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Aula 3 princípios

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Aula: Princípios informadores do processo penal
Os princípios jurídicos que informam o processo penal estão previstos na Constituição Federal de 1988 (alguns também com reflexos no Código de Processo Penal). 
A maioria deles consta do artigo 5º da CF: Dos Direitos e Garantias individuais fundamentais. 
Direito: é uma norma jurídica que declara a existência de um interesse
Garantia: é o instrumento por meio do qual é possível assegurar a concretização de um direito.
Robert Alexy. 
Princípios: são mandamentos de otimização; são deveres prima facie, ou seja, que obrigam que algo seja observado/realizado na maior medida do possível, conforme possibilidades fáticas e jurídicas. 
Regras são deveres definitivos aplicado por meio de subsunção (=adequação do fato à norma). 
O objeto do presente estudo são normas jurídicas estabelecidas pela forma de princípios e não de regras. 
De conseguinte, é necessário esclarecer que tais princípios são de observação obrigatória, porém, não instituem deveres determinados e definitivos pela subsunção, com atribuições de sanções específicas devido à prática de um comportamento que a norma proíbe (ou devido à omissão de um comportamento que a norma ordena). 
É possível existir, no caso concreto, uma situação de colisão de princípios, que se resolve pela prevalência de um deles e afastamento de outro. Por isso é que a obrigatoriedade dos princípios se dá, conforme Alexy, por meio de um mandamento de otimização (= na maior medida do possível). 
Princípio da igualdade no processo penal
Previsto no artigo 5º, caput da CF/88, o princípio da igualdade no processo penal também deve ser analisado do ponto de vista formal e material. 
Do ponto de vista processual, igualdade significa igualdade entre as partes e paridade de armas. Isto é, as partes do processo penal (acusatória e defensiva), devem ter as mesmas chances de atingir um provimento jurisdicional favorável. 
Para isso são garantidas, a ambos, a paridade ou igualdade de armas (instrumentos utilizados para buscar a concretização de seus interesses processuais). 
Igualdade formal garante que não haverá cerceamento arbitrário no exercício ou utilização dessas “armas”, bem como privilégios de qualquer natureza. O privilégio, nesse aspecto, deve ser entendido como um meio para se beneficiar uma das partes a fim de que seu interesse seja satisfeito. 
Igualdade material: desde a antiga lição aristotélica, entende-se que tratar todos os indivíduos como se fossem iguais é, na realidade, ignorar a existência das desigualdades. No processo penal, não é diferente. Desde o início da persecução penal (investigação preliminar) até o esgotamento de todos os recursos possíveis, situações há em que fica evidenciada a substancial desigualdade na relação jurídica processual
Acusação
Juiz
 Juiz
Réu
Acusação		Réu
De uma maneira geral, o polo passivo da relação processual penal é a parte mais vulnerável, uma vez que a parte acusatória (nos crimes cuja ação penal é de iniciativa pública e incondicionada) dispõe, a seu favor, de todo aparato estatal para que possa produzir a prova da materialidade e autoria de infrações penais. Isso, evidentemente, não é uma regra: ou seja, não são todos os casos em que se verifica maior vulnerabilidade do polo passivo. 
Porém, devido à situação geral de disparidade, alguns instrumentos são previstos pelo Direito na tentativa de suprimir a desigualdade material. Por exemplo, pode-se mencionar que o contraditório é exercido sempre oportunizando ao réu que se manifeste pela última vez. 
Princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF)
A dignidade da pessoa humana é a “viga mestra, fundamental e peculiar ao Estado democrático de Direito” (PRADO). Trata-se, na realidade, do valor que fundamenta todo o sistema de direitos e garantias individuais previsto na Constituição. 
A dignidade humana, enquanto princípio jurídico, reflete o reconhecimento do valor ser humano enquanto pessoa, ou seja, dotada de valor em si mesma, sem que atenda a qualquer outra finalidade senão a própria existência e desenvolvimento (um ser de fins absolutos) e, portanto, dotado de direitos fundamentais pelo simples fato de ser uma pessoa. 
