Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 9 Alexandre Chaia Amanda Benevides da Nova Martha Aziz Cardoso CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL INTRODUÇÃO O medo é definido como uma resposta emocional a uma ameaça recebida. A fobia é um medo persistente e irracional que resulta na compulsão para evitar um objeto, atividade ou situação específica.1 Em Odontologia, o medo e a ansiedade são comuns, onde cerca de 70% das pessoas relatam algum tipo de apreensão, enquanto que 6 a 8% são acometidos de intensa ansieda- de, chegando a evitar o tratamento dentário.1 A ansiedade e o medo do tratamento odontológico constituem respostas de natureza emo- cional a um perigo potencial ou real. Geralmente, estão relacionadas às experiências traumá- ticas passadas, próprias e de pessoas próximas, ou preocupações com a perda física. São determinadas alterações fisiológicas vinculadas à atividade do sistema nervoso simpático, expressas como palidez, sudorese nas palmas das mãos, tremores, dificuldade de comunica- ção, taquipnéia, taquicardia, aumento da pressão arterial e aumento da tensão muscular.1-13 O medo pode trazer um impacto insignificante sobre a saúde oral, quando em baixa intensidade. Já a fobia, pode levar o paciente a evitar o tratamento, mesmo na presença de sintomas significativos, com conseqüências prejudiciais na saúde geral. Cerca de 40% da população não recebem cuidados odontológicos de rotina devido à apreensão como causa mais comum.1 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:159 10 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL Existe uma relação entre ansiedade e dor, já que a expectativa de dor contribui para a ansiedade em Odontologia. Já foi demonstrado que pacientes ansiosos apresentaram um baixo limiar da dor, quando um elemento dental era estimulado eletricamente, comparado a indivíduos em condições normais.2 A ansiedade pode diminuir a tolerância à dor, a ponto de que estímulos inócuos, como toque, poderiam ser interpretados como dor. A ansiedade tam- bém pode contribuir para reações adversas na cadeira do cirurgião-dentista, podendo ser confundidas com reações alérgicas ou tóxicas ao anestésico local.1 Sinais de ansiedade e medo podem ser identificados pelo comportamento e pela avaliação de alguns sinais físicos. Dessa forma, o cirurgião-dentista deverá estar atento para que possa ajudar seu paciente. O procedimento básico no controle da ansiedade no tratamento odontológico é a verbalização, embora algumas vezes a abordagem unicamente psicológica não seja eficaz.2 Devido ao grande número de pacientes ansiosos submetidos a procedimentos dentários ou tratamentos cirúrgicos, cirurgiões-dentistas têm desenvolvido técnicas para promover o con- trole da ansiedade ou sedação. Medidas farmacológicas deverão ser utilizadas depois de identificada à necessidade, geralmente quando a verbalização não foi eficaz. Dentre as condutas farmacológicas para o controle da ansiedade, destacamos a sedação consciente, obtida por variadas formas de administração, a sedação profunda e a anestesia geral. A forma mais comum de sedação em consultório dentário é a utilização de óxido nitroso e oxigênio para sedação inalatória ou a sedação oral com benzodiazepínicos.4 Os benzodiazepínicos constituem o grupo farmacológico de maior efetividade na sedação oral, por serem ansiolíticos eficazes e seguros. Suas propriedades sedativas e amnésicas contribuem para o efeito tranqüilizador. Além dos ansiolíticos, numerosos agentes têm sido empregados para essa finalidade, incluindo os barbitúricos, neuropléticos, o hidrato de cloral, anti-histamínicos e betabloqueadores.2 A Odontologia, historicamente, tem liderado o desenvolvimento de técnicas anestésicas para o controle do medo e da ansiedade. Horace Wells e Wiliam Morton foram responsáveis, em grande parte, pela introdução clínica da anestesia geral. A primeira descrição do óxido nitroso como sedativo foi feita em um livro de anestesia para cirurgiões-dentistas, publicado em 1908. A moderna forma de sedação com óxido nitroso e oxigênio evoluiu nas décadas de 40 e 50. A anestesia intravenosa com hexobarbital foi desenvolvida pelo dentista inglês S.L. Drummond Jackson, na década de 30. Após a Segunda Guerra Mundial, Harold Krogh e Adrian Hubbel desenvolveram o uso do tiopental para cirurgia oral. A sedação consciente intravenosa foi introduzida por Niels Jorgensen, em 1945.1 O cirurgião-dentista deve estar atualizado com as técnicas de sedação consciente para que as mesmas possam ser utilizadas em pacientes ansiosos ou fóbicos durante tratamentos odontológicos clínicos e/ou cirúrgicos. Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1510 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 11 OBJETIVOS Após o estudo deste módulo, o leitor será capaz de: � identificar um paciente com medo ou ansiedade para otimizar seu atendimento odontológico; � compreender as condutas farmacológicas utilizadas para o controle do medo e da ansiedade; � reconhecer os principais fármacos utilizados no controle da ansiedade e seus mecanis- mos de ação; � compreender os diferentes mecanismos da sedação e suas vias de administração; � decidir quando indicar o uso de fármacos com atividade ansiolítica e qual a melhor via de administração de acordo com a indicação e perfil do paciente. ESQUEMA CONCEITUAL Indicações Sedação oral Sedação intramuscular Sedação inalatória Sedação intravenosa Sedação profunda ou anestesia geral Identificação do paciente ansioso Prescrição de medicamentos pelo cirurgião-dentista Caso clínico Avaliação do paciente Condutas não-farmacológicas Condutas farmacológicas Sedação consciente Conclusão Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1511 12 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL INDICAÇÕES A principal indicação para a aplicação de condutas farmacológicas de controle em pacientes odontológicos é a ansiedade, medo ou fobia, de intensidade suficiente que impeça a realização do tratamento. É importante lembrar que essas condutas só deverão ser tomadas quando a verbalização ou técnicas de condicionamento não forem suficientes.1,2 Pacientes pediátricos, sem compreensão sobre o tratamento, com problemas de comporta- mento, ou aqueles com comprometimento cognitivo, geralmente observado em casos de distúrbios mentais ou portadores do mal de Alzheimer, também podem receber a indicação, já que esses pacientes podem ser incapazes de cooperar o suficiente para permitir o trata- mento. A presença de disfunção motora, como a que ocorre em pacientes com paralisia cerebral ou doença de Parkinson, também pode gerar a necessidade do tratamento farmacológico, por apresentarem movimentos incoordenados ou tremores.1,3,5 Os benzodiazepínicos podem ser utilizados como medicação pré-anestésica nos casos de procedimentos invasivos e traumáticos, como em exodontias de dentes inclusos, cirurgias paraendodônticas, colocação de implantes e drenagem de abscessos, mesmo em pacientes potencialmente colaboradores. Ou ainda, imediatamente após traumatismos dentais aciden- tais, situações que requerem pronto-atendimento, quando geralmente o paciente apresenta alto grau de ansiedade.2 As sedações consciente, profunda ou a anestesia geral, podem ser utilizadas em pacientes incapazes de tolerar fisiologicamente o estresse, induzido com um mínimo de ansiedade, como em pacientes com cardiopatia isquêmica, hipertensão lábil ou asma induzida por estresse.1, 2 Outras indicações são, muitas vezes, para pacientes com baixo grau de ansiedade, que tole- ram bem procedimentos simples e conservadores em Odontologia, mas que podem desejar uma sedação a nível farmacológico, nos casos de procedimentos invasivos, mais comumente nas extrações de terceiros molares. Outros indivíduos que podem se beneficiar da sedação são os que apresentam refluxo gastroesofágico, ou aquelesque não conseguem obter satis- fatoriamente o alívio da dor apenas com o uso de anestésicos locais.1,5 As técnicas de sedação realizadas no consultório odontológico são adjuvantes para um bom atendimento. A decisão de utilizá-las é dependente de algumas variáveis: tempo de duração do procedimento, estresse que o procedimento causará ao paciente e estado físico do mes- mo. No Quadro 1, as indicações potenciais para o controle da ansiedade. Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1512 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 13 IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE ANSIOSO Para que o cirurgião-dentista possa ajudar o paciente no controle da ansiedade, é preciso que o mesmo seja identificado. Deve-se determinar o grau de ansiedade através da história clínica e de questionários, com perguntas relativas a possíveis episódios prévios de ansieda- de, ou que identifiquem preocupações específicas relacionadas aos procedimentos e com o ambiente do consultório dentário. No Quadro 2, os principais fatores geradores de estresse no decorrer do atendimento odontológico. Segundo Andrade,1 pacientes apresentando ansiedade e medo podem ser identificados pelo comportamento e pelo reconhecimento de alguns sinais e sintomas clínicos. São eles: � dilatação das pupilas; � palidez da pele; � transpiração excessiva; � sensação de formigamento das extremidades (mãos e pés); � aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca. Quadro 1 INDICAÇÕES POTENCIAIS PARA O CONTROLE DA ANSIEDADE � Ansiedade, medo e fobia excessivos; � Problemas de cognição; � Disfunção motora; � Cardiopatia isquêmica; � Asma induzido por estresse; � Hipertensão lábil; � Pacientes pediátricos; � Realização de procedimentos traumáticos ou extensos. Fonte: Andrade (2001).2 Quadro 2 FATORES GERADORES DE ESTRESSE NO CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO � Visão do instrumental, especificamente a seringa Carpule, agulha gengival, fórceps, alavancas e as limas endodônticas; � As vibrações provocadas pelos motores de baixa e alta rotação; � Movimentos bruscos do profissional; � Sensação inesperada de dor. Fonte: Andrade (2001).2 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1513 14 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL Como instrumento de avaliação da ansiedade há a escala de ansiedade dental de CORAH, podendo ser utilizada pelo cirurgião-dentista para avaliar o grau de ansiedade do paciente que será submetido a tratamento odontológico. A referida escala se constitui de quatro perguntas de múltipla escolha, sendo que existem cinco opções de respostas. Tal escala de- termina o grau de ansiedade do paciente e contribui na escolha da melhor conduta para o controle da mesma. No Quadro 3, a escala de CORAH. Quadro 3 ESCALA DE ANSIEDADE DENTAL DE CORAH A escala é composta de quatro perguntas de múltipla escolha, com cinco opções de respostas cada. As alternativas de letra a valem 1 ponto, as alternativas de letra b valem 2 pontos, as alternativas de letra c valem 3 pontos, as alternativas de letra d valem 4 pontos e as alternativas de letra e valem 5 pontos. 