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Brucelose em animais domésticos

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BRUCELOSE
INTRODUÇÃO
A brucelose é uma enfermidade infectocontagiosa, causada por bactérias do gênero Brucella. Apresenta-se na forma endêmica em muitos países, resultando em prejuízos econômicos significativos aos sistemas de produção e sérias implicações em saúde animal e pública, visto seu caráter zoonótico. 
A ocorrência de brucelose bovina em um país ou região pode resultar em perdas econômicas significativas como a imposição de barreiras sanitárias e tarifárias ao comércio internacional de produtos de origem animal. Provoca perdas no rendimento industrial com a condenação do leite e da carne oriundos de animais infectados, gastos significativos devidos aos altos custos para a implementação dos programas de controle e erradicação da doença, além de prejuízos envolvendo a produção animal, devido ao elevado número de abortos, nascimento de bezerros fracos, baixa fertilidade nas propriedades rurais e principalmente o declínio na produção de leite e carne.
No Brasil, a brucelose bovina causa perdas totais de aproximadamente R$ 892 milhões, e cada aumento de 1% na taxa de prevalência resulta em prejuízo médio de R$ 155 milhões.
A seguir, serão detalhados os principais aspectos relacionados a brucelose em animais domésticos.
ETIOLOGIA
As bactérias do gênero Brucella pertencem à classe Proteobacteria, são Gram-negativas, intracelulares facultativas, imóveis e não esporuladas. Apresentam-se na forma de bastonetes curtos. São considerados microrganismos aeróbios, porém uma atmosfera com tensão de 5 a 10% de CO2 favorece o isolamento de algumas espécies. Apresentam temperatura de multiplicação na faixa de 20 a 40°C, sendo 37°C a temperatura ideal, e um pH ótimo de 6,6 a 7,4.
As principais espécies do gênero são a B. melitensis (isoladas em cabras, ovelhas e camelos), B. abortus (bovinos e bubalinos), B. suis (suínos e javalis), B. neotomae (ratos do deserto), B. ovis (ovelhas) e B. canis (cães), as quais são subdivididas em sete biovares ou biotipos para B. abortus (1, 2, 3, 4, 5, 6 e 9), três para B. melitensis (1, 2 e 3) e cinco para B. suis (1, 2, 3, 4 e 5). As outras espécies como B. ceti e B. pinnipedialis, isoladas em mamíferos marinhos (focas, leões marinhos, golfinhos e baleias) e B.microti (procedente de ratazanas selvagens) não foram diferenciadas em biovares, apesar de existirem variantes dentro das cepas.
Classicamente, as bactérias do gênero Brucella podem ser divididas em dois grupos antigenicamente distintos, denominadas lisas ou rugosas, com base nas características de multiplicação em meios de cultura no cultivo primário e na constituição química da parede celular - presença ou ausência da cadeia O - um dos componentes do lipopolissacáride (LPS) localizado na superfície externa da Brucella spp e que possui relação com a virulência de algumas espécies. As colônias lisas possuem como constituinte do LPS, o lipídeo A, o núcleo oligossacáride e a cadeia O. Já as rugosas, possuem como constituinte da membrana externa apenas o lipídeo A e o núcleo oligossacáride. 
A Brucella spp apresenta-se exigente quanto à multiplicação in vitro, porém possui uma ampla capacidade de sobrevivência em ambientes que apresentam condições de umidade, abrigo de luz solar direta, pH neutro, temperatura e matéria orgânica, podendo resistir em pastagens, fetos abortados, anexos fetais e fezes úmidas por longos períodos.
A sobrevivência de Brucella spp no leite e produtos lácteos depende da temperatura, pH e da presença de outros microrganismos que possam inibir a multiplicação, podendo permanecer no alimento de 15 a 90 dias. A refrigeração inibe a multiplicação, porém a viabilidade é mantida mesmo em temperatura de congelamento. No entanto, a fervura, processos de pasteurização e os métodos de esterilização são eficazes na eliminação do microrganismo. Em carnes, a Brucella spp pode manter-se viável durante meses, sendo pouco afetada pela acidificação muscular, refrigeração ou congelamento. Além do calor, a eliminação do agente só ocorre em situações de pH inferior a 4.