Nesse sentido, é consequência direta da dignidade humana que a pessoa não seja tratada como “coisa”, isto é, como instrumento para atingir finalidades externas. 
Para o processo penal, de modo específico, isso tem uma série de implicações, que não dizem respeito exclusivamente ao acusado, mas a qualquer pessoa envolvida e que seja submetida a realizar atos processuais (ex. a vítima e a testemunha). 
Como exemplo de busca pela concretização da dignidade humana no processo penal, cite-se a Súmula Vinculante n. 11 do STF, que limita o uso de algemas a casos estritamente necessários. 
Nenhum indivíduo pode ser submetido a procedimentos degradantes, aviltantes de sua dignidade, no contexto do processo penal. Por essa razão é que existe, por exemplo, a possibilidade de retirar o réu da sala de audiência (o RÉU, não o seu defensor) quando este infunde temor exacerbado à vítima ou à testemunha – o que compromete não só a dignidade humana, mas a própria eficiência do ato processual. 
No Brasil, algumas medidas processuais são tomadas nem tanto para atender a necessidades intrínsecas ao processo e à investigação, mas para dar azo ao clamor popular e pressão midiática. Não raro, prisões preventivas são decretadas sem atender aos requisitos legais, medidas de condução coercitiva são concretizadas igualmente fora dos parâmetros legais e o uso indiscriminado de algemas, em que pese a existência da referida súmula, é ainda uma realidade constante. 
Todas essas situações devem ser objeto de crítica desde o ponto de vista da dignidade humana no processo penal, para além de violarem outros direitos específicos (como a presunção de inocência, por exemplo). 
Princípio do devido processo legal
Art. 5º, LIV
Origem: 1216, Inglaterra. Magna Charta Libertatum. 
Não é uma garantia apenas da existência do processo. 
Devido processo legal é aquele que se desenvolve observando todas as demais garantias individuais
É um “princípio síntese” (engloba todos os demais)
Aspecto formal ou procedimental: garantia da existência de um processo formal (de acordo com os procedimentos previstos em lei). Regularidade e legalidade dos atos processuais. 
Aspecto substancial (material ou substantivo): qual é o fundamento dessa garantia? O motivo pelo qual existe esse princípio? Porque o Estado não pode restringir ou privar os cidadãos de direitos (patrimônio e liberdade) sem que haja razoabilidade. Isso não pode ser feito de forma arbitrária. Trata-se de uma limitação ao poder estatal (a garantia de lei – legalidade do processo – limita a atuação arbitrária). Isso dirige-se aos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Ou seja, até mesmo o Poder Executivo pode restringir direitos por meio de atos administrativos, mas a legalidade do procedimento garante que o mesmo seja feito de forma razoável (controle de legalidade dos atos administrativos). 
Princípio da ampla defesa
Art. 5º, LV
A ampla defesa é um direito e uma garantia. 
Trata-se do direito inerente a qualquer acusado de se defender e de ser defendido adequadamente, em processo judicial, das acusações que lhe são imputadas. 
Subdivide-se em autodefesa e defesa técnica
Defesa técnica: direito de ser assistido por um profissional habilitado (advogado). Pode ser constituído de modo particular, defensor nomeado (dativo ou público). 
Discute-se a obrigatoriedade de se observar o princípio da ampla defesa, mormente a defesa técnica, durante o inquérito policial. A qualquer tempo, o indivíduo suspeito ou indiciado tem o direito de requerer a assistência ou presença de um advogado, bem como de nada falar sem que antes consulte esse profissional. Isso não é objeto de controvérsia. 
Discute-se a acessibilidade aos autos de inquérito policial. Para colocar fim à controvérsia, o STF editou a Súmula Vinculante 14, pela qual ficagarantido o irrestrito acesso do advogado de suspeito ou indiciado aos autos de inquérito policial, relativamente ao que já foi feito e documentado, para garantir o exercício da defesa técnica. 