1. Se você fosse ao dentista amanhã, como se sentiria? a) Eu procuraria encarar como uma experiência agradável. b) Eu não me preocuparia de qualquer modo. c) Eu ficaria um pouco ansioso. d) Eu temeria que fosse uma experiência desagradável e dolorosa. e) Eu ficaria muito assustado com que o dentista pudesse fazer. 2. Quando você está sentado na sala de espera do dentista, como você se sente? a) Relaxado. b) Um pouco desconfortável. c) Tenso. d) Ansioso. e) Tão ansioso que às vezes começo a transpirar ou me sentir abatido. 3. Quando você está sentado na cadeira do dentista esperando que ele comece a utilizar a broca no seu dente, como você se sente? a) Relaxado. b) Um pouco desconfortável. c) Tenso. d) Ansioso. e) Tão ansioso que às vezes começo a transpirar ou me sentir abatido. 4. Você está sentado na cadeira do dentista. Enquanto você espera que ele pegue os instrumentos para fazer a limpeza dos seus dentes, como você se sente? a) Relaxado. b) Um pouco desconfortável. c) Tenso. d) Ansioso. e) Tão ansioso que às vezes começo a transpirar ou me sentir abatido. Após a soma dos pontos das questões respondidas, pode-se classificar o paciente em quatro níveis: � paciente sem ansiedade (4 pontos); � paciente com baixa ansiedade (5 a 9 pontos); � paciente com moderada ansiedade (10 a 14 pontos); � paciente com exacerbada ansiedade (15 a 20 pontos). Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1514 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 15 1. Para que pacientes estão indicadas s sedações consciente, profunda ou a anestesia geral? 2. A ansiedade e o medo estão relacionados a experiências traumáticas passadas, próprias e de pessoas próximas, ou a preocupações com a perda física. Alterações fisiológicas decorrentes da ansiedade podem ser observadas pelo profissional. Qual das opções abai- xo melhor representa tais alterações? A) Palidez, sudorese, tremores, hipertensão e tonteira. B) Palidez, sudorese, tremores, dificuldade de comunicação e agressividade. C) Palidez, sudorese, tremores, dificuldade de comunicação, taquipnéia, taquicardia, aumento da pressão arterial e agressividade. D) Palidez, sudorese, tremores, dificuldade de comunicação, taquipnéia, taquicardia, aumento da pressão arterial e aumento da tensão muscular. Resposta no final do capítulo 3. São indicações do controle da ansiedade, EXCETO: A) Ansiedade, fobia e medo excessivos. B) Paciente sem sinais de ansiedade durante procedimentos simples. C) Realização de procedimentos traumáticos ou extensos. D) Pacientes pediátricos. Resposta no final do capítulo 4. São os principais fatores geradores de estresse no consultório odontológico, EXCETO: A) Visão do instrumental, especificamente a seringa Carpule, agulha gengival, fórceps, alavancas e as limas endodônticas. B) As vibrações provocadas pelos motores de baixa e alta rotação. C) Os equipamentos de proteção individual utilizados pelo profissional. D) Sensação inesperada de dor. Resposta no final do capítulo Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1515 16 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL 5. Tomando por base a escala de ansiedade dental de CORAH, qual pontuação identifica pacientes com ansiedade moderada? A) 5 a 9 pontos. B) 4 pontos. C) 10 a 15 pontos. D) 15 a 20 pontos. Resposta no final do capítulo AVALIAÇÃO DO PACIENTE Existem cinco aspectos a serem observados antes da administração da sedação no paciente odontológico, que são: 1 avaliar a condição psicológica do paciente para tolerar o tratamento dentário; 2 avaliar a condição sistêmica do paciente para tolerar o tratamento dentário; 3 avaliar se o paciente realmente necessita de sedação consciente; 4 avaliar se o tratamento dentário indicado é possível sob sedação; 5 avaliar se há contra-indicação no uso de sedação. Após a identificação do paciente ansioso, uma anamnese criteriosa deve ser realizada. A classificação dos pacientes quanto ao estado físico, proposto pela American Society of Anesthesiology (ASA), poderá ser utilizada para estimar a capacidade do paciente de tolerar determinado nível de estresse, assim como para estabelecer a necessidade do paciente ser monitorizado. Essa classificação pode ser observada no Quadro 4. Quadro 4 SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO FÍSICO DE ACORDO COM A ASA Classe ASA I ASA II ASA III ASA IV ASA V ASA VI Descrição Paciente saudável, normal, sem doença sistêmica. Paciente com doença sistêmica leve a moderada. Paciente com doença sistêmica grave que limita a atividade, mas não é incapacitante. Paciente com doença sistêmica severa que limita a atividade e é uma ameaça constante à vida. Paciente moribundo, cuja sobrevida esperada é inferior a 24 horas, com ou sem cirurgia.Paciente clinicamente morto (morte cerebral), sendo mantido para transplante de órgãos. Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1516 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 17 Pacientes classificados como ASA I ou II, geralmente são candidatos à sedação a nível ambulatorial. Pacientes ASA III apresentam maior risco em procedimentos que geram estresse, sendo necessário o controle da ansiedade quando identificado tal perfil. A sedação conscien- te ou profunda poderá ser indicada. CONDUTAS NÃO-FARMACOLÓGICAS A conduta de controle de ansiedade deve ser individualizada, direcionada de acordo com o perfil do paciente. A verbalização é um método para a redução da ansiedade, devendo ser utilizada primariamente após a identificação do paciente com ansiedade, medo ou fobia. Muitas vezes, a conduta do cirurgião-dentista ao lado do paciente, com uma mudança em seu comportamento, sugestões positivas e tranqüilização, é suficiente. Essa conduta pode ser associada a tratamentos mais específicos para a redução da ansiedade. Dentre as inter- venções psicológicas específicas, pode-se destacar a dessensibilização e hipnose. Essas técnicas não são capazes de anular atitudes inadequadas dos dentistas, mas contribuem proporcionando uma sensação de conforto no paciente.1,2 A boa relação entre o cirurgião-dentista e o paciente deve ser essencial no atendimento odontológico, e não como coadjuvante na consulta odontológica. Essa relação é fundamental para que o controle da ansiedade seja obtido, independente da técnica selecionada. O profissional deve ouvir com respeito às experiências e queixas do paciente, os anseios em relação ao tratamento odontológico. Da mesma forma, o profissional deverá oferecer expli- cações objetivas em relação ao tratamento clínico ou cirúrgico que será realizado. Sucessivas consultas positivas podem produzir uma diminuição do grau de ansiedade do paciente. 6. Qual das alternativas corresponde a aspectos a serem observados antes da administra- ção da sedação no paciente odontológico? A) Condição psicológica e sistêmica do paciente para tolerar o tratamento dentário. B) Avaliação da real necessidade do paciente de sedação consciente. C) Avaliação das contra-indicações (caso haja) no uso de sedação. D) Todas as respostas estão corretas. Resposta no final do capítulo Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1517 18 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL 7. De acordo com o sistema de classificação da ASA, quais pacientes são candidatos à sedação a nível ambulatorial e quais apresentam risco? 8. A forma não-farmacológica de controle da ansiedade em pacientes odontológicos que deve ser primeiramente utilizada é? A) Verbalização. B) Sedação. C) Hipnose. D) Dessensibilização. Resposta no final do capítulo CONDUTAS FARMACOLÓGICAS Existem várias abordagens farmacológicas para o tratamento do medo e da ansiedade no paciente odontológico, compreendendo as várias vias de administração e níveis de depressão do sistema nervoso central (SNC). De forma simples, as modalidades farmacológicas estão divididas em técnicas que mantém o paciente desperto ou inconsciente. Essas modalidades são de sedação consciente e anestesia geral. Há, ainda, um estado intermediário de sedação profunda.1 De acordo com o American Dental Association Council on Dental Education,6 esses estados são definidos da seguinte maneira: � sedação consciente – depressão mínima do nível de consciência que retém a capaci- dade do paciente em manter, independentemente e de forma contínua, as vias aére- as, além de responder à estímulos físicos e comando verbal; � sedação profunda – estado controlado de depressão da consciência. Acompanha a perda parcial dos reflexos protetores e a incapacidade de resposta a comandos ver- bais; � anestesia geral – estado controlado de inconsciência, com perda parcial ou comple- ta dos reflexos protetores, como a incapacidade de manter uma via aérea de forma independente, de responder a estímulos físicos ou comandos verbais. Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1518 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 19 A sedação consciente é usada no reforço de sugestões positivas e tranqüilização, permitindo um tratamento odontológico com mínimo estresse fisiológico e psicológico. Muitas drogas que induzem esse estado podem, também, induzir a sedação profunda ou a anestesia geral. Dessa forma, na sedação consciente, deve-se trabalhar com margem de segurança para que não haja a possibilidade de perda de consciência não-premeditada. O efeito obtido depende- rá da susceptibilidade, idade, estado clínico e grau de ansiedade do paciente, bem como da droga e doses administradas. A sedação profunda e a anestesia geral podem ser indicadas quando as técnicas de sedação consciente não são suficientes para permitir o tratamento odontológico.1 No Quadro 5, uma comparação entre os estados de sedação. Quadro 5 COMPARAÇÃO ENTRE SEDAÇÃO CONSCIENTE, SEDAÇÃO PROFUNDA E ANESTESIA GERAL Características Fonte: Yagiela e colaboradores (2000).1 Sedação consciente Sedação profunda Anestesia geral Consciência Reflexos protetores Manutenção de vias aéreas não-assistida Resposta ao comando verbal Sinais vitais Ansiedade Amnésia Necessidade de moni- toração Eficácia Risco relativo Tempo de recuperação Seqüelas pós-operató- rias Mantida Intactos Presente Presente Estáveis Diminuída Depende da droga Básica Ansiedade leve/moderada Baixo Geralmente rápido Rara Obnubilada Deprimidos Pode estar ausente Obnubilada Estáveis Ausente Pronunciada Avançada Ansiedade, medo e fobia Intermediário Intermediário Rara Inconsciente Ausentes Ausente Ausente Podem ser lábeis Ausente Total Avançada Todos os níveis de fobia Alta Pode ser prolongado Mais comuns Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1519 20 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL PRESCRIÇÃO DE MEDICAMENTOS PELO CIRURGIÃO-DENTISTA As condutas farmacológicas são determinadas basicamente pela prescrição de medicamen- tos. Este tópico especial tem como objetivo esclarecer uma questão que freqüentemente é motivo de dúvidas, tanto na classe odontológica quanto para os pacientes e outros profissi- onais da área biológica. Dessa forma, para que possa exercer sua profissão de forma plena, o cirurgião dentista deve conhecer os aspectos legais que regem suas atividades. A Lei 5.081 de 24/08/1966, que regula o exercício da Odontologia, determina, no artigo 6, item II: “Compete ao cirurgião-dentista prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso interno e externo, indicadas em Odontologia”. No mesmo artigo, item VIII, acrescenta: “compete ao cirurgião-dentista prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de aci- dentes graves que comprometam a vida e a saúde do paciente”. Sobre os medicamentos sujeitos ao controle especial (de receita retida), a Portaria 344/98, do Ministério da Saúde, que dispõe sobre tais medicamentos, esclarece, nos artigos 38 e 55 §1: “As prescrições por cirurgiões-dentistas e médicos veterinários só poderão ser feitas para uso odontológico e veterinário, respectivamente”, referindo-se às prescrições na Notificação de Receita B (“receita azul”) ou na receita em duas vias, que serão comentadas no decorrer do texto. Esses aspectos legais esclarecerem ao profissional que sua prescrição deve estar restrita às indicações odontológicas, não sendo amparada para outras situações (exceto em casos de urgência, como citado no artigo 6 item VIII da Lei 5.081, já visto). Em relação aos medica- mentos sujeitos à retenção da receita, o cirurgião-dentista é apto a prescrever ansiolíticos (sedativos), inclusive os prescritos na Notificação de Receita B (“receita azul”), que são osbenzodiazepínicos, como o diazepam (Valium) e o bromazepam (Lexotan), e outros do mes- mo grupo, utilizados em pré e pós-operatórios, para aliviar a tensão comum a muitos pacien- tes. Para providenciar o bloco de receituário das Notificações B (“receita azul”), o cirurgião-den- tista deve procurar o órgão de Vigilância Sanitária para retirar a numeração das receitas. Na primeira solicitação, o profissional deve ir pessoalmente para fazer seu cadastro junto à Vigi- lância, munido da documentação (RG, carteira do CRO, carimbo), ou enviar portador autori- zado. É preciso estar em dia com a licença para se cadastrar. O bloco do receituário azul deve ser feito em gráfica. Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1520 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 21 9. Quando podem ser indicadas a sedação profunda e a anestesia geral para pacientes odontológicos? 10. Explique o estado de sedação profunda. 11. Para quais fins é utilizada a sedação consciente em odontologia? Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1521 22 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL 12. Com base nos aspectos legais, que regulam o exercício da Odontologia, analise as afir- mativas a seguir. I. As prescrições por cirurgiões-dentistas poderão ser feitas para outros usos, além do odontológico, em qualquer situação. II. As prescrições por cirurgiões-dentistas devem estar restritas às indicações odontológicas, não sendo amparada para outras situações, exceto em casos de ur- gência. III. Para providenciar o bloco de receituário das Notificações B, o cirurgião-dentista deve procurar o órgão de Vigilância Sanitária para retirar a numeração das receitas. IV. Não compete ao cirurgião-dentista prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso interno e externo, indicadas em Odontologia. Estão INCORRETAS as alternativas: A) I e II B) II e III C) III e IV D) I e IV Resposta no final do capítulo SEDAÇÃO CONSCIENTE Para promover esse tipo de sedação, podem ser utilizadas diversas vias de administração: inalatória, oral, intramuscular, intravenosa, submucosa, sublingual e retal; sendo as três últi- mas as utilizadas com menor freqüência.1 Para interesse odontológico, as vias de maior utili- zação são oral e inalatória; as vias intravenosa e intramuscular são selecionadas quando deseja-se maior ampliação do efeito sedativo. SEDAÇÃO ORAL Para que a sedação oral seja viável em consultório odontológico, ela deverá ser clinicamente efetiva, promovendo benefícios imediatos e em longo prazo, deverá ser segura, além de ter um bom custo-benefício tanto para o cirurgião-dentista quanto para o paciente. Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1522 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 23 Os benzodiazepínicos constituem o grupo farmacológico de maior utilização no mundo. Por serem ansiolíticos eficazes e seguros, constituem as drogas de primeira escolha para o controle da ansiedade. Além desses, ainda são empregados os barbitúricos, neuropléticos, o hidrato de cloral, anti-histamínicos e betabloqueadores.2 Os efeitos clínicos são obtidos em aproximadamente 30 minutos após a ingestão da droga, e seus efeitos máximos duram cerca de 60 minutos. Os pacientes devem ser monitorados clinicamente em relação ao nível de consciência, respiração, freqüência cardíaca e pressão arterial, quando necessário. Sugere-se que o paciente só deixe o consultório quando estiver com seus sinais vitais estáveis e que esteja acompanhado. O paciente deverá ser aconselhado a não dirigir veículos, operar máquinas ou consumir bebidas alcoólicas nesse dia.1 Para a determinação da dose, é importante considerar a história clínica do paciente e o uso de medicamentos que podem influenciar a dosagem, principalmente os que afetam o SNC. A interação medicamentosa pode levar à depressão do SNC, depressão respiratória e cardiovascular. O peso do paciente e os extremos de idade também devem ser considerados para determinar a dosagem do medicamento. Para pacientes infantis, deve-se determinar a posologia através de cálculos do peso corporal ou da área de superfície corporal. Já os pacientes geriátricos podem responder aos depressores do SNC de forma mais intensa na profundidade e duração de ação do fármaco. Recomenda-se que a dose inicial do mesmo seja igual à metade da utilizada habitualmente no adulto. Os pacientes com dependência química, como os dependentes do álcool, opióides ou drogas que afetam o humor, podem exigir um aumento da dose de sedativo, já que, geralmente, apresentam tolerância.1 A via oral é comumente utilizada devido à facilidade de sua administração. A vantagem é que as ocorrências de reações adversas, superdosagem e alergias apresentam menor probabilida- de e, provavelmente, menor intensidade. Outra vantagem é a possibilidade da administração na véspera do procedimento, promovendo um sono tranqüilo ao paciente, assim como a redução da ansiedade pré-operatória. Vale lembrar que neste caso utiliza-se uma baixa dosa- gem, já que uma sedação excessiva não é desejável.1,2 As desvantagens da sedação por via oral são a impossibilidade de ajuste da dose de acordo com a resposta do paciente, além da impossibilidade de fornecer uma dose adicional, devido ao tempo de absorção e início da ação. A dose deve ser pré-determinada, havendo risco que uma dose excessiva resulte numa sedação profunda indesejada ou uma dose insuficiente, resultando numa sedação precária para a realização do tratamento odontológico. Há ainda, a possibilidade de uma ação prolongada, onde o paciente permanece sob influência da dro- ga no pós-operatório.1,2 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1523 24 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL BENZODIAZEPÍNICOS Os agonistas receptores benzodiazepínicos são medicações ansiolíticas e hipnóticas de pri- meira escolha no tratamento da