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ERROS TÍPICOS NA IMPLEMENTAÇÃO DO MASP Claudemir Oribe A história do MASP no Brasil tem pouco mais de 20 anos. No Japão, o QC-Story, o método do qual o MASP se originou, tem mais de 50 anos de prática contínua. Tanto lá como aqui, os autores e instrutores desses métodos alertam para alguns cuidados que precisam ser tomados na aplicação, visando garantir o resultado esperado. Afinal, o método não é infalível e, como qualquer artifício metodológico ou instrumental, ele deve ser usado da forma correta, pois de outra maneira, erros e reações adversas podem ocorrer. A ideia aqui é resgatar alguns erros típicos na aplicação do MASP, alertar sobre suas consequências e esclarecer os motivos que transformam pequenos deslizes em erros metodológicos graves. Na Identificação do Problema, que é a primeira etapa do MASP, dois erros são comuns. O primeiro é a escolha do problema por preferência ou votação. Percebe-se que a ansiedade muitas vezes, supera a escolha objetiva baseada em comparações de potencial de resultado, acabando por uma escolha daquilo que mais incomoda no momento. O segundo erro acontece na própria definição do problema. Vemos frequentemente erros conceituais ao denominar de problema uma causa suposta ou, pior ainda, a ausência de uma solução, quase sempre iniciada como “falta de...”. Como dizia um filósofo americano, um problema bem definido já está meio resolvido. Erros como esses, logo no início do trabalho, podem comprometê-lo de forma irreversível, pois as frustrações geradas podem contaminar a equipe cessando o esforço da melhoria. Apenas problemas muito simples, domésticos, podem ser definidos como “falta de...” ou suas variantes como “ausência de...”. Nos problemas onde o MASP é normalmente aplicado, designar o problema dessa forma significa que, ou o problema é muito simples, desqualificando o MASP como método de resolução, ou se iniciou a definição de maneira errada, pois é muito cedo para concluir que o problema é a ausência de uma solução que deveria ser descoberta apenas na etapa 4 – Plano de Ação. A pessoa que designa o problema dessa forma faz uma análise intuitiva das causas, deduz uma solução e retorna à etapa 1 para chamar de problema aquela solução que ele acredita que será suficiente. Isso chega à beira da insanidade em alguns casos. Na segunda etapa – Observação - o erro típico é, simplesmente, não fazê-la. Desde os primórdios da revolução científica os mestres já nos ensinam que, uma das primeiras coisas a fazer, para descobrir algo de valor, é usar os órgãos dos sentidos e observar o fenômeno de várias maneiras e colher a maior quantidade possível de pequenas e esparsas evidências que serão, posteriormente, montadas para compreender como ele acontece. No Sistema Toyota de Produção isso é denominado genchi genbutsu – ir e ver – no gemba – no local real – onde o problema acontece. É inacreditável como ainda hoje é comum ver pessoas partindo para a análise de um problema que elas sequer foram ver. Isso torna a etapa seguinte – Análise – superficial, subjetiva e cheia vieses. Ao analisar o problema as pessoas acabam falando do que lembram, do que ouviram falar e do que preferem acreditar e menos sobre o problema realmente é e sobre como ele realmente acontece. Nos dias de hoje, que temos recursos tecnológicos à disposição como máquinas fotográficas digitais e telefones celulares equipados até com câmeras de vídeo chega a ser banal a elaboração de fotos e imagens para observar atentamente o que está acontecendo, até mesmo fora distante do local. A observação alimenta o processo de análise e evita desvios óbvios que poderiam ser muito bem evitados. Por isso, é fundamental que a observação seja isenta e imparcial, livre de preconceitos, medos, reações de defesa ou preocupações quaisquer. O processo deve ser iniciado a partir de uma tábua rasa, com a mente aberta, como uma folha de papel em branco. À medida que a equipe não consegue unir as evidências encontradas pode ser necessário retornar ao local para uma nova coleta. Como a releitura de um livro, a cada vez que se observa algo, novas constatações emergem bem diante de nossos olhos. A análise é uma das etapas mais importantes do MASP. É nesse momento que procura descobrir as causas de um problema, sobretudo aquelas com maior potencial de resultado. O primeiro e mais comum problema nesta etapa vem sendo abordado pelos teóricos da administração há décadas: trata-se de nossa tendência natural de considerarmos apenas um conjunto limitado de alternativas causais. Toda vez que procuramos analisar um fato, vários fatores conspiram contra o sucesso dessa