Autodefesa: compreende as formas por meio das quais o acusado ou suspeito pode se defender durante investigações ou processo propriamente dito. São elas: 
Direito de presença: trata-se do direito de estar presente e acompanhar a realização de atos processuais, como audiências, reprodução simulada dos fatos, reconhecimento, etc. Eventualmente, pode ser restringido, como já se viu. 
Direito de audiência: é o direito de ser ouvido pessoalmente pelo juiz e não somente por meio do advogado constituído ou nomeado. 
Direito ao silêncio: é o direito de não se pronunciar, de nada dizer a respeito dos fatos ou da acusação que lhe é imputada, mas também compreende o direito de: ser informado desse direito e de que seu exercício não implique prejuízo (condenação, decretação de preventiva, etc). 
O direito ao silêncio pode ser exercício em qualquer tempo (inclusive no ato oficial de interrogatório judicial). 
Direito à não-autoincriminação (nemo tenetur se detegere): é consequência do direito ao silêncio. Se o indivíduo possui o direito de não se pronunciar acerca de qualquer coisa, também possui o direito de não se autoincriminar.
 “Ninguém é obrigado a se delatar” e, assim, ninguém é obrigado a produzir (conduta ativa) provas contra si mesmo. 
O acusado, como decorrência desse princípio, possui também o direito de mentir durante a investigação ou instrução processual, desde que isso não caracterize crime (ex. calúnia, falsa identidade, etc). Isso porque, se ele efetivamente é o autor do crime, ao prestar uma declaração, não é obrigado a dizer a verdade e confessar o delito. Portanto, ao afirmar a própria inocência, quando culpado, estará mentindo e exercendo o direito de não confessar. 
Princípio do contraditório
Art. 5º, LV
O princípio do contraditório e da ampla defesa encontram-se em relação interdependente. 
O exercício de um é necessário ao exercício efetivo do outro. 
Contraditório, no entanto, não é um direito exercido apenas pela defesa, mas também pela acusação (ainda que, no processo penal, a ultima palavra de contraditório seja um direito da defesa). 
Como se viu nas primeiras aulas, o contraditório é a própria essência do processo penal, que se estrutura de forma dialética para a formação da convicção judicial: 
TESE (ACUSAÇÃO) - ANTÍTESE (DEFESA) SÍNTESE (DECISÃO MOTIVADA)
O exercício do contraditório contém: o direito de conhecer o conteúdo daquilo que será contraditado e o direito de efetivamente contrariar. 
O juiz é o garantidor do contraditório, afinal, ele deve fiscalizar o seu efetivo exercício como forma de garantir, para a formação da própria convicção, a imparcialidade necessária. 
Princípio da presunção de inocência
Art. 5º, LVII, CF. 
Também chamado de estado de inocência ou presunção de não-culpabilidade, o referido princípio preconiza que nenhuma pessoa será considerada culpada antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória. 
Significa uma regra de tratamento e de julgamento. 
Regra de tratamento: durante toda a persecução criminal, a pessoa (indiciada ou acusada) é precisamente tratada como se inocente fosse, uma vez que, pelo processo, é que se buscam as provas de sua culpa. 
Há consequências: ser tratado como inocente significa que sua liberdade não pode ser tolhida em razão da natureza do crime, uma vez que não se tem certeza ainda sobre a autoria. 
Portanto, qualquer restrição imposta nesse sentido deve ser fundamentada em critérios de necessidade (periculum libertatis e fummus comissi delicti).
Como regra de julgamento, tem-se a consequência a ser tratada no próximo item (in dubio pro reo). 
Alguns pontos são levados à discussão quando se trata de conflito ou violação ao princípio da presunção de inocência: 
O STF e o cumprimento antecipado da pena (2016)
Execução provisória da pena (Súmula 716, STF). 
Princípio do in dubio pro reo e in dubio pro societat
Como decorrência do princípio da presunção de inocência enquanto regra de julgamento, o in dubio pro reo determina que, havendo dúvida quanto à culpa, o juiz deve absolver o acusado. Na realidade, estende-se para outras decisões que possam implicar prejuízo ou benefício ao acusado: na dúvida, resolve-se em favor dele (ex. prisão preventiva). 