ansiedade, distúrbios do pânico e do sono. Para exercerem tais ações, é necessária a liberação do ácido gama-aminobutírico (GABA), um neurotransmissor endógeno. Tal liberação promove um controle das reações somáticas e psíquicas aos estímu- los geradores de estresse. Os benzodiazepínicos agem potencializando o efeito do GABA na inibição de sinapses neurais, particularmente no sistema límbico. Considera-se uma grande margem de segurança dessas drogas pelo fato de que dependem da expressão de uma substância produzida pelo próprio organismo.2,6 Geralmente, os benzodiazepínicos são bem absorvidos e apresentam rápido início de ação. A sonolência é o principal efeito colateral; outros efeitos como ataxia, depressão, cefaléia, incoordenação motora e farmacodependência estão normalmente associados ao uso prolon- gado. As contra-indicações para o uso dos benzodiazepínicos incluem miastenia gravis, apnéia do sono, glaucoma de ângulo fechado, gravidez no primeiro trimestre, crianças com comprometimento físico ou mental severo, dependentes de outras drogas depressoras do sistema nervoso central (inclusive alcoólatras crônicos, devido o aumento da metabolização hepática e pela potencialização da depressão provocada pelo álcool) e pacientes com hipersensibilidade aos benzodiazepínicos.1,2 As vantagens do uso dos benzodiazepínicos são: � retardam a absorção dos anestésicos locais por diminuírem o metabolismo basal, o que permite menor volume de anestésico; � reduzem o fluxo salivar e o reflexo de vômito; � promovem o relaxamento da musculatura esquelética; � ajudam a manter a pressão arterial ou glicemia em pacientes hipertensos e diabéticos, respectivamente; � podem induzir a amnésia anterógrada; � previnem situações de emergência, como a lipotimia. Entre os medicamentos desse grupo, destacam-se: diazepam, triazolam, lorazepam, midazolam, bromazepam e cloxazolam, que variam em algumas propriedades farmacocinéticas (início e duração da ação ansiolítica). Odiazepam apresenta longa história de uso na Odontologia. É eficaz, mas possui metabólitos ativos, podendo conferir ação prolongada. É mais comumente utilizado por via oral para sedação em adultos, em doses variando de 5 a 20mg. Para crianças, foram sugeridas doses de 0,3 a 0,6mg/kg. Encontra-se disponível na forma de comprimidos (2, 5 e 10mg) e como xarope (5 e 25mg/5mL).1 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1524 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 25 Andrade recomenda um esquema de dose única, tanto para o diazepam quanto para o bromazepam, administrada 1 hora antes do procedimento por via oral. Para pacientes extre- mamente ansiosos, o autor recomenda, ainda, uma dose a ser tomada na noite anterior à consulta, proporcionando um sono mais tranqüilo.2 O lorazepam é uma pré-medicação eficaz. Embora possa produzir uma sedação satisfatória para os procedimentos dentários, apresenta algumas desvantagens, como a amnésia anterógrada profunda e duração de ação extremamente prolongada. Além disso, pode pro- duzir efeitos máximos entre 1 a 6 horas após a administração, o que dificulta uma posologia adequada. Encontra-se disponível em comprimidos de 0,5, 1 ou 2mg e são recomendadas doses de 0,5 a 4mg para adultos.1 Andrade recomenda uma dose única de lorazepam, 1 ou 2mg por via oral, 2 horas antes do procedimento.2 O triazolam é um ansiolítico eficaz e agente amnésico com rápido início de ação e meia vida curta, causando pouca depressão residual no SNC.2,7,8 A pouca duração de ação é ideal para procedimentos odontológicos, por permitir uma rápida recuperação. É administrado por via oral na dose de 0,125mg a 0,5mg, lembrando que esse medicamento se encontra em com- primidos de 0,125mg ou 0,25mg, doses aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento da insônia.1,3,5 A eficácia ansiolítica do triazolam quando administrado por via oral em doses de 0,25 a 0,5mg é aproximadamente equivalente a 10 a 20mg de diazepam pela via parenteral.5 Nathan recomenda a administração de 0,5mg com 50% de óxido nitroso em oxigênio, o que seria comparável a 19mg de diazepam intravenoso. A máxima concentração plasmática é obtida, normalmente, após 2 horas da administração do triazolam, com efeitos sedativos obtidos em menos de 30 minutos. Além disso, possui um meia vida curta, variando de 1,5 a 5,5 horas, sem metabólitos ativos.7 Embora apresente tantas vantagens, o triazolam pode promover efeitos colaterais em alguns pacientes. Normalmente, ocorrem no dia seguinte da cirurgia, podendo se estender. Incluem sonolência, tonteira, nervosismo ou irritabilidade e problemas de coordenação. Efeitos adver- sos mais graves podem ocorrer, embora sejam mais comuns em casos de doses repetidas do medicamento, particularmente em pacientes idosos. Esses efeitos incluem problemas de memória, comportamento anormal, confusão, ansiedade e depressão.1,7 É importante lembrar que a FDA não aprovou o triazolam para a sedação em uso enteral, mas suas propriedades sedativas e ansiolíticas são reconhecidas amplamente pelos cirurgi- ões-dentistas.5 O uso de uma droga numa forma diferente da disponível no mercado, em pacientes com uma indicação diferente da proposta pelo laboratório e em doses mais altas, é considerado um uso extra da marca. Contudo, a FDA reconhece esse tipo de utilização de fármacos. Essa utilização é, muitas vezes, recomendada por diversas sociedades de classe. Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1525 26 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL Está reconhecido que os benzodiazepínicos apresentam efeitos diversos, mas os laboratórios farmacêuticos nem sempre procuram a aprovação regulamentar para todas as indicações potenciais dos medicamentos.5 O midazolam é um benzodiazepínico pouco utilizado no Brasil para a sedação consciente na forma de via oral. De acordo com o bulário eletrônico da Agência Nacional de Vigilância Sani- tária (Anvisa), está indicado para induzir um sono semelhante ao normal em pessoas adultas. Sua ação se faz sentir poucos minutos após sua administração, produzindo sono profundo. O despertar é normal, sem alteração da capacidade física e mental no dia seguinte. O midazolam não elimina, porém, a causa da insônia. Não deve ser utilizado por crianças ou por qualquer pessoa com alergia conhecida a benzodiazepínicos ou a qualquer dos componentes da fórmula do produto. Está contra-indicado em casos de miastenia gravis, doença grave no fígado, insuficiência respiratória grave e apnéia do sono. Essa droga pode reduzir a atenção, prejudicando atividades como dirigir veículos ou operar máquinas perigosas.8 Ainda de acordo com o o bulário, o Dormonid® (maleato de midazolam) apresenta dose usual de 1 a 2 comprimidos de 7,5mg (ou 1 comprimido de 15mg), que deverão ser degluti- dos sem mastigar, com um pouco de líquido não alcoólico, imediatamente antes de deitar (de preferência já deitado), porque seu efeito é muito rápido. Dormonid® (maleato de midazolam) pode ser administrado em qualquer horário, desde que o paciente se assegure de que poderá dormir sem interrupção durante as 7 ou 8 horas seguintes. Tais características citadas justificam a pouca utilização desse medicamento.8 Outros benzodiazepínicos, como o flurazepam, oxazepam, alprazolam, temazepam e nitrazepam também podem ser considerados para o uso na sedação consciente. Contudo, são utilizados com menos freqüência. OUTRAS DROGAS O zolpidem é um derivado imidazopiridínico, com ação sedativa e hipnótica, semelhante aos benzodiazepínicos, uma vez que interage com um subgrupo de receptores benzodiazepínicos.1,9 Assim como o triazolam, apresenta meia vida curta e poucas chances de produzir sedação residual após o procedimento. Sua biotransformação é parcial (aproximadamente 60%). Ao comparar as propriedades farmacodinâmicas do zolpidem com outros benzodiazepínicos não seletivos, como o triazolam, não foram detectadas diferenças consistentes após altas doses únicas, bem como em relação à eficácia do efeito hipnótico, durante tratamentos para a insônia.1,9 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1526 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 27 Quanto à sedação consciente, o zolpidem oferece várias vantagens em relação ao diazepam. O inicio de ação é rápido e seus efeitos máximos são observados em apenas 30 minutos. A sedação prolongada não representa um problema, já que possui uma meia-vida de aproxi- madamente 2,6 horas e possui derivados inativos. Não está contra-indicado para mulheres grávidas ou para pacientes com glaucoma de ângulo fechado. Dentre as vantagens do zolpidem está a relativa falta de propriedades anticonvulsivantes e de relaxamento muscular. A dose média é de 10mg, estando disponível em comprimidos e 5 e 10mg.1,9 O zaleplon (zerene), assim como o zolpidem, é um não-benzodiazepínico agonista do GABA, com efeitos diferentes nesses receptores no SNC. É um hipnótico de curta ação, sem metabólitos ativos. É efetivo no tratamento da insônia em pacientes com distúrbios do sono, com pouca depressão residual no SNC, quando comparado ao triazolam. Embora, estruturalmente, não se assemelhe ao grupo dos benzodiazepínicos, o zaleplon apresenta muitas características farmacológicas semelhantes. Possui rápido inicio de ação, variando de 15 a 20 minutos, além da rápida absorção, onde as concentrações máximas são geralmente atingidas ao fim de 1 hora. A duração de ação é de aproximadamente 4 horas, e a semivida de eliminação é, em média, de 1 hora, sendo considerada curta. O zaleplon se diferencia dos benzodiazepínicos por produzir um efeito ansiolítico menor e uma profundi- dade do efeito hipnótico maior que esses.4 O metabolismo do zaleplon é hepático e a presença de inibidores e indutores do citocromo 3A4 pode afetar suas concentrações