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INSTITUTO DE CIÊNCIA TECNOLOGIA E QUALIDADE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRESCRIÇÃO FARMACÊUTICA E FARMÁCIA CLÍNICA
AVALIAÇÃO EMPÍRICA DAS PRESCRIÇÕES DOS ANTIMICROBIANOS EM UMA FARMÁCIA COMUNITÁRIA DE UMA REDE DE GRANDE PORTE NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN 
Alunas (os):
ANA GABRIELA DE MESQUITA VIEIRA
ERISLÂNIO VITOR GUIMARÃES PEREIRA
LORENA DIAS ALVES
NARA PALLOMA GALDÊNCIO CAVALCANTE
Orientador:
Nome
MOSSORÓ-RN
2017
AVALIAÇÃO EMPÍRICA DAS PRESCRIÇÕES DOS ANTIMICROBIANOS EM UMA FARMÁCIA COMUNITÁRIA DE UMA REDE DE GRANDE PORTE NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN 
Ana Gabriela de Mesquita Vieira [1: Ana Gabriela de Mesquita Vieira, graduada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte/RN, annagaby_0@hotmail.comErislânio Vitor Guimarães Pereira, graduado na Universidade Estadual da Paraíba/PB, erislanio.guimaraes@hotmail.comLorena Dias Alves, graduada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte/RN, lorena_dias18@hotmail.comNara Palloma Galdêncio Cavalcante, graduada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte/RN, narapalloma@hotmail.com]
Erislânio Vitor Guimarães Pereira[2: ]
Lorena Dias Alves[3: ]
Nara Palloma Galdêncio Cavalcante4
Nome do orientador[4: ]
RESUMO
A prescrição médica é um documento que viabiliza a comunicação entre o farmacêutico e o paciente, que avalia completamente a prescrição. Essa completude em uma farmácia comunitária pode ser útil na melhoria do processo de dispensação de medicamentos. O uso excessivo de antibióticos, em especial, tem sido um problema de saúde pública que tem levantado discussões sobre seu uso racional. O estudo objetiva analisar a qualidade das prescrições médicas e odontológicas de antimicrobianos em uma drogaria, com a finalidade de averiguar se as normas de adequação estão condizentes com a RCD 20 da ANVISA. Realizou-se um estudo descritivo transversal, em uma drogaria da cidade de Mossoró, interior do Rio Grande do Norte. Todas as prescrições foram dispensadas no período de Abril e maio de 2017. Cerca de 60% das prescrições continham apenas um medicamento, o antimicrobiano, e 30% dois medicamentos prescritos, com média de 1,6 medicamentos por receita. A média de antimicrobianos prescritos foi de 1,1 correspondendo a 9% das prescrições. Em cerca de 20% das prescrições não foi registrado o tempo de tratamento. Demonstrou-se nesse estudo que as orientações referentes à duração do tratamento e informações complementares sobre riscos e impactos para a dispensação e para o paciente, corroborando com necessidade de registro de todos os itens determinados pela RDC 20 da ANVISA.
Palavra chave: Antimicrobianos, Uso racional, dispensação.
