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ESA – OAB-DF - ASPECTOS RELEVANTES DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
Professor: Bruno Rosa 
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DO NCPC 
O NCPC institui um novo sistema, com filosofia distinta do CPC-73. O Codificador incorporou no texto legal normas constitucionais cuja aplicação, pode-se dizer, evoluiu ao longo dos anos, a partir da produção científica, aplicação pelos operadores de direito e complexidade da sociedade, em fenômeno similar ao que se denomina mutação constitucional. (mudança de norma, sem alteração do texto). 
Nesse sentido, podemos afirmar que o CPC-15 foi forjado a partir de algumas premissas ou vetores, a exemplo das normas fundamentais (ou princípios, para parcela da doutrina) da 1º primazia das decisões de mérito; 2º promoção pelo Estado da solução consensual; 3ºcontraditório substancial; 4º autorregramento da vontade das partes (reforço da autonomia da vontade); 5º princípio da cooperação. 
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DO NCPC (continuação)
- Art. 3, §2º – princípio de promoção pelo Estado da solução por autocomposição. Consagra política pública e a resolução 125 do CNJ, que já previa igual disposição. O NCPC é estruturado no sentido de estimular o Poder Público e as partes à autocomposição.
- Art. 4º CPC - Princípio da primazia das decisões de mérito – Permeia o NCPC. Sua aplicação impede: 
a) indeferimento da exordial sem antes mandar emendar; 
b) desconsideração de recurso sem permitir a superação de vício, institui obrigação ao juiz de determinar a correção dos vícios processuais e o saneamento de outros vícios (art. 139, IX); 
c) relator não pode inadmitir o recurso sem antes determinar a emenda pelo recorrente (vícios sanáveis – art. 932, parágrafo único); efeito regressivo em face de decisões que extingam o processo sem exame de mérito (faculdade de retratação); 
d) autoriza a desconsideração de vício pelo STF e STJ (enorme inovação, considerando a jurisprudência defensiva vigente em nossos tribunais – é um marco na concretização deste princípio): “§ 3o O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave.” (art. 1.029, §3º)
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DO NCPC (continuação)
- Art. 10 (anuncia uma regra que concretiza o princípio do CONTRADITÓRIO. É uma forma de exteriorização do postulado) – qualquer questão que o juiz apreciar no processo exige prévio diálogo entre as partes. Vedação de decisões-surpresa. Dever de consulta do juiz às partes sobre questão que não se manifestaram, mesmo em casos em que poderia atuar ex officio. Obs.: esse entendimento já era contemplado no RESP repetitivo N° 1.148.296/SP (ratio decidendi permanece válida).
Este postulado encerra o que a doutrina denomina de due substantive process of law, ou seja, o respeito ao devido processo legal substantivo, que impõe, no que diz respeito ao contraditório, a prévia oitiva da parte contrária, para que lhe seja oportunizada, não apenas a formal manifestação nos autos, mas o efetivo direito ao convencimento do julgador sobre o desacerto da pretensão que se lhe impõe. 
O contraditório substancial, que é composto por dois aspectos, quais sejam, a possibilidade de opinar com antecedência e de influenciar na decisão, antes de sua tomada, foi desrespeitado.
Obs.: forma de consideração do fato superveniente, que impõe prévia oitiva das partes, se constatado pelo juiz ou mesmo pelo Tribunal. 
Obs.: é possível decisão sem prévia oitiva favorável à parte, a exemplo do que ocorre na improcedência liminar do pedido. Essa decisão permite retratação (efeito regressivo), em homenagem ao contraditório que, no caso, é diferido, em relação ao autor. 
Obs.: algumas espécies de decisão provisória podem ser prolatadas sem oitiva das partes. 
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DO NCPC (continuação)
- PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO (art. 6º) – tem por meta transformar o processo num ambiente cooperativo. Comunidade de trabalho em que vigore a lealdade e o equilíbrio entre os sujeitos do processo (juiz e partes). Preocupa-se em estabelecer um MODELO DE PROCESSO COOPERATIVO. Fica entre 02 estremos (modelo publicista – juiz como protagonista, com muitos poderes, exercido até mesmo contra a vontade das partes; modelo adversarial, proeminência é das partes, juiz mero expectador, com competência decisória. Princípio da cooperação vem num meio termo. Busca equilíbrio e simetria no processo. É um corolário do princípio da boa-fé. 
