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AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM NUMA PERSPECTIVA SISTÊMICO-FUNCIONAL

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AS funções da linguagem numa perspectiva sistêmico-funcional
Sara Regina Scotta Cabral 
(ULBRA, campus de Cachoeira do Sul)
saracabral@brturbo.com.br
RESUMO: Apesar de vários lingüistas terem se ocupado do tema ‘funções da linguagem’ (Bühler, Jakobson, Morris, Briton e outros), interessa a este artigo a concepção de linguagem de Halliday (1994), para quem ela constitui um sistema sóciossemiótico, através do qual o homem constrói sua experiência. Este estudioso tem das funções da linguagem uma visão tripartite, derivadas da configuração contextual, que ocorrem simultaneamente: a ideacional, a interpessoal e a textual. Este trabalho tem por objetivo identificar tais funções em três pequenos textos publicados na Gazeta de Alagoas no dia 13 de maio de 2004, ocasião em que o país fervilhava de comentários sobre a reportagem de Larry Rohter, do jornal The New York Times, acerca dos hábitos etílicos do presidente do Brasil. O procedimento para o exame do corpus obedeceu a duas etapas: na primeira, foi delineada, de modo mais geral, a configuração contextual de cada um dos textos; na segunda, foram identificadas as três funções da linguagem relativas à configuração contextual bem como as marcas lingüísticas referentes a cada uma delas, através da análisada individual das orações. Os resultados apontam para a prevalência, na função ideacional, dos processos materiais, na função interpessoal para o uso de proposições na modalidade epistêmica e, na função textual, para os Temas tópicos, característicos do oferecimento de informação. Pelo exposto, conclui-se que, com o uso de processos materiais, de proposições em que a informação é oferecida e de Temas tópicos, Cláudio Humberto, nos três textos, pretende informar seus leitores sobre os acontecimentos periféricos do caso Larry Rohter, mas não deixa de, como cabe a um autor de coluna política, implicitamente opinar sobre os acontecimentos do momento.
PALAVRAS-CHAVE: gramática sistêmico-funcional, funções da linguagem, configuração contextual. 
INTRODUÇÃO
Vários autores já se ocuparam em discutir as funções da linguagem: Malinowski, Bühler, Jakobson, Briton e Morris e Halliday. Dentre eles, três se sobressaem: são as correntes de Bühler, de Jakobson e de Halliday. 
Para Bühler (1934), a linguagem é usada para três finalidades específicas: expressar o pensamento do falante, dirigir-se ao ouvinte e representar o mundo. São respectivamente as funções expressiva, conativa e representativa, orientadas para as três pessoas do discurso envolvidas em um evento comunicativo: o falante (função expressiva), o ouvinte (conativa) e o mundo circundante (representativa). Sua classificação foi adotada pela Escola de Praga e, mais tarde, Roman Jakobson (1960) ampliou esse número para seis, acrescentando as funções fática, metalingüística e poética. As três primeiras mantiveram relação com as funções de Bühler. Em acréscimo, a fática diz respeito ao canal de comunicação utilizado, a metalingüística tem a ver com o código e a última, a poética, é orientada para a mensagem propriamente dita. 
Halliday (1989b) vê função como sinônimo de uso. Para ele, três são as funções – que acontecem concomitantemente - para as quais a linguagem é utilizada: representar o mundo, ser um instrumento de interação e organizar a informação. Nessa perspectiva (sistêmico-funcional), as funções denominam-se respectivamente ideacional, interpessoal e textual.
O objetivo deste artigo é discorrer sobre as três funções hallidayanas e especificar os elementos gramaticais que contribuem para a realização de cada uma delas, o que será exemplificado através da análise de três pequenos textos retirados de uma coluna de opinião política publicada no jornal Gazeta de Alagoas, em 13 de maio de 2004. A metodologia a ser utilizada consistirá em duas etapas: na primeira, será delineada, de modo mais geral, a configuração contextual dos textos selecionados e, na segunda etapa, serão identificadas as três funções da linguagem relativas a cada um dos textos bem como as marcas lingüísticas que comprovem tais resultados.
	Este artigo está organizado da seguinte maneira: apresenta inicialmente a orientação sistêmico-funcional no que se refere às três funções da linguagem e a cada uma em particular.Logo após, expõe a metodologia a ser utilizada no tratamento do corpus, realiza a análise propriamente dita e, por fim, apresenta os elementos conclusivos resultantes da prática, tendo-se em vista os pressupostos apresentados neste estudo. A seção ‘Anexos’ contém, para fins ilustrativos, a explicitação da análise individual de cada oração. 
1. Linguagem e gramática funcional
	Segundo Bloor & Bloor (1995, p. 4), “a comunicação é um dos processos interativos em que os sentidos são negociados”. 	Muitas das escolhas lingüísticas feitas pelo falante/escritor são inconscientes, pois se sabe que, ao usar a linguagem no cotidiano, ele não pára para refletir sobre categorias gramaticais. Entretanto, as formas lingüísticas utilizadas refletem o que de melhor expressa os sentidos que pretende atribuir ao que está falando/escrevendo. Pode-se, assim, dizer que as formas lingüísticas que utiliza constituem uma avaliação do mundo e da situação que vivencia. 
Segundo Halliday, o homem constrói a realidade através de processos semióticos diversos, dos quais o principal é a linguagem. Assim, linguagem, para este autor (1989a, p. v), é um aspecto e um recurso de fundamental importância na construção da experiência humana. Portanto, estudar linguagem significa explorar alguns dos processos mais importantes e difundidos universalmente. Essa visão construtiva da realidade “assume que o uso da linguagem não somente espelha a estrutura social, mas também a constrói e a mantém: assim, sempre que alguém se “apropria” da linguagem ao dirigir-se a um outro socialmente superior, ambos os participantes estão mostrando a condição de seu status e simultaneamente reforçando o sistema social hierárquico” (Thompson & Collins, 2001, p. 137).
Halliday constrói uma teoria lingüística de base semântica que permite a investigação dos papéis que exercem os termos selecionados pelo emissor no processo de construção da realidade, seja em situações de representação do mundo ou de troca com o interlocutor. 	Daí se percebe não só o caráter semiótico da linguagem, mas também o social, uma vez que, pertencendo à cultura humana e constituindo um sistema de sentidos, diz respeito às relações entre língua e estrutura social e considera aquela como forma de interação com o outro e com o mundo. Portanto, essa teoria vê a linguagem como um sistema sociossemiótico e parte das relações entre a língua e a estrutura social para descrever usos e variedades.
Ao relacionar linguagem, texto e contexto, Halliday (1989a, p. 10) considera texto como “uma instância da linguagem que está exercendo algum papel em um contexto de situação”. Os sentidos do texto são expressos em palavras e estruturas, formando uma unidade de sentido. Assim, o texto é uma entidade semântica que, mais que elementos lingüísticos, constitui um processo e um produto. É um processo na medida em que representa um movimento em direção a escolhas contínuas de significado, e um produto porque pode ser retomado pelo interlocutor ou mesmo pelo locutor, estejam eles próximos ou distantes do texto. O texto, visto como possibilidade de troca de sentidos, permite a interação entre os participantes do evento. Assim, na perspectiva funcional, o texto é uma instância de sentidos produzidos em um contexto particular. 
	Todo texto tem um texto que o precede na vida real – é o contexto. O contexto inclui a situação em que o texto ocorre e o meio verbal em que a interação se desenvolve. Malinowski, apud Halliday (1989a, p. 5) distingue contexto de situação e contexto de cultura. O contexto de situação compreende o ambiente em que o texto é produzido. Já o contexto de cultura abrange toda a história cultural do coletivo, numa perspectiva sócio-histórica, quedetermina a natureza do código. Como uma língua se manifesta através de seus textos, sua cultura é manifestada através de suas situações. O texto é gerado em contextos de situação que, por sua vez, só se realizam dentro de contextos de cultura. Entretanto, todos se inserem em um contexto, o qual inclui a situação em que o texto ocorre e o meio verbal em que a interação se desenvolve.
Halliday (1989a, p. 12) analisa o contexto de situação através de uma estrutura ternária, que considera as variáveis campo, relação e modo (Figura 1). O campo refere-se à natureza da atividade social e envolve os atos executados e seus objetivos. A relação refere-se ao conjunto de papéis dos agentes envolvidos em determinada atividade. O modo refere-se à parte que a língua desempenha na interação, a organização simbólica do texto, sua função no contexto, o canal (fônico ou gráfico), o meio (falado ou escrito) da mensagem e também o modo retórico, incluindo categorias como persuasivo, expositivo, didático e outros. 
2. FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Função, para Halliday (1989b, p.17), é sinônimo de uso, mas, acima de tudo, é a propriedade fundamental da linguagem. Nessa perspectiva, considera três as funções da 
 FIGURA 1 – Contexto de situação (Halliday, 1989)
linguagem: ideacional ou de representação; interpessoal ou de troca e textual ou de mensagem. Cada uma das três variáveis do contexto de situação (campo, relação e modo) está relacionada a uma das funções: o campo está diretamente vinculado à função ideacional, ou seja, a conhecimentos e crenças que fazem parte da experiência humana; a relação é responsável pela função interpessoal, que demonstra a interação entre os participantes no ato comunicativo, mantendo os papéis sociais, e o modo 
evidencia a função textual, que é identificada através do canal de comunicação, da coesão e da coerência textuais (Figura 2).
 FIGURA 2 – Funções da linguagem (Halliday, 1989)
Hasan (1989, p. 55-59) introduz o conceito de configuração contextual relacionado aos termos hallidayanos campo, relação e modo de um discurso, que se referem a certos aspectos da situação social que se refletem na linguagem em uso (Figura 3). Para Hasan (p. 55), campo, relação e modo são variáveis representadas por valores específicos, funcionando como possibilidades para qualquer situação. Por exemplo, a variável campo pode ter o valor de “elogiar”; a variável relação pode envolver “pai para filho” e a variável modo pode ser realizada através da “fala”. Assim, os membros de cada opção podem combinar-se, consistindo na seguinte configuração: pai elogiando o filho na fala. Para Hasan, essa entrada constitui uma configuração contextual, um conjunto específico de valores que compreendem campo, relação e modo.
 FIGURA 3 – Configuração contextual (Hasan, 1989)
	
