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1) A gastrectomia consiste na retirada de parte ou de todo o estômago, refazendo o trânsito gastrointestinal através de anastomose com o duodeno ou jejuno. Com a retirada parcial ou total do estômago há remoção de todo antro e consequente diminuição na produção de gastrina e redução do estímulo para secreção de pepsina, com prejuízo da digestão de proteínas, principalmente colágeno. Ocorre também diminuição da secreção de ácido clorídrico (HCl) e do fator intrínseco que formam complexo com a B12, para que ela seja transportada até o íleo e por ele ser absorvida. Sem tais fatores, o intestino degrada a B12. A vitamina B12 é responsável pela maturação dos eritrócitos, por estimular a medula óssea (a B12 é um co-fator para a síntese de DNA, principalmente de timina, por ação do ácido fólico. Sem ela, as hemácias não conseguem se replicar), por isso sua falta gera anemia. Dentre as consequências nutricionais da gastrectomia, destacam-se a anorexia e anemia. Anorexia: A diminuição da capacidade de armazenamento do estômago causa aparecimento da plenitude gástrica com aumento da distensão abdominal, fator inibidor fisiológico do apetite, contribuindo para diminuição da ingestão alimentar. Em alguns pacientes com gastrectomia pode haver aumento na concentração de hormônios e peptídios relacionados com a inibição do apetite. São eles: colecistocinina (CCK), polipeptídio YY e neurotensina. Anemia: Os pacientes com gastrectomia podem desenvolver anemia decorrente da ressecção gástrica, podendo ser ferropriva ou megaloblástica. Anemia ferropriva: conseqüente à diminuição da produção de HCl, responsável por favorecer a absorção de ferro, mantendo-o na forma ferrosa, que é melhor absorvido. A diminuição da ingestão alimentar, com conseqüente diminuição da ingestão de ferro, também contribui para o desenvolvimento da anemia ferropriva. Anemia megaloblástica: pode ser consequente à retirada da mucosa gástrica responsável pela produção do fator intrínseco, fundamental à absorção de vitamina B12 no íleo terminal. 2) A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o uso da solução sal-açúcar no domicílio como a principal alternativa na prevenção da desidratação causada pela diarreia. A maneira como o “soro caseiro” garante a reposição de água e eletrólitos no caso de diarreia e a seguinte: há um transportador de glicose, o SGLT1, presente nos enterócitos. Para que esse transportador consiga absorver a glicose presente no intestino, necessariamente precisa da presença do sódio. Quando a glicose e o sódio são absorvidos, o meio celular (enterócito) fica mais concentrado, o que faz demandar também a absorção de água por osmose (mecanismo em que a água sai de um meio hipotônico para um meio hipertônico). 3) Gases, pois a cirurgia abdominal com manipulação de alças intestinais propicia o quadro clínico de íleo-paralítico. Primeiramente, a incisão da pele e a abertura da parede abdominal desencadeiam um estímulo nociceptivo que, pela activação do sistema simpático, leva à libertação de noradrenalina e subsequente à inibição da motilidade intestinal. Com o decorrer da cirurgia, a manipulação do intestino vai ativar mais nociceptores e mecanorreceptores que acentuam essa inibição adrenérgica intestinal. 4) Quando a concentração da lactase no bordo em escova é reduzida ou simplesmente não há lactase, consequentemente há o aumento da lactose não digerida na luz intestinal. O excesso de açúcar ao ser fermentado por bactérias que fazem parte da microbiota colônica dá origem a ácidos graxos de cadeia curta, radicais ácidos, o que explica a distensão e dor abdominal e em alguns casos a hiperemia perianal. A diarreia é aquosa e explosiva. 5) A Helicobacter pylori tem como principal fator de virulência a produção de urease, a qual é responsável pela síntese de amônia (que causa lesão na mucosa gástrica) e também neutraliza o ph do estômago, deixando o indivíduo suscetível a infecções de outros microorganismos. A H. pylori é responsável por 60% das doenças gástricas, entre elas: gastrite, úlcera péptica, adeno-carcinoma e linfoma. 6) O paciente apresenta sintomas de hipoglicemia, devido a administração de insulina no horário errado. Primeiramente, deve-se destacar como a insulina age nas células. Sua ação inicia-se pela ligação ao receptor de membrana plasmática, ligação que ocorre com alta especificidade e afinidade, provocando mudanças conformacionais que desencadeiam reações modificadoras do metabolismo da célula-alvo, constituindo assim uma resposta celular. Os receptores não são componentes fixos, podendo variar o número de receptores para cada tipo de célula, com isso variando o grau de resposta. Os sintomas de hipoglicemia podem ser classificados em duas categorias: os neurogênicos ou autonômicos e os neuroglicopênicos. Os primeiros são o resultado da percepção dos efeitos da liberação, mediada pelo sistema nervoso central (SNC), do sistema simpático/adrenal. Incluem sintomas adrenérgico (palpitação, tremor, ansiedade), mediados por adrenalina ou noradrenalina, e sintomas colinérgicos como sudorese, fome, parestesias, mediados por acetilcolina. Referências Resposta 1: PAPINI-BERTO, Sílvia Justina and BURINI, Roberto Carlos.Causas da desnutrição pós-gastrectomia. Arq. Gastroenterol. [online]. 2001, vol.38, n.4, pp.272-275. ISSN 0004-2803. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-28032001000400011. Resposta 2: World Health Organization (WHO). A manual for the treatment of acute diarrhea for use by Physicians and other senior health workers . Geneve: World Health Organization (WHO); 1990. Resposta 3: Goulart, A. Martins, S. Íleo paralítico pós-operatório: fisiopatologia, prevenção e tratamento. Rev Port Coloproct. 2010; 7(2): 60-67 Resposta 4: Brandt, Kátia Galeão; Antunes, Margarida Maria de Castro; Silva, Gisélia Alves Pontes da. Acute diarrhea: evidence-based management. J Pediatr (Rio J). 2015;91(6 Suppl 1):S36-S43 Resposta 5: MURRAY, Patrick R.; ROSENTHAL, Ken S.; PFALLER, Michael A. Microbiologia médica. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. Livro eletrônico. ISBN 9788535286458. Resposta 6: Nery, Márcia. Hipoglicemia como Fator Complicador no Tratamento do Diabetes Melito Tipo 1. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), SP, Brasil.