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TEMPOS E MÉTODOS AULA 4 Prof. Douglas Soares Agostinho 2 CONVERSA INICIAL Caros alunos, bem-vindos à quarta aula de Tempos e Métodos. Vamos explorar um pouco mais esse universo que envolve a determinação do tempo padrão de produção e o cálculo da mão de obra produtiva. Para isso, dividiremos a aula em cinco temas: 1. pontos importantes para realizar um estudo de tempos; 2. preparação do posto de trabalho e criação de um novo método; 3. etapas para execução de um estudo de tempos; 4. premissas para o cálculo da mão-de-obra produtiva; 5. calculando a necessidade de mão-de-obra e capacidade produtiva. TEMA 1 – PONTOS IMPORTANTES PARA REALIZAR UM ESTUDO DE TEMPOS Determinar o tempo padrão é a atividade mais importante do cronoanalista. Por isso, alguns pontos são de vital importância. 1. Quem solicitou esse estudo de tempos? Essa resposta é muito importante, pois vários são os motivos que levam à necessidade de realização de um estudo de tempos, tais como: avaliação precisa da capacidade produtiva, para um eventual aumento de demanda; melhoria do método produtivo devido ao excesso de problemas de qualidade; determinação correta do tempo de disponibilidade da máquina; padronização do método entre turnos de trabalho; simplesmente atendimento ao cronograma de cronometragens, traçados pela engenharia industrial. 2. O operador sabe o porquê desse estudo? Considerando o operador o elemento principal do trabalho do cronoanalista, ele deve saber o porquê da realização desse estudo, pois a colaboração dele é primordial na determinação de um novo método, indicação de pontos de melhoria na matéria-prima recebida, nos meios de medição, etc. 3. Quantos turnos de trabalho? 3 Essa informação é importante, pois, caso tenha mais de um turno, ou mais operadores que trabalham na mesma máquina, fazendo a mesma operação, o cronoanalista deve verificar o método que cada um utiliza para verificar se pode ser melhorado em geral e prover o treinamento a todos envolvidos. 4. Existe um plano de fabricação? O plano de fabricação é um documento que traz muitas informações em relação aos parâmetros de processo que está sendo realizado, tais como: avanço das ferramentas, velocidade de corte, disposição dos materiais em torno do posto de trabalho entre outros (existem outros nomes adotados pelas empresas para esse documento). Caso não exista, deverá elaborar tal documento, o qual certificará o tempo padrão calculado. 5. Os parâmetros de processos estão corretos? Caso exista esse documento, cabe ao cronoanalista verificar se estão corretos, se estão sendo usados em todos os turnos. Essa análise inclui a verificação do ferramental usado na operação, entre outros. Caso haja a necessidade de revisão, deve ser aprovada pela área de produção e engenharia. 6. Quais são as influências sobre o tempo a ser cronometrado? Durante as análises preliminares e também durante a realização do estudo, cabe ao cronoanalista verificar todas as influências externas que podem afetar o resultado final de seu estudo e decidir se serão ou não incorporadas ao tempo padrão. 7. Qual a porcentagem de concessão será aplicada? De acordo com a decisão anterior, estabelecer a porcentagem de tolerâncias que será considerada para as perdas gerais e para as perdas pessoais, pois esse fator é que vai ser acrescentado ao tempo real cronometrado. 8. Cronometragem contínua ou interrompida? O mais normal e utilizado é a combinação entre esses dois tipos de cronometragem. O cronoanalista faz a tomada de tempo dos elementos cíclicos por meio da cronometragem contínua. Se elementos não cíclicos ocorrerem dentro desse intervalo, ele os toma por meio da cronometragem interrompida. Porém, existem casos em que o cronoanalista deverá fazer diversas coletas de 4 tempo em horários diferentes, sob temperaturas diferentes, operadores diferentes etc., para poder detectar o melhor tempo, o qual realmente expressa a realidade do cotidiano da operação. Com todas essas perguntas devidamente respondidas, o cronoanalista já está quase pronto para iniciar a preparação do posto de trabalho para a cronometragem. TEMA 2 – PREPARAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO E CRIAÇÃO DE UM NOVO MÉTODO É comum as empresas só se preocuparem com o tempo de fabricação do produto e se esquecerem de que várias máquinas não ficam disponíveis 100% para que produzam. Muitas vezes a mesma máquina produz mais de um tipo de produto e requer trocas constantes de dispositivos, ferramentas etc. Essa troca de