A gramática funcional tem por objetivo fornecer ao estudioso da linguagem ferramentas efetivas para a análise de textos produzidos em vários âmbitos sociais e com propósitos diversos. Já que tem como foco o aspecto semântico, interpreta como as orações, os sintagmas e os termos de um texto mapeiam os significados, analisando primeiramente papéis funcionais como Ator, Processo, Tema, Rema, Dêitico e outros (Martin, Mathiessen & Painter, 1997, p. 2). A diferença entre as variações de uso traduzem uma escolha sobre o que é funcional em um contexto particular.
As três funções, ou metafunções, originam os três modos de analisar um texto: ideacional, que envolve os processos, os participantes e as circunstâncias; interpessoal, que trata o texto como se fosse um diálogo e envolve os modos de interação entre os participantes; textual, que analisa a organização da informação, distribuída em Tema e Rema (Figura 4).
Para a análise de textos escritos, Martin, Mathiessen & Painter (1997, p. 4) consideram um bom ponto de partida a divisão em sentenças. As sentenças, segundo esses autores, são unidades que começam com letra maiúscula e terminam com ponto. Por sua vez, podem ser constituídas de mais de uma oração, esta última a unidade mais importante de análise, segundo Halliday (1994, 2004).
 
 FIGURA 4 – Três modos de analisar um texto 
A oração (assim como as sentenças e os textos) pode ser analisada sob o ponto de vista ideacional, através do qual a experiência humana é construída. Concorre para a representação do mundo o sistema de transitividade, responsável pelos processos, pelos participantes e pelas circunstâncias selecionados pelo autor/falante/escritor para atender aos significados que quer dar. A oração vista como representação também abarca as relações lógico-semânticas e o sistema de taxis.
	Quando analisada como troca, a oração (e, por extensão, o texto), é portadora de recursos que realizam movimentos interacionais no diálogo. Para isso, o sistema de MODO apresenta diferentes alternativas para a realização da interação: orações no modo declarativo, no interrogativo e no imperativo. Concorrem, para a escolha do modo, variáveis como o papel exercido pelo interactante e a natureza da negociação que está sendo realizada. As escolhas da função discursiva envolvem as categorias tradicionais de declaração, pergunta, oferta e comando. “Declarações e perguntas envolvem trocas de informação e são chamadas proposições, enquanto ofertas e comandos são trocas de bens e serviços chamadas propostas” (Martin, Mathiessen & Painter, 1997, p. 58). 
	Quando vista como mensagem, a oração abrange o sistema de TEMA. Refere-se à organização da informação em âmbito local (na oração) e, por extensão, à organização da informação na sentença e no texto como um todo. As escolhas temáticas refletem o grau de importância que o interactante atribui à informação. ‘Tema’ é o ponto de partida da mensagem, pois vem em posição inicial na oração. O restante da mensagem é denominado Rema. A oração como mensagem organiza-se em Tema + Rema.
2.1 a função ideacional
A linguagem é um meio de representação do mundo. Ela encapsula a experiência humana e exerce um papel importante nas relações das pessoas com os outros seres humanos. É elemento simbólico nas relações pessoais, pois permite “construir uma imagem mental da realidade” (Halliday, 1994, p. 106), a fim de dar sentido ao que acontece externa e internamente ao homem. A função ideacional ou experiencial da linguagem é responsável pela representação do mundo através da linguagem.
	A função ideacional da linguagem não se manifesta apenas no vocabulário, pois há diversas maneiras de construir a experiência humana. O falante/escritor, no evento comunicativo, organiza a maneira que melhor expressa os sentidos que pretende dar ao que está falando/escrevendo. Para tal, faz uso de categorias como transitividade e relações lógicas. 
Transitividade, para Halliday (1994), é o sistema gramatical de que o falante/escritor lança mão para construir a experiência humana nos eventos comunicativos. A transitividade constrói o fluxo da experiência em sentidos e em palavras e é representada na configuração de processos que envolvam participantes e, eventualmente, circunstâncias. 
Os participantes do processo são as entidades envolvidas – pessoas ou coisas, seres animados ou inanimados. Exercem papéis como o de Ator, Beneficiário, Portador, Experienciador e outros. As circunstâncias referem-se às noções de tempo, modo, causa, lugar e outros. Os processos, em gramática funcional, são usados com dois significados: a) para se referirem ao que está acontecendo no todo da oração; b) para se referir à parte da proposição encapsulada no sintagma verbal. Podem ser divididos em três grandes grupos: material, mental e relacional. Além desses, três outros intermediários também são utilizados: verbal, comportamental e existencial. Em gramática funcional, cada tipo de processo envolve diferentes tipos de participantes. 
Vale ressaltar que a visão tríplice dos processos repousa, na verdade, na distinção gramatical das classes de palavras em verbos, nomes, advérbiose outras categorias. De antemão, pode-se afirmar que os (i) sintagmas verbais, (ii) nominais e (iii) adverbiais correspondem a (i) processos, (ii) participantes e (iii) circunstâncias. Desse modo, processo, participante e circunstância são categorais semânticas que explicam, na maioria dos casos, como os fenômenos do mundo real são representados em estruturas lingüísticas.
	Os processos materiais, ou processos de “fazer”, envolvem uma gama de ações e de acontecimentos do mundo real. Caracterizam-se por serem concretos: referem-se ao mundo físico, que pode ser percebido pelos sentidos humanos e que pode movimentar-se no espaço. Constituem vocábulos que exemplificam processos materiais: ‘ventar’, ‘morrer’, ‘quebrar’, ‘construir’, ‘assar’, ‘movimentar-se’ e outros. 
Os processos materiais apresentam, no mínimo, um participante – é o Ator. A gramática clássica denominava esse termo ‘sujeito lógico’. Pode haver também a Meta – o participante atingido pela ação – e, algumas vezes, o Beneficiário, – o participante que é beneficiado pela ação. O Âmbito (Range na terminologia de Halliday) é “a entidade que existe independentemente do processo, mas que indica o domínio no qual o processo ocorre” (1994, p. 146). Beneficiário e Âmbito são participantes nem sempre presentes na oração. Enquanto o Beneficiário corresponde, em orações afirmativas em voz ativa, ao objeto indireto, na voz passiva é freqüentemente o sujeito gramatical da oração.
O Âmbito é muito comum em casos de deslexicalização verbal, ou seja, casos em que o verbo se apresenta vazio de sentido. São exemplos, em português, de ocorrências dos verbos ‘fazer’, ‘dar’ e ‘ter’, como em ‘fazer uma procissão’, ‘dar um corte’, ‘ter um encontro’. Halliday denomina esses verbos de verbos ‘dorminhocos’. A nominalização que aí emerge, em muitos casos em língua falada, constitui diferenças de registro, embora o sentido seja o mesmo. Semanticamente, o papel exercido pelos participantes ‘uma procissão’, ‘um corte’ e ‘um encontro’ diferem do papel exercido pela Meta do processo, constituindo o seu Âmbito. 
	Alguns processos – os mentais - envolvem fenômenos melhor descritos como estados de ânimo e eventos psicológicos (processos de percepção, de cognição e de afeição). Normalmente são construídos através de verbos como ‘pensar’, ‘gostar’, ‘sentir’, ‘ver’, ‘querer’, ‘ouvir’, ‘gostar’ e outros. Uma diferença entre o processo material e o processo mental é que, no primeiro, todo participante é um ser - da realidade ou da imaginação humana. No segundo, o mental, tomam parte os fatos, construídos como participantes por projeção, ou seja, por discurso citado ou relatado, ou por idéias. Os fatos podem ser vistos, sentidos ou pensados, mas não podem ‘fazer’, ‘executar’ alguma coisa, como no processo material. 
