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* JOGOS COOPERATIVOS E BRINCADEIRAS POPULARES SONIA MARIA SIQUEIRA TROTTE soniatrotte@globo.com * JOGOS COOPERATIVOS E BRINCADEIRAS POPULARES SONIA MARIA SIQUEIRA TROTTE * JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA Tizuko Morchida Kishimoto Cada contexto social constrói uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida. Qual a diferença entre jogo, brinquedo e brincadeira? O Jogo pode ser visto como: 1) resultado de um sistema lingüístico que funciona dentro de um contexto social; 2) um sistema de regras; 3) um objeto. * JOGO ENQUANTO FATO SOCIAL Assume a imagem,o sentido que cada sociedade lhe atribui. Depende do lugar e da época os jogos assumem significados distintos. Ex: arco e a flecha( brinquedos atuais), em certas culturas indígenas representavam instrumentos para a arte da caça e da pesca. Em tempos passados o jogo era visto como coisa não-séria. Já nos tempos do Romantismo, o jogo aparece como algo sério e destinado a educar a criança. * JOGO ENQUANTO UM SISTEMA DE REGRAS Permite identificar em qualquer jogo uma estrutura seqüencial que especifica sua modalidade. -Quando alguém joga está executando as regras do jogo e ao mesmo tempo desenvolvendo uma atividade lúdica. Ex: Xadrex tem regras explícitas diferentes do jogo de Damas. São as regras do jogo que distinguem jogar buraco ou tranca, usando o mesmo objeto. * O JOGO ENQUANTO OBJETO. O Xadrex se materializa no tabuleiro e nas peças que podem ser fabricadas com papelão, madeira,plástico, pedra ou metais. O pião confeccionado de madeira, plástico, etc., representa o objeto empregado na brincadeira de rodar o pião. Brinquedo: Diferindo do jogo o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança e uma indeterminação quanto ao seu uso. Característica: ausência de um sistema de regras que caracterizam a sua utilização. Ex: uma boneca permite a criança várias formas de brincadeiras. * O brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade, propõe um mundo imaginário da criança e do adulto, criador do objeto lúdico. o imaginário varia conforme a idade: para o pré-escolar e 3 anos está carregado de animismo, já de 5 a 6 anos integra predominantemente elementos da realidade. não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem uma dimensão material, cultural e técnica. é sempre suporte de brincadeira. É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil. * INFÂNCIA Idade do possível Pode-se projetar sobre ela a esperança de mudança, de transformação social e renovação moral. A imagem de infância é reconstituída pelo adulto por meio de um duplo processo: De um lado está associada a todo um contexto de valores e aspirações da sociedade e de outro lado, depende de percepções próprias do adulto, que incorporam memórias de seu tempo de criança. A infância expressa no brinquedo, contém o mundo real, com os seus valores, modos de pensar e agir e o imaginário do criador do objeto. Os jogos infantis despertam em nós adultos, o imaginário, a memória dos tempos passados. Por tais razões, o brinquedo contém sempre uma referência aos tempos de infância do adulto com representações veiculadas pela memória e imaginação. * E a brincadeira? O que é afinal? É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Dessa forma, brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo. * JOGO = “Fator de desenvolvimento” Por estimular a criança no exercício do pensamento, que pode desvincular-se das situações reais e levá-la a agir independentemente do que ela vê. JOGO = “Elemento básico para a mudança das necessidades e da consciência” Quando a criança joga, opera com com significado das suas ações, o que a faz desenvolver sua vontade e ao mesmo tempo tornar-se consciente das suas escolhas e decisões. (Abordagem crítico superadora = Metodologia do ensino de EF/ coletivo de autores, 1992) A RESPEITO DO JOGO * O JOGO COMO ELEMENTO DA CULTURA JOHAN HUIZINGA (HOMO LUDENS,1951:3-31) “O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço,segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentido de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida cotidiana” ”. (p.33) Características: prazer, caráter não-sério, a liberdade, separação dos fenômenos do cotidiano, as regras, o caráter fictício ou representativo, sua limitação no tempo e no espaço * Jogo para caillois Classificou o jogo em 4 categorias: A) jogos de competição B)jogos de acaso C) jogos de simulacro ou disfarces D) jogos de vertigem * Caillois considera no jogo Grau de liberdade que o envolve Espaço físico e de tempo delimitados Regras estabelecidas Improdutividade (não gera riquezas diretas) Incerteza no seu desdobramento Fuga à vida cotidiana * Prazer ou desprazer no jogo? A ênfase no objetivo do