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Racionalismo Dogmático ou Normativismo Jurídico de Hans Kelsen

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Normativismo Jurídico
O Normativismo Lógico é o legado de Hans Kelsen para a Teoria Geral do Direito e a Filosofia Jurídica, trazendo imensa contribuição para o conhecimento jurídico-científico do século XX.
Participante do Círculo de Viena e influenciado pelo pensamento de Kant, Kelsen posiciona-se no contexto filosófico de modo crítico e extremamente lógico.
Vejamos de um lance como Kelsen perpassa certos pontos do Direito e da Filosofia do Direito, partindo do seu problema epistemológico, seguindo em direção à norma, objeto da Ciência do Direito, e suas implicações, até à norma como norma de justiça, desenhando, enfim, um breve esboço do normativismo jurídico.
II A Epistemologia Jurídica de Hans Kelsen
Kelsen faz uma opção positivista ao desenvolver sua epistemologia. O conhecimento só é possível através da dialética entre sensibilidade e razão, entrefenômeno e noumenon, e conhecimento é conhecimento científico.
Eis, pois, a importância de Kelsen para a Filosofia do Direito: a afirmação do Direito como ciência.
O problema epistemológico de Kelsen é, portanto, como é possível uma ciência rigorosa do direito. Põe, então, a questão do método. Neste sentido, irá lançar mão de uma dicotomia, dividindo a realidade a fim de que possa ser analisada, estabelecendo um paralelo entre natureza e sociedade, e, por conseguinte, a distinção das ciências em explicativas e normativas.
Diz Kelsen, as ciências explicativas são as que tratam do ser, que têm por objeto a realidade como ela é. As ciências normativas tratam do dever ser, tendo por objeto a realidade como deve acontecer. A sua finalidade é prática, voltada para a análise da ação humana dotada de vontade. Do exposto, advém que o direito é uma ciência normativa.
O Normativismo de Kelsen
O ser humano, segundo Kelsen, age, pratica atos de vontade, que devem estar representados juridicamente. Segundo o normativismo, toda conduta humana está previamente prevista no ordenamento, pois ele é completo. Nele há juízos de valor que se apoiam em regras e ideais necessários à ordem existencial do homem em um grupo organizado. Acredito que estes juízos é que dariam origem à norma fundamental, que é absoluta. Segundo Kelsen, o direito é puro, independe das demais ciências. Ele é completo e se justifica e encontra razão nele mesmo.
Para nós, sob o enfoque da Teoria do Normativismo Jurídico de Hans Kelsen, esta união poliafetiva teria validade. O direito, para Kelsen é um sistema escalonado e gradativo de normas, as quais atribuem sentido objetivo aos atos de vontade. Apoiam-se umas normas nas outras formando um todo coerente, recebendo umas das outras a sua validade. Todas dependendo de uma norma fundamental, suporte lógico da integralidade do sistema. A partir do momento em que passa a ser interesse da sociedade a liberdade de relacionamento, tanto em um sentido numérico quanto de gênero, isto passa a ser um fundamento do ordenamento, ou seja, passa a ser parte da norma, pois ela é completa. Isto porque, se a norma é de fato completa, não pode haver uma experiência social não prevista. Claro que nem toda experiência humana está prevista na legislação, mas isto não significa que não faça parte do ordenamento jurídico, pois ele se completa nos atos de vontade e na experiência social da população.
No topo da pirâmide do ordenamento jurídico brasileiro está a Constituição Federal, mas ela não é completa. Há também leis nas mais diversas direções para preencher as mais específicas das lacunas, porém, ainda assim o ordenamento jurídico não é completo. O que completa tudo isso é a norma fundamental, que é originada da própria legislação e também da vontade da sociedade, que dá sentido à sua existência. Por isto ela é completa, encontrando sempre sentido nela mesma. 
Se a constituição emana do povo, e a obediência à ela fecha o ciclo da norma fundamental, mantendo a unidade do ordenamento jurídico e, se é interesse do povo a liberdade de relacionamentos, não pode não possuir validade jurídica a união poliafetiva, uma vez que não está expressamente prevista a sua ilegalidade na constituição. O que de fato está previsto é o dever do estado de promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, cor e quaisquer outras formas de discriminação.
O Normativismo Jurídico
O Normativismo Jurídico tem como fundamentação a ideologia do jurista e filósofo austríaco Hans Kelsen (1881-1973).
Kelsen considerava que a Ciência Jurídica estava restrita ao âmbito das normas jurídicas, ou seja, ao reino do dever ser, separando essa primeira de uma segunda categoria que seria correspondente ao reino do ser, esta, por sua vez, pertinente às ciências Naturais. O dever ser seria o objeto de estudo da Ciência do Direito, como regras que indiquem o que deve ser feito, prezando pela imputabilidade, ou seja, se A é, B deve ser. O ser ficaria por parte dos fatos ou da natureza física, espiritual e social, regida pelas leis da casualidade.
Mas Kelsen não descartou a importância dos fatos sociais e dos valores jurídicos, mas os separou da Ciência Jurídica.