Tradicionalmente, no entanto, apontam-se suas exceções a esse princípio, nas quais seria aplicado o princípio do in dubio pro societat: a) no momento do recebimento da denúncia pelo juiz; b) no momento da sentença de pronúncia na primeira fase do procedimento escalonado do Júri. 
Em tais situações, havendo dúvida, ao invés de resolver em favor do réu (ou seja, respectivamente, rejeitando a denúncia ou impronunciando o réu), resolve-se pelo recebimento (já que o processo servirá para resolver tais dúvidas) e pela pronúncia (ocasião a partir da qual o juízo de culpa ficará a critério da soberania dos veredictos dos jurados). 
Princípio da imparcialidade judicial
De modo bastante simplista, significa que o juiz não é PARTE interessada no processo penal (=não é parte).
 O juiz é o terceiro equidistante das partes, que formará o seu convencimento com base na prova produzida em contraditório durante a instrução criminal. Decorre da própria idéia de jurisdição. 
Apesar de a CF não prever expressamente a imparcialidade, essa é uma condição inerente à própria função de julgador. 
Juiz parcial é uma contradição em termos (BADARÓ).
No processo penal, a pergunta a ser formulada e respondida com mais precisão é: o que torna um juiz PARCIAL? 
A Imparcialidade é dificílima de ser conceituada – não se confunde com neutralidade. Nenhum juiz é neutro. Aliás, se o fosse, seria incapaz de proferir uma decisão. 
Então, como se determinar a imparcialidade? Pelo critério de exclusão: é imparcial o juiz que não corre o risco de parcial. 
Isso porque é impossível afirmar, com absoluta certeza, que o juiz será, em determinados casos, parcial ao julgar um caso – há presunções decorrentes de lei e da interpretação dos fatos. O que a lei deve vedar é a possibilidade. 
Ou seja, em determinadas situações, é bem provável que aquele julgador atuará tendenciosamente em favor de uma das partes, logo, evita-se essa situação (causas de suspeição e impedimento)
Ex. o juiz é pai da vítima. O legislador deve delimitar essas hipóteses ou criar condições para que juízes potencialmente ou concretamente parciais não possam operar. 
São somente os casos de impedimento e suspeição previstos no CPP (art. 252 e 254) que indicam uma provável parcialidade do juiz? 
Não necessariamente. Há casos em que sua realidade histórica e visão de mundo (inclusive ideológica) podem influenciar previamente sua decisão. Ou seja, seus pré-conceitos o tornam predisposto a absolver ou condenar. Nesses casos, não há como considerar esse juiz como imparcial e ele mesmo deveria se declarar incompatível para julgar. 
A interpretação dada pelo julgador a uma regra geral e abstrata, a fim de aplica-la ao caso concreto, não pode ficar ao sabor de concepções pessoais que só interessam a ele mesmo e não ao Direito. 
No momento de decidir, essas concepções certamente o influenciarão. Porém, ele deve apreciar o conjunto probatório e fundamentar sua decisão com base nessa apreciação. 
Com isso, não se quer dizer que o juiz deve ser asséptico – neutro. Ao contrário, isso, é sabido, não existe. As decisões devem ser TRANSPARENTES E MOTIVADAS. 
Além disso, a interpretação pessoal encontra limites no conteúdo gramatical da norma – sabe-se que a interpretação não é uma atividade ilimitada. 
Divide-se a imparcialidade em OBJETIVA E SUBJETIVA. 
a)	Objetiva: diz respeito à criação de condições objetivas (verificáveis) para confiar na imparcialidade do juiz para decidir aquele caso concreto. Se o juiz, durante a investigação ou já na instrução criminal, pratica atos que objetivamente revelam sua tendênciacom relação ao resultado final, ele é considerado objetivamente parcial. 