AVALIAÇÃO EMPÍRICA DAS PRESCRIÇÕES DOS ANTIMICROBIANOS EM UMA FARMÁCIA COMUNITÁRIA DE UMA REDE DE GRANDE PORTE NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN 
Ana Gabriela de Mesquita Vieira [5: Ana Gabriela de Mesquita Vieira, graduada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte/RN, annagaby_0@hotmail.comErislânio Vitor Guimarães Pereira, graduado na Universidade Estadual da Paraíba/PB, erislanio.guimaraes@hotmail.comLorena Dias Alves, graduada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte/RN, lorena_dias18@hotmail.comNara Palloma Galdêncio Cavalcante, graduada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte/RN, narapalloma@hotmail.com]
Erislânio Vitor Guimarães Pereira[6: ]
Lorena Dias Alves[7: ]
Nara Palloma Galdêncio Cavalcante4
Nome do orientador[8: ]
ABSTRACT
The medical prescription is a document that makes possible the communication between the pharmacist and the patient, who fully evaluates the prescription. Such completeness in a community pharmacy can be useful in improving the dispensing process. Overuse of antibiotics in particular has been a public health problem that has raised discussions about its rational use. The aim of this study was to analyze the quality of antimicrobial medical and dental prescriptions in a drugstore, in order to determine if the adequacy norms are consistent with ANVISA RCD 20. A descriptive cross-sectional study was carried out in a drugstore in the city of Mossoró, in the interior of Rio Grande do Norte. All prescriptions were dispensed from April to May 2017. About 60% of the prescriptions contained only one drug, the antimicrobial, and 30% two prescribed drugs, with an average of 1.6 drugs per prescription. The mean number of antimicrobials prescribed was 1.1, corresponding to 9% of prescriptions. The treatment time was not recorded in about 20% of the prescriptions. It was demonstrated in this study that the guidelines regarding the duration of treatment and additional information on risks and impacts for the dispensation and for the patient, corroborating with the need to register all the items determined by the ANVISA RDC 20.
Key words: Antimicrobial, Rational use, Dispensation.
INTRODUÇÃO
Atualmente os medicamentos constituem ferramentas poderosas para mitigar o sofrimento humano, produzindo curas, prolongando a vida e retardando o surgimento de complicações associadas às doenças. Em decorrência disso, tem-se o convívio facilitado entre os indivíduos e sua enfermidade (PEPE & DE CASTRO, 2000).
	Dentre as atividades farmacêuticas voltadas ao paciente, a dispensação é uma das que possuem maior relevância, uma vez que sua finalidade não é somente garantir o acesso ao medicamento, como também o acesso às informações que possibilitem melhorar seu processo de uso, a adesão à farmacoterapia e, ainda, proteger o paciente de possíveis resultados negativos em decorrência de problemas relacionados a medicamentos (COMFAR, 2009).
Segundo o Ministério da Saúde (2001), dispensação é o “ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como resposta à apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado”. Cita ainda que o farmacêutico é responsável por informar e orientar o paciente sobre o uso adequado do medicamento. A inter-relação entre prescritores e dispensadores permite, através da combinação de conhecimentos especializados e complementares, o alcance de resultados eficientes e, com isso, os pacientes serão beneficiados (PEPE & DE CASTRO, 2000).
Atualmente a multidisciplinaridade no âmbito da saúde coletiva tem colaborado de forma significativa para o alcance do sucesso dos tratamentos medicamentosos. A segregação das responsabilidades tende a sobrecarregar menos os profissionais da área da saúde, o que reflete diretamente na qualidade do serviço. A intervenção farmacêutica diante de uma prescrição médica tem revelado maior racionalização do uso do medicamento e isso só é possível quando há uma boa integração da equipe médica com os farmacêuticos.
É imprescindível o total entendimento das informações constantes na prescrição (BROWN, 1997). Para que uma prescrição seja considerada adequada esta deve ser escrita por extenso, de modo legível e deve conter os itens ideais para identificação do prescritor, do paciente, do medicamento e a sua forma de uso, bem como a origem do estabelecimento que o prescritor atende (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2001). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2009) mais de 50% das prescrições de antimicrobianos no mundo são inadequadas. Mesmo assim, o comércio de antimicrobianos, somente no Brasil em 2009, movimentou cerca de R$ 1,6 bilhões de dólares. É importante ressaltar que o controle do uso racional do antimicrobiano vai além da necessidade momentânea da cura, uma vez que existem as complicações a longo prazo, decorrente do uso inadequado que podem causar a resistência da bactéria ao fármaco. O tratamento com antibiótico usado nas fases iniciais da doença é, geralmente, empírico, pois na maioria das vezes o organismo responsável é desconhecido (MENSA et al, 2001). 
Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a qualidade de prescrições médicas e odontológicas de antimicrobianos em uma drogaria, embasado na RDC n° 20, de 5 de maio de 2011 da ANVISA, tendo em vista que crescentes casos de resistência microbiana têm colocado emrisco a vida de pacientes que utilizam antibióticos para tratar suas enfermidades. Nesse contexto, a prescrição, tanto médica quanto odontológica, se torna essencial para evitar que novos microorganismos resistentes surjam, pois nesta contém informações essenciais que garantem a segurança do paciente e a eficácia do tratamento. 
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foi analisado um total de 200 prescrições no período de estudo, das quais 111 foram provenientes do setor público e 89 do setor privado. As prescrições analisadas não foram tratadas isoladamente por setor, e sim como um todo, pois o objetivo não foi fazer a distinção da qualidade ou das características das prescrições desses dois setores. Todas as prescrições do estudo foram realizadas em receituário privativo do prescritor ou do estabelecimento de saúde.
 Com relação a identificação do paciente, em 100% das prescrições constava o seu nome completo. O gênero e a idade não foram observados nas prescrições, estando essas informações ausentes em 100% delas, observando assim uma não-conformidade com o que é estabelecido pela Resolução n° 20/2011 da ANVISA.
 Informação ausente do gênero pode ser compreendida quando se leva em consideração que o nome do paciente normalmente indica o gênero, mas essa relação nem sempre é possível, haja visto que muitos nomes são usados para ambos os sexos. No que diz respeito à idade, a ausência dessa informação pode interferir diretamente na dispensação do medicamento, pois geralmente os medicamentos prescritos para criança possuem concentração inferior aos prescritos para adultos, e leva-se em consideração o peso e a idade dessa criança para se estabelecer a posologia adequada. Cabem aqui os cuidados da assistência farmacêutica.
 Considerando a identificação do prescritor, 100% das prescrições continham o nome completo do profissional ou da instituição, endereço, telefone, assinatura e marcação gráfica. O número de inscrição nos Conselhos Regionais esteve presente em 100% das prescrições. No contexto da utilização de antibacterianos, a especialidade médica evidencia os grupos profissionais que mais prescrevem ou prescreveram no período de estudo, assim como seus hábitos de prescrição, permitindo intervenções direcionadas. Na Tabela 1, são apresentadas as especialidades do prescritor para as receitas amostradas (n).
Tabela 1. Especialidade do prescritor de acordo com a origem da receita. 
	Especialidade
	Número de Receitas
	%
	Informação ausente*
	107
	53,50%
	Pediatria
	27
	13,50%
	Dermatologia
	13
	6,50%
	Oftalmologia
	12
	6,00%
	Ginecologia
	10
	5,00%
	Cardiologia
	5
	2,50%
	Otorrinolaringologia
	8
	4,00%
	Infectologia
	5
	2,50%
	Cirurgião-Dentista
	9
	4,50%
	Bucomaxilofacial
	4
	2,00%
	Total
	200
	100%
	
	
	
Fonte: Dados primários (2017).
* O profissional foi considerado, em sua atuação, como generalista.
Gráfico 1: Especialidade do prescritor de acordo com a origem da receita.
Ressalta-se o elevado percentual de informação não disponível para a especialidade do prescritor, parcialmente explicada pelo fato de essa informação não ser obrigatória no receituário ou no carimbo do emitente. Resultado semelhante foi observado também por Abrante et al (2007) em Belo Horizonte. Porém, foi observado que, no setor privado, especialmente atendimentos por planos de saúde e convênios, muitos dos médicos eram generalistas.
A data de emissão foi evidenciada em 100% das receitas analisadas, e os medicamentos foram adquiridos pelo pacientes no prazo de 10 dias de acordo com a data de dispensação, estando, nesse quesito, de acordo com a RDC n° 20/2011 da ANVISA. Não foram observadas prescrições de antimicrobianos de uso contínuo, ou pelo menos essa informação não foi devidamente evidenciada nas prescrições analisadas.
