assunto é na justiça do trabalho. Esse inciso compatibiliza o art. 109, I (CR/88) e o art. 114, VI (CLT). Pá de cal: SÚMULA VINCULANTE 22, STF. A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04. A competência é da justiça do trabalho. Inclui aqui também dano moral com efeito ricochete. Uma coisa é o pedido feito pelo próprio empregado (quando perde capacidade laborativa, por exemplo). Mas, há situações em que o empregado morre (ou fica totalmente incapaz) e é a família quem pleiteia as indenizações por danos morais (em função da perda do ente querido). Essa discussão também é de competência da justiça do trabalho. [cai na prova] Disserte, de forma exauriente, sobre o histórico de produção jurisprudencial e constitucional das indenizações de dano moral ou patrimonial de competência da justiça do trabalho. --------------------- Se pensar em termos de conteúdo, a grade novidade da EC45 foram os incisos anteriores. O sentido da emenda foi efetivamente ampliar a competência para o gênero relação de trabalho. A relação de emprego é uma espécie. I as ações oriundas da relação de trabalho,.... o sentido aqui é ampliativo, pois não excepcionou nada. (mas, veja o inciso IX) ....abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (nesse segunda parte, a competência é da pessoa) IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. pelo estudado, na forma da lei, significa que precisa de autorização para ser incluída. Isso é restritivo. Há uma controvérsia clara entre os dois incisos. Como é possível aplicar os dois princípios. Existem correntes doutrinárias, que trazem argumentos para entender o significado da relação de trabalho. As correntes têm divergências, mas também existem convergências (ponto de consenso): para ambas as correntes, a relação de trabalho tem que envolve pessoa física (é o prestador de serviço). 1. Ampliativa. (a) A finalidade da emenda foi ampliar a competência da justiça do trabalho (basta ler o inciso I, que não traz nenhuma exceção). (b) A norma infraconstitucional não pode restringir conteúdo de aplicabilidade constitucional. É uma questão de hierarquia. Somente a Constituição pode se restringir. (c) diz que o inciso IX é uma atecnia legislativa. Houve um erro, uma falta de técnica. O legislador copiou parte do artigo anterior (114), antes da emenda. Na formatação da emenda, o legislador se equivocou. 2. Restritiva. (corrente que prevalece, é o entendimento majoritário da justiça trabalhista). Essa corrente trabalha com o seguinte argumento: não pode buscar na norma constitucional a sua inaplicabilidade, mesmo que ele tenha sido mal escrito. A função do operador do direito é buscar a aplicabilidade do dispositivo. Tem que ler os dois incisos em conjunto e não de forma isolada (como fez a corrente ampliativa), e sim de forma sistêmica. Isso nos mostra que a jurisprudência trabalhista se inclinou na hipótese de não reconhecer a todos os casos a competência da justiça do trabalho. Mas, quando o legislador quiser ampliar a competência trabalhista, pode realizar o devido processo legal e incluir. 08/03/16 Exemplos: Relação de consumo pautada na prestação de serviços Essa relação tem caráter trabalhista? Se sim, a competência será da justiça do trabalho. A visão é de não reconhecer a equivalência das duas relações. É a corrente restritiva. É preciso advertir, porém, que, a nosso ver, não são da competência da Justiça do Trabalho as ações oriundas da relação de consumo. Vale dizer, quando o trabalhador autônomo se apresentar como fornecedor de serviços e, como tal, pretender receber honorários do seu cliente, a competência para a demanda será da Justiça Comum e não da Justiça do Trabalho, pois a matéria diz respeito à relação de consumo e não à de trabalho. Do mesmo modo, se o tomador do serviço se apresentar como consumidor e pretender devolução do valor pago pelo serviço prestado, a competência também será da Justiça Comum. [Bezerra, p. 394] Ex.: Romulo quer emagrecer, quer fazer um lipo com o Dr. Rey. CDC, Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Consumidor tem que ser o destinatário final da prestação de serviços. Romulo é consumidor. O trabalho não importa, o objetivo é o resultado. Romulo é o destinatário final da atividade. