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reclamacao_trabalhista_indenizacao_dano_assedio_moral_rigor_excessivo_TRAB_PN374

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA ____ VARA DA JUSTIÇA DO TRABALHO DA CIDADE.
Procedimento Comum Ordinário 
 CLT, arts. 837 ao 852
				JOANA DE TAL, brasileira, maior, solteira, comerciária, residente e domiciliada na Av. X, nº. 0000, em Fortaleza(CE) – CEP nº. 66777-888, inscrita no CPF(MF) sob o nº. 444.333.222-11, com CTPS nº. 554433-001/CE, ora intermediada por seu mandatário ao final firmado – instrumento procuratório acostado – , comparece, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, para ajuizar, com supedâneo no art. 840, § 1º, da CLT, a apresente
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS,
contra FONIA FONE LTDA, pessoa jurídica de direito privado, estabelecida na Rua Z, nº. 0000, em Recife(PE) – CEP nº. 55444-33, inscrita no CNPJ(MF) sob o nº. 00.111.222/0001-33, em razão das justificativas de ordem fática e de direito, tudo abaixo delineado.
1 – DO PLEITO DE GRATUIDADE DA JUSTIÇA
 		A Reclamante, inicialmente, vem requerer a Vossa Excelência os benefícios da gratuidade de justiça, por ser pobre, o que faz por declaração neste arrazoado inicial (LAJ, art. 4º). Por meio de seu bastante procurador, ressalva que não pode arcar com as custas deste processo, sem prejuízo do sustento próprio e de sua família. 
LEI DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
(Lei nº 1.060/50)
“Art. 4º - A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família.”
§ 1º - Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos termos desta lei, sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais. “
2 – BREVE EXPOSIÇÃO DO QUADRO FÁTICO 
( CLT, ART. 840, § 1º )
2.1. síntese do contrato de trabalho
 	A Reclamante foi admitida em 00 de novembro de 0000 para exercer a função de operadora de tele marketing da Reclamada. (doc. 01) 
	Desempenhava suas funções como regra de segunda-feira a sexta-feira, no horário das 08:00h às 14:00h, com 2(dois) intervalos intrajornada de 10 minutos e 1(um) intervalo para lanche de 20 minutos. Trabalhava, eventualmente, aos sábados e domingos. 
	Pelo labor exercido a Reclamante recebia a remuneração mensal de R$ 000,00 ( .x.x.x. ). 
		
2.2. inobservância de aspectos contratuais e legais
	A Reclamante exercia a função específica de vender cartões de crédito do Banco Xista S/A. Assim como ela outros 50 funcionários compunham uma equipe de vendas. 
 	Logo que ingressara na empresa, amigas a avisaram da sistemática de cobrança de metas empregada pela empresa, nomeadamente pela supervisora de equipe Maria das Tantas. Na ocasião afirmaram que a meta era elevadíssima, quase inalcançável e, ainda por cima, havia um rigor extremado da aludida supervisora. 
 	De fato, na primeira reunião de equipe, ocorrida em 00/11/2222, a Reclamante se admirou com a forma ríspida de tratamento destinada aos empregados. A reunião era toda levada ao batimento de metas, sob pena de rescisão do contrato de trabalho. E isso, como regra, aos gritos com todos. 
 	Não bastassem esses fatos, o tratamento dispensado pela supervisora era sempre feito por meio de palavras humilhantes e vexatórias. 
 	Na data de 05 de março do corrente ano, por ocasião da avaliação do batimento de metas, a supervisora lançou mais uma vez palavras extremamente agressivas, desta feita diretamente à Reclamante. Na frente dos demais colegas aquela, mais uma vez em tom alterado, proferiu frases que causaram espanto a todos. A mesma fizera, na ocasião, comparando a Reclamante à funcionária Joaquina de Tal, asseverando que essa merecia um prêmio pelas metas atingidas. Já quanto à Reclamante, ainda em comparação, “merecia ir para o Afeganistão com passagem só de ida.”