Para Aldrigue et al. (2006) a data de emissão das notificações de prescrições é tratada como um dos dados mais importantes, uma vez que esta define tanto a época da prescrição como servirá de embasamento para a duração do tratamento.
Segundo Ev et al. (2008) a data da prescrição constitui um referencial fundamental para que os medicamentos sejam dispensados durante o período de tempo determinado para o uso, considerando que a duração do tratamento também seja estabelecida segundo. A não definição do início da terapia reflete diretamente na ineficácia do tratamento, uma vez que carga microbiana tende a aumentar necessitando de doses mais altas do medicamento para tratar a infecção.
	Foi prescrito um total de 314 medicamentos nas receitas submetidas ao estudo. O número médio de medicamentos por prescrição foi de 1,6. Esse valor foi inferior ao encontrado por Fegadolli et al (2002), em estudo de prescrições pediátricas em município do interior de São Paulo, onde foi observado um número médio de 2,6 medicamentos por receita. Foi inferior também quando comparado ao estudo realizado por Abrante et al (2007), que avaliou a qualidade das prescrições de antimicrobianos em Belo Horizonte. No entanto a média de medicamentos prescritos, por receita, está dentro do aceitável para a OMS que considera 1,3 a 2,2 medicamentos por prescrição, um resultado sem tendência a polimedicação. Dos estudos realizados fora do Brasil, o resultado mais alto encontrado foi de 3,8 na Nigéria e o mais baixo foi de 1,3 no Equador e Tanzânia (HOGERZEIL et al, 1993).
Em 118 receitas continha apenas um medicamento prescrito (cerca de 60%), enquanto aproximadamente 30% apresentaram dois medicamentos, de acordo com o Gráfico 2. Esse percentual foi superior ao encontrado por Berquó et al. (2004) em seu estudo onde 20% da população amostrada relatou o uso de outros medicamentos juntamente com o antimicrobiano. Abrante et al. (2007) em seu estudo encontrou um percentual 40% referente a quantidade de receitas contendo dois medicamentos prescritos e 30% contendo três especialidade. Esse último percentual representa mais que o dobro do que o encontrado nesse estudo (12,5%)
A receita poderá conter a prescrição de outras categorias de medicamentos desde que não sejam sujeitos a controle especial (BRASIL, 2011).
Gráfico 2. Percentual de receitas contendo um ou mais medicamentos.
Fonte: Dados primários (2017).
Foi evidenciado que nas receitas que tinham mais de um medicamento prescrito, todas possuíam analgésicos e/ou anti-inflamatórios. Os medicamentos secundários mais prescritos foram Paracetamol, Nimesulida e Dipirona sódica. Esses dados indicam que os antibacterianos, na sua grande maioria, são utilizados com pelo menos mais um medicamento (ABRANTE et al, 2007). Muito provavelmente há uma relação direta entre segundo medicamento prescrito e o tratamento sintomático das infecções. 
Foram prescritos um total de 217 antimicrobianos e nenhuma prescrição evidenciou a presença de mais de dois antibióticos, sendo este o número máximo prescrito para essa classe de medicamentos. Geralmente esse tipo de associação não é comum na atenção primária, o que remete à justificativa de que esse tipo de associação ocorre em situações clínicas específicas. 
A média de antimicrobianos prescritos por receita foi de 1,1. No estudo, 183 receitas (91%) continham apenas um antimicrobiano. Em 17 (9%) receitas foram prescritos dois antibióticos e, desse total, 2 (1%) continha somente antimicrobianos de uso sistêmico, sendo esse ultimo percentual coerente com o encontrado por Abrante et al (2007) em seu estudo, que identificou 1,3% das prescrições com associação de antimicrobianos de uso sistêmico. Em 15 (8%) corresponderam à prescrição de medicamentos de uso sistêmico e uso tópico ou apenas uso tópico. Contudo, ainda que em baixo número, estas associações devem ser pesquisadas para uma avaliação mais rigorosa de sua adequação e racionalidade. 