A primeira separação é entre a Ciência Jurídica e o estudo dos fatos, pertinentes às ciências causais, como por exemplo: a Sociologia Jurídica, a Psicologia Jurídica, etc. Ficaria por conta do legislador esse estudo de valores, pois a Ciência Jurídica já recebe a norma feita.
A segunda separação é a da Ciência Jurídica para com a ideologia política e aspectos axiológicos, dessa maneira a Teoria Pura do Direito teria uma tendência antiideológica.
Para Kelsen, o objeto da Ciência do Direito são as normas, organizadas de forma lógica dispostas em uma hierarquia entre elas, de modo que as normas que se encontram no escalão inferior se harmonizem com a sua norma que lhe seja imediatamente superior, num sistema em forma de pirâmide.
Segundo Paulo Nader, a disposição gradativa das normas seria a seguinte: Constituição, Lei, Sentença, Atos de execução. Nessa óptica, pode-se dizer que uma sentença se fundamenta na lei, a lei, por sua vez, se fundamenta na constituição, de forma sucessiva, até alcançar a norma fundamental.
Se quando o legislador ao elaborar a lei está aplicando a norma constitucional; o juiz ao sentenciar está aplicando a lei, temos então uma aplicação de uma norma no escalão superior e uma produção de uma norma no escalão inferior. Diante de tal raciocínio, considera-se que a primeira constituição (ou norma fundamental) é aquela que a partir de sua validade todas outras normas vão sendo formadas nesse processo gradativo.
Fundamentações doutrinárias da Ciência do Direito – Normativismo:
I) Contexto de surgimento do Normativismo: 
• O Normativismo jurídico surgiu em um período de decadência do mundo burguês, marcado pela ocorrência da primeira guerra mundial.
• O Normativismo se opõe à teoria jusnaturalista, uma vez que assume uma postura de neutralidade frente ao conteúdo das normas jurídicas.
• O Normativismo reconhece a existência de direitos de diferentes conteúdos políticos, abrangendo assim, os direitos soviético, fascista, nazista e liberal democrático. 
II) Proposta do Normativismo: 
• O Normativismo busca distinguir a Ciência do Direito da filosofia e da sociologia, de maneira a alcançar uma pureza metodológica. Nesse contexto, a Jurisprudência estuda o Direito tal qual ele é, e não como deveria ser.
• O Normativismo caracteriza a Ciência do Direito como normativa por ter como objeto o conhecimento das normas, e não a sua prescrição.
• De acordo com o Normativismo, a Jurisprudência estuda o direito em seu aspecto estático (como um sistema estabelecido) e em seu aspecto dinâmico (sua criação e aplicação). 
• O Normativismo busca dar fim aos dualismos clássicos, de forma a atribuir à Ciência do Direito um caráter positivo. 
III) Conceito de norma, de acordo com o Normativismo: 
• O Normativismo rejeita o conceito de norma jurídica como uma ordem ou mandato. 
• De acordo com tal teoria, a norma seria uma proposição hipotética atrelada a uma consequência coativa, denominada sanção.• As sanções (privação da vida, da liberdade ou bens) são aplicadas pelo Estado. 
IV) Sistema normativo:
• A ordem jurídica consiste em uma estrutura hierárquica de normas, visto que a validez de uma norma repousa em outra de grau superior a ela. 
• Para completar a pirâmide do ordenamento jurídico e possibilitar o tratamento científico do Direito é necessário que exista uma “norma fundamental hipotética”, a qual não teria um caráter positivo.
Racionalismo Dogmático
O racionalismo dogmático, ou teoria kelseniana, é a expressão máxima do estrito positivismo jurídico, é uma repercussão ideológica de sua época, é uma conseqüência da decadência do mundo capitalista-liberal, marcada pela Primeira Guerra Mundial.
Segundo Machado Neto e Legaz Lacambra, essa teoria que Hans Kelsen propôs devia reconhecer a existência de ordens jurídicas de conteúdo político, diverso do conteúdo liberal social-democrático. 
Ou seja, essa teoria pura nasce, portanto, como uma crítica das concepções dominantes na época sobre os problemas do direito público e da teoria do Estado.
(Para explicar melhor sobre o assunto):
Desde a segunda metade do século XIX o jurista aderia ao sociologismo, por meio de induções experimentais, submetendo o direito a diversas metodologias empíricas (ou seja, se fundamentava nas experiências) da psicológica, a histórica, a sociológica, etc. Ou seja, o cientista do direito não tinha domínio da ciência, levando a ciência jurídica à ruína, ao tomar empréstimos dessas metodologias. Sendo assim, Kelsen reagiu contra a situação, observou que o direito é especifico, e não seria certo transportar essas metodologias para a ciência jurídica. Entendendo assim que o jurista deveria investigar o direito através de seus próprios processos de estudo, e isso só seria possível se houvesse a pureza metódica.
Kelsen então, submeteu a ciência do direito a uma dupla depuração, retirando de seu âmbito a análise de aspectos fáticos e valorativos, em busca da pureza metódica para a ciência jurídica. Para fazer essa depuração, Kelsen se utilizou do dualismo neokantiano do “ser” e do “dever ser”, sendo este a expressão da normatividade do direito, objeto da investigação jurídica. Assim, a ciência do direito seria puramente normativa.