jogo acentua-se com o desenvolvimento da criança. Esse objetivo é o que decide o jogo, justifica a atividade e determina a atitude afetiva da criança. A preocupação e tensão em ganhar ou perder pode levá-la a perda de grande parte d o prazer do jogo. (Vygotsky, 1988) Vygotsky, 1988 “existem jogos nos quais a própria atividade não é agradável(...) jogos que só dão prazer `a criança se ela considerar o resultado interessante. * JOGO E EDUCAÇÃO Os jogos sempre estiveram associados à educação e a criança. Constituem uma forma de atividade do ser humano. Os jogos recreiam e educam ao mesmo tempo. A relação entre o jogo e a educação são antigas. Gregos e Romanos já falavam da importância do jogo para educar a criança. A partir do século XVIII que se expande a imagem da criança como ser distinto do adulto o brincar destaca-se como típico da idade. Inerente à função recreativa, encontramos na origem e desenvolvimento dos jogos a preocupação de transmitir aos mais novos determinados conhecimentos e formas de vida que constituem o saber coletivo. * Os nossos jogos fazem parte da nossa riqueza cultural que precisa ser conhecida e preservada. Os jogos, como elemento da nossa cultura, têm de manter-se vivos também e de fazer parte do nosso cotidiano, com um calendário próprio e adequado ao seu caráter. * BRINCADEIRAS E JOGOS As brincadeiras e jogos acompanham a criança no pré-escolar e penetram nas instituições infantis criadas a partir de então. A criança = ser bio-psico-social-cultural vista como membro do grupo social que pertence. Sua personalidade começa a consolidar-se: o autocontrole e a segurança interna começam a firmar-se. * A CRIANÇA SE DESENVOLVE DE ACORDO COM O CARÁTER DE SEUS JOGOS Que evoluem desde aqueles em que as regras encontram-se ocultas numa situação imaginária Ex: jogo de papai e mamãe (regras de comportamento de um pai e de uma mãe) Até os jogos de regras cada vez mais complexas (claras e precisas) e a situação imaginária é oculta Ex: Queimada (situação imaginária de uma guerra) * O jogo na escola Ajuda no desenvolvimento de regras na escola; Permite à criança a percepção da passagem do jogo para o trabalho. considera a memória lúdica da comunidade em que o estudante estiver inserido, Ir além: oferecendo-lhes o conhecimento de jogos das diversas regiões brasileiras e até de outros países/ culturas. É necessário estabelecer ações que ajudem os estudantes a relacionarem os jogos com sua cultura de origem. * Jogos Populares * Pressupostos As brincadeiras populares são um fenômeno histórico-social de irrefutável significação cultural de massa, independentementede gênero, ideologia, etnia, credo, raça, condições socio-econômicas etc.; * A reflexão e a prática da cultura corporal, quando adequadamente socializada e pedagogicamente encaminhada, constituem-se em privilegiado meio de formação da cidadania, identificada com valores democráticos; * Atualmente, por limitações óbvias, dificilmente encontraremos na Capital crianças brincando ou jogando na rua (espaço público). A violência, o trânsito, a falta de camaradagem entre vizinhos, impede a utilização do espaço público para a diversão. Hoje, as ruas são dos carros, postes, ladrões, camelôs e prostitutas. Daí a necessidade do resgate das brincadeiras de rua na escola. * Jogos cooperativos Origem e evolução Orlik(1982), surgiu há milhares de anos membros das comunidades tribais se uniam para celebrar a vida (séc. XVI, jogos de caráter cooperativo) sistematizados na década de 1950 (séc. XX) Estados Unidos (trabalho de Ted Lentz) Terry Orlick (universidade de Otawa/ Canadá), pesquisou a relação entre jogo e sociedade 1978 Terry Orlick “Vencendo a competição” A partir da déc. de 1980, Brasil : processo de difusão significativo em São Paulo : Fábio Otuzi Brotto (1997) * Jogos cooperativos “Nós não ensinamos nossas crianças a terem prazer em buscar o conhecimento, nós as ensinamos ase esforçarem para conseguir notas altas. Não as ensinamos a gostar dos esportes, mas a vencer jogos”. (Terry Orlick, 1989) * Terry Orlik Sobre os jogos Se os padrões das brincadeiras preparam as crianças para seus papéis como adultos, então será melhor nos certificarmos de que os papéis para os quais elas estão sendo preparadas sejam desejáveis(...) Portanto é viável introduzir comportamentos e valores por meio de brincadeiras e jogos, que com o tempo, poderão afetar a sociedade como um todo. Ao modificar o comportamento no jogo, estaremos criando possibilidades para transformar atitudes em nossa vida, além do jogo”. (1989) * atualmente Tanto a cooperação quanto a competição são comportamentos ensinados e aprendidos por intermédio das diversas formas de relacionamento humano * competição e cooperação Competição: processo de interação social com objetivos mutuamente