Boa-fé gera deveres de cooperação (ou deveres anexos) – de todos os atores; (cooperar entre si não é um ajudar ao outro, mas agir em conformidade com os deveres da boa-fé, em não transformar o processo em um ambiente hostil e de desarmonia. Deve ser ambiente propício para diálogo fecundo e equilibrado). 
Gera para o juiz deveres: 
1) dever de consulta - juiz dialoga com as partes; 
2) dever de prevenção - o juiz tem o dever de apontar as falhas processuais – dever de prevenir as partes de que o processo está defeituoso, indicando como irá ser corrigido;
3) dever de esclarecimento - se revela de duas formas. Dever de proferir decisões claras; dever de o juiz pedir esclarecimento à parte se ele não entender sua postulação. Não pode indeferir de plano se não entender (vemos aqui uma revelação do princípio da primazia das decisões de merito; 
1 Condições da ação ou pressupostos processuais? Como o codificador de 2015 abordou a questão
CPC-73
CPC-15
Art. 3oParaproporoucontestaração é necessário ter interesse e legitimidade.
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: 
Vl- quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;
Art. 17. Parapostularem juízo é necessário ter interesse e legitimidade.
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
1 Condições da ação ou pressupostos processuais? Como o codificador de 2015 abordou a questão (continuação)
Conceito: “condições para que legitimamente se possa exigir, na espécie, o provimento jurisdicional” (GRINOVER, Ada Pellegrini).
Teoria eclética: Distingue direito de ação de direito material, gozando ambos de autonomia. Contudo, o direito ao pronunciamento de mérito é condicionado à existência das condições da ação (ao lado desta teoria, temos a teoria abstrata, a concreta, imanentista (ação não possuía autonomia, sendo um desdobramento do direito material) e a teoria da asserção, esta adotada pelo STJ quando da vigência do Estatuto revogado). 
O CPC-15 abordou os aspectos INTERESSE e LEGITIMIDADE em seu art. 17. Contudo, diversamente do que fazia o codex revogado, excluiu menção expressa à expressão “condições da ação”. Seria isso suficiente para concluirmos que houve uma descontinuação do instituto ou sua inclusão na categoria dos pressupostos processuais?
Há divergência na doutrina, sendo defensável a preservação da categoria, com exceção da possibilidade jurídica do pedido, reclassificado como mérito ainda no CPC-73. Entendimento do STJ (formado sob a égide dom CPC-73, em recurso representativo de controvérsia n° REsp 1605470 / RJ, corroborado após o advento do NCPC).
 ASPECTOS PRÁTICOS AO ADVOGADO: 
a) verificada a ausência de interesse de agir ou a ilegitimidade ad causam, abrir tópico preliminar na petição para arguir a carência da ação (ou a inexistência de pressupostos processuais, a depender da vertente doutrinária adotada), com requerimento de extinção do feito sem exame de mérito (Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;)
b) Se o vício somente for detectado na fase de instrução processual, vale dizer, reclamou dilação probatória para a sua percepção, é possível defender o julgamento de improcedência, de acordo com a jurisprudência do STJ, que acolhe a teoria da prospecção ou da asserção);
c) A “possibilidade jurídica do pedido” cuja natureza de condição de açãojá era controvertida no CPC-73, não foi abordada pelo CPC-15, seja como condição da ação ou como pressuposto processual, o que autoriza o enfrentamento da questão como mérito (pedido de improcedência do pedido). 
2 – Considerações gerais sobre os prazos 
1º mudança – envolve o processo eletrônico e os fusos horários – se o processo é eletrônico, pode-se praticar o ato até as 23:59 do LOCAL do juízo;
2º prazos em dia, ex lege ou judicial, somente se contam em dias úteis;
Obs.1: prazos em hora, em meses e em ano estão fora desta regra, pois a lei é específica ao se referir aos prazos contados em dias. 