O ser (que se localiza no mundo ôntico, isto é, dos fatos, revelando aquilo a que se pode chamar de fontes jurídicas materiais) e o dever-ser (que se localiza no mundo deôntico, isto é, das normas, revelando aquilo a que se pode chamar de fontes jurídicas formais). Enquanto o ser é regido pela lei da causalidade, pela causalidade, todo efeito tem de ter uma causa, de maneira que é impossível o descumprimento de uma lei baseada na causalidade, assim, uma maçã cai da árvore porque sobre ela incide a lei gravitacional. O dever-ser rege-se pela lei da imputação, pela imputabilidade, não existe a previsibilidade de um efeito para uma causa, de maneira que com o descumprimento de uma lei baseada na imputação, pode ser que um efeito determinado surja; desde que haja uma imputação, ou seja, uma relação de determinação.
O Direito está sujeito à lei da imputação, em que uma norma determina a outra, estabelecendo relações normativas, as quais permitem determinar qual o fundamento de existência e de validade de cada norma – e para evitar as remissões infinitas, Kelsen estabeleceu um marco, uma norma básica pressuposta que determina até onde vai o campo do Direito e a partir de quando não se está mais no campo estritamente jurídico.
As relações de imputação determinam a existência de um escalonamento de normas jurídicas e a existência de uma norma básica pressuposta sugere que o topo desse tipo de hierarquia seja um vértice, gerando, portanto, a figura de um triângulo ou pirâmide como representação da estrutura lógica da ordem jurídica. O topo da pirâmide normativa é ocupado, no nível lógico-jurídico não positivo, pela norma básica pressuposta, ao passo que, no nível jurídico-positivo, a Constituição é que ocupa a cúspide da pirâmide. Diante disso, tem-se que todas as normas jurídicas de um determinado ordenamento jurídico devem buscar sua validade, em última instância, na Constituição.
O racionalismo dogmático contrapõe-se às concepções que identificam no Direito, fatos e valores, como o jusnaturalismo, o historicismo, o culturalismo e o próprio positivismo sociológico.
Segundo Kelsen, a estrutura lógica da ordem jurídica é piramidal, pois a ciência jurídica estabelece uma hierarquia, de modo que a norma de escalão inferior se harmonize com a que lhe for imediatamente superior, que lhe dá validade e assim sucessivamente, até alcançar a norma hipotética fundamental
Depois da norma hipotética vem a norma básica, que é a Constituição do Estado e depois as demais normas, organizadas em um sistema piramidal. 
As relações de imputação determinam a existência de um escalonamento de normas jurídicas e a existência de uma norma básica pressuposta sugere que o topo desse tipo de hierarquia seja um vértice, gerando, portanto, a figura de um triângulo ou pirâmide como representação da estrutura lógica da ordem jurídica. O topo da pirâmide normativa é ocupado, no nível lógico-jurídico não positivo, pela norma básica pressuposta, ao passo que, no nível jurídico-positivo, a Constituição é que ocupa a cúspide da pirâmide. Diante disso, tem-se que todas as normas jurídicas de um determinado ordenamento jurídico devem buscar sua validade, em última instância, na Constituição.
A ousadia da Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen, desqualificando a importância do jusnaturalismo como teoria válida para o Direito e pretendendo dar caráter definitivo ao monismo jurídico estatal, fez dele o alvo preferido das teorias críticas no Direito, inconformadas com os déficits éticos do pensamento jurídico assim purificado e com o consequente desinteresse dos juristas em realizar cientificamente um Direito atrelado a critérios de legitimidade não apenas formais. Ocorre que, atuando no marco do paradigma positivista, não poderia ser diferente o projeto kelseneano: uma ciência das normas que atingisse seus objetivos epistemológicos de neutralidade e objetividade. Era preciso expulsar do ambiente científico os juízos de valor, aliás como já o haviam feito as demais disciplinas científicas. O plano da Teoria Pura era, assim, atingir a autonomia disciplinar para a ciência jurídica. Essa é a grande importância de seu pensamento, isto é, o seu caráter paradigmático. E se de fato estamos vivendo um novo momento de transição paradigmática, nada melhor do que bem compreender as bases desse paradigma que se transforma. Esse é o objetivo deste texto e para tanto, iremos analisar a formulação de Kelsen, na Teoria Pura, da relação entre ciência e direito, procurando, a partir de uma perspectiva crítica ao positivismo que a caracteriza, vislumbrar, ao final, as limitações dessa formulação, com apoio do que denominei aqui de o viés hermenêutico.
A relação entre direito e ciência na Teoria Pura do Direito de Kelsen começa pela definição do objeto da ciência do direito, que para ele é constituído em primeiro lugar pelas normas jurídicas e mediatamente pelo conteúdo dessas normas, ou seja, pela conduta humana regulada por estas. Assim, enquanto se estudam as normas reguladoras da conduta, o Direito como um sistema de normas em vigor, fica-se no campo de uma teoria estática do Direito. Por outro lado, se o objeto do estudo desloca-se para a conduta humana regulada (atos de produção, aplicação ou observância determinados por normas jurídicas), o processo jurídico em seu movimento de criação e aplicação, realiza-se o que ele chama de teoria dinâmica do Direito. Esse dualismo, entretanto, é apenas aparente, já que a dinâmica está subordinada à estática por uma relação de validade formal, pois os atos da conduta humana que desencadeiam o movimento do Direito são eles próprios conteúdo de normas jurídicas, e só nesta medida é que interessam para o estudo da ciência jurídica.