	A partir a Reclamante passou ser alvo de perseguição diária da supervisora, sempre a ameaçando dispensar caso a meta não fosse atingida. 
 	Não tardou muito e, de fato, a Reclamante fora dispensada, sem justa causa, no dia 00 de abril de 0000. (doc. 02/05)
 	Desse modo, constatamos uma reprovável atitude da Reclamada, por notório e caracterizado abuso, maiormente quando configura exercício de direito contra sua normal finalidade, não admitido no nosso ordenamento jurídico nem mesmo para direito potestativo. Trata-se de gritante e intolerável ato ilícito, violando os direitos do empregado, provocando evidente constrangimento, humilhação, dor e sofrimento. Tais fatos terminaram por subjugar o mais fraco e hipossuficiente, pela força econômica e pela força decorrente do poder diretivo patronal, indevida e ilegalmente utilizadas.
	
	Por tais circunstâncias fáticas (lesão do direito), maiormente em face do insuportável e constante assédio moral constatado, não restou alternativa à Reclamante senão buscar a devida reparação dos danos sofridos durante o período de labor. 
3 – DO ASSÉDIO MORAL 
Descumprimento de obrigação legal
CLT, Art. 483, “b” 
	É inegável que a Reclamada, com esse proceder, por seu preposto, submeteu a Reclamante ao constrangimento de ser humilhada perante os demais colegas de trabalho. Desse modo, afrontou diretamente sua dignidade como trabalhadora. 
 	De outra banda, urge evidenciar que havia também um rigor excessivo do controle da jornada de trabalho; não só da Reclamante, mas de todas as empregadas que trabalhavam no atendimento das ligações do Call Center da Reclamada. 
	
 	Nesse passo, o abuso cometido pelo empregador, com repercussão na vida privada e na intimidade da empregada ofendida, converge para a necessidade de condenação a reparar os danos morais. Além disso, servirá como modelo de caráter punitivo, pedagógico e preventivo.
	Igualmente, o empregador, que assume os riscos do negócio, deve propiciar a todos os empregados um local de trabalho no mínimo respeitoso, sob todos os aspectos, incluindo-se tanto os da salubridade física, quanto o da salubridade psicológica. Por esse azo, o empregador não pode dispensar ao empregado rigor excessivo, expô-lo a perigo manifesto de mal considerável ou praticar contra ele ato lesivo da sua honra e boa fama, sendo essa a hipótese ora trazida à baila.
	Resta caracterizada, portanto, a hipótese da alínea "b" do art. 483 da CLT, assim como, de passagem, a de submissão do autor a perigo manifesto de mal considerável (alínea "c") e a de prática contra o empregado de ato lesivo à honra deste (alínea "e").
	O assédio moral restou demonstrado, o qual, no escólio da psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen, (in, Assédio Moral, editora Bertrand) é definível como "toda conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando o seu emprego ou degradando o clima de trabalho".
 	Oportuno ressaltar o magistério de Yussef Said Cahali:
“Recentemente, os tribunais têm admitido como manifestações preconceituosas certas atitudes do empregador que colocam o funcionário em uma situação vexatória, degradante, de humilhação, que, sempre prejuízo de representarem causa de demissão indireta, ofendem à honra, a dignidade, o respeito do operário como ser humano, provocando dano moral reparável. “ (CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 4ª Ed. São Paulo: RT, 2011, p. 443)
 	A esse respeito, convém trazer à colação as lições de Mauro Vasni Paroski:
“O assédio moral pode ser exteriozado de varridas formas: gestos, agressões verbais, comportamentos obsessivos e vexatórios, humilhações públicas e privadas, amedrontamento, ironias, sarcasmos, coações públicas, difamações, exposição ao ridículo (p. ex.: servir cafezinho, lavar banheiro, levar sapatos para engraxar ou rebaixar médico para atendente de portaria), sorrisos, suspiros, trocadilhos, jogo de palavras de cunho sexista, indiferença à presença do outro, silêncio forçado, trabalho superior às forças do empregado,sugestão para pedido de demissão, ausência de serviço e tarefas impossíveis ou de dificílima realização, contro do tempo no banheiro, divulgação pública de detalhes íntimos, agressões e ameaças, olhares de ódio, instruções confusas, referências a erros imaginários, solicitação de trabalhos urgentes para depois jogá-los no lixo ou na gaveta, imposição de horários injustificados, isolamento no local de trabalho, transferência de sala por mero capricho, retirada de mesas de trabalho e pessoal de apoio, boicote de material necessário à prestação de serviços e supressão de funções. “ (PAROSKI, Mauro Vasni. 2ª Ed. Dano Moral e sua reparação no direito do trabalho. Curitiba: Juruá, 2008, p. 108)
	Com efeito, é altamente ilustrativo trazermos à baila os seguintes arestos:
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ASSÉDIO MORAL. CONFIGURAÇÃO. 
