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Atratores para equações de reação-difusão em domínios arbitrários Henrique Barbosa da Costa Atratores para equações de reação-difusão em domínios arbitrários Henrique Barbosa da Costa Orientadora: Profa. Dra. Maria do Carmo Carbinatto Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação - ICMC-USP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências - Matemática . VERSÃO REVISADA USP – São Carlos Junho de 2012 SERVIÇO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO ICMC-USP Data de Depósito: 18/06/2012 Assinatura:________________________ ______ Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Prof. Achille Bassi e Seção Técnica de Informática, ICMC/USP, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a) C837a Costa, Henrique Barbosa da Atratores para equações de reação-difusão em domínios arbitrários / Henrique Barbosa da Costa; orientadora Maria do Carmo Carbinatto. -- São Carlos, 2012. 86 p. Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Matemática) -- Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo, 2012. 1. Atratores globais. 2. Equações parabólicas. 3. Equações de reação-difusão. 4. Estimativas de truncamento. I. Carbinatto, Maria do Carmo, orient. II. Título. “E aqueles que foram vistos danc¸ando foram julgados insanos por aqueles que na˜o podiam escutar a mu´sica”. Friedrich Nietzsche Agradecimentos Agradec¸o a minha famı´lia pelas horas passadas em casa, que sempre foram confortantes, independente do momento. Em especial a` minha ma˜e, que sempre me guiou e aconselhou nas encruzilhadas que passamos. Fico feliz em dizer que ela cumpriu bem o seu papel, que segundo ela mesma e´ “criar asas”para que possa ficar ta˜o longe da famı´lia e na˜o me sentir triste e “manter raı´zes”para que sempre saiba onde procurar conselhos e se sentir em casa. E agradec¸o ao meu pai pelos genes, afinal, a culpa por seguir esta profissa˜o tem que ser de algue´m. Agradec¸o aos meus irma˜os. A quem eu deveria servir de exemplo, por ser o primogeˆnito, mas que, a`s vezes, sinto que sa˜o mais exemplos para mim do que sou a eles. Agradec¸o a minha namorada, que sempre fez ta˜o bem pra mim, apesar da distaˆncia. Por me apoiar, sustentar e me amar apesar de todos pesares. Eu sei que e´ difı´cil, mas se fosse fa´cil, que grac¸a teria? Agradec¸o aos meus amigos. Os amigos de Sete Lagoas por serem meu escape. Como dizem, os amigos sa˜o a famı´lia que nos deixam escolher, e creio que escolhi meus irma˜os muito bem. E os amigos de Sa˜o Carlos que tornaram minha moradia aqui quase nada complicada, fazendo estudar matema´tica parecer fa´cil e divertido (talvez tenha exagerado um pouco aqui). Agradec¸o a` minha orientadora, Maria do Carmo Carbinatto, pela pacieˆncia, devoc¸a˜o e cui- dado. Por toda a orientac¸a˜o, que na˜o teria como ser melhor. Pelo fim dessa jornada me sinto orgulhoso em poder chama-la de amiga. Agradec¸o, por fim, a` FAPESP pela confianc¸a e apoio financeiro. Resumo Neste trabalho estudamos a dinaˆmica assinto´tica de uma classe de equac¸o˜es diferenciais de reac¸a˜o-difusa˜o definidas em abertos de R3 arbitra´rios, limitados ou na˜o, com condic¸o˜es de fronteira de Dirichlet. Utilizando a te´cnica de estimativas de truncamento, como nos artigos de Prizzi e Rybakowski, mostramos a existeˆncia de atratores globais. Palavras-chave: Atratores globais, equac¸o˜es parabo´licas, equac¸o˜es de reac¸a˜o-difusa˜o, estima- tivas de truncamento. Abstract In this work we study the asymptotic behavior of a class of semilinear reaction-diffusion equations defined on an arbitrary open set of R3, bounded or not, with Dirichlet boundary conditions. Using the tail-estimates technic based on papers of Prizzi and Rybakowski, we prove existence of global attractors. Key words: Global attractors, parabolic equations, reaction-diffusion equations, tail-estimates. Suma´rio Introduc¸a˜o 1 1 Preliminares 3 1.1 Medidas espectrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.2 Operadores de Nemytskiıˇ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.3 Medida de na˜o-compacidade de Kuratowski . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.4 Operadores m-dissipativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.5 Operadores setoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.6 Semifluxos e atratores globais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.7 Equac¸o˜es diferenciais parabo´licas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2 O problema linear 31 2.1 Um resultado de ana´lise funcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 2.2 Resultados auxiliares sobre espac¸os de poteˆncias fraciona´rias . . . . . . . . . . 34 2.3 O problema linear abstrato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3 O problema na˜o-linear 57 3.1 Estimativas na˜o-lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 i 3.2 A equac¸a˜o de evoluc¸a˜o abstrata . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 4 Dinaˆmica assinto´tica 69 4.1 Equac¸o˜es parabo´licas semilineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 4.2 Construc¸a˜o da func¸a˜o de Lyapunov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 4.3 Estimativas de truncamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 4.4 Compacidade assinto´tica e existeˆncia de atrator . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 5 Considerac¸o˜es finais 83 Refereˆncias bibliogra´ficas 85 ii Introduc¸a˜o A teoria de sistemas dinaˆmicos descreve fenoˆmenos que evoluem com o tempo. Dessa forma, sistemas dinaˆmicos servem de modelo para va´rias a´reas das cieˆncias aplicadas. Uma questa˜o que podemos colocar e´ entender o compartamento assinto´tico de um determinado sis- tema dinaˆmico. Neste contexto, podemos investigar a existeˆncia de conjuntos invariantes com determinadas propriedades ou, em particular, a existeˆncia de atratores globais. O papel dos atratores globais esta´ diretamente relacionado com o estudo da dinaˆmica assinto´tica dos siste- mas dinaˆmicos. A existeˆncia de um atrator global nos fornece a garantia de que o fenoˆmeno se aproxima de um padra˜o no futuro. Neste trabalho, estudamos uma classe de equac¸o˜es diferenciais parciais parabo´licas e apre- sentamos condic¸o˜es para existeˆncia de um atrator global. Mais especificamente, consideramos a seguinte equac¸a˜o de reac¸a˜o-difusa˜o semilinear ut +β (x)u−∑i, j ∂i(ai j(x)∂ ju) = f (x,u), t ≥ 0, x ∈Ω, u(x, t) = 0, t ≥ 0, x ∈ ∂Ω, (ERD) ondeΩ e´ um aberto arbitra´rio emRN (limitado ou na˜o), β : Ω→R e f : Ω×R→R sa˜o func¸o˜es dadas e Lu :=∑i, j ∂i(ai j(x)∂ ju) e´ o operador diferencial de segunda ordem na forma divergente. Existe uma vasta literatura tratando da existeˆncia de atratores para equac¸o˜es de reac¸a˜o- difusa˜o em domı´nios limitados (ver, por exemplo, os livros [14], [2], [7], [17] e [23]). Neste caso, a compacidade assinto´tica das soluc¸o˜es e´ obtida da compacidade da inclusa˜o de Sobolev H1(Ω)⊂ L2(Ω). Para caso de domı´nios na˜o limitados, esta inclusa˜o na˜o e´ compacta e necessitamos de ou- tras ferramentas para obter a propriedade da compacidade assinto´tica das soluc¸o˜es. Nos traba- lhos [3], [1], [21], [24] os autores mostram a existeˆncia de atrator global para uma equac¸a˜o de 1 2 reac¸a˜o-difusa˜o definida em um domı´nio na˜o limitado. O objetivo deste trabalho e´apresentar o trabalho desenvolvido em [21]. Em [21], os autores mostram a existeˆncia de atrator global para a equac¸a˜o parabo´lica (ERD) definida em um domı´nio Ω na˜o limitado de R3 (isto e´, N = 3) sem supor qualquer condic¸a˜o de regularidade na fronteira ∂Ω de Ω ou nas func¸o˜es ai j(·). No trabalho, os autores exploram da te´cnica de estimativas de truncamento desenvolvida por Wang em [24] e o fato de que a equac¸a˜o do calor admite um funcional de Lyapunov. Observamos que sem hipo´teses de regularidade sobre ∂Ω e em ai j(·) na˜o e´ possı´vel estudar (ERD) em Lq(Ω) com q 6= 2. Isso se da´ porque na˜o podemos usar a teoria de regularidade das equac¸o˜es elı´pticas para caracterizar os espac¸os de poteˆncias fraciona´rias gerados pelo operador −L+β (x)I. Contudo, de modo a trabalhar em L2(Ω), devemos impor condic¸o˜es de crescimento em f . No caso particular em que N = 3 o expoente crı´tico e´ ρ = 5. Para descrever o trabalho [21] organizamos a apresentac¸a˜o como segue. No Capı´tulo 1 enumeramos alguns conhecimentos preliminares importantes que foram estudados para o de- senvolvimento do trabalho. No Capı´tulo 2 apresentamos as Hipo´teses (HL1), (HL2) e (HL3). Com estas hipo´teses o operador u 7→ −Lu+ β (x)u define um operador positivo auto-adjunto A : D(A) ⊂ X → X , onde X = L2(Ω). Apresentamos as propriedades importantes do operador A e construı´mos uma famı´lia de operadores auto-adjuntos A(α), α ∈ R tal que A(α) : Xα → Xα−1. No Capı´tulo 3 apresentamos a Hipo´tese (HNL) e determinamos um α ∈ [0,1) tal que a partir uma func¸a˜o f satisfazendo Hipo´tese (HNL) obtemos um operador de Nemytskiıˇf : H10 (Ω)→ X−α . Munido dos resultados sobre equac¸o˜es parabo´licas apresentados no Capı´tulo 1 obtemos que (ERD) gera um semifluxo global pi em H10 (Ω). Finalmente, no Capı´tulo 4, demonstramos o principal resultado deste trabalho que diz que assumindo as Hipo´teses (HL1), (HL2), (HL3) e (HNL), o semifluxo pi possui um atrator global (ver Teorema 4.4.2). Capı´tulo 1 Preliminares Neste capı´tulo apresentamos os diversos conceitos e resultados ba´sicos estudados. 