Ex. apesar de manifestação do MP favorável ao relaxamento de prisão em flagrante, o magistrado insiste em sua custódia cautelar (tendo em vista que a REGRA é a liberdade). 
O juiz que atua muito ativamente nas investigações preliminares, determinando diligências de ofício, suprimindo atividade própria do MP, é um juiz objetivamente parcial, se, no conteúdo desses atos e decisões, há clara predisposição ao juízo de culpa. 
Além disso, se o juiz atua na fase de investigação, como juiz inquisidor, seu julgamento imparcial está obviamente comprometido – se ele buscou formar um arcabouço de elementos informativos mínimos para sustentar a existência da ação penal, ele não decidirá contra esses elementos, absolvendo o réu, como se tivesse afirmando: “estávamos todos enganados desde o início”. 
Ex. um Ministro que literalmente PEDE para julgar determinado caso que chegará até o órgão judicial que ele compõe, antecipa interesse pessoal na causa, ainda que não revele sua opinião pela condenação ou absolvição. Além de violar a imparcialidade objetiva, fere o Juiz Natural, um pedido dessa natureza. 
b)	Subjetiva: diz respeito à relação subjetiva entre o julgador e o objeto que está sendo discutido no processo. Nesse caso, trata-se da opinião previamente formada pelo julgador a respeito de um caso concreto no qual ele está atuando ou irá atuar. A parcialidade subjetiva fica muito evidente em entrevistas concedidas por juízes para os meios de comunicação. 
Ex. Toffoli se declarou impedido para julgar a ADPF 54, sobre aborto de feto anencefálico porque, quando era advogado-geral da União, emitiu parecer favorável. 
Não se quer dizer que juízes não podem manifestar opinião sobre casos jurídicos. Aquele que está atuando no processo e se manifesta positivamente sobre a culpa do acusado, revela claramente sua parcialidade subjetiva. Ex. Caso Eike Batista. 
Aquele que, estando na instância superior, manifesta opinião sobre culpa ou inocência de um acusado, ao participar do julgamento em segundo grau, é considerado parcial. 
Princípio do juiz natural
O princípio do Juiz Natural se desdobra em dois aspectos: o positivo e o negativo. O positivo assegura ao indivíduo que ele será processado e julgado apenas perante o juízo previamente determinado como competência; o negativo, assegura que não haverá tribunal ou juízo de exceção. 
A garantia do Juiz Natural visa assegurar a imparcialidade
A Constituição Federal prevê ambos, em dispositivos diferentes, mas a garantia é uma só. 
a) Aspecto positivo: o referido princípio diz respeito ao direito garantido a todos de ser processado e julgado pelo tribunal competente art. 5º, LIII, CF.
A matéria aqui tratada é de distribuição de competência entre os órgãos previamente instituídos por normas constitucionais (órgãos pertencentes à organização judiciária - investidura). 
A competência para julgar é previamente estabelecida, de modo que é vedada a arbitrária “alteração das regras do jogo” e um determinado caso ser julgado por órgão ou magistrado que não é competente para tal (assim determinado pela Constituição e pela LEI infraconstitucional)
Aplica-se ao órgão jurisdicional (ser julgado pelo órgão competente) e à pessoa do juiz (o magistrado competente). 
Nem o órgão jurisdicional, nem o juiz podem ser designados arbitrariamente. 
Órgão jurisdicional: ente abstrato que integra a organização judiciária. Ex. justiça comum (tribunais), justiça federal (tribunais), STJ, STF
Pessoa física do juiz (monocrático ou em órgão colegiado): determinado de acordo com o critério de sorteio (por distribuição) – isso não pode ser alterado para um caso específico. 
É preciso que existam regras jurídicas determinando como se estabelece essa designação dentro dos órgãos jurisdicionais. Isso diz respeito à garantia do juiz natural também porque, do contrário, para o julgamento de um determinado caso, poderia ser designado juiz titular de determinada vara criminal ou, em órgãos colegiados, poderia haver alteração de composição das turmas, etc. 
O juiz natural abrange a garantia do juiz constitucionalmente e infraconstitucionalmente competente (regras do CPP). 