Kelsen apresenta o ordenamento jurídico positivo - conjuntodas normas válidas - como uma pirâmide de normas, onde se articulam o aspecto estático e o aspecto dinâmico do Direito. A noção de validade formal é o elemento que integra esses dois aspectos, pois, nesse arranjo, cada norma retira de uma outra que lhe é superior, na escala hierárquica do ordenamento jurídico, a sua existência e validade. Assim, por exemplo, no momento em que é criada ou aplicada (dinâmica), para que seja considerada válida a norma, é preciso verificar se as condições de sua produção ou aplicação (capacidade e/ou competência dos agentes, além do procedimento de produção e aplicação) estão previamente contidos nos comandos de outras normas já produzidas e integrantes do ordenamento jurídico (estática). O ponto final dessa cadeia de validade é o que Kelsen chama de norma fundamental - pressuposto lógico do sistema normativo. As considerações acerca desse tema demandariam um outro esforço reflexivo que escapa aos objetivos do presente artigo. Segundo Kelsen, a ciência jurídica representa uma interpretação normativa dos fatos: "Descreve as normas jurídicas produzidas através de atos de conduta humana e que hão-de ser aplicadas e observadas também por atos de conduta e, consequentemente, descreve as relações constituídas, através dessas normas, entre os fatos por elas determinados”. A diferença conceitual entre proposições jurídicas da ciência, que são os juízos hipotéticos que enunciam que, de acordo com o ordenamento, sob certas circunstâncias ali previstas, devem ocorrer certas conseqüências também previstas por este ordenamento e normas jurídicas, que não são juízos acerca de uma realidade externa, mas sim mandamentos que encerram comandos, permissões e atribuições de poder ou de competência é então estabelecida pelas funções: descritiva, da ciência e prescritiva, do Direito. É que, para Kelsen, a ciência não produz direito, não possui essa função criadora, pois limitada ao papel de conhecimento do direito produzido pela autoridade jurídica, isto é, por aquele a quem o ordenamento atribui capacidade ou competência para produzir normas jurídicas, na relação entre estática e dinâmica do Direito, que aprendemos como a teoria dogmática das fontes do Direito.
CAUSALIDADE (SER) E IMPUTAÇÃO (DEVER-SER)
Na modernidade, a ciência, impulsionada pelo racionalismo e pelo empirismo, pretendeu ter emancipado o conhecimento "verdadeiro" acerca dos fatos naturais e sociais das amarras e preconceitos místicos que caracterizavam o saber antigo. Para tanto, invertendo a ordem do conhecimento estabelecido, que buscava a solução para os problemas nas verdades absolutas e nos argumentos de autoridade, voltou sua atenção para os próprios fenômenos, no sentido de identificar e descrever, em meio ao aparente caos dos fatos, as regularidades, isto é, a verdadeira ordem das coisas. Sua principal arma metodológica foi a aplicação do método indutivo para a elaboração de proposições (leis e teorias) científicas fundadas no pressuposto de que a natureza possui uma ordem que pode ser descrita em linguagem matemática. O princípio explicativo dessa ordem natural passa a ser o princípio da causalidade, que se presta apenas à descrição isenta, imparcial, de como as coisas realmente são, de como, sob certas circunstâncias, determinado fato como causa será responsável (inexoravelmente, para uns, ou estatisticamente, para outros) pela ocorrência de um outro determinado fato, como seu efeito. Em tal concepção, não há espaço para perguntas do tipo teleológicas, finalísticas. Essa revolução no conhecimento, promovida pelo paradigma científico.
De volta à Teoria Pura, segundo Kelsen, o que se denomina princípio da imputação (responsabilização) tem, nas proposições jurídicas, função análoga à do princípio da causalidade em relação às leis naturais. Tal qual uma lei natural, também uma proposição da ciência jurídica liga entre si dois elementos: se "A" é, "B" é (causalidade); se "A" é, "B" deve ser (imputação). A diferença consiste, no entanto, no fato de que, na proposição da ciência jurídica, a ligação entre os elementos fáticos (conduta como pressuposto e conseqüência punitiva, permissiva ou autorizativa, como resultado) é produzida por uma norma jurídica, isto é, por um ato de vontade autorizado.A norma jurídica, assim como qualquer norma, não tem a finalidade de descrever os fatos sociais, no caso, as condutas humanas, pelo contrário, ela representa uma interferência na ordem natural ou social desses fatos, qualificando imperativamente as condutas a que se refere (atribuindo responsabilidades, conferindo poderes, ou interditando condutas). Mesmo assim, tais relações jurídicas, uma vez constituídas por essa imperatividade formalmente autorizada, devem ser apenas descritas pelo cientista, na medida em que compõe uma relação de imputabilidade. Criticam-se, assim, por inviabilidade científica, as proposições de uma teoria metafísica do Direito e afirma também o autor que, limitada às descrições normativas, à ciência jurídica também não cabe investigar a eficácia da norma - saber se esta é ou não vivenciada como regra social -, pois aí estaria forçada a emitir juízos da ordem do ser, juízos sobre a realidade. Assim, segundo ele, não cabe à ciência jurídica dizer se uma norma é ou não justa, ou se é ou não obedecida, mas sim se é válida formalmente, se tem vigência.