EPIDEMIOLOGIA
Distribuição
A brucelose encontra-se mundialmente distribuída, sendo considerada uma das principais zoonoses. Embora tenha B. abortus tenha sido erradicada em diversos países da região norte e central da Europa, Austrália, Japão, Canadá, Israel e Nova Zelândia, continua reemergente e se apresentando como um grave problema sanitário e econômico, principalmente em países da América do Sul, África, Oriente Médio e Ásia. No Brasil, a brucelose é endêmica, porém apresenta dados bastante diferenciados face à dimensão territorial e às características próprias de cada região.
B. mellitensis é particularmente comum em países do Meditarrâneo, Oriente Médio, Ásia Central, ao redor do Golfo Pérsico e países da América Central. B. ovis ocorre na maioria das regiões de ovinocultura do mundo, como Austrália, Nova Zelândia, América do Norte, América do Sul, África do Sul e países da Europa. B. suis foi erradicada em suínos domesticados nos EUA, Canadá e em alguns países europeus. No entanto, resiste em suínos selvagens de algumas áreas, incluindo EUA, Europa e Austrália. Casos esporádicos e surtos tem sido relatados em rebanhos domésticos de alguns países da América do Sul, Central, da Ásia, com eventual acometimento humano. B. canis ocorre em todo mundo, exceto Austrália e Nova Zelândia.
No Brasil, a brucelose bovina ocorre de maneira endêmica em praticamente todo território nacional, podendo ser diagnosticada em rebanhos, independente do modo de criação e exploração econômica a que sejam submetidos. A menorr taxa de prevalência é observada no estado de SC, e as maiores na Região Centro-Oeste.
Hospedeiros Suscetíveis
Uma grande variedade de espécies animais pode servir de hospedeira do gênero Brucella, dentre elas, os bovinos, suínos, caprinos, ovinos, bubalinos, equinos e cães.
Entre os bovinos, a categoria mais suscetível é representada pelas vacas, especialmente aquelas em gestação. Em suínos, a brucelose afeta ambos os sexose diversas idades. Também acomete diversas espécies de ruminantes, suínos e canídeos silvestres, como camelos, lhamas, alpacas,vicunhas, coiotes, bisões, iaques, cervos, búfalos e antílopes. Mamíferos marinhos e roedores também são acometidos.
Fontes de infecção
Os caprinos e ovinos constituem as principais fontes de infecção para B. melitensis; os bovinos, para B. abortus; os suínos, para B. suis; os cães, para B. canis; e os ovinos para B. ovis. 
Para os bovinos, a principal fonte de infecção é a vacam principalmente em gestação, pois o parto ou abortamento representam a ocasião de maior risco de disseminação.O touro infectado, quando usado na monta natural tem pouca importância epidemiológica na manutenção desta enfermidade.
Entre suínos e os cães, além da fêmea gestante o macho infectado pode ser fonte de infecção importante. Nos ovinos, o reprodutor é a principal fonte de infecção de B. ovis, o qual elimina, em geral, o agente pelo sêmen, bem como na urina, sendo mais suscetíveis que as fêmeas a infecção, que possui pouca importância na manutenção do agente no rebanho.
Vias de eliminação
O agente etiológico pode ser eliminado da fonte de infecção por diversas vias, como feto, membrana e líquidos fetais, descargas vaginais, leite, fezes e sêmen. Entre essas, destacam-se o feto e os anexos fetais, por sua importância na manutenção da enfermidade.
Embora as vacas abortem, em geral, apenas no primeiro parto após a infecção, os animais continuam eliminando a Brucella pelo leite e por descargas uterinas de modo assintomático nos partos subsequentes. Cães não castrados podem albergar e transmitir o agente pelo sêmen, por contato oro-nasal, pela ingestão de tecidos ou fluidos contaminados e também há a possibilidade de penetração da bactéria pela pele lesada.
