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Historiografia contemporânea (AP2) Aula 8 – A importância de uma obra de história reside na sua capacidade de alterar não somente o conhecimento baseado em fatos sobre um assunto, mas também o próprio conceito de história. A pesquisa de novos objetos, decerto interessantes, não implica necessariamente um aprofundamento do conceito de história. A aula traz alguns possíveis fundamentos teóricos e influências da nova história cultural, ou dos historiadores que podem ser apontados como teóricos representantes dessa nova história cultural. O curso visa refletir sobre a trajetória da historiografia com Carlo Ginzburg, Dominick La Capra e Roger Chartier. Para Burckhardt o historiador explica o mundo de maneira diversa. Para ele existem três grandes potências: a cultura, o Estado e a religião, sendo que somente a cultura seria capaz de possibilitar a função coordenativa. A cultura permite o dinamismo, incentiva-o e é assim, crítica das outras duas potências. Burckhardt antes mesmo de teorizar sobre a história cultural já a praticava. Não foi ele o criador do campo da história cultural. Hüllmann: A história tem sido sempre tratada em maneira unilateral; sempre tem se preocupado com aqueles que são mais influentes(...) pouca atenção tem sido dada para as classes mais baixas(...) este é o objetivo da história cultural, que, desprezando classe social e linguagem, compreende toda a humanidade. Peter Burke (especialista em história da cultura) define em um estudo as 6 principais características da nova história, sendo 4 delas: 1 -A nova história passou a se interessar por virtualmente toda a atividade humana; 2 - Os historiadores tradicionais pensam na história como essencialmente uma narrativa dos acontecimentos, enquanto a nova história está mais preocupada com a análise doas estruturas; 3 – A história tradicional oferece uma visão de cima, no sentido de que tem sempre se concentrado nos grandes feitos dos grandes homens. 4 – Segundo o paradigma tradicional, a História é objetiva. Hoje em dia este ideal é, em geral, considerado irrealista. Schorske: Sem estar confinado a algum domínio da experiência humana, o historiador entra em qualquer território em busca dos materiais que organizará em um padrão temporal com a ajuda dos conceitos tomados emprestados daqueles campos do conhecimento que os geraram. MIKHAIL BAKHTIN – CONCEITO DE DIALOGISMO O russo Mikhail Barkhtin, é provavelmente, um dos autores mais influentes na historiografia da cultura. Sua evolução passou por vários períodos, fases filosóficas (sobre influência do neokantismo e da fenomenologia), afastou-se da metafísica, dialogou com movimentos como o freudismo, o marxismo soviético, passou pela evolução do romance e finalmente retornou a metafísica a partir de uma nova perspectiva da teoria social e da filosofia da linguagem. Duas obras importantes analisadas em aula: Livros sobre a cultura popular no Renascimento (conceito de circularidade) e sobre o escritor Russo Fiódor Dostoiévski (a importância da poética no conceito de dialogismo). Bakhtin foi um homem religioso e por isso acabou preso e, depois, exilado no Cazaquistão. A mistura de religião e marxismo, fé e ciência é algo característico de Bakhtin, intelectual que não pode ser enquadrado em um tipo definido, e sempre buscou na ideia do diálogo a essência de seu e de qualquer pensamento. Segundo Bakhtin uma obra monológica é aquela em que o autor do romance domina completamente a obra que realiza, o que não acontece em sua análise sobre o autor Dostoiévski. Para Bakhtin o texto de Dostoiévski é sempre dialógico (trata-se de um diálogo entre personagens cujas consciências são formadas durante o romance). Em outras palavras, uma vez no romance, a ideia que existe fora do mundo ficcional ganha outra roupagem, passando a ter uma função estética dentro do livro, sendo mais do que mera transmissora de uma “mensagem”. – Como se a linguagem que ela expressa em si fosse algo produtivo, que ajuda a entender melhor o mundo em que ela surgiu e no qual ela circula. O dialogismo é esse processo em que o autor e personagem, mudam à medida que se relacionam na obra e por causa da obra. MIKHAIL BAKHTIN – CONCEITO DE CIRCULARIDADE Bakhtin na obra: A cultura popular na idade média e no Renascentismo fez um estudo de como o social e o literário interagem. Para Bakhtin toda teoria da arte deve levar em conta três elementos: Criadores, obras de arte e perceptores. Segundo BAKHTIN a obra de Rabelais, só pode ser corretamente compreendida, em uma relação com seu contexto. Ela não é determinada por seu contexto de maneira mecânica, ela interage com seu contexto, mostrando, em primeiro lugar, que um sistema que gostaria de se mostrar como definitivo, na verdade, tinha brechas, margens e espaços. É justamente esta relação entre cultura popular e letrada oficial que define o conceito de Circularidade. A visão de Bakhtin tem da cultura é como algo plástico, móvel, dinâmico, em que duas esferas interagem, se definem mutuamente em constante movimento. Bakhtin mostra que é possível respeitar a linguagem do objeto (ficção, prosa) sem deixar de lado o contexto histórico.
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