1.1 Medidas espectrais As refereˆncias [10] e [16] foram consultadas para esta sec¸a˜o. A teoria espectral para operadores fechados tem como objetivo representar operadores li- neares fechados de um modo mais simples. Se X e´ um espac¸o de Banach e A : D(A)⊂ X → X e´ um operador linear fechado, o elemento principal dessa teoria e´ o espectro do operador A, σ(A). Outra consequeˆncia importante da teoria espectral, ale´m de escrever o operador de forma mais simples, e´ o ca´lculo operacional. Com o ca´lculo operacional podemos “aplicar” func¸o˜es a operadores lineares. Isso e´, se A e´ um operador linear fechado e f : R→ R tem certas proprie- dades, poderemos definir f (A) que sera´ um operador linear limitado emL (X) = {B : X → X | B e´ linear e limitado}. As medidas espectrais ou famı´lias espectrais se encontram nesse contexto. Quando X e´ um espac¸o de Hilbert e A e´ um operador auto-adjunto podemos definir uma famı´lia de subespac¸os de X que se relaciona de modo biunı´voco com o operador A. E´ possı´vel tambe´m aplicar o ca´lculo operacional para estas famı´lias e realizar o ca´lculo de func¸o˜es de operadores. No caso particular estudado aqui, o ca´lculo operacional sera´ importante na gerac¸a˜o das famı´lias de espac¸os de 3 4 1. Preliminares poteˆncias fraciona´rias de X . Dessa forma, no que segue X denota um espac¸o de Hilbert com produto interno 〈·, ·〉X . Vamos enta˜o, definir de uma forma mais abstrata, o conceito de famı´lia espectral. Seja {Eλ}λ∈R uma famı´lia de projec¸o˜es ortogonais em X . Dado x ∈ X definimos E−∞x = lim λ→−∞ Eλ x, E+∞x = lim λ→∞ Eλ x e Eλ+0x = lim ε→0+ Eλ+εx. Definic¸a˜o 1.1.1. Uma famı´lia {Eλ}λ∈R de projec¸o˜es ortogonais em X e´ chamada uma famı´lia espectral ou resoluc¸a˜o da identidade se satisfaz as condic¸o˜es: (i) Eλ ◦Eµ = Emin{λ ,µ}, para todo λ , µ ∈ R. (ii) E−∞ = 0 e E+∞ = I. (iii) Eλ+0 = Eλ para todo λ ∈ R. Observamos que os limites acima sa˜o tomados na norma de X . Proposic¸a˜o 1.1.2. Seja {Eλ}λ∈R uma famı´lia espectral em X. Enta˜o para todo u, v ∈ X a func¸a˜o λ ∈ R 7→ 〈Eλu,v〉X ∈ R (1.1.1) e´ uma func¸a˜o de variac¸a˜o limitada em todo intervalo limitado da reta. Ale´m disso, sua variac¸a˜o total V (λ ;u,v) satisfaz V (λ ;u,v)≤ |u||v|, para todo u, v ∈ X e λ ∈ R. Sejam [α,β ] ⊂ R um intervalo fechado de R, f : R→ C uma func¸a˜o e u ∈ X . Considere uma partic¸a˜o pi = {α = λ1,λ2, . . . ,λn = β} do intervalo [α,β ]. Defina a norma de pi por ‖pi‖= max j∈{1,...,n} |λ j+1−λ j|. 1. Preliminares 5 Para cada j ∈ {1, . . . ,n} seja λ ′j ∈ (λ j,λ j+1]. A soma n ∑ j=1 f (λ ′j)(Eλ j+1−Eλ j)u e´ chamada a soma de Riemann da func¸a˜o f com relac¸a˜o a` partic¸a˜o pi . Proposic¸a˜o 1.1.3. Com a notac¸a˜o introduzida acima, suponha que f : R→C seja uma func¸a˜o contı´nua. O limite forte em X lim pi→0 n ∑ j=1 f (λ ′j)(Eλ j+1−Eλ j)u (1.1.2) existe, para qualquer que seja a escolha de λ ′j no intervalo (λ j,λ j+1], j ∈ {1, . . . ,n}. Denotamos o limite (1.1.2) por ∫ β α f (λ )dEλu. Se u ∈ X e f : R→ C e´ uma func¸a˜o contı´nua tal que os limites (forte em X) lim α→−∞ ∫ β α f (λ )dEλu e lim β→∞ ∫ β α f (λ )dEλu existem, dizemos que a integral ∫ +∞ −∞ f (λ )dEλu existe. Teorema 1.1.4. Sejam u ∈ X e f : R→ C uma func¸a˜o contı´nua. As seguintes afirmativas sa˜o equivalentes: (i) ∫ +∞ −∞ f (λ )dEλu existe. (ii) ∫ +∞ −∞ | f (λ )|2d|Eλu|2 < ∞. (iii) A aplicac¸a˜o v 7→ F(v) := ∫ +∞ −∞ f (λ )d〈Eλ v,u〉X e´ um funcional linear contı´nuo. Teorema 1.1.5. Seja f : R→ R uma func¸a˜o contı´nua. Defina o seguinte subconjunto de X: D = { u ∈ X | ∫ +∞ −∞ | f (λ )|2d|Eλu|2 < ∞ } . 6 1. Preliminares Enta˜o D e´ denso em X. Definimos operador por 〈Tu,v〉X = ∫ +∞ −∞ f (λ )d〈Eλu,v〉X , u ∈ D e v ∈ X. (1.1.3) Enta˜o T e´ um operador auto-adjunto em X com domı´nio D(T ) = D. Com a notac¸a˜o do Teorema 1.1.5, para o caso particular em que f (λ ) = λ , λ ∈R, definimos 〈Au,v〉X = ∫ +∞ −∞ λd〈Eλu,v〉X , para u ∈ D(A)⊂ X e v ∈ X , onde D(A) = { u ∈ X | ∫ +∞ −∞ λ 2d|Eλ x|2 < ∞ } . No que segue o operador A sera´ denotado, simbolicamente, por A = ∫ +∞ −∞ λdEλ (1.1.4) e chamamos (1.1.4) a representac¸a˜o espectral do operador auto-adjunto A no espac¸o de Hilbert X. Reciprocamente, se A : D(A)⊂ X → X e´ um operador linear auto-adjunto, podemos definir uma famı´lia espectral {Eλ}λ∈R correspondente ao operador A. Descrevemos esta conexa˜o no Teorema Espectral a seguir. Teorema 1.1.6 (Teorema Espectral). Sejam X um espac¸o de Hilbert complexo e A : D(A)⊂X→ X um operador auto-adjunto. Enta˜o existe uma u´nica famı´lia espectral {Eλ}λ∈R associada ao operador A. Ale´m disso para cada λ ∈ R e ξ ∈ C/R temos 〈(ξ −A)−1u,v〉X = ∫ +∞ −∞ 1 ξ −λ d〈Eλu,v〉X , para todo u, v ∈ X . Finalmente obtemos Corola´rio 1.1.7. Sejam X um espac¸o de Hilbert e A um operador auto-adjunto em X. Existe 1. Preliminares 7 uma u´nica famı´lia espectral {Eλ}λ∈R tal que 〈Au,v〉X = ∫ R λd〈Eλu,v〉X , Au = ∫ R λdEλu. Concluı´mos observando que existe uma correspondeˆncia entre operadores auto-adjuntos no espac¸o de Hilbert X e famı´lias espectrais. Dessa maneira, analogamente ao Teorema 1.1.4, podemos definir os operadores f (A). Se f for uma func¸a˜o em R a valores complexos limitada em σ(A), o espectro de A, enta˜o f (A) e´ um operador linear limitado em X e, ainda, ‖ f (A)‖ ≤ sup λ∈σ(A) | f (λ )|. Escrevemos, anolagamente a` equac¸a˜o (1.1.4) e ao Corola´rio 1.1.7, f (A) = ∫ +∞ −∞ f (λ )dEλ . (1.1.5) f (A)u = ∫ +∞ −∞ f (λ )dEλu, para todo u ∈ X . (1.1.6) 1.2 Operadores de Nemytskiıˇ Para os conceitos apresentadose demonstrac¸o˜es dos resultados enunciados, sugerimos [12]. Sejam N ≥ 1 um nu´mero natural e Ω ⊂ RN um subconjunto aberto de RN . Dizemos que f : Ω×R→ R e´ uma func¸a˜o de Carathe´odory se 1) para cada s ∈ R, a func¸a˜o Ω 3 x 7→ f (x,s) e´ (Lebesgue) mensura´vel e 2) para q.t.p. x ∈Ω, a func¸a˜o R 3 s 7→ f (x,s) e´ contı´nua em R. Denotemos porM o conjunto das func¸o˜es mensura´veis de Ω em R. Teorema 1.2.1. Se f : Ω×R→ R e´ uma func¸a˜o de Carathe´odory, enta˜o a func¸a˜o Ω 3 x 7→ f ( x,u(x) ) e´ mensura´vel para todo u ∈M . 8 1. Preliminares Portanto, uma func¸a˜o de Carathe´odory f define uma aplicac¸a˜o f̂ : M →M , chamada aplicac¸a˜o de Nemytskiıˇ. Muitos resultados importantes requerem que o subconjunto Ω de RN seja limitado e como na˜o estamos nos restringindo a apenas este caso enumeramos apenas alguns resultados que na˜o necessitem desta restric¸a˜o em Ω. Teorema 1.2.2. Seja Ω um subconjunto aberto de RN e seja f : Ω×R→ R uma func¸a˜o de Carathe´odory. Suponhamos que existam c > 0, b ∈ Lq(Ω), 1≤ q≤ ∞, e r > 0 tais que | f (x,s)| ≤ c|s|r +b(x), para todo x ∈Ω e s ∈ R. Enta˜o f̂ : Lqr(Ω)→ Lq(Ω) e´ uma func¸a˜o contı´nua. Ale´m disso a imagem de subconjuntos limitados e´ um conjunto limitado. E´ impressionante saber que a condic¸a˜o suficiente do Teorema 1.2.2 e´ tambe´m necessa´ria para um func¸a˜o de Carathe´odory definir uma aplicac¸a˜o de Nemytskiıˇ. Mais precisamente temos: Teorema 1.2.3. Seja Ω um subconjunto aberto de RN e seja f : Ω×R→ R uma func¸a˜o de Carathe´odory. Suponhamos que existam p, q ∈ [1,∞) tais que f̂ : Lp(Ω)→ Lq(Ω). Enta˜o existem c > 0 e b ∈ Lq(Ω) tais que | f (x,s)| ≤ c|s|p/q+b(x), para todo x ∈Ω e s ∈ R. Para nossos objetivos precisamos, ainda, de condic¸o˜es que garantam a diferenciabilidade da aplicac¸a˜o de Nemytskiıˇ. Para isso enunciamos o seguinte resultado sobre diferenciac¸a˜o. Teorema 1.2.4. Seja Ω um subconjunto aberto de RN e seja f : Ω×R→ R uma func¸a˜o de Carathe´odory. Suponhamos que existam c > 0, b ∈ Ln(Ω), 1≤ n≤ ∞ e m > 0 tais que∣∣∣∣∂ f∂ s (x,s) ∣∣∣∣≤ c|s|m+b(x), para todo x ∈Ω e s ∈ R. Enta˜o as aplicac¸o˜es de Nemytskiıˇ f̂ : Lp(Ω)→ Lq(Ω) e f̂ ′ : Lp(Ω)→ Ln(Ω), onde f ′ = ∂ f ∂ s , p=mn, q= mn m+1 , esta˜o bem definidas. Mais ainda f̂ e´ continuamente Fre´chet 1. Preliminares 9 diferencia´vel com D f̂ : Lp(Ω)→L (Lp(Ω),Lq(Ω)) definida por D f̂ (u)[v] = f̂ ′(u)v = f ′(·,u(·))v(·)), para todo u,v ∈ Lp(Ω). 1.3 Medida de na˜o-compacidade de Kuratowski Nosso objetivo nesta sec¸a˜o e´ definir uma medida que nos mostre, dado um subconjunto limitado de um espac¸o de dimensa˜o infinita, o qua˜o “na˜o-compacto” e´ este conjunto. Uma refereˆncia para o to´pico e´ [11]. Seja X um espac¸o de Banach e denote por B o conjunto dos subconjuntos limitados em X . No que segue dado um subconjunto A de X , diam(A) denota o diaˆmetro do conjunto A. A bola aberta de centro em a ∈ X e raio r > 0 e´ denotada por B(a,r). Dado A ∈B definimos βK(A) = inf { d > 0 | A⊂ n⋃ j=1 K j com diam(K j)≤ d, j ∈ {1, . . . ,n} } . A aplicac¸a˜o βK : B → [0,∞) e´ chamada a medida de na˜o-compacidade de Kuratowski. Dado A ∈B podemos tambe´m definir βB(A) = inf { r > 0 | existem a j ∈ X , j ∈ {1, . . . ,n}, tais que A⊂ n⋃ j=1 B(a j,r) } . A aplicac¸a˜o βB : B→ [0,∞) e´ chamada a medida de na˜o-compacidade por bolas. Com estas medidas definidas seguem os resultados que sera˜o importantes no decorrer do trabalho. Proposic¸a˜o 1.3.1. Suponha que X seja um espac¸o de Banach de dimensa˜o infinita e seja B a famı´lia de limitados de X e β : B→ [0,∞) a medida de na˜o-compacidade de Kuratowski ou a medida de na˜o-compacidade por bolas. Enta˜o (i) β (A) = 0 se, e somente se, A e´ compacto. (ii) β e´ uma seminorma. 10 1. Preliminares (iii) Sejam A1, A2 ∈ B tais que A1 ⊆ A2. Enta˜o β (A1) ≤ β (A2) e β (A1 ∪ A2) = max{β (A1),β (A2)}. (iv) β (convA) = β (A), para todo A ∈B. Aqui convA denota a envolto´ria convexa de A. (v) β e´ contı´nua com respeito a distaˆncia de Hausdorff dH dada por dH(A1,A2) = max { sup x∈A1 inf y∈A2 |x− y|, sup x∈A2 inf y∈A1 |x− y| } , A1, A2 ∈B. Em particular, β (A) = β (A). 