Quando um fato ocorre, a garantia do juiz natural determina que as regras de competência já apontem para o juízo adequado para processá-lo e julgá-lo, não sendo possível excluir ou afastar o magistrado competente, estabelecido por critério aleatório de distribuição (sorteio), fora dos casos de impedimento ou suspeição. 
Ou seja, não é possível escolha de um magistrado específico para determinado caso e nem afastamento do magistrado competente sem justificativa legal! (GRECO FILHO)
Discussões: 
•	Varas especializadas? Supremo considera constitucional
FATOR TEMPORAL (também garantia do Juiz Natural): a pessoa tem direito não só de ser julgada pela autoridade competente constitucional e legalmente, mas pela autoridade assim classificada à época da prática do delito; exemplo: no momento do fato delitivo praticado (crime de homicídio simples contra a própria esposa), João, profissional liberal, tinha a garantia de ser julgado pela justiça estadual comum. Se, durante a instrução criminal, advém mudança legislativa e a competência passa a ser da justiça federal, ele deve continuar sendo processado e deve ser julgado pela justiça estadual comum!!
O momento de perpetuação de competência NO PROCESSO PENAL, diferentemente do processo civil, é o momento do cometimento do delito!!
Em razão do Juiz Natural, a regra em geral aplicável a todas as normas processuais (como se verá mais adiante) – tempus regit actum (o tempo rege o ato) NÃO SE APLICA ÀS REGRAS DE DEFINIÇÃO DO JUIZ COMPETENTE. Prevalece o tempus criminis regit iudicem. 
(Entendimento da Doutrina)
MAS, ATENÇÃO: ENTENDIMENTO DO STF E STJ É CONTRÁRIO – Para o STF, a lei ordinária que altera competência (passa da justiça militar para a justiça comum – crimes dolosos contra a vida cometidos por militares contra civis passaram a ser de competência da justiça comum) tem aplicação imediata. No STJ, também há precedentes nesse sentido. 
b) Aspecto negativo: a vedação aos tribunais ou juízos de exceção (art. 5º, XXXVII)
Esse aspecto diz respeito à investidura dos órgãos judiciários e não à distribuição de competência: só podem processar e julgar crimes e contravenções aqueles órgãos pertencentes à organização judiciária prevista na CF (=investidos)
Ou seja, não é possível estabelecer um tribunal ou juízo para julgar determinados casos (pós fato) ou determinados indivíduos (pós ou antes do fato), que não estejam previstos como órgãos do Poder Judiciário na Constituição. 
Essa vertente assegura a investidura dos órgãos jurisdicionais: somente a Constituição o faz; somente os órgãos constitucionalmente previstos podem ser órgãos jurisdicionais (art. 92, CF)
O que são tribunais de exceção? São tribunais que não compõem a estrutura formal do Poder Judiciário, criados especificamente para julgar determinados fatos já realizados (post factum) ou determinada pessoa ou grupo de pessoas, ainda que para fatos futuros (ad personam) – BADARÓ. 
Eles podem ser criados para beneficiar ou prejudicar a pessoa ou grupo de pessoas que serão julgados. 
Não há garantia de contraditório, ampla defesa, duração razoável do processo, duplo grau de jurisdição e, tampouco, distribuição de competência. Sua criação visa atender interesses específicos: seja pela condenação, seja pela absolvição (o resultado está predeterminado). 
De toda forma, a caraterística principal de tribunais de exceção é a presunção absoluta de parcialidade. 
Justiças especializadas não são tribunais de exceção, pois são criadas antes da prática do fato, por lei, e sua competência é determinada por regras gerais e abstratas e não segundo critérios discriminatórios em razão da matéria (para fatos específicos, pessoas ou grupo de pessoas). Ex. Militar, Eleitoral
Foro por prerrogativa de função também não são tribunais de exceção: igualmente, é determinadopor critérios prévios e legalmente previstos, que não têm por objetivo privilegiar ou prejudicar indivíduos ou classes de indivíduos de acordo com critérios discriminatórios. O fundamento dessa prerrogativa é a importância de uma função ou cargo público exercido.