 Gráfico 3. Percentual de antibióticos por prescrição (n=200)
Fonte: Dados primários (2017)
A RDC n° 20/2011 da ANVISA estabelece que não há limitação do número de itens contendo medicamentos antimicrobianos prescritos por receita. Para Aldrigueet al (2006) o número de medicamentos prescritos por receita e a complexidade do esquema terapêutico parecem estar associados mais a características dos pacientes. 
Na Tabela 2, verifica-se a presença do registro do medicamento pela Denominação Comum Brasileira, da forma farmacêutica, via de administração, dose, intervalo entre doses e do número de dias de tratamento para os antibacterianos prescritos.
Tabela 2. Presença de nome pela DCB, forma farmacêutica, apresentação, via de administração, dose, intervalo e número de dias de tratamento para os antimicrobianos.
	Antimicrobianos
	Sim
	%
	Não
	%
	DCB
	110
	55,00%
	90
	45,00%
	Forma Farmacêutica
	200
	100,00%
	0
	0,00%
	Via de Administração
	149
	74,50%
	51
	25,50%
	Dose
	200
	100,00%
	0
	0,00%
	Intervalo entre doses
	200
	100,00%
	0
	0,00%
	Duração do tratamento
	163
	81,50%
	37
	18,50%
	 
	 
	 
	 
	 
Fonte: Dados primários (2017)
Aproximadamente metade dos antimicrobianos prescritos (45%) não obedeciam a Denominação comum Brasileira, não estando de acordo com a RDC n° 20/2011. Essa denominação é importante, pois a confusão gerada pela propaganda de medicamentos pode levar a problemas graves, resultado do uso indevido de medicamentos pelo entendimento equivocado dos nomes prescritos. (Schenkel, 2010)
Parte das prescrições emitidas com o nome comercial do medicamento pode ser justificada pelo investimento das indústrias farmacêuticas no marketing de seu produto, oferecendo vantagens aos profissionais que prescreverem seus medicamentos. Para o enfrentamento do problema faz-se necessário um melhor conhecimento da influência da propaganda na prescrição médica. Como a maioria dos trabalhos que abordam esse tema não apresenta dados brasileiros, torna-se importante a obtenção de maiores informações sobre o papel da propaganda realizada pela indústria farmacêutica na prescrição médica e no uso racional de medicamentos.
No Brasil, o uso da denominação genérica é obrigatório no serviço público de saúde por determinação da Lei nº 9.787/99 e objetiva estimular a concorrência e a variedade de oferta no mercado de medicamentos; melhorar a qualidade dos medicamentos, no âmbito nacional; reduzir o seu preço para, enfim, facilitar o acesso da população aos tratamentos (BRASIL, 1999). Apesar da legislação sobre genéricos vigorar desde 1999, suas recomendações ainda não são seguidas pelos prescritores.
Para Santana, Lyra-Júnior e Neves (2003) o custo tem sido apontado como fator limitante na adesão aos tratamentos, principalmente em países emergentes como o Brasil.
Embora a lei exija esse tipo denominação, ainda se não for cumprida, há a possibilidade de intercambialidade entre o medicamento prescrito e o seu genérico. “Perante a prescrição do nome genérico, fica a critério do usuário a escolha entre os diversos exemplares do medicamento, seja de referência ou genérico.” (BRASIL, 1999).
Ainda de acordo com a Tabela 2, observa-se que os prescritores demonstraram uma preocupação particular com o registro da dose e da forma farmacêutica, presente em 100% das receitas. Entretanto, parecem não atentar para a necessidade dos demais dados técnicos, importantes até para a própria dispensação do medicamento, como via de administração, ausente em 25,5% das prescrições, mostrando assim inconformidade com a legislação. Percentual semelhante foi obtido por Abrante et al (2007) em seu trabalho realizado em Belo Horizonte.