plasmáticas. A rifampicina, por exemplo, reduz suas concentrações plasmáticasem 80%. Uma das vantagens dessa droga é a sua associação a uma baixa incidência de efeitos colaterais, onde os principais efeitos adversos são sonolência e dor de cabeça. A amnésia não é comum e a recuperação do paciente é mais rápida do que com o triazolam.4 Ganzberg e colaboradores avaliou a eficácia desse fármaco como uma pré-medicação para pacientes submetidos à cirurgia de extração dos terceiros molares com anestesia local, com- parando o controle da ansiedade e seus efeitos amnésicos com o triazolam. O trabalho mos- trou que ambos foram igualmente efetivos, mas o zaleplon proporcionou uma recuperação mais favorável aos pacientes. Segundo os autores, 10mg de Zaleplon promovem controle da ansiedade comparável e qualidade de sedação em geral maior do que com o triazolam, quando utilizados 0,5mg.4 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1527 28 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL Na Tabela 1, a comparação entre os ansiolíticos administrados por via oral. BARBITÚRICOS Os barbitúricos orais para a sedação apresentam interesse histórico, visto que foram substitu- ídos pelos benzodiazepínicos. As drogas representantes dessa classe são o secobarbital e o pentobarbital, que possuem início de ação de cerca de 1 hora e duração de 3 a 6 horas. As doses recomendadas são de 100mg para a sedação pré-operatória. As principais desvantagens dos barbitúricos são: ação prolongada com depressão residual do SNC, ação antianalgésica, interações medicamentosas diversas, além de possuir grandes chances de desenvolver dependência. Apresentam, ainda, maior probabilidade de causar depressão respiratória e da função cardiovascular, quando ingeridos isoladamente ou em associação a outros depressores do SNC.1 Tabela 1 ANSIOLÍTICOS UTILIZADOS POR VIA ORAL Nome genérico Diazepam Triazolam Lorazepam Bromazepam Midazolam Alprazolam Zolpidem Zaleplon Nome comercial Valium® Halcion® Lorax® Lexotan® Dormonid® Frontal® Stilnox®/Lioram® Zerene Apresentação Comp. 5 e 10mg Comp. 0,125 e 0,25mg Comp. 1 e 2mg Comp. 3 e 6mg Comp. 7,5mg Comp. 0,25mg, 0,5mg, 1,0mg e 2,0mg Comp. 10mg Cápsulas 5mg Dose usual Adultos: 5 a 10mg Crianças: 0,1 a 0,3mg/kg 0,125mg a 0,5mg Adultos: 1 a 2mg Idosos: 0,5 a 1mg Adultos: 3mg Idosos: 1,5mg 7,5mg a 15mg 0,25mg a 4mg 5 e 10mg 10mg Fontes: Andrade (2001); Bulário da Anvisa.2,8 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1528 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 29 ÁLCOOIS O hidrato de cloral é amplamente utilizado na promoção da sedação consciente em odonto- logia pediátrica. É administrado na forma de elixir, com dose recomendada de 40 a 50mg/kg, não devendo passar de 1g. É considerado seguro, mas o uso doméstico não é recomendado. Encontra-se disponível na forma de cápsulas de 250 ou 500mg, ou como xarope 250 ou 500mg/5mL.1 Dezan e colaboradores relatam a experiência profissional com o atendimento de 3.500 crian- ças da clínica de Odontopediatria da Universidade Estadual de Londrina (Paraná), onde 125 receberam sedação para a realização do procedimento odontológico. Foram sedadas 60 cri- anças com hidrato de cloral 20% em veículo xaroposo na dosagem de 50 a 70mg/kg, en- quanto que as demais 65 crianças foram sedadas com hidrato de cloral 20% em veículo xaroposo na dosagem de 70 a 100mg/kg associado à prometazina (3mg). Durante o proce- dimento, foi feito o monitoramento do paciente através da verificação do pulso, temperatu- ra, respiração e cor da mucosa labial. Os autores concluíram que o uso do hidrato de cloral a 20% associado à prometazina (3mg) mostrou-se mais eficiente, pois proporcionou que um maior número de crianças (84,61%) atingisse o sono profundo.10 Enquanto altas doses de hidrato de cloral, associado ao óxido nitroso, promovem sedação efetiva, o aumento da depressão do SNC pode facilmente produzir uma sedação profunda, levando a obstrução das vias aéreas e depressão respiratória. É relatada ainda, a tendência de causar irritação na mucosa gástrica, disritmia, além do potencial carcinogênico que essa droga apresenta. Apesar da alta incidência de reações adversas, o hidrato de cloral apresenta uso freqüente em sedações pediátricas, já que mesmo benzodiazepínicos como o midazolam, podem pro- duzir resultados semelhantes, quando em doses excessivas.5 ANTI-HISTAMÍNICOS A prometazina é um derivado fenotiazínico, usado na sedação consciente em odontopediatria. Além do efeito sedativo, promove efeitos colinérgicos e antieméticos. As doses recomenda- das para a sedação consciente em adultos são de 25 a 50mg e em crianças de 0,5 a 1mg/kg. É geralmente utilizada em associação com opióides, sendo necessária a redução da dose. Está disponível em comprimidos de 10, 25 e 50mg, cápsulas 25, 50 e 100mg e como xarope de 10 e 25mg/5mL.1 A hidroxizina é um anti-histamínico e agente psicotrópico semelhante à prometazina, indu- zindo não apenas a sedação e hipnose, mas apresentando também efeitos anticolinérgicos e antieméticos. Na via oral é absorvida rapidamente em 15 a 30 minutos. Apresenta boa mar- gem de segurança e é uma droga popular na sedação pediátrica. As doses recomendadas são de 50 a 100mg para adultos e 0,6mg/kg para crianças. Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1529 30 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL A hidroxizina pode ser utilizada isoladamente ou ser associada ao hidrato de cloral e a meperidina sendo, nesses casos, necessária a redução da dose. Quando associada à tais drogas, suas propriedades anti-histamínicas e antieméticas são usadas para compensar os efeitos da meperidina e do hidrato de cloral, como náusea e vômitos. Os efeitos adversos da hidroxizina são brandos e transitórios. Encontra-se disponível na forma de comprimidos de 10, 25, 50 e 100mg, cápsulas de 25, 50 e 100mg e como xarope de 10 e 25mg/5mL.1,3,11 Leelataweedwud e Vann utilizaram 50mg/kg de hidrato de cloral na forma de elixir, 1,5mg/ kg de meperidina e 25mg de hidroxizina, com 100% de suplemento de O2. Segundo os autores, esse suplemento é importante por promover um aumento na pressão parcial de oxigênio arterial (PaO2) da criança sedada, e essa elevação promove uma segurança extra durante a sedação. Além disso, tal esquema foi escolhido com base no potencial ansiolítico, analgésico e antiemético dessas drogas. Esse estudo avaliou durante cinco anos os efeitos adversos desse esquema posológico, obtendo 72% de sucesso na sedação de pacientes pediátricos.11 OPIÓIDES São importantes na sedação e anestesia, sendo mais eficazes pela via intravenosa do que a via oral, devido ao seu elevado metabolismo de primeira passagem.3 Dessa forma, o papel dessa classe na sedação será discutido mais adiante. PROTOCOLOS RECOMENDADOS PARA A REDUÇÃO DO ESTRESSE Indicado em situações onde o paciente apresenta sinais e sintomas de ansiedade e medo aos procedimentos dentais, quando não tranqüilizados pela verbalização. Neste caso, o objetivo da medicação pré-anestésica é manter o paciente tranqüilo e cooperativo durante o atendi- mento ou cirurgia simples. � Adultos: Diazepam 5mg – comprimidos. Dose e posologia: 1 comprimido, 1 hora antes da intervenção. � Idosos: Lorazepam 1mg – comprimidos. Dose e posologia: 1 comprimido, 1 hora an- tes da intervenção. � Crianças: Hidrato de cloral – preparado em farmácias de manipulação (Solução de hidrato de cloral 16%, com corretivo para melhorar o sabor, geralmente xarope de morango, água destilada q.s.p 100mL). Dose e posologia: a solução a 16% contém 16mg de hidrato de cloral em 100mL de água destilada (160mg/mL). Como a dose indicada para crianças é de 40mg/kg de peso corporal, deve-se calcular a dose. Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1530 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 31 Exemplos � Para criançacom 20kg de peso: dose = 800mg = 5mL de solução, respeitando-se a dose máxima de 1500g. � Para crianças com mais de 5 anos: Diazepam 5mg – comprimidos. Dose e posologia: 0,1 a 0,3mg/kg, não excedendo a dose de 5mg. � Para uma criança de 25kg, pode-se administrar 1 comprimido dissolvido em água ou suco, 1 hora antes da intervenção. Em crianças e idosos, há um risco de 5% de haver um efeito paradoxal; ou seja, sinais e de excitação e euforia ao invés da depressão esperada. Caso isso ocorra, deve-se aguardar o término dos efeitos do medicamento. 13. São medicamentos utilizados na sedação oral: A) Benzodiazepínicos, barbitúricos, neuropléticos, o hidrato de cloral e anti-histamínicos. B) Benzodiazepínicos, barbitúricos, neuropléticos e hidroclorotiazida. C) Benzodiazepínicos, barbitúricos, neuropléticos, hidroclorotiazida e antibióticos. D) Benzodiazepínicos, barbitúricos e hidroclorotiazida. Resposta no final do capítulo 14. Qual das opções abaixo NÃO caracteriza uma desvantagem da sedação oral: A) Impossibilidade de ajuste da dose. B) Impossibilidade de fornecer uma dose adicional, devido ao tempo de absorção e início da ação. C) Possibilidade de uma ação prolongada. D) Facilidade de administração. Resposta no final do capítulo Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1531 32 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL 15. Quais são as contra-indicações do benzodiazepínico midazolam, ministrado via oral para sedação consciente? 