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Daniel Farjoun

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TECNOLOGIA | SONAR
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Daniel Farjoun é autor do livro MIX – O poder
da mixagem, e trabalha com mixagens para
todo o Brasil pelo site:
www.opoderdamixagem.com.br
chave para o sucesso de uma
mixagem pode estar no bom uso
dos recursos das automações. Fazer
uma automação significa tornar au-
tomático algum processo. É a integra-
ção do computador dentro do proces-
so de mixagem que antes era feito
manualmente pelos técnicos.
Usar a automação é como ter muito
mais que duas mãos para mixar. Já pa-
rou para pensar como eram feitas as
mixagens antigamente? Digamos que
três instrumentos precisassem dimi-
nuir seus volumes no mesmo mo-
mento da música, como fazer? Pois
bem, era só chamar mais uma pessoa
para fazer aquele movimento. Só que,
não bastava fazer aquele movimento
uma vez, tinha que gravá-lo em defi-
nitivo. Então, o processo era anotado
do início ao fim. Quais canais iam so-
NO SONAR
Olá Pessoal! Neste
mês veremos um
assunto que poucos
conhecem dentro do
processo da produção
musical: a automação.
Tornar automática
alguma mudança ao
decorrer da música é
um dos artifícios que
mais enriquecem uma
mixagem e é
provavelmente o
menos usado ou
conhecido. Nesta
edição, você vai saber
o que é e como criar
automações dentro do
Sonar de forma
simples e rápida
A
AUTOMAÇÃO
Parte I
frer mudanças e quais mudanças eram
essas. Tudo era feito enquanto se gra-
vava a música para dois canais (esté-
reo). Se alguém errasse algum movi-
mento durante a gravação em esté-
reo, era muito simples, bastava voltar
para o início e fazer todos os movi-
mentos novamente. Na verdade,
nada prático, concorda?
Só que o processo era ainda um pou-
co mais complexo. Muito mais do
que mudar os volumes dos instru-
mentos, ou definir se um instrumen-
to ia ser mutado ou não naquela par-
te da música, havia muitas outras
modificações a fazer. Em determina-
da hora, o reverb tinha que ficar
mais forte na caixa, em outra, o som
tinha que ficar mais “seco”, enquan-
to isso, o compressor atuava mais
forte na guitarra e a percussão que
estava do lado direito agora tinha
que ir para o lado esquerdo. Haja
mão, haja paciência e haja habilida-
de para fazer todos estes movimen-
tos de forma precisa.
Com a automação, todas essas mu-
danças ficaram infinitamente mais
práticas e fáceis de serem feitas e
visualizadas. Hoje, basta gravar a mu-
dança uma vez que o computador arma-
zena estas informações e as repete toda
vez que se ouve aquele trecho da músi-
A chave para o sucesso de uma mixagem pode estar no
bom uso dos recursos das automações. Fazer uma
automação significa tornar automático algum
processo. É a integração do computador dentro do
processo de mixagem
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ca. A vantagem maior é que hoje se po-
dem alterar as mudanças a qualquer
tempo, sem que se tenha que refazer
todo o trabalho. Na maioria das vezes,
basta gravar aquele movimento outra
vez, ou até mesmo, fazer ajustes finos do
movimento por meio dos gráficos que
são mostrados no computador.
A automação hoje é sinônimo de li-
berdade de criação. No Sonar, pode-
mos ter seis tipos de automação:
1. Automação de Volume
2. Automação de Pan
3. Automação de Mute
4. Automação de Efeitos
5. Automação de Sends
6. Automação de Buses
Cada um dos seis tipos de automação
deve ser seu aliado na tarefa de:
• Manter o espectador conectado
aos músicos e ao vocalista;
• Criar e/ou reforçar as dinâmicas
da música;
• Dar a cada parte da música sonori-
dade e sentimentos únicos;
• Dar foco às transições entre as
partes da música;
• Manter a mixagem envolvente
durante toda a música.
É aqui que entra a chave para o suces-
so de sua mix que falamos lá no início.
A idéia não é só deixar tudo límpido e
cristalino para que possa ser ouvido o
tempo todo. Vai além disso. A auto-
mação te permite direcionar a aten-
ção do ouvinte aos elementos da mú-
sica de acordo com os acontecimentos
mais importantes em cada parte dela.