Obs2.: possibilidade de o juiz dilatar os prazos; O juiz não pode diminuir prazos; Se houvesse isso, estaria ofendido o princípio da segurança jurídica;
3º “Carga rápida” regulamentada – de 02 a 06 horas, para cópias, sem prejuízo para a continuidade do prazo. CUIDADO: “art. 272, §6º A retirada dos autos do cartório ou da secretaria em carga pelo advogado, por pessoa credenciada a pedido do advogado ou da sociedade de advogados, pela Advocacia Pública, pela Defensoria Pública ou pelo Ministério Público implicará intimação de qualquer decisão contida no processo retirado, ainda que pendente de publicação.”
4º Prazos especiais da Fazenda e Ministério Público – o CPC-15 simplifica e unifica, prazo em dobro para quaisquer manifestações e em dias úteis, superando a contagem diferente, por exemplo, para contestar, em quadruplo e recorrer, em dobro (Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.)
2.1 – Considerações gerais sobre os prazos 
Obs.: não se aplica aos prazos especiais, apenas aos comuns. Exemplo de prazo especial, impugnação ao cumprimento de sentença (30 dias úteis). 
5º a contagem em dobro do prazo se aplica ao sistema de assistência judiciária no Brasil;
6º prazo mínimo – o CPC-73 previa 24 horas, o de 2015 institui o prazo mínimo para comparecimento de uma parte equivalente a 48 horas.
7° atos praticados prematuramente são tempestivos. Acabou o debate sobre recurso prematuro. Supera-se, de forma autêntica, a jurisprudência defensiva que visava o não conhecimento a pretexto da extemporaneidade da manifestação (art. 218, § 4o Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo)
8° suspensão dos prazos processuais entre 20/12 e 20/01 – não são férias coletivas. Período reivindicado pelos Advogados (sem audiências e sessões de julgamento). 
9º data inicial para prática de ato material – não podemos confundir prazo material com prazo processual – art. 231, §3: Quando o ato tiver de ser praticado diretamente pela parte ou por quem, de qualquer forma, participe do processo, sem a intermediação de representante judicial, o dia do começo do prazo para cumprimento da determinação judicial corresponderá à data em que se der a comunicação). 
2.2 – Considerações gerais sobre os prazos 
10º prazos quando há litisconsortes com advogados diferentes – continua existindo a contagem em dobro, mas devem ser advogados diferentes, que atuem em escritórios distintos. O prazo em dobro só existe se o processo for em autos de papel. Se tramitar em autos eletrônicos, não se justifica. A dobra cessa se um dos réus for revel. (esses dois apontamentos finais são novidades) STJ: “O prazo comum para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro no caso de litisconsortes com procuradores distintos, em autos físicos.” (REsp 1.693.784-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 28/11/2017, DJe 05/02/2018)
11º a comprovação do feriado local, agora, é ônus do recorrente, sob pena de intempestividade – (isso é regra geral, em que pese prevista na parte de recursos). Supera divergência contida na jurisprudência; Observação. A partir da vigência do CPC-15, o STJ, por sua CORTE ESPECIAL, reformulou entendimento que permitia a comprovação posterior do feriado local, exigindo tal demonstração por ocasião da interposição do recurso, em atenção ao art. 1.003, §6º: “5. Eventual documento idôneo apto a comprovar a ocorrência de feriado local ou a suspensão do expediente forense deve ser colacionado aos autos no momento de sua interposição, para fins de aferição da tempestividade do recurso, a teor do que dispõe o art. 1.003, § 6º, do CPC/2015. Precedente da Corte Especial.” (AgInt no AREsp 1120302/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe 29/06/2018)
2.3 – importante regra do processo judicial eletrônico 
Base legal: CPC-15 e Lei n° 11.419/2006
“Art. 213. A prática eletrônica de ato processual pode ocorrer em qualquer horário até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia do prazo.
Parágrafo único. O horário vigente no juízo perante o qual o ato deve ser praticado será considerado para fins de atendimento do prazo.”
Atenção: Para quem atua em mais de uma Seção ou Comarca, deve-se atentar, para efeito de cumprimento ao art. 213, parágrafo único, do CPC-15, ao horário vigente na localidade do juízo perante o qual se realiza o peticionamento, sob pena de intempestividade.
2.4 - Da contagem do prazo processual em dias úteis
“Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais.”
Uma das grandes novidades em matéria de procedimento foi a instituição da contagem do prazo processual em dias úteis. 