empreitada, como nossa experiência e conhecimentos limitados, nossas preferências pessoais, os vieses de julgamento e outras influências de ordem mental e comportamental. A consequência disso é que a análise já se inicia enviesada ou direcionada, mesmo que de forma inconsciente. Isso, porém, não é o mais grave. A pior consequência dessa tendência é que ela seleciona previamente apenas as mais óbvias e com baixo potencial de causalidade, deixando aquelas com um potencial mais elevado de ser a causa do problema, de fora da análise. A equipe que aplica o MASP irá gastar muita energia e terá que superar momentos de frustração até descobrir isso e retomar o trabalho, procurando elevar a quantidade de hipóteses. Uma vez identificadas às hipóteses de causas, outra a próxima armadilha à espreita é a tentação à subjetividade. As causas mais prováveis deveriam ser comprovadas por meio de estudos nos processos para determinação da eventual correlação. Porém, muitas vezes não é isso que acontece. A ansiedade, o excesso de confiança e a dificuldade de mensuração das causas podem acabar levando o grupo a se contentar com comprovações superficiais ou baseadas em dados insuficientes. O extremo do absurdo acontece quando a equipe não coleta dado algum, votando as causas e não, descobrindo. Assim, fazendo analogia com um processo eleitoral, as causas são eleitas em votação por maioria simples, e ainda, apenas no primeiro turno! Se o problema pode ser resolvido dessa maneira, então ele não precisa de MASP, mas apenas de uma reunião rápida, para ser resolvido. A objetividade, baseada em fatos e dados, é uma das mais relevantes características de uma gestão eficaz. Abrir mão dela seria descaracterizar completamente o método, transformando-o num processo social, o que não seria adequado para problemas de natureza técnica. O último problema típico na etapa de análise se observa quando a equipe, após identificar a causa e independente da forma que isso foi feito, não confirma sua descoberta. A não confirmação da causa é muito comum nos processos de ação corretiva das organizações certificadas ISO 9001 e isso explica, ao menos em parte, o baixo nível de sucesso desse procedimento. A consequência disso são conclusões limitadas, incerteza quanto ao andamento do trabalho, provocando idas e vindas metodológicas, até o momento em que o grupo se perde e o trabalho pára. A confirmação da causa pode ser feita de duas formas. A primeira seria por meio de análise matemática de correlação. A segunda, onde possível, seria realizando experimentos confirmatórios controlados, quando a causa é inserida e retirada alternadamente, verificando se o problema responde da mesma maneira. Quanto à próxima etapa do MASP, o Plano de Ação, ele também tem problemas típicos. A primeira é semelhante a analise de causas descrito acima, que consiste em considerar uma quantidade limitada de soluções possíveis. A segunda é não considerar efeitos negativos da solução escolhida e, o terceiro, é trabalhar pouco os processos de convencimento interno parafacilitar a implantação do plano de ação, não neutralizando, portanto, as resistências internas. Esses erros, no entanto, podem não comprometer totalmente o projeto de melhoria. Afinal, acredito que há mais chances de sucesso para uma solução mais ou menos desenhada para uma causa corretamente descoberta do que um plano de ação perfeito para a causa errada. Evidentemente, ninguém defenderia a elaboração pouco rigorosa do plano de ação. O que se pretende argumentar é que a identificação correta de causas facilita enormemente o plano de ação, bem como as etapas subsequentes. Já o contrário não é verdadeiro, pois, metodologicamente, não há plano de ação que compense uma análise incorreta dos mecanismos que levam o problema a acontecer. A resolução de problemas se materializa quando alguém coloca sua mente, mãos e sentidos para produzir alguma coisa que afete positivamente as causas do problema, fazendo com que ele desapareça ou, no mínimo, seja drasticamente reduzido. A ação é, portanto, a única etapa que jamais poderia ser eliminada, pois apenas com observações e análise, por melhor que elas sejam, não tem capacidade de afetar o sistema. A versão mais comum do MASP possui 8 etapas, sendo a 4 e a 5 relativas ao Plano de Ação e Ação. Na etapa do Plano de Ação, um erro típico acontece quando a equipe ou um componente dela possui de antemão uma solução pronta desde o início do trabalho. Assim, todo o projeto será realizado de forma apenas a legitimar uma escolha que foi feita antes mesmo de qualquer coisa ter sido feita. As consequências disso são várias. Em primeiro lugar a equipe fará uma análise