Kelsen ressalva, ou alerta, que embora se utilize da expressão dever-ser, o sentido dessa expressão traz na proposição da ciência jurídica um caráter meramente descritivo, ainda que o objeto dessa descrição - a norma jurídica - não seja um fato da ordem do ser, mas também um dever-ser. O jurista científico - afirma - apenas descreve o Direito; assim como o físico em relação ao seu objeto, ele apenas afirma a ligação entre dois fatos. E mesmo considerando que o objeto da ciência jurídica seja constituído pelas normas e, portanto, pelos valores ali inscritos, as proposições científicas, assim como as leis naturais - enfatiza Kelsen - são uma descrição alheia a valores.
Ainda raciocinando analogicamente, Kelsen compara as leis naturais, elaboradas pela Física, enquanto descrição da ordem natural (ser), com as proposições descritivas da ordem jurídica, produzidas pela ciência jurídica, que ele então denomina leis jurídicas, que não são propriamente as normas jurídica (dever-ser), mas apenas a sua descrição científica.
Esse jogo de espelhos entre o Direito (objeto) e a ciência jurídica (sujeito), que resulta da formulação positivista de Kelsen, é de fato fonte de muita confusão. Há momentos, durante a leitura, em que não se sabe bem de que lado está o quê, principalmente quando Kelsen recorre à analogia com as ciências naturais para justificar as funções que reputa idênticas àquelas da ciência jurídica, ou seja, a descrição de seus respectivos objetos de conhecimento: os fatos da ordem natural (ser) e as normas jurídicas (dever-ser): nesse momento a norma jurídica equipara-se a um objeto reificado, uma coisa a ser descrita, um dever-ser-que-é válido formalmente - ressalte-se. Mas aqui reside a primeira confusão, pois para ele, embora sejam realidades ontologicamente diversas, prestam-se ao mesmo tipo de apreensão cognitiva, isto é, podem ser descritas pelo conhecimento científico, desde que, entretanto, sejam aplicados princípios explicativos diferentes: causalidade e imputação. Portanto, são ciências diferentes, peculiares, mas comungam da mesma metodologia positivista.
Normativismo Jurídico e o Racionalismo Dogmático
é uma construção de Hans Kelsen que consistiu na expressão máxima do positivismo jurídico estrito. Trata-se de uma corrente de pensamento que submeteu a ciência jurídica a uma dupla depuração, retirando de seu âmbito a análise de aspectos fáticos e valorativos, em busca da pureza metódica para a ciência jurídica. Para fazer essa depuração, Kelsen se utilizou do dualismo neokantiano do “ser” e do “dever ser”, sendo este a expressão da normatividade do direito, objeto da investigação jurídica. Assim, a ciência do direito seria puramente normativa.Contrapõe-se às concepções que identificam no Direito, fatos e valores, como o jusnaturalismo, o historicismo, o culturalismo e o próprio positivismo sociológico. Segundo Kelsen, a estrutura lógica da ordem jurídica é piramidal, pois a ciência jurídica estabelece uma hierarquia, de modo que a norma de escalão inferior se harmonize com a que lhe for imediatamente superior, que lhe dá validade e assim sucessivamente, até alcançar a norma hipotética fundamental. A norma hipotética fundamental seria um pressuposto gnosiológico, ou seja, um precedente lógico do conhecimento, posta pelo jurista para tornar possível a pesquisa jurídico-científica. Não é uma norma positiva. Ela é pensada pelo jurista.
Hans Kelsen, judeu, nasceu na cidade de Praga no ano de 1881, consagrado mundialmente como fundador da escola Normativista. 
Conquista em 1911 o cargo de livre docente em direito público e filosofia do direito. Em 1919 é promovido a professor de direito de Viena. Em 1920, completa o sistema hierarquizado da ordem normativa (trabalho profundo ainda hoje citadíssimo, em que pela primeira vez surge sua ideia de identificar o Estado com o direito) baseando-se na construção jurídica de seu discípulo Adolf Merkl.
Em 1930 leciona durante três anos na Universidade de Colônia, quando por motivos políticos é afastado pelo partido Nacional – Socialista, o futuro partido Nazista, que dominara o governo da Alemanha.
Fato marcante da vida de Kelsen foi sua agitada fuga da Alemanha e ida para os Estados Unidos em 1940, onde lecionou como professor visitante em Harvard e depois em Berkley. Publicou em 1945 a Teoria Geral do Direito do Estado que praticamente condensa sua obra cujo núcleo é representado pela teoria pura do direito.
Morreu nos Estados Unidos, na cidade Orinda, no Estado da Califórnia, em 1973, aos 92 anos.
No meio jurídico Hans Kelsen é tido como um dos maiores juristas do século XX. Publicou mais de 20 (vinte) livros e centenas de artigos, também é considerado o pai da teoria pura do direito, ramo da escola positivista.