Obs 1: Prazos de natureza processual (fixação contida diretamente na lei) ou judicial (estipulados pelo juízo) são abarcados pela contagem em dias úteis. E se o juiz, ao consignar o prazo para a prática do ato, silenciar se deve ser praticado em dias úteis ou não, devo interpretá-lo como dias corridos? 
Entendo que não, haja vista que a contagem em dias úteis está expressamente consagrada em texto legal, sendo dispensável que o magistrado faça alusão ao termo “úteis” em seu despacho. Lembrar que as decisões judiciais são objeto dos efeitos anexos, ou seja, a incidência de disposições previstas em lei, que independem da manifestação judicial. 
2.5 - Da contagem do prazo processual em dias úteis
Obs.2: Contudo, se o juiz, expressamente, indicar que a manifestação deva ser apresentada em dias corridos, entendo que comando desta natureza padece de error in procedendo, que pode ser debatido em sede recursal, mas, até que sobrevenha a cassação do decisum, aconselha-se o atendimento do prazo, tal como vazado.
Obs 3: Será que essa regra se aproveita aos procedimentos em curso nos Juizados, ou seja, regidos pela Lei n° 9.099, sendo compatível com o princípio da duração razoável do processo (dos PL’s 36/2018 e PL 6256/2016)?
Art. 2º da Lei n° 9.099 – “Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.”
O PL 36/2018 pretende externar a contagem em dias úteis nos Juizados. Já o PL 6256/2016 é no sentido diametralmente oposto, para insistir na contagem em dias corridos. (argumentos favoráveis à contagem em dias úteis: 1º natureza de norma geral do art. 219 do CPC-15 (diálogo entre as fontes); 2º prerrogativa da Advocacia; 3º reduzida ou inexistente efetividade da manutenção dos dias corridos, que não são determinantes para a duração razoável do processo; 4º tutela provisória, como mecanismo de mitigar os efeitos deletérios do tempo no processo.
2.6 - Da contagem do prazo processual em dias úteis
Essa interpretação tem sido acolhida por doutrina autorizada, consoante o teor dos enunciados 415 e 416, publicados no VII FPPC, realizado em 2016:
Enunciado 415. Os prazos processuais no sistema dos Juizados Especiais são contados em dias úteis.
Enunciado 416. A contagem do prazo processual em dias úteis prevista no art. 219 aplica-seaos Juizados Especiais Cíveis, Federais e da Fazenda Pública.
Obs: A Ordem dos Advogados do Brasil manejou no STF a ADPF n° 483, sob relatoria do Min. Luiz Fux, a fim de debater a constitucionalidade de decisões judiciais que aplicaram a contagem dos prazos em dias corridos nos Juizados Especiais (não julgada).
ASPECTOS PRÁTICOS AO ADVOGADO: Será que hoje já posso adotar a contagem em dias úteis ao peticionar no juizado especial? Entendo que, neste primeiro momento, de definição dos contornos normativos da regra do CPC (se há ou não o diálogo entre as fontes, sendo positiva a resposta, na minha visão), o Advogado, até que sobrevenha mudança ao texto legal, deve estar atento à jurisprudência do colegiado respectivo e dos foros de uniformização de jurisprudência, recomendando-se uma postura cautelosa, para obstar alegações de intempestividade.
3 – AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO – OBRIGATORIEDADE?
CPC-73
CPC-15
Art. 277. O juiz designará a audiência de conciliaçãoa ser realizada no prazo de trinta dias,citando-se o réu com a antecedência mínima de dez diase sob advertência prevista no § 2º deste artigo, determinando o comparecimento das partes.Sendo ré a Fazenda Pública, os prazos contar-se-ão em dobro.
Art. 334.Se a petição inicial preencher os requisitos essenciaise não for o caso de improcedência liminar do pedido,o juiz designará audiência deconciliaçãoou demediaçãocomantecedência mínima de 30 (trinta) dias,devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
§ 2º Deixando injustificadamente o réu de comparecer à audiência, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados na petição inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar da prova dos autos, proferindo o juiz, desde logo, a sentença.
§ 4o A audiêncianão serárealizada:
 
I -se ambasas partesmanifestarem,expressamente, desinteresse na composição consensual;
 
II - quando não se admitir a autocomposição.
 
§ 5oO autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteressena autocomposição,e o réu deverá fazê-lo, por petição,apresentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência.