1.4 Operadores m-dissipativos Nesta sec¸a˜o definiremos os chamados operadores dissipativos e m-dissipativos. Tais ope- radores sa˜o usualmente encontrados em exemplos e possuem boas propriedades para nossos objetivos. As demonstrac¸o˜es dos resultados apresentados podem ser encontradas em [6]. No que segue considere X um espac¸o de Banach. Definic¸a˜o 1.4.1. Um operador A : D(A)⊂ X → X em X e´ dito dissipativo se |u−λAu| ≥ |u|, para todo u ∈ D(A) e todo λ > 0. Definic¸a˜o 1.4.2. Um operador A : D(A) ⊂ X → X em X e´ dito m-dissipativo se as seguintes condic¸o˜es esta˜o satisfeitas: (i) A e´ dissipativo; (ii) para todo λ > 0 e para todo v ∈ X, existe u ∈ D(A) tal que u−λAu = v. A proposic¸a˜o a seguir oferece uma condic¸a˜o necessa´ria e suficiente para que um operador dissipativo seja tambe´m m-dissipativo. Proposic¸a˜o 1.4.3. Seja A : D(A)⊂ X → X um operador dissipativo em X. As seguintes propri- edades sa˜o equivalentes: (i) A e´ m-dissipativo em X. 1. Preliminares 11 (ii) Existe um λ0 > 0 tal que para todo v ∈ X, a equac¸a˜o u−λ0Au = v possui uma soluc¸a˜o u ∈ D(A). Agora, vamos restringir ao caso em que X e´ um espac¸o de Hilbert e analisar o conceito de dissipatividade e m-dissipatividade. Seja X um espac¸o de Hilbert. O produto interno definido em X sera´ denotado por 〈·, ·〉. No que segue dado A : D(A) ⊂ X → X um operador linear densamente definido, o seu operador adjunto sera´ denotado por A∗. Apresentamos um crite´rio de dissipatividade para operadores definidos em espac¸os de Hil- bert: Proposic¸a˜o 1.4.4. Um operador A : D(A) ⊂ X → X e´ dissipativo em X se, e somente se, 〈Au,u〉 ≤ 0, para todo u ∈ D(A). Uma consequeˆncia importante e´ o seguinte Corola´rio 1.4.5. Seja A : D(A)⊂X→ X um operador m-dissipativo em X. Enta˜o D(A) e´ denso em X. Os resultados a seguir relacionam operadores dissipativos e m-dissipativos com o operador adjunto e operadores auto-adjuntos. Teorema 1.4.6. Seja A : D(A)⊂ X → X um operador linear densamente definido e dissipativo em X. Enta˜o A e´ m-dissipativo se, e somente se, A e´ um operador fechado e A∗ e´ um operador dissipativo. Corola´rio 1.4.7. Seja A : D(A)⊂ X → X um operador auto-adjunto em X tal que 〈Au,u〉 ≤ 0, para todo u ∈ D(A). Enta˜o A e´ m-dissipativo. Proposic¸a˜o 1.4.8. Seja A : D(A) ⊂ X → X um operador sime´trico e densamente definido tal que 〈Au,u〉 ≤ 0 para todo u ∈ D(A) em X. Enta˜o A e´ m-dissipativo se, e somente se, A e´ auto-adjunto. 1.5 Operadores setoriais Operadores setoriais teˆm uma relevaˆncia muito grande no estudo dos semigrupos linea- res, pois estes sa˜o geradores dos conhecidos semigrupos analı´ticos que possuem inu´meras aplicac¸o˜es no estudo das equac¸o˜es diferenciais parciais parabo´licas. 12 1. Preliminares Nesta sec¸a˜o faremos uma breve exposic¸a˜o dos operadores setorias e apresentamos as notac¸o˜es e resultados que sera˜o utilizados no texto. Em [7], [8] e [15] encontramos mais deta- lhes sobre o assunto. Iniciamos recordando algumas definic¸o˜es e resultados da teoria geral de semigrupos. Nesta sec¸a˜o X denota um espac¸o de Banach e denotamos por L (X) o conjunto dos opera- dores lineares limitados de X em X . Definic¸a˜o 1.5.1. Um semigrupo de operadores linerares ou um C0-semigrupo e´ uma famı´lia de operadores lineares {T (t) | t ≥ 0} emL (X) que satisfaz as seguintes propriedades: (i) T (0)x = x, para todo x ∈ X. (ii) T (t+ s)x = T (t)T (s)x, para todo s, t ≥ 0 e x ∈ X. (iii) T (t)x→ x, quando t→ 0+, para todo x ∈ X. Definic¸a˜o 1.5.2. Um semigrupo uniformemente contı´nuo de operadores e´ uma famı´lia de ope- radores lineares {T (t)| t ≥ 0} emL (X) que satisfaz as seguintes propriedades: (i) T (0)x = x, para todo x ∈ X. (ii) T (t+ s)x = T (t)T (s)x, para todo s, t ≥ 0 e x ∈ X. (iii) ‖T (t)− I‖→ 0, quando t→ 0+, para todo x ∈ X. E´ claro que todo semigrupo uniformemente contı´nuo de operadores e´ um C0-semigrupo. Teorema 1.5.3. Seja {T (t) | t ≥ 0} um C0-semigrupo em X. Enta˜o existem constantes ω ≥ 0 e M ≥ 1 tais que ‖T (t)‖ ≤Meωt , para todo t ∈ [0,∞). O resultado acima nos mostra que um C0-semigrupo e´ uniformemente limitado em interva- los limitados da reta. Corola´rio 1.5.4. Se {T (t) | t ≥ 0} e´ um C0-semigrupo em X, enta˜o [0,∞)×X 3 (t,x) 7→ T (t)x∈ X e´ uma aplicac¸a˜o contı´nua. 1. Preliminares 13 Seja {T (t) | t ≥ 0} um C0-semigrupo em X e considere o conjunto D = { x ∈ X | lim t→0+ T (t)x− x t existe } . Definimos o operador linear A : D(A)⊂ X → X , onde D(A) = D e Ax = lim t→0+ T (t)x− x t , para x ∈ D(A). O operador A definido acima e´ chamado gerador infinitesimal do semigrupo {T (t)) | t ≥ 0} em X . Teorema 1.5.5. Sejam {T (t) | t ≥ 0} um C0-semigrupo em X e A : D(A)⊂ X → X seu gerador infinitesimal. As seguintes propriedades sa˜o satisfeitas: 1. lim h→0+ 1 h ∫ t+h t T (τ)dτ = T (t)x, para todo x ∈ X, t ∈ [0,∞). 2. ∫ t 0 T (τ)xdτ ∈ D(A) e A(∫ t 0 T (τ)xdτ ) = T (t)x− x, para todo x ∈ X, t ∈ [0,∞). 3. T (t)x ∈D(A), se x ∈D(A) e t ∈ [0,∞). Ale´m disso, para x ∈D(A), a func¸a˜o [0,∞) 3 t 7→ T (t)x ∈ X e´ diferencia´vel e d dt T (t)x = AT (t)x = T (t)Ax. 4. T (t)x−T (s)x = ∫ t s T (τ)Axdτ = ∫ t s AT (τ)xdτ , para x ∈ D(A) e t, s ∈ [0,∞), com s≤ t . Corola´rio 1.5.6. Se A : D(A) ⊂ X → X denota o gerador infinitesimal de um C0-semigrupo {T (t) | t ≥ 0}, enta˜o A e´ um operador linear fechado e D(A) = X. Passamos a` definic¸a˜o de operadores setorias e listaremos alguns resultados importantes. Dados α ∈ R e φ ∈ (0,pi/2), definimos o setor Sα,φ do plano complexo por Sα,φ := {λ ∈ C | φ ≤ |arg(λ −α)| ≤ pi,λ 6= α}. Um operador linear fechado A : D(A) ⊂ X → X densamente definido em X e´ dito um ope- rador setorial em X se existirem constantes α ∈ R, φ ∈ (0,pi/2) e M > 0 tais que 14 1. Preliminares (i) ρ(A) conte´m o setor Sα,φ , (ii) para cada λ ∈ Sα,φ vale a estimativa ‖(λ −A)−1‖ ≤ M|λ −α| . Proposic¸a˜o 1.5.7. Seja A : D(A)⊂ X → X um operador linear fechado e densamente definido em X. As seguintes afirmativas sa˜o equivalentes: (a) A+ωI e´ um operador setorial em X para algum ω ∈ R. (b) A+ωI e´ um operador setorial em X para todo ω ∈ R. (c) Existem constantes k, ω ∈ R tais que o conjunto ρ(Aω) conte´m o semiplano {λ ∈ C | reλ ≤ k} e ‖λ (λ I−Aω)−1‖ ≤M, para todo reλ ≤ k. Aqui, Aω := A+ωI. Suponhamos que {T (t) | t ≥ 0} seja um C0-semigrupo de operadores lineares em X e que existem um setor do plano complexo ∆φ = {z ∈ C | |argz|< φ}, com 0 < φ ≤ pi/2, e uma famı´lia {T (z) | z∈∆φ} de operadores emL (X) que coincide com T (t) para z= t ∈ [0,∞) e tal que (i) a aplicac¸a˜o z 7→ T (z) e´ analı´tica em ∆φ\{0}, (ii) T (z1+ z2) = T (z1)T (z2), se z1,z2 ∈ ∆φ , (iii) para todo x ∈ X , lim z→0 z∈∆φ T (z)x = x. O C0-semigrupo {T (t) | t ≥ 0} e´ chamado semigrupo analı´tico (fortemente contı´nuo). Lema 1.5.8. Seja {T (t) | t ≥ 0} um semigrupo analı´tico em ∆φ , com 0 < φ ≤ pi/2. Existem M ≥ 1 e ω ≥ 0 tais que ‖T (z)‖ ≤Meω rez, z ∈ ∆φ . 1. Preliminares 15 O teorema a seguir caracteriza os geradores de semigrupos analı´ticos e uma prova detalhada pode ser encontrada em [8]. Teorema 1.5.9. Seja A : D(A)⊂ X→ X um operador linear fechado e densamente definido. As seguintes afirmativas sa˜o equivalentes: (i) A e´ o gerador infinitesimal de um semigrupo analı´tico. (ii) −A e´ um operador setorial em X. Lema 1.5.10. Seja 0 < φ ≤ pi/2. Seja {T (t) | t ≥ 0} um semigrupo analı´tico no setor ∆φ = {z ∈ C | |argz|< φ}, tal que para constantes C ≥ 1 e a ∈ R, ‖T (z)‖ ≤Ce−a rez, z ∈ ∆φ e suponha que A : D(A) ⊂ X → X seja seu gerador infinitesimal. As seguintes propriedades esta´o satisfeitas: (1) T (z) = 1 2pii ∫ Γ eλ z(λ −A)−1dλ , para z ∈ ∆Φ\{0}, onde Γ e´ a curva consistente dos se- guintes segmentos orientados conforme a parametrizac¸a˜o: Γ1 = {−a− re−i(pi/2+φ) | −∞< r ≤ 1}; Γ2 = {−a+ eiψ | −pi/2−φ ≤ ψ ≤ pi/2+φ}; Γ3 = {−a+ rei(pi/2+φ) | 1≤ r < ∞}. (2) Para todo 0 < ε < φ e x ∈ X, temos T (z)x→ x, se z→ 0 e z ∈ ∆φ−ε . (3) Se t > 0, enta˜o T (t)x ∈ D(A) para todo x ∈ X e d dt T (t)x = AT (t)x, para todo x ∈ X. Nosso intuito agora e´ definirmos as poteˆncias fraciona´rias que sa˜o elementos importantes no estudo das equac¸o˜es parabo´licas e suas soluc¸o˜es. Definic¸a˜o 1.5.11. Um operador A : D(A)⊂ X → X sera´ dito operador positivo se as seguintes condic¸o˜es forem satisfeitas: 16 1. Preliminares (i) A e´ um operador fechado e densamente definido, (ii) (−∞,0]⊂ ρ(A) e (iii) existe um N ≥ 1 tal que ‖(s−A)−1‖ ≤ N 1+ |s| , para todo s≤ 0. O operador A da definic¸a˜o acima tambe´m e´ dito operador positivo do tipo N, onde N e´ como em (iii). Lema 1.5.12. Suponha que A : D(A) ⊂ X → X seja um operador positivo do tipo N. Enta˜o o setor ΣN = { λ ∈ C | existe um s≤ 0 tal que |λ − s| ≤ 1+ |s| 2N } esta´ contido em ρ(A). Ale´m disso ‖(λ −A)−1‖ ≤ 2N+1 1+ |λ | ,para todo λ ∈ ΣN . Nas condic¸o˜es do Lema 1.5.12 pode ser mostrado que{ λ ∈ C | |argλ | ≥ pi− arcsen 1 2N } ∪ { λ ∈ C | |λ | ≤ 1 2N } ⊂ ΣN . Lema 1.5.13. Seja A : D(A)⊂ X→ X um operador positivo do tipo N. Para cada z ∈C tal que rez≤ 0, definimos B(z) = −1 2pii ∫ Γ λ z(λ −A)−1dλ , (1.5.1) onde Γ e´ a curva em ΣN\(−∞,0] que consiste dos treˆs segmentos Γ1 = { −se−iθ | s ∈ (−∞,−1/(4N)) } , Γ2 = { (1/(4N))eiψ | |ψ| ≤ θ} , Γ3 = { seiθ | s ∈ [1/(4N),∞) } , onde θ ∈ [pi − arcsen(1/(2N)),pi), orientada pela parametrizac¸a˜o. Enta˜o para z fixado B(z) esta´ bem definida, isto e´, na˜o depende da escolha de θ . Ale´m disso, B(z) ∈L (X) para todo z ∈ C com rez < 0 e tambe´m, a aplicac¸a˜o z 7→ B(z) e´ analı´tica em {z ∈ C | rez < 0}. 