Princípio da motivação das decisões judiciais -art. 93, IX, CF
A garantia da motivação determina que todo julgador, ao proferir sua decisão, deve fundamentá-la adequadamente, sob pena de nulidade do ato decisório. 
A fundamentação abrange a matéria fática abordada, as alegações acusatórias e defensivas e a matéria de Direito. 
O juiz não pode se furtar de analisar uma ou mais teses defensivas ou acusatórias alegadas. 
Possui duas funções: 
a)	Função individual (ou para as partes ou do processo): na ótica do interesse das partes, a garantia da fundamentação objetiva permitir o conhecimento das razões de decidir, possibilitando a impugnação da decisão e o ataque aos seus fundamentos na via recursal (BADARÓ). Interesse endoprocessual. 
•	É mais do que a simples descrição do raciocínio judicial, mas uma JUSTIFICAÇÃO da decisão (argumentada conclusão). 
b)	Função jurisdicional (pública): a garantia da motivação permite o controle social da própria atividade jurisdicional. Destaca-se o interesse extraprocessual, a função político-axiológica = a motivação é mais do que uma garantia individual, por isso está prevista na disciplina no Poder Judiciário. 
•	É uma exigência do exercício da jurisdição! A garantia da motivação não serve apenas aos envolvidos no processo, mas a toda sociedade, pois confere transparência à decisão judicial. 
•	Por meio da motivação (e da publicidade, claro), todo cidadão pode controlar a legalidade das decisões, a imparcialidade do juiz = controle democrático sobre a administração da justiça
Se a decisão não está suficientemente motivada (garantindo o interesse das partes e o controle democrático externo), ela será NULA ou INEXISTENTE? 
Majoritariamente, entende-se pela nulidade (parte da doutrina entende que a decisão seria inexistente)
Uma decisão suficientemente motivada é: clara, coerente e lógica. 
Conteúdo: 
1.	Enunciado contendo as escolhas do juiz relativamente a individualização das normas aplicáveis; análise dos fatos; qualificação jurídica dos fatos; consequências jurídicas desta qualificação; 
2.	Nexos de implicação e coerência entre esses enunciados – ex. ao justificar sua decisão, deve existir coerência entre os fatos tidos como verdadeiros por ele (com base no contraditório), a tipificação feita e a pena aplicada. 
Estrutura (art. 381, CPP)
Qualificação das partes
Relatório (exposição suscita de acusação e defesa)
Motivação (conteúdo propriamente dito) = vai indicar motivos de fato e de direito em que se funda sua decisão; o juiz, aqui, não precisa concordar com nenhuma das partes, com seus argumentos aduzidos e a importância dos meios de prova produzidos por cada uma delas. Pode considerar insuficiente para seu convencimento. Porém, não pode deixar de valorar a prova produzida por uma das partes, sob pena de nulidade absoluta. 
Dispositivo: é a conclusão. Deve ser coerente com a motivação. Aqui, o juiz indica os artigos de lei aplicáveis (tipo penal, qualificado ou não, se há ou não concurso de crimes, de pessoas, etc). 
Data e assinatura. 
Vícios de motivação: 
a)	Ausência ou carência de motivação: ocorre quando há total ou parcial omissão de fundamentação. 
A omissão total ocorre quando o juiz não indica os elementos de seu convencimento. Ex. considerou o réu culpado, mas não indica quais as provas produzidas e as teses acusatórias que formaram seu convencimento. 
A omissão parcial diz respeito a um ponto que deveria ser justificado e não o foi. Ex. O juiz não vislumbrou a hipótese de erro de proibição alegado pela defesa, mas não justificou. 
Atualmente, a fim de afastar anulações, a jurisprudência tem considerado grande parte dos casos de omissão parcial como “motivação sucinta, mas válida” e não como ausência parcial de motivação. 