produto requer tempos de parada para a preparação do outro tipo a produzir e chamamos esse tempo de set up. O set up é o tempo de troca de ferramental, dispositivos, matrizes etc. e cabe ao cronoanalista estabelecer o melhor método para a realização desse trabalho, definindo as ferramentas necessárias, a localização de cada item, entre outras ações. A determinação desse tempo servirá para as áreas de engenharia industrial e de produção determinarem com mais precisão a disponibilidade da máquina para produzir. Quando esse tempo é muito pequeno, cerca de 5 minutos, é comum inserir esse valor dentro da porcentagem de concessão. As empresas buscam cada vez mais evitar esse tipo de perda, afinal, durante a realização do set up, as máquinas não estão produzindo, mas, em muitos casos, essa perda é inevitável e devem ser tratadas com muito rigor. Empresas mais dedicadas e preocupadas com a concorrência adotam um sistema chamado de SMED (single-minute exchange of die – troca em tempo de um dígito) ou troca rápida de ferramentas (TRF). É uma das ferramentas do Sistema de Produção Lean, criado por Shigeo Shingo, em 1970, cujo objetivo é obter um tempo de set up com número de um dígito, isto é, menos de 10 minutos (Paris, 2016). Isso é possível por meio de estudos prévios do trabalho executado e melhorias inseridas no processo. Para a realização desse trabalho, seis pontos são fundamentais: 5 1. Identificar e cronometrar todas as fases do trabalho executado 2. Separar as operações que só podem se feitas com a máquina parada 3. Separar operações que podem ser feitas fora da máquina, enquanto a mesma ainda produz 4. Reduzir ao máximo os tempos das operações com máquina parada 5. Padronizar o processo 6. Elaborar o plano de set up e treinar todos envolvidos Figura 1 – Após a análise da necessidade ou não de se realizar set up, chegou a hora de decidir deve ou não ser criado um novo método, pois, muitas vezes, o método utilizado até então é bom e seu uso deve ser incentivado, mas vamos supor que o cronoanalista decida criar um novo método. Durante as observações preliminares, feitas pelo cronoanalista, o mesmo decide criar um novo método de realizar a mesma operação e para isso deve considerar os seguintes pontos: Sempre adaptar a máquina ou equipamento para o homem, e não o homem para a máquina Dispor todo o material a ser usado na operação ao alcance do operador, sem exigir esforço deste para alcançá-los Sempre que possível, possibilitar movimentos simultâneos das pernas, mãos e braços Preparar gabaritos de posicionamento de peças Dispositivos de medição de fácil manuseio Por exemplo: uma máquina que trabalha 8 horas/dia (480 min) e o tempo padrão de produção de um determinado produto é de 1,00 min, deveria produzir 480 peças/dia, correto? Porém se diariamente essa máquina tem um set up de 30 min com certeza só terá a capacidadede produzir 450 peças. 6 Ferramentas para reposição “pré-setadas” Após essa etapa, deve testar o novo método, apresentá-lo ao responsável pela produção, mostrar as melhorias realizadas e agendar o treinamento do novo método a todos os envolvidos na operação. Vale lembrar que durante a elaboração do novo método a participação do operador é importante, pois ele sendo parte disso, mais fácil será a implantação. TEMA 3 – ETAPAS PARA EXECUÇÃO DE UM ESTUDO DE TEMPOS Esse é o momento mais interessante de toda a disciplina, pois é o preenchimento dos dados oficiais em relação ao posto de trabalho e é um documento oficial, que não deve conter rasuras e deve ser arquivado em local próprio, pois é passível de auditoria. Sugiro que, antes de se aprofundar nesse assunto, abra o livro base que se encontra na biblioteca virtual, ou imprima o formulário disponibilizado no AVA, em Material Complementar, e acompanhe cada etapa do preenchimento. Dirigir-se à produção munido dos documentos de trabalho necessários, levar o formulário de registro de tempos. Contato inicial com os responsáveis pela produção, avisando sobre o início da tomada de tempos. Antes de iniciar o preenchimento do formulário de estudo de tempos, cabe ao cronoanalista verificar se o material que está sendo utilizado no posto a ser estudado está de acordo com as especificações (desenho – folha de especificação), assim como se os meios empregados também estão de acordo com o que foi determinado pelo processo de fabricação no plano de operações. Nem todas as empresas têm documentação completa referente aos produtos ou processos de fabricação. Neste caso, como já visto, cabe aos responsáveis defini-los