Porém 100% das prescrições apresentaram a forma farmacêutica, o que minimiza a possibilidade de erro quanto a via de administração nas prescrições em que essa informação foi ausente. Nesse contexto, reforçado por Miguel (2010), a forma farmacêutica que o paciente deve utilizar é um item de extrema importância para um tratamento eficaz, pois só assim poderá saber a qual via de administração deve-se submeter o medicamento.
O intervalo de dose foi registrado em todas as prescrições. Isso indica a compreensão por parte dos prescritores que a ausência dessa informação pode implicar diretamente na não efetividade do tratamento das doenças, ou em problemas relacionados à segurança do medicamento. Segundo Vieira et al (2008) o intervalo de dose se modificado pode implicar no aumento das reações adversas ou redução do resultado esperado.
 Em 81,5% das prescrições, ou seja, 163, houve o registro do tempo de duração do tratamento. A duração do tratamento, ausente em 18,5% (37 receitas) das prescrições, pode impossibilitar a efetividade e a segurança do tratamento, levando ao uso inapropriado e inadvertido do fármaco.
O registro da duração do tratamento é de extrema importância, principalmente quando se trata de antimicrobianos. A interrupção do tratamento antes do tempo previsto pode, por exemplo, ocasionar resistência bacteriana e a impossibilidade de uso posterior do mesmo agente antimicrobiano (AMYES, 2002). 
Para Ev et al. (2008) a ausência da duração do tratamento não só dificulta as possíveis orientações feitas pelos dispensadores, como também aumenta o risco potencial de utilização inadequada do medicamento.
Dos 18,5%, 6% dessas prescrições não estão de acordo com a Denominação Comum Brasileira. Isso remete à idéia de que os medicamentos prescritos podem apresentar apenas uma apresentação, sendo o intervalo entre doses o fator limitante para duração do tratamento.
Intervalos maiores que os recomendados na literatura não aumentam a efetividade do tratamento e podem acarretar risco potencial de toxicidade, além de elevar os custos da terapia. Por outro lado, adoção de tratamentos por tempo inferior aos preconizados pode implicar falhas terapêuticas e favorecer o desenvolvimento de resistência bacteriana. Isso ressalta a importância da presença do farmacêutico no momento que antecede a dispensação do medicamento, pois o mesmo pode examinar atentamente e cruzar as informações da história clínica do paciente (PEPE & CASTRO, 2000).
Em nenhuma das prescrições, foi preenchido pelo médico o quesito gênero, mas, apesar dessa falta, avaliou-se essa questão de acordo com o nome, e no que diz respeito ao gênero, as mulheres ficaram um pouco a frente no uso dos antimicrobianos, aparecendo em 105 (52,5%) e os homens em 95 (47,5%) prescrições. 
GRÁFICO 4. Relação entre o sexo feminino e masculino quanto ao uso de antimicrobianos nas prescrições avaliadas (n=200)
Fonte: Dados primários (2017)
Essa superioridade feminina condiz com a realidade brasileira, onde quando se trata de saúde, as mulheres se preocupam mais que os homens, procuram mais ao médico e também procuram fazer o tratamento da maneira correta. 
Resultado semelhante a esse foi encontrado num estudo realizado em Quixadá no Ceará, em que das 409 prescrições de antibióticos analisadas, 237 (57,95%) eram provenientes do sexo feminino. E dados encontrados por Nicolini et al. (2008) em farmácias públicas de São Paulo, 54,4% das prescrições de antibióticos eram oriundas de usuárias femininas. Estes corroboram com os resultados do nosso estudo. 