1. Preliminares 17 Note que, o Teorema de Cauchy implica que podemos modificar o comportamento de Γ em torno do 0 ∈ C. E, com o Lema 1.5.13, podemos definir as poteˆncias fraciona´rias de um operador positivo, se rez < 0. Definic¸a˜o 1.5.14. Seja A : D(A)⊂ X → X um operador positivo do tipo N. Para z ∈Π0 = {z ∈ C | rez < 0}, definimos Az := −1 2pii ∫ Γ λ z(λ −A)−1dλ ∈L (X), (1.5.2) onde Γ e´ dada como no Lema 1.5.13 com θ ∈ [pi− arcsen(1/(2N)),pi). No que segue utilizaremos a notac¸a˜o A0 = I, onde I denota a a aplicac¸a˜o identidade em X . Proposic¸a˜o 1.5.15. Seja A : D(A)⊂ X → X um operador positivo. Enta˜o (i) Az1+z2 = Az1 ◦Az2 , para quaisquer z1,z2 ∈Π0∪{0}. (ii) Para n ∈ N, temos A−n = (A−1)n, onde A−1 denota a inversa de A. (iii) Az e´ injetor, para cada z ∈ C com rez < 0. Segue da Proposic¸a˜o 1.5.15 que podemos definir as poteˆncias fraciona´rias de um operador positivo quando rez > 0. Definic¸a˜o 1.5.16. Seja A : D(A)⊂ X → X um operador positivo. Definimos Az = (A−z)−1 : R(A−z)⊂ X → X , para z ∈ C com rez > 0. Podemos tambe´m definir a poteˆncia fraciona´ria de um operador positivo quando rez = 0, pore´m este caso na˜o sera´ importante nos nossos estudos e portanto na˜o sera´ retratado nesta sec¸a˜o. Abaixo, enumeramos fatos importantes sobre as poteˆncias fraciona´rias de um operador positivo. Teorema 1.5.17. Seja A : D(A)⊂ X → X um operador positivo. As seguintes propriedades sa˜o satisfeitas: 18 1. Preliminares (1) Az e´ um operador fechado em X, para todo z ∈ C, com rez > 0, (2) se z1,z2 ∈ C, com rez1 > rez2 > 0, enta˜o D(Az1)⊂ D(Az2)⊂ X, (3) para cada z ∈ C, com rez > 0, temos D(Az) = X. Dizemos que um operador A : D(A)⊂ X→ X e´ um operador setorial positivo se A e´ setorialem X e reσ(A)> 0. Lema 1.5.18. Suponha que −A : D(A)⊂ X → X seja o gerador infinitesimal de um semigrupo {T (t) | t ≥ 0} e que a > 0 e M ≥ 1 sejam constantes positivas tais que ‖T (t)‖ ≤Me−at , para todo t ≥ 0. Enta˜o A e´ um operador positivo. Observamos que em particular, segue do Lema 1.5.18 que se A e´ um operador setorial positivo, enta˜o A e´ um operador positivo. Teorema 1.5.19. Seja −A : D(A) ⊂ X → X o gerador infinitesimal de um semigrupo {T (t) | t ≥ 0} e suponha que existam constantes a > 0 e M ≥ 1 tais que ‖T (t)‖ ≤Me−at , para todo t ≥ 0. Enta˜o, se z ∈ C com rez > 0, temos A−zx = 1 Γ(z) ∫ ∞ 0 tz−1T (t)xdt, x ∈ X . (1.5.3) Vamos agora restringir o estudo a`s poteˆncias fraciona´rias reais de operadores positivos. Seja A : D(A)⊂ X → X um operador positivo. Dado α ≥ 0, Xα denota o espac¸o D(Aα) = R(A−α). Em Xα consideraremos a com a norma |u|Xα = |Aαu|, u ∈ D(Aα). A famı´lia {Xα}α≥0 e´ uma famı´lia de espac¸os de Banach. 1. Preliminares 19 Lema 1.5.20. Seja 0≤ α ≤ β , enta˜o Xβ e´ um subespac¸o denso de Xα e a inclusa˜o Xβ → Xα e´ contı´nua, mais precisamente, existe uma constante C ≥ 0 tal que |u|Xα ≤C|u|Xβ , para todo u ∈ Xβ . Teorema 1.5.21. Seja A : D(A) ⊂ X → X um operador positivo. Se 0 ≤ α < 1, enta˜o existe uma constante c > 0 tal que para todo x ∈ X1, temos |x|Xα ≤ c|x|1−αX |x|α1 . Teorema 1.5.22. Sejam A um operador setorial positivo e {T (t) | t ≥ 0} o semigrupo analı´tico gerado por −A. As seguintes propriedades sa˜o satisfeitas: (i) T (t) : X → D(Aα), para todo α ≥ 0 e t > 0. (ii) T (t)Aαu = AαT (t)u, para todo α ≥ 0, u ∈ D(Aα) e t ≥ 0. (iii) AαT (t) ∈L (X). Ale´m disso existe um a > 0 e para cada α ≥ 0 existe uma constante positiva Cα tal que ‖AαT (t)‖ ≤Cαt−αe−at , para todo t > 0. (iv) Se 0 < α ≤ 1, enta˜o ‖(T (t)− I)u‖ ≤ 1 α C1−αtα |Aαu|, para todo u ∈ D(Aα) e t > 0, onde C1−α e´ a constante positiva de (iii). Proposic¸a˜o 1.5.23. Sejam α,γ ≥ 0 e θ ∈ [0,1] . Escreva β = (1− θ)α + θγ . Enta˜o existe constante C ≥ 0 tal que: |Aβu| ≤C|Aαu|1−θ |Aγu|θ , para cada u ∈ X . (1.5.4) O seguinte resultado e´ encontrado em [13] e [15]. Lema 1.5.24. Sejam X, Y espac¸os de Banach, A : D(A) ⊂ X → X um operador setorial com reσ(A) > 0 e B : D(B) ⊂ X → Y uma transformac¸a˜o linear. Suponhamos que D(B) ⊃ D(A) e 20 1. Preliminares que existam α ∈ [0,1) e c≥ 0 tais que |Bx|Y ≤ c|Ax|α |x|1−α , para todo x ∈ D(A). Enta˜o para todo β ∈ (α,1], B possui uma u´nica extenso a um transformac¸a˜o linear contı´nua de Xβ em Y , isto e´, BA−β e´ transformac¸a˜o linear contı´nua. Finalizamos esta sec¸a˜o enunciando alguns resultados sobre operadores setoriais para o caso em que X for um espac¸o de Hilbert. A seguir apresentamos uma condic¸a˜o suficiente para que um operador seja setorial para espac¸os de Hilbert. Proposic¸a˜o 1.5.25. Suponha que (X ,〈·, ·〉) seja um espac¸o de Hilbert. Seja A : D(A)⊂ X → X um operador linar auto-adjunto, densamente definido e suponha que exista uma constante a∈R tal que 〈Ax,x〉 ≥ a〈x,x〉, para todo x ∈ D(A). Enta˜o A e´ setorial. Corola´rio 1.5.26. Seja (X ,〈·, ·〉) seja um espac¸o de Hilbert. Se A : D(A) ⊂ X → X e´ auto- adjunto, densamente definido e reσ(A)> 0, enta˜o A e´ setorial. No caso particular em que X e´ um espac¸o de Hilbert, se A for auto-adjunto e definido positivo, enta˜o A sera´ setorial positivo, como enunciado no Corola´rio 1.5.26. Finalmente, em vista da teoria espectral para operadores auto-adjuntos feita na Sec¸a˜o 1.1 se A for auto-adjunto, setorial positivo em X espac¸o de Hilbert, podemos escrever: A−α = ∫ R λ−αdEλ (1.5.5) onde {Eλ}λ∈R ⊂L (X) representa a famı´lia espectral gerada pelo operador A em X . Portanto, a partir de uma aplicac¸a˜o da Desigualdade de Ho¨lder em (1.5.5), obtemos a Proposic¸a˜o 1.5.27. Sejam α,γ ≤ 0, tais que α ≤ γ , e θ ∈ [0,1] . Escreva β = (1−θ)α+θγ . Enta˜o: |Aβu| ≤ |Aαu|1−θ |Aγu|θ , para todo u ∈ X . (1.5.6) 1. Preliminares 21 1.6 Semifluxos e atratores globais Neste trabalho estamos interessados na existeˆncia de atratores. Os atratores sa˜o importantes objetos no estudo da dinaˆmica assinto´tica dos sistemas dinaˆmicos. Nesta sec¸a˜o vamos expor os principais elementos para a definic¸a˜o dos atratores e listar suas propriedades importantes. Tambe´m apresentaremos condic¸o˜es necessa´rias e suficientes para que um sistema dinaˆmico possua atrator. As refereˆncias [5], [7], [14] e [17] apresentam a teoria de atrator global para sistemas dinaˆmicos na˜o lineares. Para esta sec¸a˜o, a refereˆncia [7] foi utilizada para o estudo dos atratores e o conceito de semifluxo local e´ como apresentado em [22]. Sejam X um espac¸o me´trico e D um aberto de [0,∞)×X . Uma aplicac¸a˜o pi : D→ X e´ um semifluxo local em X se (a) para cada u ∈ X , existe um ωu = ω(pi,u) ∈ (0,∞] tal que (t,u) ∈ D se, e somente se, t ∈ [0,ωu); (b) pi(0,u) = u, para todo u ∈ X ; (c) sempre que (t,u) ∈ D e (s,upit) ∈ D, temos (t+ s,u) ∈ D e pi(t+ s,u) = pi(s,pi(t,u)). Escrevemos pi(t,u) = upit, para (t,u) ∈ D. Se um semifluxo e´ tal que ωu =+∞ para todo u∈ X , enta˜o dizemos que este e´ um semifluxo global. Dado um intervalo I ⊂R, uma aplicac¸a˜o σ : I→R e´ chamada uma soluc¸a˜o de pi se sempre que t ∈ I e s ∈ [0,∞) sa˜o tais que t + s ∈ I, enta˜o σ(t)pis e´ bem definido e σ(t)pis = σ(t + s). Se I = R enta˜o σ e´ chamada soluc¸a˜o global de pi . Um subconjunto A de X e´ chamado pi-invariante se para todo u ∈ A existe uma soluc¸a˜o global σ tal que σ(R)⊂ A e σ(0) = u. Um ponto u ∈ X e´ chamado equilı´brio (de pi) se upit = u, para todo t ∈ [0,ωu). 22 1. Preliminares Dados um semifluxo local pi em X e um subconjunto N de X , dizemos que pi na˜o explode em N se sempre que u ∈ X e upi[0,ωu)⊂ N, implicar ωu =+∞. No restante desta sec¸a˜o pi denota um semifluxo global definido num espac¸o de Banach X . A seguinte definic¸a˜o e´ apresentada em [7]. Definic¸a˜o 1.6.1. Dizemos que um subconjunto B ⊂ X e´ (pi-)eventualmente limitado se existe um tB ∈ [0,∞) tal que o conjunto {upit | u ∈ B, t ∈ [tB,∞)} e´ limitado. Pode ser encontrado na literatura o conceito de semifluxo (semigrupo) eventualmente limi- tado. Neste caso, dizemos pi e´ eventualmente limitado se todo limitado de X e´ eventualmente limitado conforme a Definic¸a˜o 1.6.1 Seja B⊂ X . A o´rbita positiva de B por pi e´ definida como o conjunto γ+(B) := ⋃ t∈[0,∞) Bpit = ⋃ t∈[0,∞) {upit | u ∈ B}. O conjunto γ+t (B) := ⋃ s∈[0,∞) Bpi(s+ t) = ⋃ s∈[t,∞) Bpis e´ chamadoa o´rbita de Bpit. O conjunto ω-limite de B e´ definido como ω(B) = ⋂ t∈[0,∞) γ+t (B). Proposic¸a˜o 1.6.2. Seja B⊂ X. Enta˜o (i) ω(B) e´ fechado. (ii) Seja v ∈ X. Enta˜o v ∈ ω(B) se, e somente se, existem sequeˆncias (tn)n em [0,∞) e (un)n em B tais que tn→ ∞ e unpitn→ v quando n→ ∞. Precisamos da noc¸a˜o de atrac¸a˜o sobre o semifluxo pi de modo a definirmos o conceito do atrator. Mas primeiro vamos definir a semidistaˆncia de Hausdorff entre dois conjuntos. Sejam A e B subconjuntos de X . Definimos a semidistaˆncia de Hausdorff entre A e B, denotada por 1. Preliminares 23 distH(A,B), por distH(A,B) = sup u∈A inf v∈B |u− v|. Sejam A e B subconjuntos de X . Dizemos que A atrai B pela ac¸a˜o de pi se lim t→∞distH(Bpit,A) = 0. Proposic¸a˜o 1.6.3. Seja pi um semifluxo global em X. Enta˜o A⊂ X e´ pi-invariante se, e somente se, Apit = A, para todo t ∈ [0,∞). Um subconjunto A de X e´ um atrator global para pi , se A e´ um conjunto compacto, pi- invariante e que atrai subconjuntos limitados de X sob a ac¸a˜o de pi . Definic¸a˜o 1.6.4. O semifluxo global pi e´ chamado assintoticamente suave se para cada subcon- junto B de X na˜o-vazio, fechado e limitado tal que Bpit ⊆ B para todo t ∈ [0,∞), existir um conjunto na˜o-vazio e compacto K ⊂ B tal que K atrai B sob ac¸a˜o depi . Definic¸a˜o 1.6.5. O semifluxo global pi e´ chamado assintoticamente compacto se para cada subconjunto B de X na˜o-vazio e eventualmente limitado tal que para cada sequeˆncia (tn)n em [0,∞) e cada sequeˆncia (un)n em B com tn→∞, a sequeˆncia (unpitn)n possui uma subsequeˆncia convergente. Os conceitos acima sa˜o equivalentes: Proposic¸a˜o 1.6.6. Um semifluxo global e´ assintoticamente suave se, e somente se, e´ assintoti- camente compacto. Teorema 1.6.7. Seja pi um semifluxo global definido num espac¸o de Banach X. As seguintes afirmativas sa˜o equivalentes: (i) pi e´ assintoticamente compacto, existe um subconjunto limitado B de X tal que para cada u ∈ X existe um tu ≥ 0 com upitu ∈ B e todo conjunto limitado em X e´ pi-eventualmente limitado. (ii) pi possui um atrator global A . 