16. Com base em quais efeitos colaterais o FDA não aprovou o triazolam para a sedação em uso enteral? SEDAÇÃO INTRAMUSCULAR A via de administração intramuscular é a menos freqüente, quando comparada às outras vias comentadas neste capítulo. É uma via parenteral que exige maior treinamento em relação às vias oral e inalatória. Existem diferentes locais anatômicos para a administração, como a região deltóide média (mais comum para adultos), o quadrante súpero-lateral da região glútea e a face ântero-lateral da coxa. A absorção via administração intramuscular é mais rápida e previsível do que na via oral, assim como a cooperação do paciente não é tão essencial. Essas características são valiosas em casos de pacientes com distúrbios mentais, com comprometimento dos movimentos ou em pacientes pediátricos. Nessas situações, o paciente precisa ser controlado apenas no momento da administração. As desvantagens dessa via são: a dor no local da injeção, dura- ção prolongada e a necessidade do paciente ser acompanhado na saída do consultório. Há ainda um potencial de lesão tecidual local.1 Devido às desvantagens que apresenta, essa via de administração mostra um uso limitado na Odontologia, estando indicada para casos em que o paciente não pode tomar medicação oral ou que não aceita a máscara para a sedação por via inalatória, além das indicações descritas anteriormente. Além disso, é utilizada para facilitar a punção venosa para a sedação consciente intravenosa, sedação profunda ou anestesia geral.1 Veja a seguir os principais agentes utilizados para a injeção intramuscular: Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1532 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 33 BENZODIAZEPÍNICOS O diazepam não é recomendado para a administração intramuscular devido à possibilidade de irritação tecidual, e por se mostrar clinicamente menos eficaz e confiável para a injeção intramuscular do que na via oral. Alcança máxima concentração plasmática de 30 a 90 minu- tos.1 O midazolam é a droga de escolha, mostrando-se a melhor droga para sedação intramuscular. É hidrossolúvel e não apresenta efeitos irritantes. Recomenda-se a administração de até 0,075mg/kg em adultos, e para crianças 0,1 a 0,15mg/kg. Apresenta início de ação em 15 minutos, alcançando níveis máximos de 15 a 60 minutos e com duração dos efeitos de 2 a 3 horas.1 O lorazepam também pode ser utilizado para a sedação intramuscular. Seu efeito máximo é observado de 1 a 1 hora e meia, não oferecendo qualquer vantagem sobre o midazolam. ANTI-HISTAMÍNICOS A prometazina pode ser administrada em crianças numa dose de 1mg/kg e em adultos numa dose de 25 a 50mg, estando disponível nessas concentrações para a administração parenteral. A hidroxizina também pode ser utilizada pediatricamente na dose de 1mg/kg e em adultos de 25 a 50mg/mL. Encontra-se disponível em soluções de 25 e 50mg/mL.1 OPIÓIDES A meperidina é utilizada mais freqüentemente em associação a um ou mais depressores do SNC para a sedação. A dose normal é de 1mg/kg e devem ser seguidas algumas precauções no emprego desses medicamentos.1 A cetamina induz um estado conhecido como amnésia dissociativa, não devendo ser consi- derada como sedação verdadeiramente consciente. Deve ser administrada por profissionais treinados em sedação profunda e anestesia geral. Mostra-se eficaz na via intramuscular em pacientes não cooperativos. Costuma-se associá-la a um antimuscarínico para a redução de secreções salivares. Com freqüência, administra-se um benzodiazepínico para reduzir os efei- tos da recuperação.1 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1533 34 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL 17. Quais as desvantagens da sedação intramuscular? 18. Em que situações na odontologia a sedação intramuscular é indicada? 19. Por que o diazepam é contra-indicado para a administração intramuscular? A) A absorção nesta via de administração é mais rápida. B) Possibilidade de irritação tecidual, e por se mostrar clinicamente menos eficaz e confiável para a injeção intramuscular. C) O paciente precisa ser acompanhado na saída do consultório. D) O paciente precisa ser controlado no momento da administração. Resposta no final do capítulo 20. Com relação aos fármacos para sedação intramuscular, qual alternativa está correta? A) A prometazina pode ser administrada em crianças numa dose de 25 a 50mg. B) A cetamina induz um estado conhecido como amnésia dissociativa, não devendo ser considerada como sedação verdadeiramente consciente. C) Recomenda-se a administração de midazolam de até 0,75mg/kg em adultos, e para crianças 1,0 a 1,5mg/kg. D) A hidroxizina é utilizada mais freqüentemente em associação a um ou mais depressores do SNC para a sedação. Resposta no final do capítulo Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1534 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 35 SEDAÇÃO INTRAVENOSA A intravenosa é considerada a via mais eficaz para a obtenção da sedação consciente. Possi- bilita rápida obtenção das concentrações sangüíneas nas quais as drogas são clinicamente eficazes. Resulta em um período latente curto, que varia de uma circulação do braço ao cérebro em poucos minutos. A possibilidade de controlar a dose é uma grande vantagem na via intravenosa: é possível aumentar rapidamente a ação da droga e ainda minimiza-se as chances de superdosagem. Outra vantagem da via intravenosa desobstruída, é a administração de drogas em caso de emergência. Além disso, são necessários de 2 a 15 minutos para que o operador titule a droga até o parâmetro clínico desejado.15 Para que seja realizada a punção venosa, alguma cooperação do pacientes faz-se necessária. Geralmente as crianças são resistentes, o que torna, muitas vezes, impossível tal via de administração. Outra desvantagem é que o rápido inicio de ação e os acentuados efeitos da droga podem aumentar problemas decorrentes da superdosagem ou efeitos colaterais. Dessa forma, é exigido treinamento para que essa via torne-se uma possibilidade de uso. O operador deve estar preparado para uma pronta ação em casos adversos, evitando conseqüências graves.1 É importante lembrar que todas as drogas ansiolíticas produzem algum grau de depressão respiratória quando aplicados pela via intravenosa. Assim, para a sedação consciente intravenosa, é necessária monitoração incluindo a saturaçãoda oxiemoglobina, freqüência cardíaca, pressão arterial e adequação da respiração.1 BENZODIAZEPÍNICOS Como nas outras vias, os benzodiazepínicos constituem drogas ideais para a sedação consci- ente intravenosa. O diazepam é um fármaco muito eficaz para a sedação consciente. É muito lipossolúvel e insolúvel em água, sendo dissolvido em propileno glicol em sua formulação. Esse veículo pode ser irritante com a administração intravenosa, podendo resultar em tromboflebite. Tal irritação pode ser minimizada pela administração lenta em veias de grande calibre. Seus efeitos sedativos e ansiolíticos ocorrem geralmente com doses de 2 a 10mg, embora isso seja variável.1 O diazepam possui rápido início de ação, variando de 30 a 60 segundos, com efeitos máxi- mos após 3 minutos. A duração da ação é dose-dependente, mas atinge em média, de 45 a 60 minutos em doses sedativas. Mesmo com todas essas vantagens, o diazepam apresenta a desvantagem de ter metabólitos ativos, além do potencial de desenvolver tromboflebite.1 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1535 36 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL O midazolam quando administrado pela via intravenosa, é usado como agente de indução anestésica. É injetável é hidrossolúvel, não provocando irritação quando administrado pela via intravenosa. É rapidamente eliminado e convertido em metabólitos inativos. Possui rápido início de ação de 30 a 60 segundos, com efeitos máximos após 3 a 5 minutos, sendo um pouco mais lento que o diazepam. A meia-vida de distribuição do midazolam é muito curta, variando de 6 a 15 minutos, resul- tando numa curta duração de ação de aproximadamente 45 minutos, dose-dependente. Apresenta propriedades hipnóticas, anticonvulsiva, relaxante muscular, além de produzir amnésia anterógrada e atividade ansiolítica. O midazolam é encontrado em concentrações de 1 e 5mg/mL, e é recomendada uma solu- ção de 1mg/mL para a sedação consciente, a fim de uma titulação precisa. Sugere-se que o midazolam é duas vezes mais potente que o diazepam em doses baixas, e até quatro vezes mais em altas doses. Para a sedação consciente, são utilizadas doses de aproximadamente 0,07mg/kg, intituladas lentamente em incrementos de 1mg.1 Na Tabela 2, os medicamentos ministrados por via intravenosa. REVERSÃO DA SEDAÇÃO DOS BENZODIAZEPÍNICOS PELO FLUMAZENIL (LANEXAT®) O flumazenil é um ligante neutro de alta afinidade que age como um antagonista apenas quando desloca ou previne a ligação de um agonista. A duração da reversão pela administra- ção intravenosa do flumazenil é relativamente curta e há a possibilidade de ocorrer ressedação, especialmente se o benzodiazepínico possui ação prolongada.5 Tabela 2 MEDICAMENTOS UTILIZADOS POR VIA INTRAVENOSA Midazolam Diazepam Dormonid® Valium® Ampolas: 15mg/3mL;5mg/5mL; 50mg/10mL Ampola 10mg 0,07mg/kg (IV) 2 a 10mg Fonte: Yagiela (2000).1 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1536 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 37 BARBITÚRICOS Essas drogas são consideradas inferiores aos benzodiazepínicos para a sedação consciente. O pentobarbital pode ser utilizado pela via parenteral em doses de até 100mg. Possui ação clínica de 2 a 3 horas de duração pela via intravenosa, sendo útil em procedimentos dentários prolongados.1 OPIÓIDES São utilizados mais freqüentemente para complementar os benzodiazepínicos ou outros se- dativos, a fim de facilitar a sedação consciente ou, com doses crescentes, a sedação profunda ou anestesia geral. Apresentam-se úteis em procedimentos dolorosos, freqüentes em cirur- gia oral. Os opióides têm vantagens da analgesia profunda e sedação, com efeitos cardiovasculares mínimos. A duração de ação varia com a droga e a administração deve coincidir com a parte mais dolorosa do procedimento.1 Pacientes ASA III e idosos geralmente necessitam de doses menores de opióides do que