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Direito Penal. Parte Geral. Prof. Gabriel Habib. 2018
PUC-RIO
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Portanto, não retroage a lei mais benéfica e se aplica a ultratividade normalmente. Essa é a posição majoritária, reunindo autores como Fragoso, Hungria, Damásio, Frederico Marques, Jescheck e Mezger. Pt. 04 Norma Penal em Branco Essa não é a melhor expressão, porque o que está em branco é o tipo penal, e não a norma propriamente dita. A norma penal em branco nasceu na Alemanha, na época imperial, quando o território alemão era dividido em províncias. Havia leis nacionais, que eram muito genéricas, tanto que não conseguiam atender especificamente as necessidades de cada província. Para se solucionar essa questão, permitiu-se que cada província pudesse editar a sua própria lei em complemento à lei nacional. CP: 04-10 Lei temporária: 10-15 CP: 04-10 Nova lei: 08-10 23 DIREITO PENAL | Teoria da Norma, Teoria do Crime e Teoria da Pena Na norma penal em branco, o legislador usa a técnica legislativa de reenvio, pelo qual uma lei é reenviada a outra lei para que se dê o pleno complemento. A lei penal em branco é instituto muito criticado pela doutrina. Uma de suas grandes críticas é a Dulce Maria Santana Veja, professora espanhola que se dedicou especificamente a esse tema. Ela chama a lei penal em branco de “um mal necessário”, que coloca em risco o p. da legalidade, mas é indispensável. Ela então traz uma tríplice ordem de justificativa da lei penal em branco: 1. Razão técnica: a complexidade de determinada classe de delitos não pode ser esgotada no Código Penal. Não podemos pegar a normatização de crimes contra a economia, ou contra o meio ambiente, e dispor isso no CP, sendo necessária uma complementação por normas técnicas. Alguns temas têm normatização volátil e não podemos engessar o legislador. Imagine que um espécime entra em risco de extinção, então a incluímos como de caça proibida. Essa variação, que não se esgota no tipo penal único, é importante. 2. Evolução social: evita-se assim que os tipos penais se tornem obsoletos por estarem engessados. No entanto, isso precisa ser uma necessidade, e não uma comodidade para o legislador. Tanto assim que a exposição de motivos do CP espanhol se referia ao emprego de tipos penais em branco para tratar os crimes contra propriedade intelectual e industrial, mas reconhecia que esse emprego do tipo penal em branco oferecia perigo para o p. da legalidade. 3. Tutela de bens jurídicos supraindividuais: é a criminalização das novas formas de criminalidade. Os bens de interesse supraindividuais não podem ser tratadas num tipo penal, precisam de normatização mais específica, como ocorre nos crimes de drogas, ambientais, etc. A lei penal em branco tem uma classificação: A. HOMOGÊNEA: a. Homovitelina b. Heterovitelina B. HETEROGÊNEA A diferença entre homogênea e heterogênea está na fonte de produção. A fonte de produção do Direito Penal é a União. Na homogeneidade, a norma e seu complemento derivam da mesma fonte de produção: ambos derivam do Congresso Nacional (Legislativo da União). Nas leis penais em branco heterogêneas, elas derivam de fontes de produção diversas: o complemento deriva de outro órgão que não seja o Congresso Nacional. 24 DIREITO PENAL | Teoria da Norma, Teoria do Crime e Teoria da Pena Ex.: art. 33 da Lei 11.343 + Portaria 344/98 da ANVISA A Lei de Drogas é uma norma penal em branco heterogênea, porque seu complemento deriva de uma fonte de produção diversa daquela norma penal em branco. O mesmo para o Estatuto do Desarmamento, já que a definição de armas proibidas e permitidas está em Decretos, vindos do Poder Executivo. A lei penal em branco homogênea será homovitelina quando a norma e seu complemento, além de derivarem da mesma fonte de produção, estiverem previstos na mesma lei. Ex.1: crime de corrupção passiva (art. 333 CP), cujo complemento consta no art. 327 CP. Ex.2: art. 4º da Lei 4.792/86, cujo complemento está no art. 1º dessa mesma lei. Na lei penal em branco homogênea heterovitelínea, a fonte de produção é a mesma, mas o complemento está numa lei diversa. Ex.: crime de bigamia (art. 235 CP) e art. 1.511 CC. Pelo princípio da legalidade, toda a normatização do Direito Penal precisa estar previsto na lei formal. Não pode ser decreto, medida provisória, portaria… A lei penal em branco heterogênea tem seu complemento – que é elemento do tipo – num ato infralegal. Na lei de drogas, está na portaria; na lei de armas, está no Decreto. O fato de o complemento da norma penal em branco constar em ato infralegal viola o p. da legalidade? Para uma primeira corrente, isso viola o p. constitucional da legalidade, o qual exige que toda a normatização tenha previsão em lei em sentido formal. Se nesse tipo de lei está num ato infralegal, não se atende ao p. da legalidade penal. A norma penal em branco heterogênea é inconstitucional. Esta é a posição de Greco, Nilo Batista, dentre outros. Todavia, é um posicionamento minoritário. Uma segunda corrente, majoritária, diz que isso não viola a legalidade, bastando que o tipo penal principal esteja previsto numa lei em sentido formal, o que basta para atender ao p. da legalidade, mesmo que o complemento esteja em ato infralegal. Essa posição é defendida por Mirabete e Capez. 25 DIREITO PENAL | Teoria da Norma, Teoria do Crime e Teoria da Pena Lei penal em branco x Abolitio Criminis Na lei penal em branco homogênea ou heterogênea, se houver alteração em seu complemento após a conduta e tal alteração beneficiar o agente, haverá retroatividade? Em 2000, refizeram a lista de drogas e esqueceram de incluir o lança-perfume. Depois, perceberam o equívoco e incluíram. Quem estava indiciado, processado ou preso por traficar esse lança-perfume, houve uma abolitio criminis que retroage para beneficiar tais agentes? Uma 1ª posição entende que o complemento é elemento do tipo, que é justamente o que dá tipicidade à conduta do agente. Então a supressão desse complemento gera abolitio criminis, retroagindo. Essa é a posição majoritária, defendida por Juarez Cirino dos Santos. Uma segunda corrente diz que isso não gera abolitio criminis, dizendo que só ocorre abolitio se for alterado o tipo penal em branco, e não seu complemento. A abolitio só ocorre se for revogado o tipo penal, e não seu complemento, tanto que se o complemento for revogado continua em vigor a norma em branco. Essa é a posição de Frederico Marques. O caso do cloreto de etila (lança-perfume) chegou ao STF, pelo HC 94397: “Abolitio Criminis” e Cloreto de Etila - 1 A Turma deferiu habeas corpus para declarar extinta a punibilidade de denunciado pela suposta prática do delito de tráfico ilícito de substância entorpecente (Lei 6.368/76, art. 12) em razão de ter sido flagrado, em 18.2.98, comercializando frascos de cloreto de etila (lança-perfume). Tratava-se de writ em que se discutia a ocorrência, ou não, de abolitio criminis quanto ao cloreto de etila ante a edição de resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA que, 8 dias após o haver excluído da lista de substâncias entorpecentes, novamente o incluíra em tal listagem. Inicialmente, assinalou-se que o Brasil adota o sistema de enumeração legal das substâncias entorpecentes para a complementação do tipo penal em branco relativo ao tráfico de entorpecentes. Acrescentou-se que o art. 36 da Lei 6.368/76 (vigente à época dos fatos) determinava fossem consideradas entorpecentes, ou capazes de determinar dependência física ou psíquica, as substâncias que assim tivessem sido especificadas em lei ou ato do Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia do Ministério da Saúde — sucedida pela ANVISA. Consignou-se que o problema surgira com a Resolução ANVISA RDC 104, de 7.12.2000, que retirara