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aula ONLINE 5

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ONLINE 5- A EFETIVAÇÂO DA ESTRUTURA SOCIAL
Introdução
O inglês nasce com um certo poder milagroso que o torna senhor do mundo. Quando deseja alguma coisa, ele nunca diz a si próprio que a deseja. Espera pacientemente até que lhe venha à cabeça, ninguém sabe como, a insopitável convicção de que é seu dever moral e religioso conquistar aqueles que têm a coisa que ele deseja possuir. Torna-se, então, irresistível. Como grande campeão da liberdade e da independência, conquista a metade do mundo e chama a isso de Colonização. Quando deseja um novo mercado para seus produtos adulterados de Manchester, envia um missionário para ensinar aos nativos o evangelho da paz. Os nativos matam o missionário; ele recorre às armas em defesa da Cristandade; luta por ela, conquista por ela; e toma o mercado como uma recompensa do céu... (SHAW, Bernard. The Man of Destiny. Citado por LINHARES, Maria Yedda Leite. A luta contra a metrópole. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 36).
Os argumentos demonstrados pelo dramaturgo Bernard Shaw no trecho anterior, ainda que digam respeito às estratégias utilizadas pelos britânicos no processo de neocolonização, poderiam ser observados em outras nações europeias que se diziam senhoras de outras partes do mundo. Nesta aula, vamos analisar como se deu o processo de colonização do continente africano de forma geral para, nas aulas subsequentes, compreendermos algumas de suas peculiaridades.
A resistência foi uma constante durante a efetivação da colonização africana. Conforme estudamos na aula anterior, líderes religiosos, políticos e exércitos bem-estruturados entraram diversas vezes em conflito com as forças europeias que tentavam invadir o continente africano
Salvo algumas exceções, a superioridade bélica, a significativa fragmentação política das sociedades africanas e a desarticulação dos maiores estados da África acabaram levando à ocupação efetiva do continente por parte dos europeus.
A colonização africana
Segundo diversos historiadores, o intervalo entre 1885 e 1919 é conhecido como período da pacificação.( O momento no qual os europeus conseguem desarticular grande parte da resistência imposta pelos africanos e efetivam a ocupação do continente por meio da construção de redes de infraestrutura, como rodovias, ferrovias e telégrafos. Esses diferentes meios de transporte e comunicação viabilizaram o contato com regiões até então desconhecidas no interior da África, ampliando ainda mais a área de ocupação metropolitana.)
Esse momento foi marcado pela transição da política das metrópoles, que, com o controle dos movimentos de resistência, (Embora pequenos exércitos e guarnições continuassem existindo e atuando nos movimentos insurretos, foi nos primeiros vinte anos da colonização que as nações europeias montaram a burocracia colonial, mesmo que o número de funcionários fosse muito pequeno se comparado à extensão territorial que estava sob seu controle. O investimento, relativamente baixo, devia-se às pretensões europeias de criar colônias autossuficientes. Desse modo, a ordem era gastar o menos possível.)passam a ter uma atuação mais civil que militar. 
Duas figuras foram fundamentais para a efetivação do colonialismo: as empresas ou empresários europeus e as missões religiosas.
Um dos nomes mais famosos desse período foi Cecil Rhodes.
Ainda que a ideologia colonial estivesse clara na mente dos políticos europeus, os primeiros grandes investimentos em território africano foram privados, ou seja, realizados não pelo Estado, mas por empresas e homens que decidiram apostar na colonização.
Cecil Rhodes
Esse rico inglês investiu boa parte de sua fortuna na busca e na extração de diamantes na atual África do Sul e foi o fundador da colônia britânica cujo nome lhe prestaria homenagem: Rodésia( ATUAL ZIMBABAUE). Não foram, porém, apenas os interesses financeiros que motivaram Rhodes. 
Exemplo máximo dos ideais imperialistas britânicos, ele teve papel decisivo na elaboração do projeto parcialmente executado da estrada de ferro que ligava o Cairo( EGITO) ao Cabo( ÁFRICA DO SUL), os dois extremos da colonização britânica.
Cecil Rhodes e os desejos da colonização inglesa na África  
As missões cristãs exerceram importante papel nesse período. Além de conviverem diariamente com os grupos colonizados, os missionários cuidavam tanto da educação quanto das questões religiosas da população e eram os intermediários na comunicação entre colônia e metrópole. 
Embora alguns missionários tenham sido veementemente contrários à violência empreendida pelo governo colonial, sua atuação acabou gerando os substratos necessários para a própria colonização, já que eles pregavam, cotidianamente, a necessidade de conversão das sociedades africanas.