Racionalismo dogmático ou normativismo jurídico de Hans Kelsen
O racionalismo dogmático, ou teoria Kelseniana, maior expressão do conhecimento jurídico, sendo essa uma consequência da decadência do mundo capitalista liberal, marcado pela Primeira Guerra Mundial. Para a ciência jurídica, segundo essa doutrina, não importa o conteúdo do direito. 
Diante dos problemas do direito público e da Teoria do Estado, concepções dominantes, nasce, portanto a teoria pura do direito de Hans Kelsen. 
O jurista aderia ao sociologismo e submetia o direito a diversas metodologias empíricas: da psicologia, da historia e da sociologia. Não havendo, portanto o domínio cientifico no qual o cientista do direito não tinha autonomia para as inserções jurídicas, levando a ciência do direito a ruina ao tomar empréstimos metodológicos de outras ciências. Sendo o direito uma realidade específica, assim observada por Hans Kelsen não seria certo transportar para o amparo da ciência jurídica métodos validos para outras ciências. Entendendo que o jurista deveria investigar o direito sob seus próprios processos de estudos, verificou que isso só seria possível se houvesse pureza metódica.
A pureza metódica descrita por ele era submetida a uma dupla depuração: a primeira procura afastá-la de quaisquer influencias sociológicas, a segunda purificação retira do âmbito de apreciação da ciência jurídica qualquer ideologia politica e aspectos valorativos. O conhecimento jurídico é ciência e não politica. A ciência do direito com a finalidade de manter seu valor absoluto e objetivo não deve fazer considerações teleológicas e axiológicas. Para Hans Kelsen a ciência tem por missão conhecer seu objeto, excluindo toda a tendência ideologia da teoria pura do direito, uma vez que a mesma emana da vontade e não do conhecimento.
Kelsen adotou uma ideologia essencialmente positiva no setor jurídico desprezando juízos de valor, rejeitando a ideia de direito natural, e combatendo e metafisica. A teoria que criou se refere exclusivamente ao direito positivo. É uma teoria que compreende o direito como estrutura normativa e que esse seria um grande esqueleto de normas.
Feitas purificações anti-sociológicas e anti-ideológicas, Kelsen constitui como objeto especifico da ciência jurídica, a norma de direito. O jurista teórico deve somente conhecer e descrever tal norma, sob proposição jurídica. 
Apesar da sua concepção puramente jurídica, Kelsen não nega que existam classes e conflitos sociais, que incidem sobre a criação e a aplicação do direito. Porém, o autor intende que estes temas não são objeto da ciência jurídica, mas sim de outras disciplinas como a sociologia, a ciência política, a filosofia, a teologia. Nesta perspectiva, as causas de criação de uma norma e o problema do respeito a ela na pratica são fatos empíricos, que não interessam ao jurista, pesquisador da natureza da norma jurídica. Não compete ao jurista o estudo do comportamento humano ou das relações entre direito e sociedade.
Consiste aqui a oportunidade de deixar bem claro que esse pensador não negou a utilidade sociológica do direito, nem mesmo sustentou que a justiça não existe, que ela seria apenas relativa, e em inúmeras passagens de suas obras chega até a admitir a possibilidade de considerações axiológicas, não permitindo apenas que esses estudos sejam feitos pela ciência jurídica assim citado acima.
A sua teoria não pretende expressar o que o direito deve ser, mas sim o que é o direito. Não expõe qual deve ser a fonte do direito, mas indica as fontes formais do direito. A sua ideia é de que as considerações de ordem valorativas estão fora da ciência do direito. Para o famoso cientista do direito, a norma é o único elemento essencial ao direito, cuja validade não depende de conteúdos morais. 
A teoria pura localiza-se na norma jurídica. Esta pertence ao reino do dever ser (considerado por Kelsen como expressão da normatividade do direito, que deve ser investigado pela ciência jurídica, que é uma ciência normativa, pois seu objetivo consiste em estudar normas que enunciam o que se deve fazer, e não o que sucedeu, sucede ou se sucederá), enquanto que a lei da causalidade, que rege a natureza, pertence ao ser (que diz respeito à natureza, que é regida pela lei da causalidade, que enuncia que os objetos naturais se comportam de um determinado modo). O direito é uma realidade espiritual e não natural. Se no domínio da natureza a forma de ligação dos fatos é a causalidade, no mundo da norma é a imputação (operação logica que atribui uma consequência em virtude da pratica de um ato). 
A norma jurídica expressa, pela versão definitiva de Kelsen, um mandamento, um imperativo-atributivo: “Se A é, B deve ser”, em que A constitui o suposto, e B a consequência.
Kelsen, determinando que o direito deve ser visto como um sistema de normas procurou limitar a ciência jurídica ao conhecimento e descrição daquelas, afirmando que ela seria uma ciência normativa, porque conhece normas e não porque as estatui, portanto, o jurista não cria o direito, apenas faz dele um objeto de conhecimento.
A hipótese jurídica é onde o jurista encontra as condições de possibilidade do direito e as de seu conhecimento científico. É a norma hipotética fundamental que produz o direito como objeto de conhecimento jurídico-científico. Pois dessa maneira o jurista pode dizer se determinada lei faz ou não parte da ordem jurídica.