A maioria as espécies de Brucella é eliminada pelo sêmen. Os machos podem eliminá-la por períodos prolongados ou por toda a vida. A importância da transmissão venérea varia de acordo com aespécie de Brucella. O sêmen é a principal via de eliminação para B. ovis, B. suis e B. canis. Apesar de B. abortus e B. melitensis serem encontradas no sêmen, a transmissão pela monta natural é pouco provável. 
Meios de transmissão 
Água, alimentos e fômites contaminados são os principais meios de transmissão. Aerossois podem ser meios de transmissão em ambiente fechados e com grande concentração da bactéria no ar. . Os animais contaminados transmitem as bactérias do gênero Brucella através do parto ou aborto, valendo destacar que as fêmeas após abortarem pela primeira vez, tornam-se portadoras crônicas, eliminando Brucella spp no leite, urina e descargas uterinas durante os partos subsequentes, abortando ou não.
Nos bovinos, é importante considerar ainda, o contato resultante do habito de lamber membranas fetais, fetos e bezerros recém-nascidos. Ademais, o habito de lamber os órgãos genitais contribui para a disseminação da doença. 
Na brucelose bovina, a transmissão por inseminação artificial com sêmen de touro infectado é extremamente importante, sendo responsável por surto de abortamento em propriedades, dependendo da dose infectante. Já a transmissão por transplante de embriões ainda não foi confirmada.
Outro aspecto que pode contribuir para a manutenção da brucelose é a infecção latente observada em bezerras nascidas de vacas infectadas. Elas nascem aparentemente saudáveis e soronegativas, porem, quando adultas e prenhes, podem abortar e apresentar títulos sorológicos. Essas bezerras podem se infectar por ingestão do leite ou pela passagem no canal do parto.
Para os suínos, a monta natural é um meio de transmissão frequente. A inseminação artificial com sêmen de cachaços infectados também é importante, ma vez que os antibióticos utilizados na preservação do sêmen não inativam a bactéria. 
Os cães e ovinos também podem transmitir a infecção pelo coito. Nos cães, a principal via de transmissão é a venérea, embora possa se infectar pelo contato com membranas fetais, fetos abortados, descargas vulvares ou urina de animais infectados.
A introdução dos animais infectados em rebanhos sadios constitui o principal risco nas propriedades rurais, por isso o comércio de animais só deve ocorrer quando a condição sanitária seja conhecida, sendo o ideal a procedência de rebanhos livres ou então que sejam submetidos a testes de diagnóstico que garantam a sanidade do rebanho.
Humanos normalmente se infectam pelo contato direto do agente com mucosas ou soluções de continuidade da pele, pela manipulação de tecidos, sangue, urina, secreções vaginais, fetos abortados e envoltórios fetais provenientes de animais infectados ou pela ingestão da bactéria em alimentos, geralmente de leite cru ou derivados lácteos não pasteurizados (queijos, manteigas, iogurtes, sorvetes) além de carnes cruas, mal assadas ou cozidas, obtidas de animais infectados. Sendo assim, devido seu caráter zoonótico, o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos produtos de Origem Animal - RIISPOA (BRASIL, 1952) determina que carcaças que apresentarem lesões extensas de brucelose devem ser condenadas ou destinadas a esterilização pelo calor, após remoção das áreas atingidas a fim de eliminar qualquer fonte de contaminação aos consumidores destes alimentos.
A transmissão entre pessoas, embora possível, é considerada insignificante sob o ponto de vista epidemiológico, porém, a literatura relata casos de transmissão por meio de transfusão de sangue, transplante de medula e até por relação sexual
Portas de entrada
Para os bovinos, a mais importante porta de entrada é a mucosa gastrintestinal. A entrada pela mucosa vaginal é rara e exige grande número de microrganismos. Para suínos, as principais portas de entrada são o aparelho digestório e genital, além da conjuntiva e trato respiratório superior. Já para cães e ovinos, tanto o aparelho digestório como o genital representam portas possíveis. Os equinos se infectam via oral, a partir da coabitação em pastos com bovinos infectados.