A manifestação unilateral de uma das partes pela negativa da audiência é insuficiente para a sua não ocorrência, configurando ato atentatório à dignidade da justiça, sujeito a cominação de multa de até 2% da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa: “§ 8o O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado.”
CRÍTICA: 
Não concordamos com esse dispositivo, que está na contramão da autonomia da vontade. As partes gozam de liberdade processual para convencionar ou não. O não comparecimento a audiência de conciliação/mediação, a nosso sentir, deve ser interpretado, apenas, como sinalização do demandante de que não pretende transacionar, exigindo-se, em atenção aos princípios da boa-fé e da duração razoável do processo comunicação prévia nos autos, o que deveria ser suficiente para arredar qualquer imputação de multa ao demandante desinteressado. 
3 – AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO – OBRIGATORIEDADE?
Se a avaliação pela melhor defesa dos interesses do cliente sinalizou a impossibilidade ab ovo de autocomposição, consignar o fato perante o juízo, com pedido de dispensa ao comparecimento no ato dentro do prazo legal (10 dias antes da audiência). Contudo, em não havendo similar postura da parte contrária e para evitar cominação de penalidades ou configuração de ato atentatório à dignidade da jurisdição, recomenda-se o comparecimento ao ato judicial.
ASPECTOS PRÁTICOS AO ADVOGADO: 
DANIEL ASSUMPÇÃO: “a exigência de que o desinteresse na realização da audiência seja manifestado de forma expressa por ambas as partes é uma triste demonstração do fanatismo que tem tomado conta do âmbito doutrinário e legislativo a respeito da solução consensual do conflito.”
TÓPICO 4 – TUTELA PROVISÓRIA 
CPC-73 (art. 273)
Tutela antecipada
Tutela cautelar
NATUREZA
Satisfativa
Assecuratória ou conservativa
MODO DE EXTERIORIZAÇÃO
Incidental ao processo principal
Preparatória ou incidental (existiam as chamadas ações cautelares, como exibição de documentosetc)
COISA JULGADA
Juízo de cognição sumário, inapto à coisa julgada, exceto se reconhecidas a decadência ou a prescrição
Juízo de cognição sumário, inapto à coisa julgada, exceto se reconhecidas a decadência ou a prescrição
REQUISITOS
periculum in morae verossimilhança das alegações, na tutela de urgência*
Periculum in moraefumus boni juris
PREVISÃO DE TUTELA DE EVIDÊNCIA?
Sim, em caso de abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do réu
 
CPC-2015
– TUTELA PROVISÓRIA (gênero)
Tutela provisória antecipada de urgência
Tutela provisória antecipada de evidência
Tutela provisória cautelar de urgência
NATUREZA
Satisfativa
Satisfativa
Assecuratória
CONTRADITÓRIO DIFERIDO?
É possível a concessão liminarinaudita altera parte, conforme art. 9º, parágrafo único, do CPC-15
É possívelinaudita,nas hipóteses dos incisos II e III do art. 311 (repetitivos, SV e pedido reipersecutório com prova adequada)
É possível a concessão liminarinaudita altera parte, conforme art. 9º, parágrafo único, do CPC-15
REQUISITOS
Probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (unificação dos requisitos na tutela provisória de urgência)
Art. 311 - I – abuso do direito;
II – matéria de direito, amarada em recursos repetitivos e SV;
III – pedido reipersecutório;
IV – prova documental suficiente aos fatos constitutivos do direito;
Probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (unificação dos requisitos na tutela provisória de urgência)
ANTECEDENTE?
Permite –tutela antecipada antecedente(urgência contemporânea à propositura) – deferida, aditamento da inicial em até 15 dias, sob pena de extinção sem exame de mérito.
Não há previsão expressa(só pode ser requerida de forma incidental)
Permite– efetivada, o pedido principal deve serformulado pelo autor em 30 dias, nos mesmos autos (indeferimento não obsta propositura do pedido principal, salvo decadência ou prescrição
CPC-2015
– TUTELA PROVISÓRIA (gênero)
Tutela provisória antecipada de urgência
Tutela provisória antecipada de evidência
Tutela provisória cautelar de urgência
ESTABILIDADE E REDISCUSSÃO DA TUTELA ANTECEDENTE
Torna-se estável se não recorrida a decisão concessiva –extinção do direito à rediscussão após 02 anos, da ciência do encerramento da via
Incompatível com a tutela antecedente
A regra da estabilização não se aplicaà tutela cautelar (não faria sentido, em atenção à sua natureza jurídica)
TUTELA PROVISÓRIA - considerações:
Instituição do gênero tutela provisória, com aproximação entre as modalidades antecipada e cautelar. Diferença entre fumus boni juris e verossimilhança das alegações não é encampada pelo CPC-15, que unifica, iguala o grau de probabilidade do direito.