	Os processos mentais são experienciados pelo Sujeito do processo e participante consciente – o Experienciador (Bittencourt, 2001, p. 181 e 187). Metaforicamente esse papel pode ser exercido por entidades inanimadas. Aquele que é atingido pelo processo é denominado Fenômeno – complemento do processo. O Experienciador pode ser qualquer entidade criada pela consciência humana: um ser, um objeto, uma instituição, uma substância. O Fenômeno, representado pelo conteúdo do sentido, refere-se ao que é sentido, pensado ou visto. Como categorias de percepção, têm-se os verbos ‘ver’, ‘ouvir’, ‘cheirar’; de cognição, ‘pensar’, ‘saber’, ‘crer’, ‘compreender’ e de afeição, ‘gostar’, ‘odiar’, ‘amedrontar’ e outros. 
Por outro lado, os processos que representam as categorias de (i) atribuição e (ii) identificação são denominados relacionais. Pertencem aos processos de ‘ser’ e lembram o conceito gramatical de cópula. São tipicamente realizados através do verbo ‘ser’ ou de qualquer outro similar - ‘parecer’, ‘tornar-se’, ‘ficar’, ‘andar’ – e ainda os verbos ‘ter’, ‘possuir’ e ‘pertencer’. Nas orações relacionais, há duas entidades de ‘ser’: x é visto como sendo y, e entre elas opera o sistema gramatical com três tipos de relação, em que emergem três subcategorias: (a) a relação é intensiva, pois x é y; (b) a relação é circunstancial, pois x está ‘com,em,de,entre’ y; (c) a relação é possessiva, em que x tem y. Em qualquer um dos três tipos de relação, dois diferentes modos relacionais podem acontecer: (i) atributivo e (ii) identificador. A principal diferença entre atribuição e identificação é a diferença entre (i) membros de uma classe e (ii) simbolização. 
No modo atributivo (i), interpreta-se x como sendo um membro da classe de y - é o que Halliday denomina Portador. O Atributo de x é ser y.No modo identificador (ii), por outro lado, o processo verbal é reversível, pois x é identificado por y, já que y serve para definir a identidade de x, que não é membro da classe de y. Os participantes, nesse tipo de processo, passam a ser o Identificado e o Identificador, denominados por Halliday respectivamente Token e Value, que englobam diferentes tipos de abstração. O modo Identificador difere do Atributivo pelo fato de o grupo nominal Identifcador ter como núcleo um substantivo comum, determinado por artigo definido ou qualquer outro determinante, um substantivo próprio ou mesmo um pronome. O adjetivo, para ocupar essa posição, deve estar no grau superlativo. 
Os verbos que realizam o processo relacional identificador são chamados ‘verbos equativos’: ‘agir como’, ‘funcionar como’, ‘servir como’, ‘significar’, ‘indicar’, ‘sugerir’, ‘implicar’, ‘mostrar’, ‘igualar’, ‘representar’, ‘constituir’, ‘exemplificar’, ‘ilustrar’, ‘significar’, ‘expressar’, ‘permanecer’, ‘ser’, ‘tornar-se’, entre outros. O modo Identificador dá ao Identificado um status, através do qual se iguala, age ou representa.
Além da relação intensiva (a), a mesma distinção entre (i) atribuição e (ii) identificação ocorre em dois outros subtipos de processos relacionais: (b) o processo circunstancial e (c) o processo possessivo. 
No processo circunstancial (b), a relação entre x e y expressa-se semanticamente através das noções de tempo, lugar, modo, causa e outras. No processo atributivo (b1), a circunstância pode manifestar-se através de processo (b1a) ou de Atributo (b1b). Quando processo (b1a), a circunstância é expressa por um verbo (pesar, custar, significar). Quando Atributo (b1b), expressa-se através de sintagmas adverbiais ou preposicionais. 
No processo de Identificação (b2), pode-se dizer que os participantes constituem uma entidade que está ligada a outra por traços de tempo, modo, causa, lugar, etc. Quando identificador, o sintagma verbal carrega os traços circunstanciais de tempo, modo, companhia, causa e outros, como ‘acompanhar’, ‘lembrar’, ‘atravessar’.
O terceiro subtipo (c), denominado possessivo, encapsula uma relação de posse: uma entidade possui a outra, como em x tem y, que também pode ser (c1) atributivo ou (c2) identificador. No modo atributivo (c1), a relação de posse pode estar expressa por meio de um Atributo ou de um verbo, como em ‘Cláudio Humberto tem um carro’ e ‘O carro pertence a Cláudio Humberto’ . No modo identificador (c2), a posse também se configura entre duas entidades, podendo ser expressa através de um traço relativo ao participante ou processo propriamente dito. 
Os verbos que costumam ocorrer neste caso são ‘incluir’, ‘envolver’, ‘conter’, ‘consistir em’ e outros. Algumas formas verbais desse tipo combinam traços de posse com outros traços semânticos, como em ‘excluir’ e ‘necessitar’. É importante notar que a reversibilidade está sempre presente no processo de Identificação.
	Para Halliday, há três processos que podem completar os processos básicos de (i) ‘fazer/acontecer’, (ii) ‘sentir/pensar/perceber’ e (iii) ‘ser’. São os processos de (iv) ‘dizer’, (v) ’comportar-se’ e (vi) ‘existir’.
Os processos de dizer são denominados por Halliday de processos verbais. Esta categoria inclui não só os diferentes modos de dizer, mas também os traços semânticos adicionais que instrumentalizam o que se diz. O principal participante desteprocesso é o Falante, que diz, conta, pede, grita, informa, pergunta, ordena, solicita informações, bens e/ou serviços. É dele que parte o processo de elocução. 
Já o Recebedor, nem sempre presente, assemelha-se a um Beneficiário verbal, já que é a ele que se destina todo o processo. O Falado é o escopo do dizer, em termos de categoria genérica (pergunta, anedota) categoria funcional (questão, declaração) ou categoria léxico-gramatical (palavra, frase). Também aqui são incluídas categorias não-lingüísticas, como “dança”, “favor” e outras. 
	Há ainda outro participante – o Alvo (Target na nomenclatura de Halliday, 1994, p. 141). O Alvo é a entidade que é atingida pelo processo de dizer. É um participante periférico que não ocorre em discurso citado ou discurso relatado, apenas incidentalmente. São exemplos de verbos que aceitam Alvo: “descrever”, “bajular”, “insultar”, “caluniar”, “explicar”, “rezar”, “condenar”, “castigar”, “culpar” e outros. 
	Há inúmeros casos em que o conteúdo do dizer é representado por uma oração separada sintaticamente daquela que porta o verbo de elocução: constitui, nesses casos, o discurso citado ou o discurso relatado, que Halliday (1994, p. 108) denomina projeção. Os verbos de elocução “dizer” e “falar” constituem verbos neutros. Todavia, um grande número de verbos pode ser empregado para indicar esse tipo de processo. Algumas vezes, podem apresentar força ilocucionária e realizar atos de fala. Alguns exemplos são “prometer”, “considerar”, “ordenar”, “insistir”, “aconselhar”, “garantir” e outros. 
	Os processos comportamentais, segundo Halliday (1994, p. 139), são processos tipicamente humanos, fisiológicos e psicológicos. Nem todas as fronteiras estão bem delimitadas em relação aos processos comportamentais. O próprio Halliday os vê com características parcialmente materiais e parcialmente mentais. Segundo afirmam Bloor & Bloor (1995, p. 125), os processos comportamentais constituem uma ‘área cinzenta’ entre os dois processos mencionados.
	O único participante, Aquele que se Comporta, é um ser consciente, como o Experienciador, mas o processo se assemelha a ‘fazer’, não a ‘sentir’. Podem ser considerados processos comportamentais os verbos que expressam (i) a forma do comportamento (observar, fitar, ouvir, ver), (ii) os processos de comportamento (tagarelar, resmungar), (iii) os processos fisiológicos que expressam estados de consciência (chorar, rir, sorrir, choramingar), (iv) os processos fisiológicos como ‘transpirar’, ‘tossir’, ‘desmaiar’, ‘bocejar’, ‘dormir’ e (v) as posturas corporais e os entretenimentos, tais como ‘dançar’, ‘cantar’, ‘sentar’ e outros. 
	Os processos existenciais diferem dos relacionais porque, na oração existencial, há somente um participante: o Existente. São também processos de ser, mas não contam com o segundo elemento para estabelecer atributos ou identidades. É freqüente, nesses casos, a presença de circunstâncias de lugar acompanhando o processo. Também os verbos ‘existir’, ’ressurgir’, ‘ocorrer’, ‘acontecer’, ‘seguir’, ‘emergir’ exercem o mesmo papel. 
	 