24 1. Preliminares A seguir definiremos o que e´ conhecido por funcional de Lyapunov. Semifluxos que pos- suem um funcional de Lyapunov sa˜o chamados de semifluxos gradiente e possuem boas pro- priedades que nos levam a um teorema de existeˆncia de atrator global mais direto do que o Teorema 1.6.7. Um funcionalL : X → R contı´nuo em X e limitado inferiormente e´ chamado funcional de Lyapunov para pi se 1. para cada u ∈ X a aplicac¸a˜o (0,∞) 3 t 7→L (upit) ∈ R e´ na˜o-crescente, 2. se u ∈ X e´ tal que existe um ku ∈ R com L (upit) = ku, para todo t ≥ 0, enta˜o u e´ um ponto de equilı´brio de pi . Podemos agora, apresentar o teorema que sera´ utilizado para demonstrar a existeˆncia de atrator global no nosso trabalho. Teorema 1.6.8. Seja pi um semifluxo global definido num espac¸o de Banach X. Suponha que: (a) pi e´ assintoticamente compacto, (b) todo subconjunto limitado em X e´ eventualmente limitado, (c) o conjunto dos pontos de equilı´brio de pi e´ limitado e (d) existe um funcional de Lyapunov para o semifluxo pi . Enta˜o existe um atrator global para pi . 1.7 Equac¸o˜es diferenciais parabo´licas Nesta u´ltima sec¸a˜o apresentamos resultados utilizados sobre as equac¸o˜es diferenciais pa- rabo´licas. Seguimos a notac¸a˜o e resultados apresentados em [15] e [18]. 1. Preliminares 25 Suponha 0 ≤ α < 1 e seja U um conjunto aberto em Xα . Seja g : U → X uma func¸a˜o localmente Lipschitziana. Considere a equac¸a˜o: du dt +Au = g(u). (1.7.1) Seja u0 ∈U e t0 ≥ 0. Uma soluc¸a˜o de (1.7.1) em (t0, t1) tal que em t0 vale u0 e´ uma func¸a˜o contı´nua u : [t0, t1)→ X tal que 1. u(t0) = u0; 2. u(t) ∈U para t ∈ (t0, t1); 3. u e´ diferencia´vel em (t0, t1); 4. u(t) ∈ D(A) para t ∈ (t0, t1); 5. [t0, t1) 3 t 7→ g(u(t)) ∈ X e´ contı´nua; 6. a equac¸a˜o (1.7.1) esta´ satisfeita para todo t ∈ (t0, t1). A definic¸a˜o de soluc¸a˜o e´ como em [18]. A seguir apresentamos um teorema de existeˆncia e unicidade de soluc¸o˜es maximais para a equac¸a˜o (1.7.1) com condic¸a˜o inicial u(t0) = u0 ∈ U cuja demonstrac¸a˜o e´ adaptada das demonstrac¸o˜es de [15]. Teorema 1.7.1. Seja A um operador setorial em X e seja g : U → X uma func¸a˜o localmente Lipschitziana, onde U e´ um conjunto aberto em Xα , para algum 0 ≤ α < 1. Enta˜o para todo t0≥ 0 e para todo u0 ∈U, existe um intervaldo maximal [t0,ωu0), onde ωu0 ∈ (0,∞] e uma u´nica soluc¸a˜o t 7→ u(t,u0) de du dt +Au = g(u) tal que u(t0) = u0 definida em [t0,ωu0). No restante do texto se A : D(A) ⊂ X → X e´ um operador setorial em X , o semigrupo analı´tico gerado por −A sera´ denotado por {e−At | t ≥ 0}. Para demonstrar a existeˆncia de soluc¸a˜o no Teorema 1.7.1 utilizamos o seguinte lema: 26 1. Preliminares Lema 1.7.2. Seja u uma soluc¸a˜o do problema (1.7.1) em (t0, t1) com valor inicial u(t0) = u0. Enta˜o u(t) = e−A(t−t0)u0+ ∫ t t0 e−A(t−s)g ( u(s) ) ds, para t ∈ [t0, t1). (1.7.2) Reciprocamente, se u : [t0, t1)→ Xα e [t0, t1) 3 t 7→ g(u(t)) ∈ X sa˜o func¸o˜es contı´nuas, e a equac¸a˜o integral (1.7.2) e´ satisfeita para t ∈ (t0, t1), enta˜o u e´ uma soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferen- cial (1.7.1). Para a demonstrac¸a˜o do Lema 1.7.2, ver [15] e [18]. A fo´rmula (1.7.2) e´ conhecida como a Fo´rmula da Variac¸a˜o das Constantes. No que segue vamos supor que A e´ um operador setorial positivo, isto e´, A e´ setorial e reσ(A) > 0, g : Xα → X uma func¸a˜o Lipschitziana em limitados de Xα , com 0 ≤ α < 1 e, tambe´m, que t0 = 0. Para cada u0 ∈U e t ∈ [0,ωu0), defina u0pit := u(t,u0). Dessa forma pi e´ um semifluxo local em U . Vamos assumir tambe´m que g : U → X seja uma func¸a˜o Lipschitziana em limitados, isto e´, dado B⊂U limitado existe uma constante LB ≥ 0 tal que |g(u)−g(v)|X ≤ LB|u− v|, para todo u, v ∈ B. A seguir enunciamos e demonstramos resultados gerais que sera˜o utilizado nos pro´ximos capı´tulos. Proposic¸a˜o 1.7.3. Seja B⊂U um subconjunto limitado tal que para cada u ∈ B, upit ∈ B, para todo t ∈ [0,ωu). Enta˜o ωu =+∞. Demonstrac¸a˜o. Seja u ∈ B. Logo, upit ∈ B, para todo t ∈ [0,ωu). Suponhamos por absurdo que ωu < ∞. Sejam 0 < α < β < 1 e s ∈ (0,ωu). Afirmamos que o conjunto {|upit|Xβ | t ∈ [s,ωu)} e´ limitado. De fato, seja t ∈ [s,ωu). Utili- 1. Preliminares 27 zando a Fo´rmula da Variac¸a˜o das Constantes temos |upit|Xβ ≤ |e−Atu|Xβ + ∫ t 0 |e−A(t−s)g(upis)|Xβ ds ≤ |Aβ−αe−At ||Aαu|+ ∫ t 0 |Aβ e−A(t−s)g(upis)|X ds ≤max{Cβ−α ,CβLB}(tβ−α |u|Xα + ∫ t 0 (t− s)−βds) ≤max{Cβ−α ,CβLB,1}(tβ−α |u|Xα + t1−β ). Como [s,ωu) 3 t 7→ tβ−α |u|Xα + t1−β e´ limitada, a afirmativa esta´ demonstrada. Sejam s≤ τ < t < ωu. A Fo´rmula da Variac¸a˜o das Constantes implica que upit−upiτ = ( e−A(t−τ)− I ) upiτ+ ∫ t τ e−A(t−s)g(upis)ds. Portanto, |upit−upiτ|Xα ≤ 1β −αC1−β+α‖A −α‖(t− τ)β−α |u0piτ|Xβ +CαLB ∫ t τ (t− s)−αds ≤ 1 β −αC1−β+α‖A −α‖(t− τ)β−α +CαLB(t− τ)1−α ≤ C˜(t− τ)β−α , onde C˜ = max{ 1 β −αC1−β+α‖A −α‖,CαLB(t− τ)1−β}. Como β > α , o Crite´rio de Cauchy implica que o limite, quando t → ω−u , existe. Seja u1 o valor deste limite e defina v(t) = upit, se t ∈ [0,ωu) e v(ωu) = u1. Segue que v e´ uma soluc¸a˜o de (1.7.1) com v(0) = u definida em [0,ωu]. Pore´m isso contradiz a maximalidade de ωu. Portanto, ωu =+∞ para todo u ∈ B. O pro´ximo resultado pode ser encontrado na Proposic¸a˜o 3.2.1 e Lema 3.2.1 em [7]. Proposic¸a˜o 1.7.4. Seja B⊂ Xα um subconjunto limitado em Xα . Enta˜o para todo t ∈ (0,ωB), Bpit e´ limitado em X γ , para cada α ≤ γ ≤ 1. Concluı´mos o capı´tulo com um resultado de regularidade que pode ser encontrado em [15]. Como apresentaremos a demonstrac¸a˜o desse resultado, enunciamos um lema auxiliar. 28 1. Preliminares Lema 1.7.5 (Desigualdade de Gronwall Singular). Sejam 0 ≤ α < 1, 0 ≤ β < 1, a ≥ 0, b ≥ 0 constantes e T ∈ (0,∞). Se u : [0,T ]→ R e´ uma func¸a˜o integra´vel tal que 0≤ u(t)≤ at−α +b ∫ t 0 (t− s)−βu(s)ds, para quase todo t ∈ [0,T ], enta˜o existe uma constante positiva M tal que 0≤ u(t)≤ aMt−α , para quase todo t ∈ (0,T ]. Teorema 1.7.6. Assuma a notac¸a˜o apresentada acima. Seja u uma soluc¸a˜o de (1.7.1) em [t0, t1] e γ ∈ (0,1). Enta˜o du dt ∈ X γ e existe uma constante C > 0 tal que ∣∣∣∣dudt ∣∣∣∣ Xγ ≤C(t− t0)α−γ−1, para t0 < t ≤ t1. Demonstrac¸a˜o. Seja β > 0 tal que max{α,γ}< β < 1. Denotemos f (t) := g(u(t)), para t ∈ [t0, t1]. Como [t0, t1] e´ compacto, sejam B e L constantes positivas tais que, para todo t ∈ [t0, t1] e h0 ≥ 0, com t0 ≤ t ≤ t+h≤ t1 e 0≤ h≤ h0, | f (t)| ≤ B, (1.7.3) | f (t+h)− f (t)| ≤ L |u(t+h)−u(t)| . (1.7.4) Para t0 < t < t+h≤ t1 temos: u(t+h)−u(t) = e−A(t+h−t0)u(t0)+ ∫ t+h t0 e−A(t+h−s) f (s)ds − e−A(t−t0)u(t0)− ∫ t t0 e−A(t−s) f (s)ds = (e−Ah− I)e−A(t−t0)u(t0)+ ∫ t0+h t0 e−A(t+h−s) f (s)ds + ∫ t t0 e−A(t−s)[ f (s+h)− f (s)]ds. 1. Preliminares 29 Desse modo, |u(t+h)−u(t)|Xα ≤ ∣∣∣(e−Ah− I)e−A(t−t0)u(t0)∣∣∣ Xα + ∫ t0+h t0 ∣∣∣e−A(t+h−s) f (s)∣∣∣ Xα ds + ∫ t t0 ∣∣∣e−A(t−s) f (s+h)−f (s)∣∣∣ Xα ds ≤ β−1C1−βhβ ∣∣∣Aβ e−A(t−t0)Aαu(t0)∣∣∣ X + ∫ t0+h t0 Cα(t+h− s)−αKBds + ∫ t t0 Cα(t− s)−αKL|u(s+h)−u(s)|Xαds ≤ β−1C1−βhβCβ (t− t0)−βK|u(t0)|Xα +CαKBh(t− t0)−α+ +CαKL ∫ t t0 (t− s)−α |u(s+h)−u(s)|Xαds ≤ K˜hβ (t− t0)−β +CαKL ∫ t t0 |u(s+h)−u(s)|Xαds, onde K˜ = β−1C1−βCβK(t1− t0)β−α |u(t0)|Xα . Portanto, a Desigualdade de Gronwall Singular, Lema 1.7.5, implica que existe uma constante M ≥ 0 tal que |u(t+h)−u(t)|Xα ≤Mhβ (t− t0)−β , para todo t ∈ (t0, t1), 0≤ h≤ h0. Afirmamos que, para todo t ∈ (t0, t1), A ∫ t t0 e−A(t−s) f (s)ds = ∫ t t0 Ae−A(t−s)[ f (s)− f (t)]ds+ f (t)− e−A(t−t0) f (t). (1.7.5) De fato, note que para t ∈ (t0, t1) temos ∫ t t0 Ae−A(t−s) f (t)ds = ∫ t t0 d ds ( e−A(t−s) f (t) ) ds = f (t)− e−A(t−t0) f (t). Logo, para t ∈ (t0, t1), ∫ t t0 Ae−A(t−s) f (s)ds = ∫ t t0 Ae−A(t−s)[ f (s)− f (t)]ds+ f (t)− e−A(t−t0) f (t) e portanto temos∣∣∣∣∫ tt0 Ae−A(t−s) f (s)ds ∣∣∣∣≤ ∫ tt0 K(t− s)β−1(t− t0)−βds+B+B‖e−A(t−t0)‖. 