antes da tomada de tempos, a fim de que o tempo padrão a ser determinado corresponda ao material empregado, aos meios utilizados no processo de fabricação e ao método descrito na folha de cronometragem por ocasião do estudo. Se, para o mesmo produto, forem empregados materiais com diferentes especificações que influenciem no tempo, deverá ser feita uma cronometragem para cada material nas 7 operações afetadas e, para finalizar o tempo padrão da operação, deverá ser feita a média ponderada. Preencher os campos de 1 a 7 do formulário do estudo de tempos com a colaboração do operador e do responsável pela área. Dividir a operação em elementos (suboperações), indicando suas respectivas frequências e elaborar o croqui do posto de trabalho (campos 8 e 9 do formulário). Simular a cronometragem, verificando se as suboperações definidas são de fácil identificação durante a cronometragem contínua. Conversar novamente com o operador da máquina, deixando-o bem tranquilo, pois o tempo cronometrado refletirá o que realmente ocorre na prática. Colocar data e horário de início da cronometragem (campo 10). Iniciar a cronometragem, lançando os tempos dos elementos no formulário (campo 11), avaliando simultaneamente o grau de desempenho do executante por elemento da operação. As irregularidades que ocorrerem durante a cronometragem deverão ser lançadas no campo 16, devendo ser analisadas posteriormente. Encerrar a cronometragem após cerca de 20 minutos (no mínimo) de duração. Caso a quantidade de ciclos observados seja insuficiente, prosseguir com a cronometragem até atingir no mínimo 5 ciclos. Verificar a hora em que encerrou a cronometragem e lançar no formulário (campo 10). Lançar (campo 12) em porcentagem o grau de desempenho do executante avaliado durante a cronometragem. Essa análise é feita por elemento, ou seja, pode ocorrer casos em que o operador tem alguma dificuldade em algum elemento e, nesse caso, cabe uma correção por parte do cronoanalista. Os elementos acíclicos que não ocorreram durante a tomada de tempos deverão ser cronometrados à parte (por meio da cronometragem interrompida). Calcular o tempo dos elementos por cicio por meio de subtrações em relação ao elemento anterior (lançar no campo 11). Tempo dos elementos – obter o somatório (lançar no campo 13). 8 Indicar a quantidade de ciclos considerados por elemento no somatório (lançar no campo 14). Calcular o tempo básico por elemento (lançar no campo 15). Tempo básico – obter o somatório dos elementos (lançar no campo 17). Interrupções inevitáveis – aplicar o porcentual conforme tabela (lançar no campo 18). Necessidades pessoais – aplicar o porcentual conforme tabela (lançar no campo 19). Minutos/ciclo – somar os campos 17, 18 e 19, indicando a quantidade de peças por ciclo (lançar no campo 20). Minutos/peça – dividir minutos/ciclo (campo 20) pela quantidade de peças por ciclo (lançar no campo 21). Minutos padrão/peça – indicar a quantidade de executantes e multiplicá- la por minutos/ocupação (campo 21) e (lançar no campo 22). Colocar o nome do analista de tempos “cronometrista ou cronoanalista” (campo 23). Obter aprovação do responsável pelo Departamento de Tempos e Métodos (campo 24). Obter visto do responsável pela produção (campo 25). Numerar o estudo, registrando-o no controle do departamento (campo 26). Indicar o início da validade do estudo de acordo com as normas da empresa (campo 27). Depois de toda essa documentação preenchida e assinada pelos responsáveis, o tempo padrão de fabricação passa a ser oficial e será o utilizado para cálculos de mão de obra, capacidade de produção, custo de produção etc. Nos dois próximos temas desta aula, vamos aplicar o conceito para a o uso de tempo padrão para o cálculo de mão de obra produtiva e capacidade de produção, utilizando um estudo de caso. TEMA 4 – PREMISSAS PARA O CÁLCULO DA MÃO DE OBRA PRODUTIVA Para estudar este tema, nada melhor do que apresentar um estudo de caso (situação real), ocorrido em uma empresa fornecedora da indústria automobilística. 