pacientes jovens, ASA I e II. Contudo, os opióides provocam depressão respiratória e rigidez da parede torácica. Essa última se caracteriza por um aumento do tônus muscular, resultando na grave rigidez do tronco. Tal síndrome é mais comum em altas doses, indivíduos idosos e com a administração simultânea de N2O; a administração rápida pode aumentar a gravidade. O tratamento consiste na administração de naxolona ou bloqueador neuromuscular.1 Os opióides mais utilizados para a sedação são a meperidina, fentanil, pentazocina, nalbufina e butorfanol. A meperidina é administrada nas doses de 0,5 a 1mg/kg, não devendo ultra- passar 100mg. Nesta dose, pode-se esperar uma duração de ação de 1 a 2 horas. Além das ações de analgesia e sedação, possui efeito potencializador da taquicardia. Os opióides são contra-indicados para pacientes que fazem uso de anfetaminas, e devem ser usados com cautela em pacientes com asma, já que há um potencial de liberação da histamina. O fentanil está indicado para procedimentos de curta duração e a faixa de dose utilizada é da ordem de 1µg/kg. Nesta dose, pode-se esperar uma duração de ação de 30 a 60 minutos. As vantagens do fentanil sobre os outros opióides são: a estabilidade cardiovascular, duração relativamente curta e ausência de liberação de histamina; contudo, tem maior probabilidade de produzir rigidez da parede torácica.1 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1537 38 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL 21. Por que a via intravenosa é considerada a via mais eficaz para a obtenção da sedação consciente? 22. Qual a grande vantagem da sedação por via intravenosa? 23. Para quais pacientes os opióides utilizados para a sedação intravenosa são contra- indiciados? 24. Sabendo-se que todas as drogas ansiolíticas produzem algum grau de depressão respira- tória quando aplicados pela via intravenosa, quais cuidados o cirurgião-dentista deve ter com o paciente sedado? Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1538 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 39 25. São afirmações verdadeiras sobre os fármacos disponíveis para sedação intravenosa, EXCETO: A) O diazepam possui rápido inicio de ação, variando de 30 a 60 minutos, com efeitos máximos após 3 horas. B) O midazolam quando administrado pela via intravenosa, é usado como agente de indução anestésica. C) O pentobarbital pode ser utilizado pela via parenteral em doses de até 100mg. D) O fentanil está indicado para procedimentos de curta duração e a faixa de dose utilizada é da ordem de 1µg/kg. Resposta no final do capítulo SEDAÇÃO INALATÓRIA A sedação inalatória refere-se à administração da mistura gasosa de óxido nitroso com oxigênio (N2O2). Tal inalação é a técnica de escolha para os procedimentos odontológicos que requerem sedação consciente, independente da duração. Inúmeros países utilizam a analgesia inalatória como método auxiliar para o tratamento odontológico, promovendo maior conforto ao paciente e ao profissional durante os procedimentos odontológicos em geral. Atualmente, nos EUA, aproximadamente 56% dos clínicos gerais e 85% dos cirurgiões bucomaxilofaciais utilizam N2O em sua prática clínica. 12 BREVE HISTÓRICO O óxido nitroso, também conhecido como protóxido de azoto, gás hilariante e gás do riso, foi descoberto juntamente com o oxigênio, pelo inglês Joseph Priestley, sendo suas descobertas datadas entre 1771 e 1777. A inalação do N2O puro ocorreu pela primeira vez na Inglaterra, sendo relatada como uma experiência muito prazerosa, passando a ser utilizado apenas em diversões públicas. Foi o dentista Horace Wells, em 1844, quem experimentou o N2O em bexigas a 100% duran- te uma exodontia, executada por seu amigo Colton. Após o procedimento, com a sensação relatada de “não mais que uma alfinetada”, o próprio Dr. Wells exclamou: “a grande desco- berta foi feita”, “uma nova era para a extração dentária”. Contudo, apenas em 1864 a ADA reconheceuoficialmente Horace Wells como o primeiro descobridor da anestesia. E foi o mesmo Colton, em 1860, responsável pelo seu ressurgimento. Embora não houvesse morta- lidade, reações como náuseas e vômitos eram vistas com freqüência.12 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1539 40 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL Em 1868, Dr. Edmund Andrews sugeriu que, quando o N2O era usado a 100%, o sangue não era apropriadamente oxigenado, e para que a mistura não fosse hipóxica, deveria ter, no mínimo, 20% de oxigênio. Ainda no mesmo ano da criação da teoria da mistura pré-dosada, Paul Bert desenvolveu o primeiro aparelho para administrar a mistura, que passou a ser utilizada com segurança.12 As vantagens da analgesia inalatória em relação aos outros métodos de sedação são:12 � A sedação possibilita que o paciente fique calmo, relaxado e mais receptivo ao proce- dimento. � Os efeitos clínicos do N2O podem começar em menos de 30 segundos, com pico de efeito em 5 minutos. � A única outra forma de sedação com as características semelhantes à analgesia por N2O2 é a sedação endovenosa. Contudo, essa apresenta controle mais difícil e rever- são mais demorada. � A sedação oral apresenta difícil controle, além da reversibilidade demorada. � O controle da titulação dos gases N2O2 é rápido e seguro. � A analgesia inalatória por N2O2 é a única técnica que apresenta reversibilidade de 2 a 5 minutos. As desvantagens da analgesia inalatória são:1 � A eficácia máxima obtida pode ser considerada apenas moderada, uma vez que há uma pequena proporção de pacientes nos quais esse método não é eficaz. � Necessidade de cooperação do paciente. É preciso que o mesmo respire pelo nariz e mantenha a máscara nasal durante todo o procedimento. (Pacientes com claustrofobia e algumas crianças podem não tolerar a máscara nasal). � A obstrução nasal impede o uso de N2O2, visto que o paciente fica incapaz de inalar os gases. � Respiradores bucais também não estão indicados a utilizar a inalação. � Durante a gravidez está contra-indicado pelos mesmos motivos de outras drogas, mas essa técnica ainda é preferível a benzodiazepínicos. � Pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica, pela elevação da tensão de CO2. � Pacientes submetidos à quimioterapia com bleomicina em ano anterior pela predispo- sição de desenvolver fibrose pulmonar pela administração de O2. � Custo maior e necessidade de espaço para armazenar o equipamento. Embora a necessidade de cooperação do paciente seja considerada uma desvantagem, a aceitação clínica dessa técnica de sedação costuma ser positiva. Collado e colaboradores comparou o comportamento de 543 pacientes, com idade média de 16 anos, durante trata- mentos dentários sob sedação consciente com N2O/O2. Entre a primeira e terceira sessões, a porcentagem de pacientes não cooperativos diminuiu de 23% para 3,7%.12 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1540 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 41 ALGUNS ASPECTOS FARMACOLÓGICOS DOS GASES A rápida absorção do N2O2 faz com que esse gás seja uma boa escolha para ser usado como o primeiro gás na anestesia geral, permitindo que o segundo gás utilizado (analgésico) seja absorvido mais rapidamente. A metabolização do N2O não é feita pelo organismo. Do total, 99% são eliminados dos pulmões sem sofrer biotransformação em nenhum órgão do corpo. Apenas uma pequena parte é eliminada através da pele, urina e gases intestinais. Outra minúscula parcela é metabolizada no trato gastrointestinal por bactérias anaeróbias do gênero Pseudômonas que, através de sua biotransformação, produzem radicais livres potencialmente tóxicos, mas que não apresentam significado clínico para o nosso organismo.12 INTERAÇÃO DO ÓXIDO NITROSO NOS DIFERENTES ÓRGÃOS E SISTEMAS DO CORPO O N2O tem propriedade analgésica moderada, ações amnésica e imobilizante pequenas e leve efeito hipnótico. A partir do conhecimento das interações e efeitos que a administração N2O provoca nos diferentes sistemas do corpo, é possível determinar as indicações, contra- indicações e efeitos adversos, além de compreender os diferentes sinais e sintomas que o paciente irá apresentar.12 No Sistema Nervoso Central (SNC), o N2O provoca uma depressão em nível cortical, embora seu mecanismo de ação ainda não seja conhecido. Nas concentrações utilizadas em Odonto- logia, não desenvolve ação nas estruturas nervosas que possa liberar ou inibir neurotransmissores capazes de promover alterações cardiovasculares e, muito menos, inibir o automatismo respiratório.12 Por não apresentar ações negativas no SNC, o N2O pode ser utilizado com segurança em casos de acidente vascular cerebral (AVC), mal de Parkinson, desmaios, convulsões e epilepsia.12 No sistema cardiovascular, o N2O não produz efeito negativo que possa gerar mudanças fisiológicas. Devido à alta concentração de O2 nessa técnica, há um efeito positivo sobre possíveis isquemias, que pode até evitar o enfarte do miocárdio – que é provocado pela redução dos níveis de O2. Em relação à pressão arterial, as alterações são desprezíveis. 