O objeto da ciência do direito, para Kelsen, consiste nas normas jurídicas determinantes da conduta humana ou efeitos da conduta humana. A partir disso, o conhecimento jurídico-científico, temos uma teoria estática e uma teoria dinâmica do direito.
A teoria dinâmica tem por objeto o direito como um sistema de normas, estuda-o em seu estado de repouso. A teoria dinâmica considera o direito em seu movimento tem por objeto o processo jurídico em que é produzido e aplicado o direito.
Na doutrina Kelseniana, existe certa relação entre ser e dever ser, pois segundo ele paraque uma norma seja tida como válida ela terá não só que ser posta por um ato de vontade “ato do ser”, como também possuir eficácia. 
Uma norma é valida se promulgada por um ato legítimo. As mesmas, sendo criados por atos volitivos, consideradas como sentido subjetivo desses atos, esse subjetivismo só será interpretado com objetivo desses atos se for uma norma válida. 
Para Kelsen é necessário um mínimo de eficácia para que uma norma obtenha sua validade. Uma norma só é valida se assim for à ordem a que pertence for de total eficácia, diante disso o jurista deverá analisar sua vigência e sua eficácia, porque essa é condição de validade.
As normas jurídicas são determinadas por atos volitivos das autoridades, as proposições são formuladas pela ciência do direito advindas de atos de conhecimento. As normas jurídicas estabelecidas pelas autoridades competentes são imperativas, pois tem por função descrever condutas, portanto, fontes jurídicas, por impor obrigações e reconhecer direitos. As normas são validas ou inválidas. A validade de uma norma consiste na sua adequação ou inadequação. A norma jurídica nunca poderá ser qualificada de verdadeira ou falsa porque não é um juízo.
A Pirâmide Jurídica
A estrutura normativa, que é objeto da ciência, apresenta-se hierarquizada. As normas jurídicas formam uma pirâmide apoiada em seu vértice. A graduação é a seguinte: constituição, lei, sentença, atos de execução. Isto significa, por exemplo, que uma sentença, que é uma norma jurídica individualizada, se fundamenta na lei e esta, por seu lado, apoia-se na constituição. Acima desta, acha-se a Norma Fundamental, que pode ser outra constituição anterior ou uma revolução triunfante.
Kelsen eliminou vários dualismos no campo jurídico: Direito/Estado, Direito objetivo/subjetivo, Direito interno/internacional. O Estado não seria mais do que a personalização da ordem jurídica porque não é mais do que uma ordem coativa da conduta humana, ordem que é jurídica. 
Kelsen nega a existência do direito subjetivo, de vez que a possibilidade de agir é apenas uma consequência da norma jurídica. Negou também o dualismo do direito interno e internacional. Defendeu a tese de que não são dois sistemas jurídicos independentes e nem contrapostos, mas um sistema único, com prevalência das normas internacionais. Assim o Direito brasileiro seria tão Direito quanto os Estados Unidos da América ou da Rússia. 
Crítica a Teoria Pura do Direito
A sua mais forte crítica é com as limitações de seu campo de observações e análises de fatos concretos, o racionalismo de Hans Kelsen reduziu o significado humano e de que identificando o direito com a lei, a teoria pura do direito é uma porta aberta aos regimes totalitários, seja na forma comunista, fascista ou nazista. 
A teoria pura do direito não satisfaz as exigências sociais de justiça. De um lado favorece o valor segurança, por outro, ao defender a filiação do direito, a determinações do Estado mostra-se alheio à sorte dos homens. O direito não se compõe exclusivamente de normas, como assim pretende essa teoria. As regras jurídicas tem sempre um significado, um sentido, um valor a realizar.
Não há duvida que o positivismo jurídico influência os juristas atuais que nela encontram seu campo teórico, contudo, isso não quer dizer que a mesma tenha palavra final. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DINIZ, Maria Helena; Compêndio de Introdução a Ciência do Direito, 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 591 p.
SABADELL, Ana Lucia; Manual de Sociologia Jurídica, 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. 238 p.
NADER, Paulo; Introdução ao Estudo do Direito, 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. 401 p.