2.2 a função interpessoal
	Atribuir função interpessoal à linguagem é dar-se conta do ‘fazer com a linguagem’, ou seja, do papel que as palavras exercem em um evento comunicativo. A linguagem, nesta perspectiva, é vista como ação, em que os sentidos promovem a interação social e os papéis dos falantes são determinados por condições particulares, sejam elas sociais, econômicas, profissionais ou outras. A análise das trocas lingüísticas dá conta, assim, do tipo de proposição ou proposta que está ocorrendo, das atitudes e julgamentos encapsulados na camada verbal e dos traços retóricos que a constituem como um ato simbólico interpessoal (Halliday, 1989, p. 45).
Quando as orações têm status de troca, o principal sistema a ser analisado é o MODO, recurso através do qual os participantes do evento organizam suas manifestações orais/escritas, envolvendo uma série de estratégias gramaticais a fim de atingirem seus objetivos comunicativos. As opções básicas de MODO constituem-se em orações indicativas (interrogativas e declarativas) e orações imperativas. As interrogativas podem realizar-se através de perguntas QU- ou de questões que suscitam respostas do tipo sim/não. Já as declarativas podem ser exclamativas e não-exclamativas.
	Segundo Halliday (1989, p. 68-69), a linguagem, nos eventos comunicativos, exerce papéis, quais sejam os de ‘dar’ ou ‘solicitar’, dependentes da natureza da ‘negociação’ que está ocorrendo. Para o autor, pode-se dar e/ou solicitar informação e/ou bens e serviços. Quando se dá informação, faz-se uma declaração e quando se dá um bem e serviço, faz-se uma oferta. Por outro lado, quando se solicita uma informação, faz-se uma pergunta e quando são solicitados bens e serviços, faz-se um comando. Ao mesmo tempo, Halliday propõe que as trocas entre os interlocutores, quando constituem informações, sejam denominadas ‘proposições’ e, quando constituem bens e serviços, sejam chamadas ‘propostas’. O Quadro 1 ilustra o que foi exposto.
 QUADRO 1 – Papéis da linguagem e MODO
	 mercadoria
papel na troca
	informação
	bens e serviços
	dar
	declaração
	oferta
	solicitar
	pergunta
	comando
	