Sendo o assédio moral uma espécie de dano moral, tem-se que o tratamento com rigor excessivo, dispensado aos empregados, envolve danos morais. Assim, comprovado que a reclamante sofreu assédio moral, decorrente do rigor excessivo que lhe era imposto durante o exercício de suas funções, ultrapassando os reclamados os limites do jus variandi, impõe-se reconhecer o direito à reparação por danos morais. (TRT 3ª R.; RO 0001746-07.2013.5.03.0108; Rel. Juiz Conv. Rodrigo Ribeiro Bueno; DJEMG 29/10/2014; Pág. 66)
DANO MORAL. ASSÉDIO. 
O rigor excessivo implementado pelo empregador no exercício do poder diretivo da prestação de trabalho quanto ao cumprimento de normas e metas caracteriza assédio moral passível de indenização por dano moral. (TRT 4ª R.; AP 0154400-80.2006.5.04.0662; Seção Especializada em Execução; Relª Desª Vania Maria Cunha Mattos; DEJTRS 20/10/2014; Pág. 166)
RESCISÃO INDIRETA. JUSTA CAUSA DO EMPREGADOR. ART. 483, B DA CLT. TRATAMENTO COM RIGOR EXCESSIVO. ASSÉDIO MORAL. 
O art. 483, b, da CLT inclui entre as faltas graves cometidas pelo empregador e que autorizam o reconhecimento da despedida indireta, dispensar ao empregado tratamento com rigor excessivo. Nada obstante, exige-se que a falta cometida pelo empregador se revista de gravidade suficiente a impossibilitar a continuidade da relação de emprego. Assim é que o tratamento ofensivo e degradante perpetrado pela reclamada em face da autora, caracterizadora de assédio moral, se reveste de gravidade tal a justificar o reconhecimento da despedida indireta da trabalhadora. (TRT 5ª R.; RecOrd 0000623-57.2013.5.05.0030; Ac. 200220/2014; Primeira Turma; Relª Desª Heliana Neves da Rocha; DEJTBA 01/10/2014)
ASSÉDIO MORAL. RIGOR EXCESSIVO. COBRANÇA DE METAS. ATO ILÍCITO NÃO CONFIGURADO. 