30 1. Preliminares Como 0 < β < 1, temos ∣∣∣∣∫ tt0 Ae−A(t−s) f (s)ds ∣∣∣∣ define um nu´mero real. Como A e´ um operador fechado, a igualdade (1.7.5) segue e afirmativa esta´ demonstrada. Portanto, para t ∈ (t0, t1) temos du dt =−Au(t)+ f (t) =−A(e−A(t−t0)u(t0)+ ∫ t t0 e−A(t−s)g(s)ds)+ f (t) =−Ae−A(t−t0)u(t0)+ e−A(t−t0) f (t)+ ∫ t t0 Ae−A(t−t0)[ f (t)− f (s)]ds e ∣∣∣∣dudt ∣∣∣∣ Xγ ≤Cγ+1−αK(t− t0)α−γ−1|u(t0)|α +CγB(t− t0)−γ + ∫ t t0 Cγ+1KL(t− s)β−γ−1(t− t0)βds. E´ fa´cil ver que para t ∈ (t0, t1) ∫ t t0 Cγ+1KL(t− s)β−γ−1(t− t0)βds≤ (t− t0)α−γ−1Cγ+1L(t− t0)1−α(β − γ)−1. Portanto, ∣∣∣∣dudt ∣∣∣∣ Xγ ≤C(t− t0)α−γ−1, para t ∈ (t0, t1], onde C = { Cγ+1−α |u(t0)|α +BCγ(t1− t0)1−α +LCγ+1(β − γ)−1(t1− t0)1−α } e isso conclui a demonstrac¸a˜o. Capı´tulo 2 O problema linear Neste capı´tulo analisamos o problema linear abstrato associado a` equac¸a˜o (ERD). Na sec¸a˜o 2.3 apresentamos as hipo´teses (HL1), (HL2) e (HL3). Com estas hipo´teses o opera- dor u 7→ −Lu+ β (x)u apresentado na Introduc¸a˜o define um operador positivo auto-adjunto A : D(A) ⊂ X → X , onde X = L2(Ω). Nessa sec¸a˜o apresentamos as propriedades importantes do operador A e construı´mos uma famı´lia de operadores auto-adjuntos A(α), α ∈ R tal que A(α) : Xα → Xα−1. Para a construc¸a˜o do operador A necessitamos de alguns resultados auxiliares que sa˜o co- nhecidos na literatura, contudo as demonstrac¸o˜es na˜o sa˜o encontradas fa´cilmente. Em [21] os autores reuniram estes fatos elementares na Proposic¸a˜o 2.2. Na sec¸a˜o 2.2 apresentamos a demonstrac¸a˜o dessa proposic¸a˜o. Iniciamos o capı´tulo demonstrando um resultado de ana´lise funcional que sera´ utilizado na Sec¸a˜o 2.3. A refereˆncia para este capı´tulo e´ o artigo [21]. 2.1 Um resultado de ana´lise funcional Os lemas abaixo foram demonstrados na Sec¸a˜o 4 de [21]. Lema 2.1.1. Suponha que (Y,〈·, ·〉Y ) e (X ,〈·, ·〉X) sejam espac¸os de Hilbert tais que Y ⊂ X, Y e´ denso em (X ,〈·, ·〉X) e a inclusa˜o j : (Y,〈·, ·〉Y )→ (X ,〈·, ·〉X) e´ contı´nua. Enta˜o para cada 31 32 2. O problema linear u ∈ X existe um u´nico wu ∈ Y tal que 〈v,wu〉Y = 〈v,u〉X , para todo v ∈ Y. A aplicac¸a˜o B : X → X, u 7→ wu e´ linear, sime´trica e positiva. Demonstrac¸a˜o. Para cada u ∈ X , a func¸a˜o Y 3 v 7→ 〈v,u〉X e´ linear e contı´nua. Logo, pelo Teorema de Representac¸a˜o de Riesz existe um u´nico wu ∈ Y tal que 〈v,u〉X = 〈v,wu〉Y , para todo v ∈ Y. Ale´m disso do Teorema de Representac¸a˜o de Riesz segue que B e´ linear. Para u,v ∈ X , note que 〈Bu,v〉X = 〈Bu,Bv〉Y = 〈u,Bv〉X . Logo B e´ uma aplicac¸a˜o sime´trica e, como 〈Bu,u〉X = 〈Bu,Bu〉Y ≥ 0, B e´ tambe´m positiva. Assuma a notac¸a˜o e as hipo´teses do Lema 2.1.1. Seja B1/2 a raiz quadrada de B, isto e´, B1/2 : X → X e´ uma aplicac¸a˜o linear, sime´trica e e´ tal que B1/2 ◦B1/2 = B. Lema 2.1.2. Com a notac¸a˜o e as hipo´teses do Lema 2.1.1, temos B e B1/2 sa˜o aplicac¸o˜es linereares injetoras e R(B) e´ um conjunto denso em Y . Demonstrac¸a˜o. Se u ∈ X e´ tal que Bu = 0, enta˜o 0 = 〈v,Bu〉Y = 〈v,u〉X , para todo v ∈ Y. Como Y e´ denso em X , segue que u= 0 e, portanto, B e´ injetora. Analogamente mostramos que B1/2 e´ injetora. Para concluir a demonstrac¸a˜o, seja v ∈ Y tal que 〈v,Bu〉Y = 0, para todo u ∈ X . Enta˜o 〈v,u〉X = 0, para todo u ∈ X e enta˜o v = 0, o que nos mostra que R(B) e´ denso em Y . Assuma a notac¸a˜o e as hipo´teses do Lema 2.1.1. Considere X1/2 = X1/2B = R(B 1/2) e B−1/2 : X1/2→ X a aplicac¸a˜o inversa de B1/2. E´ fa´cil ver que 〈u,v〉1/2 := 〈B−1/2u,B−1/2v〉X , u, v ∈ X1/2, 2. O problema linear 33 define um produto interno em X1/2. Mais ainda, (X1/2,〈·, ·〉1/2) e´ um espac¸o de Hilbert. Lema 2.1.3. Com a notac¸a˜o e as hipo´teses do Lema 2.1.1, temos Y = X1/2 e 〈·, ·〉Y = 〈·, ·〉1/2. Demonstrac¸a˜o. Afirmamos que R(B) e´ um conjunto denso em X1/2. De fato, como B1/2 e´ uma aplicac¸a˜o sime´trica, para v ∈ X1/2 e u ∈ X , temos 〈v,Bu〉1/2 = 〈B−1/2v,B1/2u〉X = 〈v,u〉X . Logo, se 〈v,Bu〉1/2 = 0, para todo u ∈ X , segue que v = 0 e nossa afirmativa esta´ mostrada. Agora afirmamos que 〈u,v〉Y = 〈u,v〉1/2, para u,v ∈ R(B). (2.1.1) De fato, se u,v ∈ R(B), existem u˜, v˜ ∈ X tais que u = Bu˜ e v = Bv˜. Logo, 〈u,v〉Y = 〈u,Bv˜〉Y = 〈u, v˜〉X e 〈u,v〉1/2 = 〈B1/2u˜,B1/2v˜〉X = 〈Bu˜, v˜〉X = 〈u, v˜〉X , provando, assim, a afirmac¸a˜o. A continuidade de B1/2 : X → X implica que para todo u ∈ X1/2 temos |u|X ≤ ‖B1/2‖|B−1/2u|X = ‖B1/2‖|u|1/2, e, portanto, a inclusa˜o i : (X1/2, | · |1/2)→ (X , | · |X) e´ contı´nua. Seja u∈Y . Logo, existe uma sequeˆncia (un)n em R(B) tal que |un−u|Y → 0 quando n→∞. Logo, (un)n e´ uma sequeˆncia de Cauchy em Y . A igualdade (2.1.1) implica que (un)n tambe´m e´ sequeˆncia de Cauchy em X1/2. Logo, existe um v∈ X1/2 tal que |un−v|X1/2→ 0 quando n→∞. Como as incluso˜es j : (Y,〈·, ·〉Y )→ (X ,〈·, ·〉X) e i : (X1/2, | · |1/2)→ (X , | · |X) sa˜o contı´nuas temos |un− u|X → 0 e |un− v|X → 0 quando n→ ∞. Portanto, u = v e, assim, u ∈ X1/2. Ou seja, Y ⊆ X1/2. Pelo mesmo argumento obtemos X1/2 ⊆ Y . Finalmente, a densidade de R(B) em Y e igualdade (2.1.1) implicam 〈u,v〉1/2 = 〈u,v〉Y , para 34 2. O problema linear todo u,v ∈ Y . 2.2 Resultados auxiliares sobre espac¸os de poteˆncias fra- ciona´rias Nesta sec¸a˜o demonstramos a Proposic¸a˜o 2.2 de [21]. Sejam X um espac¸o de Banach e A : D(A)⊂ X → X um operador setorial positivo. Logo A e´ setorial em X , reσ(A) > 0 e −A e´ o gerador infinitesimal de um semigrupo analı´tico {e−At | t ≥ 0} de operadores lineares em X (cf. Teorema 1.5.9). Para α > 0 definimos, como usual, o operador A−α : X → X como A−αu = 1 Γ(α) ∫ ∞ 0 tα−1e−Atudt, u ∈ X . Denote por Xα = R(A−α), α ≥ 0, a famı´lia de espac¸os de poteˆncias fraciona´rias em X gerada por A. Xα e´ um espac¸o de Banach com a norma |u|Xα := |Aαu|X , u ∈ Xα . Se β > α ≥ 0 enta˜o Xβ e´ denso em Xα . Ainda mais, A−αA−β x = A−α−β x, α,β ∈ (0,∞), x ∈ X . (2.2.1) Seja agora X um espac¸o de Hilbert e A : D(A) ⊆ X → X um operador auto-adjunto em X com reσ(A)> 0. Enta˜o A e´ setorial em X e, para α ∈ (0,∞), A−α = ∫ ∞ 0 λ−αdEλ onde {Eλ}λ∈R e´ a medida espectral definida por A. Nesse caso, Xα e´ um espac¸o de Hilbert com respeito ao produto interno 〈u,v〉Xα := 〈Aαu,Aαv〉X , u,v ∈ Xα . Para α ∈ (0,∞) seja X−α = X−αA o espac¸o dual de Xα . Definimos em X−α o produto interno 2. O problema linear 35 〈·, ·〉X−α dual ao produto interno 〈·, ·〉Xα , isto e´, 〈u′,v′〉X−α := 〈R−1α u′,R−1α v′〉Xα , u′,v′ ∈ X−α , onde Rα : Xα → X−α e´ o isomorfismo de Fre´chet-Riesz u 7→ 〈·,u〉Xα . O espac¸o de Hilbert X−α e´ chamado espac¸o de poteˆncia fraciona´ria de ordem −α . Denotemos por ϕ a aplicac¸a˜o dualidade de X em X ′, isto e´, ϕ(x) = 〈·,x〉, x ∈ X . Lema 2.2.1. Sejam β > 0 e x ∈ X e defina o funcionallinear fx : Xβ → R dado por fx(y) = 〈y,x〉X , para todo y ∈ Xβ . Enta˜o fx ∈ X−β . Demonstrac¸a˜o. Sejam β > 0 e x ∈ X fixados. Claramente fx e´ linear e esta´ bem definida. Mostremos que fx e´ limitada de Xβ . De fato, como Xβ esta´ continuamente imerso em X , existe constante B≥ 0 tal que |y|X ≤ B|y|Xβ , para todo y ∈ Xβ . Portanto, se y ∈ Xβ , fx(y) = 〈y,x〉X ≤ |y|X |x|X ≤ B|x|X |y|Xβ . Concluindo que fx e´ limitada em Xβ e ‖ fx‖ ≤ B|x|X . Sejam α,β ∈ R arbitra´rios. Nosso objetivo e´ definir aplicac¸o˜es lineares contı´nuas entre os espac¸os Xα e Xβ . (i) Se β ≥ α ≥ 0, defina ϕβ ,α : Xβ → Xα como sendo a aplicac¸a˜o inclusa˜o. (ii) Se β ≥ α > 0, defina enta˜o a aplicac¸a˜o ϕ−α,−β : X−α → X−β por ϕ−α,−β (y′) = y′|Xβ , para y′ ∈ X−α . 36 2. O problema linear (iii) Se β > 0, defina ϕ0,−β : X0 = X → X−β por ϕ0,−β (x) = fx, onde fx ∈ X−β e´ como no Lema 2.2.1. (iv) Finalmente, se α > 0 e β > 0, enta˜o ϕβ ,−α := ϕ0,−α ◦ϕβ ,0. Apresentamos a seguir diversas propriedades das aplicac¸o˜es que acabamos de definir. Proposic¸a˜o 2.2.2. Para todo α , β ∈ R com β ≥ α a aplicac¸a˜o ϕβ ,α : Xβ → Xα esta´ bem definida, e´ linear, limitada e injetora. O subespac¸o ϕβ ,α(Xβ ) e´ denso no espac¸o de Hilbert Xα . Demonstrac¸a˜o. Sejam α , β ∈R com β ≥ α . E´ claro que a aplicac¸a˜o ϕβ ,α : Xβ → Xα esta´ bem definida e e´ linear. Afirmamos que ϕβ ,α e´ uma aplicac¸a˜o limitada, injetora e sua imagem e´ um conjunto denso em Xα . Para mostrar este fato teremos que considerar treˆs casos. Primeiro Caso: Suponha β ≥ α ≥ 0. Neste caso a aplicac¸a˜o ϕβ ,α e´ a inclusa˜o e a injetividade e´ clara, assim como a continuidade. Ainda, Xβ e´ denso em Xα , logo ϕβ ,α(Xβ ) e´ denso em Xα . Segundo Caso: Suponha α < 0≤ β . Logo ϕβ ,α = ϕ0,α ◦ϕβ ,0. Segue do Primeiro Caso que ϕβ ,0 e´ limitada, injetora e sua imagem e´ densa em X0 = X . Portanto, resta mostrarmos que ϕ0,α : X → Xα tambe´m e´ uma aplicac¸a˜o limitada, injetora e possui imagem densa em Xα . Recordemos que dado x ∈ X , ϕ0,α(x) : X−α → R (−α > 0) e´ dado por ϕ0,α(x)(y) = 〈y,x〉X , para y ∈ X−α . Para x ∈ X , pelo Teorema de Hahn-Banach sabemos que ‖ fx‖= sup w∈X−α |w|X−α=1 fx(w) = sup w∈X−α |w|X−α=1 〈w,x〉X . Logo ‖ fx‖ ≤ sup w∈X−α |w|X−α=1 |w|X |x|X ≤ sup w∈X−α |w|X−α=1 B|w|X−α |x|X ≤ B|x|X . Portanto a aplicac¸a˜o X 3 x 7→ fx ∈ Xα e´ limitada. 