	proposição
	Proposta
Fonte: Halliday, 1989, p. 69
	Cada uma das funções arroladas no Quadro 1, quando ativadas pelo locutor, pode ser considerada ou não pelo interlocutor. Por parte do primeiro, há uma expectativa de retorno comunicativo, que pode ou não acontecer. As declarações pressupõem reconhecimento, as perguntas aguardam respostas, as ofertas esperam aceitações e os comandos aguardam empreendimento por parte do interlocutor. Entretanto, sabe-se que nem sempre as expectativas do locutor confirmam-se. Pode-se ter, alternativamente para cada uma das situações, contradição, desconsideração, rejeição ou recusa. O Quadro 2 resume o que foi exposto.
QUADRO 2 – Funções de fala e possíveis respostas
	função
	resposta esperada
	resposta alternativa
	declaração
	reconhecimento
	contradição
	pergunta
	resposta
	desconsideração
	oferta
	aceitação
	rejeição
	comando
	empreendimento
	recusa
Fonte: Halliday, 1989, p. 69
Dentre os recursos gramaticais que contribuem para explicitar a função interpessoal da linguagem, pode-se encontrar: vocativos, perguntas, opiniões do autor ou dos leitores presentes no texto, marcadores de polaridade (sim, não, nenhum, nada), verbos auxiliares (ser, estar, ter, haver); advérbios de modo (provavelmente, possivelmente, certamente), marcadores atitudinais (infelizmente, felizmente, com prazer, pesarosamente, francamente), modalizadores (poder, dever, ter de, precisar, necessitar), avaliativos (interessante, necessário, prudente, horrível), advérbios de freqüência (usualmente, às vezes, nunca, sempre, raramente) e elementos metadiscursivos.
	Um outro recurso gramatical que evidencia a função interpessoal da linguagem é a polaridade, que pode ser definida como “a escolha entre positivo e negativo” (Halliday, 1989, p. 88). Normalmente a polaridade situa-se no âmbito da forma verbal, ao se usarem sentenças afirmativas ou negativas. 
Entretanto, nem todas as possibilidades que a linguagem oferece para que alguém manifeste suas opiniões situam-se somente nos dois pólos, o positivo e o negativo. É possível que a opinião se situe em níveis intermediários, desde o menos negativo até o menos positivo. Esses graus intermediários, que situam a fala humana entre um pólo positivo e outro negativo, são conhecidos como modalidade. A modalidade é um recurso gramatical utilizado para expressar significados relacionados ao julgamento do falante em graus de positividade ou de negatividade. Para tanto, usam-se modalizadores e advérbios.
A noção de modalidade está relacionada à distinção entre proposições (informações) e propostas (bens e serviços). Quanto às proposições, há dois tipos de possibilidades intermediárias: (i) grausde probabilidade; (ii) graus de usualidade. Ambos podem ser expressos em termos de verbos modais ou de adjuntos modais. 
Os graus de probabilidade são três: possibilidade, probabilidade e certeza. Realizam-se com formas verbais do tipo ‘pode/é possível’, ‘deve/é provável’, ‘deve/é certo’. Já os graus de usualidade realizam-se com adjuntos modais ou sintagmas adverbiais do tipo ‘usualmente’, ‘às vezes’, ‘sempre’, ‘é costume’. Juntas, a probabilidade e a usualidade constituem o que Halliday (1989, p. 89) denomina modalização. Pertencem à categoria da modalidade epistêmica. 
Quanto às propostas, relativas a bens e serviços (ofertas e comandos), Halliday (idem) propõe o termo modulação. Na modulação, também há graus intermediários que se situam entre os pólos positivo e negativo. Se comando, há graus de obrigação: ‘permitido’, ‘aceitável’ e ‘necessário’; se oferta, há graus de inclinação: ‘inclinado’, ‘desejoso’. ‘determinado’. Tanto a categoria obrigação quanto a categoria inclinação podem realizar-se gramaticalmente através de um verbo modalizador, de uma expansão do predicador ou por um adjetivo. A modulação pertence à categoria da modalização deôntica.
2.3 A função textual
Sabe-se que a organização Tema-Rema (T-R) constitui modo particular de organização da oração, em nível local, e do texto, em nível global. Através da observação da organização oracional e global e do mapeamento da constituição T-R das orações, pode-se observar um dos muitos recursos que são utilizados nos textos com vistas a persuadir o leitor.
	A oração, segundo Halliday (1994), dá conta da organização local do contexto em relação ao contexto maior em que está inserida. Este contexto local apresenta um ponto de partida da informação – o Tema. O restante da mensagem, ou seja, o que se apresenta sobre o Tema, é chamado de Rema. Assim, a oração como mensagem apresenta a estrutura Tema-Rema. Em português, a posição inicial de uma oração é sempre ocupada pelo Tema, que organiza a informação.
	A oração pode ser contextualizada sempre em três perspectivas metafuncionais – a perspectiva textual, a interpessoal e a ideacional (ou de tópico). Conseqüentemente, a oração, segundo Halliday (1994), apresenta estágios de análise, segundo as metafunções.
	O Tema “Tópico” (ou Ideacional) pode ser reconhecido como o primeiro elemento da oração que expressa algum conteúdo “representacional”. Pode ser expresso (i) pelo(s) participante(s), (ii) pela circunstância ou (iii) pelo processo. Os recursos lingüísticos utilizados são: para (i), sintagmas nominais, para (ii), sintagmas adverbiais (de tempo, lugar, causa, etc.) e para (iii), sintagmas verbais. Quando (i), o Tema é não-marcado; quando (ii) ou (iii), diz-se que a oração possui Tema marcado, o que constitui um recurso significativo na estruturação global do discurso e na força argumentativa do texto.
	Vista a oração sob a perspectiva intertextual, exercem o papel de Tema, em português, os verbos auxiliares, os interrogativos QU (quem, o que, qual, etc.), os vocativos, as metáforas interpessoais (“Eu gostaria...”, “Eu pediria...”, “É possível...”), bem como os marcadores retóricos de validade e de atitude (Vande Kopple, 1985, p. 83). Esses revelam a presença do autor/emissor no texto e orientam o interlocutor no processo de interação social.
 Os marcadores de validade são empregados a fim de convencer o leitor em termos de mais certeza (“é preciso”, “deve”, “é necessário”) ou de menos certeza (“talvez”, “parece”). Os de atitude expressam a avaliação positiva ou negativa do autor e manifestam-se através de advérbios atitudinais (“efetivamente”, “naturalmente”, “surpreendentemente”) e de adjetivos que configuram avaliação enfática (“lamentável”, “excelente”, “horrível”, “imperdoável”)
	O Tema na perspectiva textual geralmente ocupa a posição inicial, anterior a qualquer outro, seja interpessoal ou ideacional. Privilegia recursos lingüísticos que exercem função de conjunção entre orações, que marcam uma oração como dependente de outra, que relacionam orações entre si e que estabelecem continuidade ao discurso anterior. Também utiliza os recursos metadiscursivos (Vande Kopple, 1985, p. 83) tais como conectores que estabelecem relações textuais e realizam-se como seqüencializadores (“em primeiro lugar”, “após”), seqüencializadores que indicam algum tipo de relação temporal ou lógica (“entretanto”, “conseqüentemente”, “ao mesmo tempo”, “desse modo”) e conectores usados para lembrar algo ao leitor (“conforme eu disse no capítulo anterior”, “segundo a solicitação”). Os topicalizadores também se enquadram na perspectiva textual (“por exemplo”, “ou seja”, “em consideração”, “o problema é”).
	Analisando-se uma oração e partindo-se linearmente da esquerda para a direita, é possível estabelecer as fronteiras entre Tema e Rema. O Rema sempre ocupa a posição à direita; o Tema, à esquerda. A real fronteira entre os dois se estabelece após qualquer elemento representacional (participante, circunstância ou processo). 
	
