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MICOTOXICOSES 1. DEFINIÇÃO Micotoxicoses são intoxicações resultantes da ingestão de alimentos contaminados com micotoxinas. Micotoxinas são metabólitos tóxicos produzidos por fungos microscópicos, os bolores. A palavra micotoxinas é derivada dos termos gregos mikes, que significa fungos, e toxikon, que significa veneno ou toxina. São considerados metabólitos secundários produzidos por fungos filamentosos (bolores), cuja ingestão, contato ou inalação, pode ocasionar doenças ou, eventualmente, a morte. São produzidas por fungos passíveis de contaminar alimentos de origem vegetal, tais como grãos e cereais, desde o cultivo, passando pela colheita, pelo transporte, até o armazenamento, desde que satisfeitas as condições ideais de umidade e de temperatura. 2. AGENTES ETIOLÓGICOS As principais espécies produtoras de toxinas pertencem aos gêneros: Aspergillus, Penicillium, Fusarium, Claviceps, Pithomyces, Myrothecium, Stachybotrys, Phoma e Alternaria. Na medida em que as espécies são em geral ubiquitárias, observa-se a presença de micotoxinas em todas as partes do mundo, embora algumas delas sejam específicas de certos países, decorrentes de fatores climatológicos 3. CARACTERÍSTICAS Os quatro grandes grupos de micotoxinas e seus respectivos fungos produtores podem ser assim distribuídos: (1) aflatoxinas, metabólitos biossintetizados, principalmente por Aspergillus flavus, A. parasiticus e A. nomius; (2) ocratoxinas, produzidas por A. ochraceus (A. alutaceus) e algumas espécies do gênero Penicillium; (3) fusariotoxinas, produzidas por Fusarium spp., tendo como principais representantes, as fumonisinas, a zearalenona, a moniliformina e os tricotecenos.; (4) alternariol e alternariol monometil éter, produzidos por Alternaria alternata. No Brasil, as micotoxinas mais detectadas em alimentos são as aflatoxinas, as fumonisinas, a ocratoxina A, a zearalenona e o deoxinivalenol. Dependendo dos teores de micotoxinas ingeridas ou injetadas, quatro tipos básicos de toxicidade são verificados: aguda, crônica, mutagênica e teratogênica. O efeito agudo mais frequente é a deterioração das funções hepática e renal, fatal em alguns casos. Entretanto, algumas micotoxinas agem primariamente, interferindo na síntese proteica, produzindo dermonecrose e imunodeficiência extrema. Outras são neurotóxicas e, em baixas concentrações, podem ocasionar tremor nos animais. O efeito crônico de muitas micotoxinas é a indução de câncer, principalmente no fígado. Algumas interferem na replicação do DNA e, consequentemente, podem produzir efeitos mutagênicos e teratogênicos. 4. HABITAT Amplamente distribuídos na natureza, os fungos toxigênicos já foram isolados de diversos tipos de substratos, sendo o milho, o amendoim, o sorgo, o caroço de algodão, a castanha-do-Brasil, a semente de girassol e o trigo os mais frequentemente acometidos. 5. EPIDEMIOLOGIA No transcorrer da Segunda Guerra Mundial, episódios de intoxicações aconteceram na Rússia, a chamada aleucia tóxica alimentar (ATA), responsável pela morte de, pelo menos, 100 mil pessoas. A ATA foi proveniente do consumo de alimentos processados com cereais (trigo, centeio etc.) cobertos por espessa camada de neve, atacados por fungos (Fusarium sporotrichioides e Fusarium poae) produtores de tricotecenos. O ano de 1960 representou o marco histórico relativo ao conhecimento das micotoxinas, através do episódio em que centenas de aves morreram em diversas regiões da Inglaterra alimentadas com rações provenientes do Brasil e da África. Após pesquisas exaustivas, foi constatado que o alimento fornecido às aves estava contaminado com Aspergillus flavus, produtor de substâncias tóxicas denominadas aflatoxinas (Aspergillus flavus toxin). Verificou-se que Aspergillus parasiticus também é produtor desta micotoxina, cujas variações na molécula permitem caracterizar uma dezena de compostos. Os principais são aflatoxinas B1, B2, G1, G2 (segundo as fluorescências emitidas; B = blue e G = green), ressaltando-se a existência das aflatoxinas M1 e M2, metabólitos secundários, que aparecem no leite de vacas alimentadas com rações contaminadas. Na atualidade, a aflatoxina B1 é o composto com maior atividade carcinogênica que se conhece, não sendo desprezível sua atividade mutagênica. Além dos efeitos hemorrágicos e carcinogênicos conhecidos, sabe-se que nas aves, por exemplo, as aflatoxinas provocam hipoglicemia, hipotermia e diminuição da gordura corpórea. Estudos epidemiológicos desenvolvidos em alguns países têm demonstrado uma associação entre incidência de câncer hepático humano e aflatoxina B1 ingerida nos alimentos. 6. DIAGNÓSTICO A verificação da existência de aflatoxina B1 em excretas auxilia a constatação de episódios de intoxicação. Na prática, com relação à espécie humana, essa comprovação é difícil, pois se sabe que a metabolização da aflatoxina B1 é muito rápida, desaparecendo, praticamente, após uma semana de sua ingestão. Devido ao fato de os achados clínico-patológicos serem apenas sugestivos de micotoxicoses, é fundamental a detecção e quantificação da toxina no alimento suspeito e, quando possível, a detecção de resíduos nos tecidos, leite, urina, soro, fezes e sangue pelos métodos cromatográficos e imunoensaios (ELISA e radioimunoensaio). 7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Microbiologia / editores Luiz Rachid Trabulsi, Flavio Alterthum. -- 6. ed. -- São Paulo: Editora Atheneu, 2015.
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