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Aqui interessa a pessoa física que presta serviço. O nosso exemplo é uma relação de consumo pautada na prestação de serviços. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Serviço é tudo isso, exceto as relações de caráter trabalhista. Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. Entre Dr. Rey e Romulo não é uma reação de caráter trabalhista, embora haja relação de consumo. É a corrente restritiva. Sendo assim, os dissídios que envolvam relação de consumo pautada na relação de serviço é discutida na justiça comum. Ver Súmula STJ-363: Compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente. Que reconhece a competência da justiça comum para essas relações de consumo. Na relação de consumo, o trabalho é no exaurimento do destinatário final. Para na relação de trabalho, o trabalho é um meio, para atingir uma finalidade. Outro exemplo: Dr. Rey tem uma clinica. A relação do Romulo com Dr. Rey e com a Clínica será de consumo. A relação do Dr. Rey com a Clínica será trabalhista, porque o trabalho foi meio para atingir o fim. Nesse caso, o dissidio é resolvido na justiça trabalhista. [estudar mais] Relação jurídica do estatutário. Não é uma relação de emprego, pois existe uma excludente que impõe um padrão de regramento próprio: que é o regime estatutário. Essa excludente é constitucional (art. 37-39). Mas, há relação de trabalho. Quando a EC45 foi promulgada, entendeu-se que a justiça do trabalho seria competente para julgar os dissídios do servidor público. ADIN 3395 (sobre competência). Nessa ADIN pediram para não reconhecer a relação de trabalho para os servidores públicos. O STF imediatamente suspendeu a interpretação dessaexpressão “relação de trabalho”. O ajuizamento das ações continua na justiça comum ou federal, por não reconhecer essa relação de trabalho. O STF reconhece que a relação do servidor público com a administração pública é jurídico-administrativa, reconhece um novo relacionamento jurídico e não compatibiliza com a relação de trabalho. Isso era precedente à EC. O STF tem que guardar sua coerência interpretativa, pois já havia feito essa análise. § 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. Utilizar a arbitragem como solução de controvérsias. Ela foi limitada, uma vez que a arbitragem é utilizada apenas para os coletivos (e não para os individuais). Para os individuais, há uma corrente que defenda também sua utilização. Embora seja uma corrente pequena, tem ganhado espaço em situações que envolvam funcionários de alto escalão, funcionários destacados (em que a situação de hipossuficiência seja menor). [livro prof. Mauro Schiavo] § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. Para utilizar o dissidio coletivo, temos algumas premissas anteriores. O caminho a seguir é o seguinte: negociação coletiva pode ser pela CCT ou ACT, é uma auto composição, em que as partes resolvem as questões. Se houver conflito, se a negociação for frustrada, surge outro caminho: arbitragem e o dissidio coletivo (judiciário). Antes da EC45, a possibilidade do dissidio coletivo era ampla e restrita. Se o acordo não foi efetivado, isso passava para o judiciário (que impunha as cláusulas). Após a EC45, só será aceito dissídio coletivo quando as partes ajuizarem de comum acordo. Essa foi uma grande repercussão. As partes tem que concordar o dissidio de natureza coletiva. A concordância pode ser expressa (quando declaram por escrito) ou tácita (quando as partes comprovam que foram esgotadas todas as tentativas de negociação coletiva). A CR/88 inseriu um novo pressuposto processual, que deu maior responsabilidade aos sindicatos. É uma minimização do poder normativo da justiça do trabalho. Com isso, se quer duas coisas: negociar antes de levar à justiça do trabalho; minimizar a intervenção do judiciário nas demandas coletivas. § 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. Súmula 277, TST. O que é ultratividade das normas convencionais. 