2. O problema linear 37 Seja x ∈ X e suponha que ϕ0,α(x) = 0 ∈ Xα . Logo, 〈y,x〉X = 0 para todo y ∈ X−α . Como X−α e´ denso em X , segue que x = 0. Portanto, ϕ0,α e´ injetora. Seja, agora, z ∈ X−α tal que ϕ0,α(w)(z) = fw(z) = 0, para todo w ∈ X . A fim de mostrar que ϕ0,α(X) e´ denso em Xα , devemos mostrar que z = 0. De fato, apenas note que fw(z) = 〈z,w〉X = 0, para todo w ∈ X e, portanto, z = 0. Como era desejado. Terceiro caso: Suponha, por fim, que α ≤ β < 0. Temos que ϕβ ,α : Xβ → Xα e´ a restric¸a˜o de funcionais definidos em X−β a X−α (notemos que −β > 0 e −α > 0). Dado x∗ ∈ Xβ , pelo Teorema de Fre´chet-Riesz existe um x ∈ X−β tal que x∗(y) = 〈y,x〉X−β , para todo y ∈ X−β . Logo, para w ∈ X−α , ϕβ ,α(x∗)(w) = 〈w,x〉X−β . E, analogamente ao Segundo Caso, teremos ϕβ ,α limitada de Xβ em Xα . Mostremos que ϕβ ,α e´ injetora. De fato, seja x ∈ Xβ tal que ϕβ ,α(x) = 0 ∈ Xα . Isto e´, ϕβ ,α(x)(v) = x(v) = 0, para todo v ∈ X−α . Como X−α e´ denso em X−β , segue que x = 0. Finalmente, seja v ∈ X−α tal que ϕβ ,α(x)(v) = 0, para todo x ∈ Xβ . Analogamente ao caso anterior devemos mostrar que v = 0. Pore´m, note que ϕβ ,α(x)(v) = x|X−αv = x(v), (2.2.2) uma vez que v ∈ X−α . Portanto, como X−α e´ um subespac¸o denso de X−β , (2.2.2) implica que x≡ 0, concluindo a demonstrac¸a˜o. 38 2. O problema linear Proposic¸a˜o 2.2.3. Para todo α , β ∈ R com β ≥ α a aplicac¸a˜o ϕβ ,α : Xβ → Xα satisfaz ϕα,α = IXα , para todo α ∈ R e ϕγ,α = ϕβ ,α ◦ϕγ,β , para α,β ,γ ∈ R com γ ≥ β ≥ α . Demonstrac¸a˜o. E´ fa´cil ver que ϕα,α = IXα , para qualquer α ∈ R. Sejam α , β , γ ∈ R com γ ≥ β ≥ α . A demonstrac¸a˜o de que ϕγ,α = ϕβ ,α ◦ϕγ,β sera´ dividada em cinco casos. Primeiro Caso: α ≥ 0. Todas as func¸o˜es em questa˜o sa˜o incluso˜es, desse modo fica claro que ϕγ,α = ϕβ ,α ◦ϕγ,β . Segundo Caso: γ < 0. Todas as func¸o˜es em questa˜o sa˜o restric¸o˜es de funcionais lineares a subespac¸os encaixados, isto e´, X−γ ⊃ X−β ⊃ X−α e ϕγ,α f = f |X−α . Por outro lado, ϕβ ,α ◦ϕγ,β f = ϕβ ,α f |X−β = f |X−α . Logo ϕγ,α = ϕβ ,α ◦ϕγ,β . Terceiro Caso: β ≥ 0 e α < 0. Segue da definic¸a˜o que ϕγ,α = ϕ0,α ◦ϕγ,0 e ϕβ ,α = ϕ0,α ◦ϕβ ,0. Logo, ϕβ ,α ◦ϕγ,β = ϕ0,α ◦ϕβ ,0 ◦ϕγ,β = ϕ0,α ◦ϕγ,0 = ϕγ,α , onde, na segunda igualdade, usamos o resultado para γ ≥ β ≥ 0. Quarto Caso: γ = 0 e β < 0. Note que ϕβ ,α e´ a restric¸a˜o de funcionais lineares e, para y ∈ X−β , ϕ0,β (x)(y) = 〈y,x〉X , x ∈ X . Logo, sua restric¸a˜o a Xα e´ exatamente ϕ0,α . Quinto Caso: γ > 0 e β < 0. Segue da definic¸a˜o que ϕγ,β = ϕ0,β ◦ϕγ,0 e ϕγ,α = ϕ0,α ◦ϕγ,0. Logo, ϕβ ,α ◦ϕγ,β = ϕβ ,α ◦ϕ0,β ◦ϕγ,0 = ϕ0,α ◦ϕγ,0 = ϕγ,α , 2. O problema linear 39 onde, na segunda igualdade, usamos o resultado para 0 > β ≥ α . Proposic¸a˜o 2.2.4. Para todo α,γ ∈ R, θ ∈ [0,1] com α ≤ γ e β = (1−θ)α+θγ vale a desi- gualdade de interpolac¸a˜o: |ϕγ,β x|Xβ ≤ |ϕγ,αx|1−θXα |x|θXγ , para todo x ∈ X γ . (2.2.3) Demonstrac¸a˜o. Combinando as Proposic¸o˜es 1.5.23 e 1.5.27 obtemos |Aβ x|X ≤ |Aαx|1−θX |Aγx|θX , para todo x ∈ Xδ (2.2.4) e todo α,γ ∈ R, δ ≥ 0, θ ∈ [0,1], com α ≤ γ ≤ δ e β = (1−θ)α+θγ . Afirmamos que para todo α > 0, β ≥ 0 |ϕβ ,β−αA−β x|Xβ−α = |A−αx|X , para todo x ∈ X . (2.2.5) De fato, sejam α > 0 e β ≥ 0. Suponha que β ≥ α . Temos |ϕβ ,β−αA−β x|Xβ−α = |Aβ−αϕβ ,β−αA−β x|X = |A−αx|X , para todo x ∈ X . Suponha agora que β < α . Note que, pela definic¸a˜o de ϕ0,β−α , temos R−1β−α ( ϕβ ,β−αA−β x ) = Aβ−2αx para todo x ∈ X e portanto |ϕβ ,β−αA−β x|Xβ−α = |Aα−βR−1α−βϕβ ,β−αA−β x|X = |Aα−βAβ−2αx|X = |A−αx|X , para todo x ∈ X . A igualdade (2.2.5) esta´ demonstrada. Em particular, se β = 0 em (2.2.5), obtemos |ϕδ ,αx|Xα = |Aαx|X , para todo x ∈ Xδ (2.2.6) e todo α ∈ R, δ ∈ [0,∞) com δ ≥ α . Agora, a Proposic¸a˜o 2.2.2 e as equac¸o˜es (2.2.4) e (2.2.6) 40 2. O problema linear demonstram que para todo α,γ ∈ R, θ ∈ [0,1] e β = (1−θ)α+θγ temos: |ϕγ,β x|Xβ ≤ |ϕγ,αx|1−θXα |x|θXγ , para todo x ∈ X γ . A proposic¸a˜o esta´ demonstrada. Para cada α ≥ 0 e β ≥ 0 defina a aplicac¸a˜o A−β (α) := A −β |Xα : Xα → Xβ+α . (2.2.7) Proposic¸a˜o 2.2.5. Com a notac¸a˜o introduzida acima, para todo α ≥ 0 e β ≥ 0 a aplicac¸a˜o A−β (α) e´ uma isometria linear bijetora. Demonstrac¸a˜o. E´ claro que A−β (α) e´ uma aplicac¸a˜o linear e injetora. Mostremos que e´ sobreje- tora. Seja y ∈ Xβ+α . Logo existe um x ∈ X tal que A−β−αx= y. Em particular, segue de (2.2.1) que A−βA−αx = y. Considere z := A−αx ∈ Xα e teremos A−β (α)z = A −βA−αx = y. Portanto A−β (α) e´ sobrejetora. Note que, se y ∈ Xα , enta˜o |A−β y|Xβ+α = |A−(β+α)Aαy|Xβ+α = |Aαy|X = |y|Xα , ou seja, A−β (α) e´ uma isometria. Para provar o pro´ximo resultado necessitaremos de um fato auxiliar que e´ simples e conhe- cido cuja demonstrac¸a˜o na˜o sera´ apresentada. Lema 2.2.6. Sejam Ek,Fk, k ∈ {1,2} espac¸os vetoriais (sobre R ou C) com E2 e F2 completos. Suponha que e : E1→ E2, f : F1→ F2 e B1 : E1→ F1 sejam isometrias lineares com B1 bijetora. Se o conjunto e(E1) e´ denso em E2 e o conjunto f (F1) e´ denso em F2 enta˜o existe uma u´nica isometria linear bijetora B2 : E2→ F2 tal que B2 ◦ e = f ◦B1. Proposic¸a˜o 2.2.7. Para todo α > 0 e β ≥ 0 existe uma u´nica isometria linear bijetora A−β (−α) : X −α → Xβ−α tal que A−β (−α) ◦ϕ0,−α = ϕβ ,β−α ◦A−β . (2.2.8) 2. O problema linear 41 Demonstrac¸a˜o. Se β > 0, considere em Xβ a norma ηβ−α(·) dada por ηβ−α(x) = |Aβ−αx|X , x∈ Xβ . Observamos que, em geral, (Xβ ,ηβ−α(·))na˜o e´ um espac¸o de Banach. Fo´rmula (2.2.1) implica que ϕβ ,β−α : Xβ → Xβ−α e´ uma isometria entre (Xβ ,ηβ−α(·)) e o espac¸o de Hilbert (Xβ−α , | · |Xβ−α ). Se β = 0, considere em X a norma η−α(·) dada por η−α(x) = |A−αx|X , x ∈ X . Novamente, temos ϕ0,−α : X → X−α isometria entre (X ,η−α(·)) e o espac¸o de Hilbert (X−α , | · |X−α ). Assim, como A−β e´ uma isometria bijetora de X munido com a norma η−α em Xβ−α munido com a norma ηβ−α , aplicando o Lema 2.2.6, com E1 = X (munido com a norma η−α ), E2 = X−α , F1 = Xβ (munido com a norma ηβ−α ), F2 = Xβ−α , B1 = A−β , e = ϕ0,−α e f = ϕβ ,β−α , segue que existe uma u´nica isometria linear bijetora B2 := A −β (−α) tal que A−β (−α) ◦ϕ0,−α = ϕβ ,β−α ◦A−β . Dados γ ∈ R e β > 0, segue das Proposic¸o˜es 2.2.5 e 2.2.7 que esta´ bem definida uma isometria linear bijetora A−β (γ) : X γ → Xβ+γ . No caso em que γ ≥ 0, A−β (γ) e´ a restric¸a˜o de A −β a X γ . Se γ < 0, enta˜o A−β (γ) e´ tal que A −β (γ) ◦ϕ0,γ = ϕβ ,β+γ ◦A−β . Quando β > 0 e α ∈ R, definimos a aplicac¸a˜o Aβ (α) : X α → X−β+α por Aβ (α) = (A −β (−β+α)) −1. (2.2.9) Denote por A(α) := A1(α). Proposic¸a˜o 2.2.8. Com a notac¸a˜o introduzida acima, para todo γ,γ ′ ∈ R, com γ > γ ′, e todo β ∈ R ϕ−β+γ,−β+γ ′ ◦Aβ(γ) = A β (γ ′) ◦ϕγ,γ ′. Demonstrac¸a˜o. Sejam γ , γ ′ ∈ R tais que γ > γ ′ e β ∈ R. Suponhamos, primeiramente, que β ≤ 0 e note que, neste caso Aβ (γ ′) ◦ϕγ,γ ′ = A β (γ ′) ◦ϕγ,γ ′ . Consideremos treˆs possibilidades: Primeiro Caso: γ ≥ 0 > γ ′. Como γ ′ < 0, temos que Aβ (γ ′) ◦ϕ0,γ ′ = ϕ−β ,−β+γ ′ ◦Aβ . Ale´m disso, como γ ≥ 0, temos 42 2. O problema linear ϕ−1−β+γ,−β ◦Aβ ◦ϕγ,0 = A β (γ). Portanto, Aβ (γ ′) ◦ϕγ,γ ′ = ϕ−β ,−β+γ ′ ◦Aβ ◦ϕγ,0 = ϕ−β+γ,β+γ ′ ◦ϕ−1−β+γ,−βAβ ◦ϕγ,0 = ϕ−β+γ,−β+γ ′ ◦Aβ(γ). Segundo Caso: 0 > γ. Para mostrarmos a igualdade desejada basta verificarmos que ϕ−β+γ,−β+γ ′ ◦Aβ(γ) ◦ϕ−1γ,γ ′ ◦ϕ0,γ ′ = ϕ−β ,−β+γ ′ ◦Aβ , pois a unicidade da aplicac¸a˜o Aβ (γ ′) implicara´ o resultado. Observe que ϕ0,γ ′ = ϕγ,γ ′ ◦ϕ0,γ e ϕ−β+γ,−β+γ ′ ◦Aβ(γ) ◦ϕ−1γ,γ ′ ◦ϕ0,γ ′ = ϕ−β+γ,−β+γ ′ ◦A β (γ) ◦ϕ0,γ = ϕ−β+γ,−β+γ ′ϕ−β ,−β+γ ◦Aβ = ϕ−β ,−β+γ ′ ◦Aβ , como era desejado. Terceiro Caso: γ ′ ≥ 0. Como −β ≥ 0 as aplicac¸o˜es ϕγ,γ ′ e ϕ−β+γ,−β+γ ′ sa˜o incluso˜es. Portanto, se x ∈ X γ , por um lado Aβ (γ ′) ◦ϕγ,γ ′(x) = Aβ x ∈ X γ ′−β . Por outro lado ϕ−β+γ,−β+γ ′ ◦Aβ(γ)(x) = Aβ x ∈ X γ ′−β e segue a igualdade desejada. Para completar a demonstrac¸a˜o, suponhamos que β > 0. Neste caso, Aβ (γ) = (A −β (−β+γ)) −1. Como −β + γ >−β + γ ′, temos ϕγ,γ ′ ◦A−β(−β+γ) = A −β (−β+γ ′) ◦ϕ−β+γ,−β+γ ′. 2. O problema linear 43 Portanto suas inversas sa˜o iguais e temos (A−β (−β+γ)) −1 ◦ϕ−1γ,γ ′ = ϕ−1−β+γ,−β+γ ′ ◦ (A −β (−β+γ ′)) −1. Logo, ϕ−β+γ,−β+γ ′ ◦Aβ(−β+γ) = A β (γ ′) ◦ϕγ,γ ′ . Para demonstrar o pro´ximo resultado novamente dividiremos a demonstrac¸a˜o em casos. Em cada caso, teremos que fazer novas diviso˜es o que tornara´ a demonstrac¸a˜o um tanto quanto te´cnica. Proposic¸a˜o 2.2.9. Com a notac¸a˜o introduzida acima, para todo α,β ,γ ∈ R Aβ (−γ+α) ◦A γ (α) = A β+γ (α) . Demonstrac¸a˜o. Dividiremos a demonstrac¸a˜o em quatro casos. Primeiro Caso: β ≤ 0 e γ ≤ 0. Suponha que α > 0. Com isso temos Aβ+γ (α) x = A β+γx ∈ Xα−β−γ , para todo x ∈ Xα . Por outro lado, Aγ (α)x = A γx ∈ Xα−γ , para todo x ∈ Xα e, assim, Aβ (−γ+α)A γx = Aβ (Aγx) = Aβ+γx ∈ Xα−β−γ .Portanto Aβ (−γ+α) ◦A γ (α) = A β+γ (α) . Suponha que α ≤ 0 com −γ+α > 0. Segue da Proposic¸a˜o 2.2.7 que Aγ (α) ◦ϕ0,α = ϕ−γ,−γ+α ◦Aγ , Aβ+γ (α) ◦ϕ0,α = ϕ−β−γ,−β−γ+α ◦Aβ+γ . Ale´m disso, Aβ (−γ+α) e´ a restric¸a˜o de A β a X−γ+α ⊂ X e Aβ (−γ) e´ a restric¸a˜o de A β a X−γ ⊂ X 44 2. O problema linear (ver fo´rmula (2.2.7)). Portanto, Aβ (−γ+α) ◦A γ (α) ◦ϕ0,α = A β −γ+αϕ−γ,−γ+α ◦Aγ = ϕ−β−γ,−β−γ+α ◦Aβ(−γ) ◦Aγ = ϕ−β−γ,−β−γ+α ◦Aβ+γ . e isso implica a desigualdade desejada. Para completar a demonstrac¸a˜o do Primeiro Caso, suponha que α ≤ 0 com −γ +α ≤ 0. Proposic¸a˜o 2.2.7 implica que Aβ (−γ+α) ◦ϕ0,−γ+α = ϕ−β ,−β−γ+α ◦Aβ , Aγ (α) ◦ϕ0,α = ϕ−γ,−γ+α ◦Aγ Aβ+γ (α) ◦ϕ0,α = ϕ−β−γ,−β−γ+α ◦Aβ+γ . Como −β − γ ≥ −β ≥ −β − γ +α , temos ϕ−β−γ,−β−γ+α = ϕ−β ,−β−β+αϕ−β−γ,−β . As aplicac¸o˜es ϕ−γ,0 e ϕ−β−γ,−β sa˜o incluso˜es e portanto: Aβ (−γ+α) ◦A γ (α) ◦ϕ0,α = A β (−γ+α) ◦ϕ−γ,−γ+α ◦Aγ = Aβ (−γ+α) ◦ϕ0,−γ+α ◦ϕ−γ,0 ◦Aγ = ϕ−β ,−β−γ+α ◦Aβ ◦ϕ−γ,0 ◦Aγ = ϕ−β−γ,−β−γ+α ◦ϕ−1−β−γ,−β ◦Aβ ◦ϕ−γ,0 ◦Aγ = ϕ−β−γ,−β−γ+α ◦Aβ+γ e isso implica a desigualdade desejada. Segundo Caso: β > 0, γ > 0 e α ∈ R. Utilizando a definic¸a˜o descrita na fo´rmula (2.2.9) temos Aβ (−γ+α) = (A −β −β−γ+α) −1, Aγ (α) = (A −γ (−γ+α)) −1, Aβ+γ (α) = (A −β−γ −β−γ+α) −1. 