muito superficial, uma vez que a solução já está pronta e, portanto, não há necessidade de dados ou avaliações profundas. O segundo efeito danoso para o processo é que as pessoas tenderão a buscar dados ou informações que favoreçam sua escolha prévia e, provavelmente pouco, ou nenhuma informação que não confirme ou contraindique a solução que se tem em mente. “Existe um ditado bastante conhecido que ilustra bem esse viés indesejado, que diz: se você tem apenas um martelo, verá todo problema como sendo um prego”. Além disso, quem deseja uma solução costuma desejar também que alternativas sejam analisadas para fundamentar uma escolha bem feita. É aí que acontece outro erro típico. Ansiosa por resolver logo o problema, equipes podem abreviar a busca de soluções criativas, identificando as mais fáceis e óbvias que, frequentemente, custam mais caro. É comum perceber, depois de adotar uma solução, que outra melhor se encontrava ali, bem perto, mas que, devido à pressa ou à falta de uma procura mais completa, ficou à margem do processo de escolha. Seria a mesma coisa que ir a uma feira para comprar seu primeiro carro e acabar adquirindo o primeiro que lhe foi apresentado. Um plano de ação deve ser, portanto, uma etapa cuidadosa e que contenha uma quantidade máxima de alternativas, incluindo aquelas que poderiam ser consideradas insanas, para eleger de forma racional aquela que ofereça o maior benefício ao menor esforço. Uma vez que isso tenha sido feito, não se pode desprezar os efeitos secundários que essa solução venha a trazer, se for adotada. Eis aí outro erro comum: desprezar os efeitos colaterais negativos da escolha. Infelizmente, muitas soluções promissoras e aparentemente atrativas, contém efeitos indesejáveis até muito negativos escondidos de forma sorrateira. Fornecedores não costumam revelar claramente os argumentos contrários à adoção de seu produto, ocasionando surpresas bem desagradáveis a posteriori. É preciso, portanto analisar a solução sob todos os pontos de vista e rejeitar aquelas cujos efeitos secundários indesejáveis sejam de tal forma grandes que não justifiquem sua adoção. Finalmente, na etapa de Ação, os erros típicos não são muitos, uma vez que não se costuma entregar ou solicitar ações corretivas a quem não está qualificado para executá-las. O que é comum nesta etapa é desprezar a necessidade de divulgação e comunicação adequada do que será feito e porquê. Mesmo ações bem intencionadas nas áreas alheias podem provocar reações furiosas de intromissão, e mesmo inveja, se um trabalho de convencimento, apoio e distribuição dos eventuais créditos não for feito previamente. É plausível, embora pouco racional, acreditar que uma solução ideal possa ser impedida de ser implantada pela simples falta de uma abordagem humana que busque a convergência de opiniões e sentimentos em relação àquele problema ou àquela solução. Talvez muitos se lembrem de um episódio real ao lerem essas palavras. Assim, antes de sair tomando ações, reúna todas as pessoas envolvidas com o problema para explicar o processo todo, desde a identificação do problema, e a trajetória percorrida pela equipe até chegar à conclusão de que é aquela solução que deve ser implantadas e não outras. No entanto, mantenha-se aberto se, por acaso, outra ideia aparentemente melhor e não pensada, for apresentada. Se esses cuidados forem tomados, as etapas do plano de ação e da ação serão, provavelmente, bem implementadas. E então, se nada de errado acontecer mais adiante, você terá resolvido o problema para sempre. Saiba, porém que o risco de algo errado acontecer ainda existe. É o que veremos na coluna do próximo mês. Quando uma ação é implantada, visando a resolução de um problema, as pessoas estão sob efeito de uma dose considerável de ansiedade, pois aguardam esperançosos que ele finalmente desapareça. Assim, o resultado mensurado é utilizado para comprovar a extensão da eficácia da ação empreendida que, quando positiva, enche as pessoas de orgulho, alívio e mesmo euforia. O efeito moral pode ser de tal forma inebriante que pode cegar as pessoas para os efeitos secundários causados pela solução adotada, ignorando as eventuais consequências negativas da solução adotada. A título de exemplo, a equipe pode ignorar o aumento de consumo de material, de tempo e custo, perda de produtividade e condições de trabalho. É fundamental, portanto, para qualquer solução ser considerada adequada, que ela resolva o problema sem criar outros. Se isso vier a ocorrer, a equipe tem a obrigação de resolver efeito secundário ou, até mesmo, abandonar a solução anterior e reiniciar o trabalho para encontrar uma nova que atenda