11/03/16 Súmula 277, TST. As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas inte-gram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho. Sobre legislação trabalhista coletiva. Ultratividade: estabelece plano de validade além do lapso temporal. Damos sentido de aplicabilidade além do lapso temporal. Art. 614, CLT. As normas convencionais (acordos e convenções) tem validade de 2 anos. Essa regra era maléfica do direito do trabalho porque as negociações coletivas ficavam desprestigiadas, uma vez que a negociação era encaminhada ao judiciário para ser decidida. Isso era benéfico para os empregadores, porque se deixa de negociar, perdia a validade. Eles pressionavam os sindicatos a negociarem e aceitaremos seus termos. Por isso, o TST publicou a súmula 277. O sentido agora de dar aderência por revogação das normas convencionais é o verdadeiro sentido de trabalhar a norma jurídica (e não o sentido temporal). Hoje em dia, a negociação tem o lapso da validade (a data base), mas as clausulas convencionais anteriores continuam a perdurar no tempo. Isso é ultratividade. Estabelece a validade das normas até que outras negociações estabeleçam novas condições. Isso incentiva negociação. Isso tem a ver com o dissídio coletivo. Com a alteração da súmula em 2012, o objetivo do TST foi minimizar o dissídio coletivo, ou seja, encaminhar as demandas para o judiciário. Quando você minimiza a intervenção do judiciário, você incentiva dois institutos do direito do trabalho: negociação coletiva e greve (porque é um movimento democrático, direito fundamental). Quando utiliza a greve, ela aproxima a negociação. O movimento grevista bem organizado é um importante instrumento para aproximação das partes. A grande forma de mudança do comum acordo e a súmula 277 foi o incentivo da configuração das normas convencionais. A quantidade de dissídios coletivos caiu demais. Por causa da ultratividade e do comum acordo. ---- CLT. Art. 611 - Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho. § 1º É facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das acordantes respectivas relações de trabalho. Sindicato da categoria profissional (trabalhadores) Sindicato da categoria econômica (empregadores) ACT: negociação entre sindicato da categoria profissional com uma ou mais empresas CCT: negociação entre sindicatos Matéria da 1ª prova até aqui 15/03/16 Estudo Dirigido da Prova 1: Avaliação Dissertativa 1. Organização Judiciária Trabalhista TST TRT Competência funcional (é a especificidade de cada instância, suas atribuições) Vara do Trabalho * MPT: competência e atuação 2. Jurisdição e Competência Trabalhista a. territorial: regra do art. 651, CLT. b. pessoa/funcional. As pessoas que podem demandar e serem demandadas são uma consequência da elasticidade da competência. Desdobramento da competência material. Se for relação de emprego, OK. Competência funcional: desdobramento das atribuições dos órgãos que compõe a organização judiciária. c. matéria – estudo avaliativo do art. 114, CR/88. - relação de trabalho: estatutário, consumo. Incisos I, IXI. Correntes (ampliativa e restritiva). - greve. Ações possessórias. Súmula vinculante 23. - representação sindical. Inciso III. - MS; HC; HD. Ponto principal: quando o ato questionado envolver matéria trabalhista será julgado na JT. - conflito de competência. Entre órgãos que tenham jurisdição trabalhista. Pode ser o juiz de direito, desde que não exista jurisdição trabalhista própria e tenha previsão na organização judiciária para que o juiz de direito exerça essa jurisdição. STJ. Quando envolver tribunal superior é o STF. - indenizações, acidente de trabalho. Inciso VI. Duas situações: ações indenizatórias advindas da relação de emprego. No caso do acidente do trabalho, antes e depois da emenda. Fundamentos constitucionais. Súmula vinculante 22. - penalidades administrativas impostas aos empregadores. Retrocesso. - contribuições sociais; previdência privada. Art. 195. Súmula TST 368. A JT não processa e julga fatos relacionados à contribuição previdenciária (somente). Envolveu o assunto previdência privada, como base de cálculo, discute na justiça comum (não na JT). §§ 1º, 2º, 3º. Assuntos importantes: utilização das partes elegeram árbitros nas negociações coletivas. / comum acordo no dissidio coletivo – uma inovação do art. 114 /dissidio coletivo de greve em atividade essencial.
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