exclusivos, ações isoladas ou em oposição, benefícios para alguns. Cooperação: processo de interação social com objetivos comuns, ações compartilhadas, benefícios para todos. * Somos competitivos por natureza? “O mundo é dos mais fortes” Teoria e seleção natural (Charles Darwin) Margareth Mead/ pesquisas povos indígenas Concluiu: o comportamento competitivo ou cooperativo dos povos indígenas é condicionado pela ênfase das estruturas dentro das sociedades. As metas que as pessoas perseguem e os meios que usam, são determinadas culturalmente. Os seres humanos não são competitivos por natureza. Aprendem socialmente, desde pequenos, comportamentos competitivos ou cooperativos. (Guilhermo Brown, 1987) * Novas alternativas para jogar Pode-se estimular o encontro (nós mesmos, com os outros, com o todo) Diminuir a distância que nos separa das pessoas Se é a estrutura social que nos leva a competir ou a cooperar, então só depende de nós. 1.Como ensinar a jogar Brotto(1999, p.20) Ciclo de ensinagem (dimensões): -Vivência -Reflexão -Transformação * Dimensões de ensino-aprendizagem jogos cooperativos Vivência= inclusão de todos, respeito a diferentes formas de participação Reflexão= possibilidades de modificar o jogo, flexibilidade Transformação= diálogo,decisão em grupo, experimentar as mudanças propostas, integração e transformação desejada Ação reflexão ação melhorada * Categorias dos jogos cooperativos Orlick 1989 1.Sem perdedores: -todos participam -único grande time -plenamente cooperativos Ex: 2. Resultado coletivo: duas ou mais equipes forte traço de cooperação dentro e entre as equipes objetivo de realizar metas comuns Ex: 3. Inversão: -noção de interdependência -jogadores trocam de times -rodízio (jogadores mudam de lado após situações pré-estabelecidas/ voleibol:depois de sacar ou um gol no futebol) * 3. Inversão: -inversão do goleador (jogador que marca o ponto passa p/ outro time) -inversão de placar( ponto conseguido é marcado para o outro time -inversão total( jogador que fez o ponto e o ponto conseguido passam p/ outro time) 4. Semi-cooperativos: -contexto de aprendizagem esportiva -adolescentes -oportunidade de jogar em diferentes posições -todos jogam, todos tocam e passam antes do ponto ser marcado -todos marcam ponto (para vencer todos fazem pelo menos um ponto) -todas as posições -passe misto (meninos e meninas) * 2. Criando novos grupos -formar, desfazer, e transformar grupos em times -oportunizar conhecer novas pessoas e formar novas parcerias 3. Transformando jogos conhecidos (jogo antigo e competitivo em cooperativo) 4. Criando um jogo cooperativo novo: -estabelecer o uso possível do jogo (p/ relaxar, quebra gelo,...) -estabelecer o destinatário do jogo (crianças, jovens, adultos, peq. ou grandes grupos, necessidades especiais...) -onde se pode jogar * OBRIGADA PELA ATENÇÃO E EXCELENTE FINAL DE SEMANA SONIA TROTTE * Tentar definir jogo não é tarefa fácil. * enquanto os jogos exigem de modo explícito ou implícito o desempenho de certas habilidades definidas por uma estrutura pré-existente no próprio objeto e suas regras. * A infância é também a idade do possível. Pode-se projetar sobre ela a esperança de mudança, de transformação social e renovação moral. A imagem de infância é reconstituída pelo adulto por meio de um duplo processo: e um lado está associada a todo um contexto de valores e aspirações da sociedade e de outro lado, depende de percepções próprias do adulto, que incorporam memórias de seu tempo de criança. * O JOGO É UMA INVENÇÃO DO HOMEM, UM ATO EM QUE SUA INTENCIONALIDAE E CURIOSIDADE RESULTAM NUM PROCESSO CRIATIVO PARA MODIFICAR IMAGINARIAMENTE A REALIDADE E O PRESENTE. O JOGO SATISFAZ NECESSIDADES DAS CRIAÇAS, ESPECIALMENTE A NECESSIDADE DE AÇÃO. PARA ENTENDER O AVANÇO DA CRIANÇA NO SEU DESENVOLVIMENTO, O P ROFESSOR DEVE CONHECER QUAIS AS MOTIVAÇÕES(PROCESSO INTRÍNSECO), TENDÊNCIAS E INCENTIVOS QUE A COLOCAM EM AÇÃO. * JOHAN HUIZINGA ao descrever o jogo como elemento da cultura, ele omite os jogos de animais e analisa apenas os jogos produzidos no meio social. * Ex: Queimada (situação imaginária de uma guerra onde uma equipe extermina a outra com tiros de bola. O imaginário da guerra vai sendo escondido pelas regras cada vez mais complexas, às quais os jogadores devem prestar o máximo de atenção). * cabe a escola socializar os indivíduos com o patrimônio científico e cultural produzido historicamente pela humanidade, de modo que os homens possam adquirir a autonomia necessária a sua interação e intervenção no processo de construção e direção da sociedade; * Construção social. * É a estrutura social que torna essa sociedade competitiva ou cooperativa. * A cooperação é um exercício, logo precisa ser praticada.
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