PATOGENIA E SINAIS CLÍNICOS
A infecção natural se inicia principalmente pelas mucosas oral, nasofaríngea, conjuntival ou por solução de continuidade da pele, sendo que a porta de entrada principal da B. abortus em bovinos é a mucosa orofaringeana. Após a penetração na mucosa, as bactérias são fagocitadas principalmente por macrófagos, sendo carreadas até os linfonodos regionais, onde se multiplicam e podem permanecer por semanas a meses, levando à hiperplasia e linfadenite.
A partir dos linfonodos regionais, os microrganismos podem disseminar livremente ou no interior de macrófagos, pela via hemática e linfática albergando-se em outros linfonodos, principalmente os supramamários, e em órgãos como baço, fígado e outros tecidos ricos em células mononucleares fagocitárias, podendo sobreviver nestes locais por longos períodos, escapando da resposta imune.
Durante a fase de multiplicação celular, estas bactérias podem provocar alterações inflamatórias e anatomopatológicas caracterizadas por granulomas difusos, levando à hiperplasia linfóide, esplenomegalia e até hepatomegalia.
A presença de Brucella spp em tecidos pode provocar a formação de resposta inflamatória com modulação de macrófagos em células epitelióides, infiltração por plasmócitos e linfócitos, podendo assim ocorrer focos de necrose no centro das lesões e o desenvolvimento de cápsulas ao redor das áreas lesionadas devido à proliferação de tecido conjuntivo, porém, a formação de um granuloma depende da resistência natural do organismo, da resistência adquirida e principalmente do número e grau de patogenicidade do agente infectante.
Os órgãos de predileção do gênero Brucella são aqueles que oferecem elementos necessários para o seu metabolismo, como o eritritol - álcool polihídrico de quatro carbonos - presente no útero gravídico, tecidos mamários, ósteoarticulares e órgãos do sistema reprodutor masculino. 
A infecção do útero gestante ocorre por via hematógena e as alterações variam de acordo com a intensidade da infecção e o tempo de gestação. Nos bovinos, a concentração de eritritol se altera de forma gradativa conforme o período gestacional, atingindo níveis máximos próximo ao parto, aumentando assim a capacidade de infecção e multiplicação dos microrganismos. A evolução do processo inflamatório leva a lesões necrótico-inflamatórias na placenta além de lise das vilosidades, resultando no descolamento dos cotilédones; prejuízo na circulação materno-fetal, dificultando e até mesmo impossibilitando a passagem de nutrientes e oxigênio da mãe para o feto, provocando assim danos que variam de nascimento de bezerros subdesenvolvidos ao aborto.
Devido ao desenvolvimento da imunidade celular do animal após o primeiro aborto, há uma diminuição significativa do número e tamanho das lesões nos placentomas nas gestações subsequentes. Diante disso, os abortos tornam-se infrequentes, levando ao aparecimento de outras manifestações da enfermidade como a retenção de placenta, natimortalidade ou o nascimento de bezerros fracos, além de quadros de metrite ou endometrite crônica e consequentemente subfertilidade, infertilidade ou esterilidade. Os machos podem apresentar aumento do volume dos testículos de forma uni ou bilateral, além dos epidídimos, ampolas e vesículas seminais. Devido à reação inflamatória do tipo necrosante, pode haver atrofia do órgão afetado, levando a quadros de subfertilidade, infertilidade ou esterilidade.
No aparelho locomotor, os microrganismos do gênero Brucella, principalmente a B. abortus localiza-se na bursa, tendões, músculos e articulações, causando artrites, principalmente nas articulações carpianas e tarsianas; espondilites e bursites, especialmente nas vértebras torácicas e lombares, podendo atingir a medula óssea e bainha dos tendões, sendo o achado clínico clássico, o abscesso fistulado ou não na região da cernelha, lesão conhecida como “mal da cernelha” ou “mal das cruzes”, que acomete principalmente os equinos.