9 A diretoria de tal empresa recebe a seguinte consulta de fornecimento de eixos motriz. Fornecer 50.000 eixos motriz por mês, durante 5 anos, para atender à montagem de um novo modelo a ser lançado. Veja que a resposta à essa consulta deve ser a mais precisa e correta possível, pois a falta de atendimento poderá comprometer o lançamento do novo carro e até a imagem de sua empresa. É claro que uma resposta dessa proporção requer um trabalho de bastidor muito grande, o qual envolverá, além da área produtiva, a logística empresarial, a engenharia industrial/processos, RH, qualidade etc. É comum essa consulta vir de cima para baixo, ou seja, o nível estratégico recebe tal solicitação e envolve todas as diretorias para a análise e posterior resposta Vamos elencar algumas responsabilidades: Área de Logística: deve verificar em toda cadeia de suprimento se os fornecedores e subfornecedores podem atender a essa demanda. Qualidade: avaliar os fornecedores e subfornecedores em relação à certificação de qualidade. Compras: avaliar a saúde financeira dos envolvidos. Engenharia Industrial: verificar o tempo padrão de produção de cada operação envolvida no processo, capacidade produtiva e necessidade de mão de obra. Engenharia de Processos: avaliar se o método atual pode ser melhorado e se a área de produção absorve essa demanda. Manutenção Industrial: verificar se as máquinas envolvidas têm condições de produzir por mais 5 anos, ou se requerem troca. RH: viabilizar o recrutamento e seleção de mão de obra, além do treinamento. Financeira: calcular o custo de produção e formar o preço de venda (obs. Target) e verificar a viabilidade econômica.É possível perceber como é complicado: e cabe aos gestores dessas áreas apresentarem dados corretos e confiáveis, pois, assim, a diretoria pode decidir se aceita ou não a proposta. 10 TEMA 5 – CALCULANDO A NECESSIDADE DE MÃO DE OBRA E CAPACIDADE PRODUTIVA Como nossa disciplina é Tempos e Métodos, vamos nos ater às atividades das áreas de Engenharia Industrial: verificar o tempo padrão de produção de cada operação envolvida no processo, capacidade produtiva e necessidade de mão de obra produtiva. Primeiramente, é preciso definir algumas premissas de cálculo: Demanda mensal de 50.000 eixos motrizes. Processo produtivo e tempos padrão das operações (vide quadro 1). Disponibilidade de dias de trabalho/mês: 20 dias por mês. Total de horas/homem dia: 7 horas/homem/turno. Quadro 1 – Dados para cálculo – Processo de fabricação do eixo motriz Observando o Quadro 1, temos algumas informações úteis e, com as premissas anteriores, vamos calcular a necessidade de mão de obra (MO) produtiva. Inicialmente, vamos preencher os campos em branco no Quadro 1. Capacidade horária de produção na operação 10 Tempo padrão = 0,276 min, então: 60 min/0,276 min/peça = 217 peças/hora Capacidade de produção mensal na operação 10 Prod. horária de 217 peças X 140 h trabalhadas/mês = 30.380 peças Necessidade de turnos de trabalho na operação 10 11 Como a demanda mensal é de 50.000 eixos, será necessário o segundo turno na operação 10 para atender a demanda. Note bem: agora você faça o mesmo cálculo para as demais operações. Analisando o Quadro 2, preenchido, observa-se a capacidade de produção de cada operação, assim como a quantidade de turnos necessários para atender a demanda. Agora, só falta calcular a necessidade de mão de obra produtiva. Quadro 2 – Cálculos realizados O tempo total de produção desse eixo é feita pela soma dos tempos padrões de cada operação, perfazendo um total de 1,664 min, valor que pode ser visto no Quadro 2. Para produzirmos 50.000 eixos por mês, será necessário 83.200 min/mês (50.000 X 1,664). Fazendo a transformação em horas temos: 83.200 min/mês / 60 = 1.386,7 horas/mês. Se cada trabalhador tem 7 h diárias de trabalho, trabalhará por mês 140 h (20 x 7). Precisaremos de: 1.386,7 / 140 = 9,9 homens. Como já visto, podemos acrescer na MO 8,33% para suprir as férias. Assim, precisaremos de: 9,9 x 1,0833 = 10,7 homens, ou seja, 11 homens, a serem distribuídos entre as máquinas e turnos de trabalho. 12 Enquanto a engenharia industrial ou de processos realiza tais análises, as outras áreas da empresa também calculam suas necessidades e, após a análise geral de dados, o nível estratégico poderá tomar a melhor decisão possível. FINALIZANDO Caros alunos, após a aula de hoje, vocês são capazes de determinar a capacidade de produção, assim como a necessidade de mão de obra produtiva, tendo como base as premissas traçadas pelo nível estratégico e o tempo de fabricação (tempo padrão). Com isso, vocês estão aptos a participar de reuniões de decisão, dando sua colaboração para que o melhor seja feito na empresa. Bons estudos e até a próxima aula. 13 REFERÊNCIAS AGOSTINHO, D. S. Tempos e Métodos Aplicados à Produção de Bens. 1. ed. Curitiba: Intersaberes, 2015. BARNES, R. M. Estudo de movimentos e de tempos: projeto e medida do trabalho. 6. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1983.
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