3. METODOLOGIA
Este estudo constitui de uma análise de três pequenos textos intitulados “De porre, não” (texto 1- T1), “Trapalhada” (texto 2 – T2) e “Golpe na Liberdade” (texto 3 – T3), de autoria de Cláudio Humberto, articulista da Gazeta de Alagoas, cuja publicação ocorreu em 13 de maio de 2004. O procedimento para o exame dos textos terá duas etapas: na primeira, será delineada, de modo mais geral, a configuração contextual dos textos selecionados e, na segunda etapa, serão identificadas as três funções da linguagem relativas à configuração contextual.
Os resultados obtidos serão apresentados e comparados na seção final do artigo. Para uma melhor visualização da análise, quadros analíticos serão apresentados em ‘Anexos’.
4. RESULTADOS e discussão
	Muito se falou do Brasil no mês de maio de 2004, devido a uma reportagem de Larry Rohter, jornalista americano, quanto aos hábitos etílicos do presidente da nação brasileira. A matéria bombasticamente titulada de "Hábito de beber de Lula se torna preocupação nacional", escrita pelo correspondente no Brasil do New York Times e veiculada em 9 de maio de 2004, foi considerada pelo Palácio do Planalto como caluniosa, preconceituosa e antiética. O fato provocou tumulto no país e o que era para ser uma matéria sem importância tomou proporções internacionais. 
Cláudio Humberto, jornalista, porta-voz da presidência da República no governo Fernando Collor (1990-1992), foi citado na reportagem de Rohter como a pessoa que patrocinara um concurso para dar um nome ao avião presidencial que estava sendo adquirido pelo Planalto, ao qual ironicamente sugeria denominar-se Pirassununga 51. O mesmo jornalista mantém um site na internet além de colunas em vários jornais do país, dentre eles a Gazeta de Alagoas, publicada em Maceió, nordeste do Brasil. Tem se especializado em tecer críticas ácidas aos bastidores da política brasileira. Publicou a obra “Poder sem pudor – histórias de folclore, talento e veneno na política brasileira” pela editora Geração Editorial. É autor de textos como ‘Bafômetro de ouro’, ‘Pingüim doido’, ‘Conselho de colega’, ‘Camaradagem’, ‘On the rocks’, ‘Leite, só batizado’, ‘Distorção’, ‘De porre, não’, ‘Trapalhada’ e ‘Golpe na liberdade’, entre outras, constituintes de suas colunas de opinião. 
Seguem os três textos selecionados para análise, assim identificados daqui para diante: ‘De porre, não’ (texto 1 – T1), ‘Trapalhada’ (texto 2 – T2) e ‘Golpe na liberdade” (texto 3 – T3).
	DE PORRE, NÂO
O sindicato dos servidores do Legislativo, o Sindilegis, decidiu distribuir o seguinte adesivo de pára-brisas: “Se beber, não dirija o Brasil”.
TRAPALHADA
A truculência venceu a solidariedade: a decisão de expulsar o jornalista do NYT foi tomada no exato instante em que líderes governistas articulavam um manifesto de apoio ao presidente Lula assinado até pela oposição.
GOLPE NA LIBERDADE
O presidente nacional da OAB, Roberto Busato, esteve entre as pessoas mais indignadas com a expulsão dorepórter do NYT: “foi o pior golpe contra a liberdade de imprensa no País desde a censura imposta pelos militares”.
4.1 Primeira etapa: Configuração contextual
	Para a determinação da configuração contextual (CC) de cada um dos textos, é essencial que se apontem os três elementos constitutivos do contexto: campo, relação e modo.
	Em T1 o campo diz respeito a um comentário irônico feito pelo jornalista Cláudio Humberto em relação a adesivos de pára-brisas para ridicularizar o presidente Luís Inácio Lula da Silva. A relação aponta os participantes do evento comunicativo: de um lado o jornalista, especialista em construir cenas e expressões de profunda crítica aos políticos e de outro os leitores do jornal. A relação que se estabelece entre os dois interactantes é vista como uma relação de distanciamento, em que o autor faz um comentário e não apela explicitamente para o leitor, o qual tem como tarefa ler o texto e, talvez, tecer algum comentário oral ou escrito com seus amigos ou através de cartas do leitor. Há assimetria nas relações sociais entre os participantes, pois o autor se coloca como detentor do conhecimento, ignorando o leitor. Já o modo apresenta-se como um pequeno texto escrito, publicado em uma coluna de opinião política do jornal Gazeta de Alagoas, constituído de uma pequena narrativa. 
	Em ‘Trapalhada’ (T2), o campo diz respeito a uma opinião explícita do jornalista em relação à expulsão de Larry Rohter do Brasil. Fazem parte da relação o autor e seus leitores, novamente distanciados pela linguagem, que expressa a opinião do jornalista em relação ao acontecimento. Quanto ao modo, T2 está organizado em uma sentença apenas e também utilizou o canal gráfico e o meio escrito – a coluna de jornal.
	Já em T3, o campo se apresenta como uma informação, agora comentada, acerca de declaração do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil. A relação estabelece-se novamente entre autor e leitor, mais uma vez indicando a assimetria dos papéis desempenhados pelos participantes do evento comunicativo.	O modo constitui a organização textual em forma de notícia escrita para ser lida e de citação da fala de uma personagem através de discurso direto.
4.2 Segunda etapa: funções da linguagem
	O primeiro texto tem na função ideacional participantes como ‘o Sindilegis’, ‘o adesivo de pára-brisas’ e ‘o Brasil’. Os processos materiais (‘distribuiu’, ‘beber’, ‘dirija’) prevalecem e há a presença de um processo mental (‘decidiu’). Na função interpessoal, o participante Cláudio Humberto comporta-se como aquele que dá a informação ao leitor, a qual pode ser aceita ou não. Há o uso do modo indicativo, do subjuntivo e do imperativo. Na função textual, o Tema tópico está expresso por ‘o Sindicato dos Servidores do Legislativo, o Sindilegis’ e o Rema organiza-se de modo a comprovar o Tema ao apresentar uma fala de em discurso direto.