Em suínos ocorreabortamentos em qualquer fase, porém são frequentes entre o 2º e 3º mês de gestação.Observa-se também infertilidade, cios irregulares, ninhadas pequenas, claudicação e paralisia dos posteriores, além de natimortos e nascimento de leitões doentes, que morrem em poucas horas após o nascimento. Cachaços podem apresentarm, orquite, febre, dificuldade para a monta, alterações do sêmen. Os sinais locomotores podem ser em decorrência de artrite, mas em geral, são consequência da osteomielite de corpos vertebrais das partes lombar e dorsal da coluna vertebral.
Em ovinos, B. ovis pode causar doença clinica ou subclinica crônica, caracterizada por epididimite, febre, edema de escroto e vagina e diminuição da fertilidade. Alterações do sêmen incluem: presença do agente no sêmen, redução da produção de esperma, baixa motilidade, alto percentual de anormalidades morfológicas e presença de células inflamatórias.
Em cães raramente observa-se febre. Perda de pelo, queda da condição geral, intolerância ao exercício físico, linfadenopatia e perda de libido podem acometer alguns animais. O sinal clássico da brucelose canina é o abortamento tardio. Descargas vaginais amarronzadas ou acinzentadas persistem por períodos prolongados. Em animais pré-púberes a manifestação clinica clássica é a linfadenopatia generalizada. Em machos, a epididimite e prostatite são frequentes.
DIAGNÓSTICO
O diagnostico da brucelose deve levar em consideração a sintomatologia clinica apresentada pelas várias espécies animais e diagnostico epidemiológico, baseado no histórico do rebanho. O diagnostico laboratorial pode ser realizado pela demonstração da presença do agente etiológico (diagnóstico direto) ou pela obtenção de indícios da presença do agente (diagnóstico indireto).
Métodos Diretos
Os métodos diretos de diagnóstico para brucelose incluem o isolamento e a identificação do agente, a imunohistoquímica e os métodos de detecção de ácidos nucleicos, pela reação em cadeia da polimerase (PCR).
Brucella pode ser isolada de diversos materiais: feto abortado, placenta, exsudato uterino, leite, testículo, epidídimo, higromas, abcessos de cernelha, gânglios linfáticos e sangue.
Métodos Indiretos 
Os testes sorológicos empregados para o diagnóstico da brucelose identificam os anticorpos específicos presentes no soro sanguíneo dos animais infectados, baseando-se em antígenos de superfície bacteriana, compostos por lipopolissacarídeos (LPS) e proteínas de membrana externa. Os testes sorológicos detectam os anticorpos contra Brucella spp presentes em diversos fluidos corporais como soro sanguíneo, muco vaginal, sêmen e leite. Para se escolher um método sorológico, deve-se levar em consideração o tamanho e as características da população a ser analisada, a situação epidemiológica da doença, a sensibilidade e a especificidade dos testes e principalmente se há utilização de vacinas.
O PNCEBT definiu como oficiais os testes do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) e o teste de Anel em Leite (TAL), como provas de triagem. Já como testes confirmatórios estabeleceu o teste do 2- Mercaptoetanol (2-ME) e a reação de Fixação do Complemento (FC) para detecção de antígenos pelo emprego de anticorpos específicos, com o objetivo de detectar uma exposição prévia do animal ao agente.
CONTROLE
O Ministério da Agricultura e do Abastecimento institucionalizou e implementou em 2001 o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose (PNCEBT) visando promover a qualidade dos produtos de origem animal. As estratégias de controle da brucelose têm como base a redução constante do número de focos da doença por meio da vacinação, além do controle do trânsito de animais de reprodução e a certificação de propriedades livres da enfermidade por meio do diagnóstico, sacrifício dos animais positivos e a adoção de medidas ambientais.