O assédio moral diz respeito a um tipo específico de conduta, a qual atenta contra o patrimônio moral da vítima. Ao postular o pagamento de indenização por dano moral, o autor assume o ônus probatório relativo à prática de ato ilícito por parte empregador, além do dano suportado e do respectivo nexo causal entre esses, conforme dispõe o artigo 333, I, do CPC, devendo restar indubitavelmente comprovada a repercussão danosa da atitude do empregador na vida profissional e social do empregado. No caso em análise, as provas produzidas pelo reclamante não demonstram, por si só, que as atitudes do gerente caracterizam o assédio moral. Configuram, na verdade, um tipo de comportamento rigoroso, porém, justificável em razão da função de gestor, ao cobrar produtividade por parte dos seus subordinados para atingirem as metas estipuladas. Recurso obreiro improvido quanto ao aspecto. (TRT 6ª R.; Rec. 0000781-40.2012.5.06.0412; Terceira Turma; Rel. Des. Fábio André de Farias; Julg. 19/09/2014; DOEPE 29/09/2014)
4 – ASSÉDIO MORAL – DEVER DE INDENIZAR
	A pretensão indenizatória por danos morais, prevista no art. 7o., inciso XXVIII, da CF/88 e artigos 186 e 927 do Código Civil, pressupõe, necessariamente, um comportamento do agente que, "desrespeitando a ordem jurídica, cause prejuízo a outrem, pela ofensa a bem ou direito deste. Esse comportamento deve ser imputável à consciência do agente por dolo (intenção) ou por culpa (negligência, imprudência ou imperícia), contrariando seja um dever geral do ordenamento jurídico (delito civil), seja uma obrigação em concreto (inexecução da obrigação ou de contrato)" (Rui Stoco, Responsabilidade Civil, 2a. edição, ed. Revista dos Tribunais).
	A situação delineada nesta peça vestibular, maiormente quando na forma como traçada no tópico anterior, teve como causa a conduta ilícita da Reclamada. A Reclamante sofreu momentos angustiantes e humilhantes, o que afetou, no mínimo, a sua dignidade, a sua auto-estima e integridade psíquica.
 	Demonstrada, portanto, a relação de causalidade entre a ação antijurídica e o dano causado, requisitos esses que se mostram suficientes para a configuração do direito à reparação moral ora pretendida.
 	As circunstâncias do caso recomendam que a condenação seja de valor elevado, como medida pedagógica, maiormente quando, corriqueiramente, as empresas se utilizam dessa sistemática vergonhosa e humilhante de inação forçada do empregado.
 				É consabido, de outro norte, que o quantum indenizatório não deve ser insignificante, a estimular o descaso do empregador, nem exagerado, de modo a proporcionar o enriquecimento indevido da vítima/empregado. Desse modo, entende-se que R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) constitui-se valor eficaz a título de indenização por danos morais decorrentes de assédio moral, tanto na mitigação do sofrimento da Reclamante, como na indução de um comportamento do empregador mais vigilante e condizente com a relação saudável que deva manter com seus empregados.
 				De outro turno, à luz do art. 944 da Legislação Substantiva Civil, a despeito do porte econômico da Reclamada e considerado o grau de culpa dessa (sempre contumaz e reviver este cenário degradante), à gravidade da situação e as sequelas havidas pela Reclamante, é condizente que condene a Reclamada no importe supra-aludido. 	
5 – P E D I D O S e R E Q U E R I M E N T O S
 				Diante do que foi exposto, a Reclamante pleiteia:
a) Requer seja a Reclamada notificada para comparecer à audiência inaugural e, querendo, apresentar sua defesa, sob pena de revelia e confissão quanto à matéria fática estipulada nessa inaugural;
b) em virtude da ruptura contratual, por motivo exclusivo da Reclamada (CLT, art. 483, “b”, “c” e “e”), pede-se a CONDENAÇÃO DA RECLAMADA a pagar:
indenização em virtude do assédio moral, no importe de R$ 40.000,00(quarenta mil reais), valor este compatível com o grau de culpa, a lesão provocada e a situação econômica das partes envoltas nesta pendenga judicial e;
c) também condená-la ao pagamento de custas e honorários advocatícios, estes arbitrados em 20%(vinte por cento) sobre o valor da condenação;
d) deferir o pedido dos benefícios da Justiça Gratuita.
 			 	Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidos, nomeadamente pela produção de prova oral em audiência, além de perícia e juntada posterior de documentos.
	Por fim, o patrono da Reclamante, sob a égide do art. 730 da CLT c/c art. 365, inc. IV, do CPC, declara como autênticos todos os documentos imersos com esta inaugural. 
 				Dá-se à causa o valor de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).
				Respeitosamente, pede deferimento.
				Cidade, 00 de outubro de 0000. 
 			 	 Fulano de Tal
 							 Advogado – OAB(CE) 0000
 			
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