	O texto 2 – ‘Trapalhada’ (T2) – apresenta na função ideacional participantes como ‘truculência’, ‘solidariedade’, ‘a decisão’, ‘jornalista do NYT, ‘líderes governistas’, ‘um manifesto de apoio ao presidente Lula’ e ‘oposição’. Prevalecem os processos materiais (‘venceu’, ‘expulsar’, ‘articulavam’, ‘assinado’), mesclados a um mental (‘foi tomada’). A circunstância presente indica temporalidade (‘no exato instante em que...’). Já a função interpessoal concretiza-se em sentenças declarativas e uso do modo indicativo (‘venceu’, ‘articulavam’) ao oferecer o autor uma informação ao leitor, e a função textual apresenta-se como um texto opinativo, em que o Tema comporta a opinião do autor e o Rema a justificativa dessa opinião.
	T3 – ‘Golpe na liberdade’ – tem, como função ideacional, a tarefa de noticiar ao leitor o julgamento de um determinado participante (‘Roberto Busato’) acerca da expulsão de Larry Rohter do Brasil. Há a presença de dois processos relacionais (‘esteve’, ‘foi’) e o Atributo circunstancial de lugar (‘entre as pessoas mais indignadas com a expulsão do repórter do NYT’), além das circunstâncias de lugar (‘no País’) e de tempo (‘desde a censura imposta pelos militares’). A função interpessoal apresenta-se através do modo indicativo (‘esteve’, ‘foi’) e do avaliativo utilizado por Roberto Busato (‘o pior golpe’) em que Cláudio Humberto oferece uma informação a seu leitor. A função textual privilegia como Tema o participante presidente da OAB e como Rema sua declaração a respeito da atitude do presidente brasileiro.
CONCLUSÃO
Após a análise dos textos, pode-se concluir que, com relação à função ideacional, ocorreu a prevalência dos processos materiais, através dos quais o autor do texto faz pequenos relatos aos leitores sobre acontecimentos dos bastidores da política relacionados ao episódio Larry Rohter. Ao utilizar também dois processos relacionais e um mental, o autor busca a atribuir valores de verdade à sua narração. 
Quanto à função interpessoal, percebe-se em todos os textos que o autor se coloca como alguém que detém o conhecimento e tenta passá-lo ao leitor de uma forma pitoresca e, de certa maneira, com um tom de ‘fofoca’. Isso é comprovado através do uso de proposições no modo indicativo e da modalidade epistêmica.
Na função textual, prevalecem os Temas tópicos, característicos do oferecimento de informação – ponto de partida da mensagem. As avaliações, quando presentes, são colocadas no Rema, o que significa que esse segmento ocupa lugar importante no fluxo da informação. 
Pelo exposto, conclui-se que, pelo uso de processos materiais, de proposições em que a informação é oferecida e de Temas tópicos, Cláudio Humberto, nos três textos, pretende informar seus leitores sobre os acontecimentos periféricos do caso Larry Rohter, mas não deixa, como cabe a um autor de coluna política, de lançar os seus pitacos no caldeirão de vaidades nacionais atingidas pela reportagem do jornalista americano.
REFERÊNCIAS 
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BLOOR, T; BLOOR, M. The functional analysis of English- a hallidayan approach. London: Edward Arnold, 1995.
BÜHLER, K. Spratchetheorie: die Darstellungsfunktion der Sprache. [Fischer,Jena] 1934.
JAKOBSON, R. Closing statement: linguistics and poetics. In: T.A. SEBEOK (ed.). Style in language. MIT Press & Wiley: Cambridge, Massachussets, 1960.
HALLIDAY, M. A. K. Context of situation. In: HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, H. Language, context and text: aspects of a language in a social-semiotic perspective. Oxford: Oxford University, 1989a.
HALLIDAY, M. A. K. Functions of language. In: HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, H. Language, context and text: aspects of a language in a social-semiotic perspective. Oxford: Oxford University, 1989b.
___. An introduction to functional grammar. 2. ed. London: Edward Arnold, 1994.
HASAN, R. The structure of a text. In: HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, H. Language, context and text: aspects of a language in a social-semiotic perspective. Oxford: Oxford University, 1989, p. 52-69.
HUMBERTO, C. De porre, não. Gazeta de Alagoas, Maceió, 13 maio 2004. Disponível em: <http:// gazetaweb.globo.com/gazeta/Frame.php?f=Index.php&e=721>. Acesso em 13 jan. 2005.
HUMBERTO, C. Trapalhada. Gazeta de Alagoas, Maceió, 13 maio 2004. Disponível em: <http:// gazetaweb.globo.com/gazeta/Frame.php?f=Index.php&e=721>. Acesso em 13 jan. 2005.
HUMBERTO, C. Golpe na lliberdade. Gazeta de Alagoas, Maceió, 13 maio 2004. Disponível em: <http:// gazetaweb.globo.com/gazeta/Frame.php?f=Index.php&e=721>. Acesso em 13 jan. 2005.
MARTIN, J. R.; MATHIESSEN, C. M. I.M.; PAINTER, C. Working with functional grammar. London: Edward Arnold, 1997. 
THOMPSON, G. & COLLINS, H. Interview with M. A. K. Halliday, Cardiff, July, 1998. Delta. São Paulo: EDUC, v. 17, n. 1, 131-153, 2001.
VANDE KOPPLE, W. J. Some exploratory discourse. College Composition and Communication.N. 36. V. A., 1985.
ANEXOS
	Nesta seção, apresenta-se a análise individual das orações, tendo em vista as três funções hallidayanas. Após a separação das orações, entre parênteses é registrado o elemento gramatical constitutivos de cada uma das três funções.
1. T1
DE PORRE, NÂO
Oração 1: O sindicato dos servidores do Legislativo, o Sindilegis, decidiu 
Oração 2: distribuir o seguinte adesivo de pára-brisas:
Oração 3: “Se beber, 
Oração 4: não dirija o Brasil”.
	Nº
	Função ideacional
	Função interpessoal
	Função textual
	