Você pode dar destaque a um instru-
mento em determinado momento,
aumentando seu volume, reforçando
os efeitos, alterando os efeitos e de
tantas outras maneiras que você for
capaz de imaginar.
Uma outra forma de prender a atenção
do espectador é gerando interesse a
cada parte da música. Instrumentos
novos que aparecem no decorrer da
música preenchendo os espaços e fa-
zendo a mixagem crescer, como se cada
nova parte fosse uma progressão da
anterior, ou simplesmente valorizar
transições entre cada parte da música
são chaves para conquistar a atenção
de quem ouve sua mix.
Trabalhe sua mix como um crescente.
Não deixe todos os refrões simples-
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mente iguais. Adicione um novo
efeito, um outro reverb para deixar os
backings mais fortes, uma transição
diferente, mais volume em elementos
que normalmente não possuem tan-
to, enfim, busque, cave, vá até onde
for preciso para captar a atenção de
quem a ouve. Imagine sua mix ga-
nhando força a cada nova parte. Nes-
te caso, estamos falando de um pop ou
um rock, por exemplo. Tudo vai de-
pender do estilo. Se for música infan-
til, brinque com as sonoridades para
conquistar a atenção da criançada. Se
for uma música mais etérea, busque
uma ligação maior entre as partes e, se
o cliente permitir, abuse das ambiên-
cias e automações destas no decorrer
da música, por que não?
É muito comum que a voz principal
tenha seu volume automatizado no
decorrer da música. Na entrada de
refrões, se a música possui mais ener-
gia, podemos subir o volume do vocal
sem que seja percebido pelo especta-
dor, justamente para igualar a relação
vocal x base existente antes do refrão.
À medida que a música ganha mais
energia, um acréscimo de 0.5 ou 1 dB
na voz já pode ser significativo para
manter o espectador conectado à me-
lodia e à letra. Veremos, com mais de-
talhes, cada um dos seis principais ti-
pos de automação existentes no Sonar.
Antes de continuarmos, é importan-
te você saber que o resultado gráfico
(visível) das automações são as cha-
madas envelopes. Por isso, não estra-
nhe se eu pedir para escolher a opção
envelope para inserir as automações
manualmente ou para editar auto-
mações previamente gravadas. Usarei
a automação de volume para explicar
com todos os detalhes como gravar,
inserir manualmente, modificar ou
desenhar uma automação. Na próxi-
ma edição veremos os outros tipos
de automação.
AUTOMAÇÃO DE VOLUME
Não é difícil imaginar o que é e para
que serve a automação de volume. Se
no refrão da música você precisar au-
mentar o volume da voz, a automação
de volume pode ser uma das possíveis
soluções. Temos duas formas de fazer
uma automação:
a) Gravar o movimento do fader
de volume
b) Inserir uma envelope de volume
e editar os pontos de subida e desci-
da de volume manualmente.
a)Gravando o movimento do fader
de volume:
• Clique no botão “W” na pista que
deseja fazer a automação. Este botão
habilita a opção de gravação da auto-
mação (Automation Write). Note
que o campo de volume e pan (dentre
outros) ficaram com uma borda ver-
melha. É indicativa de que qualquer
movimento feito nestas opções será
gravado como automação.
Veja imagem a seguir.
• Posicione a música antes do ponto
desejado para aplicação da auto-
mação;
• Dê play na música e faça os movimen-
tos de volume necessários. Basta clicar
com o mouse no campo de volume,
manter o botão pressionado e arrastar o
mouse para a esquerda (se quiser dimi-
nuir o volume) ou direita(se quiser au-
mentar o volume). Observe que o
Sonar criou um gráfico com os movi-
mentos do fader de volume. E a este grá-
fico damos o nome de envelope.
b) Inserindo uma envelope de volu-
me e editando os pontos manual-
mente:
• Clique com o botão direito do mou-
se em cima de algum clip e escolha a
opção Envelopes / Create Track En-
velope / Volume.
Veja imagem a seguir.
À medida que a música
ganha mais energia,
um acréscimo de 0.5
ou 1 dB na voz já pode
ser significativo para
manter o espectador
conectado à melodia e
à letra
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Note que agora existe uma linha azul
em 0 dB. Se você quiser diminuir o
volume da pista como um todo, basta
clicar na linha e arrastar para baixo.