Periculum in mora, na tutela provisória de urgência, continua a observar o fator tempo.
c) A corroborar as duas alíneas anteriores, vide o Enunciado n° 143 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “A redação do art. 298 (atual 300), caput, superou a distinção entre os requisitos da concessão para a tutela cautelar e para a tutela satisfativa de urgência, erigindo a probabilidade e o perigo na demora a requisitos comuns para a prestação de ambas as tutelas de forma antecipada”.
d) Concessão de tutela provisória de ofício? Em que pese parcela da doutrina defender o seu cabimento, ante a mudança redacional que não mais condiciona ao requerimento expresso da parte, é nosso entendimento que a atuação ex officio do juiz ofende o princípio da inércia e, de outro lado, da demanda, bem como incrementa o risco jurídico da parte beneficiária, para quem, não necessariamente, seria interessante a antecipação no tempo, vez quea responsabilidade daí resultante é objetiva (cumprimento provisório). 
e) Opção legislativa indica que apenas está sujeita à estabilização a tutela antecipada antecedente. Em sendo concedida de forma incidental, não há falar em incidência deste fenômeno processual análogo à coisa julgada.
f) O recurso cabível em face da tutela antecedente é o agravo de instrumento (art. 1.015, I, do CPC). Há doutrina que defende que se obstará a estabilização com a insurgência do réu, mesmo que não pela via recursal. 
g) Juízo competente para rever/reformar/invalidar a tutela estabilizada: o que proferiu a decisão, sendo esta competência de natureza funcional. 
h) Desaparecimento do processo cautelar autônomo (e não das medidas cautelares), não havendo mais processo autônomo de tutela de urgência (pode ser antecedente, característica que não lhe confere autonomia, visto que ensejará aditamento nos próprios autos). 
i) Regime jurídico do cumprimento provisório de sentença – significa que está dispensada a investigação de aspectos subjetivos (boa ou má-fé do agente), sendo objetiva a responsabilidade de reparação à parte contrária, pelos danos suportados pela execução provisória (vide exemplo do STJ em matéria de benefício previdenciário, formada ainda no CPC-73).
TUTELA PROVISÓRIA - considerações:
Jurisprudência do STJ
“2. Os valores de benefícios previdenciários complementares recebidos por força de tutela antecipada posteriormente revogada devem ser devolvidos, haja vista a reversibilidade da medida antecipatória, a ausência de boa-fé objetiva do beneficiário e a vedação do enriquecimento sem causa. Por ser decorrência lógica da insubsistência da medida precária, não há a necessidade de propositura de ação autônoma para o credor reaver tal quantia.
Precedentes. Inaplicabilidade do precedente firmado nos EREsp nº 1.086.154/RS, pois não ocorreu o fenômeno da dupla conformidade na origem.
3. Os efeitos da revogação da tutela antecipada devem ser suportados pela parte que a requereu, de modo que cassada a decisão, os efeitos retroagem, fazendo desconstituir a situação conferida de forma provisória. Em outras palavras, os efeitos são imediatos e ex tunc, impondo à parte beneficiada pela liminar o ônus de recompor o status quo anterior ao deferimento da medida. Aplicação, por analogia, da Súmula nº 405/STF.” 
(AgInt no AREsp 1100564/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/02/2018, DJe 26/02/2018)
TUTELA PROVISÓRIA - considerações:
6 – NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL E CALENDARIZAÇÃO PROCEDIMENTAL 
“Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.
 
Obs. 1: A negociação processual em si não é uma novidade exclusiva no NCPC. A novidade é a ampliação do instituto. O art. 190, inspirado no direito Inglês e Francês, cria uma cláusula geral de negociação processual, que pode versar sobre as situações processuais e o procedimento e, até mesmo, para a modificação da legitimidade ad causam, como defende Fredie Didier. 