Conforme mencionado anteriormente, as missões cristãs acabaram desestruturando diversos povos da África na medida em que impunham a eles uma nova forma de compreender o mundo. Não só antigos deuses foram substituídos pelo único Deus cristão, mas práticas do dia a dia, como alimentação, vestimenta e até a noção de família extensa, foram alteradas. 
Outra mudança importante criada pelas missões foram os missionários africanos, ou seja, homens que haviam sido convertidos e passaram a pregar o Evangelho em regiões ainda mais interioranas do continente.
Jovens africanos convertidos pelas missões europeias na África colonial .
Missão dos Padres Brancos - Grupo de freiras - Uganda - 1920/1930
A colonização na África e a Europa
O advento da Primeira Guerra Mundial foi um dos divisores de água da política colonialista. Em primeiro lugar, ocorre um reordenamento físico da partilha da África, tendo em vista as sanções impostas à Alemanha e à Itália. 
Por outro lado, a própria ideologia imperialista fica mais clara e mais bem-argumentada pelas nações europeias. Segundo os europeus, a colonização era uma etapa primordial para o desenvolvimento do continente africano.
A partir de então, a colonização “clássica” foi empregada pelas metrópoles europeias, que ampliaram sua administração civil não só em termos quantitativos, mas também qualitativos, permitindo, assim, que as colônias passassem a ser autossuficientes.
As mudanças na política econômica colonial
A implementação da cobrança de tributos e a adoção do sistema monetário foram o ponto de virada na política econômica colonial.
Além de garantir receita suficiente para arcar com os custos de toda a burocracia colonial, a necessidade de pagar com moeda os impostos cobrados pelas metrópoles obrigou os jovens das populações africanas a aceitarem trabalhos mal remunerados que eram oferecidos pelas empresas e pelas indústrias coloniais (SOBRETUDO NA INDÚSTRIA DE MINERAÇÂO), o que, consequentemente, resultou em um expressivo êxodo rural da mão de obra ativa. 
Além de solucionar o problema de mão de obra que havia caracterizado o primeiro momento da colonização, a cobrança de impostos facilitou o confisco de terra de milhares de trabalhadores rurais africanos.
A terra confiscada não só gerou ainda mais mão de obra e permitiu o cultivo extensivo de produtos que tinham grande procura no mercado europeu, mas também causou grandes danos a diversas sociedades africanas, que foram apartadas do lugar onde seus ancestrais estavam enterrados.
A expressiva oferta de trabalhadores aguçou ainda o interesse de empresários europeus, que passaram a ver a África como um grande investimento.
Não por acaso, esse foi o período de maior exploração mineral e agrícola, de construção de hidrelétricas, portos, ampliação da malha ferroviária e rodoviária etc.
A fim de manter a ordem e, sobretudo, garantir a cobrança de impostos, os estados europeus ampliaram significativamente o quadro de funcionários coloniais. 
O crescimento da população europeia resultou na melhoria da infraestrutura urbana, como a construção de hospitais e de redes de esgoto, que, em sua maioria, era usufruída apenas pelos colonizadores.
Vamos estudar a seguir as políticas educacionais adotadas nas colônias.
As políticaseducacionais
Muitos estados metropolitanos começaram a participar da educação criando escolas laicas nas diferentes colônias.
Em um primeiro momento, essas escolas eram frequentadas pelos filhos dos colonos. Com o tempo, porém, os jovens das elites africanas, sobretudo das populações que viviam nos centros urbanos, começaram a estudar nelas.
Nas colônias pertencentes à França, à Bélgica, a Portugal e à Itália, a educação laica era pautada pela doutrina da assimilação. As crianças e jovens africanos eram entendidos como integrantes do Império Frances, belga, italiano e português. 
As aulas eram ministradas nas línguas dos colonizadores, e os conteúdos dos livros didáticos se remetiam quase exclusivamente ao universo europeu. 
As crianças africanas colonizadas pela França aprendiam que seus primeiros ancestrais haviam sido os gauleses.(  são o conjunto de populações celtas que habitavam a antiga Gália, o que hoje corresponde ao território da França, à Bélgica e à Itália cerca de 800 a.C.)
Embora essa política educacional não levasse em consideração as histórias, as culturas e as línguas africanas, permitia que um seleto grupo de estudantes da África pudesse finalizar seus estudos nas universidades europeias. 
Como veremos em outro momento, parte desses estudantes que rumaram para a Europa foi fundamental nas lutas de independência. 
O sistema educacional adotado por essas metrópoles era um dos exemplos da administração fortemente centralizadora dessa colonização.

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