12 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1541 42 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL Uma das grandes indicações dessa técnica de analgesia inalatória é para pacientes comprometidos sistemicamente. A redução do estresse do paciente diminuirá as chances de ocorrer situações de urgência. Esse aspecto a torna uma indicação em casos de hipertensão, aterosclerose, hemorragias, arritmias, infarto, febre reumática, entre outras.12 Algumas doenças infecciosas no trato respiratório podem comprometer a inspiração do paci- ente devido à obstrução nasal. Existem ainda alguns fatores limitantes para o uso da máscara nasal, como desvio de septo, sinusite, tosse persistente, alergias e gripe. Pacientes com enfisema pulmonar, bronquite crônica e asma são susceptíveis a hipóxia e merecem atenção redobra- da, mas isso não contra-indica a técnica, exceto em casos de crise.12 A analgesia com N2O pode ser utilizada sem complicações em pacientes hemofílicos, anêmi- cos, com leucemia, ou com deficiência de agregação plaquetária. Deficiências hepáticas tam- bém não contra-indicam a técnica, já que o N2O não é metabolizado no fígado. Como apre- senta uma pequena parcela de metabolização no trato gastrointestinal, pode haver episódios de náuseas e vômitos, com ocorrência na faixa de 15%.12 No Quadro 6, os equipamentos necessários para sedação com óxido nitroso. Quadro 6 EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS PARA SEDAÇÃO COM ÓXIDO NITROSO Fluxômetros – Conhecido como misturador, é responsável pela mistura dos gases (N2O/O2), ditando a concentração de cada gás. Dessa forma, estabelecemos o nível de sedação/analgesia para cada pessoa. Traquéias – São as mangueiras responsáveis por levar a mistura dos gases para o paciente. Mangueiras – São conectadas nos reguladores dos cilindros, que alimentam o fluxômetro. São utiliza- das duas mangueiras: uma azul que é conectada ao cilindro de N2O e uma verde que é conectada ao cilindro de O2. Reguladores dos cilindros – São conectados diretamente aos cilindros de N2O e O2 e são responsáveis pela diminuição da pressão de saída dos cilindros, que passarão para as mangueiras, que os levarão aos misturadores. Máscara – Deve possuir um ou dois orifícios de entrada e outro de saída, que é conectado nas traquéias, possibilitando sua adaptação no nariz do paciente e permite a passagem do ar tanto na inspiração quanto na expiração. Conexões – São responsáveis pela união das traquéias. Vacuômetros – São responsáveis pela mensuração do vácuo quando da aspiração do ar para fora do ambiente e deve respeitar as normas internacionais de segurança. Bolsa reservatória – Contém a mistura dos gases, assim que esses saem do fluxômetro. Após passarem pela bolsa, os gases caminham pelas traquéias devidoà pressão negativa promovida pela inspiração do paciente. Através da insuflação da bolsa, o profissional determina o volume ideal de gás para o paciente. Fonte: Fanganiello (2004).12 Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1542 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 43 O profissional deve estar atento para o risco de infecção cruzada, já que infecções no trato respiratório e tuberculose podem ser transmitidas através do equipamento utilizado. Sendo assim, deve haver um cuidado na descontaminação dos tubos condutores (traquéia), da bolsa reservatória e da máscara, de acordo com as instruções do fabricante, por meio de autoclave ou substâncias químicas.12 APLICAÇÃO CLÍNICA DO ÓXIDO NITROSO A administração começa e termina com O2 a 100%, numa velocidade de fluxo apropriada. Geralmente, para adultos, calibra-se uma vazão de 6 a 7 litros por minuto e, para crianças, 5 litros por minuto. [técnica] Com a bolsa do reservatório repleta, a máscara é colocada no paciente. Primeiramente administra-se uma concentração de 20% de N2O, aguardando 1 a 2 minutos. Avaliada a eficácia clínica, o operador ajusta a concentração em incrementos, dependendo da sedação/analgesia do paciente. Ao término do procedimento, o fluxo de N2O é interrompido e o de O2 é mantido. Então a máscara é removida e verifica-se a resposta do paciente.1,12 O operador deve explicar ao paciente os sintomas que poderá sentir como formigamento dos dedos das mãos e pés ou dos lábios, sensação de calor e euforia. Apenas quando o paciente se sente confortável é que o fluxo de N2O é interrompido e o procedimento é iniciado. 1 O monitoramento do paciente é imprescindível durante essa técnica. O monitoramento é feito através da avaliação clínica do nível de consciência e respiração, bem como freqüência cardíaca e pressão arterial, quando necessário. É importante lembrar que o paciente deverá apresentar os mesmos reflexos de antes do procedimento ao deixar o consultório. A equipe deve estar preparada para possíveis compli- cações decorrentes da técnica. Por esse motivo, qualquer profissional de saúde deve ter conhecimento e domínio do Suporte Básico de Vida (SBV) em sua prática clínica, inclusive na prática da sedação inalatória.1,12 PROTOCOLO RECOMENDADO PELA DENTAL ORGANIZATION FOR CONSCIOUS SEDATION A sedação enteral multidose via inalatória, utilizando o triazolam, foi desenvolvida e reco- mendada a mais de 3000 dentistas nos últimos anos. O protocolo é iniciado com uma admi- nistração oral de 0,25mg de triazolam 1 hora antes da consulta para pacientes idosos ou Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1543 44 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL sensíveis a drogas sedativas. Um responsável adulto deverá acompanhar o paciente. Uma dose adicional de triazolam poderá ser administrada caso necessário de forma sublingual. Depois de posicionado na cadeira, deverá ser continuamente monitorado com relação à saturação de oxigênio, pressão arterial e nível de consciência em intervalos de 5 minutos. Os níveis de sedação devem ser reavaliados após 30 a 45 minutos e uma dose adicional de triazolam deverá ser administrada por via sublingual se necessário.5 O objetivo principal da administração incremental do triazolam é alcançar a menor dose capaz de proporcionar um atendimento confortável para o paciente. Logo que o tratamento é iniciado, deve ser introduzido de 20 a 30% de óxido nitroso e então a anestesia local. Depois o óxido nitroso é interrompido e o procedimento iniciado. O paciente deverá ser monitorado durante todo o procedimento, a cada 5 minutos, inclusive através da resposta verbal. Para consultas com mais de 2 horas de duração, é necessária uma dose adicional de triazolam, desde que o profissional e o paciente concordem que a sedação inicial não é mais adequada.5 Ao término do procedimento, o paciente só poderá ser liberado quando o cirurgião-dentista julgar que ele está recuperado o suficiente para tal. Ou seja, quando o paciente for capaz de caminhar e se comunicar normalmente. O mesmo deverá ser acompanhado e levado para casa pelo acompanhante responsável, que receberá todas as instruções pós-operatórias.5 No Quadro 7, uma comparação entre as diferentes vias de sedação. Quadro 7 COMPARAÇÃO DAS DIFERENTES VIAS DE ADMINISTRAÇÃO Fonte: Yagiela (2000).1 Característica Dificuldade da técnica Capacidade de reversão Início Duração Aceitação do paciente Treinamento Eficácia Necessidade de acompa- nhamento Oral Muito fácil Difícil Lento Prolongada Muito boa Pré-doutorado Moderada Sim Intramuscular Fácil Difícil Intermediário Prolongada Razoável Pós-doutorado Moderada Sim Intravenosa Moderada Difícil Rápido Prolongada Razoável Pós-doutorado Muito boa Sim Inalatória Fácil Excelente Rápido Controlada Boa Pré-doutorado Moderada Não Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1544 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 45 ASPECTOS LEGAIS Através da Resolução n. 51, de 30 de abril de 2004, ficam estabelecidas normas para habili- tação do cirurgião-dentista na aplicação da analgesia relativa ou sedação consciente, com óxido nitroso: “O Presidente do Conselho Federal de Odontologia, no uso de suas atribuições regimentais, cumprindo deliberação do Plenário, em reunião extraordinária, realizada no dia 29 de abril de 2004, Considerando que a Lei n. 5081, de agosto de 1966, que regula o exercício da profissão odontológica, prescreve em seu artigo 6°, item I, que pode o cirurgião-dentista aplicar a analgesia, desde que comprovadamente habilitado quando seu uso constituir meio eficaz para o tratamento... Considerando, finalmente que não há diferença entre analgesia relativa e sedação consciente, pois ambas referem-se ao uso da mistura de óxido nitroso e oxigênio na prática odontológica, resolve: Art. 1°: Será considerado habilitado pelos Conselhos Federal e Regionais de odontologia a aplicar analgesia relativa ou sedação consciente, o cirurgião-dentista que atender o disposto nesta resolução...” Tal resolução determina que o curso deva ter sido autorizado pelo Conselho Federal de Odon- tologia, através de ato específico, ministrado por instituição de nível superior ou Entidade da Classe devidamente registrada e que deverá ter uma carga horária mínima de 96 horas, com conteúdo programático estabelecido pela mesma resolução. De posse do certificado, o pro- fissional deverá requerer seu registro e inscrição de habilitado a aplicar a sedação consciente. 26. Cite alguns fatores limitantes para o uso da máscara nasal? 27. São equipamentos necessários para a sedação com óxido nitroso, EXCETO: A) Traquéias. B) Bolsa reservatória. C) Máscara. D) Carpule. Resposta no final do capítulo Proodonto-cirurgia_1_Controle da ansiedade.pmd 7/12/2007, 16:1545 46 CONTROLE DA ANSIEDADE EM CIRURGIA ORAL 28. Assinale a alternativa correta. A) A analgesia com N2O pode causar complicações em pacientes hemofílicos. B) Deficiências hepáticas não contra-indicam a técnica de analgesia com N2O. C) O N2O apresenta uma pequena parcela de metabolização no fígado. D) Todas as alternativas estão corretas. Resposta no final do capítulo 29. Diga qual motivo faz da técnica de analgesia inalatória uma indicação para pacientes comprometidos sistemicamente. 30. Comparando as técnicas de administração de analgesia, assinale 1 para analgesia via oral, 2 para analgesia inalatória e 3 para ambas. ( ) Dificuldade da técnica: Fácil. ( ) Capacidade de reversão: Excelente. ( ) Início: Lento. ( ) Treinamento: Pré-doutorado. ( ) Aceitação do paciente: Boa. ( ) Necessidade de acompanhamento: Não. ( ) Duração: Prolongada. ( ) Eficácia: Moderada. Resposta no final do capítulo 31. Comparando as técnicas de
Compartilhar