Considerando as classes de antimicrobianos mais prescritos, foram observadas com maior frequência as quinolonas, penicilinas, macrolídeos e aminoglicosídeos, respectivamente. Do total das 200 prescrições avaliadas, as quinolonas, principalmente ciprofloxacino e norfloxacino, estavam presentes em 60 (30%) delas. Em seguida, os beta-lactâmicos aparecem em 55 (27,5%), onde prevalecem cefalexina, amoxicilina e também a mesma associada ao clavulanato de potássio. Os macrolídeos aparecem em 45 (22,5%), com domínio para azitromicina. Em 30 (15%), marcam presença os aminoglicosídeos, divididas entre a tobramicina e gentamicina. E em 10 (5%), surgem outras classes. Esse panorama revela um elevado índice de infecções do trato urinário (ITU), do trato respiratório, da região orofaringe, da pele e ocular na localidade de Mossoró/RN. 
As infecções do trato urinário (ITU) representam uma causa comum de prescrição de antibióticos em medicina geral e familiar. Em Portugal, a ITU é a segunda patologiainfecciosa mais prevalente na comunidade, logo após a infecção do trato respiratório. Elas ocorrem muito mais frequentemente em mulheres e estima-se que uma em cada três mulheres terá uma ITU até aos 24 anos e que 40-50% das mulheres adultas tenham pelo menos uma ITU em determinada altura da vida. Apesar da alta incidência e prevalência desse tipo de infecção, na maioria dos casos o exame cultural da urina (urocultura) não é necessário. O uso de terapêutica empírica está recomendado nas ITU não complicadas.
Com o aumento progressivo das resistências antimicrobianas a nível mundial, a escolha da terapêutica empírica das ITU tem provado ser um desafio constante.
O conhecimento da realidade epidemiológica e dos padrões de susceptibilidade antimicrobiana dos microrganismos das diferentes zonas geográficas permite uma escolha mais adequada da terapêutica empírica e a limitação da disseminação das estirpes resistentes.
Ao longo do tempo têm surgido vários estudos que confirmam um aumento da resistência aos antimicrobianos comumente usados para tratar as ITU e a variabilidade geográfica destes valores.
GRÁFICO 5. Número e percentual das classes de antimicrobianos presentes nas prescrições avaliadas (n=200)
 Fonte: Dados primários (2017)
Em outro estudo, realizado na região norte do Brasil foram obtidos resultados bem parecidos, onde as classes de antimicrobianos mais freqüentes foram quinolonas, penicilinas e aminoglicosídeos, respectivamente. As quinolonas, principalmente ciprofloxacino e norfloxacino, foram os fármacos mais prescritos (20,7%), seguidas por penicilinas, majoritariamente amoxicilina e penicilina (20,0%) e, em terceiro lugar, os aminoglicosídeos (15,5%), representados principalmente por gentamicina e neomicina (Nascimento, P. S.; Magalhães, I. R. S., 2013). Em estudos realizados na Nigéria e Irã, respectivamente, Odusanyia (2005) e Sepheri & Meimandi (2005) relataram perfis semelhantes de prescrição de antimicrobianos para pacientes em nível ambulatorial, em que betalactâmicos e quinolonas alcançaram os primeiros lugares. 
CONCLUSÃO
Este estudo demonstrou que as informações referentes à duração do tratamento e as informações complementares sobre o uso de antimicrobianos podem ser especialmente importantes, considerando o perfil das prescrições médicas, corroborando com necessidade de registro de todos os itens determinados pela RDC 20 da ANVISA. Porém, os problemas aqui apontados representam uma primeira abordagem com ênfase nos aspectos mais elementares da questão, como os aspectos formais da prescrição e dispensação de antimicrobianos, não negligenciando uma investigação mais abrangente e detalhada do uso desses medicamentos nos sistemas de saúde e as reais condições enfrentadas pelos prescritores, seja no setor público, seja no setor privado.
A correta escolha do antibiótico e a explicação devida ao paciente são responsabilidade dos prescritores e demais profissionais da saúde. O farmacêutico é profissional capacitado para avaliar as prescrições, propor o uso racional de medicamentos e praticar a atenção farmacêutica, proporcionando informação e orientação imparcial sobre a utilização dos mesmos.
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