Obs. 2: Os negócios jurídicos, que INDEPENDEM DE HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL e, de outro lado, devem estar de acordo com o art. 104 do CC-02 (agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável, forma prescrita ou não defesa em lei), podem ser de 3 espécies, quanto à forma de exteriorização:
Unilaterais – renúncia ao prazo; disponibilidade da execução; desistência de recurso (dependem da vontade de apenas uma das partes);
Bilaterais – suspensão do processo, por convenção das partes; cláusula de eleição de foro; (dependem da convergência da vontade das partes e admite controle pelo juiz).
Plurilaterais – calendarização processual, dilação de prazos (convergência entre as partes e concordância do juiz).
Obs 3: Acerca da natureza, podem ser típicos ou atípicos.
Obs4.: Algumas modificações no procedimento hoje abordadas pela doutrina como expressão do fenômeno de negociação processual eram realidade quando em vigor o Estatuto revogado, mas sob a roupagem do princípio da adaptação do procedimento, que conferia fundamento ao magistrado para, por exemplo, em homenagem ao contraditório, alargar o prazo processual; distribuir os ônus da prova que até então eram de previsão estática (exceto no direito coletivo) para adotar a denominada teoria da carga dinâmica etc. O que chama a atenção no NCPC é o fortalecimento da vontade das partes para a adaptação do procedimento ou da posição processual, pelo que há vozes defendendo a existência de um novo princípio: autorregramento da vontade no processo civil. 
Obs 5: LIMITES: 
5.1 - Autores como Daniel Assumpção defendem que deve a negociação processual deve guardar consonância com AS ESPECIFICIDADES DA CAUSA, não sendo razão suficiente para adaptações mera conveniência ou liberalidade entre as partes. Em suma, os requisitos do art. 190 do CPC-15 seriam aplicáveis a todas as hipóteses de negociação, típicas ou atípicas.
5.2 – Impossibilidade de adaptar/modificar a posição processual do juízo – Por exemplo, não podem dispor que não cabe ao juiz atuar de ofício para a instrução probatória. “Os poderes-deveres do juiz, portanto, não podem ser objeto do acordo entre as partes, porque na realidade elas não podem dispor de uma posição processual da qual não sejam titulares”. (ASSUMPÇÃO, Daniel). A qualidade da prestação jurisdicional é matéria de ordem pública, sendo inviável limitar a atuação do juiz para a melhor (diria, adequada) solução da lide. 
5.3 – Impossibilidade de dispor sobre normas fundamentais do processo (garantias constitucionais ou devido processo legal), a exemplo do princípio da boa-fé; vedação das provas ilícitas; contraditório* e tampouco no que diz respeito às normas cogentes (matéria de ordem pública) Recomenda-se o acompanhamento dos enunciados do Fórum Permanente de Processualistas Civis para a identificação de situações concretas de vedação e admissão da negociação processual. 
5.5 – Pode haver dilação de prazo? Qual é o momento? E o prazo de sustentação oral, pode ser alvo de negociação processual? Sim, observados os princípios da necessidade (especificidades da causa), razoabilidade e proporcionalidade, não estando, portanto, ao alvedrio das partes. A adaptação na espécie não é subterfúgio para a superação da preclusão, logo, deve ocorrer no curso do prazo.
5.6 – A legitimidade de parte (que é condição da ação ou pressuposto processual) pode ser alvo de negociação processual? Fredie Didier, em artigo denominado F”onte Normativa da Legitimação Extraordinária no Novo CPC: A legitimação Extraordinária de Origem Negocial” responde positivamente à indagação. Para o professor, se é possível dispor do direito (o mais), também o será a modificação de parte legitimada, com aplicação, por analogia, de regras de cessão de crédito ou assunção de dívida, a depender do caso. Mudança no polo ativo independeria de autorização/notificação do polo contrário.
 
Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais, quando for o caso.
§ 1o O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados.
§ 2o Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário.”
 
Chamo a atenção, neste ponto, para a dispensa de intimação das partes que optarem por calendarizar parte do procedimento, cuja modificação só ocorrerá em hipóteses excepcionais.Esse é mais um exemplo da denominada cláusula geral de negociação processual. 
CALENDARIZAÇÃO PROCEDIMENTAL 
FIM!!

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