A vacinação é empregada com o propósito de reduzir a prevalência da doença a baixos custos. Dentre as vacinas vivas mais utilizadas, a vacina B19 vem sendo amplamente empregada nos programas de controle da brucelose em diversos países, inclusive no Brasil. Os animais vacinados devem ser marcados com V seguido do ultimo digito do ano em que foi realizada a vacinação, devendo ser emitido o atestado de vacinação pelo médico veterinário.
A idade de vacinação deve ser seguida rigorosamente, pois está relacionada com a persistência de anticorpos. A vacina B19 deve ser empregada somente em fêmeas jovens com até oito meses de idade, pois, após este período há probabilidade de uma grande produção de anticorpos que podem perdurar e interferir no diagnóstico da doença após os 24 meses de idade. Não se recomenda a vacinação de machos ou fêmeas em gestação, devido à virulência residual que a cepa conserva, levando machos a permanecerem com títulos vacinais por longos períodos, além da possibilidade de desenvolvimento de orquite e artrites. Já em fêmeas prenhes, a vacina pode provocar o aborto, principalmente no terço final da gestação.
A amostra RB51 possui características de proteção semelhantes à da B19, porém, por ser rugosa, previne a formação de anticorpos reagentes nos testes sorológicos de rotina, não interferindo no diagnóstico sorológico da enfermidade. Em alguns países esta vacina é empregada oficialmente nos programas de controle de brucelose, porém no Brasil, a utilização da RB51 está restrita a vacinação estratégica de fêmeas adultas.
O sacrifício dos infectados é uma medida importante para reduzir o número de fontes de infecção, mas essa pratica encontra resistência por questões financeiras, possibilidade de substituição dos animais sacrificados, tamanho do rebanho e taxa de prevalência da infecção.
Outras medidas importantes para o controle da brucelose é a destruição dos fetos, desinfecção das instalações, utilização de piquetes maternidade e quarentena para introdução de animais no rebanho, evitar a compra de animais de regiões endêmicas.
Para tuberculose indica-se o descarte de todos os animais positivos em frigoríficos inspecionados, encaminhamento médico para todos os funcionários que mantiveram contado com animal doente, proibição do consumo de leite cru e da fabricação de queijos e outros derivados de animais do rebanho, desinfecção de troncos, currais, bezerreiros, estábulos, salas de ordenha.
O tratamento da brucelose animal não é preconizado em virtude da localização intracelular do agente, que dificulta a sua eliminação; da persistência da bactéria nos linfonodos, glândulas mamárias e trato genital. Assim, o caráter portador é mantido, representando risco à saúde animal e a humana.
O PNCEBT não recomenda o tratamento de bovinas e bubalinos com tuberculose, em virtude dos riscos em Saúde Pública das pessoas envolvidas com os animais, bem como o consumo de produtos dessas espécies infectados com essa bactéria.
A adesão ao processo de certificação é voluntária e seria extremamente positiva a implementação de mecanismos de incentivo e de compensação. As operações de certificação de rebanhos livres apóiam-se no diagnóstico indireto. Estabelece-se rotina de testes, a intervalos regulares, com sacrifício dos animais positivos, até a obtenção de três ou mais testes negativos para todos os animais do rebanho. É importante destacar a exigência de dois testes negativos para o ingresso de animais na propriedade, se eles não forem provenientes de outra propriedade livre. Os testes de diagnóstico para brucelose são realizados exclusivamente em fêmeas de idade igual ou superior a 24 meses, desde que vacinadas entre 3 e 8 meses; em machos e fêmeas não vacinadas, realizam-se a partir dos 8 meses de idade.
Animais que participam de exposições também devem ser submetidos a teste de diagnóstico, ou ser provenientes de propriedade livre. A emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA) será também condicionada à comprovação da vacinação das fêmeas da propriedade contra a brucelose, qualquer que seja a finalidade do trânsito animal.
A base mais importante das medidas de combateantibrucelar e de saneamento, após a superação das perdas econômicas graves é as medidas de isolamento e eliminação nos surtos de recidiva. Medidas como a recria de animais jovens livres da brucelose, vigilância sorológica, medidas de saneamento dos estábulos e outros recintos onde os animais são alojados.

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