	Partici-
pantes
	Processos
	Circuns-
tâncias
	Modo
	Modali-dade
	Tema
	Rema
	1
	O sindicato dos servidores do Legislativo, o Sindilegis,
(Experienciador)
	decidiu
 
(mental)
	-
	decidiu
(indica-tivo)
	proposição
(epistêmi-ca)
	O sindicato dos servidores do Legislativo, o Sindilegis, decidiu 
 
(tópico)
	
	2
	(ele)
o seguinte adesivo de pára-brisas:
 (Atores)
	distribuir :
(material)
	
	distribu-ir
(infiniti-vo)
	proposição
(epistêmi-ca)
	(ele) decidiu
 (tópico)
	distribuir o seguinte adesivo de pára-brisas
	3
	(você)
 (Ator)
	Beber
(material)
	
	‘beber’ 
(subjuntivo)
	proposição condicional
(epistêmi-ca)
	“Se beber,
 
(textual)
	 -
	4
	(você)
o Brasil”
 
(Atores)
	Dirija
(material)
	
	imperativo
(dirija)
	proposta negativa: ‘não’ 
(deôntica de polarida-de negativa)
	não dirija 
(tópico)
	o Brasil”
2. T2
TRAPALHADA
Oração 1: A truculência venceu a solidariedade: 
Oração 2: a decisão (...) foi tomada no exato instante 
Oração 3: de expulsar o jornalista do NYT 
Oração 4: em que líderes governistas articulavam um manifesto de apoio ao presidente Lula 
Oração 5: assinado até pela oposição.
	Nº
	Função ideacional
	Função interpessoal
	Função textual
	
	Partici-
pantes
	Processos
	Circuns-
tâncias
	Modo
	Modali-dade
	Tema
	Rema
	1
	A truculência
 a solidariedade:
(Atores)
	venceu 
(material)
	
	Venceu
(indicativo)
	proposição
(epistêmi-ca)
	A truculência venceu 
(tópico)
	a solidarie-dade:
	2
	a decisão
(Experienciador)
no exato instante (Fenômeno circunstancial de tempo)
	 foi tomada
(mental) 
	
	foi tomada
(indicativo) 
	proposição
(epistêmi-ca)
	a decisão (...) foi 
(tópico)
	tomada no exato instante
	3
	o jornalista do NYT
(Ator)
	expulsar 
(material)
	
	expulsar
(infinitivo) 
	proposição
(epistêmi-ca)
	de expulsar
(tópico)
	o jornalista do NYT
	4
	 líderes governistas 
 um manifesto de apoio ao presidente Lula 
(Atores)
	articula-vam 
(material)
	em que(...) 
	articula-vam 
(indicativo)
	proposição
(epistêmi-ca)
	em que líderes governistas articulavam.
(tópico)
	um manifesto de apoio ao presidente Lula assinado até pela oposição.
	5
	a oposição
(um manifesto de apoio ao presidente Lula)
(Atores)
	assinado
(material)
	
	assina-do
(indicativo)
	proposição
(epistêmi-ca)
	assinado 
(tópico)
	até pela oposição.
3. T3
GOLPE NA LIBERDADE
Oração 1: O presidente nacional da OAB, Roberto Busato, esteve entre as pessoas mais indignadas com a expulsão do repórter do NYT:
Oração 2: “foi o pior golpe contra a liberdade de imprensa no País desde a censura imposta pelos militares”.
	Nº
	Função ideacional
	Função interpessoal
	Função textual
	
	Partici-
pantes
	Processos
	Circuns-
tâncias
	Modo
	Modali-dade
	Tema
	Rema
	1
	O presidente nacional da OAB, Roberto Busato, 
(Portador)
entre as pessoas mais indignadas com a expulsão do repórter do NYT:
(Atributo circunstancial)
	esteve 
(Relacio-nal circunstancial)
	
	esteve
(indicativo) 
	proposição
(epistêmi
ca)
	O presidente nacional da OAB, Roberto Busato, esteve
(tópico) 
	entre as pessoas mais indignadas com a expulsão do repórter do NYT:
	2
	(esse)
(Portador)
o pior golpe contra a liberdade de imprensa no País 
(Atributo)
	“foi
(relacio-nal) 
	no País 
(lugar)
desde a censura imposta pelos militares”.
(tempo)
	“foi 
(indicativo)
	proposição 
(epistêmi-ca)
	“foi 
(tópico)
	 o pior golpe contra a liberdade de imprensa no País desde a censura imposta pelos militares”.

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