A ausência de motivação, total ou parcial, acarreta nulidade absoluta da sentença. Consequência? Anula a decisão e impõe que outra seja proferida, de modo fundamentado. 
b)	Motivação implícita: ocorre quando o julgador, embora não tenha analisado todos os pontos colocados para decisão, de outros pontos abordados e fundamentados pode-se inferir como prejudicados os outros omitidos. 
Para que essa decisão seja válida, é preciso que haja uma relação de implicação necessária entre as questões resolvidas explicitamente e as não expressamente solucionadas. Uma questão exclui a outra por absoluta incompatibilidade. 
Ex. a decisão aceitou a tese de que o indivíduo matou de forma premeditada o outro, porque estava esperando-o, armado, no portão de sua casa. Rejeita, implicitamente, a tese da legítima defesa. 
Porém, o STF já aceitou motivação implícita em casos em que não necessariamente o acolhimento de uma tese exclui a outra. Ex. aceitou o latrocínio, rejeitando implicitamente a desclassificação do homicídio (o latrocínio é um homicídio também). 
Essa motivação é geralmente aceita pela jurisprudência, mas deve ser criticada. Conhecer o resultado a favor da acusação ou da defesa é, implicitamente, saber que o outro lado foi rejeitado. 
Não interessa conhecer o resultado, mas o seu porquê. NÃO EXISTE MOTIVAÇÃO IMPLÍCITA (É PARADOXAL) – motivar é expressar aquilo que está no âmbito interno. 
c)	Motivação per relationem: é aquela em que o magistrado não fornece SUAS razões de decidir, limitando-se a invocar os fundamentos de outro ato praticado (ex. alegações finais da defesa ou acusação). O juiz pode concordar integralmente com os argumentos de uma das partes, mas não pode fazê-lo de modo simplista, com mera referência ou cópia. Essa motivação não é admitida e causa nulidade da decisão. 
Qual é o meio para se alegar nulidade por ausência de motivação da decisão? Depende! Qual é a decisão? Recebimento da denúncia? Pronúncia? Sentença condenatória? 
Se é sentença, por exemplo, há possibilidade de embargos de declaração do artigo 382, tratando-se de omissão. Mas é comum que seja alegado em sede de apelação (quando a decisão omissa é proferida em primeiro grau)
 Princípio da duração razoável do processo
Art. 5º, LXXVIII
Foi inserido expressamente pela EC 45/2004
Porém, afirma-se que esse Direito já se encontrava em vigor no ordenamento jurídico brasileiro, antes da referida EC, porque já constava expressamente da Convenção Interamericana Sobre Direitos Humanos, assinada pelo Brasil e recepcionada por meio do art. 5º, §2º da CF. 
Há três critérios que devem ser considerados (utilizados pela Corte Interamericana de Direitos Humanos e pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos): 
1) complexidade do caso;
2) conduta processual do acusado;
3) conduta das autoridades judiciárias.
Instrução sem prazo determinado x instrução com prazo fixo. 
No Brasil, via de regra, não existe um prazo fixo, determinado para encerramento da instrução processual. Há, todavia, a possibilidade de fixação de prazo em determinados casos (ex. a primeira fase do procedimento do júri, tem o prazo de 90 dias para se encerrar – art. 412, CPP). 
Contudo, como não se regulamentou um sistema de sanções em caso de violação dessa norma constitucional (da duração razoável), acaba tornando-se ineficaz. 
A única consequência relevante em caso de demora processual é a revogação da prisão, quando o réu responde o processo preso (excesso de prazo). No entanto, inexiste qualquer forma de controle quando se trata de réu solto. 
Isso deveria ser regulamentado sobretudo porque, mesmo em se tratando de réu solto, geralmente há imposição de medidas cautelares alternativas à prisão (ex. monitoramento eletrônico, impossibilidade de se ausentar da comarca, entrega de passaporte, etc). 
Ademais, a própria existência do processo penal, no qual o indivíduo figura como réu ou acusado, já é uma carga muito pesada, se considerando que ele deverá suportar por um tempo demasiadamente extenso(não razoável).

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