completamente todos os requisitos existentes no ambiente de trabalho. A Gestão da Qualidade Total enumera as categorias de requisitos em termos de Qualidade, Custo, Atendimento, Moral e Segurança. Porém, outros requisitos podem ser adotados. É bom lembrar que algumas ações podem gerar efeitos secundários positivos também. Nesse caso, a equipe deveria relacioná-los para rentabilizar para si a obtenção desses resultados inesperados, sejam eles qualitativos ou quantitativos. Esses resultados também costumam ser ignorados ou relatados informalmente por ocasião da conclusão do trabalho, impedindo uma avaliação completa da iniciativa de resolução do problema. Quanto à etapa de Padronização, ela é vítima do mesmo efeito da euforia de ter o problema resolvido, além da falta de tempo, que é bem típico nas organizações hoje em dia. Assim, preocupa-se em resolver o problema, mas não em garantir que ele não volte a ocorrer. A reincidência é a consequência certa para problemas resolvidos sem uma padronização efetiva da solução. O que está tipicamente errado nas práticas nas empresas é não fazer uma análise de abrangência, procurando outros focos potenciais, não treinar as equipes para absorver corretamente os procedimentos para evitar que o problema aconteça e, finalmente, não formalizar a solução adotada nos procedimentos e sistemas de gestão da informação. Ou seja,embora tenha sido adotada, oficialmente a solução não existe, pois não se encontra devidamente formalizada, disseminada e memorizada. O risco dela se perder é imenso, abrindo brechas para a reincidência do problema tão logo pessoas novas sejam incorporadas ao trabalho. Aliás, diga-se de passagem, que a rotatividade de pessoal vem acontecendo com frequência muito elevada nos dias de hoje. Eis aí um bom motivo para garantir uma padronização bem feita. No entanto, se isso não garantir que o resultado esperado seja atingido, então a equipe de resolução de problemas deve iniciar uma análise dos métodos de padronização, incluindo formalização e treinamento de pessoas, até que a solução esteja funcionando plenamente. Do ponto de vista metodológico, isso seria girar um PDCA dentro do PDCA do MASP, ou seja, fazer um mini-PDCA. Como todas as etapas finais, a Conclusão é frequentemente ignorada e, portanto não executada. Isso não chega a ser uma surpresa, dadas as pressões por produtividade existentes nos dias de hoje e, também, pelo fato da Conclusão não ser uma etapa unânime nas descrições de métodos de resolução de problemas. O MASP mais comum no Brasil, que foi publicado no livro de Vicente Falconi Campos e inspirado no método descrito de Hitoshi Kume, contém a etapa de Conclusão. Isso, no entanto, não acontece no método 7 Step Formula de Hosotani e nem em publicações sintéticas da JUSE, embora apareça na descrição do método de 14 passos. Os objetivos da Conclusão são, basicamente, dois: aprender com o processo e preparar para alvos futuros. O risco típico nessa etapa é ignorar a necessidade de revisão do processo e os fatores que contribuíram para o sucesso do trabalho. O aprendizado é fragmentado e restrito às situações mais marcantes, mesmo que de pouca valia para o resultado final. Quanto aos projetos futuros, as empresas estão de tal forma enxutas e submetidas a tal grau de dinamismo no mercado competitivo, que não é difícil imaginar um contexto diferente em que, a necessidade de continuidade não seja colocada em dúvida. E lá se vai mais uma etapa do método. Referências CAMPOS, Vicente Falconi. TQC: Controle da Qualidade Total (no estilo japonês). 8. ed. Belo Horizonte: INDG, 2004. 256 p. HOSOTANI, Katsuya. The QC problem solving approach: solving workspace problems the japanese way. Tokio: 3A Corporation, 1992. KUME, Hitoshi. The QC Story. In: KUME, Hitoshi. Statistical methods for quality improvement. Tokyo: 3A Corporation, 1992. p. 191-206. ORIBE, Claudemir Y. Erros típicos na aplicação do MASP – Parte 3. Revista Banas Qualidade, São Paulo: Editora EPSE, n. 240, maio 2012. ORIBE, Claudemir Yoschihiro. Quem Resolve Problemas Aprende? A contribuição do método de análise e solução de problemas para a aprendizagem organizacional. Belo Horizonte, 2008. Dissertação (Mestre em Administração). Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. JUSE - JAPANESE UNION OF CIENTISTS AND ENGINEERS. How to operate QC Circle activities. Tokyo: QC Circles Headquarters - JUSE, 1985. Primeira edição em japonês impressa em 1971. JUSE - JAPANESE UNION OF CIENTISTS AND ENGINEERS. TQC Solutions: the 14 step process. Volume 1: The Problem Solving Process. Cambridge, MA: Productivity Press Inc., 1991a.
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