Uma outra opção é fazer a automação
de volume apenas no CLIP e não na
pista inteira. Para isto, basta clicar
com o botão direito do mouse em
cima do clip em questão e escolher a
opção Envelopes / Create Clip Enve-
lope / Gain.
Veja imagem a seguir.
• Se você quiser aumentar o volume
apenas no refrão, por exemplo, bas-
ta selecionar o trecho referente ao
refrão, clicar com o botão direito
do mouse em cima da linha de en-
velope e escolher a opção Add
Nodes at Se lec t ion (adicionar
“pontos” à seleção)
Veja na imagem a seguir.
• Criados os pontos, basta clicar na
linha do refrão e movê-la para cima.
Para editar os pontos você pode
usar a Envelope Tool (tecla de ata-
lho “E”). Basta ativá-la para poder
clicar nos pontos e movê-los de po-
sição. Com isso, você pode editar
melhor os pontos de subida e desci-
da de volume.
Digamos que você tenha feito uma
subida suave de volume e não brusca
como no “add Nodes at Selection”.
Você pode mudar a reta de subida para
uma curva, lenta ou rápida. Para isto,
basta clicar com o botão direito do
mouse em cima da linha (não em
cima do ponto) e escolher Fast Curve
(curva rápida) ou Slow Curve (curva
lenta), assim como nos Fades.
Já que estamos falando em editar a
curva de envelope, saiba que no So-
nar você pode também desenhar o
tipo de envelope que desejar com a
Envelope Draw Tool, ícone situado
ao lado da Envelope Tool.
Veja imagem a seguir.
Pode desenhar livremente as subidas
e descidas (freehand); fazer subidas e
descidas suaves, em forma de sinos
(sine); fazer o desenho ter forma de
triângulos nas subidas e descidas
(triangle); fazer subidas e descidas re-
tas e quadradas (square); fazer o dese-
nho parecer com um serrote – sobe
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suave, desce brusco, ou vice-versa –
(saw); ou fazer um desenho randô-
mico (random).
Existe ainda uma outra forma de ar-
mazenar as mudanças de volume (e
do pan) no Sonar. O Snapshot permi-
te que o usuário registre as configura-
ções daquele momento da música,
como se fosse uma fotografia. Basta
posicionar a barra do now time no
ponto desejado, clicar com o botão
direito do mouse em cima do contro-
le de volume (ou de pan) e escolher a
opção Automation Snapshot.
Veja imagem a seguir.
Como exemplo, seguem algumas pos-
síveis situações para aplicação da
automação de volume:
Alguns trechos do vocal estão bai-
xos ou altos demais - Use as ferra-
mentas ensinadas para fazer a auto-
mação somente nas áreas importan-
tes. Nestes casos, a opção Add Nodes
to Selection (adicionar pontos à sele-
ção) é uma grande aliada.
Um solo entra muito baixo, mas
logo depois o volume fica ideal - Bas-
ta aumentar o volume no início do
solo e voltar para o volume original. É
mais prático editar a envelope manu-
almente do que gravar uma automa-
ção com o mouse.
Um efeito sonoro que se distancia
da tela - É muito comum em cinema
ou outras vídeo-produções obser-
varmos um carro que se distancia, ou
mesmo alguém que corre para longe
das câmeras. Nem sempre o uso de
reverb é a melhor solução. Quase
sempre o distanciamento visual
vem acompanhado da diminuição
em volume daquele elemento. Use a
automação de volume para dar a
sensação de que, por exemplo, os
passos estão cada vez mais distan-
tes, ou que alguma ação está mais
distante (volume mais baixo) de
outra que acontece mais perto (vo-
lume mais alto). Afinal, é assim que
acontece na vida real.
Na próxima edição, veremos como
trabalhar os outros tipos de automa-
ção existentes no Sonar. Guarde bem
esta edição que poderá lhe servir
como guia para a criação ou gravação
dos outros tipos de automação.
Um grande abraço, obrigado pela lei-
tura e até o mês que vem!
e-mail para esta coluna:
musilab@gmail.com
Nem sempre o uso de
reverb é a melhor
solução. Quase sempre
o distanciamento
visual vem
acompanhado da
diminuição em volume
daquele elemento

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