2. O problema linear 45 Defina α˜ =−β−γ+α , β˜ =−γ e γ˜ =−β . Segue que β˜ ≤ 0 e γ˜ ≤ 0 e aplicando a igualdade obtida no Primeiro Caso temos A−γ (−γ+α) ◦A −β (−β−γ+α) = A −β−γ (−β−γ+α). Logo, Aβ+γ (α) = (A −β−γ −β−γ+α) −1 = (A−γ (−γ+α) ◦A −β (−β−γ+α)) −1 = (A−β−β−γ+α) −1 ◦ (A−γ (−γ+α)) −1 = Aβ (−γ+α) ◦A γ (α). Resta agora considerarmos os dois casos em que β e γ tem sinais contra´rios. Terceiro Caso: β > 0, γ ≤ 0 e α ∈ R. Utilizando a definic¸a˜o descrita na fo´rmula (2.2.9) temos Aβ−γ+α = (A −β (−β−γ+α)) −1. Suponha que β +γ > 0. Novamente, temos Aβ+γ (α) = (A −β−γ (−β−γ+α)) −1. Como γ ≤ 0,−β −γ ≤ 0 e−β ≤ 0, o Primeiro Caso com α˜ =−β − γ+α , β˜ = γ e γ˜ =−β − γ implica Aγ (α) ◦A −β−γ (−β−γ+α) = A −β −β−γ+α . Logo, Aβ+γ (α) = (A −β−γ (−β−γ+α)) −1 = (A−β (−β−γ+α)) −1 ◦Aγ (α) = A β (−γ+α) ◦A γ (α). Se β + γ ≤ 0, o Primeiro Caso com α˜ = α , β˜ =−β e γ˜ = β + γ implica que A−β (−β−γ+α) ◦A β+γ (α) = A γ (α) e obtemos a igualdade desejada. Quarto Caso: β ≤ 0 e γ > 0 e α ∈ R. A demonstrac¸a˜o e´ ana´loga a do Terceiro Caso. Sejam α , β > 0. Segue da Proposic¸a˜o 2.2.2 que a aplicac¸a˜o ϕβ−α,−α e´ bijetora de Xβ−α 46 2. O problema linear em ϕβ−α,−α(Xβ−α). Defina a aplicac¸a˜o A˜β (−α) := A β (β−α) ◦ϕ−1β−α,−α : ϕβ−α,−α(Xβ−α)⊆ X−α → X−α . (2.2.10) Denote por A˜(−α) = A˜1(−α). A aplicac¸a˜o A˜ β (−α) e´ bijetora, ja´ que e´ composic¸a˜o de aplicac¸o˜es bijetoras. Defina A˜−β (−α) := (A˜ β (−α)) −1. (2.2.11) Segue, da definic¸a˜o em (2.2.10), que A˜−β (−α) = ϕβ−α,−α ◦A −β (−α). Lema 2.2.10. Com a notac¸a˜o introduzida acima, A˜β (−α) e´ uma aplicac¸a˜o auto-adjunta com respeito ao produto interno em X−α . Demonstrac¸a˜o. Primeiramente, afirmamos que: (R−1α ◦ϕ0,−α)(x) = A−2αx, x ∈ X , (2.2.12) onde Rα : Xα → X−α e´ o isomorfismo de Fre´chet-Riesz. De fato, seja x ∈ X . O funcional linear ϕ0,−α(x) : Xα → R e´ dado por ϕ0,−α(x)(y) = 〈y,x〉X , para y ∈ Xα . Por outro lado, como A e´ auto-adjunto temos 〈y,x〉X = 〈Aαy,AαA−2αx〉X = 〈y,A−2αx〉Xα . Portanto, ϕ0,−αx(·) = 〈·,A−2αx〉Xα e, desse modo, (Rα ◦ A−2α)x = ϕ0,−α(x) e (2.2.12) esta´ demonstrada. Fo´rmula (2.2.12) implica que para todo u, v ∈ X temos 〈ϕ0,−αu,ϕ0,−αv〉X−α = 〈A−2αu,A−2αv〉Xα = 〈A−αu,A−αv〉X . (2.2.13) Como Aβ (β−α) = (A −β (−α)) −1 e Aβ = (A−β )−1, Proposic¸a˜o 2.2.7 implica que Aβ (β−α) ◦ϕβ ,β−α = ϕ0,−α ◦Aβ . 2. O problema linear 47 Assim, para u ∈ Xβ , temos (ϕ0,−α ◦Aβ )(u) = (Aβ(β−α) ◦ϕβ ,β−α)(u) = (A˜ β (−α) ◦ϕβ−α,−α ◦ϕβ ,β−α)(u). (2.2.14) Para u, v ∈ Xβ , defina x = ϕβ−α,−αϕβ ,β−αu e y = ϕβ−α,−αϕβ ,β−αv. E´ fa´cil ver que y = ϕβ−α,−αϕβ ,β−αv = ϕ0,−αϕβ−α,0ϕβ ,β−αv = ϕ0,−αϕβ ,0v. Como ϕβ ,0 e´ a aplicac¸a˜o inclusa˜o temos 〈A˜β (−α)x,y〉X−α = 〈A−αAβu,A−αv〉X . (2.2.15) Analogamente, obtemos 〈x, A˜β (−α)y〉X−α = 〈A−αu,A−αAβ v〉X . Como AαAβ = Aα+β e Aβ e´ sime´trica em X , temos 〈A˜β (−α)x,y〉X−α = 〈AβA−αu,A−αv〉X = 〈A−αu,AβA−αv〉X = 〈x, A˜β (−α)y〉X−α . Ou seja, mostramos que 〈A˜β (−α)x,y〉X−α = 〈x, A˜ β (−α)y〉X−α , para todo x,y ∈ ϕβ−α,−α(ϕβ ,β−α(Xβ )). (2.2.16) Por densidade e (2.2.16) segue que 〈A˜β (−α)x,y〉X−α = 〈x, A˜ β (−α)y〉X−α , para todox,y ∈ ϕβ ,β−α(Xβ ). Isso mostra que A˜β (−α) e´ auto-adjunta. Segue do Lema 2.2.10 que A˜−β (−α), a aplicac¸a˜o invesa de A˜ β (−α), e´ sime´trica em X −α . Lema 2.2.11. Com a notac¸a˜o introduzida acima, para todo α,β ,γ ∈ (0,∞) temos A˜−β−γ (−α) = A˜ −β (−α) ◦ A˜ −γ (−α). 48 2. O problema linear Demonstrac¸a˜o. Notemos que A˜−β−γ (−α) = ϕβ+γ−α,−α ◦A −β−γ (−α) , A−β (γ−α) = ϕβ ,β+γ−α ◦A−β ◦ϕ−10,γ−α . A igualdade da Proposic¸a˜o 2.2.9 implica que A−β−γ (−α) = A −β (γ−α) ◦A −γ (−α). Portanto, A˜−β−γ (−α) = ϕβ+γ−α,−α ◦A −β γ−α ◦ϕ−1γ−α,−α ◦ϕγ−α,−α ◦A−γ(−α). O lema esta´ demonstrado. Proposic¸a˜o 2.2.12. Seja α > 0. A aplicac¸a˜o B := A˜(−α) : D(B) = ϕ1−α,−α(X1−α) ⊂ X−α → X−α e´ auto-adjunta em X−α e reσ(B) > 0. Se β > 0, seja B−β a poteˆncia fraciona´ria ba´sica de B de ordem −β e XβB o espac¸o de poteˆncia fraciona´ria correspondente. Enta˜o B−β = A˜−β (−α) e X β B = ϕβ−α,−α(X β−α). A aplicac¸a˜o ϕβ−α,−α e´ uma isometria entre os espac¸os de Hilbert Xβ−α e X β B . Demonstrac¸a˜o. Como reσ(A)> 0, existe um δ > 0 tal que 〈Ax,x〉X ≥ δ 〈x,x〉X , para todo x∈X . As igualdades (2.2.14) e (2.2.15) implicam que para u ∈ X1 e x = ϕ1−α,−αϕ1,1−αu temos 〈A˜1(−α)x,x〉X−α = 〈A−αu,A1A−αu〉X ≥ δ 〈A−αu,A−αu〉X = δ 〈x,x〉X−α . Logo, pela densidade de ϕ1,1−α(X1) em ϕ1−α,−α(X1−α) = D(A˜1(−α)), obtemos reσ(A˜1(−α)) > 0. Portanto B := A˜(−α) gera a famı´lia B −β , β > 0, de espac¸os de poteˆncias fraciona´rias de B. Portanto B−β−γ = B−β ◦B−γ , β , γ ∈ (0,∞). (2.2.17) Afirmamos que B−β = A˜−β (−α), para todo β > 0. (2.2.18) De fato, seja Z o conjunto formado por β ∈ (0,∞) tal que B−β = A˜−β (−α). E´ fa´cil ver que 1 ∈ Z e usando um argumento de induc¸a˜o, a igualdade (2.2.17) e o Lema 2.2.11, mostramos 2. O problema linear 49 que Z conte´m todos os nu´meros inteiros. Como um operador sime´trico na˜o-negativo definido em espac¸os de Hilbert possui uma u´nica raiz quadrada na˜o-negativa, novamente um argumento de induc¸a˜o (em k ∈ N) implica que Z conte´m todos os nu´meros da forma m/2k, com m, k ∈ N. Defina Z0 = {m/2k | m,k ∈ N}. Logo Z0 e´ denso em (0,∞). Dado β > 0 seja (βn)n uma sequeˆncia em Z0 tal que βn → β quando n→ ∞. Utilizando a igualdade (1.5.3), temos B−βnx = 1 Γ(βn) ∫ 1 0 tβn−1e−Btxdt, para cada n ∈ N e x ∈ X−α , B−β x = 1 Γ(β ) ∫ 1 0 tβ−1e−Btxdt para cada x ∈ X−α . Portanto, B−βnx−B−β x = 1 Γ(βn)Γ(β ) [∫ 1 0 (Γ(β )tβ−1−Γ(βn)tβ−1)e−Btxdt ] . Logo, para cada x ∈ X−α , |B−βnx−B−β x|X−α → 0, quando n→ ∞. Analogamente mostramos que para cada x ∈ X |A−βnx−A−β x|X → 0, quando n→ ∞. Seja u∈X . Como A˜−βn (−α)ϕ0,−αu=ϕ0,−αA −βnu para todo n∈N e A˜−β (−α)ϕ0,−αu=ϕ0,−αA −βu obtemos |B−βnϕ0,−αu−B−βϕ0,−αu|X−α → 0, quando n→ ∞. Tambe´m |A−βnu−A−βu|X→ 0, quando n→∞, e desse modo |ϕ0,−αA−βnx−ϕ0,−αA−βu|X−α → 0, quando n→ ∞. Portanto, |A˜−βn (−α)ϕ0,−αu− A˜ −β (−α)ϕ0,−αu|X−α → 0, u ∈ X . 50 2. O problema linear Recordemos que βn ∈ Z0 para todo n ∈N. Logo B−βn = A˜−βn(−α), para todo n ∈N e segue que B−βϕ0,−αu = A˜ −β (−α)ϕ0,−αu, para todo u ∈ X . Como o conjunto ϕ0,−α(X) e´ denso em X−α , temos β ∈ Z e isto prova nossa afirmativa. A igualdade (2.2.18) implica que XβB = ϕβ−α,−α(X β−α). Afirmamos agora para todo β > 0, ϕβ−α,−α e´ uma isometria de Xβ−α em X β B . De fato, sejam x˜, y˜ ∈ Xβ−α arbitra´rios e defina x = ϕβ−α,−α x˜ e y = ϕβ−α,−α y˜. Consideremos primeiro o caso em que existam u, v ∈ Xβ tais que x˜ = ϕβ ,β−αu e y˜ = ϕβ ,β−αv. Como A β (β−α)ϕβ ,β−α = ϕ0,−αA β , temos Bβ x = A˜β (−α)x = A β (β−α)ϕ −1 β−α,−αϕβ−α,−α x˜ = Aβ (β−α)ϕβ ,β−αu = ϕ0,−αA βu. Analogamente mostramos que Bβ y = ϕ0,−αAβ v. Usando (2.2.13) temos 〈x,y〉 XβB = 〈Bβ x,Bβ y〉X−α = 〈ϕ0,−αAβu,ϕ0,−αAβ v〉X−α = 〈A−αAβu,A−αAβ v〉X = 〈Aβ−αu,Aβ−αv〉X . Agora, se β −α ≥ 0, como ϕβ ,β−α e´ uma aplicac¸a˜o inclusa˜o, temos 〈Aβ−αu,Aβ−αv〉X = 〈u,v〉Xβ−α = 〈x˜, y˜〉Xβ−α . Por outro lado, se β −α < 0, temos 〈Aβ−αu,Aβ−αv〉X = 〈A−(α−β )u,A−(α−β )v〉X = 〈ϕ0,−(α−β )u,ϕ0,−(α−β )v〉X−(α−β ) = 〈x˜, y˜〉X−(α−β ). Portanto, em ambas as situac¸o˜es, temos 〈x,y〉 XβB = 〈x˜, y˜〉Xβ−α . O caso geral segue do fato do conjunto ϕβ ,β−α(Xβ ) ser denso em Xβ−α e do primeiro caso. Concluı´mos a demonstrac¸a˜o da proposic¸a˜o. 2. O problema linear 51 Proposic¸a˜o 2.2.13. Se α ∈ [0,1/2), x ∈ X1−α e v ∈ X1/2 ⊆ Xα , temos (A(1−α)x).v = 〈x,v〉X1/2, onde o ponto ‘.’ denota a func¸a˜o avaliac¸a˜o entre um elemento de X−α e Xα . Demonstrac¸a˜o. Suponha que x ∈ X1. Segue da Proposic¸a˜o 2.2.7 que A(1−α)x = ϕ0,−αAx. O Teorema de Freche´t-Riesz e a fo´rmula (2.2.12) implicam que para todo v ∈ X1/2 temos ( A(1−α)x ) .v = 〈v,R−1α ( A(1−α)x )〉α = 〈v,R−1α ϕ0,−αAx〉α = 〈v,A−2αAx〉α = 〈Aαv,AαA−2αAx〉X = 〈v,Ax〉X = 〈v,x〉X1/2 . Portanto, o resultado esta´ demonstrado sempre que x ∈ X1. O caso geral segue da densidade de X1 em X1−α e em X1/2. 2.3 O problema linear abstrato Vamos agora analisar o problema linear abstrato associado a` equac¸a˜o (ERD). Nesta sec¸a˜o vamos assumir treˆs hipo´teses ba´sicas para desenvolver nosso trabalho. (HL1) Sejam a0, a1 ∈ (0,∞) constantes positivas e para cada i, j= 1 . . . ,N consideremos func¸o˜es ai j : Ω→ R, em L∞(Ω) tais que ai j = a ji e para qualquer que seja ξ ∈ RN e para quase todo x ∈Ω suponha que a0|ξ |2 ≤ N ∑ i, j=1 ai j(x)ξiξ j ≤ a1|ξ |2. (2.3.1) No que seja utilizaremos a notac¸a˜o A(x) := (ai j(x))Ni, j=1, x ∈Ω. 52 2. O problema linear (HL2) Seja β : Ω→ R uma func¸a˜o mensura´vel tal que para todo ε > 0 existe uma constante Cε ≥ 0 tal que∣∣∣|β |1/2u∣∣∣2 L2(Ω) ≤ ε|u|2H1(Ω)+Cε |u|2L2(Ω), para todo u ∈ H10 (Ω). (2.3.2) (HL3) Suponhamos tambe´m que λ1 := inf {∫ Ω [ N ∑ i, j=1 ai j∂iu∂ ju+β |u|2 ] dx | u ∈ H10 (Ω), |u|L2 = 1 } > 0. Podemos dizer que a Hipoo´tese (HL3) significa que a soluc¸a˜o do problema estaciona´rio −Lu+β (x)u = 0 em Ω com potencial β e com condic¸o˜es de fronteira de Dirichlet possui energia positiva. Suponha que as Hipo´teses (HL1), (HL2) e (HL3) sejam va´lidas. Consideremos o espac¸o das distribuic¸o˜es em Ω, D ′(Ω), e o operador L: H10 (Ω)→D ′(Ω) definido por Lu = N ∑ i, j=1 ∂i(ai j∂ ju), u ∈ H10 (Ω). A definic¸a˜o de derivadas de distribuic¸o˜es implica que (Lu−βu)(v) =− ∫ Ω [ N ∑ i, j=1 ai j∂iu∂ jv+βuv ] dx, u ∈ H10 (Ω), v ∈D(Ω). (2.3.3) Segue por densidade, de H10 (Ω) em L 2(Ω) e de D(Ω) em H10 (Ω), que 〈Lu−βu,v〉L2(Ω) =− ∫ Ω [ N ∑ i, j=1 ai j∂iu∂ jv+βuv ] dx (2.3.4) para u,v ∈ H10 (Ω) com Lu−βu ∈ L2(Ω). Lema 2.3.1. Assuma as Hipo´teses (HL1), (HL2) e (HL3). Seja κ ∈ [0,λ1) arbitra´rio. Para cada ε ∈ (0,a0), existe um ρ ∈ (0,1) tal que c :=min{ρ(a0−ε),(1−ρ)(λ1−κ)−ρ(ε+Cε+κ)}> 2. O problema linear 53 0 e c ( |∇u|2L2(Ω)+ |u|2L2(Ω) ) ≤ ∫ Ω [ N ∑ i, j=1 ai, j∂iu∂ ju+(β −κ)|u|2 ] dx ≤C ( |∇u|2L2(Ω)+ |u|2L2(Ω) ) , u ∈ H10 (Ω), onde C := max{a1+ ε,ε+Cε}. Demonstrac¸a˜o. Seja ε ∈ (0,a0). Como a0− ε > 0 temos que 0 < λ1−κ (λ1−κ)+(ε+κ+Cε) < 1. Seja ρ ∈ R tal que 0 < ρ < λ1−κ (λ1−κ)+(ε+κ+Cε) < 1. Com esta escolha de ρ ∈ (0,1) temos que (1/ρ−1)(λ1−κ)> (ε+κ+Cε) e, portanto, c > 0. Note que, a definic¸a˜o λ1 na Hipo´tese (HL3) implica que qualquer que seja u ∈ H10 (Ω) temos λ1|u|2L2(Ω) ≤ ∫ Ω [ N ∑ i, j=1 ai j∂iu∂ ju+β |u|2 ] dx. Logo, ∫ Ω [ N ∑ i, j=1 ∂iu∂ ju+(β −κ)|u|2]dx≥ ρa0|∇u|2L2 +ρ ∫ Ω (β −κ)|u|2dx+ +(1−ρ)λ1|u|2+(1−ρ) ∫ Ω κ|u|2dx = ρa0|∇u|2L2(Ω)+(1−ρ)(λ1−κ)|u|2L2(Ω)+ρ ∫ Ω (β −κ)|u|2dx ≥ ρa0|∇u|2L2(Ω)+(1−ρ)(λ1−κ)|u|2L2(Ω)−ρε|u|2H1(Ω)
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