DALARI, Dalmo de Abreu; Elementos de Teoria Geral do Estado, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
O racionalismo dogmático ou normativismo jurídico de Hans Kelsen é a expressão máxima do estrito positivismo jurídico. A teoria kelseniana constitui-se em uma teoria do direito capaz de admitir que mesmo nos Estados despóticos há uma ordem jurídica estabelecida, validando a existência, por exemplo, de um direito soviético, fascista e nazista. A grande aspiração de Kelsen foi a de salvaguardar a autonomia, neutralidade e objetividade da ciência do direito, sendo, portanto, de suma importância considerações relativas ao seu objeto de estudo, a norma jurídica. A ciência do direito foi submetida por Kelsen a uma dupla depuração. A primeira procura afastá-la de quaisquer influências sociológicas, liberando-a dos aspectos fáticos que estejam ligados ao direito. A ciência jurídica já recebe a norma feita, não tendo, portanto, nada a ver com as investigações sociológicas de causas ou fatores sociais. A segunda purificação refere-se a ideologia política e aspectos valorativos, ou seja, toda e qualquer investigação moral e política é retirada do âmbito de apreciação da ciência jurídica. Feitas as purificações antissociológicas e anti-ideológicas, constitui-se como objeto específico da ciência jurídica a norma de direito. O jurista teórico deve somente conhecer e descrever tal norma, mediante proposição jurídica. No estudo da estrutura lógica da norma jurídica, faz-se necessária a prévia definição de norma de direito ou norma jurídica. Como norma, Kelsen entende que algo deve ser ou acontecer, especialmente que um homem deve se conduzir de determinada maneira. É o sentido de um ato através do qual uma conduta é prescrita, permitida ou, especificamente, facultada, no sentido de adjudicada à competência de alguém, ou, ainda, fatos e situações que não constituem a conduta humana, mas desde que sejam condições ou efeitos de conduta humana. Essa visão moderna tem o seu antecedente na distinção kantiana sobre os imperativos e o dualismo do ser e dever-ser. Para Kant, o imperativo categórico, próprio dos preceitos morais, obriga de maneira incondicional pois a conduta é sempre necessária. Exemplo: Sê bom! Já o imperativo hipotético5, relativo às normas jurídicas, técnicas, políticas, impõe-se de acordo com as condições especificadas na própria norma, como meio para alcançar alguma outra coisa que se pretende, em outras palavras, o comando emitido se condiciona na qualidade de meio, a um certo fim a ser atingido. Exemplo: Estuda assiduamente, se desejas obter um futuro melhor! Kelsen, como visto, despem-se de tais preceitos sociais, morais e axiológicos e corresponde o ser e o dever-ser à dois domínios: o dos fatos ou da natureza física, espiritual e social e o das normas. O ser diz respeito à natureza, regida pela lei da causalidade e o dever-ser é a expressão da normatividade do direito, que consiste em enunciar o que se deve fazer, e não o que sucedeu, sucede ou sucederá. Uma relação normativa6 é designada por imputação e é esta relação que é expressa na palavra “dever-ser”. Pela imputabilidade a ciência do direito (expondo ordenada e coerentemente as normas através do método normológico) deve ligar um fato condicionante a um fato condicionado, logo, a imputação é o que estabelece conexão entre ilícito e sanção. Assim, as normas que formam uma ordem jurídica – normas jurídicas - devem ser normas que estipulam um ato coercitivo, uma sanção8. Segundo o autor da Teoria Pura do Direito a estrutura lógica da norma jurídica pode ser enunciada do seguinte modo: "em determinadas circunstâncias, um determinado indivíduo tem o dever de observar tal ou qual conduta; se não a observa, o órgão (indivíduo que deve executar a sanção) deve aplicar ao infrator uma sanção". Da formulação kelseniana, infere-se que este esquema possui duas partes, que o autor denomina por "norma secundária", não havendo conduta exigida aplica-se a sanção ("Dado ñP, deve ser S" - Dada a não prestação, deve ser aplicada a sanção. Exemplo: o pai que não prestou assistência moral ou material ao filho menor deve ser submetido a uma penalidade.) e "norma primária", que dispõe sobre a conduta exigida ("Dado Ft, deve ser P" - Dado um fato temporal deve ser feita a prestação. Exemplo: o pai que possui filho menor, deve prestar-lhe assistência moral e material).Caso se admita que a norma primária é válida somente se a norma secundária vincular uma sanção à conduta, numa exposição jurídica a norma primária seria supérflua, estando contida na secundária, única norma jurídica genuína (Exemplo: o pai que possui filho menor, deve prestar-lhe assistência moral e material somente se houver penalidade caso não o faça). Admitir a existência da norma primária, que exige omissão, é legitimo apenas caso se tenha consciência do fato de que esta depende da secundária que estipula a sanção. Podemos expressar essa dependência com a inversão terminológica das normas, ou seja, a norma secundária estipula a conduta que a ordem jurídica procura ocasionar ao estipular a sanção. Tal estrutura lógica da norma jurídica é piramidal, uma vez que as normas, que são os seus elementos constitutivos, estabelecem entre si uma hierarquia, subordinando-se a norma do escalão inferior àquela que lhe seja imediatamente superior. A norma que empresta ao ato o significado de um ato jurídico (ou antijurídico) é ela própria produzida por um ato jurídico que, por seu turno, recebe a sua significação jurídica de uma outra norma. Logo, o fundamento de validade de uma norma apenas pode ser a validade de uma outra, figurativamente, designada como norma superior, por confronto com uma norma que é, em relação a ela, superior. No topo desta pirâmide encontra-se a norma hipotética fundamental, que é um precedente lógico do conhecimento, uma hipótese lógica, indispensável para que a ciência jurídica possa considerar o direito como um sistema de normas válidas.
Referências:
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito: introdução à teoria geral do direito, à filosofia do direito, à sociologia jurídica. 21 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010.
KANT, Immanuel. Introdução ao estudo do direito: doutrina do direito. trad. Edson Bini. Bauru, SP: EDIPRO, 2007.
KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. trad. Luís Carlos Borges. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. trad. João Baptista Machado. 8 ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 32 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2010.

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